PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA CONSTRUÇÃO
MEDIADA PELA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA NO NÚCLEO DE
EDUCAÇÃO INFANTIL IPÊ AMARELO
AHMAD, Laila Azize Souto - UFSM
[email protected]
WERLE, Kelly – UFSM
[email protected]
Eixo Temático: Educação da Infância
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo relatar o processo de construção de projetos pedagógicos
e planejamentos na Educação Infantil, o qual vem sendo acompanhado pela Coordenação
Pedagógica junto a professores do Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo, da Universidade
Federal de Santa Maria (NEIIA/UFSM). Além disso, pretende-se refletir sobre as concepções
dos professores acerca do planejamento pedagógico na Educação Infantil. Entende-se que
discutir sobre planejamento na Educação Infantil é relevante, pois envolve a reflexão sobre a
prática docente, a estruturação, a organização e reelaboração das intencionalidades educativas.
Neste sentido, as bases teóricas que permeiam este trabalho são compostas pelos estudos de
Ostetto (2000), Barbosa e Horn (2008) e Corsino (2009). O Núcleo de Educação Infantil Ipê
Amarelo trabalha na perspectiva de projetos pedagógicos, os quais levam em consideração o
protagonismo infantil diante da construção do conhecimento. Desta forma, os projetos são
construídos a partir de problematizações tendo por base o interesse e os conhecimentos
prévios das crianças. Para tanto, como proposta de trabalho, o Núcleo propõe
acompanhamento da Coordenação Pedagógica junto aos professores durante os
planejamentos, os quais são orientados e discutidos em reuniões semanais. Os encontros são
realizados em grupos de três turmas, incluindo professores referência e bolsistas. As reuniões
têm por objetivo avaliar o processo vivenciado, buscando elementos para discutir e contribuir
com a construção do planejamento diário. Adota-se a prática de orientação em pequenos
grupos com a finalidade de interação e socialização do trabalho desenvolvido nas diferentes
turmas. Como resultado do trabalho que tem sido realizado, evidencia-se um crescimento
gradativo na qualidade dos planejamentos, na compreensão sobre o ato de planejar e o
registro das praticas. Isso se constata a partir de um questionário que foi ministrado como
parte do processo de formação continuada dos professores, que dentre outros aspectos,
coletou informações acerca de concepções sobre planejamento.
Palavras-chave: Educação Infantil. Planejamento Pedagógico. Coordenador Pedagógico
14541
Introdução
O planejamento pedagógico é um tema que precisa ser estudado e problematizado
junto a professores de Educação Infantil, pois do mesmo dependem a intencionalidade e a
qualidade do trabalho pedagógico realizado com as crianças.
Este texto tem por finalidade relatar o processo de construção de projetos pedagógicos
e planejamentos na Educação Infantil, o qual vem sendo acompanhado pela Coordenação
Pedagógica junto a professores do Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo1, da
Universidade Federal de Santa Maria (NEIIA/UFSM). Além disso, pretende-se refletir sobre
as concepções dos professores acerca do planejamento pedagógico na Educação Infantil.
O Núcleo atente crianças a partir de 1 ano até cinco anos e onze meses de idade cujos
pais tenham vínculo com a UFSM (docentes, servidores técnicos ou alunos). Oferta,
atualmente, 225 vagas distribuídas em doze turmas nos turnos manhã e tarde, de modo que,
cada turma tem por responsável um professor referência2 licenciado, contando com o apoio de
um ou dois bolsistas (variando conforme o número de crianças) vinculados aos cursos de
Pedagogia e Educação Especial/UFSM3.
O Ipê Amarelo vem desenvolvendo suas atividades junto a grupos de crianças e
construindo sua trajetória há 22 anos, demonstrando e demarcando possibilidades de
construções e descobertas na Educação Infantil dentro da Universidade. Dentre o trabalho que
vem sendo realizado, destaca-se o processo de formação continuada vivenciado com
professores e bolsistas através de reuniões periódicas mediadas pela Coordenação
Pedagógica.
Entendemos que a Coordenação Pedagógica exerce importante papel junto aos
professores e, segundo Saitta (1998, p. 114),
1
O Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo tem como diretora a Profª Drª. Viviane Ache Cancian –
MEN/CE/UFSM.
2
Compreendemos que o professor já licenciado, o qual é responsável pela turma, se constitui uma referência
para os professores bolsistas que ainda estão em formação acadêmico-profissional. A sua atuação junto ao grupo
de crianças é considerada também um processo formativo para os demais professores, embora, alguns bolsistas
já sejam licenciados e estão vinculados a cursos de pós-graduação em nível de especialização.
3
Ao todo atuam no NEIIA cerca de 30 professores entre professores referência e bolsistas.
14542
[...] representa uma estrutura fortemente inovadora nos serviços para a primeira
infância, pois, configurando como instrumento de programação, estudo,
organização, verificação e síntese do projeto pedagógico, garante o princípio da
continuidade da experiência educacional da creche.
Na Educação Infantil a Coordenação Pedagógica tem uma trajetória recente, em vista,
do processo histórico pelo qual a educação de crianças pequenas tem se constituído. A partir
da Constituição Federal de 1988, a Educação Infantil supera o caráter de assistencialismo e
ganha visibilidade educacional. Contudo, somente com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – 9.394/96, a Educação Infantil foi inserida como primeira etapa da
Educação Básica.
Diante disso, a Educação Infantil passa a conquistar um espaço de atuação para vários
profissionais da área da Educação, dentre esses o Coordenador Pedagógico, o qual exerce
função importante na articulação junto com os professores e demais profissionais que atuam
nessa etapa para o desenvolvimento com qualidade dos projetos e planejamentos pedagógicos
e, ainda, nos processos de ensino e aprendizagem com as crianças (AHMAD, 2011).
No Ipê Amarelo são proporcionados diferentes momentos formativos, nos quais, são
discutidos a construção dos projetos pedagógicos e dos planejamentos diários junto a
Coordenação Pedagógica. Para viabilizar essa discussão e acompanhamento ocorrem
encontros semanais4 com grupos de três turmas, incluindo professores referência e bolsistas.
As reuniões têm por objetivo avaliar longitudinalmente o processo vivenciado,
buscando elementos para discutir e contribuir com a construção do planejamento. Nestes
momentos os professores realizam relatos de situações vivenciadas, socializam trabalhos
desenvolvidos e algumas situações-limite que enfrentam no cotidiano, discutindo, assim,
possíveis encaminhamentos.
Adotamos a prática de orientação em pequenos grupos, por compreendermos a
importância da interação e partilha de experiências que propiciam a construção coletiva do
conhecimento. O estar junto com o grupo possibilita que se criem vínculos de amizade e
cumplicidade entre todos os envolvidos, de modo que o grupo se constitui em um dispositivo
formativo que contribui para a problematização, reflexão e exercício de escuta mútua
(WERLE, 2010).
4
Os professores são contratados em regime de trabalho de 32 horas semanais, das quais 2 horas são destinadas
às reuniões de planejamento em turno oposto.
14543
Planejamento pedagógico: um olhar para as crianças
O planejamento é um elemento fundamental para a estruturação do trabalho
pedagógico na Educação Infantil e nas outras etapas de ensino da Educação Básica, pois o
mesmo constitui-se em uma ferramenta de trabalho do professor, o qual envolve reflexão
crítica sobre a prática e projectualidade da ação docente.
Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para
empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e
significativas para/com o grupo de crianças. Planejamento pedagógico é atitude
crítica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso, não é uma fôrma! Ao
contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador pensar, revisando, buscando
novos significados para a sua prática docente (OSTETTO, 2000, p. 177).
A estruturação e organização do planejamento têm como perspectiva a articulação de
outros elementos para sua elaboração, ou seja, o registro reflexivo da prática vivenciada com
crianças e a observação atenta e crítica da realidade, os quais possibilitam e auxiliam o ato de
planejar com intencionalidade. Diante disso, Corsino (2009, p. 119) destaca que “o
planejamento é o momento de reflexão do professor, que a partir das suas observações e
registros, prevê ações, encaminhamentos e sequências de atividades, organiza o tempo e
espaço [da criança na Educação Infantil]”.
O planejamento pedagógico na Educação Infantil precisa ser discutido e articulado aos
sujeitos que estão inseridos nestes ambientes coletivos de educação, assim é imprescindível
trazer para a sala de aula, através dos planejamentos, as manifestações que as crianças
expressam no seu dia-a-dia, a partir de seus balbucios, choros, falas, gestos, desejos, hipóteses
e conhecimentos prévios, estes são de suma relevância para um trabalho que respeite as
culturas infantis.
No Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo, a organização e elaboração dos
planejamentos pedagógicos estruturam-se a partir do que os professores referência e bolsistas
vivenciam em suas práticas, ou seja, eles buscam “pistas” (BARBOSA; HORN, 2008) através
do olhar atento para as situações cotidianas. Além disso, são utilizados, recursos como, por
exemplo, vídeos, livros infantis, fotos, passeios, entre outros, os quais possibilitam o diálogo e
podem servir como elementos problematizadores, para estimular as crianças a falar e
expressar o que querem aprender acerca de determinada temática ou assunto.
14544
Deste modo, a metodologia de trabalho adotada tem como referência os projetos
pedagógicos na Educação Infantil, os quais indicam
[...] uma ação intencional, planejada coletivamente, que tenha alto valor educativo,
com uma estratégia concreta e consciente, visando à obtenção de determinado alvo.
Através dos projetos de trabalho, pretende-se fazer as crianças pensarem em temas
importantes do seu ambiente, refletirem sobre a atualidade e considerarem a vida
fora da escola. Eles [os projetos] são elaborados e executados para as crianças
aprenderem a estudar, pesquisar, a procurar informações, a exercer a crítica, a
duvidar, a argumentar, a opinar, a pensar, a gerir as aprendizagens, a refletir
coletivamente, e o mais importante, são elaborados e executados com não para as
crianças (BARBOSA; HORN, 2008, p. 34, grifos das autoras).
Neste sentido, é necessário propiciar às crianças ambientes desafiadores, nos quais
possam mobilizar e potencializar a discussão, a curiosidade e problematizações acerca de
inúmeros assuntos, que podem ser levantados pelo grupo de crianças. O professor atua como
mediador, observando e propondo questionamentos iniciais acerca do que as crianças vem
demonstrando ter maior interesse. Em vista disso, o professor precisa de um olhar sensível
para situações cotidianas que estão sendo vivenciadas com e pelas crianças, para que ele possa
organizar e levantar com as crianças a temática de estudo que elas têm maior interesse em
desenvolver e aprender.
Antes da elaboração efetiva do planejamento diário e semanal os professores são
desafiados a comporem um quadro organizativo acerca do projeto (quadro 1), o qual tem por
objetivo definir as principais perguntas das crianças a respeito da temática que pretendem
estudar/pesquisar e os conhecimentos científicos que irão construir junto às crianças para
buscar as respostas às questões.
Perguntas ou hipóteses
(das crianças e dos
professores sobre
determinada temática)
Conhecimentos
(advindos da pesquisa
realizada pelo professor)
Objetivos
(organizados na perspectiva
da criança. Ex: aprender,
descobrir, pesquisar,
conhecer, etc.)
Atividades
Quadro 1 – Base para organização dos projetos e planejamentos
Fonte: Quadro de autoria da Profª Drª Graziela Escandiel de Lima/UFSM
(listar)
14545
O quadro
é composto
por quatro
colunas,
orientado
basicamente pelos
questionamentos e perguntas que conduzem as pesquisas e estudos a ser realizados com as
crianças. Deste modo, na primeira coluna sugerimos que sejam colocadas as perguntas ou
hipóteses iniciais das crianças, acrescidas também de outras perguntas as quais os professores
podem realizar sobre o tema ou assunto escolhido. Essas perguntas ou hipóteses podem ser
categorizadas com a finalidade de fazer agrupamentos que permitam melhor correspondência
com os conhecimentos e objetivos previstos, os quais compõem a segunda e terceira coluna.
Assim, duas ou mais perguntas podem estar vinculadas à construção de um mesmo
conhecimento e consequente objetivo.
Os objetivos são estruturados a partir dos conhecimentos que poderão ser
desenvolvidos. Desta forma, os objetivos devem estar articulados a temática ou assunto do
projeto, relacionadas as questões ou hipóteses levantadas anteriormente.
Após organização dos objetivos, lista-se as principais atividades5 (quarta coluna) que
podem ser desenvolvidas para a aprendizagem dos conceitos e conhecimentos, os quais
precisam ser previamente estudados e pesquisados pelos professores e bolsistas. Ressaltamos
que, nesta metodologia de trabalho, a pesquisa por parte dos professores é fundamental para
que possam auxiliar e conduzir as crianças no caminho investigativo. O professor precisa ter
domínio da temática que estará estudando/pesquisando com seus alunos, não com a intenção
de ensinar-lhes os conteúdos os quais pesquisou, mas com o desafio de criar situações em que
o conhecimento possa ser construído pelas crianças.
Adotamos essa sequência de colunas por percebermos, por vezes, a tendência dos
professores ao pensarem em determinado tema, já associarem o mesmo a uma infinidade de
atividades. Antes de listar atividades a serem realizadas, é preciso ter clareza de quais
conhecimentos serão construídos e que objetivos serão traçados, para, então, pensar em
possíveis estratégias didáticas, ou seja, as atividades dirigidas.
Para ilustrar o caminho percorrido por uma das turmas de Educação Infantil do
Núcleo, na construção e desenvolvimento do projeto, vamos apresentar um breve relato do
projeto “As abelhas e o favo de mel”, desenvolvido pelo Fernando Ferrão dos Santos com
uma turma de 20 crianças entre 3 e 4 anos de idade.
5
Compreendemos por atividade a ação ativa das crianças, que implica considerar suas vontades e motivações
para agir. “Atividade não é qualquer ação. É um conjunto de ações que tem uma finalidade, uma motivação e
uma profunda vinculação com a vida do agente” (HENTZ, 2000, p. 12).
14546
Esta temática, “As abelhas e o favo de mel”, surgiu a partir da socialização de um favo
de mel trazido por uma criança, a qual é filha de um apicultor da região, para mostrar aos seus
colegas e professores da turma. Segundo registros do professor,
Nossas “pistas”, vieram da socialização de uma “novidade” que uma criança trouxe:
um favo de mel. Nesse dia, conversamos sobre a novidade que a colega trouxe de
sua casa e elaboramos hipóteses sobre aquilo que estávamos observando. A partir
disso, iniciou o nosso trabalho investigativo que teve por base as hipóteses lançadas
pelas crianças e a busca por respostas e subsídios que pudessem ou não confirmar a
veracidade delas. À medida que as primeiras hipóteses foram confrontadas, outras
foram sendo elaboradas. E, assim, o nosso trabalho investigativo teve continuidade
(Professor Fernando, Registros Diários, 2011).
Unindo-se ao interesse demonstrado pelas crianças em relação ao favo de mel trazido
pela colega, o professor percebeu que seria interessante problematizar o modo como as
crianças estavam se relacionando a partir da organização social das abelhas. A turma
apresentava, no início do ano, dificuldades de trabalhar coletivamente e dividir materiais e
brinquedos de uso do grupo. O professor relatou que, quando havia disputas por brinquedos
ou outros conflitos, as crianças reagiam impulsivamente, não se utilizando do diálogo. Deste
modo, através do projeto buscou trabalhar com questões relacionadas à vida das abelhas,
produção do favo de mel e relacionamentos na coletividade da turma.
Apresentamos o quadro organizacional o qual foi construído, a partir das situações
vivenciadas, para organizar o desenvolvimento do projeto e embasar o planejamento diário
das atividades a serem realizadas com a turma (quadro 2).
Hipóteses das crianças
Conhecimentos
Objetivos
- Pesquisas com as famílias e apresentação das
pesquisas aos colegas;
- Produção do mel (processo das
flores até o favo de mel);
- Polinização das flores;
“As abelhas pegam mel das
flores”
“As abelhas pegam uma flor
amarela
e
dali
elas
conseguem o mel”
- Diferentes tipos de mel os quais
são produzidos através da
extração do pólen de diferentes
flores: Laranjeira, Eucalipto e
Silvestre;
- O formato do favo de mel é um
hexágono de seis pontas (formas
geométricas);
- Mistura de cores: cor mel
(marron +laranja+amarelo);
Atividades
Pesquisar
sobre
a
produção dos diferentes
tipos de mel;
Conhecer como ocorre a
construção do favo de
mel;
- Análise da texturta, cor e degustação dos
diferentes tipos de mel (laranjeira, eucalipto e
silvestre);
- Produção de bolo e bolacha de mel (quantificação
e representação numérica dos ingredientes da
receita);
- Construção de favos de mel com papel cartão e
purpurina;
- Produção de hexágono com palitos de picolé;
- Confecção de uma abelha a partir de formas
geométricas;
- Exploração de texturas, na perspectiva de
Romeiro Britto;
14547
“As abelhas pegam os poléns
que estão nas flores e levam
para as casinhas para fazerem
mel”
“Sabia que, quando as
abelhinhas estão na casa
delas, elas pegam o mel que
tava no balde e elas colocam
no favo. E depois, quando o
favo vira favo, ela vira mel
no pote”
- Pesquisas coletivas na internet com a realização
de registros gráficos sobre as mesmas;
- A colméia é a casa das abelhas,
composta por vários favos de mel
produzidos pelas abelhas com
mel e cera;
- Vídeo: “A vida nas colméias”;
- Filme: Bee Movie
Aprender
sobre
as
características
e
especificidades da vida
das abelhas;
- Organização social das abelhas
e
análise
das
diferentes
atribuições de cada abelha
(criação/manutenção/produção)
- Paralelo entre o vídeo “A vida nas colmeias” e o
filme “Bee Movie”, questionando semelhanças e
diferenças;
- Registros gráficos sobre as hipóteses;
- Produção de uma colmeia com os favos de mel
construídos com pets e material de sucata;
- Enxame é quando as abelhas se
reúnem para proteger o favo de
mel;
- Confeccão de móbiles de colmeias com caixinhas
de remédio;
- Análise de imagens e visualização microscópica
do corpo de abelhas;
“As abelhas tem um ferrão
para picar”
“O ferrão da abelha é do
tamanho do meu dedinho”
- Diferentes tipos de abelhas
(operária, rainha, zangão);
Pesquisar
sobre
mecanismos de defesa e
anatomia das abelhas
- Mecanismo de defesa das
abelhas;
- Relação que as abelhas
estabelecem com os humanos;
- Registro em papel e ilustração das observaçãoes
realizadas sobre esquema corporal da abelha;
- Confecção de uma abelha com rolinho de papel
higiênico;
- Produção de uma abelha a partir de EVA
texturizado (menção aos pelinhos do corpo da
abelha);
- Texto coletivo;
Quadro 2 – Exemplo de projeto
Fonte: Acervo da coordenação pedagógica
Notamos que a partir da organização do quadro, os professores conseguem visualizar o
que de fato precisa ser desenvolvido com as crianças com relação à construção de
conhecimentos, pois eles têm uma visão geral do que realmente as crianças querem
aprender/pesquisar e quais os conhecimentos prévios as crianças já possuem acerca do
assunto que será estudado. Consideramos assim, que é de suma importância a construção do
quadro
a
partir
da
mediação
que
é
estabelecida
entre
professor/crianças
e
professor/Coordenação Pedagógica.
Dos processos iniciais aos caminhos percorridos
Através do acompanhamento longitudinal dos processos de construção dos projetos
pedagógicos, planejamentos diários e práticas docentes dos professores referência e bolsistas
do NEIIA, como Coordenadoras Pedagógicas, percebemos os progressos alcançados e as
mudanças conceituais e estruturais que vêm sendo apresentadas, no que dizem respeito ao
planejamento na Educação Infantil.
14548
No início do processo formativo, parte do professores organizava o planejamento em
forma de tópicos pouco desenvolvidos, apresentando basicamente uma atividade central para
cada dia. Atualmente, percebe-se um movimento de buscar maior articulação dos diferentes
momentos que compõe a rotina das crianças, de modo que há a explicitação das
intencionalidades pedagógicas de cada um deles. Inclusive os momentos de alimentação e de
higiene estão sendo problematizados revelando uma compreensão mais abrangente em relação
à atividade pedagógica, passando a compreendê-la na totalidade das ações desenvolvidas
pelas crianças (quadro 3).
Exemplo de planejamento em Fevereiro/2011
1º momento: Acolhida e recepção na sala - brincar livre
2º momento: Roda da novidade – Fatos do final de semana
3º momento: “Nossa chamada” - cada criança procura seu nome que está espalhado no tatame e após cola em uma
cartela que será utilizada para a chamada.
4º momento: Lanche
5º momento: Brincadeira “A canoa virou” – cada aluno escolhe um colega/amigo para salvar do fundo do mar
6º momento: Pracinha
7º momento: Jogos diversos
Exemplo de planejamento em Junho/2011
Iniciaremos esta semana retomando uma atividade do planejamento da semana passada (de quinta-feira), que não foi
realizada devido a termos que trabalhar sobre a família, por estarmos na semana do dia das mães. Na terça-feira
iniciaremos a trabalhar sobre os estados físicos de algumas substancias, pretendíamos trabalhar com a curiosidade da
turma “Porque o sorvete derrete?”, trazendo uma experiência com sorvete, no entanto os pais e a coordenação
acharam melhor deixarmos para realizar esta experiência em outro momento, pois algumas crianças da turma estão
gripadas e febris. Desta forma iremos desenvolver apenas a experiência com a gelatina e também retomaremos a
atividade com o coletor de chuva, pois a previsão do tempo é para que chova nesta semana, logo iniciaremos a
construção de um gráfico com a turma analisando a quantidade de chuva em diferentes dias.
Objetivos desta semana:
* Descobrir que existem estados físicos de outras substancias;
* Compreender como ocorrem as transformações de um estado para outro nas substancias;
Conhecimentos a serem desenvolvidos:
* Estados físicos de algumas substâncias
* Influência da temperatura na transformação de substâncias
* Unidade de medida da chuva
Iniciaremos à tarde na nossa sala brincando com massa de modelar, incentivando assim as crianças a desenvolverem
sua criatividade, ofereceremos materiais como (palitos, copinhos, pratos, facas – todos de plástico). Em seguida
organizaremos as crianças para o momento do lanche, enquanto a maioria da turma ajuda na organização da sala,
estaremos fazendo a higiene de 2 em 2 crianças. Logo após terminar o lanche iniciaremos uma conversa relembrando
confecção do coletor de chuva, o passeio no IMPE, deixando que as crianças exponham o que lembram e o que
aprenderam, em seguida colocaremos os coletores na chuva para que seja coletada a água da chuva, lembrando que
14549
retiraremos amanhã no mesmo horário em que foi colocado hoje. Após passaremos para a outra parte da nossa aula,
novamente iremos ouvir as falas das crianças sobre o que já aprendemos a respeito dos estados físicos da água, onde
faremos um gancho com o que pretendemos trabalhar hoje, que são os estados físicos de uma substância (gelatina), e
a influencia da temperatura na transformação desta substância. Fazer gelatina: pó misturado com água (líquido),
colocar na geladeira (sólido), fora da geladeira (liquido), Esta atividade será feita em duas etapas, uma hoje (pó
misturado com água-líquido, colocar na geladeira-sólido), a outra etapa (fora da geladeira-liquido), será feita
amanhã. Depois de feita a gelatina colocaremos na geladeira. No horário da janta, sentaremos nos colchonetes e
cantaremos algumas músicas escolhidas pelas crianças, enquanto isso a professora Liziane estará chamando duplas
de alunos para que lavem as mãos. Depois da janta distribuiremos livros no tatame, neste momento será feita a
limpeza da sala.
Quadro 3 – Exemplos de planejamento
Fonte: Acervo da coordenação pedagógica
Vinculadas às mudanças observadas na estruturação dos planejamentos, percebemos
que os professores ampliaram suas compreensões sobre aspectos que envolvem o ato de
planejar. Através de um questionário mapeamos que grande parte dos professores atribue ao
planejamento o ato de projetar e organizar ações a partir de determinadas intencionalidades,
conforme a professora Juliana “O planejamento é a organização que uso para orientar meu
trabalho. É nele que exponho minhas intencionalidades e objetivos com o grupo, e é ele que
vai orientar minha prática – com toda flexibilidade necessária sempre”.
Os professores explicitam em suas respostas à pergunta “O que é planejamento?” a
importância de se estabelecer uma relação coerente entre objetivos, finalidades e atividades
propostas. Na compreensão da professora acerca do ato de planejar é possível visualizar
também o caráter de flexibilidade que o planejamento pode ter, pois o mesmo serve para
orientar a prática docente e não enrijecê-la.
Outro elemento presente nas respostas de alguns professores é a articulação necessária
do planejamento com o acompanhamento das práticas através das observações, registros e
reflexões. De acordo com o professor Fernando, “o planejamento é a estruturação de minhas
intencionalidades pedagógicas com a turma, por meio de atividades e/ou momentos a serem
vivenciados pela turma ou crianças, a partir de minhas observações, registro e reflexões sobre
o cotidiano vivenciado com a turma”.
Através da concepção acima expressa, é reforçada a ideia de vinculação do
planejamento com a intencionalidade do trabalho e organização das atividades, mas também é
manifesta a articulação do ato de planejar com a reflexão e registro sobre a prática docente.
O caráter reflexivo acerca da prática que o ato de planejar pressupõe, torna-se ainda
mais evidente no depoimento da professora Lidiane, a qual entende que,
14550
Planejar é traçar objetivos a serem desenvolvidos, conhecimentos a serem
ensinados/construídos, pensar em atividades e momentos que contemplem esses
conhecimentos e objetivos. Ao planejar o professor repensa a intencionalidade de
seu trabalho com as crianças, reflete, reelabora suas ideias sobre o processo de
desenvolvimento das crianças. É um processo de reflexão acerca de nossa prática
(Professora Lidiane, Acervo da Coordenação Pedagógica, 2011).
Embora, nem todos os professores explicitem o entendimento de que o ato de planejar
implica na reflexão sobre a prática, o que possibilita que sejam repensadas as
intencionalidades e as estratégias pedagógicas, percebemos que, até mesmo em respostas mais
singelas sobre “o que é planejamento” já é possível identificar elementos que referem a
importância do planejamento para qualificação da prática docente.
Considerações Finais
Através do processo formativo que estamos vivenciando junto aos professores
referência e bolsistas do NEIIA, percebemos a relevância de uma atuação ativa e permanente
da Coordenação Pedagógica buscando problematizar e discutir a partir das situações
vivenciadas no cotidiano, elementos que possam vir a qualificar o exercício docente na
Educação Infantil.
Entendemos que a reflexão e discussão sobre os planejamentos na Educação Infantil
passa por esses processos. Corroboramos com Ostetto (2000, p. 177) que “o planejamento
educativo deve ser assumido no cotidiano como um processo de reflexão, pois, mais do que
ser um papel preenchido, é atitude e envolve todas as ações e situações do educador no
cotidiano do seu trabalho pedagógico”.
Consideramos que a Coordenação Pedagógica tem suma importância nos processos de
construção e ampliação do planejamento na Educação Infantil, através de uma gestão
compartilhada e vivenciada com os professores. Ressaltamos que “planejar na Educação
Infantil, é firmar um compromisso com as crianças e seu desenvolvimento (CORSINO, 2009,
p. 121).
Assim esse processo de planejar e (re)planejar, demanda um olhar sensível dos
Coordenadores Pedagógicos para o dia-a-dia vivenciado pelos professores dentro de suas
salas de aula, para que, de fato e de direito se possa mediar e construir um planejamento que
traga a criança como centro do processo educacional na Educação infantil.
14551
REFERÊNCIAS
AHMAD, Laila Azize Souto. Música no ensino fundamental: a Lei 11.769/08 e a situação
de escolas municipais de Santa Maria/RS. Dissertação (Mestrado em Educação) Programa de
Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Santa
Maria/RS, 2011.
BARBOSA, Maria Carmen Silveira; HORN, Maria da Graça Souza. Projetos pedagógicos
na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.
CORSINO, Patrícia (Org.). Educação infantil: cotidiano e políticas. Campinas: Autores
Associados, 2009.
HENTZ, Paulo. Dos diferentes significados do termo atividade. In: HENTZ, Paulo (Org.).
Tempo de aprender: subsídios para as classes de aceleração de aprendizagem nível 3 e para
toda a escola. Florianópolis: DIEF, 2000.
OSTETTO, Luciana Esmeralda (Org.). Planejamento na educação infantil mais que a
atividade, a criança em foco. In: OSTETTO, Luciana Esmeralda (Org.). Encontros e
encantamentos na educação infantil: partilhando experiências de estágios. Campinas:
Papirus, 2000.
SAITTA, Laura Restuccia. Coordenação pedagógica e trabalho em grupo. In: BONDIOLLI,
Anna; MANTOVANI, Susanna. Manual de educação infantil: de 0 a 3 anos uma abordagem
reflexiva. Porto Alegre: Artmed, 1998.
WERLE, Kelly. A educação musical na Pedagogia: uma pesquisa com estagiárias da
UFSM. Dissertação (Mestrado em Educação) Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Santa Maria/RS, 2010.
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PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA CONSTRUÇÃO