UNINGÁ – UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR INGÁ FACULDADE INGÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENDODONTIA ANGELA RIZZARDO O USO DO EDTA NO PREPARO DO CANAL RADICULAR PASSO FUNDO 2007 ANGELA RIZZARDO O USO DO EDTA NO PREPARO DO CANAL RADICULAR Monografia apresentada à unidade de Pósgraduação da Faculdade Ingá – Uningá – Passo Fundo-RS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Endodontia Orientador: Ms. Mateus Silveira Martins Hartmann PASSO FUNDO 2007 ANGELA RIZZARDO O USO DO EDTA NO PREPARO DO CANAL RADICULAR Monografia apresentada à comissão julgadora da Unidade de Pós-graduação da Faculdade Ingá – UNINGÁ – Passo Fundo-RS como requisito parcial para obtenção do título d e Especialista em Endodontia Aprovada em ___ / ___ / ______. BANCA EXAMINADORA: ____________________________________________ Prof. Ms. Matheus S. Martins Hartmann ____________________________________________ Prof. Ms. Volmir João Fornari ____________________________________________ Profª. Ms. Flávia Baldissarelli 2 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família, em especial à minha mãe, pelo cuidado e companheirismo demonstrado durante minha caminhada profissional. Dedico também a Miguel, pelo amor, por ser a minha força e a minha segurança. AGRADECIMENTO Agradeço aos professores, colegas e funcionários do Centro de Estudos Odontológicos Meridional, especialmente ao Professor Mateus Silveira Martins Hartmann, por ter sido amigo e orientador durante todo o desenvolvimento deste trabalho. RESUMO Durante o tratamento endodôntico é necessário promover a limpeza do canal radicular para contribuir com o sucesso do mesmo. Para isto se utilizam substâncias químicas auxiliares com poder de remover o material orgânico e inorgânico do sistema de canais radiculares. As substâncias utilizadas para a remoção do material orgânico são chamadas de quelantes. Este trabalho teve por objetivo descrever as finalidades e benefícios do uso do EDTA como substância quelante durante o preparo do canal radicular, confrontando-o com algumas substâncias alternativas e apontar qual a maneira mais eficaz de sua utilização. Após a presente revisão de literatura, pode-se concluir que o emprego do EDTA proporciona paredes dentinárias limpas, apresentando melhores resultados clínicos quando utilizado com o hipoclorito de sódio. O seu emprego em meio aquoso é preferível, sendo recomendadas as soluções de pH neutro. Os sais de EDTA di, tri e tetrassódico, nas concentrações de 15 e 17% mostram-se eficientes na remoção da smear layer e o EDTA não apresenta capacidade antimicrobiana importante, porém apresenta citotoxicidade e potencial irritativo aos tecidos, o que não interfere na reparação tecidual. Palavras-chave: Endodontia. EDTA. Preparo de canal radicular. Quelantes. Camada de esfregaço. ABSTRACT During the endodontic treatment it is necessary to promote an adequate cleansing of root canals to achieve clinical success. For such purpose, auxiliary chemical substances are used to remove organic and inorganic material from the root canal system. The substances used for removal of organic material are denominated chelating agents. The aims of this study were to describe the intended use and benefits of employing EDTA as a chelating agent during root canal preparation, comparing this product to some alternative substances, as well to determine the most effective manner to use this endodontic irrigant. Based on the review of literature, it may be concluded that the use of EDTA provides clean dentinal walls, presenting better clinical results when used in association with sodium hypochlorite. Its application in an aqueous medium is preferable and the use of neutral pH solutions is recommendable. The use of di-, tri- and tetrasodium EDTA salts at concentrations of 15 and 17% appear to be effective for smear layer removal. EDTA does not have relevant antimicrobial action, but presents cytotoxicity and irritating potential to the tissues, which, however, does not interfere with tissue healing. Key words: Endodontics. EDTA. Root canal preparation. Chelating agents. Smear layer. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS % - porcentagem. Bio Pure MTAD – associação de doxiciclina, ácido cítrico e detergente TWEEN 80. BHI – brain heart infusion (infusão cérebro coração). Ca – cálcio. CDTA – cyclohexane-1,2-diamine tetracetic acid. EDTA – ácido etilenodiaminotetracético. EDTAC – associação de EDTA e Cetavlon. EDTA-T – associação de EDTA e Tergentol. EGTA – ethylene glycol-bis-beta-amino-ethyl ether tetracetic acid. Er: YAG – laser de alta potência que possui como meio ativo sólido o cristal de terra rara érbio, inserido em uma matriz hospedeira de Ytrio, Alumínio e Granada. HCl – ácido clorídrico. LASER – light amplification by stimulated of radiation (amplificação da luz por emissão estimulada de radiação). MEV – microscopia eletrônica de varredura. Mg – magnésio. mJ - miliJoule mL– mililitros. mm – milímetros. NaOCl – hipoclorito de sódio. NaOH – hidróxido de sódio. pH – potencial hidrogeniônico. RC-Prep – associação de EDTA, peróxido de uréia 10% e Carbowax 75%. REDTA – associação de EDTA e Cetavlon. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................9 2 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................12 2.1 EDTA.........................................................................................................................12 2.1.1 Forma de Atuação................................................................................................12 2.1.2 Indicações ao Uso..................................................................................................13 2.1.3 Agitação e Volume da Solução............................................................................18 2.1.4 Fator Tempo..........................................................................................................19 2.1.5 Fator Concentração..............................................................................................21 2.1.6 Fator pH................................................................................................................23 2.2 ASSOCIAÇÕES E FORMAS DE APRESENTAÇÃO............................................23 2.3 ALTERNATIVAS DESMINERALIZANTES AO USO DO EDTA.......................31 2.3.1 Ácido Cítrico versus EDTA................................................................................. 31 2.3.2 Laser versus EDTA...............................................................................................33 2.4 BIOCOMPATIBILIDADE DAS SOLUÇÕES.........................................................35 2.5 ATIVIDADE ANTIMICROBIANA.........................................................................37 3 CONCLUSÃO.............................................................................................................40 REFERÊNCIAS.............................................................................................................41 9 1 INTRODUÇÃO As etapas do tratamento endodôntico consistem no preparo biomecânico do canal radicular - onde se busca a desinfecção e na obturação. Todas estas etapas estão correlacionadas e qualquer descuido em uma delas poderá provocar o insucesso do tratamento. Os principais objetivos da terapia endodôntica são a limpeza dos canais radiculares, que é conseguida pela remoção de tecido pulpar, e a desinfecção, pela remoção de tecido pulpar necrótico remanescente, microrganismos e dentina infectada. O preparo biomecânico deste sistema de canais radiculares é um passo importante no sucesso da terapia endodôntica e esta fase é complexa porque estão associados fenômenos físico- mecânicos e químicos à habilidade do operador (SOUSA, BRAMANTE e TAGA, 2005). Devido à complexidade da anatomia do sistema de canais radiculares, que pode ser formado por canais laterais, secundários, acessórios, colaterais e delta apical, existem áreas onde os instrumentos não têm ação efetiva, podendo abrigar restos pulpares e microrganismos. Assim, a ação mecânica isolada dos instrumentos endodônticos, além de incompleta, é insuficiente. Desta maneira, é de fundamental importância que se associe a ação das substâncias químicas auxiliares, pois estas irão atuar em profundidade, com o objetivo de remover microrganismos e tecidos orgânicos das áreas inacessíveis aos instrumentos, evitando processos patológicos a curto ou a longo prazo. Segundo Pellissari (2002), na região periapical, as bactérias e seus produtos tóxicos, somados aos produtos advindos da desintegração do tecido pulpar, vão representar as principais causas de reações periapicais, crônicas ou agudas. De acordo com Viegas et al. (2002), o magma dentinário é produzido nas paredes do canal radicular durante a instrumentação, independente do método utilizado. Uma das finalidades da irrigação/aspiração é justamente remover restos necróticos, tecidos pulpares, raspas de dentina, sangue, exsudatos que compõem esta camada de magma, também chamada de smear layer. O hipoclorito de sódio é a substância mais amplamente utilizada para a irrigação dos canais radiculares, em diversas concentrações e associações. Sua importância se deve às propriedades bactericidas, neutralizadoras de produtos tóxicos e pela capacidade de dissolver matéria orgânica, porém o hipoclorito de sódio usado de forma isolada não é capaz de remover o magma dentinário. 10 Sabe-se que a smear layer é constituída por uma fração orgânica e uma inorgânica. A orgânica, por ficar retida entre o componente mineralizado, acaba não sendo removida mesmo quando se utilizam substâncias com poder solvente de matéria orgânica. Apesar da excelente capacidade de dissolução de matéria orgânica apresentada pelo hipoclorito de sódio, esta substância não tem atuação sobre o conteúdo inorgânico formado pela ação dos instrumentos nas paredes do canal radicular. Por isso, a perfeita limpeza das paredes dentinárias só poderá ocorrer se o componente mineral for descalcificado. A descalcificação é conseguida através da utilização de um agente quelante, em conjunto com a substância irrigadora, durante a instrumentação dos canais radiculares. Os quelantes são substâncias que têm propriedade de fixar íons metálicos de um determinado complexo molecular. A dentina é um complexo em que figuram os íons cálcio na composição, sobre a qual, se aplicado um quelante, poderá ter como resultado uma deficiência desses íons, determinando então uma maior facilidade de desintegração (LEONARDO, 2005). Recomenda-se o uso de quelantes para a remoção da smear layer presentes nas paredes dentinárias após o preparo biomecânico dos canais radiculares. Segundo Lopes, Siqueira Jr. e Elias (2004) a formação da smear layer reduz a permeabilidade da dentina radicular de 25 a 49% e a sua remoção facilita a penetração dos cimentos obturadores nos túbulos dentinários e melhora a adaptação do cone de guta-percha às paredes do canal radicular, aumentando a eficiência seladora da obturação. O efeito descalcificante do agente quelante resulta em menor resistência dentinária à ação de corte dos instrumentos endodônticos, sendo de grande auxílio durante a instrumentação de canais radiculares atresiados. De acordo com Eldeniz, Erdemir e Belli, (2005) soluções quelantes têm efeito suavizante nas paredes dentinárias podendo ser benéfica a sua aplicação clínica por permitir um preparo químico-mecânico rápido e facilitar a exploração de canais radiculares atrésicos. Para Leonardo (2005), o sal dissódico do ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) é aceito como o mais efetivo agente quelante, sendo o mais usado na terapia endodôntica, em concordância com Çalt e Serper (2002) que salientam ainda suas proeminentes propriedades lubrificantes. A presente revisão de literatura tem por objetivo descrever as finalidades e os benefícios do uso da solução quelante EDTA durante o preparo do canal radicular, confrontando-o também com algumas substâncias quelantes alternativas e apontar qual 11 a maneira mais eficiente de utilização do EDTA, a fim de se obter os melhores resultados na limpeza do sistema de canais radiculares. 12 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 EDTA O EDTA é um agente quelante específico para o íon cálcio e, conseqüentemente, para a dentina. É um sal derivado de um ácido fraco, capaz de promover em pH alcalino, a quelação dos íons cálcio. Ele foi introduzido por Ostby em 1957, tendo como objetivo inicial substituir os ácidos inorgânicos, como o sulfúrico, o fenil sulfônico e o clorídrico, então utilizados como auxiliares do preparo de canais radiculares atresiados e calcificados (SOUZA et al., 2003). 2.1.1 Forma de Atuação Segundo Lopes, Siqueira Jr. e Elias (2004), a solubilidade do EDTA está relacionada com o número de átomos de hidrogênio dos radicais carboxila substituídos por sódio. Como apresenta quatro radicais carboxila, pode-se obter quatro tipos de sais: mono, di, tri e tetrassódico. Os autores recomendam o emprego do sal trissódico, levando-se em consideração a capacidade de descalcificação e a compatibilidade biológica. O’Connell et al. (2000) testaram duas soluções de EDTA tetrassódico, nas concentrações de 15% e 25%, e uma solução de EDTA dissódico a 15% e observaram que o sal tetrassódico a 15% foi tão efetivo na remoção da smear layer quanto o mais comumente usado sal dissódico, além de ser mais barato. Lopes, Siqueira Jr. e Elias (2004) explicam a atuação do EDTA da seguinte forma: com o EDTA no interior do canal radicular, ocorre inicialmente a solubilização de uma pequena quantidade de moléculas de fosfato de cálcio, componente mineral da dentina, até que seja estabelecido o equilíbrio. O EDTA incorpora o cálcio por meio das ligações bivalentes do oxigênio existente em sua estrutura, fechando-o em uma cadeia heterocíclica. Esta reação é denominada de quelação e o produto resultante, quelato de cálcio. Assim, ocorre uma quebra da constante de solubilidade da dentina, que na tentativa de suprir a falta de íons, volta a se solubilizar. Esses íons são incorporados às moléculas de EDTA e a reação química continua, até a saturação da solução de quelante, interrompendo o mecanismo de descalcificação. O EDTA tem, portanto, ação 13 autolimitante: à medida que ocorre contato, há a reação com os íons cálcio, neutralização e perda da ação química, necessitando, assim, de constantes renovações. O autor afirma também que deve ser dada atenção especial ao acondicionamento da solução de EDTA, pois quando este se dá em frascos de vidro, com o tempo, o EDTA pode quelar o cálcio do silicato de cálcio existente na composição do vidro, diminuindo sua capacidade de atuação. 2.1.2 Indicações ao Uso Para uma efetiva limpeza dos canais radiculares, tem sido indicado o uso do EDTA associado ao hipoclorito de sódio. O’Connell et al. (2000) avaliaram em seu estudo a eficácia das soluções de EDTA usadas alternadamente com hipoclorito de sódio a 5,25%.Foram utilizados 18 dentes, divididos em três grupos, irrigados com 3 mL de hipoclorito de sódio 5,25% e 3 mL das soluções experimentais respectivamente: EDTA dissódico 15% (pH 7.1 ajustado com NaOH), EDTA tetrassódico 15% (pH 7.1 ajustado com HCl), EDTA tetrassódico 25% (pH 7.1 ajustado com HCl). Após foi realizada nova irrigação com 3 mL de hipoclorito de sódio seguido por 3 mL de água destilada. Para o grupo controle, dois dentes foram irrigados somente com 6 mL de solução salina, dois dentes irrigados somente com 6 mL de hipoclorito de sódio e dois somente com 6 mL de EDTA. Os autores observaram que nenhuma das soluções de EDTA utilizadas isoladamente foram efetivas na remoção completa da smear layer, porém, quando as soluções de EDTA foram usadas alternadamente com hipoclorito de sódio 5,25% observaram completa remoção de smear layer nos terços cervical e médio dos canais radiculares. Teixeira et al. (2001) avaliaram a capacidade de remoção de smear layer dos canais radiculares empregando os irrigantes endodônticos solução de EDTA a 17%, hipoclorito de sódio a 5,25%, Endoquil (polímero à base de mamona) e água destilada. Os resultados mostraram que o Endoquil e o EDTA a 17% promoveram maior capacidade de remoção da smear layer, não diferindo estatisticamente entre si. Os grupos onde foi empregado o hipoclorito de sódio a 5,25% e a água destilada obtiveram os piores resultados, diferindo estatisticamente entre si e entre os demais grupos. Dogan e Çalt (2001) estudaram o efeito promovido pelas soluções quelantes EDTA 17% e RC-Prep (EDTA 15% combinado com Carbowax a 75%) no conteúdo mineral da dentina radicular, quando utilizadas sozinhas durante o preparo, apenas com 14 irrigação final de solução salina, em comparação com o uso seguido pelo hipoclorito de sódio a 2,5%. Os níveis de cálcio, fósforo e magnésio foram mensurados na dentina radicular após o tratamento através de microscopia eletrônica de varredura (MEV) e microanálise espectrométrica de dispersão de energia. Os resultados mostraram que o uso de EDTA combinado à irrigação com hipoclorito de sódio alterou o conteúdo mineral da dentina radicular enquanto o uso do EDTA e RC-Prep sozinhos não mostraram mudança significante. Em concordância com os autores, Çalt e Serper (2002) afirmam que para remover efetivamente os componentes orgânicos e inorgânicos da smear layer é recomendado o uso do EDTA seguido pelo hipoclorito de sódio. Menezes, Zanet e Valera (2003) compararam, através de MEV, a capacidade de limpeza e remoção da smear layer e debris das paredes de canais radiculares preparados e irrigados com soluções de hipoclorito de sódio a 2,5%, gluconato de clorexidina a 2% e soro fisiológico (grupo controle), associados ou não com o EDTA 17%, aplicado por dois minutos no interior do canal radicular. Os resultados mostraram que o uso do EDTA diminuiu significativamente a smear layer para todas as soluções avaliadas, em todos os terços. Quando o EDTA não foi utilizado, o grupo irrigado apenas com hipoclorito de sódio 2,5% apresentou quantidade significativamente maior da smear layer no terço apical, que os demais grupos. O uso do EDTA diminuiu também significativamente a quantidade de debris, exceto para a clorexidina. Concluiram, assim, que após o preparo faz-se necessária a utilização do EDTA a fim de promover melhor limpeza das paredes dos canais radiculares. Para Pinheiro et al. (2004), é justificada a utilização de substâncias químicas que promovam o aumento da permeabilidade da dentina radicular, auxiliando o processo de desinfecção do sistema de canais radiculares, dentre as mais popularizadas, o hipoclorito de sódio e o EDTA. Segundo Souza (2005), a limpeza mais efetiva do sistema de canais radiculares proporcionada pelo uso do EDTA alternado com o hipoclorito de sódio a 2,5% e a remoção da camada residual têm justificado a sua indicação. Já segundo Grande et al. (2006), a propriedade de oxidação do hipoclorito de sódio poderia reduzir a ação do EDTA influenciando o uso combinado destas soluções irrigantes durante a terapia do canal radicular. Os autores verificaram através de análise de ressonância magnética nuclear se a propriedade de oxidação do hipoclorito de sódio pode inativar a ação do EDTA. O pico no EDTA no gráfico assim como o surgimento 15 de novos sinais relacionados aos produtos desta interação com hipoclorito de sódio foram analisados nos intervalos de tempo de 1,5 min, 4,5 min, 7 min, 11 min, 16 min, 25 min, 50 min, 80 min e 120 min. Os gráficos obtidos pela análise de ressonância magnética nuclear confirmaram que as reações entre hipoclorito de sódio e EDTA causaram a oxidação deste último que levou a uma progressiva e lenta desativação do mesmo. A contínua evolução dos sinais relativos aos prótons EDTA indicaram que durante os primeiros sete minutos da reação entre os dois compostos não mudou significativamente no pico registrado, entre 7 e 11 minutos alguns resultados de formação de produtos da reação foram notados, que aumentou durante os seguintes intervalos de tempo: 11 para 16, 16 para 25, 25 para 50 e 50 para 80 minutos, e foi incompleta, mesmo depois de 120 minutos. Estes sinais indicam a progressão da reação de oxidação do agente quelante (EDTA). No final do experimento, o espectro indicou que a reação entre hipoclorito de sódio e EDTA causou a formação de produtos desconhecidos. Portanto a possível ação dos produtos do EDTA nos íons Ca e Mg são também desconhecidos. Em conclusão, foi demonstrado que a oxidação do EDTA pelo hipoclorito de sódio é complexa e requer tempo, portanto, uma irrigação final com hipoclorito de sódio não limita o efeito quelante do EDTA no período de tempo clínico real. Além de resultar em paredes dentinárias mais limpas, a eliminação da smear layer, ou magma dentinário propicia um maior embricamento do cimento obturador na embocadura dos túbulos dentinários, ocasionando um melhor selamento (SALLES e FACHIN, 2003). Villegas et al. (2002) avaliaram a penetração do material obturador em comprimento dentro dos canais acessórios após quatro regimes de irrigação final: não irrigação (NO), irrigação final com 10 mL de água destilada (WA), irrigação final com 20 mL de hipoclorito de sódio a 6%, por 20 minutos (SH) e irrigação com 8 mL de EDTA 15% usado por três minutos seguido do mesmo regime utilizado no grupo SH (ES). Diferenças foram encontradas quando comparados os grupo NO e WA com os grupos SH e ES, com os seguintes valores obtidos: 22,3% no grupo NO, 21,8% no grupo WA, 53,5% no grupo SH e 68,1% no grupo ES. Os autores afirmam que o uso do hipoclorito de sódio sozinho ou em combinação com o EDTA na irrigação final pode melhorar a penetração do material obturador nos canais acessórios. Saleh et al. (2002) investigaram os efeitos de diferentes pré-tratamentos dentinários na adesão de diferentes cimentos endodôntiocs à dentina e à guta-percha. 16 Foram testadas as substâncias ácido fosfórico 37% aplicado por 30 segundos, ácido cítrico 25% aplicado por 30 segundos, EDTA 17% aplicado por cinco minutos e 10 ml de água destilada (grupo controle), e os cimentos de Grossman, Apexit, Ketac-Endo, AH PLUS, RoekoSeal Automix e RoekoSeal Automix + Primer. Os autores observaram que houve grande variação na adesão quanto ao cimento utilizado e o pré-tratamento dentinário realizado. A remoção da smear layer pelo EDTA reduziu significativamente, a adesão do AH Plus e do Apexit, já a adesão do Ketac-Endo e do RoekoSeal Automix não foi influenciada significativamente. O uso do primer com o RoekoSeal Automix melhorou significativamente a adesão no caso de dentina não tratada, entretanto, não apresentou diferença significante quanto ao pré-tratamento com EDTA ou ácidos. A adesão do cimento de Grossman foi significativamente aumentada quando o prétratamento dentinário foi feito com ácido fosfórico. Concluíram, assim, que diferentes tipos de cimento requerem diferentes tipos de pré-tratamento para ótima adesão. O prétratamento com EDTA não mostrou efeito ou produziu fraca união, sugerindo que a remoção da smear layer pode prejudicar a adesão do cimento à dentina. Já o prétratamento com ácido cítrico e ácido fosfórico aumentou a adesão nos cimentos à base de óxido de zinco e eugenol. Sousa-Neto et al. (2002) avaliaram, in vitro, o efeito da aplicação das soluções quelantes EDTA, EGTA (ethylene glycol-bis-beta-amino-ethyl ether tetraacetic acid) e CDTA (cyclohexane-1,2-diaminetetraacetic acid) sobre a dentina humana na adesividade e infiltração apical dos cimentos obturadores dos canais radiculares Sealer 26, Sealapex, N-Rickert e Endofill. No que diz respeito à adesão, o Sealer 26 teve melhores valores de adesão em comparação com os outros três cimentos que não apresentaram diferença significante entre si. O EDTA foi melhor que o CDTA e o EGTA que apresentaram valores intermediários. Quanto à microinfiltração, o Selaer 26 teve o menor valor, estatisticamente diferente dos outros cimentos. O N–Rickert teve valores intermediários e o Sealapex e o Endofill foram semelhantes com aumento dos valores de microinfiltração. Os canais radiculares irrigados com EDTA tiveram menores valores de microinfiltração, e o EGTA e o CDTA apresentaram valores intermediários Os resultados evidenciaram diferença entre os cimentos e as soluções testadas. Os autores observaram então, que o cimento Sealer 26 e a solução de EDTA apresentaram os melhores resultados para os testes de adesividade e de infiltração marginal apical. Bonan et al. (2002) avaliaram a capacidade seladora após a obturação de canais radiculares em função da solução irrigadora empregada durante o preparo biomecânico, 17 que foi realizado utilizando diferentes soluções irrigadoras, de acordo com os grupos experimentais: I) solução de hipoclorito de sódio a 2,5%; II) solução de digluconato de clorexidina a 2%; III) gel de clorexidina a 1%; IV) soro fisiológico e V) solução de hipoclorito de sódio a 2,5% + EDTA. Os canais radiculares foram obturados pela técnica de condensação lateral ativa da guta-percha e cimento de óxido de zinco e eugenol e imersos em solução de azul de metileno a 2%, em ambiente a vácuo, durante 48 horas. A infiltração do corante foi analisada em perfilômetro. Os autores observaram que o grupo onde foi empregada a solução de hipoclorito de sódio e o EDTA apresentou menor infiltração quando comparado ao grupo da clorexidina gel. Os demais grupos foram semelhantes entre si, concluindo, então, que o melhor selamento apical é obtido quando o preparo biomecânico é realizado empregando-se solução de hipoclorito de sódio complementada pelo uso de solução de EDTA. Salles e Fachin (2003) avaliaram, através de MEV, a interface de dois cimentos à base de resina epóxi e as paredes do canal radicular, investigando a possível interferência do magma dentinário sobre a capacidade de penetração dos cimentos Sealer 26 e AH Plus, no interior dos túbulos dentinários. Os autores observaram que os dois cimentos tiveram desempenho inferior na presença de magma dentinário. O tratamento do magma dentinário, em regime de irrigação final com EDTA a 17% seguido do hipoclorito de sódio a 1% promoveu um incremento na penetração do cimento independente do tipo de cimento utilizado, sendo que o AH Plus demonstrou uma média de penetração nos túbulos dentinários superior aos demais grupos. O padrão mais baixo de penetração de cimento no interior dos túbulos dentinários foi obtido pelo grupo onde o Sealer 26 foi utilizado sem irrigação prévia com EDTA. Da mesma forma, Kokkas et al. (2004) ao examinar o efeito da smear layer na profundidade de penetração dos cimentos de canal radicular AH Plus (à base de resina epóxia), Apexit (à base de hidróxido de cálcio) e Grossman type-Roth 811 dentro dos túbulos dentinários e observaram que a smear layer obstruiu todos os cimentos de penetrarem nos túbulos dentinários. Em contraste, a smear layer removida pela irrigação com 3 mL de EDTA 17% por três minutos seguido de 3 mL de solução de hipoclorito de sódio 1% permitiu a penetração de todos os cimentos, ocorrendo variação de profundidade. Estes achados, segundo os autores, sugerem que a smear layer desempenha um importante papel na penetração do cimento no interior dos túbulos dentinários, bem como nas suas implicações clínicas. 18 Barbizam et al. (2005) recomendam a irrigação final com EDTA a 17% previamente a obturação dos canais radiculares, em especial quando será empregado um cimento resinoso. Diferentes técnicas para a utilização do EDTA têm sido estudadas com o objetivo de potencializar seu efeito quelante. Fatores como a agitação da solução, o volume utilizado, o tempo de aplicação, a concentração da substância e o pH têm sido observados para determinar a sua influência na capacidade quelante. 2.1.3 Agitação e Volume da Solução Para Pellissari (2002), o uso do EDTA é indicado antes da medicação intracanal e da obturação, deixando-se por alguns minutos no interior do canal radicular e agitando-se com um instrumento que poderá ser de menor calibre que o instrumento memória. Em seguida, deve-se irrigar com solução fisiológica ou água destilada. Peres et al. (2002) avaliaram por meio de MEV a limpeza superficial das paredes de canais radiculares após toalete final com duas formas de EDTA auxiliadas por três diferentes mecanismos de agitação. Após o preparo biomecânico ter sido realizado pela técnica escalonada regressiva, irrigando-se com solução de hipoclorito de sódio a 1%, os espécimes foram divididos em seis grupos experimentais, de acordo com a toalete final aplicada, obedecendo a seguinte ordem: Grupo I: EDTA gel + agitação com ultrasom; Grupo II: EDTA líquido + agitação com ultra-som; Grupo III: EDTA gel + agitação com espiral de lentulo; Grupo IV: EDTA líquido + agitação com espiral de lentulo; Grupo V: EDTA gel + agitação manual; Grupo VI: EDTA líquido + agitação manual. Os resultados mostraram não existir diferença estatisticamente significante entre as diferentes formas de toalete final estudadas, porém melhor limpeza foi apresentada no terço cervical de todos os grupos, quando comparada ao terço apical, concluindo assim, que todos os métodos foram similares na limpeza. Crumpton, Goodell e Mcclanaban (2005) estudaram o volume de EDTA 17% necessário para remover eficientemente a smear layer após instrumentação rotatória com Profile GT. Foram utilizados 40 dentes, divididos após a instrumentação em quatro grupos. Grupo 1 (controle positivo): não recebeu irrigação com EDTA 17%, apenas irrigação final com 3 mL de hipoclorito de sódio 5,25% Os três grupos experimentais: grupo 2, grupo 3 e grupo 4, foram irrigados com EDTA 17%, pelo tempo de um minuto, seguido pelo enxágüe final com 3 mL de hipoclorito de sódio 5,25%, diferindo as 19 quantidades de EDTA utilizadas, sendo respectivamente, 1, 3 ou 10 mL. As amostras foram divididas longitudinalmente e examinadas através de MEV para determinar a qualidade da smaer layer removida e presença de debris remanescentes. Os autores não encontraram diferenças entre os grupos experimentais quanto a presença de debris remanescentes ou a qualidade da smear layer removida. A irrigação com EDTA em volume maior que 1 mL não melhorou a remoção de debris. O estudo mostrou que 1 mL de EDTA em contato por um minuto foi tão eficiente como 10 mL, e a remoção eficiente da smear layer foi conseguida com um enxágüe final de 1 mL de EDTA 17% por um minuto, seguido por 3 mL de hipoclorito de sódio 5,25%. 2.1.4 Fator Tempo Zanato, Só e Figueiredo (2001) avaliaram a influência do tempo de agitação mecânica no interior do canal radicular do EDTA a 17%, na remoção da smear layer. Os espécimes foram irrigados com hipoclorito de sódio a 1% durante a instrumentação e após, divididos aleatoriamente em três grupos: o Grupo I recebeu irrigação com EDTA 17% e agitação mecânica com broca lentulo número um, durante dois minutos. O Grupo II recebeu irrigação com EDTA 17% e agitação mecânica com broca lentulo número um, durante 30 segundos. O Grupo III não recebeu nenhum procedimento adicional ao preparo. Após análise através de MEV, os autores observaram que não houve diferença na capacidade de remoção da smear layer quanto aos diferentes tempos de agitação mecânica de EDTA no interior do canal radicular. Houve, porém, diferença na capacidade de remoção da smear layer quando comparado o grupo sem tratamento (grupo III) com os demais grupos (I e II). Concluíram assim, que o uso do EDTA apresentou satisfatória capacidade de remoção da smear layer, nos grupos I e II, independente do seu tempo de agitação mecânica. Çalt e Serper (2002) avaliaram os efeitos do EDTA na remoção da smear layer e na estrutura dentinária depois de um e dez minutos de aplicação e constataram que a irrigação com EDTA 17% por um minuto é efetiva na remoção da smear layer, entretanto, uma aplicação de EDTA por dez minutos causou excessiva erosão peritubular e intertubular, sugerindo que este procedimento não deve ser prolongado por mais de um minuto durante o tratamento endodôntico. Em outro estudo Serper e Çalt (2002) mensuraram a quantidade de liberação fosfórica para os tempos de 1, 3, 5, 10 e 20 15 minutos de exposição ao EDTA e constataram que a quantidade de fósforo liberado da dentina foi maior com aumento do tempo de exposição. Por sua vez, Scelza, Teixeira e Scelza (2003), utilizando a solução de EDTA 17% como irrigação final, nos tempos de 3, 10 e 15 minutos observaram que não houve diferença significante quanto ao aumento na descalcificação, nos três diferentes tempos, o que pode significar que o EDTA não foi uma substância tempo-dependente. Segundo Lopes, Siqueira Jr. e Elias (2004), vários trabalhos indicam que as soluções de EDTA apresentam ação desmineralizadora sobre a dentina, sendo que o tempo de aplicação da solução influencia na ação de desmineralização. Para eles, o EDTA não atua imediatamente quando em contato com a dentina, necessitando esperar cerca de 10 a 15 minutos para a obtenção do efeito quelante. De-Deus, Paciornik e Maurício (2006) aplicando a solução de EDTA 17% nos tempos de um, três e cinco minutos observaram um brusco decréscimo na dureza dentinária até o tempo de três minutos e estabilidade nos valores da dureza nos tempos de três a cinco minutos de aplicação, sugerindo que a solução saturou-se. Paqué et al. (2006) avaliaram os efeitos de diferentes regimes de irrigação do canal radicular, pela penetração de um corante azul claro. Foram utilizados 80 prémolares inferiores de canal radicular único e estreito, preparados com instrumentos ProFile e divididos aleatoriamente em oito grupos, em que variaram o tempo e a substância utilizada para a irrigação inicial, água e EDTA, e final, solução azul clara (corante). Em seguida, os canais radiculares foram irrigados com 10 mL de água para remover os remanescentes de EDTA e da solução corante. Os espécimes foram seccionados horizontalmente em 3, 6 e 9 mm do ápice, as partes fotografadas digitalmente e a penetração do corante calculada. Os resultados mostraram que não houve diferenças entre os protocolos de irrigação quanto à penetração do corante. O exame em MEV revelou que a penetração do corante foi proeminente em áreas com túbulos dentinários abertos e ausente em áreas com esclerose tubular, e uma completa ausência ou somente quantidade insignificante da smear layer foi evidenciada em todos os espécimes irrigados com EDTA, enquanto marcante quantidade da smear layer foi encontrada nos canais radiculares irrigados com água. Contudo, a penetração do corante foi observada em áreas de dentina com túbulos patentes independente da presença ou ausência da smaer layer. Concluindo, os autores afirmam que a smear layer produzida pela instrumentação do canal radicular, a esclerose tubular, e fenômenos fisiológicos que iniciam na terceira década da vida, na região apical do canal radicular e avançam 21 coronalmente com a idade, foram os maiores fatores influenciando a permeabilidade da dentina radicular, e não propriamente o tempo que a solução química foi utilizada. 2.1.5 Fator Concentração As soluções aquosas de EDTA são encontradas em diversas concentrações no mercado, sendo as de 15% e 17% as mais freqüentes. O EDTA a 24% foi lançado em forma exclusiva de gel (ARAÚJO et al. 2003). O’Connell et al. (2000) avaliaram a remoção da smear layer e a evidenciação dos túbulos dentinários após a irrigação do canal radicular com diferentes soluções de EDTA: EDTA dissódico 15% (pH 7,1 ajustado com NaOH), EDTA tetrassódico 15% (pH 7,1 ajustado com HCl), EDTA tetrassódico 25% (pH 7,1 ajustado com HCl). Neste estudo, não foram encontradas diferenças entre concentrações e tipos de soluções de EDTA utilizadas, já que todas pareceram fornecer adequadas propriedades de desmineralização, sendo mais eficientes nos dois terços cervicais dos canais radiculares e menos efetivas no terço apical. Serper e Çalt (2002) comparando os efeitos do EDTA 10% e 17% na desmineralização dentinária encontraram maiores efeitos com o aumento da concentração de EDTA. Nakashima e Terata (2005) avaliaram a influência na remoção da smear layer da solução de EDTA 3% (pH de 9,0) sobre a eficácia antimicrobiana de três soluções desinfetantes e a resistência adesiva e umedecimento da dentina por quatro tipos de cimentos endodônticos. No primeiro experimento, foi avaliado o efeito da remoção da smear layer na eficácia antimicrobiana de três desinfetantes de canal radicular, Cresol Formalina, Creodon (fenol), e Calcipex (hidróxido de cálcio), pela mensuração das zonas de inibição usando um método modificado de difusão em placa de Agar. Os microrganismos testados foram Streptococcus intermedius e Candida albicans. Foram utilizadas 54 discos de dentina (1 mm de espessura e 8 mm de diâmetro), onde foi aplicado ácido fosfório 37% por um minuto. A superfície teste para aplicação do desinfetante de canal radicular foi finalizada com polimento com papel nº 600 para formação da smaer layer. As amostras foram divididas em três grupos: grupo EDTA 15%, que foi aplicado por dois minutos, grupo EDTA 3%, que também foi aplicado por dois minutos, e grupo não-tratado, para preservação da smear layer. Um tubo de polietileno foi fixado na superfície teste com cera, e cada desinfetante de canal radicular 22 foi colocado dentro do tubo usando uma pequena bolinha de algodão. Os resultados não mostraram zonas de inibição para o grupo não-tratado, entretanto, estas foram observadas para todos os desinfetantes nos grupos EDTA, sendo que o EDTA 15% mostrou um aumento significante em relação ao EDTA 3% somente para Cresol Formalina em S. intermedius. Ainda Nakashima e Terata (2005) avaliaram o efeito da remoção da smear layer no umedecimento da dentina pelo cimento endodôntico. Foram utilizados 60 dentes anteriores bovinos extraídos, onde a superfície teste foi polida com papel nº 600 para expor a dentina. Os 60 dentes foram divididos em três grupos de 20 amostras cada e tratados como no primeiro experimento, sendo que cinco espécimes de cada grupo foram obturados com quatro tipos de cimentos endodônticos (Canals, Canals N, Apatite Root Sealer, AH26). Após um minuto, o ângulo de contato foi mensurado, e mostrou-se menor no grupo EDTA 3% do que no EDTA 15% para todos os cimentos. No terceiro experimento Nakashima e Terata (2005) avaliaram o efeito da remoção da smear layer na força de adesão do cimento endodôntico à dentina. Foram utilizadas 120 amostras de dentina bovina, divididas em três grupos e tratadas como no primeiro experimento. Das 40 amostras de cada grupo, dez foram obturadas com os quatro tipos de cimento. Tubos de polietileno de 6 mm de diâmetro e 5 mm de altura foram preenchidos com cada tipo de cimento endodôntico e imediatamente colocados na superfície teste de dentina. Após a presa completa do cimento, as amostras permaneceram em 37° com umidade relativa 100% por 48 horas e o teste de adesão foi executado usando uma máquina de teste tipo universal Instron 4225. Os autores observaram que a força adesiva de cada cimento para a dentina foi superior nos grupos EDTA comparado com o grupo não-tratado. Os autores propõem que o EDTA 3% é mais proveitoso para aplicações clínicas que o EDTA 15%, uma vez que o ângulo de contato entre o cimento endodôntico e a dentina diminuiu no grupo do EDTA 3% e aumentou no EDTA 15%; a resistência adesiva do cimento endodôntico para a dentina aumentou nos grupos EDTA para todos os tipos de cimentos e a permeabilidade do canal radicular à solução desinfetante aumentou para valores semelhantes nos grupos EDTA 3% e 15%. 23 2.1.6 Fator pH Além do tempo de aplicação e concentração, o pH é um fator que pode interferir na capacidade descalcificadora da solução. O’Connell et al. (2000) explicam que o pH afeta a disponibilidade de Ca ++. Em pH elevado, o excesso de grupamentos hidroxila diminui a dissociação da hidroxiapatita e, assim, limita a disponibilidade de Ca ++ . Em pH neutro ou ácido, as ligações do Ca ++ tendem a aumentar devido à maior dissociação da hidroxiapatita, o que torna o Ca ++ disponível para quelação. Serper e Çalt (2002) afirmam que o sal dissódico de EDTA a 17% e pH neutro é amplamente preferido para o tratamento do canal radicular. Testando as soluções de EDTA 10 e 15% em pH de 7,5 e 9,0 constataram que a solução foi mais efetiva com pH neutro do que com pH 9,0. Souza et al. (2003) comparando várias marcas comerciais de EDTA disponíveis no mercado encontraram halos de descalcificação significativamente maiores nas soluções que apresentaram pH mais elevado. Embora não tenham ocorrido diferenças estatísticas significantes, houve uma tendência de melhores resultados com a marca Inodon (pH=10,0) em relação a Odahcam (pH=8,1). Por outro lado, menores halos de descalcificação ocorreram com os produtos Iodontec (pH=5,6) e Biodinâmica (pH=7,5), entre os quais não houve diferenças significativas. Estes dados confirmam a influência do pH no potencial de descalcificação das soluções à base de EDTA. Embora alguns autores considerem que o pH ideal situe-se entre 7,0 e 8,0, os resultados deste trabalho demonstram maior efetividade entre os valores 8,0 e 10,0 e menor efetividade com o valor de 7,5, que estaria enquadrado nos parâmetros considerados ideais. Os autores afirmam que um dos fatores que pode influenciar nos resultados seria a origem da matéria-prima utilizada na preparação das soluções. 2.2 ASSOCIAÇÕES E FORMAS DE APRESENTAÇÃO Associações têm sido feitas procurando reunir as melhores propriedades oferecidas pelas soluções irrigadoras. Ostby (1957, apud LOPES, SIQUEIRA JR. E ELIAS, 2004) adicionou à solução de EDTA o tensoativo Cetavlon (detergente catiônico, derivado do amono quaternário), formando uma associação conhecida como EDTAC, o que reduziu a tensão superficial da solução em 50%. Em conseqüência disto, o EDTAC torna-se, segundo o autor, mais 24 efetivo na redução da microdureza da dentina, em relação ao EDTA, e promove uma maior permeabilidade dentinária radicular. Hill (1959, apud LEONARDO, 2005) também aconselhou o emprego do EDTAC (também chamado de REDTA), pois além de aumentar o poder bactericida da solução, o Cetavlon permitiria maior difusão do produto acelerando o fenômeno da quelação. Cruz-Filho et al. (2001) estudaram o efeito do EDTAC 15%, CDTA 1% e EGTA 1% na microdureza da dentina radicular, aplicando as soluções por cinco minutos e comparando-as com água destilada deionizada. A análise estatística mostrou que as três soluções quelantes reduziram significativamente a microdureza dentinária quando comparadas à água, entretanto, não houve diferenças significantes entre as três soluções. Guerisoli et al. (2002) avaliaram a capacidade de remoção da smear layer pelo hipoclorito de sódio a 1% utilizado sozinho ou associado com EDTAC 15% complementado pela agitação ultra-sônica. Para isso, utilizaram 20 incisivos inferiores com canal radicular único, divididos aleatoriamente em quatro grupos. No grupo I (controle positivo), os dentes foram instrumentados utilizando 1 mL de água destilada como irrigante a cada troca de instrumento e também após o preparo, quando uma lima 15 foi introduzida a 1 mm do ápice anatômico, potencializada pelo ultra-som, com movimentos de pequena amplitude contra as paredes dentinárias, por um minuto. No grupo II, os dentes foram instrumentados utilizando 1 mL de hipoclorito de sódio a 1% como solução irrigante a cada troca de instrumento e após o preparo, quando foi feita agitação ultra-sônica como descrito anteriormente. No grupo III foi utilizado hipoclorito de sódio a 1% alternadamente com EDTAC 15% a cada troca de instrumento, e agitação ultra-sônica, feita com hipoclorito de sódio por 30 segundos e EDTAC também por 30 segundos. Por fim, no grupo IV (controle negativo) os dentes não foram instrumentados, apenas irrigados com hipoclorito de sódio a 1% e EDTAC 15%, e agitação ultra-sônica, feita com hipoclorito de sódio por 30 segundos e EDTAC também por 30 segundos. Após os dentes foram secos com pontas de papel absorvente, partidos longitudinalmente no sentido vestíbulo- lingual, e avaliados nos seus terços cervical, médio e apical, através de MEV. Os autores concluíram que o hipoclorito de sódio a 1% associado com EDTAC 15% foi eficiente na remoção da smear layer das paredes do canal radicular e que a irrigação com água destilada ou hipoclorito de sódio a 1% sozinho, não promoveu paredes livres da smear layer. Quando os grupos foram examinados separadamente, não observaram diferenças entre a quantidade da smear layer encontrada nas paredes do canal nos terços cervical, médio e apical, o que pode ser explicado, segundo os autores, 25 pela baixa tensão superficial das soluções fornecida pelo surfactante catiônico (Cetavlon), bem como o uso do ultra-som. Devido à ação combinada desses dois fatores, as soluções irrigadoras provavelmente alcançaram a completa extensão do canal radicular. De-Deus, Paciornik e Maurício (2006) avaliaram os efeitos das soluções de ácido cítrico 10%, ácido etilenodiaminotetracético (EDTA 17%) e ácido etilenodiaminotetracético adicionado ao Cetavlon (EDTAC 17%) na microdureza dentinária dos canais de raízes humanas, após um tempo de aplicação de um, três e cinco minutos, observando que o EDTAC teve um efeito lento. Enquanto a solução de EDTA 17% apresentou um brusco decréscimo na dureza dentinária nos três primeiros minutos, o EDTAC 17%, levou cinco minutos para apresentar valores semelhantes. O mesmo foi observado em relação ao ácido cítrico, que levou cinco minutos para mostrar uma mudança significante nos valores de dureza dentinária. Paiva e Antoniazzi (1988) recomendaram a associação do EDTA ao Tergentol (lauril éter sulfato de sódio) por causa de sua ação na desmineralização dentinária, denominando-o de EDTA-T. Scelza, Antoniazzi e Scelza (2000) avaliaram a qualidade de limpeza das paredes dentinárias promovida por três regimes de irrigação final, após o preparo ter sido realizado com 2 mL de hipoclorito de sódio 1% a cada troca de instrumento. Grupo I: 10 mL de hipoclorito de sódio 1% seguido por 10 mL de ácido cítrico 10% e por 10 mL de água destilada. Grupo II: 15 mL de hipoclorito de sódio 0,5% seguido por 15 mL de EDTA-T 17%. Grupo III: 10 mL de hipoclorito de sódio 5,25%, seguido por 10 mL de peróxido de hidrogênio 3% e por 10 mL de hipoclorito de sódio 5,25%. Os canais foram observados nos terços cervical, médio e apical, por MEV. Analisando-se os terços separadamente, os autores observaram que o grupo II (EDTA-T 17%) apresentou melhor limpeza que o grupo I (ácido cítrico) em todos os terços, sendo também, significativamente melhor que o grupo III (peróxido de hidrogênio). Entretanto, avaliando-se o todo, não houve diferenças estatisticamente significantes entre a limpeza promovida nos grupos I e II, que, contudo, apresentaram significativamente maior número de túbulos dentinários visíveis que o grupo III. Segundo Leonardo (2005), Stewart et al. realizaram em 1961 a associação do EDTA com um veículo cremoso, supondo que uma associação entre o peróxido de uréia 10% (bactericida) e o EDTA 15% (quelante), em uma base estável (Carbowax a 75%), pudesse oferecer as vantagens de cada um deles, proporcionando um rápido e completo 26 preparo biomecânico e desenvolveram uma nova fórmula denominada de RC-Prep. No RC-Prep, o pó do EDTA é triturado em peróxido de uréia, homogeneizado em uma base Carbowax (polietilenoglicol), formando uma substância de consistência cremosa. O inconveniente, devido à sua consistência, seria a permanência de resíduos desta substância, mesmo após a irrigação dos canais radiculares. Lopes, Siqueira Jr. e Elias (2004) afirmam que a atividade do quelante depende de sua solubilidade e capacidade de dissociação iônica, necessitando água para que isso ocorra. Devido à forte polarização existente nas moléculas de água, estas agem sobre a substância iônica promovendo o afastamento de seus íons. Sendo assim pode-se entender que há maior eficiência nos agentes quelantes quando se apresentam na forma de solução aquosa, do que quando na forma de cremes. Segundo Leonardo (2005), as substâncias de consistência cremosa são de difícil remoção e sua presença irá manter ação irritante sobre os tecidos vivos apicais e/ou periapicais, não sendo recomendado o seu emprego durante o preparo biomecânico. Porém, são de grande utilidade em casos de canais radiculares calcificados, atresiados ou com instrumentos fraturados de difícil remoção. Szmajser et al. (2004) avaliaram, in vitro, o efeito da aplicação de soluções quelantes EDTA 17%, EDTA gel trissódico 24%, RC-Prep e RC-Prep experimental sobre a dentina humana, através da infiltração marginal linear apical após a obturação dos canais radiculares, observando aquela que possibilitou maior penetração do cimento obturador nos túbulos dentinários. Os resultados mostraram que não houve diferença para o grau de infiltração linear marginal apical entre os grupos experimentais, independentemente da substância quelante utilizada em cada um deles. Fazendo comparações múltiplas entre os grupos, tomando as medidas de cada espécime individualmente, houve diferença somente entre o grupo em que foi utilizado EDTA a 17%, que apresentou os menores valores de infiltração linear apical, e o grupo em que foi utilizado RC-Prep experimental, que apresentou os maiores valores de infiltração. Buzoglu, Çalt e Gümüsderelioglu (2007) avaliaram os efeitos do uso do EDTA e RC-Prep, sozinhos ou combinados ao hipoclorito de sódio, na superfície de energia livre da parede dentinária do canal radicular usando a técnica de captura de bolhas. Foram utilizados 80 pré- molares extraídos, cujos terços cervical e apical foram seccionados e o terço médio remanescente dividido longitudinalmente. As raízes foram fixadas em blocos de resina, expondo a superfície dentinária da parede do canal radicular e divididas aleatoriamente em seis grupos. O grupo I permaneceu em imersão em 10 mL 27 de EDTA 17% por 15 minutos seguido de irrigação com 10 mL de hipoclorito de sódio 2,5%. O grupo II foi tratado com RC-Prep por 15 minutos seguido de irrigação com 10 mL de hipoclorito de sódio 2,5%. O grupo III permaneceu em imersão em 10 mL de EDTA 17% por 15 minutos seguido de irrigação com 10 mL de solução salina, o grupo IV foi tratado com RC-Prep por 15 minutos seguido de irrigação com 10 mL de solução salina, e o grupo V recebeu irrigação com 10 mL de hipoclorito de sódio 2,5% somente. O grupo VI, controle, foi irrigado somente com 10 mL de solução salina. Os resultados mostraram que o uso das substâncias EDTA e RC-Prep sozinhas ou combinadas à irrigação com hipoclorito de sódio diminuiu significativamente a superfície de energia livre na parede dentinária do canal radicular, quando comparados com o grupo controle, ou seja, o uso de agentes quelantes sozinhos ou em combinação com hipoclorito de sódio diminuem a umectação da parede dentinária do canal radicular, interferindo com o mecanismo de adesão. O EDTA gel apresenta-se nesta forma com a seguinte composição: ácido etilenodiaminotetracético, hidróxido de sódio, água deionizada (livre de íons), e espessante, empregado para dar a consistência. É hidrossolúvel e apresenta uma concentração de EDTA trissódico de 24%. Durante o preparo químico- mecânico, a substância deve ser continuamente substituída, e, ao término deste, o canal radicular deverá ser irrigado com hipoclorito de sódio (LOPES, SIQUEIRA JR. e ELIAS, 2004). De acordo com o fabricante do EDTA gel a 24%, dentre suas propriedades/ características, destacam-se as seguintes: facilidade de aplicação, com economia de tempo e produto; alta concentração que resulta em uma maior eficácia do produto; ser gel hidrossolúvel, não deixando resíduos; remoção de toda a camada residual por meio da quelação do cálcio e magnésio, facilitando sua dissolução ou absorção, expondo os túbulos dentinários e facilitando a adesão das fibras do ligamento periodontal, enquanto no interior dos canais radiculares facilita a cimentação adesiva; leva de dois a três minutos para começar a fazer efeito e, após cinco a seis minutos, já não há mais EDTA, pois já reagiu com a dentina e se neutralizou (VALE et al., 2003). Guarienti et al. (2001) compararam o efeito das soluções de EDTA 17% e EDTA gel 24% sobre a microdureza dentinária. Os espécimes foram submetidos à ação de soda clorada - Macroquímica por duas horas, solução de EDTA 17% - Macroquímica durante cinco minutos e ao EDTA 24% em forma de gel - Biodinâmica por cinco minutos. Os autores observaram que a solução de EDTA 17% causou redução 28 considerável na dureza dentinária, ao passo que as demais substâncias não apresentaram um efeito significativo. Em seu estudo, Vale et al. (2003) avaliaram comparativamente o efeito de limpeza propiciado pelo EDTA gel a 24% e EDTA líquido a 17% nos terços médio e apical das paredes dos canais radiculares, empregados como agentes de limpeza final, após o preparo químico- mecânico. Tanto o EDTA gel como o líquido foram deixados no canal radicular por três minutos, sendo agitado com lima Tipo K diâmetro 50 durante o terceiro minuto e, após, os canais radiculares foram irrigados com 5 mL de soro fisiológico. A diferença entre as médias do grau de limpeza do EDTA gel e líquido não foi estatisticamente significante, mostrando que ambos propiciam limpeza semelhante; no entanto, o grupo que foi utilizado o EDTA gel apresentou mais espécimes com escore “excelente” atribuído pelos examinadores. Araújo et al. (2003) avaliaram, in vitro, a permanência e desempenho do EDTA gel a 24% e do EDTA líquido a 17% no canal radicular pós- instrumentação. As substâncias foram utilizadas alternadamente com irrigação de hipoclorito de sódio 2,5%. Os autores observaram a permanência bastante visível do EDTA gel no canal radicular, em comparação à observação de pouca ou nenhuma presença de EDTA líquido nas paredes do canal radicular, indicando que o EDTA líquido a 17% parece ser o quelante mais favorável ao aumento da permeabilidade dentinária pós-preparo do sistema de canais radiculares, favorecendo a limpeza dos mesmos. Para os autores, o fato de o EDTA gel ter permanecido em maior quantidade nas paredes do canal radicular pode ser explicado devido à sua viscosidade, dificultando sua remoção pelo hipoclorito de sódio. Sua permanência pode impedir a difusão da medicação intracanal na estrutura dentinária e dificultar uma melhor vedação da obturação, propiciando um efeito inverso ao que se espera de um agente quelante após o preparo do canal radicular. Estes achados contradizem as expectativas do fabricante, uma vez que o EDTA gel 24% teria sido lançado almejando uma maior eficácia do produto, pois suas características iriam conferir a este uma ação mais rápida e provavelmente mais eficaz. Só et al. (2005) avaliaram a limpeza das paredes dentinárias do terço apical do canal radicular frente ao uso de solução de hipoclorito de sódio 1%, isoladamente ou associada à solução de EDTA 17% pós-preparo, ou ao EDTA gel 24% durante o preparo dos canais radiculares. O uso do EDTA 17% após o preparo dos canais radiculares promoveu paredes dentinárias mais limpas, permitindo evidenciar ausência de magma dentinário e túbulos abertos, representados por contornos nítidos e bem 29 definidos, apresentando os melhores escores de limpeza de parede dentinária. Já o EDTA gel mostrou resultados intermediários quanto à remoção do magma de dentina. Para os autores, além da dificuldade de remoção do gel no interior do canal radicular, e conseqüente remoção do magma dentinário, cabe salientar a dificuldade em introduzir o gel no canal radicular, no momento do preparo, devido ao menor escoamento do produto em função de sua consistência. Isso leva a acreditar que possa ocorrer em alguns casos menor contato da substância com as paredes dentinárias no terço apical do canal radicular. O Glyde File Prep (Dentsply/ Maillefer) é um novo agente quelante e consiste numa associação de EDTA, peróxido de carbamida (peróxido de uréia) em uma base hidrossolúvel, em veículo gel, devendo ser empregado apenas no início da instrumentação, até os três primeiros diâmetros, e a posterior preparação dos canais radiculares deverá ser realizada apenas com solução de hipoclorito de sódio (LOPES, SIQUEIRA JR. e ELIAS, 2004). Já segundo Leonardo (2005), esse produto é levado ao canal radicular como auxiliar da instrumentação sendo usado alternadamente às irrigações com solução de hipoclorito de sódio. Grandini, Balleri e Ferrari, (2002) avaliaram a presença da smear layer, resíduos e túbulos dentinários abertos após o uso do Glyde File Prep. Os 40 espécimes utilizados foram divididos aleatoriamente em quatro grupos, conforme a solução irrigante utilizada durante o preparo químico- mecânico: Grupo A: solução fisiológica. Grupo B: hipoclorito de sódio a 2,5%. Grupo C: hipoclorito de sódio a 2,5% e Glyde File Prep alternadamente. Grupo D: hipoclorito de sódio a 2,5% durante o preparo, e após secagem do canal radicular, aplicação de Glyde File Prep, por cinco minutos, com pontas de papel absorvente seguido pela irrigação com hipoclorito de sódio a 2,5%. As raízes foram seccionadas longitudinalmente e observadas em MEV. Os autores observaram que nenhuma das técnicas usadas neste estudo mostrou uma perfeita remoção da smear layer e dos resíduos, porém uma significante diminuição foi observada nos grupos C e D, assim como maior quantidade de túbulos abertos, sem diferenças entre eles, em comparação aos grupos A e B. Provavelmente, segundo eles, devido ao melhor efeito do Glyde File Prep como irrigante, combinado com hipoclorito de sódio 2,5%. Viegas et al. (2002) avaliaram, in vitro, através da MEV, a limpeza das paredes dentinárias do terço apical do canal radicular frente ao emprego do hipoclorito de sódio 1%, isoladamante, combinado ao EDTA 17% pós-preparo, ou associado ao Glyde File 30 Prep durante o preparo dos canais radiculares. O estudo mostrou que o emprego do hipoclorito de sódio utilizado isoladamente e em associação ao Glyde File Prep durante o preparo do canal radicular não permitiu a visualização da abertura dos túbulos dentinários no início do terço apical na quase totalidade dos dentes observados. Já quando o hipoclorito de sódio foi utilizado associado ao EDTA 17% pós-preparo, 75% das amostras mostraram túbulos dentinários abertos e ausência de magma dentinário. Da mesma forma, Lim et al. (2003) também avaliaram a efetividade na remoção da smear layer produzida durante a instrumentação do canal radicular promovida pelo hipoclorito de sódio 1% utilizado isoladamante, combinado ao EDTA 17% pós-preparo, ou associado ao Glyde File Prep durante o preparo dos canais radiculares. Os autores observaram que o uso do Glyde File Prep em conjunto com o hipoclorito de sódio foi efetivo na remoção da smear layer produzida durante a instrumentação dos canais radiculares, não sendo diferente da limpeza promovida pelo uso do hipoclorito de sódio 1% seguido pela irrigação final com 10 mL de EDTA 17%. Ambos os regimes de irrigação promoveram maior limpeza nos canais radiculares do que aquela obtida quando o hipoclorito de sódio foi utilizado isoladamente. Smear Clear é um preparado contendo agentes antimicrobianos e umectantes à base de cloreto de cetilpiridínio e EDTA a 17%, recentemente introduzido no comércio (LEONARDO, 2005). Dunavant et al. (2006) compararam a eficácia dos irrigantes de canal radicular hipoclorito de sódio 6%, hipoclorito de sódio 1%, Smear Clear, clorexedina 2%, R E D T A e BioPure MTAD (associação de doxiciclina, ácido cítrico e detergente TWEEN 80), contra biofilme de Enterococcus faecalis, imergidos nas substâncias testadas pelo período de um ou cinco minutos, usando um novo sistema de teste. As análises estatísticas revelaram uma significante relação entre agente teste e porcentagem de morte no biofilme de bactérias. Não houve relação entre tempo e porcentagem de mortes encontradas. A porcentagem de mortes no biofilme de bactérias foi: > 99,99% para hipoclorito de sódio 6%; 99,78% para hipoclorito de sódio 1%; 78,06% para Smear Clear, 60,49% para clorexedina 2%; 26,99% para REDTA e 16,08% para BioPure MTAD. Análises posteriores mostraram uma significante diferença entre hipoclorito de sódio 1% e 6% , e todos os outros agentes incluindo Smear Clear, clorexedina 2%, REDTA e BioPure MTAD. Os autores concluíram, dentro dos parâmetros deste estudo, que o hipoclorito de sódio 1% e o hipoclorito de sódio 6% foram mais eficientes eliminando o biofilme de E. faecalis do que as outras soluções testadas. 31 2.3 ALTERNATIVAS DESMINERALIZANTES AO USO DO EDTA Alternativas ao uso do EDTA também têm sido apresentadas ao clínico. Outras soluções quelantes, como o ácido cítrico e a utilização do laser na remoção da smear layer têm sido pesquisadas. 2.3.1 Ácido cítrico versus EDTA O ácido cítrico foi proposto por Loel em 1975, numa concentração de 50%, como uma substância alternativa ao EDTA. Ele demonstrou, através da MEV, a ação quelante dessa solução e sua efetividade na limpeza das paredes do canal radicular. O autor recomendou seu uso aplicado por um ou dois minutos, após o canal radicular ter sido instrumentado com hipoclorito de sódio como irrigante (1975, apud BARROSO, HABITANTE e SILVA, 2002). Desde o seu surgimento, estudos têm sido realizados, objetivando avaliar as propriedades do ácido cítrico, em comparação às mesmas propriedades do EDTA. Barroso, Habitante e Silva (2002) compararam o aumento da permeabilidade dentinária proporcionado pelas ações do EDTA a 17% e do ácido cítrico a 10% após a instrumentação/irrigação endodôntica ter sido feita com hipoclorito de sódio a 4%. Os resultados mostraram que o EDTA a 17% teve ação superior à do ácido cítrico a 10% em pH 1,8 no aumento da permeabilidade dentinária. Scelza, Teixeira e Scelza (2003) estudaram a eficácia do EDTA- T (EDTA 17% mais lauril éter sulfato de sódio 1,25%), ácido cítrico 10% e EDTA 17% com respeito à extração de íons cálcio da dentina do canal radicular, utilizados como irrigação final nos tempos 3, 10 e 15 minutos. Os autores observaram que aos três minutos houve uma diferença estatisticamente significante entre EDTA- T e ácido cítrico 10%, este último apresentando maior eficiência, e entre EDTA-T e EDTA 17%, este último apresentando também mais eficiência. Nos tempos de 10 minutos e 15 minutos, não houve diferenças significantes entre ácido cítrico 10% e EDTA 17% nem entre EDTA-T e EDTA 17%, entretanto, o ácido cítrico 10% foi significativamente melhor que EDTA-T em termos de extração de cálcio, concluindo desta forma, que tanto o ácido cítrico 10% e EDTA 17% são bons agentes descalcificantes. Souza et al. (2003) realizaram um estudo comparativo sobre a eficácia na capacidade desmineralizadora de alguns produtos comerciais à base de EDTA, 32 comparando-os ao ácido cítrico 25%. Foram testados os produtos à base de EDTA das marcas comerciais: Inodon, Odahcam/ Herpo, Iodontec e Biodinâmica, e mensurados os halos de descalcificação nas paredes interna e externa de dentina em três cortes histológicos selecionados de cada espécime, com o auxílio de ocular micrometrada. Das soluções descalcificadoras estudadas, o ácido cítrico a 25% foi a que proporcionou o maior halo de desmineralização, seguido por EDTA (Inodon), EDTA (Odahcam/ Herpo), EDTA (Iodontec) e EDTA (Biodinâmica). Balbinot, Deliyannis e Barbizam (2004) compararam a permeabilidade dentinária promovida pelas soluções irrigadoras EDTA a 17%, ácido cítrico a 50% e detergente aniônico, sendo que os agentes permaneceram no interior dos canais radiculares por cinco minutos. Os resultados mostraram que o uso do ácido cítrico a 50% proporcionou maior permeabilidade dentinária com diferença em relação ao EDTA a 17%, que mostrou resultados semelhantes ao detergente aniônico. Eldeniz, Erdemir e Belli (2005) avaliaram a efetividade das soluções de ácido cítrico 19% e EDTA 17% na microdureza e rugosidade da dentina radicular de dentes humanos, usando estas soluções alternadamente com solução de hipoclorito de sódio 5,25%. Os espécimes foram tratados com as substâncias testes por dois minutos e meio. Os resultados indicaram que a irrigação dos canais radiculares com ambos EDTA/NaOCl ou ácido cítrico/NaOCl reduziram a microdureza e aumentaram a rugosidade, mas o ácido cítrico apresentou um aumento da rugosidade na dentina e valores menores de sua microdureza quando comparado com EDTA. Já Rizzardo et al. (2005), avaliaram comparativamente a ação do aumento da permeabilidade dentinária do EDTA 17% e do ácido cítrico 10% após o preparo químico- mecânico ter sido realizado com irrigação de clorexidina gel a 2% e observaram uma maior permeabilidade dentinária, para o grupo em que foi utilizado EDTA 17 % como solução irrigadora final, apontando esta solução como melhor opção de agente quelante. O mesmo foi observado por De Deus, Paciornik e Maurício (2006), que avaliando os efeitos das soluções de ácido cítrico 10%, EDTA 17% e EDTAC 17% na microdureza dentinária dos canais de raízes humanas, após um tempo de aplicação de um, três e cinco minutos, apontando o ácido cítrico como a substância menos efetiva na redução da dureza dentinária enquanto EDTA teve um forte efeito. González- López et al. (2006) pesquisaram a capacidade de desmineralização das soluções de ácido cítrico 10% e 20% e EDTA 17% após três períodos de tempo 33 procurando determinar se esta foi modificada pela adição de clorexidina 1%. Foram utilizados dez dentes bovinos, instrumentados e irrigados com hipoclorito de sódio 1% para remoção dos restos pulpares. Três fatias de 2 mm de espessura foram cortadas do terço cervical e seccionadas em duas partes iguais, obtendo seis espécimes por dente, que foram divididos em seis grupos (n=10) para imersão em 25 mL das soluções ou 25 mL da solução mais clorexidina 1%. Grupo I= ácido cítrico 10%, Grupo II= ácido cítrico 10% mais clorexidina 1%, Grupo III= ácido cítrico 20%, Grupo III= ácido cítrico 20% mais clorexidina 1%, Grupo IV= EDTA 17%, Grupo VI= EDTA 17% mais clorexidina 1%. Este último grupo foi descartado, porque a adição de clorexidina ao EDTA imediatamente formou um precipitado cor-de-rosa altamente insolúvel. Em 3, 10 e 15 minutos de imersão, a concentração de [Ca²+] foi mensurada pela absorção atômica espectrofométrica. Foi observado que o efeito de desmineralização de todas as soluções foi tempo-dependente, sem diferenças entre eles, e que a adição de clorexidina 1% não modificou a capacidade de desmineralização destas soluções. Nos primeiros três minutos, significantemente mais [Ca²+] foi obtido quando EDTA 17% foi usado em comparação com as outras soluções. A adição de clorexidina 1% não afetou a capacidade de descalcificação do ácido cítrico nestas concentrações, já a solução de clorexidina 1% em uso conjunto ao EDTA 17% provou ser impossível. 2.3.2 Laser versus EDTA O LASER, cuja sigla significa Light Amplification by Stimulated of Radiation (em português, ampliação da luz por emissão estimulada de radiação) vem sendo empregado na Odontologia com muitos objetivos e de várias maneiras. Na Endodontia se destaca o Er: YAG, um laser de alta potência que vem sendo aplicado na remoção da smear layer, por meio de um processo de ablação, deixando os túbulos dentinários expostos com mínimo efeito térmico sobre a estrutura dental. O laser de Er: YAG possui como meio ativo sólido o cristal de terra rara érbio, inserido em uma matriz hospedeira de Ytrio, Alumínio e Granada (YAG), para bombardeamento de fótons, os quais se propagam na direção do eixo entre espelhos, embutidos em um ressonador do aparelho. Estes fótons são amplificados nas sucessivas passagens, antes de deixarem a cavidade através de um espelho semitransparente, proporcionando a emissão do feixe laser (LOPES, SIQUEIRA JR. e ELIAS, 2004). O uso do laser Er:YAG no tratamento 34 endodôntico vem sendo investigado in vitro, com o objetivo de se elucidar sua eficácia e utilidade. Vale e Garcia (2001) estudaram através das microscopias óptica e MEV a adaptação dos cimentos Ketac-Endo, AH Plus e Endométhasone à dentina radicular submetida à ação prévia do laser de Er: YAG intracanal com energia real de 44mJ, 10pps, durante dez segundos, seguido de irrigação com 20 mL de solução salina fisiológica a 0,9%.; EDTA a 17% e solução salina fisiológica a 0,9%. Os autores observaram que o laser Er:YAG interferiu na adaptação de todos os cimentos, o EDTA melhorou a adaptação do Endométhasone e do AH Plus e a solução salina fisiológica a 0,9% melhorou a adaptação do Ketac-Endo, em ambas microscopias empregadas. O Endométhasone apresentou a pior adaptação entre os cimentos, porém, houve um grande decréscimo do potencial médio de fendas aplicando previamente o EDTA. A MEV propiciou melhor visualização das fendas. Concluíram assim, que o laser Er:YAG também atua na camada residual, porém remove tecido dentinário de forma irregular, dificultando a adaptação de todos os cimentos testados. O EDTA continua sendo um excelente agente removedor da camada residual, promovendo limpeza e aumento de diâmetro dos túbulos dentinários. Barbizam et al. (2005) pesquisaram o efeito das soluções irrigadoras e do laser Er:YAG no selamento apical de dentes tratados endodonticamente. Os autores avaliaram, in vitro, a infiltração marginal apical em canais radiculares obturados com dois tipos de cimentos endodônticos: Endo Fill (à base de óxido de zinco e eugenol) e cimento Top Seal (à base de resina epóxica); e após três diferentes formas de tratamento das paredes dentinárias durante a instrumentação: irrigação final com 10 mL de água destilada deionizada, irrigação final com EDTA a 17% por cinco minutos, aplicação do Laser Er:YAG com uma ponta de fibra óptica 30/28 de 0,285 mm de diâmetro acoplada à peça de mão. Nenhuma das formas de tratamento das paredes dos canais radiculares ou dos cimentos obturadores testados foi capaz de impedir completamente a infiltração apical. Os dentes que tiveram irrigação final com EDTA 17% apresentaram os menores valores de infiltração apical quando comparados aos grupos de dentes irrigados com hipoclorito de sódio a 1% ou irradiados com laser Er:YAG. Quanto aos cimentos, o TopSeal apresentou menor infiltração apical do que o Endo Fill. 35 2.4 BIOCOMPATIBILIDADE DAS SOLUÇÕES Alguns estudos mostram que soluções de ácido cítrico podem se mostrar mais eficientes que o EDTA na remoção de magma dentinário. Contudo, concentrações muito altas, em ambas as substâncias, podem trazer benefícios para a desmineralização, mas em contrapartida, podem ser prejudiciais aos tecidos periapicais. Chan et al. (1999) afirmaram que o ácido cítrico exerce efeitos potencialmente nocivos na polpa quando usado para desmineralização da superfície do canal e remoção da smear layer, sendo sua citotoxicidade associada com sua acidez. Koulaouzidou et al. (1999) avaliaram comparativamente a citotoxicidade de concentrações altas e baixas de EDTA e da solução de hipoclorito de sódio, aplicadas em células fibroblásticas da pele de ratos, por tempos de 1, 3, 6, 12 e 24 horas. Foram testadas as soluções neutras de EDTA de concentração 15%, 1% e 0,1%; soluções alcalinas de EDTA de 17%, 1% e 0,1%; e hipoclorito de sódio de concentrações 2,25%, 1% e 0,1%. Todos os agentes testados mostraram citotoxicidade severa para moderada de maneira concentração-dependente. As concentrações de EDTA 17% e 15%, e hipoclorito de sódio 2,25% foram severamente citotóxicas, enquanto em concentrações 0,1% os agentes foram moderadamente citotóxicos. Fidel et al. (2001) avaliaram o efeito citotóxico de três diferentes formulações de EDTA (EDTA Trissódico - Biodinâmica; EDTA Trissódico Gel 24% - Biodinâmica e Glyde File Prep – Dentsply/Maillefer), sobre culturas de fibroblastos (células Veromonkey, African green), através de uma técnica quantitativa durante cinco períodos de observação (1, 3, 6, 12 e 24 horas). Para cada agente e cada período de incubação, três amostras com os respectivos grupos controles foram preparados e ao término de cada período de incubação, foi realizada a avaliação da viabilidade celular, utilizando-se a coloração de azul tripano. Foi encontrada diferença estatística significante entre o EDTA Gel a 24% e o Glyde File Prep após 1, 3, 6 e 12 horas. Entre o EDTA Trissódico e o Glyde File Prep a diferença significante só foi observada após a terceira hora. Todos os agentes testados mostraram uma citotoxicidade variando de moderada à severa, quando comparada ao grupo controle, na seguinte ordem crescente: EDTA Trissódico Biodinâmica; EDTA Trissódico Gel 24% - Biodinâmica e Glyde File Prep – Dentsply/Maillefer . Scelza et al. (2001) analisaram a citotoxicidade do ácido cítrico 10% e EDTA-T em cultura fibroblástica, diluídos para 0,1% e 1,0%; sendo as células contadas após 36 período de 0, 6, 12 e 24 horas (curto prazo) e um, três, cinco e sete dias (longo prazo). Os resultados indicaram que o ácido cítrico é mais biocompatível que o EDTA-T. Nos testes em curto prazo, a variabilidade celular alcançada foi de 85% a 99% para todos os grupos experimentais, sem diferenças estatísticas quando comparadas com as culturas de controle, exceto no grupo tratado com EDTA-T 1%, que causou uma progressiva diminuição na variabilidade celular. Em testes em longo prazo, todas as culturas cresceram em número desde o primeiro dia até o final do período experimental, não demonstrando inibição da proliferação celular, exceto nas culturas tratadas com EDTAT 1%, que causou total inibição do crescimento celular. Todas as diluições de ácido cítrico 10% foram mais biocompatíveis que as de EDTA-T, e as culturas tratadas com ácido cítrico tiveram uma alta porcentagem de células viáveis analisadas em um curto prazo, e as células conservaram sua capacidade de auto-regeneração. Silva et al. (2002b) avaliaram a compatibilidade biológica das soluções de EDTA 17%, EDTA-T e ácido cítrico 10% quando implantadas em mandíbulas de ratos Wistar (Rattus norvergicus albinus), nos períodos de 1, 7, 14 e 28 dias. A inserção de cada substância foi possibilitada por um material carreador (Fibrinol®) colocado em perfurações bicorticais realizadas em ambos os lados da mandíbula dos animais, onde um dos lados apresentava apenas o Fibrinol® sem a substância teste (controle). Cada quelante foi testado em três ratos nos quatro diferentes tempos. Os resultados demonstraram que o material carreador teve presença constante nas lojas cirúrgicas em todos os tempos do estudo tanto nas amostras de substâncias teste quanto nos controles. Após 24 horas, as amostras com as substâncias teste e os controles apresentaram reação inflamatória aguda com a presença de polimorfonucleares de distribuição difusa. Nos períodos de tempo de 7, 14 e 28 dias, foi observada a presença do Fibrinol® associado à reação inflamatória de corpo estranho em todas as amostras. Os autores observaram também áreas de reparação caracterizadas pela proliferação de células mesenquimais e osteogênese, as quais intensificavam-se com o passar do tempo reduzindo-se a resposta inflamatória, concluindo assim que o EDTA 17%, o EDTA-T e o ácido cítrico 10% não apresentaram diferenças na evolução reparativa quando comparados entre si. Por sua vez, Balbinot, Deliyannis e Barbizam (2004) citam em seu estudo que alguns trabalhos mostram o ácido cítrico como sendo mais biocompatível que o EDTA. Para Sousa, Bramante e Taga (2005) todas as soluções devem ser usadas de maneira segura respeitando os tecidos periapicais. Injúrias químicas ocorrem quando tecido vital é exposto a soluções que não são compatíveis com o metabolismo celular. 37 Na escolha de uma adequada solução irrigante deve ser considerada sua biocompatibilidade com respeito aos aspectos biológicos. Os autores avaliaram, em seu estudo, o potencial irritativo do EDTA 15%, EGTA 15%, ácido cítrico 15% e soro fisiológico durante a fase exsudativa do processo inflamatório; por quatro diferentes períodos de tempo (30 minutos, uma, três e seis horas) usando um método de análise físico-químico para quantificação do aumento da permeabilidade vascular. O EDTA apresentou os maiores valores de corante extravasado para todos os tempos estudados, seguido pelo EGTA e ácido cítrico, em comparação com o grupo controle e todas as soluções produziram um contínuo potencial irritante mesmo depois de seis horas. Os resultados demonstraram que o ácido cítrico apresentou o menor potencial irritativo, podendo ser usado como uma solução irrigante alternativa ao EDTA na terapia endodôntica. 2.5 ATIVIDADE ANTIMICROBIANA Siqueira Jr. et al. (1998) afirmaram que o EDTA possui atividade antibacteriana contra bacilos anaeróbios estritos produtores de pigmentos negros. Em seu estudo, os autores testaram o efeito antibacteriano das soluções irrigadoras hipoclorito de sódio nas concentrações de 0,5%; 2,5% e 4%; digluconato de clorexidina nas concentrações de 0,2% e 2,0%; ácido cítrico a 10% e EDTA a 17%; frente aos bacilos anaeróbios gramnegativos produtores de pigmentos negros: Porphyromonas endodontalis, Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermedia e Prevotella nigresce; e frente às bactérias facultativas: Enterococcus faecalis, Streptococcus mutans, Streptococcus sanguis e Streptococcus sobrinus; por difusão em meio de cultura agar. Todas as soluções utilizadas mostraram-se inibitórias contra todas as bactérias. Baseado na média dos diâmetros das zonas de inibição de crescimento bacteriano, o efeito antibacteriano das soluções pode ser classificado de forte para fraco como segue: hipoclorito de sódio a 4%, hipoclorito de sódio a 2,5%, clorexidina a 2%, clorexidina a 0,2%, EDTA 17%, ácido cítrico 10% e hipoclorito de sódio a 0,5%. A solução de hipoclorito de sódio a 4% promoveu uma grande zona média de inibição bacteriana neste estudo, que foi significativamente superior quando comparada com as outras soluções, exceto hipoclorito de sódio a 2,5%. O EDTA 17% mostrou um efeito antibacteriano que, segundo os autores, pode ser considerado razoável para uso clínico. Estes afirmam ainda que pelo fato da função primária deste irrigante endodôntico ser a remoção da smear 38 layer, a propriedade antibacteriana pode ser considerada uma vantagem adicional, sendo particularmente importante durante a remoção de smear layer contaminada. Silva et al. (2002a) estudaram a atividade antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio nas concentrações de 1,0 e 2,5%, hipoclorito de sódio a 0,5% e a 1,0% associados ao creme de Endo-PTC, clorexidina a 0,12% e a 2,0% e EDTA-T a 17%, frente a bactérias anaeróbias e facultativas, bem como Streptococcus mutans, Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis, Escherichia coli e leveduras, como Candida albicans, que são de ocorrência comum nas infecções do canal radicular. Tubos de ensaio contendo 0,5 mL das substâncias químicas testadas e 0,5 mL de suspensão microbiana, padronizada pelo tubo dois da escala de McFarland, foram colocados em contato e em 10, 20 e 30 minutos retirou-se uma amostra que foi inoculada em 4 mL do caldo BHI e incubada a 37ºC por 24 horas. Após a incubação, realizou-se sub-cultivos para avaliar a ação microbicida das soluções. Os autores observaram que o hipoclorito de sódio a 2,5%, a 1,0% associado ou não ao creme de Endo-PTC, e a clorexidina a 0,12% e 2,0% mostraram-se microbicida para todas as amostras microbianas testadas. Já o hipoclorito de sódio a 0,5% associado ao creme de Endo-PTC não atuou sobre Staphylococcus aureus e o EDTA-T a 17% não foi efetivo contra nenhum microrganismo testado em nenhum dos tempos experimentais. Ruff, Mcclanahan e Babel (2006) compararam, in vitro, a eficácia antifúngica do hipoclorito de sódio 6%, gluconato de clorexidina 2%, EDTA 17% e Bio Pure MTAD, como irrigação final, frente à Candida albicans. Foram utilizados 48 dentes com canal único que após o preparo químico- mecânico foram divididos aleatoriamente em quatro grupos, cada um com um dente para controle positivo e um para controle negativo e inoculados com uma suspensão de 0,3 mL de Candida albicans (ATCC 60193) injetada dentro dos canais radiculares. Os dentes do controle negativo foram injetados e submergidos em solução salina esterilizada. As amostras foram incubadas por 72 horas. Os dentes foram irrigados, respectivamente, com 1 mL de hipoclorito de sódio 6%, por um minuto; 0,2 mL de gluconato de clorexidina 2% por um minuto; 5 mL de Bio Pure MTAD por cinco minutos; e 1 mL de EDTA 17% por um minuto. Os dentes do grupo controle positivo foram irrigados com 1 mL de solução salina esterelizada por um minuto e os dentes do grupo controle negativo, após esterelizados, foram irrigados com solução salina esterelizada. As amostras dos espécimes foram colocadas em placas com dextrose agar Sabouraud 4% e incubadas a 36°C e 91% de umidade por 24 horas. As unidades de colônias em formação foram contadas com um mensurador de atividade 39 antifúngica. Os resultados mostraram que o hipoclorito de sódio 6% e o gluconato de clorexidina 2% foram igualmente efetivos, sendo superiores ao EDTA 17% e ao Bio Pure MTAD, na atividade antifúngica; entretanto o Bio Pure MTAD mostrou-se superior ao EDTA 17%, que apresentou o pior desempenho. 40 3 CONCLUSÃO Segundo o exposto nessa revisão de literatura, pode-se concluir que: - O EDTA é a substância quelante de escolha no preparo biomecânico dos canais radiculares. - O EDTA apresenta melhores resultados clínicos quando utilizado com o hipoclorito de sódio. - O emprego do EDTA em meio aquoso é preferível, sendo recomendadas as soluções de pH neutro. Os sais de EDTA di, tri e tetrassódico, nas concentrações de 15 e 17%, mostram-se eficientes na remoção da smear layer. Não há por parte dos autores, um consenso sobre o tempo de aplicação. - O EDTA não apresenta capacidade antimicrobiana importante. Apresenta citotoxicidade e potencial irritativo aos tecidos, não interferindo, porém, na reparação tecidual. 41 REFERÊNCIAS ARAUJO, C. R.; et al. Avaliação in vitro do desempenho dos EDTAs gel e líquido póspreparo do sistema de canais radiculares. Jornal Brasileiro de Endodontia, Curitiba, v. 4, n. 13, p. 160-164, Abr./ Jun. 2003. BALBINOT, E. C. A.; DELIYANNIS, A.; BARBIZAM, J. V. B. Análise in vitro da permeabilidade dentinária promovida por diferentes soluções químicas auxiliares na irrigação final do canal radicular. Revista da Faculdade de Odontologia, Passo Fundo, v. 9, n. 1, Jan./Jun. 2004. BARBIZAM, J. V. B.; et al. Efeito das soluções irrigadoras e do laser Er: Yag no selamento apical de dentes tratados endodonticamente. Revista da Faculdade de Odontologia, Passo Fundo, v. 10, n. 1, Jul./Dez. 2005. BARROSO, L. S.; HABITANTE, S. M.; SILVA, F. S. P. 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