TECRED (Profa. Daniela Bunn) - A música e a língua portuguesa: intertextos, censura e jogos de linguagem Monte Castelo (Legião Urbana) Cálice (Chico Buarque de Holanda) Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue É só o amor! É só o amor Que conhece o que é verdade O amor é bom, não quer o mal Não sente inveja ou se envaidece Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta O amor é o fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria É um não querer mais que bem querer É solitário andar por entre a gente É um não contentar-se de contente É cuidar que se ganha em se perder É um estar-se preso por vontade É servir a quem vence, o vencedor É um ter com quem nos mata a lealdade Tão contrário a si é o mesmo amor Estou acordado e todos dormem Todos dormem, todos dormem Agora vejo em parte Mas então veremos face a face É só o amor! É só o amor Que conhece o que é verdade Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria Intertextos: - I Coríntios, 13 - Batalha de Monte Castelo - Poema de Luís de Camões Pai, afasta de mim esse cálice (3x) De vinho tinto de sangue Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa Pai, afasta de mim esse cálice (3x) De vinho tinto de sangue De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade Pai, afasta de mim esse cálice (3x) De vinho tinto de sangue Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça Contexto: Crítica à Ditadura Militar Couro de Boi (Tião Carreiro e Pardinho) Conheço um velho ditado, que é do tempo do zagaia. Diz que um Pai trata 10 filhos e 10 filhos não trata um Pai. Sentindo o peso dos anos, sem pode mais trabalhar O velho peão estradeiro com seu filho foi morar. O rapaz era casado e a mulher deu de implicar. "- Ou você manda o velho embora, senão quiser que eu vá!" o rapaz coração duro com o velhinho foi falar: "Para o senhor se mudar, meu Pai eu vim lhe pedir. Hoje aqui da minha casa, o senhor tem que sair. Leve este couro de boi, que eu acabei de curtir, Pra lhe servir de coberta, adonde o senhor dormir." O pobre velho calado, pegou o couro e saiu. Seu neto de oito anos, que aquela cena assistiu Correu atras do avô, seu paletó sacudiu Metade daquele couro, chorando ele pediu. O velhinho comovido, pra não ver o neto chorando, Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando. O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando: "- Pra que você quer este couro, que seu avô ia levando?" Disse o menino ao pai, um dia vou me casar O senhor vai ficar velho, e comigo vem morar, Pode ser que aconteça, de nóis não se combinar. Esta metade do couro, vou dá pro senhor levar. Variação Linguística, provérbios e valores morais