2ª série ensino médio Língua Portuguesa Língua Portuguesa/ 2a Série ADMISSÃO2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS COLÉGIO DE APLICAÇÃO CONCURSO DE ADMISSÃO À SEGUNDA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO - 2009 PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA INSTRUÇÕES: 1. Confira o número de textos (4), de questões (10) e de páginas (12) de sua prova. 2. Registre nas folhas de resposta seu número de inscrição no local solicitado, não escrevendo seu nome na prova, de modo algum. 3. Faça letra legível: o que não for entendido não será considerado. 4. Use caneta azul ou preta. 5. Não é permitido o uso de fita ou líquido corretivo. 6. Responda às questões sempre com suas próprias palavras, a menos que seja solicitada alguma transcrição do texto. 7. Não exceda o limite de linhas traçadas para cada questão. 8. Procure reler a prova antes de entregá-la. ADMISSÃO2009 Língua Portuguesa/ 2a Série TEXTO 1 Paixão revelada Carla Aranha A ciência descobriu a paixão. Nunca se pesquisou tanto sobre esse sentimento arrebatador. Saiba o que os estudos já descobriram. E o que eles revelam sobre a mente humana. 5 10 15 20 25 30 35 2 Se existe algo que não combina com ciência, matemática e laboratórios, essa coisa é a paixão. Pois não é que esse sentimento imprevisível e espontâneo é hoje um dos principais objetos de estudo científico? É verdade. Os apaixonados estão na mira de psicólogos, antropólogos, sociólogos e historiadores. E as expectativas das pesquisas são grandes. Espera-se que os suspiros dos amantes desvendem, entre outras coisas, a evolução humana, mudanças sociais e até o funcionamento do cérebro. Achou pouco? Pois tem mais. A antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, diz que o modo como a paixão é vista nas diferentes sociedades é a chave para se entenderem mecanismos como liberdade, poder e submissão feminina. Para outro renomado estudioso do tema, o sociólogo italiano Francesco Alberoni, a paixão entre duas pessoas é feita do mesmo combustível que move as grandes revoluções. Entendê-la seria um passo importante na compreensão dos movimentos de massa. E o psiquiatra James Leckman, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, acha que a maneira como as pessoas lidam com a paixão é um indicador de saúde mental. O interesse científico pelo tema começou nos anos 60. A paixão passou a ser mais valorizada e respeitada pela academia. “Antes da Segunda Guerra, a paixão era vista como um sentimento de segundo escalão, mais para ser vivida por adolescentes do que por adultos. A ciência não prestava muita atenção nela”, diz Helen Fisher. O primeiro estudo sério surgiu há apenas 40 anos. A psicóloga americana Dorothy Tennov examinou 400 apaixonados e concluiu que eles funcionavam todos do mesmo jeito, porque a paixão provoca os mesmos sintomas em todos. Bem, para quem nunca sentiu isso, seguem as descobertas da pesquisa: na presença do objeto da paixão, os apaixonados sentem o coração bater mais rápido e um frio na barriga. Eles passam noites sem dormir e perdem o apetite. “Nesse ponto, a paixão é bem diferente do amor, que é um sentimento muito mais voltado para a estabilidade, sem grandes sobressaltos, que as pessoas não vivem de forma igual”, diz Helen. Uma pesquisa recente da psiquiatra italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Pisa, mostrou que diversas substâncias cerebrais são liberadas quando estamos apaixonados, o que ajuda a explicar, do ponto de vista químico, as noites mal dormidas e a perda de apetite. É tudo culpa de estimulantes naturais como a dopamina e a norepinefrina, produzidas em quantidades maiores que o usual por quem se apaixona. Essas substâncias são as mesmas utilizadas em moderadores de apetite. Segundo Donatella, o estudo da paixão é importante para o entendimento do mecanismo que aciona determinados circuitos cerebrais a partir de uma forte emoção. “É mais fácil examinar o cérebro dos apaixonados porque a paixão é um sentimento poderoso, que mexe com a química do organismo mais do que todos os demais”, explica. O estudo, realizado há dois anos, é resultado de uma nova tecnologia. Até então, não havia como examinar as substâncias cerebrais em detalhe. ADMISSÃO2009 40 45 50 55 60 65 70 75 80 Língua Portuguesa/ 2a Série É por causa dessa revolução química no cérebro, aliás, que nenhuma paixão dura muito. Apesar de ser um sentimento delicioso, uma paixão que durasse dez anos acabaria com a vida de um sujeito. “Isso seria biologicamente impossível. Nenhum ser humano agüentaria ficar anos a fio sem comer ou dormir direito”, diz o psiquiatra James Leckman. Em média, o prazo de validade da paixão é de dois a três anos. “Mas isso não é uma regra, já que a paixão por definição é imprevisível”, diz Leckman. Segundo Helen, o ser humano tem vivido esse sentimento cada vez mais. Para ela, isso é sinal de evolução do comportamento humano. Segundo a antropóloga, uma pesquisa recente da Organização das Nações Unidas mostrou que, em dois terços dos países, as pessoas declararam ter estabelecido um relacionamento com base na paixão, tanto no Ocidente como no Oriente. Há 50 ou 60 anos, diz ela, o número não chegaria a 50%. Ela atribui a mudança a dois fenômenos. O primeiro é a crescente independência econômica da mulher, que com isso pode escolher livremente seus parceiros. O segundo é que, em muitos países, caíram as proibições de casamentos entre pessoas de classes, raças ou religiões diferentes. Significa que o fim do apartheid na África do Sul, em 1994, e a ascensão da classe média na Europa, depois da Segunda Guerra, fizeram da Terra um lugar mais apaixonado. “Não existe paixão sem liberdade de escolha”, diz ela. Mas isso não basta. Para apaixonar-se é preciso estar com o coração predisposto, segundo o psicoterapeuta e psicólogo Eduardo Ferreira-Santos, do Serviço de Psicoterapia do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Ao contrário do que diz o senso comum, não nos apaixonamos por acaso. É preciso estar pronto para essa experiência”, diz ele. Pessoas com medo de darem esse mergulho no escuro inconscientemente criam barreiras para não se apaixonarem. “Isso não é saudável, já que se deixa de viver a vida”, afirma o psicoterapeuta. Mas existem pessoas que, mesmo que quisessem, nunca se apaixonariam. É o caso dos autistas, que desconhecem os sentimentos de ligação com outro ser, de acordo com Leckman. Para o psiquiatra, quem é dependente de drogas também perde a capacidade de experimentar a paixão: “Algumas substâncias químicas acabam impossibilitando qualquer troca, o que mata a paixão.” No outro extremo, o excesso de ligação pode se tornar doentio, como no caso de pessoas que deixam de cuidar da própria vida para viver em função do outro. “Isso é uma doença, uma desordem que na psiquiatria chamamos de obsessiva-compulsiva e precisa ser tratada”, diz Leckman. Também há um limite saudável para o desejo de ser correspondido na paixão. Quando é evidente que não existe um interesse do outro e mesmo assim o apaixonado continua a acreditar que é correspondido, isso também é sinal de doença. “Patologias assim podem levar até a assassinatos e suicídios”, diz o psiquiatra. O adulto que curte uma paixão por alguém inacessível, como um artista famoso, também está na contramão da boa saúde mental, segundo o psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos. Na primeira fase da adolescência, até 14 anos, é normal um garoto se apaixonar pela Fernanda Lima e ficar horas olhando o pôster dela (e fazendo outras coisas, também. Mas é melhor não entrar em detalhes). Mas um adulto que continua idolatrando uma pessoa inacessível sofre de algum distúrbio. “Geralmente, isso é sinal de que a pessoa não consegue viver um amor de verdade com uma pessoa de carne e osso, por conflitos mal resolvidos com o pai ou a mãe”, explica o psicoterapeuta. Casos de 3 ADMISSÃO2009 85 90 95 100 105 110 115 120 Língua Portuguesa/ 2a Série fanatismo e adoração religiosa também entram nessa categoria. “É sempre paixão sublimada, que, em vez de ser direcionada para um ser humano com o qual é possível ter um relacionamento, acaba desviada para um objeto inalcançável.”Já apaixonar-se pelo vizinho, pelo colega de trabalho ou o amigo do curso de inglês é sinal de um bom desenvolvimento psicológico, segundo Eduardo Ferreira-Santos. Mas por que nos apaixonamos por uma pessoa e não por outra? A ciência ainda não tem resposta para essa pergunta. Mas há pesquisa a respeito. O que já se sabe é que isso não tem nada a ver com os melhores genes para a evolução da espécie. A paixão não tem raízes biológicas, segundo o biólogo evolucionista James Weinrich, da Universidade da Califórnia. Afinal, esse sentimento nunca foi nem será necessário para a procriação. Portanto, a sobrevivência da espécie não depende dela. “Como os animais, que fazem sexo por um impulso biológico, o ser humano também pode ter relações sexuais sem estar apaixonado”, diz o biólogo. A escolha do objeto da paixão, portanto, tem explicações mais centradas no coração e na alma do que na ciência. Geralmente, nos apaixonamos pelas pessoas que correspondem a um conjunto de expectativas que formamos ao longo da vida, muitas vezes com base em experiências vividas na infância. “Somos influenciados por experiências amorosas que tivemos na infância, seja com os adultos que participavam da nossa vida ou com outras crianças, pelas relações amorosas da vida adulta e até por filmes, músicas e livros”, afirma Leckman. Esse tema, aliás, é o objeto de estudo de sua pesquisa atual: o quanto os namoros infantis podem influenciar as escolhas do adulto. “É um estudo inédito, partindo do princípio que as crianças também vivem amor e paixão, em algum grau”, diz o psiquiatra. Mas ele lembra que será impossível explicar cientificamente por que nos apaixonamos por uma determinada pessoa. “Os motivos são inconscientes, inacessíveis.” Em Fragmentos de um Discurso Amoroso, o filósofo Roland Barthes faz um longo e poético estudo sobre a paixão e o amor. Escrita em 1977, a obra expõe tautologias aparentemente insuperáveis, como “Adoro você porque você é adorável”. Mas essa inspiração é milenar. O ser humano vem cantando sua adoração pela cara-metade há pelo menos 3 mil anos, data dos primeiros registros de poemas românticos. (...) A Idade Média, ao contrário, foi uma época de paixões veladas, proibidas. Apaixonar-se era considerado quase um pecado, uma leviandade que tirava o cristão dos trilhos da moral religiosa, que proibia o sexo antes do casamento. A sociedade também não via com bons olhos relacionamentos entre pessoas de classes sociais diferentes, postura que perdurou até pouco tempo atrás. “Claro que as pessoas se apaixonavam, porque isso faz parte da essência humana e não pode ser bloqueado por uma convenção social, mas a paixão não era a base dos relacionamentos”, afirma a antropóloga. Para James Leckman, por mais que a paixão seja estudada, o sentimento ainda vai permanecer em grande parte um mistério. “Tomara que assim seja, porque não existe nada mais mágico do que a paixão”, diz ele. Revista Superintessante – nº 185 – seção “Comportamento” (adaptação) http://super.abril.com.br/superarquivo/2003/conteudo_273821.shtml 4 ADMISSÃO2009 Língua Portuguesa/ 2a Série TEXTO 2 Eu falo de homens e seus sonhos (fragmento de capítulo) Lya Luft “Eu sempre te disse que era grande o oceano para a nossa pequena barca.” CECÍLIA MEIRELES 5 10 15 20 25 30 O amor não é aventura e risco necessariamente porque as pessoas são superficiais e não levam nada a sério, mas porque há também cartas marcadas. Nem tudo depende da vontade dos que embarcam: na bagagem misturam-se amor e otimismo, traumas, 1 carências e naturais limitações. O limite entre tolerância e covardia, abnegação e falta de auto-estima, viver e abdicar, nem sempre se divisa facilmente. Muitas relações são um lento caminho para o desencanto: amaram-se, mas viram a alegria escapar-lhes entre os dedos como água que não conseguiam armazenar. — Não há amor que resista a mais de dez anos de convívio — comentava um amigo paternal a quem eu respeitava muito, só que dessa vez não concordei. Mas na maioria das relações em algum momento começa a baixar uma poeira que irrita e abafa, abre feridas e corta caminhos. Na impaciência dos nossos dias separações tornaram-se comuns, casamentos duram um ano ou três. Temos em geral pouco tempo interior para amadurecermos decisões, para avaliarmos o risco de se perderem tesouros acumulados, projetos iniciados, valores comuns. Por outro lado, em separações em que deixou de haver marido e mulher, mas continuam os pais daqueles filhos, pode acontecer uma multiplicação de afetos. A família tradicional rompe-se ou se transforma: começa o que se poderia chamar a família humana, em que se exercem mais generosidade e tolerância e se aceitam melhor as diferenças e dificuldades do outro. Escrevo, pois, sobre o doloroso fim do amor. Tínhamos nos encontrado pouco naquele ano. Cada vez eu a via mais triste, um vazio maior no olhar, um modo mais vagaroso de virar a cabeça e fitar um ponto longe. O casamento estava acabando, me disse então, e essa dor só entende quem a viveu. Há dois anos percebera que algo “ia mal”. O marido costumava viajar, e ela que, antes disso, esperava seus retornos com ansiedade, de repente se descobrira pensando: “Que enjoado, ele já volta amanhã!” Assim, sem motivo especial, sem traição ou agressões, tudo mudara para pior. Contava-me isso mal tocando no prato, toda ela transbordava da dor de ter de dizer ao marido que queria ir embora, que precisava disso para sobreviver. Como fazer sofrer quem nunca nos causou mal — e, por outro lado, como manter uma ligação que já não é sincera? — Vou me separar para não morrer, você acredita nisso? Eu acreditava. 1. Abnegação: desinteresse, renúncia 5 ADMISSÃO2009 35 40 45 50 55 Língua Portuguesa/ 2a Série — E agora, faz uns meses, estou me apaixonando por outra pessoa. Achei que ia passar, não passou. Não agüento mais, estou no meu limite. O que é que eu faço? Eu não tinha respostas, só perguntas que ninguém poderia responder. Enquanto procurava o que dizer, ela prosseguiu: — Mas eu gosto de meu marido, ele é a pessoa fundamental na minha vida, não o quero perder. Tantos projetos em comum, tantas vivências. Você já viu que coisa mais ridícula? Estava quase chorando, ao mesmo tempo ria da própria incoerência. Tentei confortar: — Neste momento vocês se perderam um do outro. Dê a ele, e a você mesma, mais algum tempo. Mas não tempo demais... Contei-lhe então a história que alguém me havia relatado — há poucos anos, mas pareciam séculos: — Um homem tinha um cachorro, desses de quem se corta a cauda logo ao nascer. Só que gostava tanto dele, sentia tanta pena, que, em vez de mandar cortar o rabo de uma vez, cada semana o levava ao veterinário para que este tirasse só uma rodelinha. Ainda ríamos quando saímos para a rua, cada uma com a chave do seu carro na mão, cada uma com sua solidão, sua sina, suas glórias e desastres. Fui para casa pensando no quanto pode ser difícil seguir o que parece o chamado da vida. A euforia da decisão tomada e a sensação de liberdade são inebriantes. Quando sobrevém a calmaria e aos poucos tudo se encaixa no cotidiano, vem a vontade de retornar ao colo de si mesma no aconchego do que era tão familiar. — A vida não tem mesmo muito jeito... — disse-me alguém, e muitas vezes eu concordaria com isso nos anos que estavam por vir. LUFT, Lya. O rio do meio. São Paulo: Mandarim, 1996. (p. 84-87) 6 Língua Portuguesa/ 2a Série ADMISSÃO2009 TEXTO 3 Monte Castelo Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões)1 1 A canção “Monte Castelo” é constituída por um diálogo entre diferentes vozes de épocas distintas. Sendo assim, texto bíblico e fragmentos do soneto “Amor é fogo que arde sem se ver” de Luís de Camões são incorporados, na contemporaneidade, por Renato Russo nessa canção. Para que se possam reconhecer essas vozes, destacou-se cada trecho com um tipo especial, estando o texto bíblico em itálico e o camoniano em letra diferenciada. Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece. Amor é fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer. Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É um não querer mais que bem querer. É solitário andar por entre a gente. É um não contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder. É um estar-se preso por vontade. É servir a quem vence, o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade. Tão contrário a si é o mesmo amor. Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem. Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face. É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. Legião Urbana – álbum As Quatro Estações, 1989. TEXTO 4 Cantiga de amigo Martim Codax 2 Ondas do mar de Vigo , se vistes meu amigo? E ai, Deus!, se verrá cedo3! Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro4? E ai Deus!, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado? E ai Deus!, se verrá cedo! Se vistes meu amado, 5 por que hei gran cuidado ? E ai Deus!, se verrá cedo! CODAX, Martim. In.: TORRES, Alexandre Pinheiro (org.). Antologia da poesia portuguesa. Porto, Lello e Irmão: 1977, v. 1 p. 155. 2.Vigo: famosa praia da região da Galiza, Espanha 3.se verrá cedo: ele virá logo 4.o por que eu sospiro: por quem eu suspiro 5.por que hei gran cuidado: por quem tenho muito cuidado, carinho 7 ADMISSÃO2009 Língua Portuguesa/ 2a Série TEXTO 5 O Amante Infeliz Silva Alvarenga RONDÓ X 1 Glaura! Glaura! não respondes? E te escondes nestas brenhas6? Dou às penhas7 meu lamento; Ó tormento sem igual! 8 Vejo turvo o claro dia; Sombra feia me acompanha; Não encontro na montanha A alegria natural. 2 Ao Amor cruel e esquivo8 Entreguei minha esperança, Que me pinta na lembrança Mais ativo o fero9 mal. 9 Tanto a mágoa me importuna, Que o viver já me aborrece; Para um triste, que padece12, É fortuna13 o ser mortal. 3 Não verás em peito amante Coração de mais ternura, Nem que guarde fé mais pura, Mais constante, e mais leal. 10 Glaura! Glaura! não respondes? E te escondes nestas brenhas Dou às penhas meu lamento; Ó tormento sem igual! 4 Glaura! Glaura! não respondes? E te escondes nestas brenhas Dou às penhas meu lamento; Ó tormento sem igual! 11 Onde estou? troveja... o raio... Foge a luz... os arvoredos... Abalados os rochedos... Já desmaio... ó dor fatal. 5 Se não vens, porque te chamo, Aqui deixo junto ao Rio Estas pérolas num fio, Este ramo de coral. 12 Ninfa14 ingrata, esta vitória Alcançaram teus retiros; Leva os últimos suspiros Por memória triunfal. 6 Entre a murta10, que se enlaça Com as flores mais mimosas, Acharás purpúreas rosas ~ 11 taça de cristal. Nua 13 Glaura! Glaura! não respondes? E te escondes nestas brenhas Dou às penhas meu lamento; Ó tormento sem igual! 7 Glaura! Glaura! não respondes? E te escondes nestas brenhas Dou às penhas meu lamento; Ó tormento sem igual! HOLANDA, Sergio Buarque de. Antologia dos poetas brasileiros da fase colonial. São Paulo: Perspectiva,1979. (p. 360-361) 6.Brenhas: mata espessa e emaranhada 7.Penhas: penhascos 8.Esquivo: arisco 9.Fero: terrível, feroz 10.Murta: tipo de planta ~ numa 11.Nua: 12.Padece: sofre 13.Fortuna: sorte 14.Ninfa:divindade protetora de rios e florestas, na mitologia greco-romana 8 Número de Inscrição:_________________ Língua Portuguesa/ 2a Série ADMISSÃO2009 TEXTO 6 Amor x Dor Raquel Guedelha Amor, Amor, Amor dor, dor, dor Amor, Amor, Amor dor, dor, dor Amor, Amor, Amor dor, dor, dor Amor, Amor, Amor dor, dor, dor, dor Amor, Amor, Amor dor, dor, dor, dor, dor Amor, Amor, Amor dor, dor, dor, dor, dor Amor, Amor, Amor dor, dor, dor, dor Amor, Amor, Amor dor, dor, dor, dor, dor dor, dor, dor, dor, dor Amor, Amor, Amor Fonte: http://nadificando.blogspot.com/2007/08/blog-post_12.html QUESTÃO 1 Pode-se afirmar que o texto 1 não se constitui como literário. Indique duas características, presentes no texto 1, que comprovem essa afirmativa: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 9 Número de Inscrição:_________________ ADMISSÃO2009 Língua Portuguesa/ 2a Série QUESTÃO 2 Qual a principal estratégia de construção textual de que a autora de “Paixão revelada” (texto 1) se vale para apresentar o tema da paixão? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ QUESTÃO 3 O texto 2 apresenta dois blocos integrados, que se distinguem, também, em sua disposição espacial. Identifique: a) uma semelhança, entre os blocos, no nível da temática: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ b) uma diferença, entre os blocos, no tratamento formal dessa temática: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 10 Número de Inscrição:_________________ ADMISSÃO2009 Língua Portuguesa/ 2a Série QUESTÃO 4 No segundo bloco do texto 2, o uso da primeira pessoa do singular é explorado com finalidades diferentes. Transcreva duas passagens do texto 2 que representem esse emprego diferenciado da 1ª pessoa, identificando tais vozes. a) 1ª passagem ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ b) 2ª passagem ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ QUESTÃO 5 Releia o 8º parágrafo do texto 1: “É por causa dessa revolução química no cérebro, aliás, que nenhuma paixão dura muito. Apesar de ser um sentimento delicioso, uma paixão que durasse dez anos acabaria com a vida de um sujeito. ‘Isso seria biologicamente impossível. Nenhum ser humano agüentaria ficar anos a fio sem comer ou dormir direito’, diz o psiquiatra James Leckman. Em média, o prazo de validade da paixão é de dois a três anos. ‘Mas isso não é uma regra, já que a paixão por definição é imprevisível’, diz Leckman.” 11 Número de Inscrição:_________________ ADMISSÃO2009 Língua Portuguesa/ 2a Série Retire do texto 2 uma passagem que comprove a idéia central apresentada no parágrafo transcrito. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ QUESTÃO 6 Releia o texto 3 e responda: a) Observando a letra da canção como um todo, reconheça a que gênero literário pertence. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ b) Apresente duas características, presentes na canção, que comprovem sua resposta do item anterior (“a”). ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 12 Número de Inscrição:_________________ ADMISSÃO2009 Língua Portuguesa/ 2a Série QUESTÃO 7 Após a releitura dos textos 4 e 5, explique de que modo ressonâncias das cantigas medievais podem ser observadas no texto 5. ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ QUESTÃO 8 Releia a seguinte estrofe do texto 5: “Glaura! Glaura! não respondes? E te escondes nestas brenhas Dou às penhas meu lamento; Ó tormento sem igual!” Identifique duas funções da linguagem presentes na referida estrofe. Justifique. a) ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ b) ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 13 Número de Inscrição:_________________ ADMISSÃO2009 Língua Portuguesa/ 2a Série QUESTÃO 9 A partir da releitura do texto 6, responda: a)De que modo a estrutura formal do texto 6 resgata a perspectiva camoniana acerca da temática amorosa, apresentada na composição “Monte Castelo”? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ b) Como pode ser explicada, no contexto global do poema (texto 6), a utilização de um destaque gráfico diferenciado para a palavra “amor”? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 14