Apoio Equipamentos para subestações de T&D 48 Capítulo III Técnicas de ensaios de alta potência, laboratórios e fundamentos dos principais ensaios Por Sérgio Feitoza Costa* Laboratórios de ensaios e o desenvolvimento da indústria elétrica brasileira natural (Gasoduto Brasil Bolívia) e carvão equipes que resolviam bem os problemas mineral. do setor elétrico. O nível de educação no laboratórios de ensaios para a indústria avançava positivamente. Os países líderes na produção de elétrica brasileira, vale lembrar três Antes equipamentos e tecnologias de produtos períodos distintos do setor elétrico. No laboratórios de testes no Brasil, quase nada para o setor elétrico têm em comum um primeiro, de meados dos anos 1970 até de novo era produzido em tecnologias e planejamento implementado 1995 havia a construção de Itaipu e outras produtos elétricos. Para fazer testes era com pouca interferência política, um grandes usinas e subestações. O segundo necessário enviar o equipamento para o bom sistema de normas técnicas, a vai até por volta de 2004, incluindo o exterior. O transporte e as despesas com disponibilidade de laboratórios e centros racionamento de energia de 2001 e a o pessoal para acompanhar os ensaios de pesquisa, além de um nível crescente RESEB – reestruturação do setor elétrico. faziam o teste no exterior custar uns 40% de educação da população. Entre os O terceiro é o que vem após 2005 com a mais do que fazê-lo no Brasil. exemplos mais recentes estão os países outras mudanças no setor elétrico. do leste asiático, como a China e a Coreia deficiente sendo as normas uma mistura do Sul. Boa parte de seu sucesso se deve um modelo centralizado. Havia um de normas americanas ANSI e UL com a fortes investimentos na educação que é competente processo de planejamento normas IEC. Neste período houve grande algo que ainda não começamos a praticar de longo prazo da expansão conduzido avanço no sistema de normalização, no Brasil. principalmente as setorial Para falar da importância dos No primeiro período, o setor tinha por técnicos da Brasil, na média, era insuficiente mas da criação dos grandes O sistema de normalização técnica era concessionárias não competiam elétrico Eletrobras. Quase tudo que era planejado entre si e isto permitia normas e regras brasileiro desde 1976, quando me formei pelos técnicos tinha suporte político e homogêneas. engenheiro eletricista. Trabalhei 21 anos era construído. Fazia-se um ranking das recursos na normalização e participava no projeto, implantação, operação e próximas plantas de energia a construir. da condução da normalização. Estes coordenação dos laboratórios de ensaios O valor da planta construída não era tão avanços deram base para a certificação de do Cepel. Participei alguns anos das diferente do planejado como é hoje e isto produtos (Inmetro). reuniões de planejamento da expansão dava credibilidade ao planejamento. Isto do setor elétrico na época do Grupo era possível porque a influência política de um modelo com maior participação Coordenador nas empresas e concessionárias era muito da iniciativa privada nos investimentos. Sistemas Elétricos (GCPS) em contato menor que hoje. A ideia era boa e representava uma com a Eletrobras e com a Secretaria de tendência Energia do Ministério de Minas e Energia e bons laboratórios de ensaios. Havia a intenção de áreas do governo de (MME). Ali se tratavam projetos como o a visão de que o mais importante era a enfraquecer o excelente planejamento PNCE, o Proinfa (fontes alternativas) e o formação de bons especialistas e não as setorial planejamento de usinas hidrelétricas, gás caras instalações. Formaram-se excelentes Este período foi curto e os conceitos Acompanho o do setor Planejamento dos Foram criados centros de pesquisa A Eletrobras colocava No segundo período, houve a busca mundial. conduzido Foi pela perceptível Eletrobras. Apoio não chegaram a ser implementados. empresas ligadas ao governo. e aperfeiçoados. Quando a economia AEletrobras parou de colocar recursos No terceiro período, a boa capacitação brasileira entrou em ordem, saindo da e do técnica anterior foi quase dizimada inflação, o Brasil começou acrescer e sistema de normalização técnica e isto pelos PDVs. O planejamento técnico da se pode perceber que não havia mais o concessionárias expansão existe, mas há uma questão capacidade de atendimento suficiente reduziram sua participação nas normas de credibilidade. O que adianta ter um nos laboratórios brasileiros. Hoje as filas técnicas ao mínimo necessário. Programas ranking das plantas mais econômicas a de espera para fazer um ensaio são mais de aperfeiçoamento de produtos bem- implantar, do ponto de vista da sociedade, demoradas que o aceitável pela indústria sucedidos, como o Proquip, do período se no final, como mostrado na mídia, a elétrica. Por este motivo, há empresas que anterior, pararam de acontecer. Estes planta acaba custando dez vezes. têm necessitado levar equipamentos ao eram baseados em trazer para as normas exterior para testar, como ocorria há 30 a experiência de ensaios em produtos é que motiva a indústria elétrica a anos. que falhavam muito no campo, como melhorar seus produtos e criar produtos chaves e elos fusíveis de distribuição, novos. Pode-se perceber claramente isto FIEMG e SINAEES avançou e está no reles entre no período que veio após a criação dos início da construção do novo complexo outros. Naquela época, algumas normas laboratórios do Cepel até por volta do de grandes laboratórios em Itajubá (MG). técnicas brasileiras eram o estado da arte ano 2000. Várias empresas desenvolveram O Instituto Senai de Inovação – Centro de e, por exemplo, a ABNT NBR 7282 foi equipamentos muito competentes, por Desenvolvimento Empresarial e Inovação a base da revisão da IEC 60282-2 (High exemplo, secionadores de 362 kV e 550 da VoltageExpulsionTypeFuses), participar do enfraqueceu. gerenciamento As fotoelétricos, para-raios, publicada A existência de laboratórios próximos Felizmente, uma iniciativa da CNI, Indústria Elétrica e Eletrônica kV para correntes de curto-circuito até 63 (ISI-CEDIIEE) – terá laboratórios de pela IEC em 1989. Neste segundo período, kAef. alta começaram os planos de demissões de temperatura, grau de proteção e voluntárias (PDVs) nas concessionárias e e de baixa tensão foram desenvolvidos Muitos equipamentos de distribuição potência, atmosferas alta tensão, explosivas, elevação para-raios, 49 Apoio Equipamentos para subestações de T&D 50 e atmosferas explosivas incluem, entre muitos outros, os de grau de proteção de invólucros primeiro e segundo numerais (sólidos IP1 a 6, líquidos IPX1 a 8), ensaios com aparelho de faiscamento padrão, ensaio do sistema de pressurização e sistema de proteção, sobre pressão do meio de pressurização, e análise de equipamentos com segurança aumentada. Figura 1 – Novos laboratorios de ensaios em Itajubá (MG). Há ainda ensaios de compatibilidade compatibilidade eletromagnética, ensaios • Ensaios de curto-circuito; eletromagnética (CEM) como os de mecânicos, óleos isolantes e calibração. • Interrupção e estabelecimento de curto- verificação de limites de emissão radiada Estes laboratórios estão sendo projetados circuito; econduzida e construídos para atender às demandas • Arcos de potência internos e externos; magnéticos. No Laboratório de Para- oriundas do crescimento da indústria • Ensaios de interrupção e manobras de Raios, os ensaios típicos são os de elétrica brasileira (veja a Figura 1). cargas ativas, indutivas e capacitivas; corrente suportável de impulso até 100 • Ensaios de correntes suportáveis de KA (elevada, retangular e descarga de curta duração até 220 kAe/575 kAcr linha), os de ciclo de operação e impulsos (esforços eletrodinâmicos). de corrente. Principais ensaios realizados em laboratórios e imunidade a campos A lista dos ensaios que poderão ser No laboratório de alta tensão, os realizados nos novos laboratórios do ensaios dielétricos para equipamentos até ISI-CEDIIEE (Itajubá) é típica do que é a classe de tensão 550 kV serão: Fundamentos dos ensaios de alta potência, de alta tensão e de elevação de temperatura (Holanda e Estados Unidos), CESI (Itália), • KERI (Coreia do Sul), CPRI (Índia), JSTC industrial a seco e sob chuva; mostramos (Japão) e o Cepel. • Impulso atmosférico e de manobra a dos principais ensaios realizados em seco e sob chuva; laboratórios e que são complementados equipamentos como transformadores de • Tensões combinadas (bias); nas potência, reatores, painéis, disjuntores, • Medições de descargas parciais, radio- quantidade de informações e detalhes é secionadores, fusíveis limitadores de interferência, capacitância e tangente mostrada no livro “Painéis, barramentos corrente e do tipo expulsão, chaves delta e ruído audível. e seccionadores e equipamentos de feito em outros laboratórios como KEMA São de ensaios abertura sob aplicados carga, em Tensão aplicada sob frequência Nos capítulos 1 e 2 deste fascículo, linhas alguns a dos seguir. fundamentos Uma grande subestações” (ver referências). religadores, contadores, para-raios, entre outros. Para o laboratório de elevação de Ensaios de interrupção são aplicáveis equipamentos Os equipamentos podem ser de alta temperatura, os ensaios típicos são os de a tensão e de baixa tensão, além de os ensaios elevação de temperatura, ciclos térmicos, tensões. Visam verificar a capacidade de relevantes são especificados nas normas continuidade elétrica, sobrecorrentes e disjuntores, fusíveis, chaves e religadores de produtos da IEC, ABNT, entre outras. durabilidade elétrica. Serão realizáveis de Em geral, os ensaios são classificados para equipamentos em geral de até 25.000 correntes, desde valores da ordem de como de alta potência, quando envolvem A e também para transformadores de grandeza da corrente nominal até as correntes, potências elevadas e ensaios distribuição. correntes de curto-circuito. Os fatores dielétricos de alta tensão. Estes últimos Associados aos acima estão ensaios que mais impactam nos resultados foram envolvem tensões elevadas, mas potência realizáveis no Laboratório de Ensaios mostrados no capítulo anterior e incluem e energias relativamente baixas. Há ainda Mecânicos, operação a tensão de restabelecimento transitória, ensaios de elevação de temperatura mecânica, mecânica, a corrente interrompida e o fator de que envolvem correntes elevadas, mas proteção potências baixas. resistência do material isolante ao calor São simulados diferentes tipos de anormal, ao fogo e corrente de fuga e de solicitações impostas pela rede elétrica. serão realizados no laboratório de alta resistência mecânica. Os valores aplicados são especificados nas potência com geradores de 2.500 MVA são: normas técnicas. A título de exemplo, os ensaios que tais como durabilidade contra choques elétricos, Os ensaios típicos de grau de proteção de baixas interromper a altas adequadamente primeiro polo (Figura 2). Apoio Equipamentos para subestações de T&D 52 As forças devem permanecer abaixo dos limites especificados pelo fabricante do isolador para não danificá-lo. As tensões mecânicas nos condutores devem ser mantidas abaixo de certos limites (por exemplo, 200 N/mm² para o cobre), caso contrário, o barramento sofrerá uma deformação permanente e visível. Os resultados são afetados pela corrente de curto-circuito, pelos materiais utilizados e pela geometria do sistema de condutores e isoladores. O Figura 2 – Ensaios de interrupção. bom desempenho no ensaio é verificado Ensaios de elevação de temperatura não de aberturas de ventilação. As por inspeção visual e, dependendo são aplicáveis a equipamentos de baixas a resistências de contato e a área de do altas tensões. O equipamento é instalado ventilação são fatores essenciais para o resistências elétricas antes e depois do em uma sala livre de correntes de ar e a bom desempenho do equipamento. Se ensaio (Figura 3). corrente nominal é aplicada durante um esta resistência não está registrada no tempo suficiente para a estabilização relatório de ensaio, o ensaio não tem aplicáveis a equipamentos de baixas a altas das temperaturas dos pontos medidos. reprodutibilidade. As normas de painéis tensões. A ideia é criar um arco durante A elevação de temperatura medida e barramentos pedem para medir apenas certo período de tempo. Os efeitos das não deve ir além de certos limites a resistência total por fase e não também sobrepressões provocadas são observados. especificados nas normas técnicas. Estes a resistência do disjuntor ou chave por Os requisitos para aprovação nos testes limites tem relação direta com a vida fase vista a partir dos terminais. incluem que as portas não devem abrir útil do equipamento. Se os limites são Ensaios de corrente suportáveis de permitindo a saída dos gases quentes e os ultrapassados no dia a dia, a vida util é curta duração e de crista são feitos para gases expelidos através dos dispositivos reduzida de forma calculável. verificar os efeitos das forças e as altas de alívio de pressão não podem queimar temperaturas atuantes em isoladores e os indicadores de algodão colocados condutores durante um curto-circuito. perto das partes acessíveis e que simulam Os resultados do ensaio de elevação de temperatura são influenciados equipamento, por medidas das Ensaios de arco interno também são de As forças mecânicas nos isoladores a pele de uma pessoa. Buracos causados materiais, as resistências de contato, a (tração, compressão e flexão) e as pelo arco nas paredes externas não são temperatura do fluido, a geometria dos tensões mecânicas nos condutores são permitidos. condutores, o volume interno líquido calculáveis por expressões mostradas na do compartimento e a existência ou referência ao final deste artigo. a ar, a principal causa de falhas durante pela corrente aplicada, tipo Figura 3 – Ensaio de correntes de curta duração. Em conjuntos de manobra isolados Figura 4 – Ensaio de arco interno. Apoio 53 os testes é a queima dos indicadores de algodão horizontais após reflexões dos gases quentes no teto. Os principais fatores que influenciam os resultados são a tensão, a corrente, o volume líquido interno do compartimento, o tempo de resposta e a área dos dispositivos de alívio de pressão. As aberturas de ventilação, que causam impacto positivo nos resultados dos ensaios de elevação de temperatura, são um caminho de saída de gases quentes que podem queimar os indicadores de algodão e provocar falha no ensaio. Figura 5 – Tensão suportável à frequência industrial. A Figura 4 dá uma ideia dos 61641 está virando uma especificação e mesmo em condições que simulam fundamentos. Os indicadores de algodão regular dos compradores. poluição (Figura 5). representam a pele das pessoas próximas Tensão que não podem ser queimadas pelos industrial a seco e sob chuva são seco e sob chuva e tensões combinadas gases quentes provenientes do interior. aplicados alta (BIAS) buscam simular em laboratório a Este teste ainda não é um ensaio de tipo tensão e visam simular as condições ocorrência se sobretensões de durações para painéis de baixa tensão. Como os de tensões temporárias que acontecem da ordem de microssegundos, mas que riscos e níveis de energia em instalações nas subestações e podem ter durações podem chegar a valores de pico da ordem acima de 40 kA são consideráveis, o que da ordem de dezenas de segundos. de seis vezes a tensão normal do sistema. está prescrito no documento IEC TR Podem ser realizados a seco e sob chuva Os impulsos atmosféricos representam a aplicada a sob equipamentos frequência de Impulso atmosférico e de manobra a Apoio Equipamentos para subestações de T&D 54 Figura 6 – Ensaio de impulso e ensaio de BIAS. Figura 7 – Ensaio de radio-inteferência. queda de raios. Os impulsos de manobra e que se propagam por condutores. Podem equipamentos de subestações de representam as sobretensões causadas interferir nas rádios, especialmente na transmissão e distribuição. Disponível por operações como abertura de linhas, faixa AM. Estes pulsos alcançam valores em: <http://www.cognitor.com.br/ de transmissão, reatores e bancos de da ordem de grandeza de 50 µVa 1500 µV Book_SE_SW_2013_POR.pdf>. capacitores (Figura 6). O ensaio de BIAS em função da distância. Em laboratório, a simula a condição de ocorrência de uma ideia é medir as ondas “conduzidas”. Em sobretensão de impulso em um lado do linhas de transmissão, podem-se medir as equipamento estando outro lado também componentes irradiadas. energizado a 60 Hz. *Sergio Feitoza Costa é engenheiro eletricista, com mestrado em sistemas de potência. É diretor da Cognitor, Consultoria, P&D e Treinamento. Continua na próxima edição Medições de radiointerferência são Referência feitas para medir a magnitude de pulsos de [1] COSTA, Sergio Feitosa. Painéis, alta frequência gerados por equipamentos barramentos e secionadores e Acompanhe todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para [email protected]