ENTREVISTA TERÇA-FEIRA, 2 de Outubro de 2007 | 5 NOVAGRES & MARGRÉS TECNOLOGIA MÉTODOS PRODUTIVOS A 29 de Dezembro de 2006, a Novagres – Indústria de Cerâmica, S.A. funde-se com a Maronagrês – Comércio e Indústria de Cerâmica, S.A., alterando a sua denominação social para Gres Panaria Portugal, S.A. A Novagres detém «uma das mais importantes unidades produtivas do sector cerâmico», fruto de uma cultura de melhoria contínua da qualidade, assente num «investimento constante em novas tecnologias, design e formação/recrutamento de recursos humanos altamente habilitados», realça a empresa. O sucesso da Novagres assenta na procura contínua de novas metodologias produtivas e linhas de produto inovadoras, capazes de satisfazer as necessidades dos seus clientes. A especial atenção ao detalhe técnico e estético tem-se mostrado um factor determinante para competir com sucesso no sector dos pavimentos e revestimentos de cerâmica, mantendo uma posição de liderança no mercado. um grande potencial» Tem. Temos a possibilidade de aproveitar a nossa base, do grupo, em Itália e estamos a estudar a melhor maneira para entrar no mercado de uma forma bastante capilar. Não pode ser formada uma estratégia apenas para entrar no mercado com um, dois ou três agentes. O mercado italiano é um mercado muito grande, é um estado territorialmente muito extenso, pelo que precisa de muita assistência, precisa de uma estratégia concertada. Existe uma aposta na inovação e a qualidade do produto? Já neste ano fizemos alguns investimentos na fábrica e continuamos a investir na área produtiva, no desenvolvimento de novos produtos, apostamos na qualidade. Para nós inovação não é só inovação tecnológica, mas também ao nível de ideias. Assim, podemos dizer que a Novagres, assim como a Margrés, estão a traçar uma tendência de diferenciação de mercado e verificamos que a concorrência está a seguir, um pouco, aquilo que apresentamos. Qual considera ser a vantagem competitiva da Novagres, face às demais empresas que existem no mercado? Acho que uma vantagem é a vontade de crescer, de inovar e um bom espírito de equipa. No nosso projecto de crescimento, um aspecto fundamental é ver sempre as coisas do lado dos clientes. O nosso objectivo não é só crescer e sermos os melhores, mas ter um crescimento conjuntamente com os nossos clientes. Queremos crescer, mas também queremos que os nossos clientes sintam que fazem parte do nosso projecto. Tem que haver uma parceria, um crescimento conjunto. Esta é uma filosofia chave, é algo fundamental. da para um produto dirigido mais ao sector residencial, não de alto tráfego. O «Suite» é um produto mais técnico, é um porcelânico, mas não é esmaltado, é um porcelânico todo em massa, pelo que tem características técnicas mais elevadas. Este ano vai haver novidades no campo das colecções? Este ano, já apresentámos duas colecções. Em Maio, fizemos uma apresentação em grande estilo, em que convidámos os nossos maiores clientes para um «meeting» no Algarve, onde oferecemos três dias de estadia com uma parte desses dias vocacionados ao trabalho. Esta forma de actuar resultou muito bem e foi, desde logo, um grande sucesso. Agora, vamos apresentar na Cersaie, em Itália, uma nova série. Deste modo, este ano, apresentamos três séries. Tem sido difícil a concorrência em Portugal? A concorrência é sempre concorrência, é sempre difícil quer seja em Portugal quer em Itália. Acho que é uma boa concorrência, leal e, inclusivamente, tenho alguns amigos na concorrência, empreendedores concorrentes, com os quais trocamos impressões e ideias. Esta nova série, que é agora apresentada na Cersaie, já tem nome? Sim, é a série «Suite». Em que se basearam para criar esta série? Quando apresentamos um novo produto, procuramos criar uma história em volta dele, tem que ter uma filosofia e transmitir algo. Essa foi, de facto, uma mudança de atitude e filosofia de presença no mercado. Tem a ver com a forma como apresen- Exacto. Este ano, já apresentámos duas séries, a «Atelier» e a «Soul», no Algarve. Foi um dos aspectos que formos «beber» à filosofia italiana, que consiste em «agraciar» os nossos de tudo, pretende-se dar algumas condições especiais de aquisição desses produtos, por serem os primeiros a ter contacto com o novo produto. É um conceito diferente de estar no mercado. O mesmo não se poderá dizer da expansão do mercado chinês… A concorrência chinesa existe, mas parece menos intensa, em Portugal, do que há dois ou três anos atrás. Os nossos clientes testaram o produto e perceberam que existe uma diferença. O produto cerâmico precisa, também, de uma assistência e, como qualquer produto, precisa de qualidade, de ser colocado no mercado da maneira certa e necessita de ser acompanhado e os chineses não fazem esse processo de «Tenho um sonho: quero que a nossa empresa, em Portugal, seja a referência no mercado cerâmico a nível internacional» tamos e tratamos cada um dos produtos. A projecção e apresentação de cada produto é feita de uma forma muito pensada. Não apresentamos só por apresentar, cada produto tem uma filosofia e objectivo muito específicos. Foi o que aconteceu com as colecções já apresentadas… melhores clientes e, ao mesmo tempo, dar-lhes a possibilidade de serem as primeiras pessoas a conhecer o novo produto. E que são potenciais clientes do novo produto que apresentam… Exactamente. São potenciais clientes. Como é óbvio, traçamos objectivos, porque, apesar Em que consiste o novo produto, que é esta semana apresentado em Itália? O «Suite» é uma novidade. É um produto que, até aqui, a Novagres nunca havia feito. Centra-se num produto que será para alto tráfego. É um produto que a Novagres não tinha. A Novagres era – e continuará a ser – mais vocaciona- acompanhamento. Estão mais concentrados nos volumes. Mais na quantidade do que na qualidade… Exacto. Mas assusta-o esta emergência global dos mercados? Não. Acho que a China está mais concentrada, agora, no mercado chinês, mas um dia irão conquistar o mercado externo, porque têm de sustentar o crescimento das suas empresas. No dia em que competirem com os outros mercado de uma maneira mais correcta, prestando assistência aos clientes, apresentando os produtos como o cliente final quer, também eles irão ter preços mais elevados e a concorrência será, deste modo, mais equilibrada. Está satisfeito com Aveiro e com a vossa presença cá? Sim, estou satisfeito, mas sou muito ambicioso. Portanto… … quer mais… Exacto. Tenho um sonho: quero que a nossa empresa, em Portugal, seja a referência no mercado cerâmico a nível internacional. Portanto, há ainda muito a fazer. Há muito a mudar para conseguir atingir esse objectivo? Temos que crescer muito, porque na nossa dimensão, já estamos a trabalhar bem; para ter mais relevância a nível internacional, é muito importante a dimensão. Temos que continuar neste caminho e fazer mais. Que projectos tem a Novagres para o futuro? Está a ser construído um novo centro logístico… Está quase concluído. Estamos a utilizar as sinergias de grupo e um elemento importante era criar um pólo logístico único. Este pólo já está criado, estamos a implementar um novo sistema informático para poder suportar a saída do material de uma e de outra marca. Já estamos a transferir muito material da Margrés para aqui para Aveiro. Continua na página seguinte 4 | TERÇA-FEIRA, 2 de Outubro de 2007 ENTREVISTA EMPRESA PRODUTO INOVADOR GRUPO ITALIANO A Novagres – Indústria de Cerâmica, SA iniciou a sua actividade em 1990. Com uma história empresarial recente, iniciou a produção de pavimentos em grés de pasta branca vidrada e, em 1996, começou também a produzir revestimentos em monoporosa. Em Março de 1998, a Novagres lançou um produto inovador, caracterizado pelas grandes dimensões apresentadas, pela rectificação das arestas e pela qualidade na definição do desenho, consolidando, assim, um lugar de destaque no mercado de gama alta. A 30 de Novembro de 2005, a Novagres foi adquirida, na sua totalidade, pelo Panariagroup Industrie Ceramiche S.P.A. Este grupo encontra-se entre os principais produtores italianos de material cerâmico de pavimento e revestimento, focalizando-se no segmento alto do mercado através de sete marcas distintas: Panaria, Lea, Cotto d’Este, Fiordo, Margrés, Novagres e Florida Tiles. Afirma Marco Mussini, presidente da Novagres «Portugal é um país que tem Há quanto tempo dirige a Novagres? Estou em Portugal há cerca de cinco anos, mas na Novagres desde 1 de Dezembro de 2005. Como foi esta adaptação a Portugal e à realidade empresarial portuguesa? A adaptação não foi muito complicada, porque a cultura portuguesa é parecida com a italiana. Somos latinos e a vida lá é muito parecida com a portuguesa. Para além disso, fomos muito bem a acolhidos e isso ajudou muito a minha integração na empresa e em Portugal. Como surgiu o interesse do Grupo Panaria pela Novagres e pela Margrés? A Margrés foi o primeiro investimento no estrangeiro do Grupo Panaria. Somos um grupo italiano, mas até final de 2002 produzia só em Itália, apesar de ter uma forte percentagem de exportação, mas a produção era toda feita em Itália. Para a dimensão do nosso grupo era importante começar um processo de globalização. Era importante estar presente em outros mercados, produzir em outros mercados, porque o produto cerâmico é um produto que pode ser exportado, mas é importante, também, estar mais próximo dos clientes. Produzir na Península Ibérica, para nós, era um aspecto muito importante. O mercado da Península Ibérica é um dos mercados mais importantes do mundo. O Grupo Panaria não tinha, na Península Ibérica, uma presença muito grande. Portanto, para nós, era importante entrar. Uma forma de suprir esta necessidade… Exactamente. Não era entrar «Portugal é um país que tem um grande potencial». Quem o afirma é Marco Mussini, presidente da Novagres, que tem ambição de tornar a empresa que dirige «a referência no mercado cerâmico a nível internacional». Considerando que «ainda há muito a fazer», o responsável assegura que «2008 será o primeiro ano de velocidade cruzeiro do Grupo Panaria em Portugal» em concorrência com os nossos clientes, mas sim abrir um novo mercado. Investir em Portugal foi uma escolha. Arriscada? Acho que não. Estudámos bem a situação e, naquela altura, haviam várias possibilidades de investimento e a Maronagrés parecia a mais interessante, sem ter uma dimensão muito pesada. Portanto, foi um passo calculado. Com a Novagres, esse investimento foi maior. Exactamente. Com o pri- meiro passo, tivemos a possibilidade de conhecer melhor o mercado português e ver, também, o desenvolvimento da cerâmica portuguesa, ver que existia no mercado empresas de excelência. A Novagres, para nós, era a melhor e quando surgiu a oportunidade de concretizar este negócio, aproveitámo-la. Como definiria, hoje, a Novagres, ao fim destes dois anos em Portugal? Não fizemos grandes mudanças na empresa, porque esta já era uma empresa de referência, sólida e com uma boa imagem no mercado. Estamos a procurar melhorar esta imagem, apostamos mais na comunicação, para além de que procuramos ligar a qualidade do produto e a beleza do produto a um aspecto mais italiano. A nível de Marketing estamos a trabalhar muito mais. Neste sentido, apresentamos, ao longo do ano, menos séries, menos novos produtos, mas com um conceito um pouco diferente, mais elaborado. Há aqui uma filosofia italiana? Sim. Não estou a fazer nada de novo, mas a transferir o meu conhecimento italiano, aquilo que aprendi a trabalhar em Itália, para Portugal. Acho que é um «mix» vencedor. O mercado tem respondido bem a esta nova filosofia? Está a responder muito bem. Apesar da crise do mercado cerâmico em Portugal, estamos a obter resultados bons. O que está, no seu entender, a fazer crescer essa crise, falta de leitura de mercado? Sou um economista, mas não sei fazer uma análise tão profunda. É difícil para o Governo saber o que tem de ser feito. Não tenho essa presunção, de saber o que tem de ser feito. Sei, apenas, uma coisa, Portugal é um país que tem um grande potencial. Os portugueses, às vezes, é que têm medo de apresentar os produtos com mais força. Acho que é algo que falta e que pode marcar a diferença. No sector cerâmico, vivemse, também, situações de dificuldade? O sector da cerâmica está a passar um período difícil, mas vi os resultados do sector cerâmico em Portugal do ano passado e são muito bons. Penso que 2007 vai ser um ano bom. O mercado português encontrase numa fase de estagnação, mas as exportações estão a subir muito. E acabam por contrabalançar esse efeito negativo do mercado nacional… Não só contrabalançar como atingir melhores resultados. Qual é a percentagem de exportação da Novagres? Este ano, vamos superar os 55 por cento. Quais são os países de eleição? Exportamos para cerca de 20 países e o país onde temos uma presença mais forte é a França. E a Itália? A Itália é um mercado que precisa de uma assistência muito forte. É um mercado difícil, onde há toda a concorrência italiana. Mas o produto português tem qualidade para competir nesse mercado?