TOMADA DE DECISÃO EM QUESTÕES RELATIVAS AO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL: CAPITAL SOCIAL, EMPODERAMENTO E GOVERNANÇA NA AGRICULTURA FAMILIAR [email protected] Apresentação Oral-Agricultura Familiar e Ruralidade ANELISE GRACIELE RAMBO; JOÃO ARMANDO DESSIMON MACHADO. UFRGS/PGDR, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL. Tomada de Decisão em Questões Relativas ao Desenvolvimento Territorial: Capital Social, Empoderamento e Governança na Agricultura Familiar Grupo de Pesquisa: 7 – Agricultura familiar e ruralidade Resumo O presente artigo toma por pressuposto que as decisões tomadas pelos agricultores são complexas e envolvem múltiplios objetivos. Assim, para compreender a tomada de decisões na agricultura familiar entende-se que Herbert Simon, quando trata da racionalidade limitada e Blás Lara ao destacar a questão da formação-informação trazem relevantes contribuições. A partir do que apontam estes autores, discorre-se sobre uma possível relação positiva entre capital social, empoderamento, governança e a tomada de decisão no que concerne ao desenvolvimento territorial no âmbito da agricultura familiar. Parte-se da idéia de que o capital social permite o empoderamento dos atores locais/regionais, o que por sua vez, possibilita a governança em experiências coletivas. Estas variáveis são consideradas fundamentais para que as decisões tomadas atendam aos múltiplos objetivos concernentes à racionalidade dos agricultores familiares e, ao mesmo tempo, resultem em um processo de desenvolvimento territorial em uma escala local/regional. Isso será demonstrado a partir de duas experiências coletivas desenvolvidas no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, uma região onde a predominância da agricultura é uma marca característica. Uma das experiências corresponde a treze projetos de microdestilarias, em diferentes municípios da região, onde famílias de agricultores se associam em torno da produção de etanol. A outra diz respeito a um programa municipal de desenvolvimento, o Pacto Fonte Nova, que fomenta agroindústrias familiares, implementado no município de Crissiumal, hoje, estruturado sob forma de cooperativa. Palavras-chaves: tomada de decisão, capital social, empoderamento, governança, desenvolvimento territorial 1 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Abstract In this paper we assume that decisions making by farmers are complex and involve multiple goals. Thus, we understand that Herbert Simon dealing with the limited rationality and Blas Lara highlighting the formation-information issue are relevant contributions. From those authors’ pointing, we argue about a possible positive relation between social capital, empowerment, governance and decisions making, concerning territorial development in the scope of family farming. We start with the idea that social capital permits the empowerment of local/regional actors. In turn, the empowerment permits the governance in collective experiences. Those variables are considered important to decisions making attend the multiple goals concerning to family farmers’ rationality and, at the same time, result in a territorial development process in a local/regional scale. This will be demonstrated from two experiences developed in northwest Rio Grande do Sul, a region having the family farming predominance as its characteristic. One of the experiences corresponds to thirteen microdistilleries projects, in several municipalities in the region. In that experience, family farmers are associated around ethanol production. Another, concerns to a municipal development program, the Pacto Fonte Nova. This program foments family agroindustries, implemented in the municipality of Crissiumal, currently structured as a cooperative. Key words: decision making, social capital, empowerment, governance, territorial development INTRODUÇÃO Neste ensaio aborda-se a possível relação positiva entre capital social, empoderamento1, governança e a tomada de decisão no que concerne ao desenvolvimento territorial no âmbito da agricultura familiar. Parte-se do pressuposto de que, o capital social permite o empoderamento dos atores locais/regionais, o que por sua vez, facilita a governança em experiências coletivas na agricultura familiar. Estas variáveis são consideradas fundamentais para que as decisões tomadas atendam aos múltiplos objetivos concernentes à racionalidade dos agricultores familiares e, ao mesmo tempo, resultem em um processo de desenvolvimento territorial em uma escala local/regional. As experiências coletivas acima foram observadas em dois casos localizados no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, uma região onde a predominância da agricultura é uma marca característica. Uma das experiências ou casos estudados corresponde a projetos de microdestilarias, em diversos municípios da região, onde famílias de agricultores se associam em torno da produção de etanol. A outra diz respeito a um programa municipal de desenvolvimento, realizado no município de Crissiumal, hoje, estruturado sob forma de cooperativa. 1 Neste artigo adotar-se-á o significado de empoderamento presente no trabalho de Machado, Hegedus e Silveira (2006). 2 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Considerando-se que as decisões tomadas pelos agricultores são complexas, pois envolvem múltiplios objetivos, é possível afirmar que, ao optarem pelo desenvolvimento de ações e experiências coletivas, constroem mecanismos que permitem atingir tais objetivos. Isso se torna importante principalmente quando se leva em consideração um ambiente de economia globalizada, cada vez mais hostil, competitivo e excludente das pequenas estruturas. Para tanto, pretende-se inicialmente discorrer sobre a racionalidade limitada tratada por Herbert Simon, passando pela questão da formação-informação ressaltada por Blás Lara. Em seguida, buscar-se-á demonstrar como o capital social, o empoderamento e a governança auxiliam na tomada de decisão e na gestão das experiências coletivas para o atendimento da racionalidade dos agricultores familiares e, concomitantemente, para a promoção de um processo de desenvolvimento territorial. Ao final, com base nas análises das experiências, é possível afirmar que houve um empoderamento dos atores locais/regionais, na medida em que estes têm impregnado novos usos políticos e econômicos do território, bem como se organizado de forma coletiva. Assim, os agricultores têm substituído a monocultura da soja e optado por outras culturas e atividades, neste caso, a agroindustrialização. Isso, por conseguinte, tende a gerar um processo de desenvolvimento territorial local/regional, levando a um aperfeiçoamento do território, da comunidade e de cada ator envolvido nas experiências. 1 RACIONALIDADE E TOMADA DE DECISÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR A tradicional teoria da racionalidade econômica acaba não dando conta de explicar a diversidade de comportamentos dos pequenos agricultores, ao considerar irracionais aqueles agentes que não seguem uma lógica maximizadora. Como destaca Matos (1980), Friedman chega a tratar da seleção natural, a qual os não maximizadores seriam eliminados pela concorrência. Entretanto, passando mais de 50 anos desde a publicação da obra de Friedman, a agricultura familiar não maximizadora de resultados econômicos, segue existindo. E, mais do que isto, segundo dados da Secretaria da Agricultura Familiar (2008), hoje, a mesma é responsável pela produção de 70% do feijão, 40% da soja e 95% das hortaliças no Brasil. Logo, cabe a pergunta: se a agricultura familiar nem sempre segue uma racionalidade econômica maximizadora, por que e como ela persiste? Acredita-se que os trabalhos do professor Herbert Simon, no desenvolvimento da teoria da tomada de decisão possam auxiliar nessa compreensão, uma vez que, para aquele autor, o agente econômico não é um maximizador, mas procura encontrar objetivos satisfatórios, optando por alternativas que estejam de acordo com determinados critérios, podendo não ser a única, nem a melhor (SIMON, 1978). A racionalidade é assim, limitada e satisfatória. Dessa forma, o autor deixa evidente que o comportamento humano, não raro tido como irracional, 3 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural orienta-se por caminhos que levam à satisfação, o que não necessariamente vai ao encontro da idéia de maximização. Nesta mesma linha de raciocínio, para Leibenstein (1976), as irracionalidades não são fruto do acaso, mas objeto de uma ação. Portanto, as decisões tomadas devem induzir a alternativas boas o suficiente sem necessariamente serem as melhores (SIMON, 1979). Ou seja, o decisor otimiza quando escolhe uma alternativa que é a melhor de acordo com algum critério que permite comparar as alternativas entre si. O decisor satisfaz-se quando escolhe uma alternativa que atende ou excede um conjunto de critérios mínimos de aceitabilidade, se escolhe uma alternativa satisfatória (SIMON apud BARROS, 2004, p.70). Valendo-se desse conhecimento para a leitura da realidade da agricultura familiar compreende-se que a tomada de decisão na mesma, não envolve, necessariamente, a opção pelo que é mais rentável, pela atividade produtiva que trará maior retorno financeiro. A tomada de decisão é pautada também por preocupações voltadas, por exemplo, à reprodução social, a manutenção do grupo familiar na propriedade, à transferência da gestão da propriedade aos sucessores, bem como, preocupações com questões ambientais e de saúde. Nesse sentindo, evidenciando esta multiplicidade de racionalidades, cabe recordar os fatores influentes na tomada de decisão destacados por Ruth Gasson (1973). A autora realizou sua pesquisa com agricultores do Reino Unido e constatou a existência de quatro categorias ou orientações influentes na tomada de decisão, as quais denominou como instrumental, social, expressiva e intrínseca. Nos agricultores com orientação dita instrumental encontrou predominantemente atitudes referentes à maximização e obtenção de benefícios, expansão do negócio e a condições agradáveis de trabalho. Naqueles com orientação social, as atitudes voltam-se ao prestígio social, à relação da comunidade agrária, à manutenção e continuidade com a tradição familiar bem como o trabalho com os membros familiares além do estabelecimento de boas relações com os trabalhadores. Os produtores com orientação expressiva pautam seus valores em questões como a satisfação em sentir-se proprietário, em trabalhar na própria exploração, em exercer aptidões especiais, na possibilidade de ser criativo no trabalho e estabelecer um calendário e horário próprios. Por fim, para aqueles com orientação intrínseca são importantes a satisfação com o trabalho agrícola, com o trabalho ao ar livre, a valorização do trabalho duro e a considerável independência na tomada de decisões. Observa-se assim, que o estudo realizado por Ruth Gasson deixa evidente os múltiplos objetivos e racionalidades que permeiam as ações e a tomada de decisão na agricultura. Outro fator importante que interfere na tomada de decisão é trazido por Lara (1991). O autor destaca a conexão entre os fatores: informação – formação – decisão – liberdade. O seu trabalho defende que quanto maior a formação e a quantidade de informação em torno de situações decisionais, maior a liberdade na tomada de decisão, possibilitando o atendimento da racionalidade e dos objetivos que se almeja. Neste sentido, surge uma importante questão quando se trata da agricultura e, principalmente, da agricultura familiar. Várias são as literaturas que destacam o risco e a 4 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural incerteza como elementos presentes e constantes no ambiente de tomada de decisão na agricultura. Segundo Meira e Sette (1996), a agricultura é um dos negócios com maior potencial de risco devido a sua estrutura competitiva e às singularidades inerentes à atividade: envolve elementos vivos, influenciados por variáveis climáticas, biológicas sob as quais não se tem domínio. Como ressalta Kimura (1998), muitos destes fatores de risco são apenas observáveis ou estimáveis, portanto, não controláveis diretamente, o que leva a um ambiente de incertezas. Portanto, em um ambiente de incerteza e risco, a questão da formação e informação adquire importância ainda maior. Isso é destacado também pelas constatações de Kageyama (2003, p. 05) quando analisa a produtividade e renda na agricultura familiar a partir dos efeitos dos investimentos da política agrícola Pronaf2 Crédito. Assim, afirma que “os produtores com mais escolaridade, devido à melhor informação e mais contatos, têm mais facilidade para buscar o Pronaf”. Neste aspecto para Kimura (1998), o desafio estaria em identificar as informações relevantes, analisá-las e avaliar seus impactos para a empresa, para cooperativas e associações ou mesmo para a propriedade rural individual. Apoderar-se destas informações é fundamental para que a tomada de decisão seja menos limitada e, portanto, contribua para encontrar alternativas mais satisfatórias, de acordo com o objetivo do decisor. Porém como ter acesso às informações pertinentes à tomada de decisões na e pela agricultura familiar? Ou, ainda, como processar e/ou avaliar aquelas informações essenciais a tomada de decisão? Entende-se que é neste momento que o capital social, o empoderamento e a governança trazem sua contribuição, podendo interferir positivamente na tomada de decisão. Cabe recordar que é de domínio público que a obtenção e processamento das informações são influenciadas pelo nível de escolaridade das pessoas. Neste sentido, a informação permite ao tomador de decisão decidir de forma adequada, ou seja, de forma que possa atingir seus objetivos. Nesse sentido, vale destacar que, de modo geral, no Brasil, os níveis de escolaridade são mais baixos no campo do que na cidade. Na tabela abaixo é possível observar que a escolaridade média dos agricultores é consideravelmente inferior aos demais setores. Em 2002 era de 3 anos, enquanto que a média das pessoas ocupadas na indústria girava em torno de 6,9 anos e nos serviços, 8,3 anos. Já a taxa de pessoas ocupadas com nível superior de ensino, em 2002, nos serviços era de 15,1%, na indústria 7,4% e na agricultura não passava de 1,0% (HOFFMANN e NEY, 2004). Ano 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 Agricultura 2,3 2,4 2,4 2,5 2,5 2,6 2,7 2,8 3,0 Indústria 5,6 5,7 5,9 6,0 6,1 6,2 6,4 6,7 6,9 Serviços 6,9 7,1 7,2 7,5 7,6 7,8 7,9 8,2 8,3 Total 5,8, 5,9 6,1 6,4 6,5 6,7 6,8 7,1 7,2 2 Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar criado em 1996 pelo Governo Federal. 5 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Tabela 01. Escolaridade média das pessoas ocupadas, por setor de atividade no Brasil (1992-2002) Fonte: Hoffmann e Ney, 2004. Da mesma forma, o acesso a diferentes informações torna-se mais facilitado no espaço urbano, nos centros industriais e de tomada de decisão e gestão do país. Isso é perceptível quando se observa a concentração e densidade de redes técnico-informacionais ao longo do litoral e das metrópoles brasileiras em relação ao restante do país. Importante mencionar que as experiências das quais tratar-se-á a seguir estão organizadas de forma coletiva. Este fato é influenciado pelo capital social existente na região (BANDEIRA, 2003). Por sua vez, a característica coletiva, a priori, permite aos agricultores um maior acesso a informações, sejam informações técnicas, sejam trocas de experiências entre agricultores. Nestas experiências observa-se também relativa atenção dispensada à formação dos agricultores e demais atores envolvidos. Com base neste cenário, entende-se que, quando o capital social conduz a ações coletivas na agricultura familiar, é possível um maior acesso a informação e mesmo à formação, além de trocas de conhecimentos e experiências. Isso permite um empoderamento dos atores locais/regionais, tornando possível o atendimento de múltiplas racionalidades da agricultura familiar bem como, a partir da governança, a construção de um processo de desenvolvimento territorial. 2. CAPITAL SOCIAL, EMPODERAMENTO E GOVERNANÇA DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL/REGIONAL X Para dar seqüência à exposição, considera-se importante definir o que se entende por desenvolvimento territorial local/regional, para em seguida demonstrar a contribuição do capital social, do empoderamento e da governança neste processo. Assim sendo, por processo de desenvolvimento territorial entende-se um conjunto de ações, mecanismos, estratégias e políticas endógenas, desencadeadas por atores locais/regionais em interação com as demais escalas de poder e gestão, reforçando e constituindo territórios por meio de novos usos políticos e econômicos. Nessa perspectiva, o desenvolvimento territorial se produz a partir do momento em que os atores, formando uma comunidade/sociedade, se reconhecem como tal e têm como referência primeira seu território. Projetam suas ações a partir de relações de poder (RAFFESTIN, 1993), desenvolvendo suas potencialidades (ambientais, humanas, econômicas), constituindo-se assim, como atores mais ativos na intervenção sobre seu território. Segundo Boisier et al (1995), o objetivo do desenvolvimento territorial é triplo: (1) o aperfeiçoamento do território entendido não como um container e suporte físico de elementos naturais, mas como um sistema físico e social estruturalmente complexo, dinâmico e articulado; (2) o aperfeiçoamento da sociedade ou comunidade que habita esse 6 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural território; (3) o aperfeiçoamento de cada pessoa, que pertence a essa comunidade e que habita esse território. Por sua vez, o adjetivo local/regional é acrescido a este conceito de modo a enfatizar o exercício de poder dos atores - sociedade civil, Estado e mercado - desta escala sobre o território, bem como a interação destes com os atores de escalas exógenas. É neste cenário de multidimensionalidade de atores, e no caso brasileiro, com a redemocratização do Estado que se abre a possibilidade da emergência do poder da sociedade civil, como um ator central nos processos de desenvolvimento territorial. Ou ainda, incapaz de acompanhar as rápidas mudanças em curso, o Estado passou a sofrer sucessivas alterações nas suas funções e incumbências, alterando o seu caráter centralizador para uma forma mais suscetível e permeável à participação das diversas instâncias e organizações da sociedade civil (SCHNEIDER; TARTARUGA, 2004 e RÜCKERT, 2005). Assim sendo, em regiões periféricas, nas quais predomina a agricultura familiar, a participação e o protagonismo dos atores locais em ações voltadas ao desenvolvimento, coloca-se como essencial para que estes processos venham atender as especificidades, as demandas, as necessidades territoriais. Dessa forma será possível contemplar a diversidade de racionalidades existente na agricultura familiar (MATOS, 1990) ou a racionalidade limitada e satisfatória (SIMON, 1978). Por sua vez, esta participação local, seja de agricultores familiares ou suas instituições/organizações, pode ser territorializada a partir da governança. A própria abordagem territorial do desenvolvimento se coloca muito próxima a esta questão devido à multidimensionalidade do poder presente e atuante sobre o território: Uma análise mais detalhada, mostra que o enfoque territorial é permeável às noções de governança (interação e regulação entre atores, instituições e Estado) e de concertação social ou coordenação de interesses de atores que transcorrem em um espaço determinado que é o território. Tanto a governança como a participação passam a ser entendidas como de fundamental importância para determinar o novo papel das organizações e instituições locais (SCHNEIDER; TARTARUGA, 2004, p.13). De acordo com Milani e Solinís (2002), a governança engloba a constituição de uma legitimidade do espaço público; a repartição do poder entre os que governam e os que são governados; os processos de negociação entre os atores sociais e a descentralização da autoridade e das funções ligadas ao ato de governar. Poder-se-ia afirmar, portanto, que a governança seria a prática pela qual se dá a gestão territorial do desenvolvimento, prática esta, que passa por processos de concertação entre atores, pelo estabelecimento e solução de conflitos e assimetrias, bem como pela formação mínima de consensos. É neste processo de concertação que se estabelecem as ações ou caminhos que permitem o aperfeiçoamento do território, da sociedade que o habita e de cada pessoa que pertence a esse território como anteriormente mencionado. E é dentro dessa dinâmica de 7 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural governança, que se abre a possibilidade de atendimento da racionalidade limitada e satisfatória da qual trata Simon. Porém, para uma governança efetiva, ou seja, capaz de gerar um processo de desenvolvimento territorial que atenda aos três objetivos acima mencionados, esta deve estar sustentada pelo empoderamento dos atores locais/regionais. O próprio conceito de território, central na ciência geográfica, está diretamente relacionado à questão do poder: são as relações de poder estabelecidas pelos atores sobre o espaço que definem e delimitam territórios. Portanto, quando se fala em desenvolvimento territorial, questões relativas ao poder e empoderamento se fazem presentes. A noção de empoderamento está amplamente difundida, principalmente no que se refere a processos de desenvolvimento, em políticas e programas de ONGs, bem como de agências de desenvolvimento, passando por temáticas que vão desde a saúde pública até gestão de empresas, por exemplo. Mas, como ressaltam Oakley e Clayton (2003), o conceito de empoderamento é mais facilmente exposto que posto em prática. Por outro lado, os autores destacam ainda que qualquer tentativa de avaliar se determinada ação permitiu à população “empoderar-se”, deverá reconhecer a observação do momento anterior, e por essa razão, uma compreensão do conceito do ponto de vista do desenvolvimento é essencial para a sua operacionalização e análise. Com base nisso, considera-se que uma forma de observar o empoderamento dos atores locais pode se dar a partir de sua capacidade de impregnar novos usos políticos e econômicos sobre o território (BECKER, 1993). Este processo, embora com fortes características endógenas, deve interagir com atores das demais escalas, afinal, o local não é auto-suficiente. Tal idéia parece corroborar com o que trazem Laverack e Labonte (2000), quando tratam de programas de desenvolvimento local e promoção da saúde. Para os autores, o empoderamento é definido como o meio pelo qual as pessoas adquirem maior controle sobre as decisões que afetam suas vidas; às mudanças em direção a uma maior igualdade nas relações sociais de poder, nas relações com quem detém recursos, legitimidade, autoridade ou mesmo influência. Ou ainda, é o “processo no qual uma ação é desenvolvida com o objetivo de garantir algum tipo de poder a uma pessoa ou grupo de pessoas” (MACHADO; HEGEDÜS; SILVEIRA, 2006, p.645). Contudo, é importante ressaltar que no caso da agricultura familiar, parece ser o poder exercido de forma coletiva – embora este se constitua a partir do individual – aquele que contribui mais significativamente para os processos de desenvolvimento territorial. E para que seja possível empoderar grupos de atores, o capital social tende a ser um elemento fundamental. O capital social possui uma natureza multidimensional. Refere-se a um conjunto de normas e redes sociais que afetam o bem-estar da comunidade, facilitando a cooperação entre os seus membros pela diminuição do custo de se obter e processar informação (MARTELETO, OLIVEIRA e SILVA, 2005, p.44). Na afirmação dos autores, fica visível a importância do capital social para a obtenção de informação, que, como mencionado anteriormente, tem importante papel na tomada de decisões. Dentre os muitos estudos sobre capital social, pode-se destacar três autores que referenciam grande parte das pesquisas sobre o tema, quais sejam, Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert Putnam. 8 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Para Coleman (1988), o capital social se aplica à área da educação possibilitando um crescimento do capital humano e escolhas mais racionais. O capital social seria assim, um recurso para o indivíduo que pertence a uma determinada estrutura. Bourdieu (1985), entende o capital social como a soma dos recursos decorrentes da existência de uma rede de relações de reconhecimento mútuo, institucionalizada em campos sociais. Cada campo social se caracteriza como um espaço onde se manifestam relações de poder (MARTELETO, OLIVEIRA e SILVA, 2005). Já para Putnam (2000), o capital social refere-se aos laços de confiança e reciprocidade, cooperação e solidariedade, estabelecidos entre atores que compartilham uma história, normas, valores, objetivos, obrigações, bem como canais de informação. Putnam (2000), ao estudar as discrepâncias entre o Norte e o Sul italiano, constatou que as administrações das regiões do Norte e Centro da Itália (NEC) apresentavam um desempenho melhor que as do Sul. O autor observou que essas diferenças não poderiam ser atribuídas ao grau de riqueza, mas poderiam estar relacionadas, por sua vez, às diferenças nas tradições cívicas das regiões. Estas tradições, conseqüentemente, poderiam estar contribuindo para a acumulação de capital social nas áreas com um grande número de associações, com um padrão horizontal de relações sociais. Tais tradições foram fundamentais na constituição dos distritos industriais da Terceira Itália. Estes distritos têm na cooperação entre pequenas empresas uma alternativa à competitividade. Isso pode ser percebido claramente quando Putnam afirma que: Em suma, nas repúblicas comunais do Norte da Itália medieval, as normas e os sistemas de participação cívica possibilitaram grandes melhoramentos na vida econômica e também no desempenho governamental. Mudanças revolucionárias nas instituições fundamentais da política e da economia resultaram desse contexto social singular, com seus vínculos horizontais de colaboração e solidariedade cívica, e esses progressos políticos e econômicos, por sua vez fortaleceram a comunidade cívica (PUTNAM, 2000, p.140-141). O estudo de Putnam evidencia a contribuição do capital social frente às pequenas estruturas, podendo-se incluir neste caso a agricultura familiar do noroeste gaúcho. As duas experiências que serão apresentadas a seguir são indícios3 de como o capital social permite o empoderamento dos atores locais/regionais levando à governança no que concerne a processos de desenvolvimento territorial. Além do mais, segundo uma pesquisa realizada no Rio Grande do Sul sobre capital social e o nível de organização social das regiões, é destacado que o Norte gaúcho tem na cultura associativa ou no capital social uma de suas maiores vantagens competitivas (BANDEIRA, 2003). Portanto, para finalizar esta seção, entende-se que o diagrama abaixo, resume as relações que se pretendeu evidenciar entre capital social, empoderamento e governança com o desenvolvimento territorial: 3 Usa-se o termo indícios, pois são necessários estudos in loco, que reforcem esta afirmação, os quais serão realizados ao longo da pesquisa de doutoramento da primeira autora. 9 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural capital social empoderamento governança Tomada de decisão Desenvolvimento territorial local/regional Aperfeiçoamento do território Aperfeiçoamento da comunidade Aperfeiçoamento de cada pessoa (racionalidades) Figura 01. Capital Social, empoderamento e governança Fonte: elaboração própria 3. DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL/REGIONAL E AS EXPERIÊNCIAS DE ORGANIZAÇÃO COLETIVA NO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL Nesta seção serão apresentadas duas experiências de organização coletivas que, a priori, são exemplos empíricos do que se apresentou acima. Vale mencionar que o noroeste do Rio Grande do Sul, é uma região na qual se destaca a agricultura, sobretudo a familiar. Cerca de 70% dos estabelecimentos agropecuários, em 1995, não possuíam mais de 20 ha (IPD, 1995). Mesmo não havendo unanimidade quanto a viabilidade econômica da monocultura em pequenas propriedades, a soja é o principal produto agrícola da região, sendo que cerca de 60% da área cultivável é destinada a esta oleaginosa. Nesse sentido, Brum (2002) destaca que um contingente elevado de propriedades com até 50 hectares, não tem conseguido resultados suficientes para se manterem na produção de soja. Neste caso, ou tais produtores serão excluídos desta atividade ou outras atividades econômicas financiarão a produção de soja em suas propriedades. Frente a tal realidade, surgem experiências apresentadas a seguir, orientadas pelas múltiplas racionalidades dos agricultores familiares. 10 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 3.1 OS PROJETOS DE MICRODESTILARIAS DE ETANOL NA AGRICULTURA FAMILIAR A organização social no noroeste gaúcho torna-se bastante evidente e expressiva a partir da mobilização dos atores locais/regionais diante dos problemas gerados pela chamada Revolução Verde4 na agricultura familiar a partir da década de 1970. Diante disso, desencadearam-se amplos movimentos de mobilização mediante o confisco da soja, pela queda da correção monetária no final da década de 1980, bem como contra a construção de barragens no rio Uruguai, vindo a ser um marco da organização dos atores locais/regionais na região. Destas mobilizações, resulta a Associação dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais Fronteiriços (ASTRF), um ator importante na mobilização em torno da constituição da Coopercana. Essa Cooperativa, por sua vez, era uma sociedade anônima (S/A) que, após decretar falência, é assumida pelos agricultores fornecedores de cana e funcionários, tornando-se uma empresa de auto-gestão sob forma de cooperativa. É hoje a única usina de etanol do Rio Grande do Sul, responsável pelo atendimento de 4% da demanda de etanol do estado5. Ambas, ASTRF e Coopercana são marcos da organização local/regional e parceiras nos projetos das microdestilarias. O capital social gerado neste processo possibilita hoje a organização e mobilização local/regional em torno da constituição destas microdestilarias, via recursos do Pronaf. Criou-se um consenso nesta escala em torno da idéia de que o Programa Nacional do Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) não se adequa às especificidades locais/regionais da agricultura familiar. Segundo Moreno e Ortiz (2006), o modelo brasileiro agroexportador de energia sofre críticas em razão dos (a) impactos ambientais com o avanço do desmatamento e destruição de ecossistemas; (b) impactos relacionados à mudança de uso da terra e no consumo de água; (c) balanço energético negativo; (d) competição alimentos X combustíveis, disputando terra agriculturável. Dessa forma, vale ressaltar que o PNPB, na medida em que tem minimizado impactos ambientais, pela substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis, acaba por acentuar outros. Segundo os próprios atores locais/regionais, o que tem motivado o desenvolvimento de projetos de produção de etanol em microdestilarias, buscando recursos via Pronaf e não via PNPB, são os ganhos ambientais e sociais que podem decorrer destes projetos. Nesse sentido, pode-se citar: geração de mais trabalho no meio rural; melhor remuneração das pessoas envolvidas; sistemas de produção mais sustentáveis e que sejam capazes de incrementar a renda das famílias; a possibilidade de integração das microdestilarias às demais atividades da propriedade, dentro de uma dinâmica onde se possa utilizar os subprodutos (a ponta da cana, o bagaço e o vinhoto), visando alcançar maior autonomia energética e alimentar das propriedades. Dessa forma, esta parece ser 4 A Revolução Verde consistia na introdução do capital industrial e financeiro na agricultura. Caracterizou-se por uma modelo de assistência técnica e extensão rural baseado na incorporação de máquinas e equipamentos, em novas técnicas de plantio e manejo do solo, no uso intensivo de pesticidas e fertilizantes e na colheita e armazenamento da produção. 5 Esta cooperativa foi foco da pesquisa de mestrado da primeira autora, no Curso de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS entre 2004 e 2006. 11 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural uma atividade capaz de atender a múltiplos objetivos e racionalidades dos agricultores familiares envolvidos. Outro aspecto importante a se destacar é o esforço das organizações dos agricultores familiares na busca pela inserção em toda a cadeia dos biocombustíveis (produção, transformação e comercialização). Este é um diferencial em relação a outros projetos que são pensados na lógica da integração com as indústrias, como no caso do leite, aves, fumo e suínos, bem como do próprio PNPB, na medida em que incentiva o fornecimento de matéria-prima pelos agricultores à indústria processadora do biodiesel. O capital social existente na região, conforme atestado por Bandeira (2003), permitiu (a) um processo de discussão e concertação em torno da inviabilidade da monocultura da soja e o (b) desenvolvimento de experiências coletivas e/ou cooperativas. Assim, pode-se citar que em municípios localizados na encosta do rio Uruguai, cresce a produção de frutas, especialmente uva, abacaxi, manga e laranja. Em outros, a produção de hortigranjeiros tem gradativamente se ampliado, começando a ocorrer também um incremento de agroflorestas (AMARAL, 2007). Pode-se citar aqui também a experiência do município de Crissiumal. Os projetos de microdestilarias, bem como inúmeras pequenas agroindústrias familiares, estão organizadas em cooperativas da agricultura familiar, centralizadas por uma cooperativa central – a Unicooper. Esta, juntamente com sindicatos de trabalhadores rurais, outras cooperativas e ONGs da região noroeste, vem dando suporte à discussão da produção de alimentos e do álcool combustível. “Essas e outras entidades se articulam na discussão energética através do Fórum de Energias Renováveis Missões e Fronteira Noroeste, formulando e buscando a implementação de modelos e políticas energéticas apropriadas à região e decididas com a participação dos atores locais” (AMARAL, 2007, p.33). Cabe destacar que o foco da Unicooper é a produção de alimentos. Grande parte destes alimentos é destinada ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e os demais são comercializados nas cooperativas e na central de vendas da Unicooper, no município de Santa Rosa. Assim sendo, a produção de etanol leva à diversificação da produção devendo ocorrer de forma integrada com as demais atividades nas propriedades. Dessa maneira, os atores locais/regionais consideram que a produção de álcool não prejudica a produção de alimentos, ao contrário, quando bem trabalhada, pode impulsioná-la, podendo os sub-produtos ser utilizados nos diferentes sistemas de cultivo e de criação nas propriedades (AMARAL, 2007). Dentro deste contexto, há 13 projetos de microdestilarias de produção de etanol existentes no noroeste gaúcho. Um está em funcionamento desde 2007. Esta microdestilaria localiza-se no município de Dezesseis de Novembro e é formada por cinco famílias. Conta com um investimento de noventa mil reais (R$ 90.000,00), sendo que deste valor R$ 55.000,00 provem do MDA/SDT (recurso não-reembolsável), R$ 22.000,00 do Pronaf/Cresol, R$ 5.000,00 da Prefeitura Municipal e R$ 8.000,00, recursos próprios do grupo beneficiário. Este projeto, de momento, está totalmente voltado à produção de álcool. 12 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Pode-se destacar ainda a Associação Agrícola São Carlos (AASCA), localizada no interior do município de Porto Xavier que reúne cerca de vinte famílias, com relativa participação de jovens. Os investimentos giram em torno de trezentos mil reais (R$ 300.000,00), recursos estes oriundos do Pronaf, financiados via Cresol-Porto Xavier e do próprio grupo beneficiário. Além da produção de álcool, está se estruturando a produção de açúcar mascavo, melado, cachaça, doces, panifícios e conservas. Os outros oito projetos estão na fase de aprovação e liberação de recursos, sendo que a perspectiva é de que sejam efetivados ao longo de 2008. Estas agroindústrias de pequeno porte terão como sede os municípios de Porto Vera Cruz, Campinas das Missões, Santo Cristo, Pirapó, Rolador, Giruá, Garruchos, São Miguel das Missões e São Luiz Gonzaga. No caso dos três últimos, destaca-se que serão executados em assentamentos do Movimentos dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). A soma dos investimentos nestes projetos perfaz um valor de oitocentos e vinte e nove mil reais (R$ 829.000,00) e envolvem, em média, quinze famílias por projeto. Nestes, os recursos destinados a aquisição dos equipamentos provém do MDA/SDT (recursos não-reembolsáveis), sendo que as Prefeituras entram com a contrapartida exigida em lei e, em alguns casos, auxiliam com serviços e no licenciamento ambiental. Os beneficiários responsabilizam-se pelas construções. Outros três projetos foram encaminhados recentemente ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), porém ainda não há perspectiva de aprovação e liberação dos recursos. Os grupos são dos municípios de Porto Lucena, Cerro Largo e Roque Gonzáles, somando um total de quatrocentos e oito mil, setecentos e oitenta e seis reais (R$ 408.786,00) e com previsão de beneficiarem cerca de quarenta famílias. Com estes projetos, cria-se uma perspectiva de superação da monocultura na agricultura familiar, buscando a melhoria de renda, quer seja produzindo o próprio combustível e reduzindo gastos com logística e transportes, quer seja pela comercialização do excedente, aliado à produção de alimentos e ao aproveitamento dos rejeitos, resultantes do processo de produção do biocombustível. Assim, gera-se externalidades ambientais e sociais positivas. Os próprios equipamentos das microdestilarias estão sendo produzidos de modo que seja possível a geração de mais de um produto final. Pode-se afirmar, portanto, que os atores locais/regionais têm se organizado em torno de uma especificidade territorial, qual seja, um micro-clima favorável à cana-deaçúcar, bem como a experiência já existente em torno deste cultivo, a qual data desde as reduções jesuítico-guaranis (1610-1756). O capital social que permite o desenvolvimento destas experiências coletivas possibilita a realização de atividades mais compatíveis sócio, econômico e ambientalmente para com seu território, atendendo ainda a múltiplos objetivos e racionalidades dos agricultores familiares envolvidos. Dessa forma, tem-se respondido a demandas locais, bem como àquelas mais gerais da sociedade, tais como, a geração e uso de biocombustíveis, a diversificação e consorciação de culturas que possibilitam maior manutenção da biodiversidade. Por outro lado, vale ressaltar que, sem o capital social que permitiu a organização local desde a década de 1970, possibilitando a busca coletiva por alternativas para a agricultura familiar, a euforia criada em torno do PNPB poderia comprometer a diversificação e a pluriatividade que volta a se fazer presente nas propriedades a partir da década de 1990. Portanto, na medida em que os atores locais/regionais se organizam e se 13 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural mobilizam em torno das especificidades e potencialidades sociais e ambientais de seu território, interagindo com atores das demais escalas, tende a se desencadear um processo de desenvolvimento capaz de aperfeiçoar o território, a comunidade e cada ator que forma essa comunidade. Inicialmente, os projetos de microdestilarias parecem constituir alternativas viáveis e sustentáveis para a sobrevivência material imediata e para a reprodução social das unidades de produção dos agricultores familiares, gerando externalidades positivas sobre as economias locais e o território. 3.2 O PROGRAMA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO AGROINDUSTRIAL PACTO FONTE NOVA – CRISSIUMAL Os atores locais do município de Crissiumal, frente aos problemas sócioeconômicos presentes em seu território, passaram a elaborar novas políticas de desenvolvimento. Desencadearam-se, assim, atividades que viabilizassem o setor agropecuário (base econômica do município), sem alterar a estrutura do espaço agrário, organizado em pequenas propriedades. Para tal, no ano de 1998, foi criado o programa Pacto Fonte Nova, hoje Cooperfontenova, com vistas ao desenvolvimento agroindustrial do município por meio da modificação de sua matriz produtiva, baseada principalmente na produção de soja. Porém, precedente ao Pacto Fonte Nova, desenvolveu-se o Programa de Fortalecimento da Atividade Leiteira, o Via Láctea. O Via Láctea buscou, por meio de cursos intensivos, trabalhar informações sobre sanidade animal, alimentação de bovinos e melhoramento genético. A primeira fase contou com a participação de 460 produtores de leite, que além da ajuda de custo receberam duzentos reais (R$ 200,00) para melhoria das instalações. Estes custos foram alocados pelo poder público municipal. Antes do Via Láctea, a produção leiteira de Crissiumal era de 40 mil litros/dia. Após a implantação do programa a produção passou a 95 mil litros/dia. Estes resultados levaram ao Via Láctea II. Vale destacar que essa ampliação ocorreu basicamente em função da informação difundida vias cursos de formação. O Pacto Fonte Nova surgiu por iniciativa do Poder Público Municipal, porém contou com o apoio de atores como Emater, ACI, Cooperativas, Bancos, Sindicato Rural e de Trabalhadores Rurais, o Hospital de Caridade entre outras lideranças locais que desencadearam a discussão sobre o desenvolvimento do município. A iniciativa tinha por preocupação a necessidade de buscar melhorias para o pequeno agricultor, visando à agregação de renda, de modo a evitar o elevado êxodo rural que tinha como destino a própria sede municipal, e também outras regiões do estado. Apoiou-se para tal na constituição de agroindústrias familiares. Tal como nas experiências anteriormente citadas, o capital social influenciou a constituição do Pacto entre diferentes atores locais. Este reúne: (a) agricultores, os quais produziriam novos produtos; (b) os comerciantes, que colocariam os produtos em seus estabelecimentos e (c) os consumidores, que comprometer-se-iam a dar preferência ao consumo dos produtos dos agricultores do município. 14 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural O Pacto conta atualmente com 44 agroindústrias e está gerando 260 empregos diretos. Agroindustrializa 111 produtos e gera um faturamento bruto de dois milhões, quatrocentos de cinqüenta mil reais (R$ 2.450.000,00) por ano (PACTO FONTE NOVA, 2006). O Poder Público Municipal e a Emater apóiam o programa por meio do fornecimento de material de construção para as agroindústrias, além do apoio técnico através de dois agrônomos, dois médicos veterinários, quatro técnicos agrícolas, um nutricionista e um vigilante sanitário. O Pacto deu origem ao SIM – Sistema de Inspeção Municipal – e à Central de Apoio. O SIM é responsável por liberar o Alvará de Inspeção Municipal e o Selo de Qualidade Fonte Nova. Já a Central de Apoio tem a função de coordenar e integrar as áreas do programa, além de apoiar os produtores e técnicos, desenvolvendo assim, serviços de melhorias da imagem dos produtos, marketing, auxílio na participação em feiras, na busca de novos mercados etc. O Fonte Nova conta com agroindústrias de queijos, pepinos em conserva, mel, melado, rapadura, embutidos, erva mate, sabão, aguardente e licores, bolachas coloniais, tijolos, vassouras, horticultura orgânica, produção de abacaxis, maracujá e acerola, além de compotas e doces de frutas impróprias para venda in natura. Essa organização local em torno do desenvolvimento reflete a implementação local de políticas estaduais (PAF) e federais (Pronaf). Conforme Raupp (2005, p.139), ...o Pacto Fonte Nova é um programa de âmbito municipal, com um desenho e um conjunto de orientações que lhe conferem uma identidade própria, (...). Nesse sentido, no aspecto particular de desenvolvimento de atividades agroindustriais vinculadas a agricultores familiares, pôde articular-se e beneficiar-se das ações e do contexto favorável criado pela implementação do PAF – SAA/RS no RS a partir de agosto de 1999 e das linhas de financiamento disponibilizadas pelo Pronaf na esfera federal. Vale destacar ainda que um dos ramos da agroindústria que mais se destaca no Fonte Nova é o voltado a cana-de-açúcar. Um dos exemplos mais bem sucedidos dentro do Pacto é o caso da cachaça orgânica Tropical Brasilis, exportada para a Europa. Essa organização em torno da cadeia da cana-de-açúcar, que se territorializa no Pacto Fonte Nova, fez com que Crissiumal fosse o primeiro município, fora os tradicionais municípios paulistas produtores de cana, a conseguir o custeio agrícola para a cultura junto ao Banco do Brasil S/A, obtendo recursos do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper), bem como o Programa Agroindústria Familiar (RAUPP, 2005). Importante mencionar ainda o processo de implementação do Pacto Fonte Nova constituiu-se de cursos, reuniões, visitas, intercâmbio com excursões, envolvendo os proprietários das agroindústrias. Grande parte destes proprietários participa atualmente do Circuito Turístico “Mundo Colonial”, criado em 2005 para atender ao grande número de excursões que visita o município. Hoje, Crissiumal é conhecido como Terra das Agroindústrias. Além de outras atrações culturais o Circuito está sendo consolidado com 15 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural cursos para qualificar os produtos, pessoas e ambientes envolvidos (MAIA, 2008). Neste caso, fica evidente a importância da formação e da informação dos atores para a tomada de decisão sobre a participação nestas experiências e seu desenvolvimento, bem como para a promoção do desenvolvimento territorial. Isso pode ser ratificado nos trechos a seguir, trazidos por Maia (2008): “O cara (sic) das cachaças, que tá (sic) exportando cachaça, o cara (sic) é formado, com mestrado em Desenvolvimento Rural. Veio em casa pra toca (sic) a propriedade, e construiu com os outros agricultores a agroindústria, no ano de 2000... Nós temos o rapaz dos ovos de codorna, que já trabalhava na cidade, e que voltou pra casa por causa da agroindústria... O cara (sic) da rapadura trabalhava lá em Sapiranga, numa fábrica de calçados, voltou para tocar a agroindústria... Nós temos agora o êxodo ao inverso” (mar.2007). “marcadamente, muitos filhos que antes queriam sair de casa, procurar um emprego, sair da propriedade, hoje está inserida no processo, possuem um Pronaf em seu nome, se emanciparam, ganham uma renda em função do trabalho na agroindústria que lhes proporciona a melhoria da autoestima e renda” (mar.2007). As afirmações acima, de atores envolvidos na experiência, evidenciam que o Pacto tem levado a um empoderamento dos atores locais na medida em que participam e desenvolvem este programa. O mesmo tem também atendido a diferentes racionalidades e objetivos dos agricultores familiares, tanto que há casos de jovens retornando ao campo, participando e gerindo as atividades nas pequenas propriedades rurais, realidade que é pouco verificada no meio rural. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como mencionado acima, tanto as microdestilarias quanto o Pacto Fonte Nova, são experiências endógenas, decorrentes da inviabilidade da monocultura da soja na agricultura familiar. Os atores locais/regionais, frente a esta realidade, tomam a decisão de desenvolver experiências coletivas, que melhor atendam a suas demandas e expectativas, seja objetivando maior renda, visando manter os filhos no campo, ou mesmo buscando atividades mais sustentáveis ambientalmente. Embora se tenha presente que haja ainda a necessidade de estudos mais aprofundados sobre esta questão, entende-se que existem fortes indícios de que o capital social existente e construído no noroeste do Rio Grande do Sul ao longo dos anos se territorializa em um considerável número de associações, cooperativas e representações de classe. Esse capital social foi fundamental para que os atores locais optassem ou tomassem a decisão de criar e participar do projeto das microdestilarias, bem como do Pacto Fonte Nova. 16 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Todo o processo de luta e mobilização que permeia a história regional desencadeou e reforçou a capacidade ou possibilidade dos atores locais/regionais estabelecerem relações de confiança e reciprocidade. Embora as propostas nos dois casos analisados tenham partido de entidades representativas ou de lideranças locais, a forma como estas experiências foram construídas, a partir de reuniões e discussões entre agricultores e demais instituições/organizações relacionadas, permitiu um empoderamento dos atores locais/regionais. Isso, por sua vez, levou a um processo de governança tanto no que diz respeito à tomada de decisão sobre a participação em tais experiências coletivas, quanto naquilo que se refere aos rumos das mesmas. No caso das microdestilarias, a própria experiência da Cooperacana levou a discussões e fóruns sobre o desenvolvimento da região. A partir de tais fóruns chegou-se a um consenso sobre a inviabilidade do PNPB para a agricultura familiar. Isso decorre tanto pelo fato de o programa incentivar a monocultura, quanto por levar a dependência da agricultura familiar à indústria de processamento. Tal realidade não possibilita a soberania alimentar nem energética almejada pela agricultura familiar da região. Buscou-se por isso, desenvolver projetos, via Pronaf, mais adequados à racionalidade dos agricultores locais/regionais. As duas experiências coletivas facilitam ainda o acesso às informações pertinentes à tomada de decisões na agricultura familiar, tanto pelo acesso a informações técnicas quanto pela troca de informações e experiências entre agricultores. Isso fica evidente no Pacto Fonte Nova. Além disso, vale mencionar que no caso da cana, esta é uma cultura mais rústica se comparada à soja, sendo mais resistente às intempéries climáticas, bem como pragas, reduzindo alguns riscos e incertezas inerentes à agricultura. Enfim, pode-se considerar que nas duas experiências houve um empoderamento dos atores locais/regionais, na medida em que estes têm impregnado novos usos políticos e econômicos do território, bem como se organizado de forma coletiva, deixando o cultivo da soja e optando por outras culturas e atividades, no caso, a agroindustrialização. Isso, por conseguinte, tende a gerar um processo de desenvolvimento territorial local/regional, levando a um aperfeiçoamento do território, da comunidade e de cada ator envolvido nas experiências. Certamente, esta não é a atividade mais rentável que pode ser desenvolvida pela agricultura familiar, mas tem sido satisfatória à racionalidade dos agricultores familiares, tanto que se observa o retorno de pessoas da cidade para o campo. REFERÊNCIAS AMARAL, Volmir Ribeiro do. Coopercana: Um símbolo de persistência e esperança. In: MORENO, Camila; ORTIZ, Lucia. Construindo a Soberania Energética e Alimentar. Experiências autônomas de produção de combustíveis renováveis da agricultura familiar e de enfrentamento do agronegócio da energia. Porto Alegre: Núcleo Amigos da Terra/Brasil, 2007. 17 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural BANDEIRA, Pedro Silveira. Desenvolvimento Regional, Cultura Política e Capital Social. 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