Romantismo ou romantismo? Uma aula de Literatura com traços de nossa brasilidade? “Tudo pelo Brasil, e para o Brasil.” (Gonçalves de Magalhães) Ao estudarmos, em nossas escolas, as fases em que o Brasil passou em sua produção literária, percebemos que um dos primeiros movimentos literários, o Romantismo, acaba por perpetuar-se em ações cotidianas. Este projeto se inicia com alunos de 2º ano do Ensino Médio, através da apostila Sistema Interativo de Ensino - CPB, o qual teve sua abertura com a apresentação de um painel sobre o assunto: O que sei? O que quero saber? O que descobri? Fonte: VIANA, Frank Carvalho. Pedagogia da Cooperação. São Paulo – Engenheiro Coelho, 2001. O painel possibilitou o desenvolvimento do objetivo inicial que consistia num debate sobre a distinção entre ‘romantismo’ de ‘Romantismo’, fundamental, além de ser muito proveitoso para compreendermos nossos traços de brasilidade. Cada aluno pôde citar a um redator suas dúvidas, curiosidades e afirmações sobre o assunto. A orientação dirigida levou muitos alunos a conceitos como o que chamamos de romantismo, sendo este definido como um movimento literário do sentimento, da atitude espiritual, do modo de agir e pensar caracterizado pelo sonho e pela atitude emotiva diante das coisas. Presumiu-se que esse comportamento romântico sempre existiu e vai existir – por ser atemporal. Porém, ao ser citado Romantismo, com letra maiúscula, verificou-se que deveríamos nos referir ao movimento literário da palavra, da arte, da poesia. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL • Porto Alegre • v. 2 • nº 1 • 2012 18 O projeto, desta forma, precisou de pesquisas sobre a Revolução Industrial, Francesa, Nacionalismo e outros temas para que os alunos compreendessem o nascimento do movimento literário nos sentimentos de um povo. Também foi importante uma pesquisa bibliográfica histórica sobre o ano de 1836, no Brasil, data que marca os passos iniciais para a transformação do pensamento literário e artístico por meio da poesia. Assim, concluir que o Brasil não tinha a estrutura social dos países industrializados da Europa (burguesia/proletariado), mas que a estrutura social brasileira ainda era marcada pelo binômio aristocracia/escravo não foi algo tão espantoso, porém, observar que isto fez com que muitos se opusessem ao pensamento árcade da época mostrou a evidência de mudança da natureza dos poetas que começaram a atravessar a palavra bem mais para o seu significado e revelação do que meramente as estruturas estéticas (BOSI, 2006). Averiguou-se ainda que a arte romântica rompeu as muralhas da corte e ganhou as ruas, as obras deixaram de ter um caráter prático dos trabalhos de encomenda e ganharam o valor da expressividade nacional. Outra pesquisa relevante foi sobre o poeta inglês Lord Byron (1788-1824), um escritor jovem que impulsionou novos escritores pela busca do romantismo. Concomitantemente, os alunos foram desafiados a buscar elementos românticos do seu meio social, que fizessem entrevistas e colhessem comentários sobre o sentimentalismo aparente ou não das pessoas com as quais convivessem sobre assuntos como: política, saúde, relacionamentos e morte, uma coleta de elementos que evidenciassem ou não comportamentos sentimentalistas românticos. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL • Porto Alegre • v. 2 • nº 1 • 2012 19 Sendo assim, o projeto estruturou-se em partes tais como: 1º) Audição de uma música romântica. “Deixa eu dizer que te amo”- Marisa Monte ou “Confissão” – Marcelle Fonseca e 1º AULA Felipe Pollhein. Confissão Tão sem graça era a vida até o dia em que eu te encontrei. Tudo ganhou forma, rima, cores, luzes, Com você e... Sem pedir você sorriu e veio a mim Tomou meus pensamento e me conduziu até aqui pra confessar pra todo mundo meus desejos.. Sem reservas, sem medidas, hoje entrego tudo o que é meu: Corpo e alma, voz e vida, mãos e lábios... Tudo é seu e hoje eu vim dizer: Que sim, que "tô a fim". E topo qualquer coisa pra te ver feliz. Já decidi, vai ser assim até os dias de velhinhos... Tomo Deus por testemunha aqui, pra te dizer que o céu é pouco pra expressar o quanto eu AMO VOCÊ! 2º) Construção de um painel sobre as características românticas encontradas na música e colagem de fotos/imagens românticas. 3º) Atividade em trios: Nos anos 1980, foi moda entre os pré-adolescentes um álbum de figurinhas chamado Amar é... , em que um casalzinho aparecia cada vez numa cena diferente e, abaixo da cena, vinha uma definição do que é amar. Esse álbum inspirou a proposta desta aula: “Aluno, você, certamente, valoriza uma série de atitudes no seu relacionamento amoroso. Redija, com seus colegas de grupo, definições de palavras que se relacionem a amor.” 4º) Tipos de amor para os gregos: philia (familiar), storge (amizade), Eros (paixão),ágape (altruísta, divino). Qual deles o nosso Romantismo ou romantismo exaltam? Como? paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL • Porto Alegre • v. 2 • nº 1 • 2012 20 1º) Apresentação através de slides de um poema romântico. 2º) Diferenciar: Romantismo de romantismo. 3º) Apresentação em fotos, slides, do cenário romântico que o mundo viveu no 2º AULA século 18. 4º) Comentar: O Romantismo teve início na Alemanha e na Inglaterra no final do século XVIII, passando pela França, e aos poucos se espalhou por toda Europa de onde se difundiu para a América. O Romantismo permanece no cenário literário até por volta da primeira metade do século XIX, quando apareceram as primeiras manifestações realistas. 5º) Quem foi Lord Byron o poeta inglês (1788-1824)? Revista VEJA edição 2230 – ano 4 4 - nº33 - 17.08.2011 - pp. 162, 163. 6º) “Habitantes do Planeta BYRON” A influência deste para: • Álvares de Azevedo • Drácula • David Bowie • Alexander Mcqueen 1º) O mal do século, o que foi? Amor de perdição, Almeida Garret 3º AULA 2º) Características do Romantismo. *INDIVIDUALISMO *EMOÇÃO *ESCAPISMO *LIBERDADE 3º) Breve enquete: O Brasil ainda possui características do Romantismo? Onde podemos vê-las? 4º) Como explicar a produção literária de tantos poetas como Castro Alves que elaborou poemas de cunho social, lírico amorosa? E os romances de José de Alencar que se dividiam em históricos, rurais, indianistas, regionais, urbanos? E ainda o tetro romântico de Martins Pena? paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL • Porto Alegre • v. 2 • nº 1 • 2012 21 5º) Hoje, o cinema, a televisão estão transmitindo romantismo em sua essência? A realidade tem sido revestida de romantismo? 4º AULA 1º) Agora, por quê? • Damos tanto importância ao primeiro beijo, ao primeiro sutiã, ao primeiro (a) namorado (a), ao primeiro dia na escola, e tantos outras coisas que fazemos pela primeira vez? Seria sentimentalismo, saudosismo? • Carregamos conosco, ainda, características do Romantismo? • Como compreender a música de Djavan “Meu bem- querer”, um texto contemporâneo? Há características românticas? Meu bem-querer É segredo, é sagrado Está sacramentado em meu coração Meu bem-querer Tem um quê de pecado Acariciado pela emoção Meu bem-querer,meu encanto To sofrendo tanto Amor E o que é o sofrer Para mim que estou Jurado pra morrer de amor 2º) Complementação do painel: “O que descobri?” 3º) Leitura da crônica de Arnaldo Jabor “Seremos mais felizes como coisas?” (Jornal O Sul, 04.10.2005) 4º) Produção de uma resenha crítica sobre o que foi estudado sobre o Romantismo. 5º) Exposição, na escola, dos painéis (releituras de alguma obra) e resenhas elaboradas pelos alunos. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL • Porto Alegre • v. 2 • nº 1 • 2012 22 Através deste estudo, pôde-se perceber uma forma de aprendizagem mais pessoal, em que cada estudante pôde apoderar-se de ideias e transmitir as suas sem prejuízo ao trabalho, visto que, em princípio, a pesquisa denominou-se empírica para, em seguida, ser confrontada com a pesquisa bibliográfica. Esta proposta de trabalho com o texto literário em que se priorizou a discussão e a análise entre professor e alunos, dentro de uma relação de diálogo, trocas e respeito proporcionou vislumbrar a Literatura como a expressão do próprio homem, capaz de conduzir ao autoconhecimento e por sua natureza ficcional, à imaginação. Referências BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 43ª Edição. SP: Cultrix, 2006. BRASIL, Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental - Brasília - MEC/SEF. 1998 KNIGHT, George R. Filosofia e educação: uma introdução da perspectiva cristã. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista. Centro Universitário Adventista de São Paulo, 2001. LIBÂNEO, J.C. Didática. 2ª Ed. São Paulo: Cortez; 1994. LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. A pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MACHADO, Jónatas Eduardo Mendes. A liberdade religiosa numa comunidade constitucional inclusiva. Coimbra: Coimbra Editora, 1996. MARCONDES, Lea Rocha Lima; SEEHABER, Liliana C. A identidade do ensino religioso, do rito cristão na história da educação brasileira. Revista Educação em Movimento, Curitiba, v.3, n.9, p.17-28, set-dez. 2004. VIANA, Frank Carvalho. Pedagogia da cooperação – uma introdução à metodologia da aprendizagem cooperativa. Imprensa Adventista. Centro Universitário Adventista de São Paulo – Engenheiro Coelho, SP; 2001. WHITE, E.G. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. Revista VEJA. Lord Byron. Edição 2230 - ano 44 - nº33 - 17.08.2011 - pp. 162, 163. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL • Porto Alegre • v. 2 • nº 1 • 2012 23 Denise Reis - Graduada em Letras - Português e respectivas Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA. Atualmente, cursa o Mestrado em Letras pelo Centro Universitário Ritter dos Reis - Unirriter (Laureate International Universities), realizando pesquisa em análise do texto. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Colégio Adventista de Porto Alegre – RS, e é colaboradora no site www.educacaoadventista.org.br. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL • Porto Alegre • v. 2 • nº 1 • 2012 24