Contexto Histórico de Pintura de Susana Bravo
Resumo
Susana Bravo é uma artista portuguesa de arte contemporânea. Nasceu no Porto em 1960
e é filha de mãe inglesa e pai português. Esta dupla nacionalidade influenciou o estilo das
suas obras. Estudou no Porto e fez estágios na cidade do México e em Bruxelas. Participou
em várias exposições colectivas e individuais em Portugal e noutros países estrangeiros. As
suas obras estão expostas em espaços públicos e em diversas instituições. No estrangeiro está
representada nos Estados Unidos, Brasil, Suécia, Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda e Espanha.
É conhecida pelas suas pinturas de técnica mista, que retratam histórias narrativas e o mundo
da mulher. A obra, To have or not to have, que vai ser o foco de estudo da técnica pictórica
e do estado de conservação, insere-se no estilo, relativamente, recente da artista, de técnica
mista e colagens. Retratos antigos do fim do século XIX fazem parte da composição, tendo
sido repintados. A obra integrou a exposição na Galeria “Amor à Arte”, no Porto em 2004,
juntamente com duas outras pinturas com técnicas semelhantes a esta.
Este levantamento do contexto histórico de Susana Bravo, vai debruçar-se sobre a biografia da
artista, o seu percurso artístico, exposições em que participou, descrição do estilo e a evolução
das obras.
A Artista, Susana Bravo
Susana Cochrane Bravo nasceu no Porto no dia 22 de Janeiro de 1960, no Hospital Britânico do
Porto. É filha de mãe inglesa e de pai português e é a primeira de quatro irmãos.
Figura 1 – Susana Bravo, na sua exposição “O Circo Aberto” na Galeria Artes Solar Sto. António, Março de
2008, Porto. (Imagem fornecida por Susana Bravo)
Materiais e Técnicas de Pintores do Norte de Portugal – Processo nº 3-6-15-6-1199 (QREN)
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“(…) Logo que comecei a respirar, senti que a minha vida não ia ser fácil. Nasci numa família
Católica, apostólica, romana, burguesa e republicana. (…) 1”
Embora vivendo e estudando em Portugal, quando ainda jovem ia, frequentemente, a
Inglaterra visitar a família. Estes laços familiares que sempre manteve entre a sua família
inglesa e portuguesa, fizeram com que a artista se sentisse à vontade entre estes dois
mundos, completamente, diferentes. Esta anglo-portuguesa sempre se movimentou com
muito à-vontade entre ambas as sociedades. Talvez este facto tenha tido, inconscientemente,
alguma influência nas suas obras. Ao olharmos para as suas pinturas temos a sensação de
que Susana Bravo tende a retratar, subconscientemente e com uma certa nostalgia, memórias
da sua infância. E é com muito carinho que inclui nelas motivos de plantas, flores, animais,
histórias e contos, objectos do dia-a-dia, família e na maioria das vezes, focando na imagem
da “Mulher” como figura principal.
Formação e Exposições
Susana Bravo frequentou o curso de Estilismo/Design de Moda no Porto durante os anos de
1979 e 1981. No último ano fez um estágio com o Prof. Escultor Jorge Alácron, na cidade do
México.
De 1982 a 1984 estudou no curso de ingresso no Ensino Superior Artístico (Árvore) (C.I.E.S.A).
Fez uma exposição colectiva no seu último ano na Galeria Roma e Pavia, Porto. Nos anos de
1984 a 1987 fez um curso superior de pintura, na Escola Superior Artística, Árvore. Durante
o curso, em 1986, esteve na Bélgica a realizar um estágio em gravura com o Prof. Dacos, na
Escola das Belas Artes de Bruxelas. Também esteve envolvida nas exposições colectivas da
Galeria Olharte, Lisboa (1985); Mostra de Pintura Contemporânea Portuguesa – Bordéus,
França (1986) e na Casa de Trás-os-Montes, Porto (1987).
Em 1988 fez uma exposição individual na Casa das Varandas em Valença do Minho e outra em
1989 no Café-Bar Português Suave no Porto. No mesmo ano tirou um Curso de Moderadora
na Universidade de Cambridge.
Desde então fez várias exposições colectivas e individuais no Porto, Vila Nova de Gaia no
Espaço Sandeman; em Lisboa, Santa Maria da Feira, Vila Nova de Cerveira, Vila Real, Viana
de Castelo; Póvoa de Varzim; Paços de Ferreira e Coimbra na Galeria Santa Clara. Também
fez exposições no estrangeiro, nomeadamente, em Londres no Lethaby Gallery, St. Martins
College of Art; em Salvador Brasil na Galeria ACBEU; e nos Emirados Árabes no Sharjat Art
Museum.
No Porto, as exposições que mais se destacam foram realizadas na II Exposição de Pequeno
Formato; Ateneu Comercial; Café-Bar Português Suave; Galeria Labirintho; Galeria da Calçada;
Árvore; Galeria Lóios; Galeria 37; Galeria Eugénio Torres; Arte e a Natureza; Porto Feliz; Por
Amor á Arte Galeria; Galeria B20; Galeria Belomonte; Galeria Esteta; Galeria Aviz; Galeria Arte
No Cais; e na Galeria Artes Solar Sto. António.
1 Susana Bravo 1996 (extraído do panfleto da Exposição de Pintura de Susana Bravo no Jardim – Museu Tropical, de 12 a 28
de Dezembro de 1996)
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Em Lisboa, no Convento do Beato; Galeria de Arte do Casino do Estoril; Jardim do Museu
Tropical; EXPO 98 no Pavilhão da Cruz Vermelha; Galeria Vértice; e Mãe d’Água.
Sempre esteve envolvida em causas solidárias e ajudou a angariar fundos em exposições
organizadas pela Assistência Médica Internacional (A.M.I.); Cruz Vermelha; Liga Portuguesa
Contra o Cancro e nos Clubes dos Rotários.
Expôs várias vezes em exposições organizadas pela Associação Nacional dos Jovens Empresários
(A. N. J. E.), e em 1995 recebeu o Prémio de Aquisição - A. N. J. E.
Marca presença constante nas exposições Bienal de Arte, em Vila Nova de Cerveira.
As suas obras estão expostas em espaços públicos e em diversas instituições, nomeadamente,
na A.N.J.E. , Formajuda e na Fundação da Juventude. No estrangeiro está representada nos
Estados Unidos, Brasil, Suécia, Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda e Espanha.
Continuou os seus estudos fazendo vários “workshops” de aguarela, gravura e desenho. Em
1996 e 1997 fez um Workshop de Aguarela com Paul Waplington, frequentou o Summer School
Drawing em Chelsea; a Art School em Londres e em 1999, a SLADE Summer School, também
em Londres.
Actualmente, continua a pintar e é professora de arte no Oporto British School, no Porto, há
mais de 20 anos.
Descrição do estilo das suas obras
Ao perguntar a Susana Bravo como define o seu estilo de pintura, a artista considera enquadrarse no estilo Magic Realism. Um termo utilizado pela primeira vez em 1925 pelo crítico de arte
alemã, Franz Roh. Trata-se de uma forma de arte onde existem elementos mágicos ou cenas
ilógicas que têm um enquadramento, aparentemente, “normal” ou realístico, sendo também
muito utilizada em obras de literatura, em arte e em filmes2.
Magic/Magical Realism é visto pelos post-modernistas como uma forma de arte mais jovem e
popular, com o objectivo de entreter o observador. Também se considera intermutável com o
Pós Expressionismo, que dá expressão, vida e valor aos objectos do dia-a-dia. O uso de detalhes
em miniatura, até em pinturas de grande dimensão, é muito comum neste estilo de arte. Esta
vertente é mais utilizada na Arte Americana Latina. Como exemplos de artistas relacionados
com este género artístico, podemos referir Frida Kahlo, Rufino Tamauo, Joaquin Torres-Garcia,
Fernando Botero e Leonora Carrington.
Olhando para os trabalhos de Susana Bravo, ficamos diante de obras cheias de detalhes, formas
e cores. São pinturas figurativas, que por norma, contêm, pelo menos, uma figura feminina.
A sua técnica é uma mistura de pintura a óleo, acrílico, aguarela, pastel e carvão em conjunto
com o uso de colagens em papel, fotografias, esboços antigos, cartas, revistas, tecidos etc. A
artista gosta de incluir objectos do dia-a-dia nas suas obras, dando assim vida aos objectos,
que se relacionam com o movimento Neo/Pós Expressionismo.
“(…) Eu trabalho sobretudo em narrativa, e conto sempre uma história ou várias histórias (…)
2 Informação de Magic Realism adquirido no site de Wikipedia (http://en.wikipedia.org/wiki/Magic_realism)
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a razão por que uso técnicas mistas é que vou buscar coisas do passado: folhas de papéis
antigos; obras; cartas; outras vezes tenho até desenhos meus feitos, sei lá, dez ou quinze anos
atrás ou até há mais de vinte. Às vezes uso desenhos de outras pessoas, coisas que pessoas não
gostam e que deitam fora, cartas, telegramas, jornais antigos (…)3”
Susana Bravo descreve o seu trabalho da seguinte forma: “O meu trabalho é, essencialmente,
uma forma de narrativa que visa saciar, primeiramente, a minha paixão por entender as
mulheres em geral, assim como eu mesma e, em segundo, o fundamental, ingénuo e antigo
prazer que os humanos têm com histórias e contos. Em alguns casos, as minhas pinturas são
auto-biográficas e em outras, estão baseadas em observações de vidas de mulheres comuns,
sejam elas “reais” ou “personagens fictícias”. Ao contar histórias, eu tento entreter e provocar,
desenhando um observador dentro do meu trabalho, tocando a sua curiosidade natural, o seu
desejo de conhecer as personagens, os eventos que os envolvem, onde ocorrem e quem provoca
esses eventos. Eu espero que aqueles que vêm os meus quadros o façam com a mente aberta
e com vontade de entender como vejo a arte de observar, como um acto criativo. Acredito que
só com algum esforço o observador pode receber a “iluminação da vida”. Quero que os meus
quadros provoquem discussões sobre a conduta, motivações, conflitos e a essência da alma.
O fundamental no meu trabalho é a “obsessão” de criar através de personagens e histórias
uma “ Imagem da Vida”. Eu vejo as minhas imagens como um instrumento de precisão para
registar o que descubro sobre a vida enquanto vivo. Acho que os meus quadros se desenvolvem,
dependentes de mim, como seres no útero de certa forma independentes, mas ainda que
alimentados por mim”4.
As suas pinturas são desenvolvidas e influenciadas pelos seus “altered books”, extremamente
pessoais. Estes consistem na combinação de livros de esboços e diários, criados pela artista.
Tendo começado com livros de esboços, passou a criar diários, e voltou aos livros de esboços.
Depois, fez uma mistura dos dois, utilizando livros antigos e alterando-os com esboços,
gravuras, fotografias, notas e colagens, para recordar certas ocasiões especiais. Inicialmente,
costumava apenas colar imagens que gostava, esteticamente, mas depois desenvolveu-se num
projecto mais pessoal, decidindo, então, colocar imagens que gostava de ver, numa parede de
notas, e trocava-as, frequentemente.
Fazia isto porque sentia que a sua vida estava cheia de acontecimentos e como tinha a tendência
para os esquecer, usava este método para a ajudar a relembrar e a sorrir.
Neste seu trabalho, também inclui bilhetes, convites, brochuras de exposições que frequentou
e de que gostou, ou nem por isso, e objectos simbólicos, com história. Simultaneamente,
expressa as suas emoções, como por exemplo, escrevendo numa página “bad day”.
Detesta ver coisas inacabadas. Considera as suas obras como acabadas, quando se sente
satisfeita com o seu aspecto final.
Susana gosta de ler e o seu atelier e casa estão repletos de livros. A literatura é uma das
suas grandes influências, especialmente sobre pintura narrativa. Por exemplo, as pinturas
3 Entrevista dada ao Porto Canal na Exposição Colectiva de Arte Versátil na Galeria Arte No Cais, Porto, 19 de Outubro de 2008
(http://www.youtube.com/watch?v=crMh-uPANm4)
4 Susana Bravo 2002/3. (texto fornecido por Susana Bravo)
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expostas em 2008/9 no Restaurante Cafeína, no Porto, foram influenciadas na obra de William
Shakespeare, “Midsummer Night’s Dream” (Sonho de uma Noite de Verão).
Manifesta um grande interesse por arte Africana e Indiana, especialmente, pelos padrões e
pelas cores características. As suas visitas a Marraquexe e Marrocos, ofereceram-lhe muitas
propostas que marcaram a sua arte. Admira os retratos, tendo um especial apreço pelos
existentes no Museu Nacional Soares dos Reis. As ilustrações infantis e as revistas antigas, são
outras das influências sentidas, e que, por vezes, são coladas nas suas próprias obras.
Ao perguntar quais são os artistas que mais a impressionaram; a pintora responde que se
tratam de Stanley Spencer; Paula Rego; Lucian Freud; Balthus; Edward Hopper; Vermeer; e
Henrique Silva.
O meio com que tem maior convivência é com os artistas que expõem nas Galerias próximas
da Rua Miguel Bombarda (Porto) e na Bienal de Arte (Vila Nova de Cerveira). Destes, destacase Henrique Silva, que embora, sendo seu amigo e professor, é quem mais, a artista, admira.
Ao longo dos anos, Susana Bravo, conseguiu criar o seu próprio estilo, que transparece em todas
as suas pinturas. A este respeito, Henrique Silva descreve-a como sendo: “Situada entre o “Pop”
e o “Pós-pop”, com uma leve passagem pelo Neo-expressionismo, a pintura de Susana Bravo
é bem um bom exemplo da jovem pintura contemporânea, que, sob uma grande influência de
Lichtenstein, se tem desenvolvido nos Estados Unidos, (veja-se Kenny Scharf, Julian Schriabel,
Lari Pittman, entre outros). Integrada no espírito universal da criatividade, Susana sabe, no
entanto, conservar a sua raiz cultural ao transpor para a tela os seus personagens, as suas
plantas míticas, os seus objectos, multiplicando atmosferas no mesmo espaço, comprovando a
sua natureza apaixonada, mas extremamente angustiada. (…)5”
No prólogo do livro de catálogo da exposição de Susana Bravo realizada na Galeria Eugénio
Torres, de 26 de Maio a 16 de Junho de 2000, Sérgio Correia comenta que a artista é, “(…) Uma
personagem muito “sui generis”. A sua serenidade impressiona, sobretudo quando se sabe que
se trata de uma Artista, lutadora nata, logo, em procura constante. Uma luta que assume em
nome da seriedade, do rigor, da independência vista no seu duplo aspecto – a sua vida e a obra
que paulatina e obstinadamente vai construindo. (…)6”
Os seus principais objectivos são: ser feliz, transmitir a sua felicidade e, simplesmente, pintar.
No futuro, tem uma aspiração especial pela publicação dos seus livros “alterados”, que
constituem uma fonte riquíssima de simbolismo, de entendimento da sua pintura e do próprio
mundo da artista.
Sérgio Correia refere também que, “(…) Vê-se que sente uma felicidade plena naquilo que
faz, que inventa, patenteia um carinho especial por tudo aquilo que a rodeia, sobretudo o seu
mundo, a família e o seu Atelier, principalmente… vê o que se passa à sua volta e verifica, em
contraste com esse seu bem-estar, o que é realmente a vida e o que é a condição humana. Para
a artista, a vida é uma coisa muito séria e, por isso, coloca em todos os seus trabalhos uma
5 Henrique Silva, Vila Nova de Cerveira, Abril de 2002
6 Sérgio Correia 2000 (TORRES, Galeria Eugénio; Susana Bravo, Catálogo de exposição realizada na Galeria Eugénio Torres, de
26 de Maio a 16 de Junho de 2000; Galeria Eugénio Torres; Porto; Maio 2000)
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grande seriedade e o necessário brilho nos olhos, sinónimo de esperança no porvir. (…)7”
“(…) A sua pintura é, assim e antes de mais, um meio de comunicação que, de forma muito
subtil, estabelece com o público, propondo-lhe uma mensagem que pretende seja feliz, se
entenda e, se possível, se goste. (…)8”
“(…) Iconologicamente, a obra de Susana Bravo centra-se no seu Atelier e num círculo de
ternura criado à sua volta através de figuras humanas, de crianças, meninos e meninas e
animais, ocupando a Artista, regra geral, e centro deste espaço. (…)9”
Por ocasião da Bienal de Cerveira de 2005, Henrique Silva menciona que Susana Bravo propõe
partilhar o seu mundo interior através da pintura, “(…) De revolta em revolta Susana Bravo
vai construindo um mundo que é só seu e que quer partilhar não só com o espectador, mas
também com aqueles que são filhos de um Deus Maior: os que comunicam emocionalmente o
seu próprio “eu”, sem umbilicalismos e preconceitos. (…)10”
Evolução artística
As suas primeiras obras eram mais simples e aparentavam a influência da técnica utilizada
em aguarela. Pintava cadeiras, naturezas mortas e objectos do dia-a-dia com um toque de
expressionismo, devido ao uso de cores vibrantes, que davam uma certa vida e movimento
aos objectos (fig. 2).
Figura 2 – “Sem Título” de Susana Bravo, 1993, pintura a óleo sobre tela, 160cm x 120cm, colecção particular.
(Imagem fornecida por Susana Bravo
7 Sérgio Correia 2000 (TORRES, Galeria Eugénio; Susana Bravo, Catálogo de exposição realizada na Galeria Eugénio Torres, de
26 de Maio a 16 de Junho de 2000; Galeria Eugénio Torres; Porto; Maio 2000)
8 Sérgio Correia 2000 (TORRES, Galeria Eugénio; Susana Bravo, Catálogo de exposição realizada na Galeria Eugénio Torres, de
26 de Maio a 16 de Junho de 2000; Galeria Eugénio Torres; Porto; Maio 2000)
9 Sérgio Correia 2000 (TORRES, Galeria Eugénio; Susana Bravo, Catálogo de exposição realizada na Galeria Eugénio Torres, de
26 de Maio a 16 de Junho de 2000; Galeria Eugénio Torres; Porto; Maio 2000)
10 Henrique Silva, Vila Nova de Cerveira, Setembro de 2005 (extraído do panfleto da exposição “A Bagagem da Verdadeira
Princesa” de Susana Bravo realizada na Galeria de Arte Aviz, realizada nos dias 7 a 29 de Outubro de 2005)
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Subsequentemente, começou a criar obras figurativas. Tinha como tema a mulher ou a jovem
mulher, colocando-as em contexto narrativo, como se fosse uma história de infância. A paleta
de cores variava entre os tons bege, amarelo, branco, vermelho e castanho (fig. 3).
Pouco a pouco, foi incluindo mais detalhes nas suas pinturas, como os seus animais de estimação,
(sobretudo, o gato que continua a aparecer nas suas obras mais recentes), o ambiente do
atelier, da escola onde trabalha e, criando assim mais histórias dentro da composição.
Figura 3 – “Sem Título” de Susana Bravo, 1994, pintura a óleo sobre tela, 100cm x 81cm, colecção particular.
(Imagem fornecida por Susana Bravo)
Este gosto desenvolveu-se, ensaiando e experimentando técnicas mistas de colagem e de
pintura, que definiu o seu próprio estilo como hoje é conhecido, continuando a explorar o
tema da mulher e das experiencias da própria vida. Entretanto, a paleta de cores tornou-se
muito mais abrangente e variada (fig. 4).
A artista gosta de variar a técnica pictórica e, muitas vezes, pede ao seu fabricante de telas,
para virar o suporte ao contrário para, assim, poder pintar, directamente, sobre no têxtil e
não na camada de preparação. No entanto, antes de pintar, aplica em, algumas zonas, uma
camada de cola branca. As telas são feitas, especialmente, para a pintora e segundo as suas
recomendações quanto às dimensões. A composição final é criada a partir de mosaicos
compostos por várias telas. Os suportes que utilizou nas obras são, na sua maioria, de tela,
mas também pinta sobre papel e sobre cartão. Houve alturas em que escolheu a cerâmica
como substrato pictórico.
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Figura 4 – “Kusaka” de Susana Bravo, 2008, Técnica Mista, 180cm x 240cm, colecção particular.
(Fotografia do Dr. Jorge Coelho)
Os seus “livros alterados” constituem uma grande influência na criação das obras (ver figura
5). A figura da mulher é uma presença constante, cheia de sentimento e simbolismo próprios.
Susana Bravo afirma que na sua arte, a interpretação está, completamente, aberta ao
observador, mas o seu objectivo é partilhar e transmitir felicidade.
Figura 5 – Exemplo de uma página de um dos seus “Livros Alterados”, 2004/5. Técnica mista, de colagem e
gravura sobre um livro antigo. (Imagem fornecida por Susana Bravo)
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Por vezes é perceptível uma certa nostalgia presente nas suas pinturas. Talvez seja o uso de
objectos antigos que, possivelmente, fizeram parte do seu passado e que despertam memórias
de infância na pintora.
Qualquer pessoa fica hipnotizada ao observar os variadíssimos, e por vezes, minuciosos
pormenores utilizados nas suas pinturas, compostas por uma harmonia de cores equilibradas,
criando assim um resultado final feliz.
Enquadramento da pintura em estudo
A obra, que será objecto de estudo posterior, intitulada To have or not to have, foi pintada
entre os anos 2003 e 2004 (fig. 6). Nesse mesmo ano, foi exposta na “Por Amor à Arte
Galeria”11, no Porto, com outros dois quadros. Cada um destes três quadros é composto
por várias telas. Susana Bravo incorporou quadros antigos, aproximadamente, dos finais
do século XIX, juntamente, com telas novas, os quais foram repintados. Criou, assim, uma
composição contemporânea, associando, duma maneira interessante, o antigo com o
moderno. Nestas obras estão presentes as figuras e motivos que são característicos do estilo
da artista.
Figura 6 – To have or not to have de Susana Bravo, 2003/04, Técnica mista, 222,5 cm x 88 cm, colecção
particular. (Fotografia de Dr. Luís Pereira Carvalho, Abril 2009)
Este conjunto de quadros, pode ser considerado como um leque de obras, relativamente
recentes, por terem sido executadas com técnica mista e colagens. Reflectem uma fase
experimental, na qual a artista utilizou diversos materiais como: o uso de retratos antigos,
incorporando-os na composição de várias telas, com colagens de recortes de revistas, livros
antigos, folhas metálicas de bombons de chocolate, desenhos antigos, tecidos, cartas, moedas
antigas, fotografias a preto e branco, com o uso de cola branca, pintura a óleo, acrílico, pastel
e carvão. É de salientar, que, na altura em que as obras estavam ainda a ser pintadas, houve
necessidade de proceder à sua conservação, devido à fragilidade do suporte de tela dos retratos
11 POR AMOR À ARTE Galeria fica localizada na Rua Miguel Bombarda, nº572, 4050-379 Porto, Portugal
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antigos que se rasgavam com facilidade durante o manuseamento da obra, apresentando zonas
de rasgos, destacamento e lacunas, o que obrigou a própria artista a realizar intervenções de
restauro. Colocou tiras de gaze com gesso e cola branca, no reverso do suporte dos retratos
antigos, para lhes dar mais sustentabilidade.
Conclusão
Susana Bravo é uma artista muito activa, que já participou e continua a participar em várias
exposições. Tem vindo a afirmar-se, cada vez mais, com continuados sucessos, não só em
Portugal como no estrangeiro. A sua dupla nacionalidade, as viagens frequentes, os contactos
profissionais e pessoais com outras culturas, conferem um toque exótico e personalizado, que
muito caracteriza as suas pinturas.
Continua a desenvolver um estilo muito forte e próprio, dentro dos parâmetros definidos
como, Magic Realism. A marca das suas obras é tão característica e definida que, basta um
simples olhar para, facilmente, identificar uma obra como sendo da sua criação.
As suas pinturas são alegres e transmitem uma vertente íntima da artista. A influência dos
seus “livros alterados” é notória, com o uso de colagens e sobreposições, criando assim uma
mistura que combina o passado com o presente. Esta associação de vários elementos pode
até ser interpretada como o subconsciente da artista que, criando, embora, uma obra no
presente, não deixa de incluir objectos e influências do seu passado. Susana Bravo gosta de se
pôr no lugar de observadora do mundo, especialmente, do mundo feminino, expressando o
que pensa e sente, de forma artística, criando assim uma interpretação livre e subjectiva para
o espectador.
A pintura To have or not to have, é um exemplo de uma criação, relativamente, recente. Usa e
experimenta vários materiais a fim de conseguir novos efeitos plásticos e aperfeiçoamento da
técnica. Com uma técnica mista e incorporando duas pinturas antigas do século XIX, consegue
criar uma obra cheia de mística, onde cenas africanas se misturam, em harmonia, com as
europeias, onde o passado converge para o futuro, onde cada centímetro quadrado dá azo à
imaginação de cada um, onde cada detalhe conta uma história e, a isso, se denomina de Magic
Realism.
Referências
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Direcção: BRANCO, Alice; CARVALHO, Carlos; SERRRA, Sandra; Anuário das Artes Plásticas
Artistas/Galerias Nº1 – 1995/96; Estar Editora Lda.; Lisboa; Novembro 1995
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http://www.riadporteroyale.com/recommendations/ (Consultado no dia 21 de Julho de 2009]
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