INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS TRATAMENTO PRECOCE DA CLASSE III DE ANGLE COM USO DE DISJUNTOR PALATINO E MÁSCARA FACIAL – CASO CLÍNICO JULIANA MOURA SANTOS Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Ortodontia do ICS – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO BRASÍLIA, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Especialista. Brasília, 2014 INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS TRATAMENTO PRECOCE DA CLASSE III DE ANGLE COM USO DE DISJUNTOR PALATINO E MÁSCARA FACIAL – CASO CLÍNICO JULIANA MOURA SANTOS Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Ortodontia do ICS – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO BRASÍLIA , como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Especialista. ORIENTADOR: Prof. Cristiano Albuquerque Brasília, 2014 JULIANA MOURA SANTOS TRATAMENTO PRECOCE DA CLASSE III DE ANGLE COM USO DE DISJUNTOR PALATINO E MÁSCARA FACIAL – CASO CLÍNICO Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Ortodontia ao ICS - FUNORTE/SOEBRÁS – Núcleo Brasília como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista. Orientador: Prof. Cristiano Albuquerque Aprovada em _________/__________/___________ COMISSÃO EXAMINADORA ________________________________________________ Orientador: Prof. Ms. ________________________________________________ Prof. Ms. __________________________________________________ Prof. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por tudo. Aos meus amados pais João e Tânia, pelo incentivo, esforço e pelo amor incondicional na qual sempre me dedicaram para alcançar minhas metas, sem vocês nada disso seria possível. Ao meu amado noivo Gustavo, por toda paciência e companheirismo de todos os momentos, você foi fundamental nesta conquista. E a meus irmãos Flávia e Wiliam que sempre estiveram na torcida pela minha vitória. Amo todos vocês. Agradeço ainda aos amigos de curso, pelos momentos de parceria e descontração. Aos mestres, por todo ensinamento passado e aos pacientes por acreditarem na minha capacidade. RESUMO Angle em 1899, classificou como classe III as más oclusões nas quais o primeiro molar permanente inferior, e portanto seu sulco mesiovestibular, encontra-se mesializado em relação à cúspide mesiovestibular do primeiro molar permanente superior. Esta má oclusão classifica como a mais difícil de tratar, sendo muitas vezes indicada para cirurgia ortognática. Segundo estudos epidemiológicos, a maior parte dos casos de classe III apresentam envolvimento maxilar, necessitando de alguma forma de protração para sua correção, assim o tratamento precoce tem sido indicado com maior frequência com o objetivo de eliminar fatores etiológicos primários e evitar que uma má oclusão já instalada torne-se mais grave. O presente estudo objetivou apresentar um caso clínico de uma paciente de 6 anos de idade, classificada como padrão III, tratada com disjunção e máscara facial para protração maxilar. Após o tratamento pode-se avaliar os benefícios ocorridos na relação das bases ósseas e dentes bem como uma boa harmonia do perfil facial. Palavras-chave: tratamento do padrão III de Capelozza; protração maxilar; disjuntor Haas; máscara facial. ABSTRACT Angle in 1899, rated as Class III malocclusions in which the first permanent molar, and hence its mesiobuccal groove, is mesializado regarding the mesiobuccal cusp of the first permanent molar. This malocclusion ranked as the most difficult to treat and is often recommended for orthognathic surgery. According to epidemiological studies, most cases of class III have jaw involvement, requiring some form of protraction for correction, so early treatment has been shown more often with the goal of eliminating primary etiological factors and prevent malocclusion already installed becomes more severe. The present study aimed to present a clinical case of a patient 6 years of age, classified as Standard III, treated with disjunction and facial mask for maxillary protraction. After treatment one can evaluate the benefits occurring in the relationship of bone and teeth bases as well as a good harmony of the facial profile. Keyword: treatment of pattern III Capelozza; maxillary protraction; breaker Haas; facial mask. SUMÁRIO Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------------07 Proposição ------------------------------------------------------------------------------------------------09 Revisão de Literatura -----------------------------------------------------------------------------------10 Caso clínico ----------------------------------------------------------------------------------------------16 Análise Facial -----------------------------------------------------------------------------------16 Análise Dentária --------------------------------------------------------------------------------17 Análise Cefalométrica -------------------------------------------------------------------------18 Discussão -------------------------------------------------------------------------------------------------26 Considerações finais ------------------------------------------------------------------------------------30 Referências Bibliográficas -----------------------------------------------------------------------------31 7 INTRODUÇÃO A classificação de Angle é, ainda hoje, a mais utilizada pelos ortodontistas, e isto se deve à sua simplicidade – com apenas três classes – e fácil compreensão. Angle, em 1899, publicou sua classificação da má-oclusão, tendo como base apenas o relacionamento dos arcos dentários usando modelos de gesso. Classificou como classe III as más oclusões nas quais o primeiro molar permanente inferior, e portanto seu sulco mesiovestibular, encontra-se mesializado em relação à cúspide mesiovestibular do primeiro molar permanente superior. O perfil facial é predominantemente côncavo e a musculatura está, em geral, desequilibrada. Os cruzamentos de mordida anterior ou posterior são frequentes. E eventualmente encontramos problemas de espaço (falta ou excesso), mordidas abertas ou profundas e más posições dentais individuais. (FERREIRA, 2008). A classe III verdadeira de Angle é uma das más oclusões mais difíceis de tratar. Isto se deve basicamente por estar relacionada a discrepâncias esqueletais e há muitas limitações para o tratamento com a mecanoterapia convencional. A maioria dos tratamentos de classe III de Angle esqueléticas eram tratadas através de cirurgia ortognáticas ou por meio de compensação dentária (LEÔNCIO, 2001) Atualmente a má-oclusão de Classe III pode ser classificada em dentoalveolar, em que se tem relação boa entre as bases ósseas e posicionamento dentário inadequado; esquelética, ou Classe III verdadeira, causada por retrognatismo maxilar, prognatismo mandibular ou ambos; e funcional, ou falsa Classe III onde em relação cêntrica, apresenta uma relação molar de Classe I, e em máxima intercuspidação habitual apresenta uma relação molar de Classe III, devido a uma interferência oclusal (CHIAQUETTO et. al., 2009; TORUS et. al., 2000, apud ROMAN, S., 2011). 8 A estética dentária e facial são os principais motivos que levam os pacientes a buscar tratamento ortodôntico. Para a maioria dos pacientes, o resultado do tratamento ortodôntico esta mais relacionada ao aumento da agradabilidade dentofacial do que as relações oclusais dentro de padrões pré-definidos. Demonstrando a importância da classe III no desenvolvimento do equilíbrio psicossocial (NAEGELE, 2011). 9 PROPOSIÇÃO O objetivo do presente estudo é realizar uma breve revisão literária, abordando pontos como definição, prevalência, classificação, diagnóstico, prognóstico e tratamento da classe III esquelética com aparelho ortopédico para tração maxilar. E ainda, relatar as alterações dentárias e faciais obtidas através da expansão rápida da maxila seguida da protração maxilar com máscara facial de Petit em uma paciente de 6 anos de idade diagnosticada como padrão III. 10 REVISÃO DE LITERATURA Clinicamente, os indivíduos com má-oclusão de classe III apresentam uma discrepância sagital entre as bases ósseas; podem apresentar perfil facial côncavo, retrusão da região nasomaxilar e protrusão do terço inferior da face. A dimensão transversal da arcada dentária superior frequentemente é mais estreita que a da arcada inferior, e a sobremordida e a sobressaliência podem estar reduzidas ou negativas (ANTUNES, et. al., 2010). A identificação precoce desta discrepância esquelética depende da observação minuciosa de uma série de características faciais, oclusais, e cefalométricas que revelam forte tendência à Classe III. A ausência da proeminência zigomática ou malar constitui o sinal facial que traduz o retrognatismo maxilar. A linha mento-pescoço aumentada em relação à profundidade da face média e o ângulo mais agudo entre mento e pescoço denunciam a contribuição da mandíbula na Classe III (OLTRAMARI et. al., 2005). Uma má-oclusão de Classe III não necessariamente implica em uma deformidade esquelética, podendo estar presente em um indivíduo com bom padrão facial que apresenta um comprometimento puramente dentoalveolar. Ao passo que, quando houver o envolvimento esquelético, seja maxilar, mandibular ou a associação de ambos, o termo Padrão III deve complementar a sua classificação para elucidar o envolvimento esquelético desta máoclusão (COUTRIN-FERREIRA et. al., 2007 apud ROMAN, S., 2011). CAPELOZZA (2004) citou: “As más oclusões do Padrão III são caracterizadas por um degrau sagital maxilomandibular diminuído, por retrusão maxilar e ou prognatismo mandibular. Portanto, são de caráter eminentemente esquelético e nem sempre apresentam uma relação molar de classe III”. 11 Devido à alta prevalência de más-oclusões na dentadura decídua e mista, esta fase é reconhecida como a melhor época para interceptar problemas que interferem no crescimento e desenvolvimento do complexo dentomaxilar, assim o tratamento precoce tem sido indicado com maior frequência com o objetivo de eliminar fatores etiológicos primários e evitar que uma má oclusão já instalada torne-se mais grave (CARLINI et. al. 2002). Como o desenvolvimento facial e dentário ainda continuam na infância e na adolescência, o impacto do tratamento precoce em longo prazo não pode ser previsto com clareza, mas pode auxiliar o desenvolvimento de uma oclusão normal e uma boa harmonia facial mediante uso de aparelhos ortopédicos (CARLINI, M. et.al., 2002). O diagnostico ideal da má oclusão de classe III deve ser realizado o mais precoce possível, ainda na dentadura decídua. O diagnóstico é alcançado mediante avaliação do paciente em relação centrica (RC), avaliação da análise cefalométrica, análise de modelos de estudo e fotografias. Entretanto, o diagnóstico diferencial poderá ser definido pela análise do perfil facial (PEREIRA et. al.,2010). O tratamento para determinadas má oclusões apresentam muitas vezes prognóstico duvidoso, assim como para casos de má oclusão de classe III. Um prognóstico menos favorável é encontrado quanto maior for o envolvimento mandibular, visto que, não se consegue controlar o crescimento mandibular. Quando o envolvimento é maxilar o prognóstico é mais favorável, mediante tratamento precoce e utilização de métodos de tratamentos de protração maxilar que possuem grande eficácia como comprovada pela literatura. Quando há envolvimento de ambos devemos também ficar atentos ao prognóstico, pois para resultados positivos deverá levar em consideração a idade do paciente (ANTUNES et. al. 2010; FINIZOLA FILHO,2002). 12 Chiqueto et. al. (2009, apud ROMAN, 2011) listam os motivos pelos quais se deve tratar precocemente a má-oclusão de Classe III 1. Reduzir as discrepâncias das bases ósseas; 2. Eliminar os fatores etiológicos da má-oclusão; 3. Melhorar a relação da oclusão inter-arcos; 4. Aumentar o tamanho da maxila no seu potencial máximo; 5. Prevenir a progressão das desarmonias esqueléticas, dentárias e funcionais; 6. Melhorar a posição dos lábios superior e inferior; 7. Diminuir a necessidade de tratamentos complexos (cirurgia ortognática); 8. Melhorar o perfil. Varias são as possibilidades de tratamento para classe III. Todavia, a maioria dos autores são unanimes em considerar a protração maxilar associada ou não à expansão palatina rápida como a melhor terapia para pacientes em fase de crescimento (PERRONE et. al., 2009). A eficácia particular do tratamento por meio da máscara facial ortopédica, provém do feito de que esta baseada nas propriedades fundamentais do crescimento facial, ocasionando variações de orientação da maxila, com relação à base craniana; promovendo mudanças de situação e orientação das arcadas alvéolo-dentário em suas bases suportes, sob influência das forças que são exercidas sobre elas; variações de crescimento da pré-maxila, segundo as condições funcionais as quais está submetida; e alteração no desenvolvimento particular da cartilagem condiliana, na qual passa a ter um crescimento adaptativo, regido essencialmente pelas condições locais, biodinâmicas que são transmitidas para mandíbula (FAGNANI FILHO, 1998). Dentre as modalidades de tratamento precoce de Classe III, a tração reversa da maxila associada a expansão rápida da maxila constitui a abordagem que produz os melhores 13 resultados em um menor espaço de tempo (CRUZ, 2013). Os aparelhos comumente usados para protração da maxila envolvem um dispositivo intrabucal capaz de provocar a disjunção da maxila e uma máscara facial capaz de aplicar forças ortopédicas sobre a maxila e estimular seu crescimento em direção anterior (ROMAN, S., 2011). A expansão rápida de maxila (ERM) junto a tração reversa maxilar feita pela máscara facial, leva à alterações esqueléticas e dentárias significativas em ambas as bases ósseas e permite resolução rápida da má oclusão de classe III em pacientes jovens (ANTUNES, 2010). O aparelho Haas é um dispositivo considerado como disjuntor fixo ativo, e apresenta uma estrutura metálica apoiada sobre duas bandas, geralmente posicionadas nos primeiros molares permanentes, ou quando ainda não erupcionados, encontra-se apoiados nos segundos molares decíduos. Com apoio de resina acrílica, unidas por um parafuso de expansão. Sua principal característica é o afastamento dos processos maxilares e o fato de ter ancoragem dento-mucoso-suportada, o que divide a força entre os dentes e a porção palatina. É um aparelho para mecânica transversal (SILVA, 2011). O objetivo da expansão palatal rápida é a obtenção de excelente separação da maxila. Com a reparação da sutura rompida, ocorre aumento permanente na dimensão maxilar transversa. Segundo Andrew Haas (2001) as indicações da disjunção palatina são: 50% para deficiências maxilares reais e relativas; 10% para estenose nasal grave; 10% para classe III cirúrgica e não cirúrgica e pseudo-classe III (funcional); 2% para paciente com fissura do palato madura; 10% problemas de comprimento de arco em caso de bom padrão; 8% onde o deslocamento anterior da maxila é desejável em casos de boa largura; 10% caso de mordida esquelética profunda para aumento vertical(Pereira 2007). A expansão rápida da maxila é imprenscidível na potencialização do efeito da tração maxilar pela máscara facial. Existem dois fatores básicos que justifiquem a sua importância: a 14 disjunção maxilar parece deixar a maxila mais vulnerável ao reposicionamento esquelético anterior, ocorrendo não somente a separação da sutura mediana, mas também das suturas circum-maxilares; proporciona uma ancoragem eficiente e segura para garantir o tão almejado efeito ortopédico. (SILVA FILHO et. al., 1995 apud ROMAN, S., 2011). Na literatura pode-se encontrar vários protocolos para a ativação dos aparelhos disjuntores. Haas (2002) preconizou a ativação do parafuso para pacientes de até 14 anos com 2/4 de voltas pela manhã e 2/4 à noite até o rompimento da sutura e após este evento ¼ de volta pela manhã e ¼ volta à noite até a sobrecorreção desejada (Amaral et. al. 2007). A ancoragem rígida e abrangente (dento-mucoso-suportada) do aparelho disjuntor responde pelo afastamento dos processos maxilares à medida que o parafuso é acionado. Durante as ativações gera-se uma força de grande magnitude que pode oscilar entre 1000 a 3500 gramas em uma única ativação, e acumular mais de 7000 gramas durante as ativações consecutivas contra os dentes superiores e o palato. Esta força corresponde à força necessária para vencer a resistência óssea e sutural e separar os processos maxilares e palatinos ao nível da sutura palatina mediana (ROMAN, S., 2011). Finalizada a fase ativa da expansão, inicia-se um período em que o aparelho é mantido passivamente na boca até a completa ossificação da sutura palatina mediana que foi separada. Este processo de neoformação óssea, avaliado por meio da radiografia oclusal de maxila, pode variar por volta de quatro meses. (AMARAL et. al., 2007). A máscara facial de Petit possui um fio de aço localizado na linha media da face, com duas almofadas unidas por esse fio e um fio horizontal no centro, onde serão presos os elásticos para realizar a protração maxilar. Suas vantagens são por serem pré-fabricadas e simples, sendo mais aceita pelo paciente. Além de que estes dois pontos de apoio facial promove estabilidade mecânica permitindo o uso de elásticos de maior magnitude de força 15 sem nenhuma deflexão do aparelho. Suas desvantagens são seu comprometimento estético e, a possibilidade de o paciente ficar estrábico devido ao fio de aço vertical (RABELO, 2011; ROMAN, S., 2011). A máscara facial esta indicada para casos de retrusão maxilar; deformidades craniofaciais associadas a deficiências craniofaciais; combinação entre hipoplasia maxilar e prognatismo mandibular; e após cirurgias (PEREIRA et. al., 2007). Com o uso da máscara facial, pode-se promover um movimento antero-inferior da porção posterior da maxila e dos dentes superiores, rotação horária da mandíbula e uma inclinação para lingual dos incisivos inferiores. Há também um movimento do nariz para frente, tornando o perfil facial menos côncavo e, consequentemente mais harmonioso (PEREIRA et. al., 2007). A magnitude, a direção do vetor de força aplicada e a quantidade de horas de uso são extremamente importantes para o sucesso da terapia com protração maxilar. Segundo um estudo feito por Perrone em 2009, foi realizada uma revisão sistemática para sintetizar informações relativas à magnitude, direção e tempo diário de aplicação de forças. Nele concluiu que, a média de magnitude de força de protração maxilar foi de 447,8g, com um desvio padrão de 148,5g; a média de inclinação do vetor de força de protração maxilar foi de 27,5° em relação ao plano oclusal, com um desvio padrão de 6,6°; a média de tempo de uso do aparelho de protração maxilar foi de 15,2 horas por dia, com desvio padrão de 3,5 horas. O período mais adequado para este tratamento é dos seis aos sete anos de idade, com apoio do disjuntor tipo Haas, sendo necessário em alguns casos repetir o procedimento aos nove e aos doze anos (ROMAN, 2011). 16 CASO CLINICO Paciente NMB, cor parda , sexo feminino, 6 anos e 2 meses procurou atendimento e orientação ortodôntica acompanhada pela mãe após ter sido indicada por um dentista clinico. A preocupação da mãe era tanto pela relação estética quanto as possíveis consequências de não ser tratada precocemente. Paciente possui hábitos bucais deletérios de sucção digital e uso de mamadeira. Em uma analise facial paciente apresenta uma aparência de moça, quando nesta idade deveria apresentar uma convexidade maior de perfil, corroborado por Capelozza (2004), quando diz que “Ao nascer, apresenta-se como uma característica filogenética da espécie humana, uma face muito convexa. Essa impressão morfológica vai sendo atenuada pelo crescimento até a fase adulta, quando a convexidade facial terá diminuído. Isso é o NORMAL para os indivíduos da espécie humana, ou melhor, nos indivíduos normais da espécie.”Assim, devido ao tamanho considerável da mandíbula nesta idade, a paciente foi classificada como padrão III mesocefálico. Sua classificação dentária não pode ser definida com clareza porque a paciente não possui os primeiros molares permanentes, porém a fortes indícios de sua tendência a desenvolvimento em classe III de Angle. Apresenta mordida cruzada posterior e anterior, além de mordida aberta anterior de aproximadamente 1mm. ANÁLISE FACIAL Figura 1: Imagens retiradas da documentação inicial – 29/08/2011. Fotos: frontal, sorriso e perfil 17 Norma Frontal: simetria: normal; terço facial inferior: normal; posição de contato labial: selados. Apresenta depressão infraorbitária e proeminência zigomática. Foto de sorriso apresenta evidência mentoniana. Norma Lateral: ângulo do perfil: normal, reto; ângulo nasolabial: normal; projeção zigomático: normal; distância mento-pescoço: longa; linha sub-nasal-pogônio: vertical; ANÁLISE DENTÁRIA: Figura 2: Imagens retiradas da documentação inicial – 29/08/2011. Fotos intra-bucais: frontal, oclusal superior, oclusal inferior, lateral direita e lateral esquerda. 18 No plano sagital apresenta biprotrusão maxilar e mandibular; no plano transversal apresenta mordida cruzada dos elementos decíduos e plano vertical reto. Relação dentária da arcada superior apresenta dentição decídua completa e ausência de elementos permanentes; relação dentária da arcada inferior possui presença dos elementos permanentes 31 e 41 (incisivos centrais esquerdo e direito respectivamente), 36 e 46 (primeiros molares esquerdo e direito respectivamente); e ausência de incisivo lateral direito. Ausência de hábitos funcionais e parafuncionais. ANÁLISE CEFALOMÉTRICA Figura 3: Imagem retirada da documentação inicial – 29/08/2011. Foto: teleradiografia 19 Diagnóstico da análise cefalométrica qualitativa: Padrão cefálico: mesocefálico Relação maxila-mandíbula: protruídas Dentes em relação maxila e mandíbula: superiores vestibularizados e retruídos em relação à maxila; inferiores verticalizados com boa relação com a mandíbula. Perfil: reto A partir deste quadro, o tratamento instituído foi: Disjunção maxilar com aparelho HAAS – ativando o expansor até VIPS (vestibular do dente inferior tocando a palatina dos dentes superiores). Protocolo de ativação do disjuntor: 2/4 de volta pela manhã e 2/4 de volta a noite durante 3 dias. Em seguida realizar ¼ de volta pela manhã e ¼ volta à noite durante 8 dias. Conforme protocolo de ativação descrita por Haas (2001, apud Amaral et.al. 2007). O protocolo usado posteriormente foi: ¼ de volta duas vezes por semana (segundas e quintas - feira), fechando o parafuso expansor, ou seja voltando as ativações realizadas anteriormente. Realizar o fechamento do parafuso durante 8 semanas. Protocolo final: 2/4 de volta pela manhã e 2/4 de volta a noite durante 3 dias. Em seguida realizar ¼ de volta pela manhã e ¼ volta a noite durante 7 dias, travando o parafuso em seguida. Este protocolo foi instituído afim de, deixar a maxila mais vulnerável aos movimentos ortopédicos, como descrito por Silva Filho (apud Roman 2011). Máscara facial de Petit – ativado com elástico de aproximadamente 400 a 450 gramas de força, com tempo de uso de 12 a 14 horas diário durante 6 meses. Protocolo de ativação da máscara facial: usar elástico ½ pesado de cada lado por 14 horas diárias. Conforme utilizada por diversos autores citadas no estudo de Perrone (2009). 20 Quadro clínico na fase inicial de tratamento: Figura 4: Imagens do aparelho Haas modificado para máscara facial instalado. Fotos frontal, oclusal superior, lateral direita e lateral esquerda Figura 5: Imagens da máscara facial instalada. Fotos frontal e perfil 21 Quadro clinico após 8 meses de tratamento com disjunção maxilar e máscara facial Figura 6: Imagens intra-bucais após 8 meses de tratamento com disjuntor maxilar e máscara facial. Fotos: frontal, oclusal superior, lateral direita e lateral esquerda Figura 7: Imagens extra-orais após 8 meses de tratamento com disjuntor maxilar e máscara facial. Fotos frontal e perfil 22 Após reavaliação de caso foi proposto: Barra transpalatina com grade palatina para inibição de hábito deletério e contenção Expansor inferior com molas Figura 8: Imagens intra-bucais após tratamento com disjuntor maxilar e máscara facial. Fotos: frontal, oclusal superior, lateral direita e lateral esquerda. Barra transpalatina acoplado com grade e placa expansora instaladas. 23 Quadro clínico após 1 ano de tratamento com disjunção maxilar e máscara facial: Figura 9: Imagens intra-bucais após 1 ano de tratamento com disjuntor e máscara facial. Fotos: frontal, oclusal superior, oclusal inferior, lateral direita e lateral esquerda 24 Figura 10: Imagens extra-orais após tratamento com disjuntor e máscara facial. Fotos frontal, sorriso e perfil Progressão do perfil facial: Figura 11: Imagem inicial do tratamento Figura 12: Imagem após 8meses de uso da máscara facial Figura 13: Imagem após 1 ano de tratamento 25 Progressão facial frontal: Figura 14: Imagem inicial do tratamento Figura 15: Imagem após 8meses de uso da máscara facial Figura 16: Imagem após 1 ano de tratamento 26 DISCUSSÃO Atualmente sabe-se que a incidência da má oclusão de classe III é baixa, ocorrendo em aproximadamente 3% a 5% da população (RABELO, 2011). Em estudo da incidência desta má oclusão, obteve que 62% destes casos apresentam envolvimento maxilar, necessitando de alguma forma de protração para sua correção. (PEREIRA, 2010). A terapia da tração reversa maxilar é indicada para solução de casos ortodônticos como alternativa não cirúrgica para correção da má oclusão de classe III esquelética. Dentre os aparelhos preconizados para interceptação da classe III, caracterizada pelo retrognatismo maxilar, está à máscara facial. (PRIMO et.al., 2010/ JANSON 1998). Após tratamento com disjunção maxilar e tração com uso de máscara facial, analisando a relação dentária da paciente em estudo, os incisivos inferiores mantiveram-se verticalizados e os incisivos superiores vestibularizados. Paciente obteve ganho de overjet considerável de aproximadamente 3mm. Conforme descrito na literatura que uma sobrecorreção de 2 a 5mm do overjet deve ser realizado, como afirma Rabelo (2011) em seu estudo, visto que durante o pico puberal há uma forte tendência de o crescimento mandibular superar o maxilar, podendo haver uma recidiva de 10 a 30%. Contudo, o tratamento foi realizado visando à correção esquelética. A maxila teve avanço positivo com uso da máscara de protração facial onde foi usada uma força ortopédica de aproximadamente 450 gramas de cada lado; próxima à média de forças estudadas por Perrone (2009) aplicada por diversos autores – média de 447,8 gramas. Para conseguir bons resultados os aparelhos foram devidamente confeccionados e instalados. O aparelho Haas teve apoio nos segundos molares decíduos e o gancho para apoio da máscara ficou localizado nos caninos superiores. A máscara facial foi ajustada para que ficasse mais confortável possível, e instalada conforme descrito na literatura; os elásticos 27 foram colocados partindo do gancho situado no aparelho expansor até os ganchos da máscara, posicionados próximos aos caninos superiores, promovendo uma tração para baixo e para frente, formando um ângulo próximo a 45° em relação ao plano oclusal (PEREIRA et.al.2007). Ângulo este mais alto do que a média utilizada por diversos autores descrita no estudo de Perrone (2009) – média de 27,5°. Paciente utilizou o aparelho Haas com a máscara facial por 10 meses, os dois primeiros meses houve ativação do parafuso expansor, em seguida fechou o parafuso e mais uma vez foi realizada expansão. Isto para que a maxila pudesse ficar mais solta. Como descrito por Silva Filho apud Roman (2011), deixar a maxila mais vulnerável ao rompimento da sutura mediana e das suturas circumaxilares, obtém-se melhores resultados com a máscara facial. A expansão ocorreu até que atingisse a relação VIPS (vestibular dos dentes inferiores tocando a palatina dos dentes superiores), sendo o parafuso travado 5 meses após sua instalação e ativação inicial. A máscara facial foi ativada com elástico ½ pesado desde o inicio. Sempre observando ao longo das manutenções se não havia alteração da posição da haste de apoio dos elásticos na máscara, devendo esta manter-se a um nível de aproximadamente 45°. Segundo Antunes et. al. (2010), um dos resultados mais importantes é a protração da maxila, a qual realiza movimento para frente e para baixo, contribuído para a melhora do perfil do paciente. Uma considerável alteração zigomática assim como diminuição do ângulo naso-labial é remetida por essa tração reversa descrita também por Primo (2010). Outra manifestação apontada por Fagnani Filho (1998), e observada no caso clínico em questão é o preenchimento progressivo dos sulcos nasogenianos e das regiões malares suborbitárias. Há movimentação do lábio superior para frente e a retração do lábio inferior, que se dá pelo movimento do tecido mole do pogônio para trás, contribuindo assim para um perfil mais 28 convexo, conforme descrito por Pereira em 2010. Enquanto a mandíbula mostra uma rotação no sentido horário, para trás e para baixo, havendo inibição e redução do prognatismo mandibular, o que corrige a concavidade do perfil dos tecidos moles (ANTUNES, et. al. 2010). Em relação às alterações dento alveolares, a terapia promove um movimento para frente e para baixo dos dentes superiores (movimento na direção anterior), ocasionando inclinação para vestibular. Observa-se ainda, de acordo com Antunes et. al. (2010), uma inclinação lingual dos dentes inferiores, favorecendo a correção do trespasse horizontal negativo, como descrito também por Pereira, 2010. Porém no caso clínico em estudo, paciente manteve relação vertical dos incisivos inferiores em relação à mandíbula. Com o trespasse horizontal tornando-se positivo, há um aumento do plano terminal na face distal dos molares decíduos, beneficiando a erupção dos primeiros molares numa relação dentária de classe I. Os resultados obtidos neste mesmo estudo confirmou que não há alterações dentárias ocorridas nos incisivos superiores quando comparadas radiografias iniciais e finais do tratamento. Mostrou também que há perda de espaço para alinhamento e posicionamento dos caninos e demais dentes anteriores erupcionados no arco dentário. Isso pode ser atribuído a anteroposição dos primeiros molares superiores e à anteroposição dos caninos superiores. Dado este que pode ser observado na avaliação de retorno da paciente (após 1 ano de tratamento), que não possui espaço suficiente para alinhamento correto dos incisivos laterais superiores, estando estes girovertidos. O crescimento mandibular, predominantemente endocondral na cartilagem condilar, obedece essencialmente ao controle genético. Portanto, os efeitos dos aparelhos ortopédicos que visam restringir o crescimento da mandíbula mostram-se limitados, o que conduz ao pobre prognóstico de tratamento precoce de classe III determinada pelo prognatismo mandibular. Felizmente, o componente esquelético maxilar responde melhor à aplicação de 29 forças ortopédicas, já que o crescimento ósseo intramembranoso mostra-se mais susceptível a influências extrínsecas ou ambientais. Deste modo, a classe III morfologicamente definida pelo retrognatismo maxilar, privilegia-se com o tratamento ortopédico (OLTRAMARI et.al., 2005 / MONZO et. al., 2013). Na avaliação pós-tratamento já nota-se um avanço mandibular, devendo a paciente ficar em observação para que se houver necessidade uma nova disjunção e protração maxilar possa vir acontecer. 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Do estudo deste caso e da revisão de literatura conclui-se que o uso da máscara de protração maxilar, nos casos em que o paciente ainda apresenta um expressivo potencial de crescimento, é um recurso poderoso auxiliar na correção da classe III esquelética, principalmente quando o quadro apresenta-se dominado pela presença de deficiência maxilar. Após o tratamento observou-se significativa melhora na relação de bases ósseas e dentes, o que permitiu concluir que pacientes com deficiência anteroposterior de maxila tratados com disjunção e protração maxilar podem apresentar resultados satisfatórios com boa harmonia do perfil facial, correção de deficiências transversais e características da classe III. A combinação das alterações de posição maxilares e mandibulares, assim como de seus respectivos processos alveolares, contribuíram para uma melhora significativa nas relações oclusais e esqueléticas do paciente em estudo. A sobrecorreção transversal e a aplicação de forças anteriores de grande magnitude parecem ser as chaves do sucesso, além de que resultados melhores são obtidos quando a terapia é empregada em pacientes jovens, quando comparados a pacientes com mais idade. A idade precoce, a colaboração do paciente e o padrão facial muito contribuem para o sucesso do tratamento. Cabe ao ortodontista, após o diagnóstico, indicar a terapia adequada e empregar os aparelhos de acordo com a ação de cada um deles. Ao realizar este tratamento não se deve esquecer que se trata de uma tentativa e que o tratamento pode não se manter estável porque após o tratamento o paciente retorna ao seu padrão de crescimento original. Se a doença for de alta magnitude, pode “roubá-lo” do tratamento. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, M.A.C., COSTA JR., H.N., FRANKLIN, F.M.S., SOUZA, H.A.R., RAMOS, L.B.; Expansão rápida de maxila. 2007. ANTUNES, C.F., CAMAROTE E.A., QUAGGIO A.M., BIGLIAZZI R., ORTOLANI C.L.F., FALTIN JR. K.; Alterações dentárias decorrentes da expansão rápida da maxila e máscara facial reversa. São Paulo – 2010. CAPELOZZA FILHO, L.; Diagnóstico em ortodontia. Dental Press Editora. Maringá 2004. CARLINI, M.G.; MIGUEL, J.A.M.; GOLDNER, M.T.A. Tratamento Precoce da má-oclusao Classe III de Angle com expansão rápida e uso de máscara facial: relato de um caso clínico. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial. Maringá, v.7, n.2, p.71-75, mar./abr. 2002. CRUZ, K.S.; JANSON, G. HENRIQUES, J.F.C.; FREITAS, M.R.; JOSGRUBBERT, L.F.; Camuflagem ortopédica-ortodôntica da má oclusão de classe III. Uma Abordagem Concervadora. Revista Clínica de Ortodontia Dental Press. 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