FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Mestrado em Engenharia Biomédica Relatório de Trabalhos Práticos Avaliação e Certificação de Dispositivos Protéticos e Ortéticos para Membro Inferior Judite Regina Alves da Silva Up201306964 Orientador: Prof. Dr. João Manuel R. S. Tavares Porto, 13 de Junho de 2014 1 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer ao meu orientador Professor Doutor João Manuel R. S. Tavares, pela sua disponibilidade, apoio e acompanhamento no desenvolvimento deste trabalho, bem como nas revisões feitas ao mesmo e ainda todas as críticas construtivas que ajudaram ao seu melhoramento. 2 RESUMO A marcha Humana é um conjunto de movimentos corporais que se repetem a cada passo, segundo um padrão característico determinado pelo deslocamento sincronizado das partes do corpo. O que aparentemente parece um movimento descomplicado e realizado inconscientemente, é na verdade bastante complexo exigindo a coordenação dos membros do corpo, equilíbrio do centro de massa do corpo, contração dos músculos, entre outros aspetos. A análise da marcha, através da análise de sinais eletromiográficos e de dados captados por câmaras, permite a quantificação de múltiplas variáveis que caracterizam a locomoção humana, possibilitando a avaliação do padrão de marcha de um indivíduo. O conhecimento proporcionado por esta análise concede características geométricas, físicas e comportamentais do corpo humano tornado possível a distinção entre marcha normal e patológica, bem como determinar limitações funcionais e incapacidades associadas as mais diversificadas doenças. No entanto, inevitavelmente acidentes e doenças acontecem, muitos dos quais alteram o padrão normal da marcha humana. Indivíduos com amputação de membros inferiores têm geralmente danos consideráveis na capacidade de andar, incluindo o aumento do risco de queda. Compreender os aspetos biomecânicos da marcha destes pacientes é pois, indispensável para melhorar a sua função de marcha e a sua qualidade de vida. A evolução tecnológica das Ortóteses e Próteses tem investido no desenvolvimento das suas pesquisas em diversas áreas, nomeadamente na robótica e na biomecânica, a fim de desenvolver “novas gerações” de membros artificiais, que auxiliem ou recuperem a função de um membro na sua marcha. O software OpenSim, é uma plataforma que permite construir e/ou utilizar ferramentas que auxiliem na descoberta dos princípios que regem o movimento humano, a analisar as causas de anormalidades da marcha, os efeitos de vários tratamentos, bem como projetar melhores tratamentos para portadores de deficiências físicas. Palavras-chaves: Ciclo de marcha, OpenSim, Ortóteses, Próteses. 3 ÍNDICE PÁG. CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO -----------------------------------------------------------------------8 1.1 MOTIVAÇÃO -----------------------------------------------------------------------8 1.2 OBJETIVOS -------------------------------------------------------------------------9 1.3 ORGANIZAÇÃO -------------------------------------------------------------------9 CAPÍTULO 2: MARCHA HUMANA -------------------------------------------------------------10 2.1 CICLO DE MARCHA “NORMAL” -------------------------------------------10 2.2 ANÁLISE DA MARCHA HUMANA -----------------------------------------12 2.3 MARCHA ANORMAL ----------------------------------------------------------13 CAPÍTULO 3: AMPUTAÇÕES ---------------------------------------------------------------------15 3.1 NÍVEIS DE AMPUTAÇÕES OU DESARTCULAÇÃO --------------------15 3.2 CAUSAS DE AMPUTAÇÃO ---------------------------------------------------16 3.3 CICLO DE MARCHA DE AMPUTADOS EM MEMBROS INFERIORES-----------------------------------------------------------------------17 CAPÍTULO 4: PRÓTESES E ÓRTOTESES ----------------------------------------------------19 4.1 ÓRTOTESES -----------------------------------------------------------------------19 4.1.1 Ortóteses para membros inferiores -----------------------------------20 4.1.2 Doenças do pé e tornozelo que conduzem ao uso de ortóteses---23 4.2 PRÓTESES -------------------------------------------------------------------------24 4.2.1 Componentes da prótese -----------------------------------------------24 CAPÍTULO 5: TRABALHO EXPERIMENTAL -----------------------------------------------28 5.1 OJETIVOS --------------------------------------------------------------------------28 5.2 OPENSIM ---------------------------------------------------------------------------28 5.3 PÉ PENDENTE --------------------------------------------------------------------29 5.3.1 Análise da marcha normal --------------------------------------------32 5.3.2 Análise do ângulo do tornozelo na marcha pé pendente ----40 CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO/DISCUSSÃO ----------------------------------------------------43 CAPÍTULO 7: PERSPETIVAS FUTURAS -----------------------------------------------------44 CAPÍTULO 8: BIBLIOGRAFIA -------------------------------------------------------------------45 4 ÍNDICE DAS FIGURAS PÁG. CAPÍTULO 2 Figura 1: Ciclo da marcha humana normal [1] ----------------------------------------------------10 Figura 2: Fases do ciclo de marcha normal [32] --------------------------------------------------11 Figura 3: Desenvolvimento da marcha humana [33] ---------------------------------------------12 CAPÍTULO 3 Figura 4: Níveis de amputação do pé [11] ---------------------------------------------------------16 Figura 5: Níveis de amputação do membro inferior [12] ----------------------------------------16 CAPÍTULO 4 Figura 6: Exemplos de ortóteses para o membro inferior. a) Imobilizador de joelho posição funcional, b) Imobilizador do tornozelo, c) Joelheira articulada elástica, d) Estabilizador de tornozelo, e) Sandália para gesso, f) Tira sub-Patelar em tubo, g) Dennis-Brownne: para manter membros inferiores em rotação externa ou interna, h) Geno Valgo e/ou Geno Varo: para correção do valgismo e/ou varismo, i) Tutor: tutor para fratura de tíbia/fíbula, j) Trilateral: para tratamento de Legg-Perthes, k) Tutor longo unilateral ou bilateral: controlo do quadril sem controlo do joelho, l) Ortótese moldada tornozelo-pé, m) Palmilhas de Silicone Sob Medida, n) Mola de Codvila: para pés caídos, pode ser usado com palmilha acoplada ou pregador para fixação no calçado, o) Ortóteses tíbio társicas flexíveis para pés caídos , p) Abdução do quadril Atlanta Brace, q) Suspensório de pavlic . Retirado de: Ortóteses para o membro inferior [19] [20] -------------------------------------------------------22 Figura 7: (a) Ortótese passiva de reação ao solo [18], (b) Ortótese ativa com atuação no joelho [18] ----------------------------------------------------------------------------------------------23 Figura 8: Tipos de prótese. (a) Prótese exoesquelética em madeira [15], (b) Prótese endoesquelética para amputação acima do joelho [15] ------------------------------------------25 Figuras 9: Constituintes da prótese [15] -----------------------------------------------------------26 CAPÍTULO 5 Figura 10: Nervo peroneal [29] ---------------------------------------------------------------------31 Figura 11 : Músculos anteriores da perna [31] ----------------------------------------------------31 5 Figura 12: Dorsiflexão do tornozelo [33] ----------------------------------------------------------32 Figura 13: Ilustração representativa para carregar o modelo - “gait2392_simbody.osim. -32 Figura 14: Modelo - “gait2392_simbody.osim. --------------------------------------------------33 Figura 15: Dimensionamento do modelo - “gait2392_simbody.osim. ------------------------34 Figura 16: Dimensionamento do modelo - “gait2392_simbody.osim. ------------------------36 Figura 17: Dimensionamento do modelo - “gait2392_simbody.osim, sem a opção “preview static pose” selecionada ------------------------------------------------------------------------------36 Figura 18: Dimensionamento do modelo - “gait2392_simbody.osim, com a opção “preview static pose” selecionada ------------------------------------------------------------------37 Figura 19: Representação da janela “Scale factors”----------------------------------------------38 Figura 20: Ilustração representativa dos passos de como carregar o modelo “normal.mot”. a) indicação de como carregar o modelo, b) escolha do modelo, c) apresentação do modelo escolhido -----------------------------------------------------------------------------------------------39 Figura 21: Gráfico Do Padrão normal da Marcha Humana, tempo versus função dos membros do corpo ------------------------------------------------------------------------------------40 Figura 22: Gráfico do Padrão normal da Marcha Humana, tempo versus função ângulo do tornozelo -----------------------------------------------------------------------------------------------40 Figura 23: Gráfico do Padrão normal da Marcha Humana, tempo versus músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo --------------------------------------------------------41 Figura 24: Gráfico do tempo versus função ângulo do tornozelo ------------------------------41 Figura 25: Gráfico do tempo versus músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo,para simular a doença pé pendente- foot drop ----------------------------------------42 6 LISTA DAS TABELAS CAPÍTULO 5 Tabela 1: Constituição dos músculos anteriores da perna [30] -----------------------------31 7 CAPÍTULO1: INTRODUÇÃO A marcha humana representa o principal meio mecânico de locomoção do ser humano, o qual permite a translação do homem no espaço. O ciclo de marcha é dividido em duas fases, fase de apoio e fase de balanço. A fase de apoio é o tempo em que o pé está em contacto com o chão e corresponde a aproximadamente 60% do ciclo da marcha. A fase de balanço corresponde ao tempo em que o pé está no ar e corresponde aos restantes 40% do ciclo de marcha [1]. O ser humano apresenta um determinado padrão de marcha, o qual é adquirido na infância. Com a prática o sistema sensitivo motor gera automaticamente um conjunto repetido de comandos que permitem à pessoa caminhar sem esforço consciente. A análise desse movimento permite a quantificação de múltiplas variáveis, possibilitando a avaliação do padrão de marcha de um indivíduo. O conhecimento proporcionado por esta análise torna possível a distinção entre marcha normal e patológica, a determinação de limitações funcionais e incapacidades associadas as mais diversificadas doenças, bem como projetar dispositivos médicos, como próteses e ortóteses que substituam ou auxiliem a função perdida ou menos desenvolvida de um membro. Estes dispositivos começaram por existir com o intuito de tratar pequenas deformidades e problemas físicos dos soldados feridos em guerras. Hoje em dia, estão associados a fraturas, deformidades congénitas ou acidentes, à recuperação ou redução de lesões, a deformidades provenientes de doenças, ao tratamento pós-cirúrgico e também no auxílio de membros com mobilidade reduzida ou nula. 1.1 MOTIVAÇÃO Cada vez mais se verifica um incremento da taxa de envelhecimento da população e diminuição da capacidade de locomoção, bem como doenças ou acidentes que levam a um consequente aumento do uso de dispositivos médicos, como próteses e ortóteses que substituam ou auxiliem a função perdida de um membro. Como tal, é necessário melhorar os dispositivos médicos existentes, em termos de usuabilidade, performance e acessibilidade, no sentido de proporcionar uma maior qualidade de vida e bem-estar. 8 1.2 OBJETIVOS Os objetivos primordiais na realização deste trabalho foram realizar um estudo aprofundado essencialmente sobre: O ciclo de marcha normal, de forma a compreender quais as fases que o constituem, o que acontece em cada fase e de como este é alterado quando acorrem amputações; Prótese e ortóteses para os membros inferiores; OpenSim, um software que permite fazer simulações de patologias que alteram o ciclo de marcha. 1.3 ORGANIZAÇÃO Este trabalho encontra-se dividido essencialmente em duas partes desenvolvidas ao longo do semestre, que podem ser subdivididas em vários capítulos. O capítulo 1 é referente à introdução do tema do trabalho, bem como à motivação e aos objetivos que se pretendem alcançar durante este trabalho. Na primeira fase um pouco mais teórica, realizou-se uma pesquisa na literatura de um conjunto de conceitos os quais são mencionados no capítulo 2, 3 e 4. Nomeadamente o que é a marcha humana, o ciclo de marcha, as fases que o compõe, as doenças que levam a padrões de marcha alterados, bem como sobre ortóteses, amputações e próteses do membro inferior, as diferenças entre próteses e ortóteses, os tipos existentes, as patologias associadas e que fazem com que estas sejam usadas. Na segunda parte deste relatório, para uma melhor consolidação dos conceitos abordados nos capítulos mencionados e de modo a conhecer e entender melhor as potencialidades, o funcionamento, a organização e as limitações do OpenSim, simulouse uma patologia bastante recorrente - pé pendente, no qual se analisaram os músculos afetados por esta doença, as consequentes alterações na marcha, bem como de que forma o ângulo do tornozelo de um indivíduo é afetado por esta patologia comparativamente a um indivíduo com um padrão de marcha normal, esta componente prática está descrita no capítulo 5. O capítulo 6, 7 e 8 são referentes respetivamente à conclusão, perspetivas futuras e as referências bibliográficas consultadas na realização deste trabalho. 9 CAPÍTULO 2: MARCHA HUMANA A marcha humana é caracterizada por uma sequência de diversos eventos rápidos e complexos, sendo a sua observação clínica, particularmente a identificação de alterações de acontecimentos e a observação do seu grau de afastamento do normal, tão importante [1]. 2.1 CICLO DE MARCHA “NORMAL” O ciclo da marcha “normal” compreende um intervalo ou uma sucessão de movimentos que ocorrem em cada passada - espaço entre o contato inicial do membro de referência no solo até ao novo contato desse mesmo membro no solo, sendo composto por duas fases: a fase de apoio e a fase de balanço, as quais por sua vez, podem ainda ser subdivididas e analisadas em diversos momentos [2]. Começa com o primeiro contato do calcanhar do pé direito com o solo e termina quando ocorre o novo contato do calcanhar do pé direito com o solo, tendo a duração aproximada de um segundo [3]. Numa marcha normal, a fase de apoio, na qual o pé está em contato com a superfície de apoio, é maior do que a fase de balanço, correspondendo a cerca de 60% do ciclo de marcha. Na fase de balanço o pé não está em contato com a superfície de apoio, terminando no momento em que o calcanhar contata de novo com o solo. Durante esta fase, o membro contra lateral que não está em contato com a superfície de apoio permite que o membro inferior se mova para a frente, levando ao avanço da perna [4]. A fase de apoio é dividida em quatro componentes e a fase de balanço é dividia em três componentes, como se pode observar na Figura 1 [2]. Figura 1: Ciclo de marcha humana normal [1]. A fase de apoio pode ser subdividida em duplo apoio (apoio duplo inicial e apoio duplo final) e apoio simples. Na subfase de apoio duplo ambos os pés se encontram em contato com o solo, sendo que a uma velocidade de marcha considerada 10 normal corresponde a cerca de 10% do ciclo de marcha para cada membro inferior. A sua duração tende a diminuir à medida que a velocidade de marcha aumenta, desaparecendo totalmente na corrida. A subfase de apoio simples representa cerca de 40% do tempo do ciclo completo de marcha. Neste período, ocorre a diminuição brusca da carga do membro apoiado e sua preparação para a fase de balanço [2]. Assim, na fase de apoio tem-se: 1) Contacto inicial, exato momento em que o pé toca no solo; 2) Resposta à carga, prolonga-se até ao desprendimento do pé oposto do solo; 3) Apoio médio, tem início com a saída do pé contra lateral do solo e continua até que o peso corporal esteja exatamente sobre a região anterior do pé apoiado; 4) Apoio final, tem início com a elevação do calcanhar do pé apoiado e estende-se até ao contato inicial do pé oposto; 5) Pré-balanço, que se inicia com o contato inicial do pé oposto e se estende até ao desprendimento do pé apoiado. A fase de balanço corresponde a 40% do tempo total do ciclo de marcha, e pode ser subdividida em: 1) balanço inicial ou aceleração, 2) fase de balanço médio, 3) balanço final ou desaceleração. A subfase de balanço inicial ocorre no momento em que o apoio perde o contato com o solo e o membro inferior é acelerado no sentido do movimento através da flexão das articulações da anca e joelho acompanhadas por uma dorsiflexão da articulação do tornozelo. A subfase fase de balanço médio ocorre no momento em que o membro inferior em aceleração se encontra alinhado com o membro inferior em apoio. A subfase de balanço final ou desaceleração ocorre aquando do momento de desaceleração do membro inferior, preparando-o para o contacto com o solo [2] [5]. % do ciclo de marcha 0% 10% 30% 50% 60% 73% 87% 100% Figura 2: Fases do ciclo de marcha normal [32]. 11 2.2 ANÁLISE DA MARCHA HUMANA A análise da marcha é a medição quantitativa e avaliação da locomoção humana e inclui tanto o caminhar como o correr. Em biomecânica, atletas e treinadores usam técnicas de análise de movimento para investigar maneiras de melhorar o desempenho, evitando lesões, por exemplo [6]. Para o desenvolvimento de um dispositivo como uma prótese ou ortótese para o membro inferior é essencial abordar algumas questões para além dos conhecimentos dos movimentos realizados pelo membro, como por exemplo estudar a marcha humana. Assim através desta análise é possível perceber em que fases da marcha o esforço é feito na ortótese ou na prótese e onde é maior ou menor, podendo entre outros aspetos adequar-se a forma do dispositivo a estas forças exercidas, ou até mesmo alterar-se o tipo de material destes dispositivos médicos, para que estes se adequem aos esforços requeridos. Análise da marcha, não só em termos da utilização da superfície plantar, mas principalmente, na questão das zonas de suporte utilizadas durante a mesma pode ser vista na Figura 3. Figura 3- Desenvolvimento da marcha humana [33]. Para o desenvolvimento de uma boa prótese ou ortótese, que auxilie e garanta um padrão de marcha “normal”, é igualmente importante observar em que fases do caminhar se exercem maiores forças no solo e qual a percentagem do peso corporal aplicada nesse momento. Normalmente, a fase da marcha em que mais percentagem do peso do corpo é aplicada nos membros inferiores, é na fase do pico de desaceleração e na fase do pico de aceleração da marcha [33]. 12 2.3 MARCHA ANORMAL Padrões de marcha fora do normal consistem em padrões incomuns e incontroláveis que geralmente surgem em função de doenças ou lesões nas pernas, pés, cérebro, espinal medula ou ouvido interno [6]. O exame da marcha anormal deve ser realizado por um especialista na área e deve ser feito pedindo ao paciente para que ele caminhe, inicialmente se afastando e depois se aproximando do examinador, que deve ter uma visão do plano frontal do paciente. A marcha deve ser executada quantas vezes forem necessárias, com o paciente de olhos abertos e fechados [1]. Disfunção do tendão tibial posterior pode resultar numa deformidade patológica do pé chato patológica, e se não for adequadamente tratada através de medidas conservadoras (repouso, reabilitação e/ou ortótese), a intervenção cirúrgica é necessária para corrigir a deformidade. O desenvolvimento da análise da marcha quantitativa contribui para a avaliação de deficiências músculo-esqueléticas e neurológicas associadas aos membros inferiores, e tem sido particularmente útil na avaliação de inúmeras anomalias pediátricas. Análise de movimento quantificada em 3D do pé e tornozelo durante a deambulação fornece um meio útil de avaliar a patologia do paciente no pré-operatório e avaliação da eficácia da intervenção no pós-operatório. O pé é o segmento final da cadeia locomotora, fornecendo suporte para o corpo através da distribuição de cargas gravitacionais e inerciais. Anormalidades do pé e tornozelo podem causar dor e carregamento irregular nas partes mais proximais do corpo. Os métodos atuais de análise do pé e tornozelo incluem uma combinação de exame físico, observação e radiografias. Modelos mais descritivos exigem reconhecimento e definição dos principais segmentos e articulações. Para melhor descrever os padrões de movimento intersegmentares do pé durante a marcha, um sistema de análise deve captar com precisão os dados multisegmentar durante tanto na fase de balanço como na fase de apoio. O modelo tradicional de análise do pé utiliza dois marcadores reais (um no dorso do antepé tradicionalmente entre o segundo e terceiro metatársicos e um na parte traseira do calcâneo) e um marcador virtual (centro da articulação do tornozelo). Contudo, este conjunto de marcadores não pode ser usado para determinar orientações de pronação - supinação do pé, em pacientes com pés pequenos ou de baixo arco, pois 13 os três marcadores podem tornar-se colineares. Outro conjunto de marcadores tradicionais utiliza três marcadores no antepé [7]. Análise da marcha clínica é assim uma ferramenta de avaliação que permite ao médico determinar a extensão em que a marcha de um indivíduo tem sido afetada por uma doença já diagnosticada. 14 CAPÍTULO 3: AMPUTAÇÕES Considera-se a amputação o procedimento cirúrgico mais antigo, aplicado quando as outras opções clinicas já foram abordadas e esta é a melhor opção para o paciente. Pode ser definida como a remoção, geralmente, cirúrgica, total ou parcial de um membro. A amputação deve ser interpretada como o princípio de um grande trabalho de recuperação funcional, psíquico e social, com o objetivo de manter e/ou devolver a dignidade do paciente [8]. 3.1NÍVEIS DA AMPUTAÇÃO OU DESARTICULAÇÃO Há muitos fatores que determinam o tamanho do membro a ser amputado. Geralmente, quanto mais longo for o comprimento do coto e mais articulações forem mantidas inalteradas, maiores são as facilidades aquando da protetização [9]. Ao nível do membro inferior podem ser considerados os seguintes níveis de amputação: - Amputação total ou parcial do pé, dependendo das várias situações clínicas tem-se: a) Amputação dos dedos do pé; b) Amputação transmetatársica do pé: remoção de todos os dedos do pé e parte dos metatarsos (3º, 4º, 5º metatarso são retirados). c) Amputação transtársica: tipicamente antes considerava-se a amputação de Lisfranc ou metatarsotársica, amputação de Choupart ou mediotársica e amputação a Syme, figura 4. - Desarticulação do tornozelo: com preservação de um retalho do calcanhar, para permitir a sustentação de peso na extremidade do coto. - Amputação transtibial: é uma amputação abaixo do joelho, entre a articulação do tornozelo e a articulação do joelho. Normalmente, o apoio da prótese é dado no tendão infrapatelar. Este nível pode ser classificado de três maneiras diferentes em relação aos tamanhos. - Desarticulação do joelho: é uma amputação onde se retira toda a parte da articulação do joelho para baixo (Tíbia, Fíbula, ossos do pé), a rótula pode ser preservada ou não. - Amputação transfemoral: é uma amputação acima do joelho, entre a articulação do joelho e a articulação do quadril. O apoio da prótese é dado no Ísquio. Este nível pode ser classificado de três maneiras diferentes em relação aos tamanhos. 15 - Desarticulação da anca (Hemipelvectomia): é uma amputação onde se retira toda a perna, figura 5 [10] [11]. Figura 4: Níveis de amputação do pé [11]. Figura 5: Níveis de amputação do membro inferior [12]. 3.2 CAUSAS DE AMPUTAÇÃO Quanto às causas da amputação pode-se distinguir entre causas de natureza Congénita e de natureza Adquiridas. Alguns autores mencionam que as amputações adquiridas são por sua vez classificadas como doença vascular, como as 16 arterioscleroses, tromboses ou diabetes, infeção aguda, infeção crónica, neoplasia maligna, traumatismo [11]. Em crianças a maioria das amputações são congénitas, em adultos a maior percentagem está associada a traumas diretos ou acidente e infeções cronicas [12]. 3.3 CICLO DE MARCHA DE AMPUTADOS EM MEMBROS INFERIORES As amputações de membros em pacientes “vasculares” em particular as transtibiais e transfemorais estão associadas a percentagens significativas de mortalidade (6% a 17%), o que é um indicativo da sua importância. Por isso é que é tão importante o cuidado pré-operatório, peri-operatório e pós-operatório. Os parâmetros a ter em conta na cicatrização adequada de um coto de amputação são muitos, entre os quais um planeamento cauteloso, cuidadoso e conhecimento técnico-anatômico, visando uma reabilitação adequada, além de todos os cuidados que se deve ter no procedimento cirúrgico e na reabilitação. Dados estatísticos apontam que riscos de amputação contralateral e óbito em 5 anos atingem até 50%. Aproximadamente 80% das amputações de membros inferiores são realizadas em pacientes com doença vascular periférica e/ou diabetes [13]. Após o paciente ter sido submetido à amputação das extremidades inferiores, este tem de escolher se prefere andar com ou sem prótese. Contudo, uma prótese bem apropriada pode resultar numa marcha satisfatória. A qualidade da marcha de amputados tem melhorado com os avanços tecnológicos, cirúrgicos e de reabilitação, embora haja na maior parte dos casos e dependendo da faixa etária dificuldades iniciais [13]. A amputação não resulta apenas em perda física, mas também em perda de todo um mecanismo integrado entre tronco e membros responsável pelo funcionamento equilibrado do sistema locomotor. Além de todo o processo psicológico de compreensão e de aceitação, por isso a escolha adequada da prótese é uma tarefa multidisciplinar constituída por uma vasta equipa de profissionais ser tão importante. A amputação do membro inferior leva a perda do controlo neural aferente e eferente. As próteses são aplicadas com o objetivo de compensar esta perda funcional e permitir uma função adequada de marcha com baixo custo energético. As transmissões de forças e movimentos são realizadas através de encaixes protéticos os quais também são responsáveis pela fixação do sistema mecânico ao membro residual, específicos para 17 diferentes níveis de amputações. Os sistemas de forças dinâmicas que atuam no amputado durante o uso da prótese estão relacionados com o tipo de cartucho, com o alinhamento da prótese e com o tipo de componentes utilizados [14] [15]. A dificuldade na marcha dos amputados deve-se à falta de sincronia de atividade muscular que não recebe a informação propriocetiva adequada. As causas que podem alterar e serem responsáveis pelos desvios na marcha dos amputados podem ser devido a causas relacionadas quer com deficiências do próprio amputado, como por exemplo fraqueza muscular, contratura articular ou presença de hipersensibilidade por neuromas, quer por problemas protéticos, como alinhamento, encaixe mal adaptado ou escolha imprópria de componentes. Estes desvios podem ser observados em todas as fases da marcha [14]. As pessoas com amputação de membros inferiores têm geralmente danos consideráveis na capacidade de andar, incluindo o aumento do risco de queda. Compreender os aspetos biomecânicos da marcha destes pacientes é indispensável para melhorar a sua função de marcha e a sua qualidade de vida. Estudos realizados com pacientes com amputação mostra que estes apresentam maior variabilidade na largura do passo e maior variabilidade no movimento do tronco durante perturbações de plataforma, mas não apresentaram uma maior instabilidade local ou orbital quando comparado com os controlos saudáveis. Este estudo mostra que, na ausência de outras co morbidades, os pacientes com amputação transtibial unilateral parecem reter a função sensorial e motora suficiente para manter a estabilidade global superior do corpo durante a caminhada, mesmo quando substancialmente desafiado [14]. Andar com uma prótese requer em qualquer situação exercer maior carga no membro intato, prolongando a produção de força de propulsão desse mesmo membro. Estudos realizados também demonstram que um individuo amputado apresenta uma extensão de anca mais elevada, para compensar a falta de dorsiflexão na articulação do tornozelo [10]. 18 CAPÍTULO 4: PRÓTESES E ORTÓTESES Os elementos protésicos surgiram há milhares de anos, por razões meramente funcionais onde o homem usava um pedaço de madeira para se apoiar, de forma a poder caminhar com apenas um membro inferior. Do mesmo modo, as funções cosméticas e psicológicas acompanharam essa evolução. Desde guerras ao encobrimento de deformações, estes produtos foram e serão reflexos do aperfeiçoamento da medicina e da sua fusão com a tecnologia. Muitos dos elementos que transportam até aos dias de hoje evidências do uso de próteses ou ortóteses, ou mesmo de amputações são encontrados em peças de arte produzidas por povos primitivos. A evolução tecnológica das Ortóteses e Próteses tem investido no desenvolvimento das suas pesquisas em diversas áreas, nomeadamente na robótica, na biomecânica e na automação, a fim de desenvolver novas gerações de membros artificiais. O século XXI anuncia ser uma época de desenvolvimento tecnológico, tanto ao nível dos materiais como ao nível dos mecanismos, com o aparecimento de dispositivos verdadeiramente marcantes. Atualmente, já é possível reproduzir com grande fidelidade o ciclo de marcha do ser humano [15] [16]. 4.1 ORTÓTESES Ortótese pode ser entendida como um equipamento, aparelho ou dispositivo ortopédico de uso externo, como coletes, palmilhas, calçados especiais, tutores, entre outros, que são destinados a alinhar, prevenir ou corrigir deformidades, a melhorar a função das partes móveis do corpo ou corrigir alterações morfológicas de um órgão, de um membro ou de um segmento de um membro [15] [16]. O objetivo do uso de ortóteses é restaurar funções perdidas, normalmente após uma doença ou uma condição neurológica, aos seus níveis naturais [15]. A origem etimológica do termo ortótese (Orthosis) vem do grego e é oriundo da palavra grega “orthos” que significa direito, reto, normal. São utilizadas desde a antiguidade, nessa altura sem princípios técnicos definidos e construídos de maneira artesanal. Os principais objetivos e princípios na utilização das ortóteses são: Estabilizar articulações, músculos e tendões que não têm condições de sustentação própria, quer a nível anatómico quer a nível funcional. 19 Prevenir, impedir ou minimizar a estruturação de deformidades articulares; Reduzir movimentos involuntários. Pode dividir-se as ortóteses em dois grandes grupos: Ortóteses Estáticas, caracterizadas por serem talas imóveis, delineadas para imobilizar articulações de modo a evitar deformações, lesões nos tecidos moles ou contracturas; e Ortóteses Dinâmicas, cujos mecanismos retratam o movimento que o corpo já não consegue produzir, mantendo ativa as capacidades funcionais [15] [17]. 4.1.1 Ortóteses para membros inferiores As ortóteses que envolvem uma ou mais partes dos membros inferiores são designadas por ortóteses de membro inferior e são classificadas conforme o membro e a articulação que necessita de correção: Pé: FO (foot orthose). As ortóteses a nível do pé são por vezes confundidas com o calçado. Uma vez que geralmente é um calçado modificado pela adição de materiais aplicados a nível interno ou externo no sapato. Estas alterações são com o intuito de corrigir desalinhamentos dos membros inferiores. Tornozelo-pé: AFO (ankle foot orthose) controlam o alinhamento e a movimentação do pé e do tornozelo e, desta forma, afetam todo o corpo”. Joelho-tornozelo-pé: KAFO (knee ankle foot orthose) estende-se desde a coxa para o pé e é geralmente usado para controlar a instabilidades no membro inferior, mantendo o alinhamento e controlar o movimento. Anca-joelho-tornozelo: HKAFO (hip knee ankle foot orthose) abrange a articulação da anca e da pélvis para proporcionar uma maior estabilidade para a anca, parte inferior do tronco e extremidades [18]. Assim, têm-se os seguintes exemplos de ortóteses para o membro inferior, os quais podem ser visualizados na figura 6: Imobilizador de joelho posição funcional, a); Imobilizador do tornozelo, b); Joelheira articulada elástica, (c); Estabilizador de tornozelo, (d); Sandália para gesso, (e); 20 Tira sub-Patelar em tubo, (f); Dennis-Brownne: para manter membros inferiores em rotação externa ou interna, (g); Geno Valgo e/ou Geno Varo: para correção do valgismo e/ou varismo, (h); Tutor: tutor para fratura de tíbia/fíbula, (i); Trilateral: para tratamento de Legg-Perthes, (j); Tutor longo unilateral ou bilateral: controlo do quadril sem controlo do joelho, (k); Ortótese moldada tornozelo-pé, (l); Palmilhas de Silicone Sob Medida, (m); Mola de Codvila: para pés caídos, pode ser usado com palmilha acoplada ou pregador para fixação no calçado, (n); Ortóteses tíbio társicas flexíveis para pés caídos, (o); Abdução do quadril Atlanta Brace, (p); Suspensório de pavlic, (q) [19] [20]. (a) (f) (b) (g) (c) (h) (d) (e) (i) (j) 21 (k) (l) (o) (m) (p) (n) (q) Figura 6: Exemplos de ortóteses para o membro inferior. a) Imobilizador de joelho posição funcional, b) Imobilizador do tornozelo, c) Joelheira articulada elástica, d) Estabilizador de tornozelo, e) Sandália para gesso, f) Tira sub-Patelar em tubo, g) Dennis-Brownne: para manter membros inferiores em rotação externa ou interna, h) Geno Valgo e/ou Geno Varo: para correção do valgismo e/ou varismo, i) Tutor: tutor para fratura de tíbia/fíbula, j) Trilateral: para tratamento de Legg-Perthes, k) Tutor longo unilateral ou bilateral: controlo do quadril sem controlo do joelho, l) Ortótese moldada tornozelo-pé, m) Palmilhas de Silicone Sob Medida, n) Mola de Codvila: para pés caídos, pode ser usado com palmilha acoplada ou pregador para fixação no calçado, o) Ortóteses tíbio társicas flexíveis para pés caídos , p) Abdução do quadril Atlanta Brace, q) Suspensório de pavlic [19] [20]. Pode-se distinguir ortóteses passivas e ortóteses ativas, figura 7. As ortóteses passivas foram as primeiras ortóteses que surgiram, pois não possuíam nenhum tipo de atuador acionado por comandos elétricos. O seu funcionamento depende totalmente do movimento do paciente ou é usada para restringir algum movimento. As ortóteses ativas utilizam atuadores de diversos tipos controlados por sinais elétricos. Inicialmente, as ortóteses ativas eram basicamente desenvolvidas a partir das ortóteses passivas com o intuito de reproduzir de forma mais fidedigna os movimentos antropomórficos para auxiliar no processo de reabilitação de pacientes. Estas próteses são muito utilizadas nos exercícios físicos de reabilitação funcional, pois os movimentos gerados pela ortótese estimulam o sistema nervoso central a reaprender os movimentos perdidos ou parcialmente perdidos [15] [17]. 22 Nas últimas décadas, tem havido mudanças significativas no que respeita aos materiais e tecnologias utilizadas para desenvolver e fabricar novas ortóteses. Os materiais mais utilizados no fabrico de ortóteses são comummente metais (aço, alumínio, magnésio e ligas de titânio) e outros (couro e borracha) e plásticos (de baixa temperatura e termoplásticos de alta temperatura) [17]. (a) (b) Figura 7: (a) Ortótese passiva de reação ao solo [18]; (b) Ortótese ativa com atuação no joelho [18]. Independentemente do tipo de ortóteses com as mais diferentes finalidades, existem vários objetivos que se esperam atingir, entre os quais: Restaurar a função para a qual foi solicitada; Provocar o mínimo de inconvenientes ao paciente; Ser segura e não causar lesões; Ser tanto quanto possível estética; Ser fácil de usar e manter; Ser duradoura e ter uma boa relação preço qualidade. 4.1.2 Doenças do pé e tornozelo que conduzem ao uso de ortóteses Durante o ciclo de marcha, o pé e o tornozelo estão sujeitos a diversas forças e movimentos, de modo que o movimento do corpo ocorre. O movimento do tornozelo é crucial para permitir a absorção correta das forças e avanço do membro inferior. Um grande número de doenças ou de acidentes podem afetar os sistemas neuromusculares e músculo-esqueléticas, que podem conduzir a perturbações no tornozelo. 23 Algumas das doenças a nível do pé e tornozelo, associadas aos elementos que constituem estes membros, por exemplo: ossos, tendões e músculos, e ainda as doenças neurológicas que acabam por afetar estes membros são: Miopatia; pé plano; pé cavo ou supinador; fraqueza do tibial anterior; resistência do pé em flexão plantar; inversão e eversão do ante pé; entorses, lesões e contusões; poliomielite; fascite plantar; pé diabético; esporão do calcâneo; meta tarsalgia; pé valgo ou varo; neuroma de Morton; dedos em garra; dedos montados; joanetes; artrite reumatoide; acidente vascular encefálico; traumatismo craniano encefálico; traumatismo raquimedular; pé caído ou pé dependente; lesão do nervo ciático, neuropatia periférica [21]. 4.2 PRÓTESES A perda de um membro ou parte dele representa uma mudança profunda nas atividades físicas e no bem-estar psicológico do ser humano, bem como influencia todas as atividades de lazer e profissionais. Uma forma de amenizar e recolocar o indivíduo nas suas tarefas diárias é a colocação de próteses no local do membro amputado. Por outro lado existe a necessidade de se preparar, desenvolver, próteses para aquilo que é classificado como anomalia congênita, enfermidades que geralmente costumam acompanhar pacientes desde os seus primeiros dias de vida e que também podem ser denominadas “amputações congênitas”. Podendo ser anomalias transversais ou anomalias longitudinais, sendo que as transversais utilizam próteses com encaixes e as longitudinais possuem função de ortóteses e próteses ao mesmo tempo. As próteses podem ser definidas como aparelhos ou dispositivos concebidos para substituir um órgão de um membro ou um membro destruído ou gravemente ferido. A palavra prótese (Prosthesis) vem do grego e significa acrescentar, adicionar [15]. Pode-se diferenciar próteses externas, que têm como principal papel substituir um membro amputado, como o caso de uma perna, e as próteses internas que são inseridas no interior do corpo, como por exemplo uma prótese da anca. Estes dispositivos, em Ortoprotesia podem dividir-se em várias tipologias quanto ao nível de amputação. Assim temos: Próteses para desarticulação do ombro; Próteses Transumerais (quando a amputação é acima do cotovelo); 24 Próteses para desarticulação do cotovelo; Próteses Transradiais (em amputações abaixo do cotovelo); Próteses para desarticulação do punho; Próteses para amputação parcial da mão; Próteses para amputação parcial do pé; Próteses para desarticulação do tornozelo; Próteses Transtibiais; Próteses para desarticulação do joelho; Próteses Transfemurais; Próteses para desarticulação da anca; Próteses para Hemipelvectomia (amputações na zona da bacia). Quanto à sua estrutura, as próteses podem distinguir-se: próteses exoesqueléticas, quando apresentam uma estrutura rígida, que suporta as forçam implicadas no seu uso, à superfície; e próteses endoesqueléticas que ao contrário das anteriores têm a sua estrutura no interior da prótese e são normalmente compostas por elementos modulares, facilitando a troca de componentes. Esta configuração permite diversos tipos de conformações a nível de desempenho da prótese e por consequência a nível económico, o que as tornam superiores às próteses exoesqueléticas sobre o ponto de vista funcional e cosmético. Têm a vantagem de o alinhamento da prótese, não implicar desmontar todo o conjunto. O alinhamento e a afinação de tensões podem ser resolvidos diretamente em cada componente através de parafusos ou reguladores [17] [18]. Podem ser ainda classificadas de acordo com a tecnologia dos componentes articulares utilizados em Próteses Passivas, Mecânicas, Pneumáticas, Hidráulicas, Eletrónicas, Elétricas e Híbridas. (a) (b) Figura 8: Tipos de prótese. (a) Prótese exoesquelética em madeira [15]; (b) Prótese endoesquelética para amputação acima do joelho [15]. 25 4.2.1 Componentes da prótese As próteses são constituídas por encaixes, articulações, adaptadores, tubos de conexão e pés, figura 9. Estes constituintes devem ser criteriosamente selecionados de acordo com as necessidades do paciente. Os diferentes níveis de amputação têm necessidades diferentes e, por consequência, encaixes diferentes. O encaixe tem como funções fixar a prótese ao membro residual do paciente, envolver o coto sem dificultar a circulação sanguínea e transmitir forças e controlar os movimentos. Os pontos de pressão para fixação, descarga de peso e suspensão da prótese devem ser definidos e ajustados em cada paciente, de forma a evitar ferimento no coto. Cada parte tem como função básica realizar a união naquilo que se denomina de componente funcional (pé, articulação de joelho, articulação de quadril e encaixe) das próteses modulares e resistir à massa do usuário, bem como simultaneamente, absorver a energia e dissipá-la de volta para auxiliar o paciente em sua caminhada. Os materiais mais comummente utilizados na confeção das próteses mecânicas são: titânio, liga cobalto-cromo-molibdênio, aço inoxidável e fibra de carbono [15] [21]. Para cada nível de amputação, encontramos diferentes tipos de encaixes. Esses ajustes precisos definem o sucesso da protetização e, consequentemente, da reabilitação. Os adaptadores e os tubos de conexão são selecionados dependentes da configuração da prótese e dos seus outros componentes. O revestimento cosmético é realizado através de uma espuma com variáveis espessuras. Este revestimento de espuma pode ser substituído por impressões realizadas diretamente no encaixe, para quem não pretender disfarçar a prótese [15] Figura 9: Constituintes da prótese [15]. 26 A grande dificuldade encontrada na confeção de uma prótese é a escolha do melhor material que seja compatível e que disponibilize conveniência técnica observando a otimização do custo benefício. Um outro parâmetro igualmente importante é a estética, a qual deve entre outros fatores obedecer à teoria da resistência dos materiais e estar afinado para evitar posterior desagrado ao amputado [15]. 27 CAPÍTULO5: TRABALHO EXPERIMENTAL 5.1 Objetivos Pretendeu-se simular em OpenSim uma patologia, bastante recorrente e que afeta grande parte da população, pé pendente ou pé caído, e analisar quais os músculos do pé e tornozelo que são afetados por esta doença, bem como perceber as alterações dos valores dos ângulos em relação ao padrão de marcha normal. A ideia subjacente aos acontecimentos básicos envolvidos na produção do movimento voluntário é bastante simples. Comandos iniciados no cérebro são transmitidos ao longo dos nervos para os músculos, que quando ativados por nervos, geram forças. Forças musculares são transferidos para os ossos e produzem movimentos angulares das juntas. Quando o sistema nervoso coordena corretamente a ativação de muitos músculos, o resultado é um movimento suave. Vários investigadores realizaram uma extensa gama de experiência para gravar padrões de excitação neuromusculares, que caracterizam a mecânica muscular de contração, descrevem a geometria músculo-esquelético, e quantificam a dinâmica de movimento. No entanto, permanece um desafio ligar todo o conhecimento detalhado de elementos neuro-músculo-esquelético para criar uma compreensão integrada do movimento. Os investigadores precisam simulações para complementar estudos experimentais porque os elementos importantes do movimento, incluindo sinais neurais e as forças musculares, são extremamente difíceis de obter. 5.2 OpenSim OpenSim é um software de livre acesso que possibilita desenvolver, examinar e observar modelos do sistema músculo-esquelético, e criar simulações dinâmicas de movimento [1]. OpenSim proporciona uma plataforma na qual os utilizadores podem produzir uma biblioteca de simulações, as quais podem ser trocadas, testadas, analisadas e melhoradas através de uma colaboração múltipla [22] [23]. Como é de código aberto permite aos pesquisadores reproduzir os resultados produzidos por outros laboratórios, fazer melhorias e adaptar o código às próprias necessidades. Um modelo músculo-esquelético em OpenSim, consiste em segmentos de 28 corpos rígidos ligados por articulações. Os Músculos abarcam estas articulações e geram forças e movimento. Uma vez criado o modelo músculo-esquelético, o OpenSim permite estudar os efeitos da geometria músculo-esquelética, cinemática articular e propriedades do músculo-tendão sobre as forças e momentos articulares que os músculos podem produzir. Possibilita ainda o sincronismo de vários movimentos, o que permite animar diversos modelos ao mesmo tempo [22]. Vários modelos dos membros inferiores e superiores foram desenvolvidos para analisar as consequências biomecânicas dos procedimentos cirúrgicos, incluindo cirurgias de tendão, osteotomias e próteses totais. Os modelos referentes aos membros inferiores foram ainda utilizados para estimar comprimentos do músculo-tendão, velocidades, acelerações induzidas durante a marcha normal e patológica.Estes estudos indicam a utilidade de modelos músculo-esquelético e simulações dinâmicas para analisar as causas de anormalidades da marcha e os efeitos de vários tratamentos. OpenSim compreende um conjunto de modelagem e ferramentas de análise e o SimTrack, uma ferramenta que permite aos pesquisadores gerar simulações dinâmicas de movimento a partir de dados de captura de movimento. Na interface gráfica do usuário, este é capaz de aceder a um conjunto de ferramentas de alto nível para a visualização de modelos, edição de músculos, obtendo gráficos e outras funções [24] [25]. 5.3 Pé pendente Pé pendente, também designado por pé caído, é um termo geral para designar a dificuldade em levantar a parte frontal do pé, o que leva ao arrastamento dos dedos do pé durante o caminhar. Resulta da fraqueza dos músculos que fazem a flexão dorsal do pé (movimento de puxar a ponta do pé para si). A função anormal dos músculos provoca um padrão de marcha característico. Como resultado, a ponta do pé fica sempre inclinada para baixo, provocando um padrão de marcha anormal. Por vezes pessoas com pé pendente, para não arrastar os dedos do pé, levantam o joelho acima do normal ou balançam a perna num amplo arco. Pé pendente é interpretado como um sintoma de um problema subjacente neurológico, muscular ou anatómico subjacente. Pode ser temporário ou permanente e afeta pessoas de todas as idades. 29 O pé pendente pode ter diversas causas, que levam a diferentes tratamentos. Como referido anteriormente, no geral decorre de fraqueza ou paralisia dos músculos responsáveis por levantar o pé. As causas do pé pendente incluem lesão do nervo peroneal, um ramo do nervo ciático que envolve desde a parte de trás do joelho para a frente da canela, problemas cerebrais e de coluna e distúrbios musculares. Algumas formas comuns do nervo peroneal estar danificado ou comprimido incluem: Lesões desportivas, diabetes, prótese da anca, perna ou do joelho (cirurgias ao joelho ou na perna podem levar a danos nos nervos que, posteriormente levam ao desenvolvimento do pé pendente (cerca de 0,3-4% das próteses totais do joelho desenvolvem pé pendente). Das pessoas que se submetem a cirurgia na tíbia, 313% experienciam pé pendente. Problemas Cerebral ou de coluna, incluem: AVC, Esclerose múltipla (EM), paralisia cerebral, doença de Charcot-Marie-Tooth. As desordens muscularem que podem causar pé pendente, inclui distrofia muscular, esclerose lateral amiotrófica, Poliomielite, entre outras. O diagnóstico baseia-se na aparência visual do comportamento alterado do pé. Contudo, uma eletromiografia pode ser útil na distinção entre os diferentes tipos de danos no nervo que pode ser responsável pelo pé pendente. O tratamento precoce pode aumentar as probabilidades de recuperação. Os tratamentos podem incluir suspensórios leves, palmilhas, fisioterapia, cirurgia. Suspensórios leves são o tratamento mais comum, sendo usados para apoiar a perna. A fisioterapia é usada para fortalecer os músculos do pé e da perna. Em alguns casos, utiliza-se dispositivos eletrónicos (electroestimulação neuronal) que estimulam os nervos responsáveis pela flexão dorsal do tornozelo. A cirurgia pode ser recomendada para tentar reparar ou descomprimir o nervo danificado [26] [27]. O nervo peroneal começa a partir da L4, L5, S1 e S2. Na coxa inferior, logo acima da parte de trás do joelho, o nervo ciático ramifica-se em dois nervos, nervo tibial e nervo peroneal, que inervam as diferentes partes da parte inferior da perna. O nervo peroneal comum inclui os ramos: peroneal profundo e peroneal superficial. Estes inervam músculos nas pernas que elevam o tornozelo e os dedos para cima (flexão dorsal). O nervo peroneal profundo dá inervação ao músculo tibial anterior da perna que é responsável pela flexão dorsal do tornozelo [28]. 30 Figura 10: Nervo peroneal [29]. [ANATOMY EXAM 1 REVIEW – MUSCLES, JOINTS, LIGAMENTS] Músculo Grupo “Tibialis anterior” Ação Inervação Dorsiflexão do tornozelo; inversão–doMUSCLES, pé. [ANATOMY EXAM 1 REVIEW JOINTS, Anterior da “Extensor hallucis perna LIGAMENTS] longus” “Extensor digitorum longus” “Fibularis (peroneus) tertius” Vascularização Dorsiflexão do tornozelo; extensão do 1º dedo. Dorsiflexão do tornozelo; extensão 2 – 5 dedo. Dorsiflexão do tornozelo; eversão do pé. Nervo peroneal profundo. Artéria tibial anterior [ANATOMY EXAM 1 REVIEW – MUSCLES, JOINTS, Tabela 1: Constituição dos músculos anteriores da perna [30]. LIGAMENTS] [ANATOMY EXAM 1 REVIEW – MUSCLES, JOINTS, LIGAMENTS] [ANATOMY EXAM 1 REVIEW – MUSCLES, JOINTS, LIGAMENTS] [ANATOMY EXAM 1 REVIEW – MUSCLES, JOINTS, LIGAMENTS] Figura 11 : Músculos anteriores da perna [31]. 31 Gama de movimentos representante de um tornozelo normal e saudável: Máximo de plantarflexão em relação à posição subtalar neutral = 50° [33]. Máximo da dorsiflexão em relação à posição subtalar neutral = 30° [33]. Figura 12: Dorsiflexão do tornozelo [33]. 5.3.1 Análise da marcha normal Utilizou-se um modelo músculo-esquelético, da extremidade inferior. O modelo é intitulado “3DGaitModel2392” e representa um sujeito adulto com uma altura aproximada de 1,8 m e uma massa aproximada de 75 kg. O modelo é composto por 13 segmentos de corpo rígido e inclui as linhas de ação de 92 músculos (43 por perna e 6 no torso). Os dados experimentais da marcha foram coletados por Jill Higginson e Chand João no laboratório Neuromuscular Biomecânica da Universidade de Delaware. Nesta parte experimental averiguou-se a marcha de pacientes com pé pendente, provocada pela lesão do nervo peroneal, nomeadamente na perna direita. Para carregar este modelo músculo-esquelético em OpenSim, efetuaram-se os seguintes passos: Clicou-se no menu em “File” de menu e selecionou-se “Open Model” . 32 Figura 13: Ilustração representativa de como carregar o modelo - “gait2392_simbody.osim. Selecionou-se a pasta “Models “gait2392_simbody.osim “Gait2392_Simbody” “Open”. Figura 14: Modelo - “gait2392_simbody.osim. Na janela “coordinates”, visível na imagem anterior do lado esquerdo, os primeiros três cursores correspondem a rotações da pélvis sobre os eixos Z, X, e Y, respetivamente. Os restantes correspondem a rotações deslizantes comuns e controlam um único grau de liberdade. Posteriormente efetuou-se o dimensionamento do modelo músculo-esquelético genérico, com o objetivo de modificar a antropometria, ou dimensões físicas, do modelo genérico para que ele corresponda a antropometria de um determinado sujeito. É um dos passos mais importantes na resolução de problemas da cinemática inversa e dinâmica inversa. O dimensionamento no OpenSim, ajusta quer a massa, quer as dimensões dos segmentos corporais. Pode ser realizado utilizando uma combinação de dois métodos. Um à base de medição Escala : Este tipo de escalonamento determina dimensionar fatores para um segmento do corpo, comparando medidas de distância entre pontos de referência especificados no modelo, conhecidos como marcadores virtuais , e os correspondentes marcadores experimentais posições. E o outro por dimensionamento manual : Este tipo de escalonamento permite ao usuário dimensionar um segmento com base em algum fator de escala predeterminada. Dimensionamento manual às vezes é necessário quando os dados de marcadores adequados não estão disponíveis, ou se os fatores de escala foram determinados utilizando um algoritmo alternativo. 33 Desta forma, o dimensionamento é feito com base na distância entre os marcadores do modelo em comparação com as mesmas distâncias entre os marcadores experimentais correspondentes. Assim, efetuaram-se os seguintes passos para efetuar esta etapa: Clicou-se na opção “tools” do menu e selecionou- se “scale model” . Figura 15: Ilustração representativa da janela Scale Tool. Este painel é constituído por três janelas, “Settings” utilizado para especificar parâmetros relativos aos dados do sujeito, modelo genérico, e de como o modelo deve ser dimensionado. O painel “scale factors” é usado para especificar os fatores de escala para cada segmento, por último o painel “static pose weights” é utilizado para especificar pesos em marcadores de posições e ângulos articulares para resolver um problema de cinemática inversa para a pose estática. O painel “Settings” está organizado em quatro seções principais: “Generic model data”: expõe informações não editáveis sobre o modelo genérico que deve ser escalado. Dá o nome do modelo, a massa do modelo, e se é ou não incluído um conjunto de marcadores. 34 “Subject data”: exibe informações que podem ser editáveis, que permite especificar o nome do novo modelo que será gerado, a massa total do sujeito, e se deve ou não adicionar marcadores ao modelo. “Scale model”: fornece acesso às configurações básicas para especificar como um modelo é dimensionado. Se a caixa “Scale model” não estiver marcada, o modelo não será redimensionado. Quando a caixa para “Preserve mass distribution during scale” está marcada, a massa total do modelo genérico é dimensionada de modo que seja igual à massa do objeto, preservando as massas relativas dos seus segmentos corporais. Caso esta opção não seja selecionada, as massas do segmento são dimensionados com base unicamente nos fatores de escala aplicados a cada segmento do corpo, e a massa total do modelo não será igual à massa experimentalmente medida do sujeito. A caixa “marker data for measurements” serve para especificar um arquivo contendo dados de marcadores. A distância entre pares de marcadores utilizados para calcular os fatores de escala para os segmentos baseia-se na média das posições do marcador ao longo de um intervalo de tempo. Caso se pretenda especificar o intervalo de tempo, entre o início e to fim selecionar “average measurements between times” . O tempo de arranque deve ser sempre menor do que ou igual ao tempo final. “Adjust model markers”: fornece acesso às configurações para especificar como marcadores no modelo devem ser movidos para coincidir com os marcadores experimentais. Se esta caixa não estiver selecionada o modelo não será movido. Para que os marcadores virtuais do modelo possam ser movidos, o modelo deve ser colocado numa posição que se aproxime da posição do sujeito. Isto inclui colocar o modelo no local correto em laboratório e também encontrar um conjunto adequado de ângulos articulares para coincidir com a pose do assunto e não selecionar a opção “Preview static pose (no marker moviment)”. Com base na caixa “Scale tool” “Settings” a massa do objecto é = 75.1646 kg igual à massa do modelo do sistema músculo-esquelético. Contudo depois de se selecionar Load inseriu-se o arquivo de configurações - “subject01_Setup_Scale.xml”. 35 Figura 16: Dimensionamento do modelo - “gait2392_simbody.osim. Após inserir o arquivo, verificou-se que a massa do sujeito mudou para 72.6 Kg, isto tem a ver com as configurações do arquivo carregado, contudo como referido anteriormente este valor poderia ser editável. Posteriormente clicou-se em ”run” e “close”. Figura 17: Dimensionamento do modelo - “gait2392_simbody.osim, sem a opção “preview static pose” selecionada. De salientar as esferas azuis à volta do modelo. Estas esferas representam graficamente os marcadores experimentais a partir dos dados de captura de movimento utilizados no dimensionamento baseado na medição. As esferas azuis estão sobrepostas às esferas rosas, que por esse motivo não se veem. As esferas rosas representam os marcadores virtuais do modelo. opção “preview static pose” selecionada. 36 A seguir apresenta o caso em que a opção “Preview static pose (no marker moviment)” do painel “Settings” foi selecionada. Figura 18: Dimensionamento do modelo - “gait2392_simbody.osim, com a opção “preview static pose” selecionada. Da análise da imagem pode-se concluir, que os marcadores virtuais não coincidem com os marcadores experimentais e como tal observam-se tanto as esferas azuis como as cor-de-rosa. O erro entre as distâncias calculadas entre os marcadores virtuais e marcadores experimentais é máximo, neste caso para o topo da cabeça. 37 Verificou-se também que quando se fazia o dimensionamento do modelo mais do que uma e quer se selecionasse a opção “preview static pose” quer não, o erro máximo variava, tomando valores cada vez mais pequenos, bem como o sítio onde isso acontecia também, neste caso varia apenas entre o topo da cabeça e acrômio. Analisando as restantes janelas, em particular “Scale factors”, pode – se ver que os segmentos do corpo dimensionados manualmente foram a tíbia e o fémur. Figura 19: Representação da janela “Scale factors”. Para animar o modelo, carregou-se o arquivo de movimento “normal.mot”: Clicou-se em “file” “Load motion” e selecionou-se o arquivo “normal.mot”, que descreve o movimento de marcha normal. 38 (a) (b) (c) Figura 20: Ilustração representativa dos passos de como carregar o modelo “normal.mot”, a) indicação de como carregar o modelo, b) escolha do modelo, c) apresentação do modelo escolhido. 39 5.3.2 Análise do ângulo do tornozelo na marcha pé pendente Como explicado anteriormente a patologia pé pendente pode ser uma “consequência” da lesão no nervo peroneal, que resulta na fraqueza dos músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo. Esse nervo pode ramificar-se em nervo peroneal periférico e nervo peroneal superficial, os quais são responsáveis pela inervação dos músculos “Tibial anterior, Extensor hallucis longus, Extensor digitorum longus, Fibularis (peroneus) tertius”, cuja ação é a dorsiflexão do tornozelo. Analisaram-se estes músculos ao longo do tempo, especificamente o ângulo do tornozelo da perna direita: “angle_ankle_r” na marcha normal e na marcha com patologia pé pendente. Começou-se por analisar o padrão normal de marcha humana, em particular o ângulo do tornozelo, durante o ciclo de marcha normal. (s) Figura 21: Gráfico do Padrão normal da Marcha Humana, tempo versus função dos membros do corpo. Em maior destaque o ângulo do tornozelo: dorsiflexão Flexão plantar (s) Fase de apoio Fase de balanço Figura 22: Gráfico do Padrão normal da Marcha Humana, tempo versus função ângulo do tornozelo. 40 No contacto inicial o tornozelo encontra-se com um ângulo aproximadamente de – 1.7º (o ângulo negativo representa o a flexão plantar, enquanto que o ângulo positivo indica um dorsiflexão do tornozelo), na resposta à carga o tornozelo faz uma flexão plantar de 5º, daí para a frente, começa a fazer uma dorsiflexão que chega aproximadamente a 12.5º. Na fase de apoio final e pré- balanço, o tornozelo faz flexão plantar de 15º. Posteriormente o tornozelo faz novamente a dorsiflexão e volta até à posição neutra. Na figura a seguir obteve-se o ângulo dos músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo, ao longo do tempo, num ciclo de marcha normal. Verifica-se que o que efetua um maior angulo é o tibial anterior, o que não é de estranhar, uma vez que do conjunto destes músculos é o que maior contribui para a dorsiflexão do (Deg.) tornozelo. Figura 23: Gráfico do Padrão normal da Marcha Humana, tempo versus músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo. De seguida apresenta-se os resultados da simulação de uma marcha humana, onde se varia o ângulo do tornozelo, para perceber as alterações deste ângulo da marcha (Deg.) patológica- pé pendente. (s) Fase de apoio Figura 24: Gráfico do tempo versus função ângulo do tornozelo. Fase de balanço 41 Dá análise do gráfico pode-se concluir-se que o ângulo do tornozelo inicia o contacto inicial com uma flexão plantar de 50º. Verifica-se que o ângulo do tornozelo varia entre -50 e -44º, uma vez que como o grupo responsável pela dorsiflexão do tornozelo foi comprometido, levando ao arrastamento do dos dedos do pé. O movimento do pé pendente levará ao arrastamento dos pés que pode resultar em dor e (Deg.) fraqueza. Figura 25: Gráfico do tempo versus músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo, para simular a doença pé pendente- foot drop. Pode ver-se claramente que as amplitudes do ângulo dos músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo diminuíram significativamente, com maior destaque para o músculo tíbio anterior, que passou de 2.75º para 1.75º. 42 CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO/DISCUSSÃO Este trabalho foi essencial para adquirir um conjunto de conceitos sobre a marcha humana, amputações, ortóteses e próteses, essencialmente do membro inferior, de extrema importância para o desenvolvimento do trabalho futuro, relacionado com a produção, ensaio e certificação de dispositivos protéticos e ortéticos para o membro inferior. O conhecimento e a simulação no OpenSim, também foram uma mais-valia, pois permitir realizar simulações do modelo músculo-esquelético, estudar a coordenação neuromuscular, analisar o desempenho atlético, estimar cargas, estudar o feito da geometria dos músculos, projetar e avaliar dispositivos para auxiliar a locomoção. Para um maior contacto com o programa simulou-se uma patologia da marcha humana- pé pendente. Para tal efetuou-se uma pesquisa sobre os músculos afetados por esta patologia, e observou-se a análise do ângulo do tornozelo para os músculos responsáveis pela dorsiflexão, num modelo de marcha normal e num para um individuo com pé pendente. Os ângulos do conjunto de músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo diminuíram de amplitude, com uma redução significativa do músculo tíbioanterior, uma vez que do conjunto destes músculos, ser o que mais contribui para este movimento. O trabalho realizado ao longo do semestre foi essencial para adquirir conceitos e ferramentas essenciais para a continuação deste trabalho futuro. 43 CAPÍTULO 7: PERSPETIVAS FUTURAS Num trabalho futuro, seria útil e essencial a recolha de dados biomecânicos num laboratório de um paciente com a patologia pé pendente, para a realização de um modelo que possibilitasse simular um conjunto de parâmetros que permitissem observar e descrever as diferenças existentes entre indivíduos com esta patologia relação e indivíduos com marcha normal, uma vez que os dados disponíveis são escassos ou de difícil acesso. Numa segunda estância, poder-se-ia redesenhar um modelo de prótese ou ortótese e /ou alterar os materiais de que são feitos, bem como outras propriedades, para simular esta patologia no OpenSim, ou até mesmo comparar com os diferentes tipos existentes e propor alterações adequadas e vantajosas. 44 CAPÍTULO 8: BIBLIOGRAFIA [1] G. Carolina e M. Regina, avaliação eletromiográfica de amputados transfemorais para ativação de membros artificiais, Universidade de Brasília, 2013. [2] S. Ricardo e M. Leandro, Análise cinética da maracha, Universidade do Porto, 2009. [3] Completo, A. Fonseca, F. Fundamentos de Biomecânica Musculo-Esquelética e Ortopédica. Publindustria. 2011. [4] Análise da Marcha consultado online em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK27235/ [10/05/2014]. [5] Movimentos anormais consultado online em: http://www.clinicafares.com.br/dicasde-saude/Neurologia-60/Movimentos-anormais-31209.html [10/05/2014] [6] O que é anormalidades da marcha? Consultado online em: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/anormalidades-da-marcha [11/05/2014] [7] Series Editor Michael R. Neuman, Foot and Ankle Motion Analysis- Clinical treatment and technology, Edited by Gerald Harris, Peter Smith, Richard Marks. [8] D. Roy, Õ. Sylvia, D. Peter, Analysis of gait, University of Connecticut Children´s Medical Center, 2006. [9] Journal of Biomechanics: Estabilidade dinâmica de indivíduos com amputação transtibial do pé em ambientes desestabilizadores, consultado online em: http://www.jbiomech.com/article/S0021-9290(14)00147-X/abstract [3/05/2014]. [10] Próteses Membros Inferiores consultado online em: http://ethnos.com.br/proteses/membros-inferiores/?section=clinica [20/04/2014]. [11] Amputação consultado online em: http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/amputacao.htm [10/05/2014]. [12]Amputação, consultado online em: http://www.ortopaulos.pt/sources/fornecido/docs/amputacao.pdf. [15/04/2014]. [13] Amputações dos membros inferiores consultado online em: http://www.concursoefisioterapia.com/2012/05/amputacoes-dos-membrosinferiores.html [1/05/2014] [14] “Análise de marcha”: consultado online em: http://www.analisedemarcha.com/marcha_normal.php [10/06/2014]. 45 [15] M. Demétrio, Dispositivos Protésicos Exteriores: Estudo, Desenvolvimento, Produção, Ensaio e Certificação, Universidade do Porto, 2002. [16] S. S. Ricardo, Análise cinemática da marcha: estudo comprovativo entre membro amputado e membros remanescentes de amputados transfemorais, Universidade do Porto, 2009. [17] R. Ivo, Redesign de Ortótese para Paralisia do Nervo Radial, Universidade de Lisboa faculdade de belas-artes ortodesign, 2012. [18] A. Márcio, Desenvolvimento de Uma Órtese Ativa Para os Membros Inferiores Com Sistema Eletrônico Embarcado, Universidade federal do rio grande do norte, 2010. [19] “Ortóteses para o membro http://andbem.com.br/orteses/ [20/04/2014]. inferior”, disponível online em: [20] “ Ortótese”, disponível online em: http://www.cerb.com.br/portfolio/21/membroinferior [20/04/2014]. [21] R. Ana, O tratamento fisioterapêutico do paciente com amputação transtibial traumática, Rio de Janeiro, 2007. [22] Scott L. Delp, Frank C. Anderson, Allison S. Arnold, Peter Loan, Ayman Habib, Chand T. John, Eran Guendelman, and Darryl G. Thelen, OpenSim: Open-Source Software to Create and Analyze Dynamic Simulations of Movement, IEEE Transactions on biomedical engineering, vol. 54, no. 11, november 2007. [23] R. BORTOLETTO, Simulating a Flexible Robotic System based on Musculoskeletal Modeling, 2012. [24] “Open Source Software for Modeling & Simulating Movement”, consultado online em: http://www.infoq.com/news/2011/11/opensim24 [04/06/2014]. [25] “OpenSim: tutorial”, consultado online em: http://opensim.stanford.edu/downloads/AACPDM_WorkshopHandout.pdf [05/06/2014]. [26] Mohammadreza Mallakzadeh , Ali Matinmanesh, Biomechanical investigation of gait patterns in patients with drop-foot , International Journal of Energy & Technology 5 (12) (2013) 1–5. [27] B. Joaquim, Force-controllable Ankle Foot Orthosis (AFO) to Assist Drop Foot Gait, University of Miami, 2000. 46 [28] “Peroneal Nerve Injury (Foot Drop)”, consultado online em: http://www.hopkinsmedicine.org/neurology_neurosurgery/specialty_areas/peripheral_n erve_surgery/conditions/foot_drop_injury.html [5/06/2014]. [29] “Foot Drop (Peroneal nerve injury)”, consultado http://www.youtube.com/watch?v=J7-L9MFRXD8 [5/06/2014]. online em: [30] “ANATOMY EXAM 1 REVIEW – MUSCLES, JOINTS, LIGAMENTS”, consultado online em: https://www.google.pt/search?q=%5BANATOMY+EXAM+1+REVIEW+%E2%80%9 3+MUSCLES%2C+JOINTS%2C+LIGAMENTS%5D&oq=%5BANATOMY+EXAM +1+REVIEW+%E2%80%93+MUSCLES%2C+JOINTS%2C+LIGAMENTS%5D&aqs =chrome..69i57.1241j0j7&sourceid=chrome&es_sm=122&ie=UTF-8 [6/06/2014]. [31] F. Philippe, Development of a two-dimensional biomechanical multibody model for the analysis of the human gait with an ankle-foot orthosis, Universidade do Minho, 2012. [32] “Avaliação da marcha”, consultado online http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAQQcAJ/aula-marcha [10/05/2014]. em: [33] R. Rita, Design na Usabilidade de Dispositivos Médicos, Universidade do Porto, 2012. 47