UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PLANEJAMENTO E GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL ODETE BERTOLINO CARDOSO PRODUÇÃO PARA AUTOCONSUMO E SEGURANÇA ALIMENTAR NO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA, TRAMANDAÍ, RIO GRANDE DO SUL BALNEÁRIO PINHAL 2011 1 ODETE BERTOLINO CARDOSO PRODUÇÃO PARA AUTOCONSUMO E SEGURANÇA ALIMENTAR NO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA, TRAMANDAÍ, RIO GRANDE DO SUL Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentado como requisito para a obtenção do título de tecnólogo em Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural. Orientadora: Gabriela Coelho de Souza Balneário Pinhal 2011 2 AGRADECIMENTOS Primeiro agradeço a Deus, que me deu forças para chegar ao final desta caminhada e por ter conhecido professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com uma riqueza de conhecimentos na área rural. Aos meus filhos, aos quais por muitas vezes deixei de dar atenção nos finais de semana em razão às atividades do curso e por terem me auxiliado no uso das ferramentas de acesso ao moodle. Ao meu sobrinho e afilhado Alan Jonathan Grassi, que por muitas vezes me ajudou com conhecimentos de informática na realização das atividades. A todos os colegas de curso com quem compartilhei momentos agradáveis num ambiente de aprendizagem de qualidade, em especial, ao meu colega de curso e amigo Delmar Koetz, técnico da Emater de Tramandaí, que foi um grande mestre com o seu conhecimento na área rural me ajudando a compreender as relações sociais do mundo rural e me oportunizando a conhecer a comunidade rural de Tramandaí. A todos os tutores do curso PLAGEDER, que me proporcionaram um conhecimento de qualidade, tornando nossas aulas produtivas, com atividades práticas, possibilitando conhecer in loco o espaço rural. Agradeço em especial o Professor Matheus Dhein Dill, que foi tutor a distância no Derad021-Elaboração e Avaliação de Projetos Agroindustriais, possibilitando aplicar o conhecimento adquirido na disciplina no meu estágio Derad023 (Estágio Supervisionado II), sinalizando a oportunidade da agroindústria (local do estágio) ser a fornecedora de pescados para a alimentação escolar de Tramandaí. Agradeço a tutora presencial Vera Notargiacomo, sendo uma grande amiga durante todo o curso, sempre pronta para nos auxiliar. Agradeço aos meus orientadores Gabriela Peixoto Coelho de Souza e Antônio João Ferreira de Lima pela dedicação e disposição em me orientar na realização deste trabalho. Agradeço de forma especial pelo carinho e atenção com que os proprietários rurais me receberam em suas propriedades, me oportunizando a realização desse trabalho, assim como outros trabalhos que foram realizados na comunidade Estância Velha durante o período do meu curso. Por fim, agradeço a todos que me acompanharam durante o curso de forma direta ou indireta, contribuindo para chegar ao final de mais uma conquista. 3 RESUMO Este trabalho tem como objetivo compreender o papel da produção da Agricultura Familiar para autoconsumo na segurança alimentar e nutricional dos agricultores do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, analisando a produção como responsável pela construção da identidade dos agricultores familiares e para a reprodução social das famílias rurais, bem como identificar potencialidades e limitações para desenvolver uma agricultura de autoconsumo como promotora da segurança alimentar e nutricional. Foi utilizada a metodologia qualitativa, a partir das técnicas de entrevistas semi-estruturadas realizadas com sete famílias de agricultores e estando presente na divisão de tarefas entre os membros da família e dos trabalhos realizados nas propriedades. Foi constatado que as famílias agricultoras praticam uma agricultura de autoconsumo, considerada importante para a reprodução social da família, repassando o conhecimento das práticas produtivas sob a perspectiva de uma agricultura com base na agroecologia, garantindo assim a sustentabilidade socioeconômica, cultural e ambiental das famílias rurais. As famílias agricultoras do Distrito Estância Velha, na sua maioria, apresentam laços de parentesco, constituindo suas famílias e permanecendo na localidade, demonstrando um sentimento de pertencimento a sua comunidade. A agricultura familiar garante a produção de autoconsumo, com diversificação, quantidade e qualidade de produtos, empregando maior número de mão-de-obra, menor emprego de insumos exógenos, minimizando os riscos que podem causar a insegurança alimentar das famílias rurais. A prática de uma agricultura com base na agroecologia promove a sustentabilidade, fortalecendo a produção para autoconsumo e a produção de alimentos básicos promotora da segurança alimentar das famílias rurais e não rurais. Palavras-chave: Agricultura Familiar – Produção de autoconsumo – Segurança alimentar e nutricional. 4 ABSTRACT This study aims to understand the role of family farming production for own consumption in food and nutrition security of farmers in the Old District Office, city of Tramandaí, analyzing the production and responsible for building the identity of family farmers and for the social reproduction of families rural as well as identify strengths and limitations to develop an agricultural self-consumption as a promoter of food and nutrition security. Qualitative methodology was used, from the techniques of semi-structured interviews with seven families of farmers and being present in the division of labor among family members and the work done on the properties. It was found that the family farmers practicing agriculture for self-consumption, considered important for the social reproduction of the family, passing on the knowledge of production practices from the perspective of an agriculture based on agro-ecology, thus ensuring sustainable socio-economic, cultural and environmental assets of rural families . The farming families of the Old District Office, in its majority, have ties of kinship, forming their families and staying in the locality, demonstrating a sense of belonging to their community. Family farming ensures the production of consumption, with diversification, quantity and quality of products, employing more manpower, less use of exogenous inputs, minimizing the risks that can cause food insecurity of rural families. The practice of an agriculture based on agro-ecology, promotes sustainability by strengthening the production for own consumption and production of basic food-promoting household food security and ruralnon-farm. Keywords: Family Farming – Production of consumption – Food and nutritional security. 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Ocupação do território brasileiro pela Agricultura Familiar e Patronal (IBGE, 2009) ............................................................................................................ 15 Figura 2 - Participação da mão-de-obra na agricultura familiar e na agricultura empresarial (IBGE, 2009)......................................................................................... 16 Figura 3 - Participação na produção de alimentos da Agricultura Familiar (IBGE, 2009)........................................................................................................................ 16 Figura 4 - Mapa de Macrozoneamento Ambiental do Rio Grande do Sul (SEMA, 2010), adaptado do Plano Diretor deTramandaí (Município de Tramandaí, 2011) ... 19 Figura 5 - Área Central do Distrito Estância Velha (Igreja Católica, Salão Comunitário,............................................................................................................. 22 Figura 6 - Igreja Evangélica ..................................................................................... 22 Figura 7 - Visita dos professores da rede municipal às unidades de produção agrícola .................................................................................................................... 23 Figura 8 - Visita das escolas da rede municipal às unidades de produção agrícola . 23 Figura 9 - Produção de mudas de flores no galpão da ACOPREV pelas senhoras da frente de trabalho ..................................................................................................... 26 Figura 10 – Visita à propriedade rural em Estância Velha ........................................ 27 Figura 11- Plantação consorciada (aipim, moranga, abóbora e melancia) ............... 31 Figura 12 - Criação de animais de pequeno porte .................................................... 32 Figura 13 - Criação de patos e galinhas ................................................................... 32 Figura 14 - Criação de peixes em açudes ................................................................ 33 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Quadro síntese das entrevistas realizadas ............................................... 38 7 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. 5 LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 6 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8 1.1 A Influência da Modernização da Agricultura sobre a Agricultura Familiar ........ 9 1.2 A Produção para Autoconsumo e a Relação da Agricultura Familiar com a Segurança Alimentar ............................................................................................ 13 2 CARACTERIZAÇÃO DO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA, MUNICÍPIO DE TRAMANDAÍ, E SUA POPULAÇÃO ........................................................................ 19 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 25 3.1 Critérios utilizados para definir as Famílias Entrevistadas .............................. 28 3.2 Procedimentos utilizados para Coleta de Informações ................................... 28 4 AGRICULTORES FAMILIARES, AUTOCONSUMO E SEGURANÇA ALIMENTAR NO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA ........................................................................... 31 4.1 Produção para Autoconsumo e a Segurança Alimentar .................................. 31 4.2 Potencialidades e Limitações da Produção de Autoconsumo ......................... 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 48 ANEXO A – Termo de Consentimento ..................................................................... 50 ANEXO B – Registros fotográficos ........................................................................... 51 APÊNDICE – Roteiro de entrevistas ........................................................................ 53 8 1 INTRODUÇÃO O tema desse trabalho é a Segurança Alimentar das famílias rurais, que vem sendo abordada no cenário nacional por especialistas, técnicos na área de desenvolvimento rural, sob a perspectiva da agricultura familiar. Esta é uma prática que apresenta maiores perspectivas de sustentabilidade por sua dimensão sóciocultural e ambiental e melhor gestão dos recursos naturais. (MENEGETTI, p. 1). A agricultura familiar apresenta multifuncionalidade, que além de produzir alimentos e matérias-primas, “favorece o emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, com menor uso de insumos industriais, melhor manejo dos recursos naturais e diversificação de produtos alimentares, garantindo uma alimentação em qualidade e quantidade e a reprodução social das famílias de agricultores”. (DAL SOGLIO, 2008). A baixa produtividade das unidades de produção agrícola, a desruralização e a carência de recursos financeiros são elementos que comprometem a prática da agricultura familiar e a segurança alimentar das famílias de agricultores, e consequentemente comprometem a produção de autoconsumo, deixando as famílias rurais em estado de vulnerabilidade social, dependentes de uma agricultura patronal. A modernização da agricultura sobre a agricultura familiar desqualifica o agricultor familiar das suas potencialidades e modo de fazer, comprometendo a produção de autoconsumo e a reprodução dos valores culturais no meio familiar. A agricultura com base na agroecologia possibilita maior autonomia dos produtores rurais, preservando a identidade cultural das famílias rurais, com emprego de técnicas ambientalmente mais adequadas para a manutenção dos recursos naturais. 9 A trajetória histórica da agricultura, principalmente após a modernização dos meios de produção, deixou de ser a produção de alimentos e passou a ser vista como atividade comercial, com empresas transnacionais de insumos agrícolas dominando o mercado. Com a inclusão e incrementos químicos sintéticos, causando impactos ambientais, sociais e culturais em populações que foram excluídas do processo de modernização, modificou as relações sociais, introduzindo novos saberes e o reflexo na agricultura familiar, especificamente no caso das famílias de agricultores do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí. Conheço a comunidade da Estância Velha, através da participação de eventos sociais e culturais nessa localidade, assim como em outras atividades envolvendo as escolas da zona urbana. Realizei também trabalhos de campo nas unidades de produção agrícola em atendimento ao curso Plageder o que me possibilitou conhecer a comunidade. A partir desses contatos com as famílias rurais procurei conhecer os fatores que interferem na produção para autoconsumo, visto que as unidades de produção agrícola apresentam características de economia familiar, apresentando uma baixa produção e produtividade, fator que pode influenciar na permanência das famílias rurais comprometendo a segurança alimentar e nutricional. Esse estudo está dividido em cinco capítulos. O primeiro apresenta os conceitos e noções que compõem os referenciais desta pesquisa - explorando a influência da modernização da agricultura sobre a agricultura familiar, a produção para autoconsumo e a relação da agricultura familiar com a segurança alimentar, o problema de pesquisa e objetivos. O segundo apresenta o Distrito de Estância Velha, no município de Tramandaí, e os agricultores familiares da localidade. O terceiro apresenta a metodologia utilizada para analisar a relação do autoconsumo e a segurança alimentar em Estância Velha. O quarto capítulo apresenta os resultados e o quinto capítulo apresenta as considerações finais. 1.1 A Influência da Modernização da Agricultura sobre a Agricultura Familiar O modelo de desenvolvimento rural implantado no Brasil após a Segunda Guerra Mundial apresenta sérias implicações na questão da sustentabilidade 10 econômica, social e ambiental, e principalmente na agricultura familiar, que além de fornecer alimentos e matérias-primas, favorece o emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, produzindo alimentos mais seguros e saudáveis. De acordo com Dal Soglio (2006) ”a industrialização da agricultura afetou negativamente a qualidade de vida da sociedade rural brasileira, gerando exclusão, problemas de saúde e mudanças significativas em suas culturas”. (Pacifico, p. 40) Conforme José Graziano da Silva, “a industrialização da agricultura, Revolução Verde, culmina com uma modernização „conservadora‟ que motiva a desestruturação dos complexos rurais, onde tudo se produz na propriedade e a consolidação dos complexos agroindustriais”, que se produz para o mercado, expropriando o pequeno produtor dos seus meios de produção. Segundo Kageyama (1990), a partir da constituição e consolidação dos complexos agroindustriais o desenvolvimento da agricultura fica estritamente dependente da indústria, é estabelecida uma integração entre esses setores, fazendo com que o pequeno produtor se integre a essa nova realidade do rural, deixando de produzir para o autoconsumo em conformidade com as condições impostas pela agroindústria. A agricultura deixou de ser a produção de alimentos e passou a ser vista como atividade comercial, um modelo de agricultura que expropria as outras formas e estilo de agricultura que não são somente agrícolas, mas também meios de vida, de sociabilidade e de manutenção social de grupos e famílias. Possuir tratores e implementos agrícolas modernos, assim como cultivar imensas áreas de grãos, fazer colheita com um maquinário da última geração e transportar e comercializar a produção além das fronteiras locais trata-se de ações de um modelo de agricultura dependente das tecnologias exógenas e símbolo de modernidade. Este modelo está permeado por significados e imagens que criam representações acerca de como deve ser um agricultor moderno, desmerecendo ou deslegitimando os demais meios de vida baseados em produção de alimentos com mão-de-obra familiar e exponencial tecnologia exógenas. (PACÍFICO, 2009, p.3) Conforme dados apresentados por Menezes (2007) no documento final da III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil, a pobreza e a fome encontram-se nas áreas rurais, que apresenta 46% das famílias em situação de vulnerabilidade social. 11 No ímpeto da modernização tecnológica, muitos extensionistas estimularam as famílias rurais a intensificar a produção de commodities, inseridos numa dinâmica capitalista, comprometendo a segurança alimentar das famílias rurais. A partir de 1960, com a Revolução Verde, ocorre a difusão de novas tecnologias e de insumos modernos como os agroquímicos, causando impactos ambientais, como a erosão dos solos, a poluição das águas e dos solos por nitratos, fosfatos e agrotóxicos, a contaminação dos agricultores, a diminuição da biodiversidade e a destruição dos recursos não-renováveis, padronizando um modelo de modernização, criando uma dependência financeira, tecnológica e biológica do produtor, simbolizando a modernidade, criando um estigma do que não é moderno é atrasado (DAL SOGLIO, 2008). O modelo centrado na grande produção para exportação excluiu grande parte dos produtores dos seus meios de produção, tornando a agricultura dependente do petróleo, da indústria química, sustentada no tripé da modernização “pesquisa, extensão e crédito subsidiado”, favorecendo os grandes proprietários rurais, nos mercados nacionais e internacionais. As novas técnicas de produção introduzidas no meio rural, os sistemas modernos da agricultura, a expansão das fronteiras agrícolas, viabilizaram o surgimento e a consolidação dos complexos agroindustriais, estimulando a expulsão do agricultor familiar pela falta de condições de subsistência e a perda da capacidade produtiva. É ainda fator gerador para essas populações mais jovens deixarem o mundo rural, buscando novas alternativas em outros espaços, incentivadas pelo crescimento das cidades, desconstituindo suas relações sociais e culturais com o seu meio, introduzindo a sua cultura novos elementos modificando os seus valores, buscando construir uma nova identidade, valorizando outros espaços, se inserindo no processo de homogeneização cultural (DAL SOGLIO, 2008). A política econômica adotada no Brasil a partir dos anos 60 colaborou para a intensificação do emprego da mecanização, e da indústria química (agrotóxicos, adubos sintéticos) colocando em risco a segurança alimentar e nutricional das populações rurais tornando vulneráveis às famílias rurais. 12 A difusão dos pacotes técnicos associados à modernização da agricultura, com objetivo de aumentar a produção e produtividade e do alto rendimento, levou muitas famílias de agricultores à situação de vulnerabilidade social, alterando de modo significativo a vida das famílias rurais, a degradação do saber-fazer, devido a uma política voltada para o crescimento econômico com um discurso de desenvolvimento. Para José Graziano da Silva, [...] a modernização da agricultura foi desigual no sentido de não privilegiar todos os tipos de agricultores existentes, marginalizando alguns segmentos de produtores via o não acesso ao crédito, a assistência técnica, etc., dessa forma a modernização da agricultura é um processo que ao mesmo tempo em que atrela a agricultura do país a uma indústria desenvolvida e ao comércio internacional exclui grande parte dos produtores rurais. Nesse novo cenário a modernização da agricultura trouxe crescimento econômico e tecnológico, a degradação e o esgotamento dos recursos naturais, bem como a concentração fundiária e de renda, e consequentemente a exclusão e a violência no setor rural, desapropriando os pequenos agricultores dos seus meios produtivos, levando às famílias dos pequenos agricultores a insegurança alimentar. A agricultura familiar apresenta dificuldades para sua reprodução social por vários fatores já citados anteriormente, mas é a forma de organização mais adequada para potencializar o desenvolvimento sustentável agrícola e rural, com base nos princípios da Agroecologia, que, a partir das idéias de Sachs(1994), Flores e Nascimento (1994) e Cruz (1995), devem ser levados em conta seis dimensões: “sustentabilidade econômica, sustentabilidade ecológica, sustentabilidade social, sustentabilidade espacial ou geográfica, sustentabilidade cultural e a sustentabilidade política”, onde todos os atores sociais participem de um processo de desenvolvimento com sustentabilidade, na construção de políticas públicas promovendo novas formas de agricultura sustentável, na produção de alimentos em quantidade, qualidade e regularidade, promotora da segurança alimentar e nutricional das famílias rurais. O melhor caminho na busca de um sistema alimentar sustentável parece ser o fortalecimento da agricultura familiar ou camponesa, enquanto formação social mais adequada para garantir a segurança alimentar em condições sustentáveis. (MALUF & MENEZES, 2000) 13 A agricultura familiar além de absorver mão-de-obra da família emprega maior número de mão-de-obra, está voltada para a diversificação da produção de alimentos, emprego de pouca tecnologia e insumos químicos, oferecendo ao mercado um alimento de maior qualidade e variedade de produtos, promovendo maior qualidade de vida aos consumidores garantindo, ao mesmo tempo, a produção de autoconsumo das famílias dos agricultores. São três os pontos norteadores da segurança alimentar: a qualidade nutricional dos alimentos, inclusive a ausência de componentes químicos que possam lesar a saúde humana, os hábitos/cultura alimentar específicos de cada comunidade, de cada grupo social, e a sustentabilidade do sistema familiar, ou seja, a contínua produção e presença de alimentos. (CÂNDIDA ZANETTI, 2008, apud MALUF & MENEZES, p. 150) As unidades de produção agrícola de característica familiar prezam pela diversificação de produtos (regularidade no acesso aos alimentos), sendo uma estratégia que visa reduzir os riscos devido às condições climáticas, comprometendo a produção de autoconsumo, levando a insegurança alimentar das famílias rurais. As causas de insegurança alimentar, de acordo com Maluf & Menezes (2000), podem ser ocasionadas pela falta de tecnologia, problemas climáticos, política agrícola, acesso a insumos, acesso à terra, gênero, guerra, hábitos alimentares, etc. 1.2 A Produção para Autoconsumo e a Relação da Agricultura Familiar com a Segurança Alimentar A produção de alimentos para autoconsumo faz parte da estratégia de reprodução das famílias, particularmente entre as famílias rurais. Sua importância é maior nas situações onde a escassez de recursos monetários se agrava. Podendo dispor de alguns alimentos produzidos pela família, a renda adquirida com a venda de pequenos excedentes, do trabalho assalariado ou de benefícios de programas públicos pode fazer frente a outras necessidades, como gastos com saúde, educação, vestuário e habitação. (MALUF E MENEZES, 2000) No artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos é afirmado: todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos.[...] Neste contexto entra o direito à água 14 potável, alimentos seguros e saudáveis para a garantia de uma boa saúde, bem como alimentos que condizem com as condições culturais, sociais, econômicas, climáticas e ecológicas de cada pessoa, etnia, cultura ou grupo social. (CONTI, 2009, p. 22,23.) Em 2004 o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) elabora o conceito utilizado no Brasil e adotado pela Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN, Lei nº 11.346/2006), onde segurança alimentar e nutricional é definida como [...] direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável. A partir desse período, muitos programas federais foram criados com o intuito de prover a segurança alimentar e nutricional como direito garantido pela Emenda constitucional nº 64/2010, a qual incluiu na redação do artigo 6º da Constituição Federal de 1988, o direito à alimentação (BRASIL, 2010). O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Ministério da Educação, de acordo com a Lei nº 11.947/2009, art. 14, estabelece que 30% dos recursos destinados para a alimentação escolar deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios preferencialmente da agricultura familiar local. Esse programa, além de gerar renda para os produtores familiares rurais para suprir outras necessidades, favorece sua permanência no campo e possibilita a segurança alimentar e nutricional das famílias rurais. Outro elemento importante da agricultura familiar é a valorização do conhecimento em relação ao convívio com o meio ambiente, gerando uma relação mais harmoniosa entre o homem e o meio, sentindo-se parte de um sistema onde todos os elementos são importantes para manter a sustentabilidade econômica, social e cultural das populações e a sustentabilidade ecológica dos sistemas de produção sob o conceito de uma agroecologia, mantendo a diversidade genética das espécies, a diversidade de técnicas e métodos de manejo de agroecossistemas, e a diversidade cultural, sem utilizar modelos padronizadores que acabam por selecionar sistemas semelhantes, homogeneizando as culturas, que vivem nesses sistemas de produção. 15 A propriedade familiar é uma unidade de produção e consumo, por este motivo ela valoriza a terra, os policultivos, criações, distribuídos de forma equilibrada no espaço e no tempo, conforme citação a seguir: A unidade indissolúvel do grupo doméstico e de seus membros, ao mesmo tempo produtores e consumidores, e o fato de que a terra, do ponto de vista da economia e do grupo, é um meio de subsistência e não um capital a rentabilizar, faz com que não seja possível analisar o sistema econômico camponês nos termos da economia industrial. (ERIC SABOURIN, 2009, apud MENDRAS, 1976, p. 11-20) De acordo com a Cartilha desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a partir dos dados revelados pelo Censo Agropecuário de 2006, publicado em setembro de 2009, a agricultura camponesa é a principal produtora de alimentos do país, 84,4% dos estabelecimentos rurais brasileiros estão dentro do perfil “estabelecimentos da agricultura familiar” com 24,3% do território ocupado. Os outros 15,6% dos estabelecimentos representam a agricultura empresarial, com 75% das áreas ocupadas, conforme está representado na figura 1. Figura 1 - Ocupação do território brasileiro pela Agricultura Familiar e Patronal (IBGE, 2009) A agricultura camponesa mantém 12,3 milhões de pessoas ocupadas no meio rural que corresponde a 74,4% de todos os empregados na zona rural, o agronegócio mantém 4,2 milhões de pessoas ocupadas, correspondendo a 25,6% dos empregados, conforme o gráfico na figura 2. 16 Figura 2 - Participação da mão-de-obra na agricultura familiar e na agricultura empresarial (IBGE, 2009) A agricultura camponesa sendo a principal produtora de alimentos básicos, responsável pela produção de 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 34% do arroz, 58% do leite, 59% da carne suína e 50% das aves produzidas. O cultivo de menor participação é a soja, com 16% da produção, representa um dos grandes monocultivos brasileiros voltados à exportação, como demonstra a figura 3. Figura 3 - Participação na produção de alimentos da Agricultura Familiar (IBGE, 2009) 17 A maior extensão de terras no território brasileiro está concentrada em estabelecimentos voltados para o agronegócio, enquanto que menos de um quarto do território brasileiro é ocupado pela agricultura familiar, gerando maior número de empregos e sendo responsável pela produção de alimentos para atender o mercado interno. As práticas produtivas no meio rural com policultivos e produção em pequena escala são práticas que preservam as identidades culturais, que recorrem ao conhecimento, às experiências, a observação do local, valorizando suas próprias potencialidades, implementando nele suas estratégias de reprodução econômica, social e cultural. [...] os saberes, os conhecimentos e os valores locais das populações rurais precisam ser analisados, compreendidos e utilizados como ponto de partida nos processos de desenvolvimento rural que, por sua vez, devem espelhar a “identidade cultural” das pessoas que vivem e trabalham em um dado agroecossistema. A agricultura nesse sentido, precisa ser entendido como atividade econômica e sociocultural - uma prática social. (COSTABEBER e CAPORAL, 2002, p.5) Para Abramovay (1998), a penetração das relações capitalistas no campo e a inserção crescente dos agricultores familiares nos mercados capitalistas condicionam à emergência de um paradoxo em que exista a consciência da necessidade de preservação da cultura e dos hábitos alimentares saudáveis, ao mesmo tempo em que a introdução de novas tecnologias e relações de mercado leva esse agricultor a praticar determinados manejos de produção que colocam em risco a segurança alimentar de suas famílias. Nesse contexto socioeconômico, as famílias rurais fazem uma combinação entre as atividades agrícolas e não-agrícolas, como estratégia para garantir suas condições de vida, buscando alternativas para complementar a renda, tornando-se pluriativos, exercendo, de acordo com Graziano da Silva (2001), “atividades nãoagrícolas com trabalhos temporários fora do campo ou permanentes na cidade, desempenhado por membros das famílias que mesmo residindo no campo, realizam trabalho fora da propriedade como alternativa de sobrevivência/permanência”, uma forma de reprodução social da agricultura familiar. 18 A agricultura sustentável, dentro da agroecologia, adota como princípio a menor dependência possível de insumos externos e a conservação dos recursos naturais, “com aplicação de técnicas e métodos diferenciados dos pacotes convencionais” (SAUBORIN, 1958). Segundo Dal Soglio (2009), Poderíamos contribuir mais para o desenvolvimento apontando para metodologias e habilidades para se trabalhar sistemas diferentes de maneiras diferentes, do que utilizando indicadores padronizados, e que acabam por selecionar sistemas semelhantes, homogeneizando o que é de origem heterogênea. (p. 29) A construção do conhecimento sustentável tem por base o espaço local e o patrimônio sociocultural. O espaço local é um território onde se desenvolvem cidadanias comuns e identidades específicas, com suas relações específicas, estabelecendo articulações internas de respeito e valorização, com vistas ao desenvolvimento sustentável. (GEHLEN, 2006) Neste contexto, o objetivo geral desta pesquisa foi compreender o papel da produção para autoconsumo pela Agricultura Familiar na segurança alimentar dos agricultores familiares do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí. Para alcançá-lo, pretendeu-se analisar a relação da produção para autoconsumo e a segurança alimentar das famílias e identificar as potencialidades e limitações para desenvolver a produção de autoconsumo no Distrito Estância Velha. O que se pretendeu foi avaliar o papel da produção de autoconsumo, no âmbito da agricultura familiar, para a segurança alimentar das famílias do meio rural do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, fazendo-se presente em quase todas as unidades de produção agrícola desta localidade, através das práticas ecológicas que favorecem a sustentabilidade das populações rurais. 19 2 CARACTERIZAÇÃO DO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA, MUNICÍPIO DE TRAMANDAÍ, E SUA POPULAÇÃO O município de Tramandaí está localizado no litoral norte do Estado do Rio Grande do Sul, distante 118 km da capital, com área total de 143,9 km², com uma população total de 41.655, sendo 1.003 habitantes na zona rural e 40.652 habitantes da zona urbana, apresentando uma densidade demográfica de 289,4 hab./km², com IDH 0,808, tendo vias de acesso pela BR 290, BR 101, RS 30, RS 786, RS 389. A zona rural de Tramandaí, conforme ilustra a figura 4, está localizada ao Sul do estado do Rio Grande do Sul, limitando-se a oeste, nordeste e norte com o município de Osório, a sudoeste, sudeste e sul com o município de Cidreira, a leste com a zona urbana de Tramandaí. Figura 4 - Mapa de Macrozoneamento Ambiental do Rio Grande do Sul (SEMA, 2010), adaptado do Plano Diretor deTramandaí (Município de Tramandaí, 2011) 20 A localidade Distrito de Estância Velha apresenta relevo de planície, rica em recursos hídricos, limitando-se a sudeste com a Lagoa da Prainha e da Tapera; ao Sul, com a lagoa do Gentil e ao nordeste e norte com a lagoa das Custódias. Há presença de banhados e valos de drenagem preenchidos pelo lençol freático, que são aproveitados para o manejo com o gado. A vegetação natural é composta por plantas de pequeno porte, como gramíneas, junco, tiririca, taquara, capororoca, etc. O clima subtropical, caracterizado por ventos fortes e constantes, com médias anuais de temperatura de 17,5ºC a 20ºC e precipitação que variam de 1.200mm a 1.700 mm, respectivamente. No período de inverno devido as geadas que ocorrem há riscos para as atividades agrícolas, fator limitante para a produção nessa região. A presença de taquareiras é grande nessa região, servindo de proteção do vento às propriedades rurais. Segundo o sítio eletrônico da Fepam (Fundação Estadual de Proteção do Meio Ambiente) esta região caracteriza-se por apresentar uma ampla planície sedimentar cenozóica que encerra um conjunto de feições geomorfológicas sob condições de clima subtropical úmido costeiro. Possui um solo de baixa fertilidade natural e alta suscetibilidade eólica. De acordo com informações do extensionista da Emater de Tramandaí, esse território conta com 120 propriedades rurais, apresentando 103 propriedades de economia familiar, sendo que 61 propriedades rurais correspondem a um módulo fiscal, e, conforme as normas do PRONAF, o módulo fiscal corresponde a 18 ha, sendo que até quatro módulos fiscais é considerado de economia familiar. Os proprietários rurais com maior extensão de área utilizam do sistema de arrendamento do campo para o cultivo de arroz, a pecuária de corte, e o plantio de eucalipto, em outros casos, os proprietários cultivam arroz em uma parte do campo e arrendam outra parte. Além dos fatores naturais que interferem nas atividades agrícolas, a falta de recursos financeiros para fazer investimentos nas unidades de produção como a aquisição de implementos agrícolas, conhecimento técnico, a redução do tamanho das famílias que não são numerosas como antigamente e a falta de uma 21 organização representativa dos produtores rurais são considerados elementos importantes que interferem no aumento da produção para atender o mercado consumidor próximo, inclusive ao atendimento da Lei 11.947/2009, artigo 14, que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar. A zona rural do município de Tramandaí, ainda no séc. XVIII, a coroa real doa glebas de terra a fazendeiros para que fizessem a fixação das fronteiras e definissem a posse portuguesa neste território, definindo propriedades com grande extensão territorial. Com o passar das gerações, algumas propriedades foram desmembradas e doadas para os herdeiros, tornando a comunidade desta localidade, hoje, de uma única matriz genitora de economia familiar. Esta origem define o nome da comunidade “Estância Velha”, distrito do município de Tramandaí. Com o desenvolvimento das cidades próximas a esse distrito, inicia o processo de desruralização em primeiro lugar com as filhas mulheres, buscando complemento da renda familiar, trabalhando de empregada doméstica, enquanto que o filho homem permanecia na roça. As terras, na sua grande maioria, foram repassadas aos atuais proprietários através de herança, permanecendo em alguns casos a mesma extensão de terra herdada, em outros, há uma divisão das terras dos herdeiros com seus herdeiros, quando se casam e permanecem na localidade e ainda outros, conforme depoimentos, a aquisição de pequenas propriedades ampliando às propriedades de maior extensão territorial que desenvolvem atividades agrícolas comerciais, como a pecuária de corte e o cultivo do arroz. A localidade em estudo disponibiliza de rede elétrica, escola de ensino fundamental até 5º ano, igreja católica e evangélica, salão comunitário, e a sede da Associação dos Produtores Rurais do Distrito Estância Velha (ACOPREV), estrada principal de fácil acesso, linha de ônibus, favorecendo a proximidade com a zona urbana e um posto telefônico instalado nas dependências da escola da localidade. A telefonista é funcionária pública e residente na localidade. A imagem abaixo, figura 5, mostra como está estruturada a área central do Distrito, sendo nesse local que ocorre os eventos comunitários. 22 Figura 5 - Área Central do Distrito Estância Velha (Igreja Católica, Salão Comunitário, Escola Municipal e a sede da ACOPREV) A religião Católica predomina nessa localidade, onde os pais participam da organização da missa com as leituras e o coral formado pelas senhoras da comunidade. O pároco que coordena os trabalhos religiosos na comunidade é de Tramandaí e aos sábados reza missa na comunidade. A Igreja Evangélica se faz presente na comunidade com número pouco expressivo de adeptos. A imagem a seguir mostra a Igreja Evangélica fazendo parte da comunidade. Figura 6 - Igreja Evangélica 23 Também, durante o período da Festa da Produção e do Churrasco, é desenvolvido um projeto da Secretaria Municipal de Educação e Cultura em parceria com a Emater de Tramandaí. Esse projeto envolve um grupo de 15 professores da rede municipal e aproximadamente mil e duzentos alunos do ensino fundamental, para conhecer a zona rural do município de Tramandaí e as atividades que são desenvolvidas nas unidades de produção agrícola familiar, conforme figuras 7 e 8. Figura 7 - Visita dos professores da rede municipal às unidades de produção agrícola Figura 8 - Visita das escolas da rede municipal às unidades de produção agrícola 24 Outra festa que acontece nessa comunidade é a festa de São João Batista, padroeiro da localidade, organizada pela diretoria do salão comunitário e clube de mães. A renda da festa se aplica em benfeitorias da Igreja católica e do salão comunitário. 25 3 METODOLOGIA Para realização dessa pesquisa em conformidade com as famílias da zona rural, há um termo de consentimento manifestando a sua anuência a participação da pesquisa, um documento que tem por objetivo esclarecer aos sujeitos envolvidos na pesquisa, a finalidade acadêmica, o tempo exigido para desenvolver o trabalho com data de início e término das atividades, a metodologia a ser utilizada e os objetivos a serem alcançados com a pesquisa. O termo de consentimento (anexo A) é um procedimento científico e legal, obrigatório pelas instituições para ressalvar os entrevistados, o entrevistador e a instituição de alguma eventualidade que no decorrer da pesquisa possa surgir, garantindo os aspectos éticos da pesquisa. Para a realização do Trabalho de Conclusão do Curso foi selecionado um grupo de famílias para serem os sujeitos da pesquisa, utilizando alguns critérios dentro dos aspectos socioeconômicos e culturais, além da indicação do técnico e extensionista da Emater de Tramandaí. Dentre às famílias selecionadas foi entrevistada uma família que desenvolve atividades agrícolas e que possuem também renda não-agrícola (ele aposentado como agricultor e a esposa também aposentada, professora da rede municipal), identificado como a família número 7, uma família micro-empresária, proprietária do restaurante na zona rural que também tem uma prestadora de serviços agrícolas, identificado como a família número 6 e outras cinco famílias, identificadas como famílias números 1, 2, 3, 4 e 5, que residem na zona rural, são pluriativos, não dependendo exclusivamente da agricultura, são assalariadas, participando do programa frente do trabalho, desenvolvendo suas atividades na zona rural, com a função de tapa buracos e produção de mudas de flores para serem usadas na ornamentação da cidade e mudas de hortaliças que são distribuídas para os proprietários das unidades de produção agrícola, conforme demonstra a figura 9. 26 Figura 9 - Produção de mudas de flores no galpão da ACOPREV pelas senhoras da frente de trabalho Na primeira visita me apresentei como estudante da UFRGS, do Pólo de Pinhal, do curso Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural. Algumas famílias já tinham esse conhecimento, a partir de contatos anteriores, devido a trabalhos realizados nas suas propriedades. Expliquei a proposta de trabalho às famílias selecionadas, com enfoque no papel da produção para autoconsumo no âmbito da Agricultura Familiar para as questões de segurança alimentar no meio rural, expondo a metodologia a ser aplicada, sendo basicamente de um formulário com perguntas fechadas e abertas, que permitem identificar as práticas de produção, os produtos cultivados para autoconsumo e para o mercado, as relações sociais entre os membros da família e a comunidade, a divisão das tarefas e o papel da mulher no grupo familiar, organizando uma agenda para não interferir na organização das práticas agrícolas das famílias. A comunidade recebe muito bem as pessoas da cidade, sentem-se valorizados quando são procurados para falar da sua localidade e do seu cotidiano, se colocando a disposição para participarem como atores sociais de um trabalho de pesquisa com a certeza de que ficará registrada a sua participação. Ficou acordado que na finalização do curso será oferecida uma cópia do trabalho aos proprietários, como forma de agradecimento pela participação, 27 disposição e atenção que tiveram em contribuir para a realização do Trabalho de Conclusão do Curso. Durante o período das visitas às famílias participava do café ou almoço, onde a mesa estava servida com produtos cultivados e elaborados na propriedade, como pão caseiro, geléia, queijo, leite, etc., conforme mostra a figura 10. Figura 10 – Visita à propriedade rural em Estância Velha Nesse momento se percebe o quanto é valorizada a produção de autoconsumo dessas famílias, na fala dos proprietários, fica claro que são produtos de qualidade, sem hormônios, sem agrotóxico e principalmente por serem produzidos por eles. Uma peculiaridade dessa localidade se relaciona às festas religiosas, que para as mulheres tem um significado muito grande, é o momento de encontro das famílias da localidade, momento de confraternização entre as famílias, de orações ao santo padroeiro da comunidade, São João Batista. Para a comunidade é uma festa onde quase todas as famílias participam, diferente de outras festas, em que não há participação expressiva da comunidade. Antigamente a festa era para comemorar e agradecer ao santo padroeiro, a boa safra do arroz, da cebola, do campo bom para o gado, hoje está diferente, a festa movimenta a vida social da comunidade. 28 3.1 Critérios utilizados para definir as Famílias Entrevistadas Como o estudo está direcionado a questão da produção de autoconsumo para segurança alimentar e nutricional das famílias da zona rural, foram selecionados alguns critérios para definir o grupo de famílias que passariam a serem os participantes como elementos importantes na realização dessa pesquisa. Entre os critérios definidos, foi considerado o tamanho da propriedade, especificamente as unidades de produção agrícola com características familiares, proprietários que produzem para o mercado, outros que têm sua produção de autoconsumo e são assalariados, o grau de escolaridade dessas famílias, os que apresentam uma visão mais crítica da realidade da localidade, a faixa etária, o número de integrantes da família, a atividade econômica desenvolvida na unidade de produção agrícola e o grau de cooperação e solidariedade que existem entre as famílias. 3.2 Procedimentos utilizados para Coleta de Informações A pesquisa envolve uma entrevista semi-estruturada, conforme roteiro no apêndice A, com sete famílias rurais, sendo entrevistado o chefe da família e/ou sua esposa, estabelecidas no Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, buscando entender a comunidade a partir do contato direto com os agricultores locais, identificando os fatores que determinam as potencialidades e limitações em um ambiente que apresenta recursos humanos e naturais para a sua reprodução familiar, sendo famílias de origem da localidade, que na maioria das famílias constituídas, apresentam laços de parentesco entre si. Para dar início às entrevistas, permaneci em média quatro horas em cada propriedade, observando as práticas agrícolas e ouvindo os proprietários contando a sua história de vida e da localidade que, conforme um proprietário de cinqüenta e seis anos de idade, nascido na localidade relatou: “os jovens não querem mais ficar no campo. Aqui para viver, tem que se trabalhar muito, o trabalho na propriedade depende unicamente do casal, os filhos da maioria das famílias foram para a cidade, inclusive os meus casaram-se e vem para cá nos finais de semana”. 29 A propriedade é vista pelos filhos que foram para a cidade como área de lazer, visitando seus pais nos finais de semana, já que se dedicam a outras atividades urbanas. Além das famílias pesquisadas, foram utilizadas também referências bibliográficas aprofundando a temática da pesquisa e informações coletadas através do escritório da Emater de Tramandaí. A construção da pesquisa possibilitará o entendimento da realidade das famílias rurais, com uma abordagem a pesquisa qualitativa, centrando na compreensão e na explicação da dinâmica das relações sociais, utilizando como procedimento a pesquisa etnográfica, através da observação e da entrevista semiestruturada com o agricultor/produtor, acompanhando as atividades desenvolvidas na propriedade, coletando os dados descritivos e transcrevendo sem a intervenção do pesquisador sobre o ambiente pesquisado, com referência a pesquisa etnometodológica, “visando compreender como as pessoas constroem ou reconstroem a sua realidade social” (FONSECA, 2002). A entrevista e a observação do ambiente pesquisado fornecerão subsídios para entender o processo do fazer fazendo e como esse conhecimento é e foi repassado para seus descendentes. Este estudo utiliza o método qualitativo, visando a compreensão de um grupo social e o quanto é importante a produção para autoconsumo como mínimo vital assim denominado por Cândido (2001), possibilitando as famílias rurais uma alimentação em quantidade (energia) e qualidade (nutrientes), sem comprometer a Segurança Alimentar e Nutricional das famílias rurais. Inspirado no modelo teórico pedagógico do construtivismo, procurando manter uma relação simétrica entre o entrevistador e os entrevistados na construção de um diálogo, não valorizando o conhecimento técnico, mas o conhecimento do “aprender fazendo” que foi apreendido pelos proprietários com técnicas e formas de manejo desenvolvido pela sua família e repassados para seus descendentes. De acordo com Eros Marion Mussoi, em enfoques pedagógicos para intervenção no meio rural, “toda aprendizagem se baseia em aprendizagens anteriores, num processo de relação com o já aprendido, num processo cumulativo de conhecimentos”. 30 As potencialidades e as limitações de desenvolvimento sustentável da UPA, são identificadas através dos recursos disponíveis na propriedade (campo de pastagem, lavouras de insumos para os animais e de consumo da família, benfeitorias, equipamentos e instalações) e recursos humanos (mão-de-obra), informações fornecidas pelos proprietários e identificadas através da saída de campo, reconhecendo as propriedades agrícolas e a sua organização familiar como elemento importante para a reprodução social. Os processos de análise dos dados quantitativos foram possíveis através de um instrumento padronizado, com critérios estabelecidos e citados anteriormente nesse capítulo, e a tabulação das várias categorias de análise obtidas através de entrevistas e observações realizadas nas unidades de produção agrícola, conforme está descrito no capítulo IV. 31 4 AGRICULTORES FAMILIARES, AUTOCONSUMO E SEGURANÇA ALIMENTAR NO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA 4.1 Produção para Autoconsumo e a Segurança Alimentar Entre as atividades agrícolas de autoconsumo nessa localidade destacam-se a produção de hortigranjeiros (alface, tomate, pepino, tempero verde, moranga, cebola, batata, aipim, melancia, abóbora, melão), a criação de animais de pequeno porte (porcos, galinhas, patos, ovelhas) e a criação de peixes em açudes, conforme mostram as figuras 11,12,13 e 14. Nas Unidades de Produção Agrícola o cultivo consorciado é uma prática que permite maior densidade de plantas por unidade de área que um sistema de monocultivo, favorece uma melhor cobertura do solo, redução de plantas indesejáveis e maior proteção do solo contra a erosão. Figura 11- Plantação consorciada (aipim, moranga, abóbora e melancia) 32 A criação de animais de pequeno porte garante a alimentação da família, é considerado um alimento que apresenta valor nutricional em proteínas e vitaminas, sendo os animais tratados com produtos cultivados e elaborados em suas propriedades. Figura 12 - Criação de animais de pequeno porte Figura 13 - Criação de patos e galinhas 33 Em algumas Unidades de Produção Agrícola há presença de açudes com criação de tilápias (figura 14), que além de oferecer um alimento rico em proteínas, também é utilizado como uma alternativa de lazer para os filhos que não residem mais na zona rural. Figura 14 - Criação de peixes em açudes A produção destinada à comercialização se pratica nas unidades de produção agrícola de maior extensão rural destacando o cultivo do arroz irrigado, sendo que essa cultura, na maioria dos casos, ocorre através de arrendamento da terra por agricultores de outras regiões, a pecuária de corte nas propriedades de maior capitalização e o reflorestamento de eucalipto que apresenta nas propriedades arrendadas por empresas de outros municípios, empregando mão-de-obra da localidade e de trabalhadores rurais de outros municípios. O cultivo de grama de jardim sendo cultivado em várias propriedades rurais, apresenta um bom mercado consumidor, sendo comercializado em vários municípios do estado do Rio Grande do Sul. Nos meses de dezembro a março, devido às condições climáticas, não se produz hortaliças, o solo fica em repouso com cobertura vegetal, a partir do mês de abril se inicia a produção de mudas de hortaliças. Nesse período em que a produção de hortaliças não acontece, as famílias, na sua maioria, adquirem-nas em mercados próximos, momento em que percebem a diferença na qualidade do produto. 34 No caso da família nº 7, o proprietário de uma unidade de produção agrícola, nasceu na localidade, tem 56 anos, herdou uma extensão de terra de seu pai, e comprou mais alguns hectares, totalizando hoje aproximadamente 100 ha, trabalhando com pecuária de corte, uma prática herdada de seu pai, casou-se com a professora natural de Osório, que veio lecionar na escola da comunidade rural, teve dois filhos, e hoje, os filhos não se encontram na zona rural. As atividades são realizadas pelo casal, com uma divisão de tarefas bem definida: ela cuida da produção para autoconsumo, como a horta, o pomar e animais de pequeno porte (porcos, ovelhas, galinhas) e ajuda ainda no manejo com o gado. Esse exemplo está presente em algumas unidades de produção agrícola, onde só o casal permanece na zona rural, os filhos já adultos foram para a cidade, considerando a propriedade de seus pais como área de lazer. Em outras famílias, os filhos permanecem juntos com seus pais, ainda enquanto crianças trabalham na produção para alimentos de autoconsumo e, em outras famílias entrevistadas, os filhos adultos permanecem na localidade trabalhando com seus pais nas atividades agrícolas, sem intenção de sair da localidade. Em relação à prática da pluriatividade, que é favorecida pela proximidade e pelo fácil acesso a zona urbana, elementos culturais da cidade foram introduzidos no rural, modificando os hábitos alimentares das famílias, principalmente aquelas que foram constituídas durante a última década. A produção de autoconsumo que até então garantia a reprodução social familiar, atualmente, não se produz na mesma quantidade e variedade, devido a redução do número de filhos, o envelhecimento da população, a ocupação em atividades não agrícolas, o fácil acesso para comprar nos mercados da cidade e a valorização do produto industrializado, principalmente pelas mulheres da localidade. De acordo com relatos das famílias de agricultores entrevistados, em relação à mudança de hábitos alimentares, dizem que: “Há um tempo atrás, que a gente trabalhava muito na propriedade, se comia uma comida mais forte, carne de porco, muito pão feito em casa, muita carne de gado, ovos, queijo e hoje, já reduzimos mais o serviço, não faço mais tudo o que fazia antes, os filhos cresceram, a família reduziu, não se faz tudo o que se fazia para consumo da família. Os filhos que estão na cidade, quando ele vem, eles levam ovos, carne, pão, queijo, porque só nós dois 35 consumimos pouco, às vezes vendo alguns produtos na propriedade, para os vizinhos e outras pessoas que não são da comunidade”. Nessa localidade, há famílias exclusivamente ocupadas em atividades agrícolas, mas tem uma renda não-agrícola, com valores culturais pouco modificados, mantendo os hábitos alimentares e a valorização dos produtos cultivados por eles mesmos, mantendo a sua identidade de camponês, valorizando a produção de autoconsumo, sem uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos, participando na comunidade nos eventos sociais e religiosos, valorizando a cultura local. Os proprietários, na sua grande maioria, têm vínculos familiares com outros proprietários, os casamentos na sua maioria ocorriam entre as famílias, sendo uma estratégia para a manutenção e valorização do patrimônio destinado à transmissão para gerações futuras, sendo uma comunidade que mantem laços culturais, modos de vida criados, apreendidos e transmitidos de uma geração para outra, com hábitos alimentares semelhantes entre as famílias mais antigas da localidade, não apresentando essas mesmas características das famílias que foram formadas mais recentemente. O saber técnico, o saber fazer, vai sendo repassado de geração a geração através das práticas do cotidiano, repassando aos filhos, determinando a reprodução social do núcleo familiar, mantendo o controle no interior da mesma família, porém, com as mudanças tecnológicas e as influências da vida urbana, as famílias mais jovens já não se identificam como agricultores camponeses. Nessa comunidade a mulher e as filhas são encarregadas das atribuições dos trabalhos domésticos, cuidam da horta, do pomar e dos animais de pequeno porte para consumo. Os filhos maiores das famílias pesquisadas estudam em um turno na localidade ou na cidade e ajudam o pai no manejo da propriedade, com o gado, cercas, e plantio agrícola. Nota-se que nessa localidade, as tarefas nas unidades de produção agrícola são distribuídas e divididas entre o homem, a mulher e os filhos, considerando que o homem é responsável pela conservação das cercas, criação do gado, preparação do 36 solo para o plantio, corte de eucalipto para substituição de cercas, atividades que segundo os entrevistados são mais “pesadas, pois exige maior esforço físico”. A produção de autoconsumo é considerada como parte da identidade da família e da comunidade, com valores criados e reproduzidos no âmbito familiar, com características de uma agricultura camponesa, utilizando a mão-de-obra familiar ou de outras pessoas da comunidade rural, mantendo uma relação de reciprocidade e de cooperação, através de mão-de-obra e conhecimentos agrícolas, vendendo o excedente, suprindo assim outras necessidades como vestuário, saúde, aquisição de insumos que não são produzidos na propriedade. De acordo com Eric Sabourin, em Camponeses do Brasil (1958), entre a troca mercantil e a reciprocidade, o termo comunidade, “além da localidade e da proximidade, carrega as noções de parentesco, espiritualidade (religiosa) e compartilhamento de recursos, o que a aproxima do conceito de reciprocidade de forma singular”. Um elemento importante para a manutenção da relação de reciprocidade e de cooperação entre as unidades de produção agrícola são aos laços familiares que estão presentes nessa comunidade, com grande expressividade. Nos eventos sociais organizados pelos líderes da comunidade e representados pela Associação dos Produtores Rurais da Estância Velha e Clube de Mães, as famílias dessa comunidade participam valorizando o seu meio social, recebendo elementos culturais de fora, integrando pessoas e elementos culturais da cidade, mas a sua identidade local com base no pertencimento a localidade, está expressa no seu estilo de vida, principalmente em famílias de idade mais avançada que preservam seus valores culturais e a sua identidade como agricultor camponês. Em contraposição, algumas unidades de produção agrícola não produzem todos os alimentos necessários para o consumo, justificando que “é mais barato comprar nos supermercados do que produzir nas suas propriedades, além do tempo empregado para cultivar alguns produtos necessários para a alimentação da família, a aproximação com a zona urbana favorece a compra de produtos em supermercados”, comentário da proprietária do restaurante na zona rural, família número 6, que atende diariamente os trabalhadores da empreiteira do corte do eucalipto. Ainda segundo a proprietária: “As pessoas dessa localidade não querem 37 trabalhar aqui, elas preferem trabalhar na cidade mesmo ganhando o mesmo salário, então não sobra tempo para cuidar da horta, dos animais domésticos, do pomar. Pagar uma pessoa para fazer esses trabalhos também fica difícil”. No Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, as unidades de produção agrícola mesmo com pouca extensão de cultivo para consumo da família em função de fatores econômicos e mão-de-obra insuficiente da família, fornece alimentos em qualidade, quantidade e variedade, garantindo a segurança alimentar das famílias, produzindo aquilo que necessitam para atender as suas necessidades alimentares. Segundo os agricultores entrevistados, o preparo da comida é feito, predominantemente, a partir de alimentos produzidos na propriedade, porém, devido aos fatores mercadológicos, muitos produtos como verduras, frutas, legumes ficam mais em conta se forem comprados no mercado do que produzidos. Isto ocorre em função de pouca mão-de-obra disponível na propriedade, da aquisição de insumos e em alguns casos, como das famílias que trabalham na zona urbana, são famílias assalariadas e com pouco tempo para dedicação na agricultura, mas não deixam de produzir para o consumo da família, considerando que os produtos cultivados na propriedade, são produtos de melhor qualidade, sem uso de agrotóxico, sem fertilizantes, um produto limpo. Nessa localidade, as propriedades familiares não estão agregadas ao agronegócio, tendo o agricultor maior autonomia no seu modo de produção e na manutenção dos hábitos alimentares, mantendo a sua identidade de agricultor e de pertencimento a sua propriedade e localidade. Os princípios de base da comunidade em estudo são identificados através do parentesco, da localidade, sentimento de pertencimento e reciprocidade entre as famílias. Esses princípios foram constituídos a partir da formação das famílias, originárias de uma mesma matriz, construindo suas histórias de vida na localidade, mantendo um sentimento de pertencimento a propriedade, a comunidade e a localidade. Existe muitas definições para o termo de reciprocidade que, de acordo com Mauss (1924) citado por Eric Sabourin, reciprocidade é “a dinâmica de reprodução de prestações, geradora de vínculo social” e de acordo com Temple (2004) citado ainda pelo mesmo autor, “define a reciprocidade como o redobramento de uma ação 38 ou de uma prestação – entre outras de uma dádiva – como forma de reconhecimento do outro e de pertencimento a uma coletividade humana”. Como a reciprocidade ainda está presente nessa comunidade como a troca de mudas, de produtos cultivados, troca de produtos elaborados, serviços prestados entre as propriedades, reprodução do conhecimento da técnica de cultivo para outros proprietários, em fim, a ajuda mútua entre os proprietários ainda persiste, mas não com tanta expressão como antigamente. A prática de reciprocidade favorece a segurança alimentar e nutricional das famílias com sustentabilidade, uma forma de socialização dos valores materiais e simbólicos, criados e recriados na comunidade. Conforme a Tabela 1, nessa mostra de famílias pesquisadas na localidade da zona rural do município de Tramandaí, as unidades de produção agrícola de menor extensão territorial, ocorreu o desmembramento das terras entre os herdeiros, são famílias de uma mesma matriz, a produção é principalmente para o autoconsumo, é comercializado para pessoas de outra localidade quando se tem um excedente, não comprometendo a alimentação da família. A troca de produtos e de práticas cultivares está presente nesse contexto familiar. Tabela 1- Quadro síntese das entrevistas realizadas Família Classificação nº 1 Faixa etária dos Entre 20 produtores/ e 30 agricultores anos Número de integrantes na família que 03 permanecem na propriedade Grau de Escolaridade Produção para autoconsumo Produção para o mercado Tamanho da propriedade Ensino Médio (esposa) Família nº 2 Entre 20 e 30 anos Família nº 3 Entre 30 a 40 anos Família nº 4 Entre 30 e 40 anos Família nº 5 Entre 40 e 50 anos Família nº 6 Entre 40 a 60 anos Família nº 7 Entre 60 a 70 anos 03 04 04 03 03 02 Ensino Médio (esposa) Ensino Médio (esposa) Ensino Fundamental Ensino Fundamental* Ensino Fundamental* Ensino Fundamental* X X X X X X X ** ** ** ** ** X X 20ha 30ha 30ha 50ha 50ha 60ha 100ha (*) Ensino Fundamental Incompleto (**) Sem expressão comercial 39 As unidades de produção agrícola de maior extensão territorial, tendo sua atividade econômica voltada para o mercado, apresentam uma produção de autoconsumo, socializando junto à comunidade, além do excedente dos cultivares para o autoconsumo, as práticas agrícolas, o conhecimento técnico, para tornar-se possível com sustentabilidade a segurança alimentar e nutricional das famílias com menor poder aquisitivo. As famílias entrevistadas não são famílias numerosas, por falta de mão-deobra familiar as famílias arrendam a terra para o cultivo do arroz, outras arrendam o campo para a criação de gado e outras ainda para o plantio de eucalipto, utilizando em média um hectare para a produção de autoconsumo. As famílias utilizam do sistema do autoprovisionamento, no caso das carnes de gado, ovelha, porco, galinha, devido à facilidade de conservação que têm hoje, a maioria das famílias disponibiliza de energia elétrica e freezer para conservar grande quantidade de carnes. As famílias que têm criação também procuram estocar insumos para os animais para garantir a alimentação no período do inverno. Quando se abate uma criação de grande porte é doada uma quantidade de carne para aqueles que ajudam no abate, essa prática ocorre com familiares mais próximos, normalmente filhos que ainda residem na localidade e com aqueles que residem na zona urbana, e essa troca é comum nessa localidade, sendo um momento em que as famílias passam o dia junto, conversando dos mais variados assuntos e trocando experiências de práticas agrícolas, assuntos da cidade, enfim, é um momento de socialização entre as famílias, As famílias mais antigas da comunidade, na sua maioria, permanecem na propriedade sendo constituídos atualmente somente pelo casal. Os filhos quando jovens passaram a circular entre o rural e urbano para continuar seus estudos, mais tarde se estabelecendo na cidade. De acordo com Castro(2005), citado por Wedig “... a circulação dos filhos entre as áreas rurais e urbana tem início na época dos estudos – na medida em que as áreas rurais têm escolas que, em geral, oferecem até a 4ª série, ou então nem têm escolas – e, num segundo momento na busca de trabalho remunerado”. Ainda analisando os dados da tabela 1, no que se referem ao processo educacional, as mulheres que nasceram nessa localidade apresentam um nível de 40 escolaridade maior do que os homens, ou ainda as mulheres que vieram para localidade já vieram com um nível de escolaridade maior do que os seus esposos. Em termos educacionais referentes ao espaço rural, como tem demonstrado algumas pesquisas, há uma significativa diferenciação entre os gêneros, onde as mulheres acabam estudando mais anos que os homens. Isso se deve principalmente pelo fato de que dos homens espera-se em geral que assumam a propriedade quando os pais não puderem mais, no processo de sucessão. (JOSIANE CARINE WEDIG, 2008) Em relação à faixa etária das famílias da área rural em estudo, de acordo com a mostra, predominam famílias de meia idade, que são possuidores de condições físicas para o manejo das atividades rurais, garantindo uma produção de autoconsumo para a família, contrapondo-se às famílias de idade mais avançada, fator limitante para o trabalho agrícola, levando o agricultor a reduzir o seu trabalho na unidade de produção agrícola, mas mantendo uma produção de autoconsumo, garantindo uma alimentação saudável através de práticas tradicionais que foram apreendidas e repassadas para os herdeiros que permaneceram na zona rural. Mediante as informações coletadas com a mostra das famílias de agricultores e observação de campo conforme está sintetizado na tabela 1 nota-se que em todas as unidades de produção agrícola há uma produção de autoconsumo promotora do desenvolvimento sustentável das famílias rurais. Enfim, a localidade em estudo apresenta dificuldades para a manutenção e reprodução social, pelos motivos que norteiam a zona rural como um todo, pela desruralização dos mais jovens, pelo fácil acesso à zona urbana, pela idade avançada das famílias que permanecem na zona rural, esse fator apresenta limitações para o desempenho das atividades agrícolas, pela pluriatividade, ficando pouco tempo para se dedicar às atividades na propriedade, pela falta de acessibilidade aos recursos tecnológicos. Além desses fatores elencados, existem as questões mercadológicas e fatores físicos que dificultam o desenvolvimento da agricultura familiar de características camponesa, dedicando-se a produção de autoconsumo para o sustento da família, com produtos de melhor qualidade e livres de agrotóxicos. 41 O pequeno agricultor não consegue concorrer com o mercado devido a baixa produtividade, os custos de produção são menores, mas não tem recursos financeiros e humanos suficientes para expandir a sua produção. Como toda atividade agrícola é uma atividade de risco, o pequeno agricultor não sente motivação para produzir em quantidade, procurando produzir para a manutenção da sua família e se dedicar a outras atividades fora da sua propriedade, tornando as famílias dessa comunidade na sua maioria pluriativos, não dependendo somente das atividades agrícolas. 4.2 Potencialidades e Limitações da Produção de Autoconsumo As condições técnicas de produção (acesso ao crédito, capital disponível, falta de mão-de-obra da família, etc.), preço dos alimentos “prontos”, são fatores desmotivadores para o agricultor produzir para o autoconsumo, porém, nessa comunidade, a produção está orientada em primeiro plano para atender as necessidades do grupo familiar e a sua manutenção no meio rural. De acordo com as famílias entrevistadas, principalmente as mais antigas da localidade, se comprava na cidade somente aquilo que não se produzia na localidade. Em outras épocas, “aquilo que eu plantava eu trocava com uma ou outra família que plantava o que eu não tinha, nós trocávamos até sementes e hoje, a maioria das famílias cultivam os mesmos produtos e também vendemos para pessoas daqui e que vem da cidade”. No período do verão, as unidades de produção agrícola dedicam-se mais ao cultivo de melancia, melão, abóbora, moranga, milho, arroz, não produzindo todos os alimentos para autoconsumo. Nesse período abrem postos de trabalho na zona urbana (hotéis, supermercados, lojas) e alguns membros das famílias rurais buscam emprego, reduzindo a mão-de-obra na propriedade. A organização e a gestão da unidade de produção agrícola dependem de alguns fatores para a manutenção de uma produção de autoconsumo como a composição demográfica, a faixa etária e a disponibilidade de mão-de-obra. 42 A gestão das unidades de produção agrícola conta na sua maioria com a mão-de-obra do casal, reduzindo algumas atividades quando a idade já não permite a mesma disposição de quando eram mais novos. São fatores relevantes que comprometem a produção de autoconsumo, onde as famílias mantêm sua produção para autoconsumo, com poucas variedades, consumindo produtos dos mercados. As famílias de mais idade mantêm a produção de autoconsumo em menor quantidade com uma produção diversificada, preservando dessa forma os valores culturais através dos produtos cultivados e elaborados na propriedade. Em algumas unidades de produção agrícola, além das famílias pequenas, as mulheres buscam trabalho na cidade, tornando-se assalariadas, situação que favorece pela aproximação da cidade, com estradas de fácil acesso, transporte coletivo, elementos que são vistos como facilitadores para o deslocamento das mulheres. Outro fator limitante para a manutenção de uma produção de autoconsumo é o tempo disponível, quando a família é pequena, como é muito serviço na propriedade, dependendo da atividade agrícola a que se destina, o tempo é menor para se dedicar a produção de autoconsumo. A pluriatividade está presente nessa localidade, são trabalhadores urbanos, mantendo sua produção de autoconsumo, como forma de garantir alimentos em variedade, quantidade e qualidade, que garante a alimentação da família durante todo ano, com exceção dos meses de verão, devido a alta temperatura as mulheres não cultivam hortaliças. A pluriatividade é vista como uma renda complementar a renda agrícola, que ajuda na manutenção das despesas da unidade de produção agrícola, como pagamento de luz, impostos, compra de ferramentas, e ainda vestuário, transporte, objetos domésticos, sendo importante como forma de garantir melhores condições de vida. Os filhos homens que se tornaram adultos também estão buscando uma atividade não agrícola, tornando essa comunidade pluriativa, alguns permanecendo na zona rural e trabalhando na cidade, saindo pela manhã e voltando no final da tarde. 43 Na atualidade, as mulheres com maior expressão não são filhas desta comunidade, apresentam um grau de ensino maior em relação às senhoras nativas da região. Essas mulheres que não são nativas exercem uma liderança muito grande na comunidade, são vistas como pessoas “estudadas”. Conforme depoimento de uma das senhoras entrevistadas, natural da localidade, com 48 anos de idade, viúva, tem dois filhos, o filho menor com 15 anos e a filha com 24 anos de idade, em relação ao grau de escolaridade diz que: “Nós mais velhos, estudamos na escola da localidade, só tinha até a 4ª série, como ainda hoje é, terminamos o nosso estudo ali. As mulheres mais novas estudaram mais, fizeram até a 8ª série e outras ainda fizeram o 2º Grau (Ensino Médio). Hoje é diferente com nossos filhos, eles vão para a cidade pra estudar, e ter uma profissão”. A valorização pela profissão remunerada e urbana está muito acentuada nessa comunidade. A associação do rural ao atrasado e do urbano ao moderno, um novo paradigma consolidado com a política desenvolvimentista implantada no país, com medidas modernizadoras, valorizando o urbano e desqualificando o rural, passa a ser um indicador provocando mudanças no meio rural, como a desruralização e/ou a permanência no meio rural, associando a atividade agrícola com não-agrícola, tornando-se agricultores pluriativos. Seguindo ainda com a fala da entrevistada em relação a valorização do trabalho assalariado: “Os filhos tem que estudar para ter uma profissão, ter salário, ter uma vida de mais conforto, porque no campo, trabalhamos muito para sobreviver, é bom, não saio daqui nunca, mas os nossos filhos tem que estudar”. Como os mais jovens estão deixando a zona rural em busca de trabalhos na zona urbana, sendo uma característica histórica do meio rural, é necessário uma política de valorização dos espaços rurais, promoção e apoio a agricultura familiar, que através dessa prática é que se dá a produção de alimentos para o consumo próprio, com uma alimentação saudável e adequada de acordo com as suas características culturais, através da diversidade de alimentos associados à quantidade, qualidade e permanência, sendo promotora de melhor qualidade de vida das famílias de agricultores. 44 A maioria das unidades de produção agrícolas preza por possuir a terra, horta, pomar e alimentos provenientes da transformação caseira (geléias, pães, queijo, bolachas, etc.), além da criação de galinhas, suínos e bovinos (carne e leite) e da lavoura (batata, feijão, mandioca, melão, melancia, aipim, etc.). Entre as unidades de produção agrícola há uma semelhança dos produtos cultivados e a transformação caseira, mas o que diferencia é a quantidade produzida, dependendo do número de participantes da unidade de produção, quanto mais pessoas na unidade familiar, mais se produz para garantir a segurança alimentar. Como sugestão, a comunidade do Distrito Estância Velha deverá se fortalecer através da Associação dos Produtores Rurais, captar recursos financeiros através dos programas governamentais e organizar suas propriedades para aumentar sua produção e produtividade, participando das políticas públicas como fornecedores de produtos da agricultura familiar, conquistando espaços no mercado, garantindo a produção de autoconsumo em variedade, qualidade e quantidade. Sob os princípios da agroecologia, novos estilos de agricultura sustentável podem ser desenvolvidos nessa localidade promovendo a sustentabilidade das famílias rurais, com assistência técnica e extensão rural, construindo ações em conjunto com os agricultores que possam desenvolver as suas propriedades tornando-se economicamente viável, acesso a crédito, tecnologias de base ecológica, preservando a diversidade biológica e cultural, utilizando dos conhecimentos das famílias locais, respeitando o saber popular, assegurando a sustentabilidade econômica e socioambiental das famílias de agricultores. A agricultura não sendo somente produtora de alimentos, tem outras funções a ela atribuídas, como reprodução social das famílias de agricultores, promoção da segurança alimentar, a manutenção do tecido social e cultural, bem como a preservação dos recursos naturais e da paisagem rural. A agricultura familiar com base nos princípios da agroecologia garante um mercado consumidor que valorize o produto que apresenta melhor manejo dos recursos naturais, com atribuições de valores culturais, tornando diferente o produto da produção em escala, utilizando ainda como estratégia de mercado a indicação geográfica constituindo um meio de valorizar a localidade, promovendo visibilidade ao desenvolvimento sustentável das famílias de agricultores. 45 Enfim, é possível ter uma produção economicamente e ambientalmente sustentável em pequenas propriedades, com emprego de técnicas menos degradantes do que o modelo convencional oferece, uma agricultura baseado nos princípios da agroecologia com tecnologia adequada de acordo com as características socioambientais da localidade, possibilitando a permanência do agricultor no meio rural. 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS As famílias rurais do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, têm como meio de reprodução social a produção de autoconsumo que através da autogestão da unidade de produção agrícola assegura a autonomia do agricultor, produzindo seus alimentos em qualidade, quantidade e variedade, se encontrando em condições de segurança alimentar e nutricional. As práticas produtivas desenvolvidas nessa localidade, com características de uma agricultura familiar, atendem os vários princípios da agroecologia, evidenciando a importância do autoconsumo para a promoção da sociabilidade e fortalecimento da identidade social. As unidades de produção agrícola familiar apresentam baixa produtividade devido a pouca tecnologia empregada, como mecanização, insumos químicos, falta de políticas públicas locais, mas se destacam por priorizarem uma alimentação saudável através das práticas tradicionais, cultivando produtos diversificados, com base na agroecologia, conhecimentos transmitidos de geração a geração, valorizando o seu meio social e a sua localidade, não apresentando famílias em estado de vulnerabilidade social. Os proprietários rurais, como produzem em pequena escala, não conseguem se manter no mercado, devido aos custos x benefícios, sendo um dos fatores responsáveis pela busca em outras atividades, arrendando suas terras para o cultivo de monoculturas. Outros elementos ameaçam a produção de autoconsumo, como a facilidade de acesso aos mercados, a oferta de alimentos prontos e o preço desses alimentos, que interferem de modo significativo na produção de autoconsumo. As famílias de mais idade procuram cultivar seus hábitos alimentares, priorizando um alimento com mais qualidade, mais nutritivo, um alimento limpo, sem 47 estar contaminado por agrotóxicos, dedicando-se a produção de base agroecológica, reconhecendo que a prática convencional interfere nos recursos naturais, apropriando-se de técnicas menos degradantes, garantindo a segurança alimentar da sua família. A agricultura familiar explora os recursos naturais de forma mais equilibrada, por ser a principal produtora de alimentos básicos, garantindo assim a produção de autoconsumo das famílias rurais e o abastecimento ao mercado interno com produtos em quantidade, qualidade e diversidade, promotora da segurança alimentar das populações rurais e não rurais. Para garantir o desenvolvimento sustentável das propriedades rurais da localidade estudada é necessário potencializar ações dirigidas à agricultura familiar, com políticas públicas de incentivo ao agricultor, participando dos programas governamentais, valorizando o agricultor familiar como agente responsável pela produção de alimentos. A construção de um cenário prospectivo para essa localidade está no planejamento e gestão para o desenvolvimento das unidades de produção agrícola, com maior mobilização dos atores sociais de todos os segmentos, gestores públicos, produtores, empresários, canalizando para o desenvolvimento sustentável, respeitando os critérios ecológicos, geográficos, culturais, valorizando a diversidade e a interação com o global. Então, um tema interessante para novos estudos no Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, seria verificar em que medida ferramentas de planejamento e de gestão das unidades de produção agrícola podem contribuir para uma maior produtividade, respeitando os saberes e práticas dos agricultores familiares de Estância Velha. 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, R. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. Campinas. SP; UCITEC, 2ª Ed, 1998. (Coleção Estudos Rurais). ALBERTI, Raquel Lorensini. É possível pensar em desenvolvimento da pequena produção agrícola na conjuntura atual a partir de políticas essencialmente agrícolas. Material disponibilizado no Derad012 BRASIL, Emenda Constitucional nº 64, de 04 de fevereiro de 2010. Diário Oficial da União. Disponível em: <http://www.dji.com.br/constituição federalc064.htm>. Acesso em 10 mar 2011. CAPORAL, F.R.; COSTABEBER, J.A. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável: perspectivas para uma nova Extensão Rural. Em: ETGES, V.E.(org.). CONTI, Irio Luiz. Direito Humano à Alimentação Adequada In: Segurança Alimentar e Nutricional: noções básicas. Passo Fundo: IFIBE, 2009. E-book. (pgs 21 a 26) COREDES. Resumo Estatístico do RS. Disponível em: <http://fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/pg coredes.php>. Acesso em 30 mar 2011. GEHLEN, Ivaldo. Território, Cidadania, Identidade e Desenvolvimento Local Sustentável. Universidade de La República, 2006. p. 265 – 283. GERHARDT, Tatiana Engel, SILVEIRA, Denise Tolfo. 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Material disponibilizado no Derad08. 50 ANEXO A – Termo de Consentimento TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E ESCLARECIDO Trabalho de Conclusão de Curso INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL – UFRGS NOME:___________________________________________________ RG/CPF: __________________________________________ Este Consentimento Informado explica o Trabalho de Conclusão de Curso “Segurança Alimentar das Famílias Rurais do Distrito Estância Velha, Município de Tramandaí” para o qual você está sendo convidado a participar. Por favor, leia atentamente o texto abaixo e esclareça todas as suas dúvidas antes de assinar. Aceito participar do Trabalho de Conclusão de Curso “Segurança Alimentar das Famílias Rurais do Disitrito Estância Velha, município de Tramandaí” – do Curso de Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural – PLAGEDER, que tem como objetivo compreender o papel da produção da Agricultura Familiar para autoconsumo na segurança alimentar dos agricultores do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí. A minha participação consiste na recepção do aluno “Odete Bertolino Cardoso” para a realização de entrevista. Fui orientado de que as informações obtidas neste Trabalho de Conclusão serão arquivadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS e que este projeto/pesquisa resultará em um Trabalho de Conclusão de Curso escrito pelo aluno. Para isso,( x ) AUTORIZO / ( ) NÃO AUTORIZO a minha identificação (e a da propriedade/agroindústria/cooperativa/outra para a publicação no TCC.) Declaro ter lido as informações acima e estou ciente dos procedimentos para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso, estando de acordo. Assinatura____________________________________________ Local , _____/_____/2011 PLAGEDER: Av. João Pessoa, 31 – 90040.000 – Porto Alegre – RS – Brasil Fone: (51) 3308.3884 - Fax: 3308.32 81 http://www6.ufrgs.br/plageder [email protected] Fonte: HTTP://www6.ufrgs.br/plageder 51 ANEXO B – Registros fotográficos Cultivo do arroz nas propriedades de maior extensão territorial Graneleira carregada de arroz 52 Criação de gado e reflorestamento de eucalipto Cultivo e comercialização da grama de jardim 53 APÊNDICE – Roteiro de entrevistas 1. Nome do proprietário: 2. Idade: 3. É natural da localidade? 4. Como a família adquiriu a propriedade? (através de herança, compra, arrendamento, etc) 5. Quantos integrantes da família? 6. Grau de instrução? (de todos da família) 7. Quanto tempo a família vive na propriedade? 8. Área da propriedade? 9. Quem trabalha na propriedade? 10. Como se realiza a produção na propriedade (divisão das tarefas) e como se dá a distribuição da renda da produção? (empregados, filhos que recebem salário, e qual o critério utilizado para a distribuição da renda?...) 11. Quais são as práticas realizadas para autoconsumo (cultivares (horta/pomar e criação de animais (galinhas, porcos, ovelhas...), transformação caseira (geléias, queijo, pães, chimia – compotas, etc), produzida e consumida pela unidade de produção agrícola. 12. Quanto da renda da propriedade vem de atividades agrícolas? 13. Quanto da renda da propriedade vem de atividade não agrícola e quais são as atividades fora da propriedade? 14. Sementes utilizadas (crioulas ou híbridas)? 15. Já houve migração de algum membro da família para a cidade? Caso positivo, quais as razões que provocaram a migração? 16. Tecnologia empregada na propriedade (ex: máquinas agrícolas, agrotóxicos, adubo químico, etc.) 17. Quais as limitações (dificuldades que encontra) para a produção para autoconsumo? Ela é importante para sua família? Por quê 18. O que seria necessário ocorrer para avançar nas suas possibilidades de produzir para autoconsumo O senhor acha que esta mudança iria modificar a vida de sua família? Como 19. O que significa uma boa alimentação? 20. O senhor acredita que a sua família tem acesso a uma alimentação abundante em quantidade, periodicidade e qualidade? Por quê