UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PLANEJAMENTO E GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL
ODETE BERTOLINO CARDOSO
PRODUÇÃO PARA AUTOCONSUMO E SEGURANÇA ALIMENTAR
NO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA,
TRAMANDAÍ, RIO GRANDE DO SUL
BALNEÁRIO PINHAL
2011
1
ODETE BERTOLINO CARDOSO
PRODUÇÃO PARA AUTOCONSUMO E SEGURANÇA ALIMENTAR
NO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA,
TRAMANDAÍ, RIO GRANDE DO SUL
Trabalho de Conclusão do Curso de
Graduação em Planejamento e Gestão para o
Desenvolvimento Rural da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, apresentado
como requisito para a obtenção do título de
tecnólogo em Planejamento e Gestão para o
Desenvolvimento Rural.
Orientadora:
Gabriela Coelho de Souza
Balneário Pinhal
2011
2
AGRADECIMENTOS
Primeiro agradeço a Deus, que me deu forças para chegar ao final desta
caminhada e por ter conhecido professores da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul com uma riqueza de conhecimentos na área rural.
Aos meus filhos, aos quais por muitas vezes deixei de dar atenção nos finais
de semana em razão às atividades do curso e por terem me auxiliado no uso das
ferramentas de acesso ao moodle.
Ao meu sobrinho e afilhado Alan Jonathan Grassi, que por muitas vezes me
ajudou com conhecimentos de informática na realização das atividades.
A todos os colegas de curso com quem compartilhei momentos agradáveis
num ambiente de aprendizagem de qualidade, em especial, ao meu colega de curso
e amigo Delmar Koetz, técnico da Emater de Tramandaí, que foi um grande mestre
com o seu conhecimento na área rural me ajudando a compreender as relações
sociais do mundo rural e me oportunizando a conhecer a comunidade rural de
Tramandaí.
A todos os tutores do curso PLAGEDER, que me proporcionaram um
conhecimento de qualidade, tornando nossas aulas produtivas, com atividades
práticas, possibilitando conhecer in loco o espaço rural.
Agradeço em especial o Professor Matheus Dhein Dill, que foi tutor a
distância no Derad021-Elaboração e Avaliação de Projetos Agroindustriais,
possibilitando aplicar o conhecimento adquirido na disciplina no meu estágio
Derad023 (Estágio Supervisionado II), sinalizando a oportunidade da agroindústria
(local do estágio) ser a fornecedora de pescados para a alimentação escolar de
Tramandaí.
Agradeço a tutora presencial Vera Notargiacomo, sendo uma grande amiga
durante todo o curso, sempre pronta para nos auxiliar.
Agradeço aos meus orientadores Gabriela Peixoto Coelho de Souza e
Antônio João Ferreira de Lima pela dedicação e disposição em me orientar na
realização deste trabalho.
Agradeço de forma especial pelo carinho e atenção com que os proprietários
rurais me receberam em suas propriedades, me oportunizando a realização desse
trabalho, assim como outros trabalhos que foram realizados na comunidade
Estância Velha durante o período do meu curso.
Por fim, agradeço a todos que me acompanharam durante o curso de forma
direta ou indireta, contribuindo para chegar ao final de mais uma conquista.
3
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo compreender o papel da produção da Agricultura
Familiar para autoconsumo na segurança alimentar e nutricional dos agricultores do
Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, analisando a produção como
responsável pela construção da identidade dos agricultores familiares e para a
reprodução social das famílias rurais, bem como identificar potencialidades e
limitações para desenvolver uma agricultura de autoconsumo como promotora da
segurança alimentar e nutricional. Foi utilizada a metodologia qualitativa, a partir das
técnicas de entrevistas semi-estruturadas realizadas com sete famílias de
agricultores e estando presente na divisão de tarefas entre os membros da família e
dos trabalhos realizados nas propriedades. Foi constatado que as famílias
agricultoras praticam uma agricultura de autoconsumo, considerada importante para
a reprodução social da família, repassando o conhecimento das práticas produtivas
sob a perspectiva de uma agricultura com base na agroecologia, garantindo assim a
sustentabilidade socioeconômica, cultural e ambiental das famílias rurais. As famílias
agricultoras do Distrito Estância Velha, na sua maioria, apresentam laços de
parentesco, constituindo suas famílias e permanecendo na localidade,
demonstrando um sentimento de pertencimento a sua comunidade. A agricultura
familiar garante a produção de autoconsumo, com diversificação, quantidade e
qualidade de produtos, empregando maior número de mão-de-obra, menor emprego
de insumos exógenos, minimizando os riscos que podem causar a insegurança
alimentar das famílias rurais. A prática de uma agricultura com base na agroecologia
promove a sustentabilidade, fortalecendo a produção para autoconsumo e a
produção de alimentos básicos promotora da segurança alimentar das famílias rurais
e não rurais.
Palavras-chave: Agricultura Familiar – Produção de autoconsumo – Segurança
alimentar e nutricional.
4
ABSTRACT
This study aims to understand the role of family farming production for own
consumption in food and nutrition security of farmers in the Old District Office, city of
Tramandaí, analyzing the production and responsible for building the identity of
family farmers and for the social reproduction of families rural as well as identify
strengths and limitations to develop an agricultural self-consumption as a promoter of
food and nutrition security. Qualitative methodology was used, from the techniques of
semi-structured interviews with seven families of farmers and being present in the
division of labor among family members and the work done on the properties. It was
found that the family farmers practicing agriculture for self-consumption, considered
important for the social reproduction of the family, passing on the knowledge of
production practices from the perspective of an agriculture based on agro-ecology,
thus ensuring sustainable socio-economic, cultural and environmental assets of rural
families . The farming families of the Old District Office, in its majority, have ties of
kinship, forming their families and staying in the locality, demonstrating a sense of
belonging to their community. Family farming ensures the production of consumption,
with diversification, quantity and quality of products, employing more manpower, less
use of exogenous inputs, minimizing the risks that can cause food insecurity of rural
families. The practice of an agriculture based on agro-ecology, promotes
sustainability by strengthening the production for own consumption and production of
basic food-promoting household food security and ruralnon-farm.
Keywords: Family Farming – Production of consumption – Food and nutritional
security.
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Ocupação do território brasileiro pela Agricultura Familiar e Patronal
(IBGE, 2009) ............................................................................................................ 15
Figura 2 - Participação da mão-de-obra na agricultura familiar e na agricultura
empresarial (IBGE, 2009)......................................................................................... 16
Figura 3 - Participação na produção de alimentos da Agricultura Familiar (IBGE,
2009)........................................................................................................................ 16
Figura 4 - Mapa de Macrozoneamento Ambiental do Rio Grande do Sul (SEMA,
2010), adaptado do Plano Diretor deTramandaí (Município de Tramandaí, 2011) ... 19
Figura 5 - Área Central do Distrito Estância Velha (Igreja Católica, Salão
Comunitário,............................................................................................................. 22
Figura 6 - Igreja Evangélica ..................................................................................... 22
Figura 7 - Visita dos professores da rede municipal às unidades de produção
agrícola .................................................................................................................... 23
Figura 8 - Visita das escolas da rede municipal às unidades de produção agrícola . 23
Figura 9 - Produção de mudas de flores no galpão da ACOPREV pelas senhoras da
frente de trabalho ..................................................................................................... 26
Figura 10 – Visita à propriedade rural em Estância Velha ........................................ 27
Figura 11- Plantação consorciada (aipim, moranga, abóbora e melancia) ............... 31
Figura 12 - Criação de animais de pequeno porte .................................................... 32
Figura 13 - Criação de patos e galinhas ................................................................... 32
Figura 14 - Criação de peixes em açudes ................................................................ 33
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Quadro síntese das entrevistas realizadas ............................................... 38
7
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. 5
LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 6
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8
1.1 A Influência da Modernização da Agricultura sobre a Agricultura Familiar ........ 9
1.2 A Produção para Autoconsumo e a Relação da Agricultura Familiar com a
Segurança Alimentar ............................................................................................ 13
2 CARACTERIZAÇÃO DO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA, MUNICÍPIO DE
TRAMANDAÍ, E SUA POPULAÇÃO ........................................................................ 19
3 METODOLOGIA ................................................................................................... 25
3.1 Critérios utilizados para definir as Famílias Entrevistadas .............................. 28
3.2 Procedimentos utilizados para Coleta de Informações ................................... 28
4 AGRICULTORES FAMILIARES, AUTOCONSUMO E SEGURANÇA ALIMENTAR
NO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA ........................................................................... 31
4.1 Produção para Autoconsumo e a Segurança Alimentar .................................. 31
4.2 Potencialidades e Limitações da Produção de Autoconsumo ......................... 41
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 48
ANEXO A – Termo de Consentimento ..................................................................... 50
ANEXO B – Registros fotográficos ........................................................................... 51
APÊNDICE – Roteiro de entrevistas ........................................................................ 53
8
1 INTRODUÇÃO
O tema desse trabalho é a Segurança Alimentar das famílias rurais, que vem
sendo abordada no cenário nacional por especialistas, técnicos na área de
desenvolvimento rural, sob a perspectiva da agricultura familiar. Esta é uma prática
que apresenta maiores perspectivas de sustentabilidade por sua dimensão sóciocultural e ambiental e melhor gestão dos recursos naturais. (MENEGETTI, p. 1).
A agricultura familiar apresenta multifuncionalidade, que além de produzir
alimentos e matérias-primas, “favorece o emprego de práticas produtivas
ecologicamente mais equilibradas, com menor uso de insumos industriais, melhor
manejo dos recursos naturais e diversificação de produtos alimentares, garantindo
uma alimentação em qualidade e quantidade e a reprodução social das famílias de
agricultores”. (DAL SOGLIO, 2008).
A baixa produtividade das unidades de produção agrícola, a desruralização e
a carência de recursos financeiros são elementos que comprometem a prática da
agricultura familiar e a segurança alimentar das famílias de agricultores, e
consequentemente comprometem a produção de autoconsumo, deixando as
famílias rurais em estado de vulnerabilidade social, dependentes de uma agricultura
patronal.
A modernização da agricultura sobre a agricultura familiar desqualifica o
agricultor familiar das suas potencialidades e modo de fazer, comprometendo a
produção de autoconsumo e a reprodução dos valores culturais no meio familiar.
A agricultura com base na agroecologia possibilita maior autonomia dos
produtores rurais, preservando a identidade cultural das famílias rurais, com
emprego de técnicas ambientalmente mais adequadas para a manutenção dos
recursos naturais.
9
A trajetória histórica da agricultura, principalmente após a modernização dos
meios de produção, deixou de ser a produção de alimentos e passou a ser vista
como atividade comercial, com empresas transnacionais de insumos agrícolas
dominando o mercado.
Com a inclusão e incrementos químicos sintéticos, causando impactos
ambientais, sociais e culturais em populações que foram excluídas do processo de
modernização, modificou as relações sociais, introduzindo novos saberes e o reflexo
na agricultura familiar, especificamente no caso das famílias de agricultores do
Distrito Estância Velha, município de Tramandaí.
Conheço a comunidade da Estância Velha, através da participação de
eventos sociais e culturais nessa localidade, assim como em outras atividades
envolvendo as escolas da zona urbana. Realizei também trabalhos de campo nas
unidades de produção agrícola em atendimento ao curso Plageder o que me
possibilitou conhecer a comunidade.
A partir desses contatos com as famílias rurais procurei conhecer os fatores
que interferem na produção para autoconsumo, visto que as unidades de produção
agrícola apresentam características de economia familiar, apresentando uma baixa
produção e produtividade, fator que pode influenciar na permanência das famílias
rurais comprometendo a segurança alimentar e nutricional.
Esse estudo está dividido em cinco capítulos. O primeiro apresenta os
conceitos e noções que compõem os referenciais desta pesquisa - explorando a
influência da modernização da agricultura sobre a agricultura familiar, a produção
para autoconsumo e a relação da agricultura familiar com a segurança alimentar, o
problema de pesquisa e objetivos. O segundo apresenta o Distrito de Estância
Velha, no município de Tramandaí, e os agricultores familiares da localidade. O
terceiro apresenta a metodologia utilizada para analisar a relação do autoconsumo e
a segurança alimentar em Estância Velha. O quarto capítulo apresenta os resultados
e o quinto capítulo apresenta as considerações finais.
1.1 A Influência da Modernização da Agricultura sobre a Agricultura Familiar
O modelo de desenvolvimento rural implantado no Brasil após a Segunda
Guerra Mundial apresenta sérias implicações na questão da sustentabilidade
10
econômica, social e ambiental, e principalmente na agricultura familiar, que além de
fornecer alimentos e matérias-primas, favorece o emprego de práticas produtivas
ecologicamente mais equilibradas, produzindo alimentos mais seguros e saudáveis.
De acordo com Dal Soglio (2006) ”a industrialização da agricultura afetou
negativamente a qualidade de vida da sociedade rural brasileira, gerando exclusão,
problemas de saúde e mudanças significativas em suas culturas”. (Pacifico, p. 40)
Conforme José Graziano da Silva, “a industrialização da agricultura,
Revolução Verde, culmina com uma modernização „conservadora‟ que motiva a
desestruturação dos complexos rurais, onde tudo se produz na propriedade e a
consolidação dos complexos agroindustriais”, que se produz para o mercado,
expropriando o pequeno produtor dos seus meios de produção.
Segundo Kageyama (1990), a partir da constituição e consolidação dos
complexos agroindustriais o desenvolvimento da agricultura fica estritamente
dependente da indústria, é estabelecida uma integração entre esses setores,
fazendo com que o pequeno produtor se integre a essa nova realidade do rural,
deixando de produzir para o autoconsumo em conformidade com as condições
impostas pela agroindústria.
A agricultura deixou de ser a produção de alimentos e passou a ser vista
como atividade comercial, um modelo de agricultura que expropria as outras formas
e estilo de agricultura que não são somente agrícolas, mas também meios de vida,
de sociabilidade e de manutenção social de grupos e famílias.
Possuir tratores e implementos agrícolas modernos, assim como cultivar
imensas áreas de grãos, fazer colheita com um maquinário da última
geração e transportar e comercializar a produção além das fronteiras locais
trata-se de ações de um modelo de agricultura dependente das tecnologias
exógenas e símbolo de modernidade. Este modelo está permeado por
significados e imagens que criam representações acerca de como deve ser
um agricultor moderno, desmerecendo ou deslegitimando os demais meios
de vida baseados em produção de alimentos com mão-de-obra familiar e
exponencial tecnologia exógenas. (PACÍFICO, 2009, p.3)
Conforme dados apresentados por Menezes (2007) no documento final da III
Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil, a pobreza e a
fome encontram-se nas áreas rurais, que apresenta 46% das famílias em situação
de vulnerabilidade social.
11
No ímpeto da modernização tecnológica, muitos extensionistas estimularam
as famílias rurais a intensificar a produção de commodities, inseridos numa dinâmica
capitalista, comprometendo a segurança alimentar das famílias rurais.
A partir de 1960, com a Revolução Verde, ocorre a difusão de novas
tecnologias e de insumos modernos como os agroquímicos, causando impactos
ambientais, como a erosão dos solos, a poluição das águas e dos solos por nitratos,
fosfatos e agrotóxicos, a contaminação dos agricultores, a diminuição da
biodiversidade e a destruição dos recursos não-renováveis, padronizando um
modelo de modernização, criando uma dependência financeira, tecnológica e
biológica do produtor, simbolizando a modernidade, criando um estigma do que não
é moderno é atrasado (DAL SOGLIO, 2008).
O modelo centrado na grande produção para exportação excluiu grande parte
dos produtores dos seus meios de produção, tornando a agricultura dependente do
petróleo, da indústria química, sustentada no tripé da modernização “pesquisa,
extensão e crédito subsidiado”, favorecendo os grandes proprietários rurais, nos
mercados nacionais e internacionais.
As novas técnicas de produção introduzidas no meio rural, os sistemas
modernos da agricultura, a expansão das fronteiras agrícolas, viabilizaram o
surgimento e a consolidação dos complexos agroindustriais, estimulando a expulsão
do agricultor familiar pela falta de condições de subsistência e a perda da
capacidade produtiva. É ainda fator gerador para essas populações mais jovens
deixarem o mundo rural, buscando novas alternativas em outros espaços,
incentivadas pelo crescimento das cidades, desconstituindo suas relações sociais e
culturais com o seu meio, introduzindo a sua cultura novos elementos modificando
os seus valores, buscando construir uma nova identidade, valorizando outros
espaços, se inserindo no processo de homogeneização cultural (DAL SOGLIO,
2008).
A política econômica adotada no Brasil a partir dos anos 60 colaborou para a
intensificação do emprego da mecanização, e da indústria química (agrotóxicos,
adubos sintéticos) colocando em risco a segurança alimentar e nutricional das
populações rurais tornando vulneráveis às famílias rurais.
12
A difusão dos pacotes técnicos associados à modernização da agricultura,
com objetivo de aumentar a produção e produtividade e do alto rendimento, levou
muitas famílias de agricultores à situação de vulnerabilidade social, alterando de
modo significativo a vida das famílias rurais, a degradação do saber-fazer, devido a
uma política voltada para o crescimento econômico com um discurso de
desenvolvimento.
Para José Graziano da Silva,
[...] a modernização da agricultura foi desigual no sentido de não privilegiar
todos os tipos de agricultores existentes, marginalizando alguns segmentos
de produtores via o não acesso ao crédito, a assistência técnica, etc., dessa
forma a modernização da agricultura é um processo que ao mesmo tempo
em que atrela a agricultura do país a uma indústria desenvolvida e ao
comércio internacional exclui grande parte dos produtores rurais.
Nesse novo cenário a modernização da agricultura trouxe crescimento
econômico e tecnológico, a degradação e o esgotamento dos recursos naturais, bem
como a concentração fundiária e de renda, e consequentemente a exclusão e a
violência no setor rural, desapropriando os pequenos agricultores dos seus meios
produtivos, levando às famílias dos pequenos agricultores a insegurança alimentar.
A agricultura familiar apresenta dificuldades para sua reprodução social por
vários fatores já citados anteriormente, mas é a forma de organização mais
adequada para potencializar o desenvolvimento sustentável agrícola e rural, com
base nos princípios da Agroecologia, que, a partir das idéias de Sachs(1994), Flores
e Nascimento (1994) e Cruz (1995), devem ser levados em conta seis dimensões:
“sustentabilidade econômica, sustentabilidade ecológica, sustentabilidade social,
sustentabilidade
espacial
ou
geográfica,
sustentabilidade
cultural
e
a
sustentabilidade política”, onde todos os atores sociais participem de um processo
de desenvolvimento com sustentabilidade, na construção de políticas públicas
promovendo novas formas de agricultura sustentável, na produção de alimentos em
quantidade, qualidade e regularidade, promotora da segurança alimentar e
nutricional das famílias rurais.
O melhor caminho na busca de um sistema alimentar sustentável parece
ser o fortalecimento da agricultura familiar ou camponesa, enquanto
formação social mais adequada para garantir a segurança alimentar em
condições sustentáveis. (MALUF & MENEZES, 2000)
13
A agricultura familiar além de absorver mão-de-obra da família emprega maior
número de mão-de-obra, está voltada para a diversificação da produção de
alimentos, emprego de pouca tecnologia e insumos químicos, oferecendo ao
mercado um alimento de maior qualidade e variedade de produtos, promovendo
maior qualidade de vida aos consumidores garantindo, ao mesmo tempo, a
produção de autoconsumo das famílias dos agricultores.
São três os pontos norteadores da segurança alimentar: a qualidade
nutricional dos alimentos, inclusive a ausência de componentes químicos
que possam lesar a saúde humana, os hábitos/cultura alimentar específicos
de cada comunidade, de cada grupo social, e a sustentabilidade do sistema
familiar, ou seja, a contínua produção e presença de alimentos. (CÂNDIDA
ZANETTI, 2008, apud MALUF & MENEZES, p. 150)
As unidades de produção agrícola de característica familiar prezam pela
diversificação de produtos (regularidade no acesso aos alimentos), sendo uma
estratégia que visa reduzir os riscos devido às condições climáticas, comprometendo
a produção de autoconsumo, levando a insegurança alimentar das famílias rurais.
As causas de insegurança alimentar, de acordo com Maluf & Menezes (2000),
podem ser ocasionadas pela falta de tecnologia, problemas climáticos, política
agrícola, acesso a insumos, acesso à terra, gênero, guerra, hábitos alimentares, etc.
1.2 A Produção para Autoconsumo e a Relação da Agricultura Familiar com a
Segurança Alimentar
A produção de alimentos para autoconsumo faz parte da estratégia de
reprodução das famílias, particularmente entre as famílias rurais. Sua importância é
maior nas situações onde a escassez de recursos monetários se agrava. Podendo
dispor de alguns alimentos produzidos pela família, a renda adquirida com a venda
de pequenos excedentes, do trabalho assalariado ou de benefícios de programas
públicos pode fazer frente a outras necessidades, como gastos com saúde,
educação, vestuário e habitação. (MALUF E MENEZES, 2000)
No artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos é afirmado:
todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e
à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário,
habitação, cuidados médicos.[...] Neste contexto entra o direito à água
14
potável, alimentos seguros e saudáveis para a garantia de uma boa saúde,
bem como alimentos que condizem com as condições culturais, sociais,
econômicas, climáticas e ecológicas de cada pessoa, etnia, cultura ou grupo
social. (CONTI, 2009, p. 22,23.)
Em 2004 o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(CONSEA) elabora o conceito utilizado no Brasil e adotado pela Lei Orgânica de
Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN, Lei nº 11.346/2006), onde segurança
alimentar e nutricional é definida como
[...] direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de
qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras
de saúde que respeitem a diversidade cultural e que seja ambiental,
cultural, econômica e socialmente sustentável.
A partir desse período, muitos programas federais foram criados com o intuito
de prover a segurança alimentar e nutricional como direito garantido pela Emenda
constitucional nº 64/2010, a qual incluiu na redação do artigo 6º da Constituição
Federal de 1988, o direito à alimentação (BRASIL, 2010). O Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), do Ministério da Educação, de acordo com a Lei nº
11.947/2009, art. 14, estabelece que 30% dos recursos destinados para a
alimentação escolar deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios
preferencialmente da agricultura familiar local. Esse programa, além de gerar renda
para os produtores familiares rurais para suprir outras necessidades, favorece sua
permanência no campo e possibilita a segurança alimentar e nutricional das famílias
rurais.
Outro elemento importante da agricultura familiar é a valorização do
conhecimento em relação ao convívio com o meio ambiente, gerando uma relação
mais harmoniosa entre o homem e o meio, sentindo-se parte de um sistema onde
todos os elementos são importantes para manter a sustentabilidade econômica,
social e cultural das populações e a sustentabilidade ecológica dos sistemas de
produção sob o conceito de uma agroecologia, mantendo a diversidade genética das
espécies, a diversidade de técnicas e métodos de manejo de agroecossistemas, e a
diversidade cultural, sem utilizar modelos padronizadores que acabam por
selecionar sistemas semelhantes, homogeneizando as culturas, que vivem nesses
sistemas de produção.
15
A propriedade familiar é uma unidade de produção e consumo, por este
motivo ela valoriza a terra, os policultivos, criações, distribuídos de forma equilibrada
no espaço e no tempo, conforme citação a seguir:
A unidade indissolúvel do grupo doméstico e de seus membros, ao mesmo
tempo produtores e consumidores, e o fato de que a terra, do ponto de vista
da economia e do grupo, é um meio de subsistência e não um capital a
rentabilizar, faz com que não seja possível analisar o sistema econômico
camponês nos termos da economia industrial. (ERIC SABOURIN, 2009,
apud MENDRAS, 1976, p. 11-20)
De acordo com a Cartilha desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, a partir dos dados revelados pelo Censo Agropecuário de 2006,
publicado em setembro de 2009, a agricultura camponesa é a principal produtora de
alimentos do país, 84,4% dos estabelecimentos rurais brasileiros estão dentro do
perfil “estabelecimentos da agricultura familiar” com 24,3% do território ocupado. Os
outros 15,6% dos estabelecimentos representam a agricultura empresarial, com 75%
das áreas ocupadas, conforme está representado na figura 1.
Figura 1 - Ocupação do território brasileiro pela Agricultura Familiar e Patronal (IBGE, 2009)
A agricultura camponesa mantém 12,3 milhões de pessoas ocupadas no meio
rural que corresponde a 74,4% de todos os empregados na zona rural, o
agronegócio mantém 4,2 milhões de pessoas ocupadas, correspondendo a 25,6%
dos empregados, conforme o gráfico na figura 2.
16
Figura 2 - Participação da mão-de-obra na agricultura familiar e na agricultura empresarial (IBGE, 2009)
A agricultura camponesa sendo a principal produtora de alimentos básicos,
responsável pela produção de 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 34%
do arroz, 58% do leite, 59% da carne suína e 50% das aves produzidas. O cultivo de
menor participação é a soja, com 16% da produção, representa um dos grandes
monocultivos brasileiros voltados à exportação, como demonstra a figura 3.
Figura 3 - Participação na produção de alimentos da Agricultura Familiar (IBGE, 2009)
17
A maior extensão de terras no território brasileiro está concentrada em
estabelecimentos voltados para o agronegócio, enquanto que menos de um quarto
do território brasileiro é ocupado pela agricultura familiar, gerando maior número de
empregos e sendo responsável pela produção de alimentos para atender o mercado
interno.
As práticas produtivas no meio rural com policultivos e produção em pequena
escala são práticas que preservam as identidades culturais, que recorrem ao
conhecimento, às experiências, a observação do local, valorizando suas próprias
potencialidades, implementando nele suas estratégias de reprodução econômica,
social e cultural.
[...] os saberes, os conhecimentos e os valores locais das populações rurais
precisam ser analisados, compreendidos e utilizados como ponto de partida
nos processos de desenvolvimento rural que, por sua vez, devem espelhar
a “identidade cultural” das pessoas que vivem e trabalham em um dado
agroecossistema. A agricultura nesse sentido, precisa ser entendido como
atividade econômica e sociocultural - uma prática social. (COSTABEBER e
CAPORAL, 2002, p.5)
Para Abramovay (1998), a penetração das relações capitalistas no campo e a
inserção
crescente
dos
agricultores
familiares
nos
mercados
capitalistas
condicionam à emergência de um paradoxo em que exista a consciência da
necessidade de preservação da cultura e dos hábitos alimentares saudáveis, ao
mesmo tempo em que a introdução de novas tecnologias e relações de mercado
leva esse agricultor a praticar determinados manejos de produção que colocam em
risco a segurança alimentar de suas famílias.
Nesse contexto socioeconômico, as famílias rurais fazem uma combinação
entre as atividades agrícolas e não-agrícolas, como estratégia para garantir suas
condições de vida, buscando alternativas para complementar a renda, tornando-se
pluriativos, exercendo, de acordo com Graziano da Silva (2001), “atividades nãoagrícolas com trabalhos temporários fora do campo ou permanentes na cidade,
desempenhado por membros das famílias que mesmo residindo no campo, realizam
trabalho fora da propriedade como alternativa de sobrevivência/permanência”, uma
forma de reprodução social da agricultura familiar.
18
A agricultura sustentável, dentro da agroecologia, adota como princípio a
menor dependência possível de insumos externos e a conservação dos recursos
naturais, “com aplicação de técnicas e métodos diferenciados dos pacotes
convencionais” (SAUBORIN, 1958).
Segundo Dal Soglio (2009),
Poderíamos contribuir mais para o desenvolvimento apontando para
metodologias e habilidades para se trabalhar sistemas diferentes de
maneiras diferentes, do que utilizando indicadores padronizados, e que
acabam por selecionar sistemas semelhantes, homogeneizando o que é de
origem heterogênea. (p. 29)
A construção do conhecimento sustentável tem por base o espaço local e o
patrimônio sociocultural. O espaço local é um território onde se desenvolvem
cidadanias comuns e identidades específicas, com suas relações específicas,
estabelecendo articulações internas de respeito e valorização, com vistas ao
desenvolvimento sustentável. (GEHLEN, 2006)
Neste contexto, o objetivo geral desta pesquisa foi compreender o papel da
produção para autoconsumo pela Agricultura Familiar na segurança alimentar dos
agricultores familiares do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí. Para
alcançá-lo, pretendeu-se analisar a relação da produção para autoconsumo e a
segurança alimentar das famílias e identificar as potencialidades e limitações para
desenvolver a produção de autoconsumo no Distrito Estância Velha.
O que se pretendeu foi avaliar o papel da produção de autoconsumo, no
âmbito da agricultura familiar, para a segurança alimentar das famílias do meio rural
do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, fazendo-se presente em quase
todas as unidades de produção agrícola desta localidade, através das práticas
ecológicas que favorecem a sustentabilidade das populações rurais.
19
2 CARACTERIZAÇÃO DO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA, MUNICÍPIO
DE TRAMANDAÍ, E SUA POPULAÇÃO
O município de Tramandaí está localizado no litoral norte do Estado do Rio
Grande do Sul, distante 118 km da capital, com área total de 143,9 km², com uma
população total de 41.655, sendo 1.003 habitantes na zona rural e 40.652 habitantes
da zona urbana, apresentando uma densidade demográfica de 289,4 hab./km², com
IDH 0,808, tendo vias de acesso pela BR 290, BR 101, RS 30, RS 786, RS 389.
A zona rural de Tramandaí, conforme ilustra a figura 4, está localizada ao Sul
do estado do Rio Grande do Sul, limitando-se a oeste, nordeste e norte com o
município de Osório, a sudoeste, sudeste e sul com o município de Cidreira, a leste
com a zona urbana de Tramandaí.
Figura 4 - Mapa de Macrozoneamento Ambiental do Rio Grande do Sul (SEMA, 2010), adaptado do Plano
Diretor deTramandaí (Município de Tramandaí, 2011)
20
A localidade Distrito de Estância Velha apresenta relevo de planície, rica em
recursos hídricos, limitando-se a sudeste com a Lagoa da Prainha e da Tapera; ao
Sul, com a lagoa do Gentil e ao nordeste e norte com a lagoa das Custódias. Há
presença de banhados e valos de drenagem preenchidos pelo lençol freático, que
são aproveitados para o manejo com o gado.
A vegetação natural é composta por plantas de pequeno porte, como
gramíneas, junco, tiririca, taquara, capororoca, etc.
O clima subtropical, caracterizado por ventos fortes e constantes, com médias
anuais de temperatura de 17,5ºC a 20ºC e precipitação que variam de 1.200mm a
1.700 mm, respectivamente. No período de inverno devido as geadas que ocorrem
há riscos para as atividades agrícolas, fator limitante para a produção nessa região.
A presença de taquareiras é grande nessa região, servindo de proteção do vento às
propriedades rurais.
Segundo o sítio eletrônico da Fepam (Fundação Estadual de Proteção do
Meio Ambiente) esta região caracteriza-se por apresentar uma ampla planície
sedimentar cenozóica que encerra um conjunto de feições geomorfológicas sob
condições de clima subtropical úmido costeiro. Possui um solo de baixa fertilidade
natural e alta suscetibilidade eólica.
De acordo com informações do extensionista da Emater de Tramandaí, esse
território conta com 120 propriedades rurais, apresentando 103 propriedades de
economia familiar, sendo que 61 propriedades rurais correspondem a um módulo
fiscal, e, conforme as normas do PRONAF, o módulo fiscal corresponde a 18 ha,
sendo que até quatro módulos fiscais é considerado de economia familiar.
Os proprietários rurais com maior extensão de área utilizam do sistema de
arrendamento do campo para o cultivo de arroz, a pecuária de corte, e o plantio de
eucalipto, em outros casos, os proprietários cultivam arroz em uma parte do campo e
arrendam outra parte.
Além dos fatores naturais que interferem nas atividades agrícolas, a falta de
recursos financeiros para fazer investimentos nas unidades de produção como a
aquisição de implementos agrícolas, conhecimento técnico, a redução do tamanho
das famílias que não são numerosas como antigamente e a falta de uma
21
organização representativa dos produtores rurais são considerados elementos
importantes que interferem no aumento da produção para atender o mercado
consumidor próximo, inclusive ao atendimento da Lei 11.947/2009, artigo 14, que
dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar.
A zona rural do município de Tramandaí, ainda no séc. XVIII, a coroa real doa
glebas de terra a fazendeiros para que fizessem a fixação das fronteiras e
definissem a posse portuguesa neste território, definindo propriedades com grande
extensão territorial.
Com o passar das gerações, algumas propriedades foram desmembradas e
doadas para os herdeiros, tornando a comunidade desta localidade, hoje, de uma
única matriz genitora de economia familiar. Esta origem define o nome da
comunidade “Estância Velha”, distrito do município de Tramandaí.
Com o desenvolvimento das cidades próximas a esse distrito, inicia o
processo de desruralização em primeiro lugar com as filhas mulheres, buscando
complemento da renda familiar, trabalhando de empregada doméstica, enquanto
que o filho homem permanecia na roça.
As terras, na sua grande maioria, foram repassadas aos atuais proprietários
através de herança, permanecendo em alguns casos a mesma extensão de terra
herdada, em outros, há uma divisão das terras dos herdeiros com seus herdeiros,
quando se casam e permanecem na localidade e ainda outros, conforme
depoimentos, a aquisição de pequenas propriedades ampliando às propriedades de
maior extensão territorial que desenvolvem atividades agrícolas comerciais, como a
pecuária de corte e o cultivo do arroz.
A localidade em estudo disponibiliza de rede elétrica, escola de ensino
fundamental até 5º ano, igreja católica e evangélica, salão comunitário, e a sede da
Associação dos Produtores Rurais do Distrito Estância Velha (ACOPREV), estrada
principal de fácil acesso, linha de ônibus, favorecendo a proximidade com a zona
urbana e um posto telefônico instalado nas dependências da escola da localidade. A
telefonista é funcionária pública e residente na localidade. A imagem abaixo, figura
5, mostra como está estruturada a área central do Distrito, sendo nesse local que
ocorre os eventos comunitários.
22
Figura 5 - Área Central do Distrito Estância Velha (Igreja Católica, Salão Comunitário,
Escola Municipal e a sede da ACOPREV)
A religião Católica predomina nessa localidade, onde os pais participam da
organização da missa com as leituras e o coral formado pelas senhoras da
comunidade. O pároco que coordena os trabalhos religiosos na comunidade é de
Tramandaí e aos sábados reza missa na comunidade.
A Igreja Evangélica se faz presente na comunidade com número pouco
expressivo de adeptos. A imagem a seguir mostra a Igreja Evangélica fazendo parte
da comunidade.
Figura 6 - Igreja Evangélica
23
Também, durante o período da Festa da Produção e do Churrasco, é
desenvolvido um projeto da Secretaria Municipal de Educação e Cultura em parceria
com a Emater de Tramandaí. Esse projeto envolve um grupo de 15 professores da
rede municipal e aproximadamente mil e duzentos alunos do ensino fundamental,
para conhecer a zona rural do município de Tramandaí e as atividades que são
desenvolvidas nas unidades de produção agrícola familiar, conforme figuras 7 e 8.
Figura 7 - Visita dos professores da rede municipal às unidades de produção agrícola
Figura 8 - Visita das escolas da rede municipal às unidades de produção agrícola
24
Outra festa que acontece nessa comunidade é a festa de São João Batista,
padroeiro da localidade, organizada pela diretoria do salão comunitário e clube de
mães. A renda da festa se aplica em benfeitorias da Igreja católica e do salão
comunitário.
25
3 METODOLOGIA
Para realização dessa pesquisa em conformidade com as famílias da zona
rural, há um termo de consentimento manifestando a sua anuência a participação da
pesquisa, um documento que tem por objetivo esclarecer aos sujeitos envolvidos na
pesquisa, a finalidade acadêmica, o tempo exigido para desenvolver o trabalho com
data de início e término das atividades, a metodologia a ser utilizada e os objetivos a
serem alcançados com a pesquisa.
O termo de consentimento (anexo A) é um procedimento científico e legal,
obrigatório pelas instituições para ressalvar os entrevistados, o entrevistador e a
instituição de alguma eventualidade que no decorrer da pesquisa possa surgir,
garantindo os aspectos éticos da pesquisa.
Para a realização do Trabalho de Conclusão do Curso foi selecionado um
grupo de famílias para serem os sujeitos da pesquisa, utilizando alguns critérios
dentro dos aspectos socioeconômicos e culturais, além da indicação do técnico e
extensionista da Emater de Tramandaí.
Dentre às famílias selecionadas foi entrevistada uma família que desenvolve
atividades agrícolas e que possuem também renda não-agrícola (ele aposentado
como agricultor e a esposa também aposentada, professora da rede municipal),
identificado como a família número 7, uma família micro-empresária, proprietária do
restaurante na zona rural que também tem uma prestadora de serviços agrícolas,
identificado como a família número 6 e outras cinco famílias, identificadas como
famílias números 1, 2, 3, 4 e 5, que residem na zona rural, são pluriativos, não
dependendo exclusivamente da agricultura, são assalariadas, participando do
programa frente do trabalho, desenvolvendo suas atividades na zona rural, com a
função de tapa buracos e produção de mudas de flores para serem usadas na
ornamentação da cidade e mudas de hortaliças que são distribuídas para os
proprietários das unidades de produção agrícola, conforme demonstra a figura 9.
26
Figura 9 - Produção de mudas de flores no galpão da ACOPREV pelas senhoras da frente de trabalho
Na primeira visita me apresentei como estudante da UFRGS, do Pólo de
Pinhal, do curso Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural. Algumas
famílias já tinham esse conhecimento, a partir de contatos anteriores, devido a
trabalhos realizados nas suas propriedades.
Expliquei a proposta de trabalho às famílias selecionadas, com enfoque no
papel da produção para autoconsumo no âmbito da Agricultura Familiar para as
questões de segurança alimentar no meio rural, expondo a metodologia a ser
aplicada, sendo basicamente de um formulário com perguntas fechadas e abertas,
que permitem identificar as práticas de produção, os produtos cultivados para
autoconsumo e para o mercado, as relações sociais entre os membros da família e a
comunidade, a divisão das tarefas e o papel da mulher no grupo familiar,
organizando uma agenda para não interferir na organização das práticas agrícolas
das famílias.
A comunidade recebe muito bem as pessoas da cidade, sentem-se
valorizados quando são procurados para falar da sua localidade e do seu cotidiano,
se colocando a disposição para participarem como atores sociais de um trabalho de
pesquisa com a certeza de que ficará registrada a sua participação.
Ficou acordado que na finalização do curso será oferecida uma cópia do
trabalho aos proprietários, como forma de agradecimento pela participação,
27
disposição e atenção que tiveram em contribuir para a realização do Trabalho de
Conclusão do Curso.
Durante o período das visitas às famílias participava do café ou almoço, onde
a mesa estava servida com produtos cultivados e elaborados na propriedade, como
pão caseiro, geléia, queijo, leite, etc., conforme mostra a figura 10.
Figura 10 – Visita à propriedade rural em Estância Velha
Nesse momento se percebe o quanto é valorizada a produção de
autoconsumo dessas famílias, na fala dos proprietários, fica claro que são produtos
de qualidade, sem hormônios, sem agrotóxico e principalmente por serem
produzidos por eles.
Uma peculiaridade dessa localidade se relaciona às festas religiosas, que
para as mulheres tem um significado muito grande, é o momento de encontro das
famílias da localidade, momento de confraternização entre as famílias, de orações
ao santo padroeiro da comunidade, São João Batista. Para a comunidade é uma
festa onde quase todas as famílias participam, diferente de outras festas, em que
não há participação expressiva da comunidade. Antigamente a festa era para
comemorar e agradecer ao santo padroeiro, a boa safra do arroz, da cebola, do
campo bom para o gado, hoje está diferente, a festa movimenta a vida social da
comunidade.
28
3.1 Critérios utilizados para definir as Famílias Entrevistadas
Como o estudo está direcionado a questão da produção de autoconsumo
para segurança alimentar e nutricional das famílias da zona rural, foram
selecionados alguns critérios para definir o grupo de famílias que passariam a serem
os participantes como elementos importantes na realização dessa pesquisa.
Entre os critérios definidos, foi considerado o tamanho da propriedade,
especificamente as unidades de produção agrícola com características familiares,
proprietários que produzem para o mercado, outros que têm sua produção de
autoconsumo e são assalariados, o grau de escolaridade dessas famílias, os que
apresentam uma visão mais crítica da realidade da localidade, a faixa etária, o
número de integrantes da família, a atividade econômica desenvolvida na unidade
de produção agrícola e o grau de cooperação e solidariedade que existem entre as
famílias.
3.2 Procedimentos utilizados para Coleta de Informações
A pesquisa envolve uma entrevista semi-estruturada, conforme roteiro no
apêndice A, com sete famílias rurais, sendo entrevistado o chefe da família e/ou sua
esposa, estabelecidas no Distrito Estância Velha, município de Tramandaí,
buscando entender a comunidade a partir do contato direto com os agricultores
locais, identificando os fatores que determinam as potencialidades e limitações em
um ambiente que apresenta recursos humanos e naturais para a sua reprodução
familiar, sendo famílias de origem da localidade, que na maioria das famílias
constituídas, apresentam laços de parentesco entre si.
Para dar início às entrevistas, permaneci em média quatro horas em cada
propriedade, observando as práticas agrícolas e ouvindo os proprietários contando a
sua história de vida e da localidade que, conforme um proprietário de cinqüenta e
seis anos de idade, nascido na localidade relatou: “os jovens não querem mais ficar
no campo. Aqui para viver, tem que se trabalhar muito, o trabalho na propriedade
depende unicamente do casal, os filhos da maioria das famílias foram para a cidade,
inclusive os meus casaram-se e vem para cá nos finais de semana”.
29
A propriedade é vista pelos filhos que foram para a cidade como área de
lazer, visitando seus pais nos finais de semana, já que se dedicam a outras
atividades urbanas.
Além das famílias pesquisadas, foram utilizadas também referências
bibliográficas aprofundando a temática da pesquisa e informações coletadas através
do escritório da Emater de Tramandaí.
A construção da pesquisa possibilitará o entendimento da realidade das
famílias rurais, com uma abordagem a pesquisa qualitativa, centrando na
compreensão e na explicação da dinâmica das relações sociais, utilizando como
procedimento a pesquisa etnográfica, através da observação e da entrevista semiestruturada com o agricultor/produtor, acompanhando as atividades desenvolvidas
na propriedade, coletando os dados descritivos e transcrevendo sem a intervenção
do pesquisador sobre o ambiente pesquisado, com referência a pesquisa
etnometodológica,
“visando compreender como as pessoas
constroem ou
reconstroem a sua realidade social” (FONSECA, 2002).
A entrevista e a observação do ambiente pesquisado fornecerão subsídios
para entender o processo do fazer fazendo e como esse conhecimento é e foi
repassado para seus descendentes.
Este estudo utiliza o método qualitativo, visando a compreensão de um grupo
social e o quanto é importante a produção para autoconsumo como mínimo vital
assim denominado por Cândido (2001), possibilitando as famílias rurais uma
alimentação em quantidade (energia) e qualidade (nutrientes), sem comprometer a
Segurança Alimentar e Nutricional das famílias rurais.
Inspirado no modelo teórico pedagógico do construtivismo, procurando
manter uma relação simétrica entre o entrevistador e os entrevistados na construção
de um diálogo, não valorizando o conhecimento técnico, mas o conhecimento do
“aprender fazendo” que foi apreendido pelos proprietários com técnicas e formas de
manejo desenvolvido pela sua família e repassados para seus descendentes.
De acordo com Eros Marion Mussoi, em enfoques pedagógicos para
intervenção no meio rural, “toda aprendizagem se baseia em aprendizagens
anteriores, num processo de relação com o já aprendido, num processo cumulativo
de conhecimentos”.
30
As potencialidades e as limitações de desenvolvimento sustentável da UPA,
são identificadas através dos recursos disponíveis na propriedade (campo de
pastagem, lavouras de insumos para os animais e de consumo da família,
benfeitorias, equipamentos e instalações) e recursos humanos (mão-de-obra),
informações fornecidas pelos proprietários e identificadas através da saída de
campo, reconhecendo as propriedades agrícolas e a sua organização familiar como
elemento importante para a reprodução social.
Os processos de análise dos dados quantitativos foram possíveis através de
um instrumento padronizado, com critérios estabelecidos e citados anteriormente
nesse capítulo, e a tabulação das várias categorias de análise obtidas através de
entrevistas e observações realizadas nas unidades de produção agrícola, conforme
está descrito no capítulo IV.
31
4 AGRICULTORES FAMILIARES, AUTOCONSUMO E SEGURANÇA
ALIMENTAR NO DISTRITO ESTÂNCIA VELHA
4.1 Produção para Autoconsumo e a Segurança Alimentar
Entre as atividades agrícolas de autoconsumo nessa localidade destacam-se
a produção de hortigranjeiros (alface, tomate, pepino, tempero verde, moranga,
cebola, batata, aipim, melancia, abóbora, melão), a criação de animais de pequeno
porte (porcos, galinhas, patos, ovelhas) e a criação de peixes em açudes, conforme
mostram as figuras 11,12,13 e 14.
Nas Unidades de Produção Agrícola o cultivo consorciado é uma prática que
permite maior densidade de plantas por unidade de área que um sistema de
monocultivo, favorece uma melhor cobertura do solo, redução de plantas
indesejáveis e maior proteção do solo contra a erosão.
Figura 11- Plantação consorciada (aipim, moranga, abóbora e melancia)
32
A criação de animais de pequeno porte garante a alimentação da família, é
considerado um alimento que apresenta valor nutricional em proteínas e vitaminas,
sendo os animais tratados com produtos cultivados e elaborados em suas
propriedades.
Figura 12 - Criação de animais de pequeno porte
Figura 13 - Criação de patos e galinhas
33
Em algumas Unidades de Produção Agrícola há presença de açudes com
criação de tilápias (figura 14), que além de oferecer um alimento rico em proteínas,
também é utilizado como uma alternativa de lazer para os filhos que não residem
mais na zona rural.
Figura 14 - Criação de peixes em açudes
A produção destinada à comercialização se pratica nas unidades de produção
agrícola de maior extensão rural destacando o cultivo do arroz irrigado, sendo que
essa cultura, na maioria dos casos, ocorre através de arrendamento da terra por
agricultores de outras regiões, a pecuária de corte nas propriedades de maior
capitalização e o reflorestamento de eucalipto que apresenta nas propriedades
arrendadas por empresas de outros municípios, empregando mão-de-obra da
localidade e de trabalhadores rurais de outros municípios.
O cultivo de grama de jardim sendo cultivado em várias propriedades rurais,
apresenta um bom mercado consumidor, sendo comercializado em vários
municípios do estado do Rio Grande do Sul.
Nos meses de dezembro a março, devido às condições climáticas, não se
produz hortaliças, o solo fica em repouso com cobertura vegetal, a partir do mês de
abril se inicia a produção de mudas de hortaliças.
Nesse período em que a produção de hortaliças não acontece, as famílias, na
sua maioria, adquirem-nas em mercados próximos, momento em que percebem a
diferença na qualidade do produto.
34
No caso da família nº 7, o proprietário de uma unidade de produção agrícola,
nasceu na localidade, tem 56 anos, herdou uma extensão de terra de seu pai, e
comprou mais alguns hectares, totalizando hoje aproximadamente 100 ha,
trabalhando com pecuária de corte, uma prática herdada de seu pai, casou-se com a
professora natural de Osório, que veio lecionar na escola da comunidade rural, teve
dois filhos, e hoje, os filhos não se encontram na zona rural.
As atividades são realizadas pelo casal, com uma divisão de tarefas bem
definida: ela cuida da produção para autoconsumo, como a horta, o pomar e animais
de pequeno porte (porcos, ovelhas, galinhas) e ajuda ainda no manejo com o gado.
Esse exemplo está presente em algumas unidades de produção agrícola,
onde só o casal permanece na zona rural, os filhos já adultos foram para a cidade,
considerando a propriedade de seus pais como área de lazer. Em outras famílias, os
filhos permanecem juntos com seus pais, ainda enquanto crianças trabalham na
produção para alimentos de autoconsumo e, em outras famílias entrevistadas, os
filhos adultos permanecem na localidade trabalhando com seus pais nas atividades
agrícolas, sem intenção de sair da localidade.
Em relação à prática da pluriatividade, que é favorecida pela proximidade e
pelo fácil acesso a zona urbana, elementos culturais da cidade foram introduzidos no
rural, modificando os hábitos alimentares das famílias, principalmente aquelas que
foram constituídas durante a última década.
A produção de autoconsumo que até então garantia a reprodução social
familiar, atualmente, não se produz na mesma quantidade e variedade, devido a
redução do número de filhos, o envelhecimento da população, a ocupação em
atividades não agrícolas, o fácil acesso para comprar nos mercados da cidade e a
valorização do produto industrializado, principalmente pelas mulheres da localidade.
De acordo com relatos das famílias de agricultores entrevistados, em relação
à mudança de hábitos alimentares, dizem que: “Há um tempo atrás, que a gente
trabalhava muito na propriedade, se comia uma comida mais forte, carne de porco,
muito pão feito em casa, muita carne de gado, ovos, queijo e hoje, já reduzimos
mais o serviço, não faço mais tudo o que fazia antes, os filhos cresceram, a família
reduziu, não se faz tudo o que se fazia para consumo da família. Os filhos que estão
na cidade, quando ele vem, eles levam ovos, carne, pão, queijo, porque só nós dois
35
consumimos pouco, às vezes vendo alguns produtos na propriedade, para os
vizinhos e outras pessoas que não são da comunidade”.
Nessa localidade, há famílias exclusivamente ocupadas em atividades
agrícolas, mas tem uma renda não-agrícola, com valores culturais pouco
modificados, mantendo os hábitos alimentares e a valorização dos produtos
cultivados por eles mesmos, mantendo a sua identidade de camponês, valorizando a
produção de autoconsumo, sem uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos,
participando na comunidade nos eventos sociais e religiosos, valorizando a cultura
local.
Os proprietários, na sua grande maioria, têm vínculos familiares com outros
proprietários, os casamentos na sua maioria ocorriam entre as famílias, sendo uma
estratégia para a manutenção e valorização do patrimônio destinado à transmissão
para gerações futuras, sendo uma comunidade que mantem laços culturais, modos
de vida criados, apreendidos e transmitidos de uma geração para outra, com hábitos
alimentares semelhantes entre as famílias mais antigas da localidade, não
apresentando essas mesmas características das famílias que foram formadas mais
recentemente.
O saber técnico, o saber fazer, vai sendo repassado de geração a geração
através das práticas do cotidiano, repassando aos filhos, determinando a reprodução
social do núcleo familiar, mantendo o controle no interior da mesma família, porém,
com as mudanças tecnológicas e as influências da vida urbana, as famílias mais
jovens já não se identificam como agricultores camponeses.
Nessa comunidade a mulher e as filhas são encarregadas das atribuições dos
trabalhos domésticos, cuidam da horta, do pomar e dos animais de pequeno porte
para consumo.
Os filhos maiores das famílias pesquisadas estudam em um turno na
localidade ou na cidade e ajudam o pai no manejo da propriedade, com o gado,
cercas, e plantio agrícola.
Nota-se que nessa localidade, as tarefas nas unidades de produção agrícola
são distribuídas e divididas entre o homem, a mulher e os filhos, considerando que o
homem é responsável pela conservação das cercas, criação do gado, preparação do
36
solo para o plantio, corte de eucalipto para substituição de cercas, atividades que
segundo os entrevistados são mais “pesadas, pois exige maior esforço físico”.
A produção de autoconsumo é considerada como parte da identidade da
família e da comunidade, com valores criados e reproduzidos no âmbito familiar,
com características de uma agricultura camponesa, utilizando a mão-de-obra familiar
ou de outras pessoas da comunidade rural, mantendo uma relação de reciprocidade
e de cooperação, através de mão-de-obra e conhecimentos agrícolas, vendendo o
excedente, suprindo assim outras necessidades como vestuário, saúde, aquisição
de insumos que não são produzidos na propriedade.
De acordo com Eric Sabourin, em Camponeses do Brasil (1958), entre a troca
mercantil e a reciprocidade, o termo comunidade, “além da localidade e da
proximidade, carrega as noções de parentesco, espiritualidade (religiosa) e
compartilhamento de recursos, o que a aproxima do conceito de reciprocidade de
forma singular”.
Um elemento importante para a manutenção da relação de reciprocidade e de
cooperação entre as unidades de produção agrícola são aos laços familiares que
estão presentes nessa comunidade, com grande expressividade.
Nos
eventos
sociais
organizados
pelos
líderes
da
comunidade
e
representados pela Associação dos Produtores Rurais da Estância Velha e Clube de
Mães, as famílias dessa comunidade participam valorizando o seu meio social,
recebendo elementos culturais de fora, integrando pessoas e elementos culturais da
cidade, mas a sua identidade local com base no pertencimento a localidade, está
expressa no seu estilo de vida, principalmente em famílias de idade mais avançada
que preservam seus valores culturais e a sua identidade como agricultor camponês.
Em contraposição, algumas unidades de produção agrícola não produzem
todos os alimentos necessários para o consumo, justificando que “é mais barato
comprar nos supermercados do que produzir nas suas propriedades, além do tempo
empregado para cultivar alguns produtos necessários para a alimentação da família,
a aproximação com a zona urbana favorece a compra de produtos em
supermercados”, comentário da proprietária do restaurante na zona rural, família
número 6, que atende diariamente os trabalhadores da empreiteira do corte do
eucalipto. Ainda segundo a proprietária: “As pessoas dessa localidade não querem
37
trabalhar aqui, elas preferem trabalhar na cidade mesmo ganhando o mesmo
salário, então não sobra tempo para cuidar da horta, dos animais domésticos, do
pomar. Pagar uma pessoa para fazer esses trabalhos também fica difícil”.
No Distrito Estância Velha, município de Tramandaí, as unidades de produção
agrícola mesmo com pouca extensão de cultivo para consumo da família em função
de fatores econômicos e mão-de-obra insuficiente da família, fornece alimentos em
qualidade, quantidade e variedade, garantindo a segurança alimentar das famílias,
produzindo aquilo que necessitam para atender as suas necessidades alimentares.
Segundo os agricultores entrevistados, o preparo da comida é feito,
predominantemente, a partir de alimentos produzidos na propriedade, porém, devido
aos fatores mercadológicos, muitos produtos como verduras, frutas, legumes ficam
mais em conta se forem comprados no mercado do que produzidos. Isto ocorre em
função de pouca mão-de-obra disponível na propriedade, da aquisição de insumos e
em alguns casos, como das famílias que trabalham na zona urbana, são famílias
assalariadas e com pouco tempo para dedicação na agricultura, mas não deixam de
produzir para o consumo da família, considerando que os produtos cultivados na
propriedade, são produtos de melhor qualidade, sem uso de agrotóxico, sem
fertilizantes, um produto limpo.
Nessa localidade, as propriedades familiares não estão agregadas ao
agronegócio, tendo o agricultor maior autonomia no seu modo de produção e na
manutenção dos hábitos alimentares, mantendo a sua identidade de agricultor e de
pertencimento a sua propriedade e localidade.
Os princípios de base da comunidade em estudo são identificados através do
parentesco, da localidade, sentimento de pertencimento e reciprocidade entre as
famílias. Esses princípios foram constituídos a partir da formação das famílias,
originárias de uma mesma matriz, construindo suas histórias de vida na localidade,
mantendo um sentimento de pertencimento a propriedade, a comunidade e a
localidade.
Existe muitas definições para o termo de reciprocidade que, de acordo com
Mauss (1924) citado por Eric Sabourin, reciprocidade é “a dinâmica de reprodução
de prestações, geradora de vínculo social” e de acordo com Temple (2004) citado
ainda pelo mesmo autor, “define a reciprocidade como o redobramento de uma ação
38
ou de uma prestação – entre outras de uma dádiva – como forma de
reconhecimento do outro e de pertencimento a uma coletividade humana”.
Como a reciprocidade ainda está presente nessa comunidade como a troca
de mudas, de produtos cultivados, troca de produtos elaborados, serviços prestados
entre as propriedades, reprodução do conhecimento da técnica de cultivo para
outros proprietários, em fim, a ajuda mútua entre os proprietários ainda persiste, mas
não com tanta expressão como antigamente.
A prática de reciprocidade favorece a segurança alimentar e nutricional das
famílias com sustentabilidade, uma forma de socialização dos valores materiais e
simbólicos, criados e recriados na comunidade.
Conforme a Tabela 1, nessa mostra de famílias pesquisadas na localidade da
zona rural do município de Tramandaí, as unidades de produção agrícola de menor
extensão territorial, ocorreu o desmembramento das terras entre os herdeiros, são
famílias de uma mesma matriz, a produção é principalmente para o autoconsumo, é
comercializado para pessoas de outra localidade quando se tem um excedente, não
comprometendo a alimentação da família. A troca de produtos e de práticas
cultivares está presente nesse contexto familiar.
Tabela 1- Quadro síntese das entrevistas realizadas
Família
Classificação
nº 1
Faixa etária dos Entre 20
produtores/
e 30
agricultores
anos
Número de
integrantes na
família que
03
permanecem
na propriedade
Grau de
Escolaridade
Produção para
autoconsumo
Produção para
o mercado
Tamanho da
propriedade
Ensino
Médio
(esposa)
Família
nº 2
Entre 20
e 30
anos
Família
nº 3
Entre 30
a 40
anos
Família
nº 4
Entre 30
e 40
anos
Família
nº 5
Entre 40
e 50
anos
Família
nº 6
Entre 40
a 60
anos
Família
nº 7
Entre 60
a 70
anos
03
04
04
03
03
02
Ensino
Médio
(esposa)
Ensino
Médio
(esposa)
Ensino
Fundamental
Ensino
Fundamental*
Ensino
Fundamental*
Ensino
Fundamental*
X
X
X
X
X
X
X
**
**
**
**
**
X
X
20ha
30ha
30ha
50ha
50ha
60ha
100ha
(*) Ensino Fundamental Incompleto
(**) Sem expressão comercial
39
As unidades de produção agrícola de maior extensão territorial, tendo sua
atividade econômica voltada para o mercado, apresentam uma produção de
autoconsumo, socializando junto à comunidade, além do excedente dos cultivares
para o autoconsumo, as práticas agrícolas, o conhecimento técnico, para tornar-se
possível com sustentabilidade a segurança alimentar e nutricional das famílias com
menor poder aquisitivo.
As famílias entrevistadas não são famílias numerosas, por falta de mão-deobra familiar as famílias arrendam a terra para o cultivo do arroz, outras arrendam o
campo para a criação de gado e outras ainda para o plantio de eucalipto, utilizando
em média um hectare para a produção de autoconsumo.
As famílias utilizam do sistema do autoprovisionamento, no caso das carnes
de gado, ovelha, porco, galinha, devido à facilidade de conservação que têm hoje, a
maioria das famílias disponibiliza de energia elétrica e freezer para conservar grande
quantidade de carnes. As famílias que têm criação também procuram estocar
insumos para os animais para garantir a alimentação no período do inverno.
Quando se abate uma criação de grande porte é doada uma quantidade de
carne para aqueles que ajudam no abate, essa prática ocorre com familiares mais
próximos, normalmente filhos que ainda residem na localidade e com aqueles que
residem na zona urbana, e essa troca é comum nessa localidade, sendo um
momento em que as famílias passam o dia junto, conversando dos mais variados
assuntos e trocando experiências de práticas agrícolas, assuntos da cidade, enfim, é
um momento de socialização entre as famílias,
As famílias mais antigas da comunidade, na sua maioria, permanecem na
propriedade sendo constituídos atualmente somente pelo casal. Os filhos quando
jovens passaram a circular entre o rural e urbano para continuar seus estudos, mais
tarde se estabelecendo na cidade.
De acordo com Castro(2005), citado por Wedig “... a circulação dos filhos
entre as áreas rurais e urbana tem início na época dos estudos – na medida em que
as áreas rurais têm escolas que, em geral, oferecem até a 4ª série, ou então nem
têm escolas – e, num segundo momento na busca de trabalho remunerado”.
Ainda analisando os dados da tabela 1, no que se referem ao processo
educacional, as mulheres que nasceram nessa localidade apresentam um nível de
40
escolaridade maior do que os homens, ou ainda as mulheres que vieram para
localidade já vieram com um nível de escolaridade maior do que os seus esposos.
Em termos educacionais referentes ao espaço rural, como tem demonstrado
algumas pesquisas, há uma significativa diferenciação entre os gêneros,
onde as mulheres acabam estudando mais anos que os homens. Isso se
deve principalmente pelo fato de que dos homens espera-se em geral que
assumam a propriedade quando os pais não puderem mais, no processo de
sucessão. (JOSIANE CARINE WEDIG, 2008)
Em relação à faixa etária das famílias da área rural em estudo, de acordo com
a mostra, predominam famílias de meia idade, que são possuidores de condições
físicas para o manejo das atividades rurais, garantindo uma produção de
autoconsumo para a família, contrapondo-se às famílias de idade mais avançada,
fator limitante para o trabalho agrícola, levando o agricultor a reduzir o seu trabalho
na unidade de produção agrícola, mas mantendo uma produção de autoconsumo,
garantindo uma alimentação saudável através de práticas tradicionais que foram
apreendidas e repassadas para os herdeiros que permaneceram na zona rural.
Mediante as informações coletadas com a mostra das famílias de agricultores
e observação de campo conforme está sintetizado na tabela 1 nota-se que em todas
as unidades de produção agrícola há uma produção de autoconsumo promotora do
desenvolvimento sustentável das famílias rurais.
Enfim, a localidade em estudo apresenta dificuldades para a manutenção e
reprodução social, pelos motivos que norteiam a zona rural como um todo, pela
desruralização dos mais jovens, pelo fácil acesso à zona urbana, pela idade
avançada das famílias que permanecem na zona rural, esse fator apresenta
limitações para o desempenho das atividades agrícolas, pela pluriatividade, ficando
pouco tempo para se dedicar às atividades na propriedade, pela falta de
acessibilidade aos recursos tecnológicos.
Além desses fatores elencados, existem as questões mercadológicas e
fatores físicos que dificultam o desenvolvimento da agricultura familiar de
características camponesa, dedicando-se a produção de autoconsumo para o
sustento da família, com produtos de melhor qualidade e livres de agrotóxicos.
41
O pequeno agricultor não consegue concorrer com o mercado devido a baixa
produtividade, os custos de produção são menores, mas não tem recursos
financeiros e humanos suficientes para expandir a sua produção.
Como toda atividade agrícola é uma atividade de risco, o pequeno agricultor
não sente motivação para produzir em quantidade, procurando produzir para a
manutenção da sua família e se dedicar a outras atividades fora da sua propriedade,
tornando as famílias dessa comunidade na sua maioria pluriativos, não dependendo
somente das atividades agrícolas.
4.2 Potencialidades e Limitações da Produção de Autoconsumo
As condições técnicas de produção (acesso ao crédito, capital disponível,
falta de mão-de-obra da família, etc.), preço dos alimentos “prontos”, são fatores
desmotivadores para o agricultor produzir para o autoconsumo, porém, nessa
comunidade, a produção está orientada em primeiro plano para atender as
necessidades do grupo familiar e a sua manutenção no meio rural.
De acordo com as famílias entrevistadas, principalmente as mais antigas da
localidade, se comprava na cidade somente aquilo que não se produzia na
localidade. Em outras épocas, “aquilo que eu plantava eu trocava com uma ou outra
família que plantava o que eu não tinha, nós trocávamos até sementes e hoje, a
maioria das famílias cultivam os mesmos produtos e também vendemos para
pessoas daqui e que vem da cidade”.
No período do verão, as unidades de produção agrícola dedicam-se mais ao
cultivo de melancia, melão, abóbora, moranga, milho, arroz, não produzindo todos
os alimentos para autoconsumo.
Nesse período abrem postos de trabalho na zona urbana (hotéis,
supermercados, lojas) e alguns membros das famílias rurais buscam emprego,
reduzindo a mão-de-obra na propriedade.
A organização e a gestão da unidade de produção agrícola dependem de
alguns fatores para a manutenção de uma produção de autoconsumo como a
composição demográfica, a faixa etária e a disponibilidade de mão-de-obra.
42
A gestão das unidades de produção agrícola conta na sua maioria com a
mão-de-obra do casal, reduzindo algumas atividades quando a idade já não permite
a mesma disposição de quando eram mais novos.
São fatores relevantes que comprometem a produção de autoconsumo, onde
as famílias mantêm sua produção para autoconsumo, com poucas variedades,
consumindo produtos dos mercados. As famílias de mais idade mantêm a produção
de autoconsumo em menor quantidade com uma produção diversificada,
preservando dessa forma os valores culturais através dos produtos cultivados e
elaborados na propriedade.
Em algumas unidades de produção agrícola, além das famílias pequenas, as
mulheres buscam trabalho na cidade, tornando-se assalariadas, situação que
favorece pela aproximação da cidade, com estradas de fácil acesso, transporte
coletivo, elementos que são vistos como facilitadores para o deslocamento das
mulheres.
Outro fator limitante para a manutenção de uma produção de autoconsumo é
o tempo disponível, quando a família é pequena, como é muito serviço na
propriedade, dependendo da atividade agrícola a que se destina, o tempo é menor
para se dedicar a produção de autoconsumo.
A pluriatividade está presente nessa localidade, são trabalhadores urbanos,
mantendo sua produção de autoconsumo, como forma de garantir alimentos em
variedade, quantidade e qualidade, que garante a alimentação da família durante
todo ano, com exceção dos meses de verão, devido a alta temperatura as mulheres
não cultivam hortaliças.
A pluriatividade é vista como uma renda complementar a renda agrícola, que
ajuda na manutenção das despesas da unidade de produção agrícola, como
pagamento de luz, impostos, compra de ferramentas, e ainda vestuário, transporte,
objetos domésticos, sendo importante como forma de garantir melhores condições
de vida.
Os filhos homens que se tornaram adultos também estão buscando uma
atividade não agrícola, tornando essa comunidade pluriativa, alguns permanecendo
na zona rural e trabalhando na cidade, saindo pela manhã e voltando no final da
tarde.
43
Na atualidade, as mulheres com maior expressão não são filhas desta
comunidade, apresentam um grau de ensino maior em relação às senhoras nativas
da região. Essas mulheres que não são nativas exercem uma liderança muito
grande na comunidade, são vistas como pessoas “estudadas”.
Conforme depoimento de uma das senhoras entrevistadas, natural da
localidade, com 48 anos de idade, viúva, tem dois filhos, o filho menor com 15 anos
e a filha com 24 anos de idade, em relação ao grau de escolaridade diz que: “Nós
mais velhos, estudamos na escola da localidade, só tinha até a 4ª série, como ainda
hoje é, terminamos o nosso estudo ali. As mulheres mais novas estudaram mais,
fizeram até a 8ª série e outras ainda fizeram o 2º Grau (Ensino Médio). Hoje é
diferente com nossos filhos, eles vão para a cidade pra estudar, e ter uma
profissão”.
A valorização pela profissão remunerada e urbana está muito acentuada
nessa comunidade. A associação do rural ao atrasado e do urbano ao moderno, um
novo paradigma consolidado com a política desenvolvimentista implantada no país,
com medidas modernizadoras, valorizando o urbano e desqualificando o rural, passa
a ser um indicador provocando mudanças no meio rural, como a desruralização e/ou
a permanência no meio rural, associando a atividade agrícola com não-agrícola,
tornando-se agricultores pluriativos.
Seguindo ainda com a fala da entrevistada em relação a valorização do
trabalho assalariado: “Os filhos tem que estudar para ter uma profissão, ter salário,
ter uma vida de mais conforto, porque no campo, trabalhamos muito para sobreviver,
é bom, não saio daqui nunca, mas os nossos filhos tem que estudar”.
Como os mais jovens estão deixando a zona rural em busca de trabalhos na
zona urbana, sendo uma característica histórica do meio rural, é necessário uma
política de valorização dos espaços rurais, promoção e apoio a agricultura familiar,
que através dessa prática é que se dá a produção de alimentos para o consumo
próprio, com uma alimentação saudável e adequada de acordo com as suas
características culturais, através da diversidade de alimentos associados à
quantidade, qualidade e permanência, sendo promotora de melhor qualidade de vida
das famílias de agricultores.
44
A maioria das unidades de produção agrícolas preza por possuir a terra,
horta, pomar e alimentos provenientes da transformação caseira (geléias, pães,
queijo, bolachas, etc.), além da criação de galinhas, suínos e bovinos (carne e leite)
e da lavoura (batata, feijão, mandioca, melão, melancia, aipim, etc.). Entre as
unidades de produção agrícola há uma semelhança dos produtos cultivados e a
transformação caseira, mas o que diferencia é a quantidade produzida, dependendo
do número de participantes da unidade de produção, quanto mais pessoas na
unidade familiar, mais se produz para garantir a segurança alimentar.
Como sugestão, a comunidade do Distrito Estância Velha deverá se fortalecer
através da Associação dos Produtores Rurais, captar recursos financeiros através
dos programas governamentais e organizar suas propriedades para aumentar sua
produção e produtividade, participando das políticas públicas como fornecedores de
produtos da agricultura familiar, conquistando espaços no mercado, garantindo a
produção de autoconsumo em variedade, qualidade e quantidade.
Sob os princípios da agroecologia, novos estilos de agricultura sustentável
podem ser desenvolvidos nessa localidade promovendo a sustentabilidade das
famílias rurais, com assistência técnica e extensão rural, construindo ações em
conjunto com os agricultores que possam desenvolver as suas propriedades
tornando-se economicamente viável, acesso a crédito, tecnologias de base
ecológica,
preservando
a
diversidade
biológica
e
cultural,
utilizando
dos
conhecimentos das famílias locais, respeitando o saber popular, assegurando a
sustentabilidade econômica e socioambiental das famílias de agricultores.
A agricultura não sendo somente produtora de alimentos, tem outras funções
a ela atribuídas, como reprodução social das famílias de agricultores, promoção da
segurança alimentar, a manutenção do tecido social e cultural, bem como a
preservação dos recursos naturais e da paisagem rural.
A agricultura familiar com base nos princípios da agroecologia garante um
mercado consumidor que valorize o produto que apresenta melhor manejo dos
recursos naturais, com atribuições de valores culturais, tornando diferente o produto
da produção em escala, utilizando ainda como estratégia de mercado a indicação
geográfica constituindo um meio de valorizar a localidade, promovendo visibilidade
ao desenvolvimento sustentável das famílias de agricultores.
45
Enfim, é possível ter uma produção economicamente e ambientalmente
sustentável em pequenas propriedades, com emprego de técnicas menos
degradantes do que o modelo convencional oferece, uma agricultura baseado nos
princípios da agroecologia com tecnologia adequada de acordo com as
características socioambientais da localidade, possibilitando a permanência do
agricultor no meio rural.
46
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As famílias rurais do Distrito Estância Velha, município de Tramandaí,
têm como meio de reprodução social a produção de autoconsumo que através da
autogestão da unidade de produção agrícola assegura a autonomia do agricultor,
produzindo seus alimentos em qualidade, quantidade e variedade, se encontrando
em condições de segurança alimentar e nutricional.
As práticas produtivas desenvolvidas nessa localidade, com características de
uma agricultura familiar, atendem os vários princípios da agroecologia, evidenciando
a importância do autoconsumo para a promoção da sociabilidade e fortalecimento
da identidade social.
As unidades de produção agrícola familiar apresentam baixa produtividade
devido a pouca tecnologia empregada, como mecanização, insumos químicos, falta
de políticas públicas locais, mas se destacam por priorizarem uma alimentação
saudável através das práticas tradicionais, cultivando produtos diversificados, com
base na agroecologia, conhecimentos transmitidos de geração a geração,
valorizando o seu meio social e a sua localidade, não apresentando famílias em
estado de vulnerabilidade social.
Os proprietários rurais, como produzem em pequena escala, não conseguem
se manter no mercado, devido aos custos x benefícios, sendo um dos fatores
responsáveis pela busca em outras atividades, arrendando suas terras para o cultivo
de monoculturas.
Outros elementos ameaçam a produção de autoconsumo, como a facilidade
de acesso aos mercados, a oferta de alimentos prontos e o preço desses alimentos,
que interferem de modo significativo na produção de autoconsumo.
As famílias de mais idade procuram cultivar seus hábitos alimentares,
priorizando um alimento com mais qualidade, mais nutritivo, um alimento limpo, sem
47
estar
contaminado
por
agrotóxicos,
dedicando-se
a
produção
de
base
agroecológica, reconhecendo que a prática convencional interfere nos recursos
naturais, apropriando-se de técnicas menos degradantes, garantindo a segurança
alimentar da sua família.
A agricultura familiar explora os recursos naturais de forma mais equilibrada,
por ser a principal produtora de alimentos básicos, garantindo assim a produção de
autoconsumo das famílias rurais e o abastecimento ao mercado interno com
produtos em quantidade, qualidade e diversidade, promotora da segurança
alimentar das populações rurais e não rurais.
Para garantir o desenvolvimento sustentável das propriedades rurais da
localidade estudada é necessário potencializar ações dirigidas à agricultura familiar,
com políticas públicas de incentivo ao agricultor, participando dos programas
governamentais, valorizando o agricultor familiar como agente responsável pela
produção de alimentos.
A construção de um cenário prospectivo para essa localidade está no
planejamento e gestão para o desenvolvimento das unidades de produção agrícola,
com maior mobilização dos atores sociais de todos os segmentos, gestores
públicos, produtores, empresários, canalizando para o desenvolvimento sustentável,
respeitando os critérios ecológicos, geográficos, culturais, valorizando a diversidade
e a interação com o global.
Então, um tema interessante para novos estudos no Distrito Estância Velha,
município
de
Tramandaí,
seria
verificar
em
que
medida
ferramentas
de planejamento e de gestão das unidades de produção agrícola podem contribuir
para uma maior produtividade, respeitando os saberes e práticas dos agricultores
familiares de Estância Velha.
48
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WEDIG, Josiane Carine. Diversidade cultura, gênero, juventude rural e direitos
humanos: reflexões sócio-culturais acerca do mundo rural. Material disponibilizado
no Derad08.
50
ANEXO A – Termo de Consentimento
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E ESCLARECIDO
Trabalho de Conclusão de Curso
INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL – UFRGS
NOME:___________________________________________________
RG/CPF: __________________________________________
Este Consentimento Informado explica o Trabalho de Conclusão de Curso
“Segurança Alimentar das Famílias Rurais do Distrito Estância Velha, Município de
Tramandaí” para o qual você está sendo convidado a participar. Por favor, leia
atentamente o texto abaixo e esclareça todas as suas dúvidas antes de assinar.
Aceito participar do Trabalho de Conclusão de Curso “Segurança Alimentar das
Famílias Rurais do Disitrito Estância Velha, município de Tramandaí” – do Curso de
Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural – PLAGEDER, que tem como
objetivo compreender o papel da produção da Agricultura Familiar para
autoconsumo na segurança alimentar dos agricultores do Distrito Estância Velha,
município de Tramandaí.
A minha participação consiste na recepção do aluno “Odete Bertolino Cardoso” para
a realização de entrevista.
Fui orientado de que as informações obtidas neste Trabalho de Conclusão serão
arquivadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS e que este
projeto/pesquisa resultará em um Trabalho de Conclusão de Curso escrito pelo
aluno. Para isso,( x ) AUTORIZO / ( ) NÃO AUTORIZO a minha identificação (e a
da propriedade/agroindústria/cooperativa/outra para a publicação no TCC.)
Declaro ter lido as informações acima e estou ciente dos procedimentos para a
realização do Trabalho de Conclusão de Curso, estando de acordo.
Assinatura____________________________________________
Local , _____/_____/2011
PLAGEDER: Av. João Pessoa, 31 – 90040.000 – Porto Alegre – RS – Brasil
Fone: (51) 3308.3884 - Fax: 3308.32 81
http://www6.ufrgs.br/plageder
[email protected]
Fonte: HTTP://www6.ufrgs.br/plageder
51
ANEXO B – Registros fotográficos
Cultivo do arroz nas propriedades de maior extensão territorial
Graneleira carregada de arroz
52
Criação de gado e reflorestamento de eucalipto
Cultivo e comercialização da grama de jardim
53
APÊNDICE – Roteiro de entrevistas
1. Nome do proprietário:
2. Idade:
3. É natural da localidade?
4. Como a família adquiriu a propriedade? (através de herança, compra,
arrendamento, etc)
5. Quantos integrantes da família?
6. Grau de instrução? (de todos da família)
7. Quanto tempo a família vive na propriedade?
8. Área da propriedade?
9. Quem trabalha na propriedade?
10. Como se realiza a produção na propriedade (divisão das tarefas) e como se dá a
distribuição da renda da produção? (empregados, filhos que recebem salário, e
qual o critério utilizado para a distribuição da renda?...)
11. Quais são as práticas realizadas para autoconsumo (cultivares (horta/pomar e
criação de animais (galinhas, porcos, ovelhas...), transformação caseira (geléias,
queijo, pães, chimia – compotas, etc), produzida e consumida pela unidade de
produção agrícola.
12. Quanto da renda da propriedade vem de atividades agrícolas?
13. Quanto da renda da propriedade vem de atividade não agrícola e quais são as
atividades fora da propriedade?
14. Sementes utilizadas (crioulas ou híbridas)?
15. Já houve migração de algum membro da família para a cidade? Caso positivo,
quais as razões que provocaram a migração?
16. Tecnologia empregada na propriedade (ex: máquinas agrícolas, agrotóxicos,
adubo químico, etc.)
17. Quais as limitações (dificuldades que encontra) para a produção para
autoconsumo? Ela é importante para sua família? Por quê
18. O que seria necessário ocorrer para avançar nas suas possibilidades de produzir
para autoconsumo O senhor acha que esta mudança iria modificar a vida de
sua família? Como
19. O que significa uma boa alimentação?
20. O senhor acredita que a sua família tem acesso a uma alimentação abundante
em quantidade, periodicidade e qualidade? Por quê
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Produção para autoconsumo e segurança alimentar no distrito