Cajazeiras ‐ I Simpósio PIBID‐Português
sábado, 16 de outubro de 2010
06:55
Bom dia a Todos.
Ainda em Agosto desse ano fui Anfitrião do Prof. Wanderley no I Encontro do Programa PIBID/UFCG, com todas as suas áreas: Biologia, Ciências, Física, Química e Matemática, já ativas desde 2008 e as áreas de Português, Sociologia e Educação do Campo que iniciaram suas atividades em Março desse ano.
Como anfitrião optei por ouvir mais do que falar, anfitrião é vitrine.
Hoje tenho como anfitriões o Prof. Wanderley e a Profa. Fátima, são eles as vitrines de uma casa iluminada, a casa de vagalumes. Agradeço com prazer o convite e aproveito minha nova posição, fora da vitrine, para me alongar, digredir um pouco mais. Nesse momento, agradeço a presença de todos, saúdo meus colegas professores da UFCG, os alunos dos cursos de graduação do Campus de Cajazeiras, os professores da rede pública de ensino, os alunos da rede pública e me apresento a vocês.
Alguns me conhecem como Físico e podem se perguntar o que afinal faz um Físico num encontro de Português?
Outros me conhecem como o coordenador institucional do PIBID/UFCG e podem achar mais natural minha presença aqui.
O que é, afinal, o PIBID? O que faz, afinal, o coordenador institucional? Tudo ao seu tempo… como coordenador eu ajudo a executar um projeto presente em 5 campi da UFCG, cerca de 240 bolsistas licenciandos da UFCG, 18 supervisores docentes da rede pública de Ensino da Paraíba e um público‐
alvo, ainda que indireto, de cerca de 11 mil alunos, matriculados nas 14 escolas conveniadas com uma verba da ordem de 3 milhões de reais. Na maior parte do tempo eu sou um burocrata. Mas eu sou multifacetado como o projeto PIBID e tenho mais uma dimensão na minha existência. Aqui, perante vocês, eu sou um educador e é como tal que pretendo me dirigir a vocês, a medida em que procuro elucidar um pouco do projeto. Se eu não tivesse nenhuma imaginação eu me dirigiria a vocês lembrando que é um grande prazer estar na abertura de um encontro de Português na cidade que ensinou a Paraíba a ler!
Eu estaria sendo injusto com esse evento e com a cidade de Cajazeiras, estereotipando, simplificando, reduzindo os desenvolvimentos históricos à dimensão de uma tragédia, no seu sentido clássico de fado inescapável.
A cidade de cajazeiras e, em particular, a UFCG em cajazeiras tem mudado. A despeito de ser casado como uma cajazeirense não me sinto a vontade em discorrer sobre a cidade. Talvez meus quatro anos de UFCG não me permitam sequer discorrer sobre a UFCG, mas essa é uma tarefa cujo risco devo assumir.
Nos últimos anos a Universidade Brasileira tem mudado e junto com ela a UFCG, no particular, muda com grande momentum, assumindo uma nova dimensão e uma nova responsabilidade no cenário estadual e nacional. Novas soluções e novas propostas tem sido colocadas no sentido de modernizar o viver universitário. Os questionamentos e as dificuldades advindas desse processo são naturais e no campus de CZ isso se fez sentir de maneira singular. Houve momentos de crítica acirrada, de boatos, de boa discussão acadêmica, de disputas políticas e, ao final, a Universidade se fortaleceu aqui, se renovou e espero que esse projeto possa contribuir com a sua parte nesse processo.
Falo novamento do projeto PIBID/UFCG e não o explico… permitam‐me digredir um pouco sobre seu contexto histórico e chegamos lá.
Bologna ‐ padova ‐ Paris (10 séculos em 10 minutos)
Atenção sociólogos, historiadores e pedagogos, estou sendo raso, até jocoso.
Embora as Universidades tradicionais ocidentais tenham seu surgimento na baixa idade média, o modelo mais próximo do atual é bem mais recente. Com o avanço da técnica nos séculos XIX e XX torna‐se urgente a formação de especialistas na técnica e as universidade de organizam para realizar Página 1 de Cajazeiras-PIBID2010
essa tarefa. No decorrer do século XX, principalmente após o período de guerras a sociedade passa a perceber um ritmo cada vez mais acelerado em suas mudanças e novas questões concernentes aos aspectos éticos e a cidadania passam a ser colocados. Essas discussões encontram seu primeiro lugar nas ciências sociais e nas artes, notadamente na década de 50. Mas apenas na década de 70 passam a ser mais seriamente consideradas no âmbito da pedagogia. O aspecto da formação de professores ganha cada vez mais destaque como preocupação teórica e cada vez mais a sociedade dá sinais de uma preocupação com a formação de seus indivíduos para além das dimensões da técnica. O próprio sistema econômico passa a demandar competências diferentes das tradicionais e essas pressões acabam por se materializar em documentos oficiais no início dos anos 90, com a declaração de Jomtyem, da Unesco. Adiantando rapidamente no tempo seguem‐se as declarações de Nova Dheli e Dakar, já nos anos 2000, todas tendo o Brasil como signatário.
Finalmente a declaração de Brasília, no âmbito da administração federal se dá em 2004 e, pasmem, todas essas declarações, separadas por um intervalo de 14 anos tem exatamente o mesmo conteúdo: a valorização do profissional docente em todas as suas dimensões!
A partir de 2005 passam a surgir algumas iniciativas do governo federal no sentido indicado pelas declarações anteriores e o PIBID, em 2007 é uma delas.
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência é criado no âmbito da CAPES, sinalizando uma grande novidade, posto ser a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior tradicionalmente ligada às pós‐graduações e a dimensão de pesquisa das universidades. Esse é o grande sinalizador da dimensão inovadora do projeto que pretende não ser apenas uma inserção da Universidade nas Escolas da Educação Básica, mas uma proposta que integre todos os aspectos do tradicional tripé universitário, valorizando, a um só tempo, os professores da rede pública e os cursos de licenciatura, ambos carentes de reconhecimento no cenário educacional nacional.
O PIBID é feito por atores, por sujeitos de diferentes matizes e eu pretendo descreve‐los segundo minha própria visão pra vocês. Página 2 de Cajazeiras-PIBID2010
quarta‐feira, 9 de fevereiro de 2011
17:46
Nosso primeiro sujeito é o sujeito empírico/metodológico. É você, aluno da rede pública. São os indivíduos que vivenciam, na ponta de uma cadeia, as práticas pedagógicas, influindo nelas a medida em que mostram maior ou menor interesse, melhores ou piores resultados, maior ou menor alegria. Esses indivíduos já compartilham uma história e detem suas individualidades e peculiaridades, são instâncias de um outro sujeito do PIBID, o sujeito metafísico, ou seja, a classe de equivalência de todos os alunos, a construção abstrata do devir.
Para entender melhor essa relação eu recorro ao Alemão. Nesse idioma a palavra para ciência é Wissenschaft, ou coleção de conhecimentos… a tarefa de ordenamento metodológico do PIBID compreende, assim, apreender os aspectos mais gerais dos indivíduos alunos para procurar produzir uma prática pedagógica direcionada ao Schuleschaft, ou alunado, de uma maneira mais ampla. É esse aluno abstrato, o aluno futuro, a causa teleológica, ou causa final do projeto, sendo cada um dos alunos reais objeto das mais profundas preocupações e atenções, para que daí se depreendam os caminhos a seguir.
Mas onde se enquadra o professor da rede pública? Você é o sujeito ontológico, a causa suficiente para a existência do projeto. Na verdade, não você… mas o que você representa em todas as facetas da docência que se materializam na vivência sua e de seus colegas…
Nas dificuldades e inseguranças inerentes ao exercício da docência quando se é ainda jovem na profissão
Nas dificuldades e inseguranças que se cristalizam quando se exerce a profissão por muito tempo, tempo que parece, as vezes, tempo demais,
Nos êxitos amealhados aqui e ali, esporádicos, múltiplos, as vezes ocultos.
Nas experiências bem ou mal sucedidas,
Nas esperanças, desesperanças e frustrações, na luta por um salário que valorize a profissão, na luta pelo reconhecimento social de sua tarefa.
Em todas essas dimensões você engrandece o projeto a medida em que transmite a vivência real da docência a jovens que devem conhecer a sua realidade e querer torná‐la melhor. Sobretudo, a medida em que se mostra permeável ao diálogo com o outro que inova, renova e consolida práticas progressivamente melhores.
E aqui estão vocês, licenciandos, sujeitos epistemológicos da ação do PIBID, apreendendo uma realidade que representa o objetivo de seus cursos. São os vetores de um diálogo que altera em tempo real o curso de vocês, que os enriquece e enriquece à Universidade e as Escolas. Vocês tem a oportunidade de contribuir para a valorização de uma carreira exuberante, tem a oportunidade de se engajar e de se orgulhar, ainda cedo nas suas graduações, de conquistas importantes. Vocês tem a oportunidade de unir entusiasmo à experiência e contribuir para a valorização de todos os sujeitos de nosso projeto.
Por fim, mas não menos importante, temos a causa formal do projeto, o sujeito gnoseológico, aquele que dialoga sobre a aplicabilidade dos conhecimentos e das metodologias empregadas, o coordenador da área.
Em muitos momentos esses sujeitos interagem e trocam seus papéis e os projetos da UFCG tem apresentado resultados importantes e contribuído de maneira significativa. Mas experiências educacionais não são milagres, envolvem um cotidiano de trabalho duro que vocês já devem conhecer bem, com resultados lentos que, ao menor descuido, podem ser perdidos. Cumpre então que não esmoreçamos, nenhum de nós.
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quarta‐feira, 9 de fevereiro de 2011
17:48
Afinal, até a manhã para amanhecer precisa de um esforço coletivo, como na bela imagem do poema de meu conterrâneo João Cabral de Melo Neto
Tecendo a Manhã (Educação pela Pedra)
1. Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
Página 4 de Cajazeiras-PIBID2010
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