RITMO E POESIA: A ARTE E A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE RESUMO: Considerando a atividade musical integrante de uma cultura, que é criada e recriada pelo fazer do homem através do tempo e espaço e que vem expandindo e ganhando cada vez mais espaço em nossa sociedade, se faz necessário uma atenção mais focada no estudo da criação musical, para que com isso seja possível entender de que forma o autor cria determinada música, e como esta ganha suas significações e sentidos que são compartilhados tanto na esfera coletiva como individual. Sendo assim, este trabalho pretende verificar através do estilo musical que mais vem ganhando espaço nos últimos anos, a música RAP. Será usada como referência a história de vida e composições de um dos principais autores de RAP, Tupac Amaru Shakur, para investigar os processos de significação e sentido na criação musical, e quais suas ligações com a realidade do autor. Palavras chaves: Música; Rap; Arte; 1 SULLIVAN MACHADO PUGSLEY RITMO E POESIA: A ARTE E A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE Monografia apresentada ao Centro Universitário Positivo como requisito parcial para a obtenção do título de Psicólogo. Orientador: Profa. Roberta Kafrouni Banca examinadora: Mario Sérgio Michaliszyn Adriana de Fátima Franco 2 1 INTRODUÇÃO O rap vem crescendo e ganhando espaço gradativamente no universo musical, está presente em programas de rádios, televisão, revistas, na mídia de forma geral. Inspirado nas temáticas da rua, o rap faz parte de um movimento cultural conhecido como Hip Hop, termo criado para nomear os encontros realizados nas comunidades carentes dos Estados Unidos, este movimento é constituído por cinco elementos, são estes: o DJ (o que monitora o som), o Graffite (a arte, as chamadas “pichações”), o Break (que é a dança de rua), MC (mestre de cerimônia, rapper) e o quinto elemento conhecido como conscientização (ROCHA, DOMENICH, CASSEANO, 2003). O rap como a maioria das manifestações culturais de origem contestatória e revolucionária, tem auxiliado muitas crianças, jovens e adultos a encontrarem um espaço, adquirirem uma identidade e elevarem sua auto-estima. O rap é considerado a voz da periferia, um grito, um pedido, uma denúncia. Para o jornalista, escritor e pesquisador FAUSTINO (2003), um dos primeiro profissionais da área da comunicação a dar abertura ao movimento hip hop, diz: “O hip hop não foi inventado pela mídia. Nasceu naturalmente nas ruas, forjado em sangue, suor e lágrimas”. O processo de criação musical, como seria visto posteriormente deve ser compreendido sempre como um produto sócio histórico, completamente inserido no contexto que se encontra, onde o sujeito é constituído e constituinte do contexto social, e a música como intermediário da experiência capaz de construir sentidos individuais e coletivos. Para Maheire (2003), quando um artista se encontra em processo de criação, neste caso, a criação de uma letra de música, ele também está reelaborando seus sentimentos e emoções. Sendo assim, este trabalho pretende verificar como a musica RAP através de sua narrativa pode estar representando a realidade do autor. Para isso, usaremos como referência a história de vida e composições de um dos principais autores de RAP, Tupac Amaru Shakur. 3 2 HIP HOP E O RAP Para compreender realmente do que se trata o Rap, é necessário conhecer suas raízes, e quando se fala das origens do rap, remete-se da tradição africana da oralidade, os conhecidos griots (contadores de historias). Esta figura mítica (griots) está presente em toda a produção cultural que tem por base a oralidade, ou seja, a palavra, em particular, quando esta se combinada com o ritmo. (CONTADOR; FERREIRA; p.15, 1997) O elemento vocal ou expressivo, a voz, a poesia de rua, a forma ritmada de rimar acerca de diversos temas e histórias, sejam estas verídicas ou apenas fictícias, mostra claramente a forte ligação do rap com suas raízes. Para CONTADOR e FERREIRA (1997), a característica principal do rap e que o distingue de outros estilos é a dicção: é a poesia produzida fielmente à rua e utilizando-se das gírias oferecidas por esta. A música rap, como será visto posteriormente é um dos elementos que constituem o HIP HOP, que em uma tradução literal, significa movimentar os quadris (to hip, em inglês) e saltar (to hop) foi criado pelo cantor Afrika Banbaataa, por volta de 1968, para nomear os encontros dos dançarinos de breaks, DJs, e MCs nas festas de rua no bairro do Bronx, em Nova York. (ROCHA; DOMENICH; CASSEANO, p. 17; 2001) O HIP HOP é inspirado na cultura dos guetos norte-americanos, da década de 60, época que pode ser exemplificada com o que se passava na zona negra de Los Angeles, mas precisamente na famosa South Central, onde viviam cerca de 650 000 pessoas. As estatísticas desta época mostram que uma em cada quatro famílias vivia abaixo da linha da pobreza, os transportes públicos eram quase que inexistentes ou de péssima qualidade, a violência policial era diária, especialmente na zona de Watts onde 60 negros foram mortos pela policias entre 1963 e 1965; destes 25 estavam desarmados e 27 foram mortos pelas costas. Um dos acontecimentos mais importantes desta época aconteceu na noite de 11 de agosto de 1965, conhecida como a Rebelião de Watts (Watts Rebellion), durou cerca de 6 dias. Quando esta foi controlada, os números deixados foram chocantes para a época, 34 mortos, 1032 feridos, 3952 presos. 4 As revoltas civis que viriam a seguir até os meados da década de 70 teriam como exemplo a Rebelião de Watts. Como conseqüência dessas revoltas surgiria no campo cultural, o reconhecimento e apreciação pela linguagem utilizada por muitos negros americanos, conhecido como Black English, esta linguagem com diversas variações e gírias, despertaram interesse tanto da parte dos acadêmicos, como também de lingüistas, artistas, poetas e músicos, que validaram esta linguagem utilizando freqüentemente em suas obras, com isso a popularizando. (CONTADOR, FERREIRA, p.17, 1997) Ainda na década de 70 surgiriam grandes líderes negros como, Martin Luther King e Malcom X, que lutavam pelos direitos humanos. Os movimentos de luta pelos direitos humanos influenciaram, em muito, os primeiros participantes do movimento HIP HOP, que, em sua origem, tem um caráter político de promoção da conscientização coletiva. É neste contexto que surgem os Watts Prophets, um marco para a musica negra, o que se faz importante saber acerca deste grupo é o fato de terem buscado na tradição afroamericana da linguagem de rua, já muito utilizada na poesia popular, e a devolverem de volta às suas origens, as ruas. Apresentavam-se com muita popularidade desde em universidades, clubes noturnos, ou em prisões, ele empregavam uma formato de chamamento-resposta, em que criavam varias vozes e personagens. Mas os Watts Prophets não eram os únicos nesse processo de reinvenção e exploração de novos territórios poéticos-musicais, outro grupo importante foi os Last Poets. O aparecimento do grupo coincide com o aniversario de Malcon X, mas precisamente em 19 de maio de 1968, este grupo de jovens negros tinham como característica manifestar a sua revolta em rimas e percussões. Os temas abordados por estes poetas da rua provocaram um certo impacto nos jovens que os escutavam, e as suas temáticas são utilizadas pelos rappers contemporâneos: a luta pela dignidade, o apelo à revolta e à conscientização, o uso de gírias e palavrões, entre outras características que serão expostas posteriormente neste trabalho. (CONTADOR; FERREIRA; p.20-22; 1997) O HIP HOP foi definindo-se basicamente como uma manifestação cultural das periferias das grandes cidades, envolvia distintas representações artísticas de valores contestatório e revolucionário, e o uso desta definição fez com que fosse ganhando cada 5 vez mais espaço dentro do cenário musical. O HIP HOP geralmente é dividido em 4 elementos básicos, são estes: o rap (a música), o DJ (o que monitora o som), o Graffite (a arte, as chamadas “pichações”) e o Break (que é a dança de rua). Alguns integrantes do movimento consideram também um quinto elemento, que seria a conscientização, que compreende principalmente a valorização da ascendência étnica negra, o conhecimento histórico da luta dos negros e de sua herança cultural, o combate ao preconceito racial, a recusa em aparecer na grande mídia, e também o menosprezo por valores como a ganância, a fama e o sucesso fácil, sem que haja uma luta para conseguir. Cada um desses cinco elementos existe de forma independente um do outro, porém todos fazem parte de um todo maior, que é a cultura HIP HOP. Mas mesmo sendo independentes um do outro, tanto os Rappers, Djs, Grafiteiros e os B-Boys (dançarinos de Break) consideram-se unidos um ao outro, como uma espécie de irmandade. (ZENI, 2004) O jornalista Bruno Zeni (2004), apresenta uma breve história do rap no Brasil, no texto O negro drama do rap: entre a lei do cão e a lei da selva. Segundo Zeni (2004), o movimento HIP HOP chegou ao Brasil por volta dos anos 80, por intermédio das equipes de baile. As primeiras manifestações foram realizadas por volta de 1984, no centro da cidade de São Paulo, na região da estação São Bento do metrô e nas ruas 24 de maio e Dom José de Barros. Neste momento o rap surgira como canto improvisado para acompanhar as manobras corporais do break. Os rappers cantavam na rua, improvisando ao som de latas, palmas e beat box (imitação das batidas eletrônicas feitas com a boca). No começo, por ser um canto falado, feito de improviso nas rodas de break, o rap era chamado no Brasil de "tagarela". Ao contrário do Rap norte-americano, no começo havia pouca preocupação com o conteúdo contestatório ou de protesto das letras, sendo assim proliferou um tipo de rap inocente, descontraído e brincalhão, que mais tarde viria a ser conhecido como "rap estorinha", designação que traz certo desprezo pelo antigo estilo. Muitos rappers vieram das gangues de break. É o caso de Thaíde, que, em 19841985, dançava na Back Spin, quando conheceu numa festa o DJ Humberto Martins. Juntos, formariam a dupla Thaíde e DJ Hum, um dos primeiros grupos de rap brasileiro. Os discos de rap brasileiros começaram a ser gravados no final dos anos de 1980. Em sua maioria, 6 eram coletâneas, em que figuravam vários grupos, de estilos diversos. Entre elas, destacamse O som das ruas, Situation rap, Ousadia do rap, Consciência black (esta, já tinha presença dos Racionais MC's) e Hip Hop - Cultura de rua. Nesta última, havia duas músicas de Thaíde e DJ Hum: "Corpo fechado" e "Homens da lei". As duas composições, em que o rapper fala mal da polícia e chama a atenção para a ”lei do cão” em que vivem os habitantes de São Paulo, são consideradas pioneiras do chamado rap "consciente" e de "atitude". Em sua tese, Movimento negro juvenil: um estudo de caso sobre jovens rappers de São Bernardo do Campo, a educadora Elaine Nunes de Andrade (1996, citado por ROCHA; DOMENICH; CASSEANO, 2001), define o HIP HOP como um movimento social que reúne certa organização política, cultural e social do jovem negro. Esse movimento social seria dirigido por uma ideologia de autovalorização da juventude de ascendência negra através da recusa consciente de certos estigmas, como a violência e marginalidade que são atribuídos preconceituosamente a essa juventude, que vive submissa a uma situação de exclusão econômica, educacional e racial. Foi assim e em uma situação parecida com a descrita acima, que o rapper, ator e poeta Tupac Amaru Shakur desenvolveu-se como individuo e artista. 7 3 BIOGRAFIA DE TUPAC AMARU SHAKUR Todos os trechos das entrevistas que são citados nesta pesquisa, foram retirados do DVD Tupac: Ressuction [Documentário-vídeo]. Produção de Karolyn Ali, direção de Lazin Laurie, 2003. Natural do Bronx, New York, Tupac nasceu em 1971, com o nome de Lesane Parish Crooks, porém o mundo o conheceria mais tarde como "Tupac Amaru Shakur". O significado do nome pelo qual o conhecemos é especial. Tupac Amaru é um nome inca que traduzido significa “serpente resplandecente” e Shakur é um nome egípcio que se traduz por “grato a Deus”. Segundo Tupac: “Todas as minhas raízes de lutas são bastante profundas, meu nome vem de um chefe inca da América do sul, cujo nome era Tupac Amaru. E eu acho que a definição tribal, é inteligente, guerreiro, algo assim. Ele é um cara profundo”. (TUPAC, 2003) A mãe de Tupac, Afeni Shakur, fazia parte do famoso grupo político "panteras negras”. Tratava-se de um grupo político-social que visava proteger e ajudar a comunidade negra. Os Panteras Negras eram regidos pelos 10 pontos de sua plataforma, 8 pontos de atenção para seus membros, e 3 normas básicas de conduta (todas essas normas podem serem consultadas no ANEXO 1). Eles andavam pelas ruas carregando Glocks (pistola automática), vestindo jaquetas de couro e boinas pretas, utilizando-se de uma lei estadual que dizia que todo cidadão cuja integridade física fosse ameaçada poderia portar uma arma de fogo e empregar o uso da força. Com base nessa lei os Panteras Negras defendiam suas comunidades da violência policial e racismo contra os negros, e em paralelo a este trabalho, cuidavam das crianças carentes e desabrigados, alimentando-os e lhes dando vestimentas. Nos anos seguintes os confrontos com a polícia foram aumentando cada vez mais, e o primeiro grande golpe que os Panteras Negras viriam a sofrer viria de Ronald Reagan, na época governador da Califórnia. Ele revogou a lei que permitia os integrantes do grupo usarem armas, colocando assim atividades de auto-defesa das comunidades na ilegalidade. Afeni Shakur estava grávida de Tupac quando foi presa pela acusação de fazer parte do grupo “panteras negras” e devido a possuir um cargo hierárquico alto dentro do movimento. Tupac descreve o acontecimento: “Quando os panteras chegaram, o governo entrou em pânico. E eles achavam que os Panteras prejudicavam a sociedade americana. Lembre-se que este país teve um homem chamado J. Edgar Hoover, cujo trabalho era 8 destruir a credibilidade de qualquer negro que se sobressaísse. Foi o que fizeram com os Panteras. O governo invadiu a casa dos Panteras, especialmente daqueles que achavam que causariam mais estragos como oradores. Aí entraram colocaram uma arma na cabeça da minha mãe e disseram: “- Não se mexa, você está presa.” Trataram-na de forma inumana. Minha mãe estava grávida de mim quando estava na prisão. Defendeu-se sem ter feito faculdade de direito. Ia ser condenada a mais de 300 anos. Uma mulher negra, grávida, ganhou o caso. E deu a luz a mim um mês depois de sair da prisão.” (TUPAC, 2003) O padrasto de Tupac, Mutulu Shakur, foi sentenciado a 60 anos de cadeia por roubar um carro e matar a vítima. Tupac relata ter sido um acontecimento difícil em sua vida: “Eu sei com certeza que se eu tivesse tido um pai, eu teria tido disciplina, eu teria tido mais segurança em mim mesmo. A mãe não pode acalmar um filho como um homem pode (...) Minha mãe não podia me mostrar como um homem deve ser. Um homem lhe ensina a ser um homem.” (TUPAC, 2003) Em 1981, a família de Tupac mudou-se para Baltimore, enquanto Tupac era ainda garoto. Ele descreve essa época como os melhores momentos de sua vida, devido à oportunidade de freqüentar o Liceu de Artes da cidade de Baltimore. “Começou uma época feliz para mim. Eu fiz um teste para a Baltimore School of performing Arts. Eu adorava as aulas, aprendemos de tudo. Você sabe, teatro, balé, escutávamos tipos de música diferentes, musicas que se tornaram a trilha sonora da minha vida (...) Eu teria sido completamente diferente se não tivesse convivido com isso.” (TUPAC, 2003) Segundo seus professores Tupac se mostrava um aluno muito interessado, e nesta época já se destacava nas aulas de teatro e demonstrava um talento acima da média. Tupac falava com muita desenvoltura sobre assuntos raciais e era um ávido leitor, devorando desde livros sobre religiões orientais até enciclopédias inteiras. É nesta fase que Tupac escreve suas primeiras poesias e compõe sua primeira música em Baltimore usando o apelido "MC New York”, esta música falava sobre armas e era inspirada no assassinato de um amigo seu. Mais tarde, em Junho de 1988, sua mãe Afeni Shakur, agora viciada em crack, decide-se mudar com sua família para Marin City, uma cidade vizinha de Oakland, na 9 Califórnia, lado oeste. Foi nessa época que Tupac envolveu-se traficantes e começou a vender drogas, tema este, que aparece freqüentemente em suas músicas. Os traficantes e cafetões diziam à Tupac, que ele não levava jeito como traficante e caso precisasse de algum dinheiro para financiar seus interesses na música, eles o ajudariam. “Eu Estava falido. Não tinha créditos suficientes para me formar e parei de estudar. Disse: tenho de ganhar dinheiro, achar um jeito de me sustentar. Comecei vender drogas mais ou menos por duas semanas. O cara disse: Devolva minhas drogas”. Porque eu não sabia como vender. Os traficantes cuidavam de mim. Me davam dinheiro e diziam: não se meta com isso. Vá em frente, realize seu sonho. Então, eles eram tipo meus patrocinadores. Meu sonho era viver do rap. Fazer musica que saía do meu coração.” (TUPAC, 2003). Em Agosto do mesmo ano, o padrasto de Tupac, Mutulu Shakur, é preso e sentenciado a 60 anos de cadeia devido a um crime alegadamente cometido pelo mesmo em 1981. Foi nessa época que Tupac fundou um grupo chamado "Strictly Dope" junto com o amigo DJ Dize. As músicas gravadas nessa época viriam à tona apenas em 2001, sob o nome de “Tupac Shakur: The Lost Tapes”. Suas performances na vizinhança através deste grupo fizeram com que Tupac assinasse com a gravadora Digital Underground, do rapper Shock G. Em 1990, Shakur trabalhava como “roadie” (uma espécie de backing vocal) e dançarino na Digital Underground. Suas primeiras letras eram notáveis e já revelavam uma personalidade revolucionária e violenta. Foi através de uma música que fez parte da trilha sonora do filme "Nothing But Trouble", chamada "Same Song", que Tupac conheceu o sucesso pela primeira vez. Em 1990, o rapper alcançou reconhecimento individual com o seu primeiro álbum chamado “2Pacalypse Now”, que vendeu mais de um milhão de cópias. A polêmica ao redor deste álbum que falava de gravidez na adolescência, policiais sendo assassinados, policiais abusando de sua autoridade, sobre a violência na comunidade, tráfico de drogas e entre outros problemas de uma comunidade pobre, trouxeram à Tupac alguma popularidade, fazendo com que com que os críticos prestassem atenção em seu álbum. Na mesma época um jovem matou um policial alegando que cometeu o assassinato inspirado em uma das músicas do álbum "2Pacalypse Now". Com isso o vice-presidente dos Estados Unidos, Dan Quayle, denunciou o álbum publicamente, dizendo que não havia 10 espaço na sociedade para este tipo de produto artístico. Começava a ser definido em Tupac o rótulo de rapper marginal e socialmente incorreto. “Eu não trouxe violência para vocês, eu apenas a diagnostiquei.” (TUPAC, 2003) Seu segundo álbum, "Strictly 4 My N.I.G.G.A.Z." foi outro sucesso de vendas e gerou as músicas "Keep Ya Head Up" e "I Get Around", que ocuparam a primeira posição nas paradas Billboard, uma revista semanal norte americana especializada em informações sobre a indústria musical. Conhecida também como The Music Bible (A Bíblia da Música) foi fundada em 1984 com diversos temas que foram separados e publicados em uma revista independente a partir dos anos de 1950. Mantém vários rankings reconhecidos internacionalmente que classifcam cançoes e álbuns populares em várias categorias e estilos. Seu ranking mais famoso, o "Billboard Hot 100", mostra as 100 musicas mais vendidos e tocados nas rádios e é freqüentemente usado nos Estados Unidos como a principal forma de medir a popularidade dos artistas bem como de uma canção (WIKIPÉDIA, 2007) O significado da gíria nigga “irmão” que vem da palavra niggar “crioulo” faz-se importante neste momento, pois foi Tupac quem deu a ela um novo significado em suas músicas. Portanto NIGGA significa “Never Ignorant Getting Goals Accomplished”, “Nunca seja ignorante ao alcançar seus ideais”. Esta gíria é muito usada por pessoas freqüentadoras do movimento Hip hop. No começo de 1993, Tupac funda o grupo Thug Life com alguns amigos. O significado do nome do grupo é "The Hate U Gave Lil' Infants Fucks Everyone", “O ódio que você passa para as crianças “fode” com todo mundo”. O grupo lança o primeiro álbum, intitulado, "Thug Life: Volume 1" pela gravadora Interscope no ano de 1994. O álbum foi um sucesso de vendas. O grupo se desfez em dezembro deste mesmo ano, quando Tupac foi acusado de abusar sexualmente de uma mulher em um hotel. Segundo Tupac, a mulher que ele havia conhecido em uma boate, teria ido com ele a um hotel por livre e espontânea vontade. O rapper negou veemente e disse que tudo não passou de uma “armação” por parte da mulher. Porém em Fevereiro de 1995, Tupac foi sentenciado a quatro anos e meio de prisão por estupro. 11 Neste mesmo ano Tupac é baleado cinco vezes, durante um assalto ocorrido em um dos estúdios de gravação em Nova York, tendo sido atingido com dois tiros na cabeça. Surpreendentemente o rapper sobreviveu. Após o incidente Tupac deu informações em detalhes sobre o ocorrido em uma entrevista para a famosa revista Vibe, nesta entrevista Tupac atribui o atentado ao seu amigo de longa data Christopher Wallace, conhecido pelo nome de The Notorious B.I.G., também rapper. Contudo nunca houve provas incriminatórias para o sucedido, embora Tupac acreditasse que a situação estava esclarecida, sendo B.I.G. o organizador do atentado. Tupac começou a cumprir sua pena por estupro no presídio de Clinton no final de Fevereiro de 1995. Pouco depois seu album multi-platinado "Me Against the World" é lançado. Tupac entra para história como o único artista a ter um álbum em primeiro nas paradas da Billboard estando preso. "Para mim esse sempre será meu álbum favorito", diz Tupac em uma entrevista. Este álbum produziu entre outros, uma das musicas de mais sucesso do rapper, “Dear Mama”, música que deu a Tupac o premio Grammy de música. Ainda na cadeia, o rapper casou-se com sua namorada Keisha Morris, união que foi desfeita pouco tempo depois. Tupac relatou que viveu dias difíceis na cadeia. Enquanto esteve lá demonstrou estar cansado da vida que levara. Depois de quase onze meses na prisão, foi liberado após ter feito um acordo com o empresário Suge Knight, dono da gravadora e produtora "Death Row Records”. Suge pagou uma fiança de 1.4 milhões de dólares. Em troca, Tupac deveria lançar três álbuns pela sua gravadora. Imediatamente após sair da prisão, Tupac começou a trabalhar no novo álbum. Em Fevereiro de 1996, ele lança seu quarto álbum, "All Eyez on Me", o primeiro álbum duplo da história do Rap. "All Eyez on Me" vendeu mais de nove milhões de cópias e é considerado pelos críticos como o melhor álbum do gênero. Em meio a todo este sucesso, com milhões de álbuns vendidos, aparições e protagonizando vários filmes de sucesso (filmografia em anexo), Tupac foi assassinado em 1996. Por um motivo que permanece sem solução pelas autoridades norte-americana, na noite de 7 de Setembro de 1996, ocasião de um combate de boxe entre Mike Tyson e Bruce Seldon, o rapper não levou o seu colete a prova de balas como habitualmente. Nessa noite após o combate, quando o rapper saía de carro com Suge Knight, presidente da gravadora e 12 produtora Death Row, foram disparados 13 tiros ao carro em que Tupac estava. Quatro atingiram o rapper e um apenas atingiu de raspão seu Suge. Após ter estado 7 dias em coma, no dia 13 de Setembro de 1996, Tupac Amaru Shakur faleceu. Logo após sua morte, a Death Row lançou o álbum "The Don Killuminati", com o pseudônimo de "Makiaveli”. A capa traz um Tupac crucificado com uma corôa de espinhos na cabeça e um mapa das principais gangues do País. Em Janeiro de 1997, a produtora de filmes Gramercy pictures lança "Gridlock'd", um filme no qual Tupac interpreta um viciado em drogas e que foi bem aceito pelos críticos recebendo muitos elogios. Seu último filme, "Gang Related" foi lançado em 1997. Antes de morrer, Tupac deixou centenas de músicas gravadas na época de Death Row. A maioria destas músicas foi lançada em álbuns póstumos como "Better Dayz", "Until the End of Time", "Loyal to the game", e em seu último álbum póstumo Pac's Life. No momento, Tupac é o rapper que mais vendeu álbuns na história. 13 4 A ANÁLISE DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA Em uma entrevista realizada pelo departamento de policia de Nova York com Tupac Amaru Shakur em 1996, o entrevistador pergunta para Tupac: Entrevistador: - Como você define o rap? Do que se trata? Tupac: - Rap é poesia. Para mim, é narrativa, poesia. Entrevistador: - Ao som de uma música? Com uma batida? Tupac: - Com ou sem música, pode ser um rap a capela, pois veja, até pentassílabo jâmbico é rap. É o jeito de escrever e a sua estrutura. Depende de como você o escreve. Mas se você precisa de uma batida, ou seja, acredito que não venderia tanto sem a batida. Portanto a música é uma ferramenta necessária para vender. Segundo a tradição, a música e a poesia nasceram ao mesmo tempo. A palavra “lírica”, de onde vem a expressão “poema lírico”, significa em sua forma natural certo tipo de composição literária feita para ser cantada, fazendo-se acompanhar por instrumento de corda de preferência a lira. (AGUIAR, 2001) Durante muito tempo a poesia foi destinada à voz e ao ouvido. E somente com a chegada da Idade Moderna e junto a ela a invenção da imprensa, foi acentuada a distinção entre musica e poesia, devido o triunfo da escrita. A partir do século XVI a lírica foi abandonando o canto para se destinar, cada vez mais, à leitura silenciosa. (AGUIAR, 2001) Segundo AGUIAR (2001), mesmo sendo separado da música, a poesia continuou preservando traços desta antiga união. Certas formas poéticas ainda vigentes como o Rondó, a Balada e a Cantiga possuem profundas ligações com as formas musicais. Não se pode esquecer que tradicionalmente, o poeta é chamado de “cantor”, assim como o poema é chamado de “canto”. Isso fica claro no famoso poema da poetisa Cecília Meireles, “Motivo”, quando ela diz: “Eu canto porque o instante existe E a minha vida está completa. 14 Não sou alegre nem sou triste: Sou poeta. Irmão das coisas fugidias, Não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias No vento. Se desmorono ou se edifico, Se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico Ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada.” Como pode-se perceber, são inúmeras as analogias que a arte poética faz à arte musical. São muitos os exemplos que poderiam ser citados, mas os aqui expostos até então, bastam para mostrar as antigas ligações entre uma e outra forma de expressão artística. O músico quando cria um novo trabalho, utiliza-se de conhecimentos técnicos sócio-historicamente construídos. Para Maheire (2003), ao mesmo tempo em que o músico se encontra em processo de criação, também está reelaborando seus sentimentos e emoções. 15 A partir deste processo, estes ganham uma nova profundidade e significação, que são superados por meio da articulação entre reflexão espontânea e imaginação, até que se possa fazer surgir uma nova música. Criar uma música implica, neste sentido, a possibilidade de articulação entre o conhecimento técnico, a transformação das emoções, a imaginação e a reflexão, a partir dos elementos do som e do silêncio presentes no mundo, em função do ainda não existente. (MAHEIRE, 2003). Quando falamos que as emoções e sentimentos participam em todo trabalho de criação e em especial na criação da letra da música, que é o foco deste trabalho, não queremos dizer que todos os sentimentos e emoções que o autor vivenciou participarão da criação artística realmente como o são. VIGOTSKI (1970/1998, citado por MAHEIRE, 2003) discorre sobre isso quando nos diz que: Por si só, nem o mais sincero sentimento é capaz de criar arte. Para tanto, não lhe falta apenas técnica e maestria, porque nem o sentimento expresso em técnica jamais consegue produzir uma obra lírica ou uma sinfonia; para ambas as coisas se faz necessário ainda o ato criador de superação desse sentimento, da sua solução, da vitória sobre ele, e só então esse ato aparece, só então a arte se realiza. Para VIGOTSKI (1999) em seu livro Psicologia das Artes, a arte no mais aproximado sentido, é determinada e condicionada pelo psiquismo do homem social. Portanto o processo de criação musical, também deve ser compreendido sempre como um produto sócio histórico, completamente inserido no contexto que se encontra. O sujeito é compreendido neste trabalho como constituído e constituinte do contexto social, e a música como uma mediadora da experiência capaz de construir sentidos individuais e coletivos. Para VIGOTSKI (2005), a transmissão racional e intencional de experiência e pensamento a outras pessoas requer um sistema mediador, cuja base para é a fala humana, Para que haja realmente comunicação e compreensão de determinado assunto, se faz necessário o significado, ou seja, a generalização, tanto quanto signos. 16 O mundo da experiência precisa ser excessivamente simplificado e também generalizado antes deste ser traduzido em símbolos. Apenas assim a comunicação torna-se, realmente possível, pois a experiência do individuo se encontra somente em sua própria consciência, sendo assim, não é comunicável. É necessário para se tornar comunicável que esta experiência seja incluída em uma determinada categoria, cuja humanidade ou sociedade pertencente considere uma unidade. (VIGOTSKI, p.7, 2005) Quando analisarmos a estrutura de alguma narração, devemos trabalhar dois conceitos básicos, o material da obra, que se entende como tudo que o poeta usou como já pronto, relações do dia-a-dia, historias, casos, o ambiente, os caracteres, ou seja, tudo o que existia antes da narração e pode existir fora ou independentemente dela. O outro conceito básico é denominado de forma da obra, que é a disposição desse material segundo as leis da construção artística no sentido exato do termo. Será utilizada nesta pesquisada a definição de Vigotski acerca de fábula que precisamente é o material que serve de base à obra de arte. Mas para sabermos em que sentido ou de que forma desenvolveu-se a obra de um poeta, com base expressa na narração, devemos investigar porque procedimentos e com que fins a fábula, presente na narração, foi reformulada pelo poeta e enformada em determinado enredo poético. Mas esta realidade da fábula de maneira alguma pode ser confundida com a realidade no sentido habitual do termo. Pois a fábula trata-se de uma realidade especial, uma realidade que se dá através de uma espécie de alucinação voluntária pela qual o leitor, ou no caso desta pesquisa, o ouvinte se coloca. (VIGOTSKI,1999.p.178) VIGOTSKI (1999) acredita que a poesia ou a arte são um modo especifico de pensamento e que devemos atribuir à arte a criação pessoal do autor (sentido), a sua transferência de alguns elementos da tradição (significado) para outros elementos. Por isso se faz fundamental para avançarmos nessa pesquisa, compreender o predomínio do sentido de uma palavra sobre o seu significado. O “sentido” de uma palavra são todos os eventos psicológicos que a palavra desperta na consciência, os motivos, as necessidades, intenções, interesses, impulsos e emoções do sujeito. É um processo complexo, que está em constante mudança, enquanto o significado é apenas uma das zonas de sentido, tendo como 17 características principais, o fato de ser bem mais estável e preciso do que o sentido. (VITGOSTKI, 2005) Para LURIA (1986) o significado é um sistema de relações formado no processo histórico e que está encerado na palavra. De acordo com VIGOTSKI (2005), uma palavra adquire o seu sentido no contexto em que surge, em contextos diferentes, este é alterado. Já o significado permanece estável ao longo de todas as alterações do sentido. “O significado dicionarizado de uma palavra nada mais é do que uma pedra no edifício do sentido, não passa de uma potencialidade que se realiza de formas diversas na fala” (VIGOTSKI, 2007). A comunicação direta entre duas mentes é impossível, não só fisicamente como também psicologicamente. A comunicação só pode ocorrer de uma forma indireta. O pensamento tem que passar primeiro pelos significados e depois pelas palavras. O processo de criatividade do músico precisa ser compreendido, como sendo sempre um produto do meio, um produto histórico-social, que está completamente inserido no tempo e espaço no qual ocorre, sendo assim fica fácil compreender porque o rap vem crescendo e ganhando espaço no cenário musical, já que analisando por esta perspectiva, toda obra de um autor, em especial dos rappers que se consideram a voz da sua comunidade ou da geração que a representam, acaba sendo de domínio da atividade de todos os homens, destacando-se com isso um caráter coletivo em qualquer criação pessoal. (MAHEIRIE, 2003) Diante do exposto ate aqui, pode-se perceber um pouco da complexidade que é analisar a arte, pois não se trata apenas de conhecer o ato mecânico do escrever, pintar, esculpir, não basta ter conhecimentos das técnicas utilizadas, mas principalmente se faz necessário na medida do possível entrar no mundo do autor, conhecer um pouco da sua história, buscar saber de quê formas se constitui como indivíduo em qual contexto ele está inserido, e mergulhar sem preconceitos e julgamentos quando formos analisar qualquer forma de arte, só assim é possível entender e compreender uma criação artística. Para MAHEIRIE (2003) toda música é criada pela utilização cultural e pessoal dos sons. Sendo assim, é através da cultura que o autor obtém os instrumentos materiais e simbólicos para criar e orientar-se em sua obra. Portanto para compreender melhor com 18 base em quê o autor busca sua inspiração, se faz necessário entender um pouco mais deste processo que é a cultura. Segundo SANTOS (1996) Cultura é um produto coletivo da vida humana, é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade, diz respeito a todos os aspectos da vida social, existentes em todos os contextos, é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social. Portanto Cultura, não diz respeito somente a um conjunto de práticas, crenças ou concepções, como por exemplo, se poderia dizer da arte, ou da religião. Cultura não é apenas uma parte da vida social, ela é em si uma construção sócio-histórica. Para SANTOS (1996), a palavra cultura faz referência a todo estilo de vida de um povo, um conjunto inteiro de atitudes, instituições e práticas que definem o dia-dia de um uma determinada sociedade. A cultura envolve desde o alimento que ingerimos e a forma como o ingerimos. Ela também está presente nos feriados que celebramos, nos diversos enfeites e decorações que utilizamos nesses dias e nas historias religiosas ou políticas explicando o porquê de tudo isso. Todos esses fatores influenciam o desenvolvimento do estilo de vida de uma determinada comunidade. Práticas expressivas, e muitas outras alem dessas, são elementos da cultura. O hip hop se faz cultura nesse sentido, formada, como qualquer outra cultura, de muitas práticas sociais diferentes, porem relacionadas. O hip hop surgiu principalmente através de comunidades urbanas negras e mulatas em um momento em que a maioria dos políticos e autoridades encaravam homogeneamente essas comunidades como reflexos patológicos da sociedade “normal”. (TAYLOR, 2007, p.91) (CONTADOR, FERREIRA, p.17, 1997) Todo indivíduo enquanto ser social insere-se, desde o momento em que nasce, em um contexto cultural, apropriando-se dele e modificando-o ativamente, ao mesmo tempo em que é por ele modificado. (ZANELLA 1999, p. 153) 19 Partindo-se deste princípio, em que uma determinada música ou poesia, é construída pela ação do sujeito em relação com o contexto histórico cultural em que este está inserido, entende-se o sujeito como constituído e constituinte do mesmo. Tupac Amaru Shakur foi considerado pelos críticos como o maior rapper letrista que já existiu, escrevendo centenas de canções e vendendo milhões de álbuns por todo o mundo. Ele pode ser definido como um sujeito criativo de diversas formas seja pelas suas poesias, músicas, ou até mesmo suas atuações e interpretações em diversos filmes. Porém para analisarmos as letras das musicas de Tupac é necessário conhecer conceitualmente o que é ser um sujeito criativo e o que é a criatividade. A definição de criatividade é um assunto discutido por vários estudiosos da área, porém existe, uma definição consensual admitida pela maior parte dos investigadores. A criatividade é a capacidade de realizar uma produção que seja ao mesmo tempo nova e adaptada ao contexto no qual ela se manifesta. (LUBART, p.16, 2007). Essa produção pode ser, por exemplo, uma idéia, uma composição musical, uma história ou ainda uma mensagem publicitária. Por definição, uma produção nova é original e imprevista quando se distingue pelo assunto ou pelo fato de outras pessoas não a terem realizado. Ela pode, contudo, ser nova em diferentes graus: ela não apresentar um desvio mínimo por relatar as realizações anteriores ou, ao contrario, revelar ser uma inovação importante. (STERNBERG, KAUFMAN e PRETZ, 2002 citado em LUBART 2007) Para LUBART (2007) uma produção criativa não pode ser simplesmente uma resposta nova. Ela deve igualmente ser adaptada, ou seja, deve satisfazer diferentes dificuldades ligadas às situações nas quais se encontram as pessoas. Certamente, nos vários estudos sobre a criatividade, constata-se que tanto os sujeitos como avaliadores mencionam geralmente esse duplo aspecto de novidade e de adaptação quando os interrogamos sobre suas concepções de criatividade. LUBERT (2007) enfatiza que existem outras características da criatividade além dos aspectos de novidade e adaptação, como a qualidade técnica de uma obra, ou ainda a importância da produção a respeito das necessidades da sociedade. Assim, um trabalho 20 tecnicamente bem feito pode melhor destacar a novidade e o valor de uma idéia do que o mesmo trabalho apresentado de maneira mais relapsa. Sabe-se que Tupac não criou o Rap, mas sim apropriou-se do mesmo, transformando suas poesias e idéias em canções de rap. Mas o que faz de Tupac o maior rapper de todos os tempos e por conseqüência disso, o mais criativo, adaptou o rap e seus instrumentais a seu próprio estilo, com base em sua formação acadêmica em artes, e suas experiências de seu cotidiano, criando com isso, canções sobre temáticas e assuntos que não eram comentados com tanta veemência pela mídia em geral. Sendo assim, fica fácil compreender o porquê de Tupac ter sido o rapper que mais contribui para com o Rap, colocando a cultura Hip Hop de forma geral em evidência, ou como Tupac diz em suas próprias palavras: “Eu não criei a violência, eu apenas a diagnostiquei, eu tirei ela dos guetos e a coloquei em sua frente... As minhas músicas chegam até os meus fãs, porque eles se identificam comigo, eu sou como eles, eu vou preso como eles, eu nasci no mesmo lugar que eles, eu sou real. A minha linguagem não vem da boca de um pai ou mãe, ela vem da rua, minha linguagem vem dos traficantes, prostitutas, bandido, eu sou real” (TUPAC, 2003). Pare compreender melhor o que leva determinado sujeito a criar algo, seja este algo novo ou “adaptado”, deve-se conhecer o que o motiva. Segundo o dicionário de língua portuguesa AURÉLIO (1999) motivação é: 1 - Ato ou efeito de motivar; 2 - Exposição de motivos ou causas; 3 - Conjunto de fatores psicológicos (conscientes ou inconscientes) de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, os quais agem entre si e determinam a conduta de um indivíduo. Segundo HUFFMAN, VERNOY, VERNOY (2003), motivação diz respeito aos fatores internos do individuo (tais como necessidades, desejos e interesses) que ativam, mantém e direcionam o comportamento para um determinado objetivo. Para LUBART (2007) a motivação de cada pessoa é freqüentemente considerada como uma característica estável, em que se constata que os indivíduos diferem sobre a natureza e a força de seus desejos ao comprometerem-se em uma atividade. 21 Nos estudos sobre criatividade destacam-se freqüentemente dois tipos de motivação: a motivação intrínseca e a motivação extrínseca. A motivação intrínseca está ligada ao motor ou aos desejos internos que são satisfeitos com o cumprimento da tarefa. Por exemplo, um sujeito curioso desenvolve um trabalho criativo com o objetivo de compreender determinada questão, ou seja, satisfazer essa tensão intrínseca ligada ao desejo de conhecer. Na motivação extrínseca a preocupação é menos com relação à tarefa, com o problema a resolver, já que a recompensa oferecida pelo ambiente após o cumprimento da tarefa é mais relevante. Por exemplo, a medalha olímpica é um motivador ao atleta olímpico. Assim como o salário no final do mês é para o trabalhador. Esta espécie de “recompensa” não se limita a uma remuneração financeira, prêmios, ela pode ser um reconhecimento social, algo que o sujeito almeja e concretiza. Existem diversas teorias para se abarcar o tema motivação, porém será dado mais ênfases às Teorias de cunho psicossociais. Um dos pontos-chaves para se compreender o que motivou Tupac a escrever enumeras canções, produzir diversos discos, participar de vários filmes, está no que o psicólogo Henry Murray (1938 citado em HUFFMAN, VERNOY, VERNOY, 2003) identificou como a nAch “motivação para a realização”, em outras palavras, a necessidade de conquistar sucesso, de fazer as coisas de forma melhor do que os outros e de dominar atividades desafiadoras. É interessante pensar acerca do que levou Tupac a ser mais direcionado à realização do que outros rappers ou artistas. Acredita-se que grande parte desta orientação para a realização é aprendida precocemente na infância, seja através da cultura, ou o meio em que foi criado, contribuem para as necessidades de realizações de cada um. Neste processo destaca-se principalmente a interação que o individuo terá com seus pais. Um exemplo disso na vida de Tupac é quando diz:“O passado de cada um é o que determinou seu futuro. Minha mãe era dos Pantera Negras, e era bastante envolvida com o movimento. Sabe? Negros melhorando de vida, coisas assim. Ela tinha uma posição alta no partido, algo inédito, porque havia sexismo até mesmo entre os Panteras. Todas as minhas raízes de luta são bem profundas (...) Meu nome vem de um chefe inca da América do sul, cujo 22 nome era Tupac Amaru. E eu acho que a definição tribal é inteligente, guerreiro, algo assim. Ele é um cara profundo (...) Meu padrasto, na época, Mutulu Shakur, também era um revolucionário bem conhecido. E meu padrinho Geronimo Pratt ocupava um cargo alto nos Panteras na Costa Oeste (...) Eu acho que minha mãe, como Fred Hampton, Mark Clark, Harriet Tubman, sentiam que preparavam o caminho para geração seguinte.” (TUPAC, 2003) Com base nessas informações até aqui apresentadas, é que este trabalho pretende verificar através da narrativa das músicas criadas por Tupac Amaru Shakur, se estas representam à realidade do autor. 23 5 METODOLOGIA A partir dos materiais bibliográficos e biográficos coletados ao decorrer desta pesquisa, como DVD’s, livros, CD’s e artigos, foram selecionadas alguns trechos de músicas criadas por Tupac para serem analisadas dento de quatro categorias, são essas: fábula-material, enredo-forma, elementos da tradição do rap, evidências bibliográficas. Foi entendida como material, tudo aquilo que o autor usou como já pronto, relações do dia-a-dia, histórias, casos, o ambiente, ou seja, todo material que existia antes e pode continuar a existir fora ou independentemente dela. Forma é entendido como a forma que o autor organizou e utilizou-se desse material segundo as leis de construção artística proposta por ele. (VIGOTSKI, 1999). Elementos da tradição do Rap, esta categoria abrange as palavras (Gírias), temas, formas musicais que são tradicionalmente utilizadas no Rap e na poesia. Evidências biográficas, onde foram identificados acontecimentos vivenciados pelo autor, sua realidade propriamente dita. Primeiramente foram divididas as músicas por estrofes, identificando-as cada qual por um número. Feito isso, foi estudado o conteúdo de alguns trechos das musicas e organizando-as cada qual em sua devida categoria para facilitar a análise descritiva que será utilizada posteriormente, como está exemplificado na figura 1. Trecho 1 Fábula-Material Enredo-Forma Elementos da Evidências tradição do Rap Biográficas “Tudo aquilo que o “a forma que “Abrange “Acontecimento autor usou como já o autor palavras s vivenciados pronto, relações do organizou e (Gírias), pelo autor, sua dia-a-dia, histórias, utilizou-se temas, formas realidade casos, o ambiente” desse material musicais que propriamente segundo as são dita.” leis de tradicionalme construção nte utilizadas artística no Rap e na proposta por poesia. ele” Figura 1 24 6 ANÁLISE DAS LETRAS Serão analisados trechos das músicas Soulja’s history, do primeiro álbum de Tupac, chamado 2Pacalypse Now, lançado em 1991, e a música Dear Mama do álbum Me Against the World lançado em 1995. Mais informações sobre a discografia de Tupac podem ser consultadas no ANEXO 2. 25 6.1 ANÁLISE DA MÚSICA “SOULJA’S HISTORY” O primeiro trecho a ser analisado neste trabalho, foi retirado da música Soulja’s history do primeiro álbum de Tupac, chamado 2Pacalypse Now, ano de 1991. Para analisarmos seja esta uma poesia ou uma canção, devemos estar atentos ao título e o que este nos diz do que será tratado a seguir. No caso da canção de Tupac intitulada como “Soulja’s History” (História de Soldados), deve-se notar a forma como Tupac escreve Soulja’s (do inglês Soldiers, Soldados), ele faz uma junção entre a palavra em inglês “Soul” (alma) e a pronúncia Ja (diár), “Soulja”, com essa criação Tupac dá uma nova conotação ao sentido da palavra Soldier. Percebe-se quase que instintivamente que Tupac não se refere a um soldado comum que defende e luta por interesses governamentais, mas sim fala de um soldado que possui uma alma e luta, um soldado que luta com base em valores e interesses pessoais. 1º TRECHO Este primeiro trecho da canção, é uma introdução pela qual Tupac relata e coloca a situação contextual que irá tratar. Teoricamente Tupac está nos mostrando o material que utilizará como base para a sua canção. (Em Inglês) They cuttin off welfare, They think crime is risin now You got whites killin blacks, Cops killin blacks and blacks kilin blacks. Shit just gon’ get worse They just gon’ become soulja’s Straight soulja’s (Em Português) Eles acabaram com a Assistência Social Acho que o crime vai crescer agora Tem brancos matando negros 26 Policiais matando negros e negros matando negros E essa merda apenas vai piorar Eles apenas querem se tornar soldados Soldados natos Trecho Fábula-Material Enredo-Forma Elementos da Evidências tradição do Biográficas Rap 1º “Eles acabaram “Acho que o com a Assistência “Shit”: A família de crime vai tradução Tupac viveu Social (...) Tem crescer agora literal é durante anos brancos matando (...)E essa “merda”. utilizando o negros. Policiais merda apenas matando negros e vai piorar. Soulja’s: assistência negros matando Eles apenas tradução social. Conviveu negros.” querem se literal é e cresceu em Soldados. comunidades tornar serviço de soldados cujo a pobreza e Soldados a violência eram natos. freqüentes. Tupac neste momento está nos dando uma imagem do cenário pelo qual a música irá desenrolar. É importante lembrar que Tupac nasceu nesse contexto de violência, pobreza e racismo, por muitas vezes mudando-se para outras comunidades carentes, portanto ele está utilizando-se de acontecimentos que vivenciou. Quando Tupac diz: “They just gon’ become soulja’s, Straight soulja’s” devemos lembrar da forte ligação de sua mãe com o movimento e valores do grupo Panteras Negras, que patrulhavam as ruas de suas comunidades armados com glocks (pistola automática), como se fossem verdadeiros soldados, protegendo-as das diversas violências, seja esta policial, racista, entre outras. 2º TRECHO 27 (Em Inglês) Crack done took a part of my family tree My mom is on the shit, my daddy's splittin, mom is steady blamin me Is it my fault, just cause I'm a young black male? Cops sweat me as if my destiny is makin crack sales Only fifteen and got problems Cops on my tail, so I bail til I dodge 'em They finally pull me over and I laugh "Remember Rodney King?" and I blast on his punk ass Now I got a murder case.. (Em Português) (2Pac com voz modificada) O Crack separou a estrutura da minha família Minha mãe usa essa merda, meus pais se separam, minha mãe culpa a mim. É minha culpa só porque sou um jovem negro? Os policiais me importunam como se meu destino fosse vender crack Apenas 15 anos e já tenho problemas Policiais atrás de mim, então fujo até escapar deles Eles finalmente me pegaram e eu dei risada ”Lembram de Rodney King?” e eu destruí aqueles safados. Agora eu tenho um caso de assassinato Trecho Fábula- Enredo-Forma Material 2º Elementos da Evidências tradição do Rap Biográficas “O Crack Os policiais me “punk”, não há A mãe de Tupac, separou a importunam como se uma tradução Afeni shakur estrutura da meu destino fosse literal para punk, esteve viciada em minha família. vender crack. Apenas porém é utilizado crack. Porém o Minha mãe 15 anos e já tenho como forma de motivo da usa essa problemas. Policiais xingamento separação de seus 28 merda, meus atrás de mim, então dentro da pais, nunca foi pais se fujo até escapar deles. comunidade do divulgada. separam” Eles finalmente me Hip Hop, pegaram e eu dei “Ass”, tradução risada. ”Lembram de literal “bunda”. Rodney King?” e eu destruí aqueles safados. Agora eu tenho um caso de assassinato. . Neste trecho da música Tupac inicia utilizando-se de um material pessoal, que vivenciou na relação com sua mãe, ele canta afirmando: “Crack done took a part of my family tree, my mom is on the shit”, em seguida Tupac se pergunta dizendo: “My daddy’s splittin, mom is steady blamim me, is it my fault, just cause I’m a young black male?”. Fica evidente o questionamento de Tupac acerca da sua vida, isso acontece porque eu sou um jovem negro? Se eu fosse um jovem branco meus pais também se separariam? Neste momento Tupac está falando claramente sobre o preconceito que recai na figura do homem negro, ele ainda diz: “Cops sweat me as if my destiny is makin crack sales”, em outras palavras Tupac nos faz refletir: Só porque sou negro meu destino é vender crack? Tupac da seqüência à história da música colocando um elemento importante: “Only fifteen and got problems, Cops on my tail, so I bail til I dodge ‘em They finally pull me over and I laugh, ‘remember Rodney King? And I blasto n his punk ass”. Neste momento Tupac nos apresenta o mesmo personagem, porém neste momento com 15 anos de idade, este jovem é mostrado com muitos problemas, tentando fugir dos policiais que estão tentando lhe prender com base em um preconceito já citado por Tupac anteriormente. Quando o adolescente é pego pelos policiais, ao contrario do esperado, ele ri, e se lembra do famoso caso de Rodney King, que se rebelou contra sua prisão e atirou nos policiais, sendo assim, o personagem segue o mesmo caminho de Rodney e atira nos policiais, Tupac conclui a cena cantando: “Now I got a murder case”. 29 3º TRECHO (Em Inglês) Walkin through the streets on the black tip Packed with several gats, cause I'm on some "pay 'em back" shit Nigga’z don't wanna try me, brother you'll get shot down Now I'm king of the block, since my bigger brother's locked down I'm hot now, so many punk police have got shot down Other coppers see me on the block, and they jock now That's what I call a king (Em Português) Andando pelas ruas no estilo dos negros Armado com várias armas, porque estou querendo vingança também Os irmãos não me testam mais, mano você pode morrer também. Agora sou o rei da quebrada, desde que nossos irmãos mais velhos foram trancados Agora sou quente, vários policiais safados foram assassinados Outros policiais me vêem no gueto, mas eles são piadas agora É isso que eu chamo de ser um rei. Trecho Fábula- Enredo-Forma Material 3º Elementos da Evidências tradição do Rap Biográficas “Andando “Porque estou “Nigga’z” Não há evidencias pelas ruas no querendo vingança tradução literal: que mostrem que estilo dos também. Os irmãos não ”Irmaos”, porém negros. me testam mais, mano existe outros matou alguém. Armado com você pode morrer significado como Porém Tupac é várias armas”. também. foi visto considerado o Agora sou o rei da anteriormente. “king” (rei) do quebrada, desde que “block” tradução rap. Conhecido nossos irmãos mais literal: bloque, como o maior velhos foram trancados bloquear, porém rapper que já Agora sou quente, neste contexto é existiu. Tupac realmente 30 vários policiais safados usada como foram assassinados. “Quebrada”, Outros policiais me “Comunidade”, vêem no gueto, mas lugar onde eles eles são piadas agora. É moram. isso que eu chamo de “I'm hot”, ser um patrão. traducao literal: . “eu sou quente”, utilizado quando um rapper quer dizer que ele é legal, maioral. Nesta parte da música novamente fica claro a forte ligação de Tupac com os valores do grupo Os Panteras Negras, ele diz: “Walkin through the streets on the black tip, packed with several gats”. Em seguida: “Niggaz don't wanna try me”. A mensagem transmitida é que agora ninguém o testa, ele se tornou respeitado utilizando-se da violência, assim como fez anteriormente com os “policiais safados”, porém Tupac deixa um recado aos seus “manos” de sua comunidade, “brother you'll get shot down”. Isso nos mostra certo descontrole nas atitudes do personagem, pois ao contrario do objetivo dos panteras negras, onde era dar proteção contra violência, este personagem se perde em sua história e utilizase da violência, é como se o personagem estivesse alertando os ouvintes, “se você andar comigo, você poderá morrer como eles”. 4º TRECHO (Em Inglês) (…) And just as we was walkin out (BANG!) I caught a bullet in the head, the screams never left my mouth 31 My brother caught a bullet too I think he gon' pull through, he deserve to The fast life ain't everything they told ya Never get much older, following the tracks of a soulja (Em português) (...) E quando estávamos saindo, levei um tiro na cabeça Os gritos nunca saíram da minha boca Meu irmão levou um tiro também Eu acho que ele vai sobreviver, ele merece A vida curta, eles não lhe contaram tudo Você nunca fica muito velho seguindo os passos de um soldado. Trecho Fábula- Enredo-Forma Material Elementos da Evidências tradição do Rap Biográficas E quando estávamos Soulja’s: tradução saindo, levei um tiro na literal é Soldados. cabeça. Os gritos nunca 4º saíram da minha boca. Meu irmão levou um tiro também. Eu acho que ele vai sobreviver, ele merece. A vida curta, eles não lhe contaram tudo. Você nunca fica muito velho seguindo os passos de um soldado. 32 Nesta quarta parte da música o personagem vai tentar resgatar seu irmão que se encontra em uma prisão, mas quando estes estão fugindo, Tupac nos relata as conseqüências de seus atos: “And just as we was walkin out (BANG!), I caught a bullet in the head, the screams never left my mouth, My brother caught a bullet too”. E ainda: “I think he gon' pull through, he deserve to, The fast life ain't everything they told ya, Never get much older, following the tracks of a soulja”. Aqui Tupac nos traz as verdadeiras conseqüências e junto a ela uma possível moral para sua canção: o personagem conseguiu ser respeitado utilizando-se da violência, conseguiu ser um status alto (King) dentro de sua comunidade através de suas atitudes, porém teve uma “fast life”, ele alerta os ouvintes quando diz: “Eles não lhe contaram tudo”. REFRÃO (Em inglês) All you wanted to be, a soulja, a soulja All you wanted to be, a soulja, like me (repete 4 vezes) (Em Português) Tudo que você quer ser, um soldado, um soldado. Tudo que você quer ser, um soldado, como eu, O motivo pelo qual foi optado analisar o refrão por ultimo, se deve ao fato deste em especial estar resumindo a proposta da música, onde Tupac mostra a ambição dos ouvintes e das pessoas das comunidades carentes em geral em se tornarem soldados, mas não um soldado comum, um soldado como ele, que possui uma alma. Porém a moral da história colocada por Tupac mostra que é um caminho repleto de violência, perturbador e bastante curto. Caminho este, que Tupac parece ter escolhido para percorrer, como pode ser observado na trajetória de sua vida como artista. 33 6.2 ANÁLISE MÚSICA DEAR MAMA Esta canção assim como o título sugere, Tupac escreveu para sua “mama”, nota-se novamente a forma com que utilizou a palavra “mom” (mãe), mudando a forma de escrever “mom” para “mama” que possui sinônimos como breast, boob, tit, todas essas palavras nos remete ao seio, peito, mama de uma mulher, por onde as “mamães” alimentam seus bebês. Dear Mamar (Querida Mamãe), mostra claramente do que será tratado essa música. Mas deve-se estar sempre atentos as fabulas e enredo que serão utilizados, para que não seja confundido o real do artístico, já que o objetivo é garimpar o que é de material pessoal real de Tupac. PRIMEIRO TRECHO (Em Inglês) You are appreciated... When I was young, me and my mama had beef 17 years old kicked out on tha streets though back in tha time, never thought I'd see her face ain't a woman alive that can take my mommas place suspended from school, scared ta go home I was a fool with tha big boys breaking all tha rules shed tears with my baby sister over tha years we wuz poorer than tha other little kids and even though we had different daddies tha same drama when things wehnt wrong we blamed mama I reminised on tha stress I caused,it wuz hell hugg'en on my mama from a jail cell. (Em Português) Você é querida! Quando eu era criança eu e minha mãe brigamos Aos 17 anos de idade fui jogado nas ruas 34 Embora na época não queria mais ver a cara dela Não há outra mulher no mundo que possa tomar o lugar dela Suspenso da escola; e com medo de voltar pra casa, eu era um otário junto com os malucos mais velhos quebrando todas as regras Eu chorava junto com a minha irmãzinha Os anos passavam e éramos mais pobres que as outras crianças, E apesar de nós termos pais diferentes, era o mesmo drama, Quando as coisas davam errados culpávamos nossa mãe Eu me lembro do stress que eu causava, era um inferno Minha mãe me abraçando dentro de uma cela Trecho Fábula- Enredo-Forma Material “Os 1º Evidências tradição do Rap Biográficas anos “Quando eu era criança Beef: Tradução passavam éramos Elementos da e eu e minha mãe literal carne, mais brigamos. Aos 17 anos porém é utilizada A família de Tupac era uma das mais carentes pobres que as de idade fui jogado nas pelos rappers das comunidades outras quando se em que viveu. Ele referem à treta, e sua irmã tinham ruas. crianças, Suspenso da escola; e briga, luta. pais diferentes. E apesar de com medo de voltar pra Sua mãe foi nós termos casa, eu era um otário, viciada em crack. pais junto com os malucos diferentes, era mais velhos quebrando o mesmo todas as regras” drama.” “Minha mãe me abraçando dentro de uma cela” 35 Nesse primeiro trecho da música, Tupac inicia a canção dizendo: “You are appreciated”. Como será visto a seguir, por muitas vezes essa frase será utilizada, deixando claro o objetivo da canção, mostrar a sua “mamãe” como ela é querida e apreciada, essa é uma canção escrita e dedicada para Afeni Shakur. Tupac dá inicio a história, utilizando-se de um enredo comum às suas músicas, usando problemas normalmente vivenciados em comunidades carentes, jovens que deixam a casa antes de completar a maioridade, neste caso, um jovem que brigou com sua mãe e fui expulso de sua casa: “When I was young, me and my mama had beef, 17 years old kicked out on tha streets, though back in tha time, never thought I'd see her face, ain't a woman alive that can take my mommas place”. Apesar de Tupac ter escrito essa canção e dedicá-la para sua mãe, não há evidencias de que isto realmente aconteceu. Portanto fica claro que isso é apenas um enredo utilizado por Tupac para atingir o objetivo principal da canção, mostra que ela é uma “Dear Mama”. Tupac da continuidade dizendo: “shed tears with my baby sister, over tha years we wuz poorer than tha other little kids and even though we had different daddies tha same drama when things wehnt wrong we blamed mama I reminised on tha stress I caused, it wuz hell." . Neste trecho fica claro que Tupac está usando um material pessoal novamente, expondo a situação em que viveu com sua família em sua infância, e como era difícil para ele e sua irmã sendo uma das famílias mais pobres do bairro, ele coloca que apesar de terem pais diferentes, os dois viviam o mesmo "drama" e por fim culpavam sua mãe pela situação que se encontravam. Tupac lembra com pesar sobre sua infância e com certo arrependimento por alguma de suas ações, a que pode ser identificado aqui é ter sido preso, e o fato de ser abraçado por sua mãe através das grades de uma cela, Tupac diz: "I reminised on tha stress I caused,it wuz hell hugg'en on my mama from a jail cell". Tupac foi preso em 1995 acusado de estupro, sendo inocentado depois de sair da prisão, acerca do tempo em que ficou preso, ele diz: “Eu vivi dias difíceis lá dentro”. 36 2º TRECHO (Em Inglês) And who'd think in elementry, heey I'd see the penatentry one day running from tha police, that's right momma catch me---put a whopp'en to my backside and even as a crack fiend mama, ya always was a black queen mamma, I finally understand for a woman it ain't easy---trying ta raise a man ya always wuz commited,a poor single mother on welfare, tell me how ya did it there's no way I can pay ya back but tha plan is ta show ya that I understand you are appreciated.... (Em Português) E quem imaginaria isso no primário? Heeey! Eu veria a penitenciária algum dia E quando eu corri da policia, que pra mim era certo A minha mãe me pegou e me deu um coro E mesmo sendo uma viciada em crack mamãe Você sempre foi uma rainha negra, mamãe Eu finalmente entendo que para uma mulher não é fácil criar um homem Você era muito empenhada Uma mãe solteira e pobre vivendo de Assistência Social, como você conseguiu? Não há como eu lhe pagar de volta Mas o meu plano é lhe mostrar que eu entendo Você é querida 37 Trecho Fábula-Material “E quem 2º Enredo-Forma Elementos da Evidências tradição do Rap Biográficas “E quando eu corri Não foi utilizado. Tupac foi preso imaginaria isso no da policia, que pra em 1995 acusado primário? mim de estupro. Heeey! Eu veria a A minha mãe me penitenciária pegou e me deu um Novamente a algum dia” coro” situação em que era certo sua mãe ficou “E mesmo sendo “Não há como eu viciada em crack, uma viciada em lhe pagar de volta frisando o fato de crack mamãe” Mas o meu plano é que viveram lhe mostrar que eu durante muito “Eu finalmente entendo tempo com a entendo Você é querida” ajuda da que para uma assistência social mulher não é fácil criar um homem Você era muito empenhada Uma mãe solteira e pobre vivendo de Assistência Social, como você conseguiu?” Tupac da sequência a sua canção dizendo: “and who'd think in elementry, heey I'd see the penatentry one day”. É interessante notar que ao contrário da musica analisada 38 anteriormente Soulja’s history, que traz a moral de ser um caminho moralmente errado, Tupac nessa canção mostra que este caminho pelo qual estava trilhando, nunca imaginou que seria preso algum dia. Tupac diz: ”running from tha police, that's right, momma catch me, put a whopp'en to my backside” . Nota-se aqui a presença de uma “Momma” com valores tentando corrigir o filho quando este errava, dando um “coro” nele. Tupac da seqüência inserindo mais material pessoal: “and even as a crack fiend mama”. Neste trecho Tupac volta a recordar o fato de que sua mãe foi viciada em crack, porém como é notado na música , ele da ênfase a seqüência, quando canta: “ya always was a black queen mamma”, mostrando que apesar das conseqüências ela continua sendo a líder da família, como ele mesmo disse em uma entrevista: “Nossa relação é uma espécie de ditador e país pequeno” (TUPAC, 2003), onde o maior dita as regras ao menor. “I finally understand for a woman it ain't easy trying ta raise a man ya always wuz commited, a poor single mother on welfare, tell me how ya did it there's no way I can pay ya back but tha plan is ta show ya that I understand”. Tupac demonstra entender como é dificil para uma mulher criar um homem sozinha apenas com o dinheiro da assistência social, ele mostra que agora que cresceu e tornou-se adulto, consegue entender o valor de sua mãe e que não há uma forma de pagá-la por isso, porém que objetivo dele, e novamente voltamos ao objetivo central dessa música é mostrar que: “you are appreciated”. 39 7 DISCUSSÃO Tupac fala sobre suas músicas dizendo: “Às vezes, sou o observador e, as vezes, sou participante. As vezes, são apenas alegorias ou fabulas que contém uma moral, ou tema, por exemplo o estilo de vida no gueto.” Segundo Tupac as histórias contadas por ele em suas canções, algumas ele viveu, outras viu ou ouviu acontecerem com amigos próximos a ele. Sendo assim, devemos abrir um parêntese, deixando claro a importância e o cuidado ao interpretar as letras de Tupac ou de qualquer outro artista, pois como foi visto anteriormente, todos os sentimentos e emoções vivenciadas pelo autor, não aparecerão na sua criação como realmente são. Para Maheire (2003), ao mesmo tempo em que o músico se encontra em processo de criação, também está reelaborando seus sentimentos e emoções. Criar uma música implica, neste sentido, a possibilidade de articulação entre o conhecimento técnico, a transformação das emoções, a imaginação e a reflexão, a partir dos elementos do som e do silêncio presentes no mundo, em função do ainda não existente. (MAHEIRE, 2003) Devemos então, estar sempre atento à estrutura pela qual determinada obra foi feita, observando o material utilizado e a forma como este foi organizado pelo autor, sendo cuidadoso ao analisar o formato como este material é apresentado podendo ser este exclusivo do autor (conteúdo pessoal), ou apenas do personagem (conteúdo do dia a dia), pois estes “materiais” muitas vezes se fundem durante a narrativa da história, podendo facilmente serem confundidos. Isto pode ser constatado claramente durante a analise da música Dear Mama, onde o personagem naquele momento com 17 anos de idade foi expulso de casa após ter uma briga com sua mãe: “When I was young, me and my mama had beef, 17 years old kicked out on tha streets”. Apesar de Tupac ter escrito essa canção e dedicá-la para sua mãe, não há evidencias de que isto realmente aconteceu. Logo em seguida Tupac canta: “and even as a crack fiend mama, ya always was a black queen 40 mamma”, neste trecho o autor insere material de sua vida pessoal, recordando da época em que sua mãe foi viciada em crack. Se faz necessário neste momento deixar claro que a música assim como toda criação artística é baseada em um material, podendo ser este pessoal ou coletivo, situações especificas e individuais ou corriqueiras, porém estas podem estar aparecendo nas musicas como elas realmente são, ou de maneira fantasiada, artística. Como visto acima, a grande dificuldade em analisar uma letra de uma musica, é ao fato de que o autor está o tempo todo trabalhando entre o conhecimento técnico (artístico), transformando sentimentos e emoções, como acontecimentos vividos, em uma criação artística. Devemos lembrar quando tupac diz: “Rap é poesia. Para mim, é narrativa, poesia. Com ou sem música (batida), pode ser um rap a capela, pois veja até pentassílabo jâmbico é rap. É o jeito de escrever e a sua estrutura. Depende de como você o escreve. Mas se você precisa de uma batida, ou seja, acredito que não venderia tanto sem a batida. Portanto a música é uma ferramenta necessária para vender.” Fica claro com esta explicação de Tupac, que acima de tudo estamos analisando uma criação artística, criada com o intuito de vender, de fazer dinheiro, é claro que isto não tira o crédito do autor, mas coloca um ponto importante pelo qual devemos dar atenção. Estamos analisando um produto que será vendido, porém como foi visto anteriormente durante as análises, este, é um produto sócio historicamente construído, ou seja, há um objetivo financeiro, porém a forma como este material é utilizado nos mostra também um outro objetivo envolvido, explicado por Tupac: “Eu vi isso todos os dias, bebes viciados em crack, tudo por que passamos, perdendo tudo, sendo pobre e apanhando. Sendo como eu sou, eu disse: Não, eu vou mudar isso. Estou pensando em uma boa analogia. É como a guerra no Vietnã, certo? Foi só porque os repórteres mostraram as fotos da guerra do Vietnã que a guerra acabou quando acabou, ou a merda talvez tivesse durado mais tempo. Se ninguém soubesse exatamente o que estava acontecendo, nós pensaríamos que estavam morrendo valentemente, de uma forma bonita. Mas como vimos o terror, isso nos fez parar a guerra do Vietnã. Dae eu pensei: Isso é o que vou fazer como artista, como rapper. Vou mostrar os detalhes gráficos do que vejo em minha comunidade e, quem sabe, eles param com isso. Desistem.” (TUPAC, 2003) Sendo assim, fica claro que Tupac não queria apenas criar um produto para vender, ele queria mudar e transformar algumas situações que viveu e presenciou em sua infância. 41 Sua intenção era mostrar à todos o que acontece nas comunidades carentes e o que aconteceu em sua própria vida, utilizando a música ou o rap como uma ferramenta. 42 8 CONCLUSÃO Segundo ZENI (2003), o hip hop que é o movimento pelo qual o rap está inserido, foi definindo-se basicamente como uma manifestação cultural das periferias das grandes cidades, onde envolviam distintas representações artísticas de valores contestatório e revolucionário. Dessa forma, vemos facilmente o porquê da ligação e escolha de Tupac pelo rap, seja através de seus valores pessoais adquiridos com sua mãe e parentes, seja a forma como cresceu e os lugares pelo qual morou. Podemos hipotetizar que todos esses fatores contribuíram e provavelmente influenciaram todo o caminho que Tupac como artista percorreu. Segundo Tupac: “Julgue um homem inteiramente por suas ações, durante toda sua vida, do começo ao fim(...) pois todo passado de cada um é o que determinou seu futuro.” (TUPAC, 2003) Portanto, considerando os cuidados anteriormente citados e fazendo uma ampla análise sobre a vida do autor, podemos dizer que a musica Rap através de sua narrativa pode sim constituir-se em uma forma de mediação da realidade do autor. Entretanto, este estudo seria mais significativo se fosse ampliado para outros autores não somente do movimento Hip Hop, mas também de outros estilos musicais, como MPB (musica popular brasileira), Funk, entre outras. Esta pesquisa pode ser o primeiro passo para estarmos dando mais atenção às criações artísticas e principalmente para as letras de músicas, pois estas como mostradas por esta pesquisa, são criadas com base em sentimentos, emoções, trazendo situações do dia a dia, nos fazendo refletir acerca de determinado tema ou situação, sendo assim, gostaria de correr o risco em afirmar e hipotetizar que futuramente através de novas pesquisas acerca das letras das músicas, estas poderão um dia ser usadas como um instrumento de coleta de dados. 43 9 REFERÊNCIAS MORAES, J.J. O que é música. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986. ROCHA, J.; DOMENICH, M.; CASSEANO, P. HIP HOP A Periferia Grita. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001. ROCHA, J.; DOMENICH, M.; CASSEANO, P. HIP HOP A Periferia Grita. In: FAUSTINO, O. (Org.). Das ruas ao coração. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001. p. 9-12 ROMANO, Giovanni. Imagens da juventude na era moderna. In: LEVI, G.; SCHMIDT, J. (Org.). História dos jovens 2: a época contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 7-16 VYGOTSKY, L. S. Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. AGUIAR, J. A poesia da canção. São Paulo: Editora Scipione, 2001. SANTOS, J. L. O que é cultura. São Paulo: Primeiros passos, 1996. ZANELLA, A. V. Aprendendo a tecer a renda que o tece: apropriação da atividade e constituição do sujeito na perspectiva histórico-cultural. Revista de ciências Humanas. Edição especial temática, p. 145-158, 1999. LURIA, A. O desenvolvimento do significado das palavras na ontogênese. Em A. Luria, pensamentos e linguagem: as ultimas conferencias de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em: 17 Nov 2007 ZENI, Bruno. O negro drama do rap: entre a lei do cão e a lei da selva. Estud. av., São Paulo, v.18, n.50, 2004. Disponível em:<http://www.scielo.br/>. Acesso em: 26 Nov 2007 MAHEIRIE, Kátia. Processo de criação no fazer musical: uma objetivação da subjetividade, a partir dos trabalhos de Sartre e Vygotsky. Psicol. estud. , Maringá, v. 8, n. 2, 2003 . Disponível em: <http://www.scielo.br/>. Acesso em: 26 Nov 2007 Disponível em: <http://www.2pacbr.com/>. Acesso em: 26 nov 2007. CONTADOR, C. A.; FERREIRA, L. E. Ritmo e Poesia: Os caminhos do Rap. Lisboa: Assirio & Alvim, 1997. 44 SHELBY, T.; DARBY, D. Hip Hop e a Filosofia. Sao Paulo: Madras, 2006. LUBART, T. Psicologia da Criatividade. Porto Alegre: Artmed, 2007. HUFFMAN, K.; VERNOY, M.; VERNOY, J. Psicologia. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2003. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. LAZIN, L.; KAROLYN, A. Tupac: Ressurection. [Documentário-vídeo]. Produção de Karolyn Ali, direção de Lazin Laurie, 2003. 1 DVD Widescreen Anamórfico, 113 min. Dolby Digital Surround 5.1 45 10 ANEXO 1 Os 10 pontos da plataforma de programa dos Panteras Negras estabelecidos em 15 de Outubro de 1966, Os comentários sobre cada ponto são fragmentos do discurso de Bobby Seale realizado em 17 de Fevereiro de 1968 em Oakland Califórnia; 1- “Queremos liberdade, queremos o poder para determinar o destino de nossa comunidade negra”. 2- “Queremos emprego para nosso povo: É o que os irmãos e irmãs vivem me dizendo, então eu pergunto o que está acontecendo? Estamos sem emprego é o que está acontecendo! Então eu digo tudo bem vamos trabalhar juntos!”. 3- “Precisamos acabar com a exploração do homem branco na comunidade negra: Espere um momento isso não parece certo, nem todos que pilham a comunidade negra são brancos muitos são negros. Pois bem não somos antibrancos, somos a favor do que é justo então vamos revisar a número 3: Preciamos acabar com a exploração capitalista na comunidade negra”. 4- “Nós queremos moradia, queremos um teto que sirva para seres humanos: Muitas pessoas pelas cidades perambulam sem um teto sob suas cabeças, a chuva vem e todos ficam vulneráveis, é um simples direito humano ter um teto sob sua cabeça ”To have a roof over your head when the hard rain fall“ como nesta música de Bob Dylan”. 5- “Alguma sugestão? Precisamos de educação, mas que tipo de educação? A que revele a verdadeira natureza da decadente sociedade americana? Isso é o que pensei que você fosse dizer: Precisamos de uma educação que nos mostre a verdadeira historia e a nossa importância e papel na atual sociedade americana”. 6- “Precisamos entrar em acordo sobre a causa do Vietnã e dizer que: queremos todos os negros isentos do serviço militar: como pode um negro lutar contra um asiático, em nome de um branco que roubou a terra dos índios?”. 46 7 – “E por falar em Vietnã, precisamos entrar em acordo sobre Oakland e o assassinato de negros: parem com os assassinatos em nossa comunidade: outro dia um porco (policial) teve a audácia de me perguntar o que eu fazia com minha arma, e eu perguntei o que você faz com a sua? Você sabe o porco desta noite é o bacon do Café da Manhã é por isso que eu não posso ser um mulçumano negro-eu adoro bacon”. 8- “Queremos todos os negros libertos de cadeias federais, estaduais, e municipais: é isso mesmo, porque eles tiveram seus direitos constitucionais violados, eles não foram julgados por um júri formado por seus semelhantes, então liberte-os!” 9- “Deixe-me elaborar a número nove quando um negro for trazido a julgamento neste País queremos que: todos os negros sejam julgados por um júri formado por seus pares. E não na rua por um porco qualquer, que seja julgado conforme a constituição dos EUA é um direito constitucional ser julgado por seus semelhantes”. 10- “Vamos fazer um resumo este é o último ponto agora o que queremos? Terra, moradia, educação, vestuário: Eu sei que você quer nossa jaqueta preta de couro não se preocupe terá a sua. Terra, moradia, educação, vestuário justiça? Sempre lutar por justiça, mas quando vejo o seu corredor da morte procurar por justiça o que vejo? Somente nós! Terra, moradia, educação, vestuário justiça, e um pouco de paz: É eu tenho a sua paz; descanse em paz!”. Bobby Seale – Co-fundador dos Panteras Negras 47 11 DISCOGRAFIA Pac's Life (2006) 1. Untouchable (Swiss Beatz Remix) 2. Pac's Life 3. Dumpin' 4. Playa Cardz Right (Female) 5. Whatz Next 6. Sleep 7. International 8. Don't Sleep 9. Soon As I Get Home 10. Playa Cardz Right (Male) 11. Don't Stop 12. Pac's Life (Remix) 13. Untouchable 14. Scared Straight (Bonus Track) Loyal to the game (2004) 1. Soldier Like Me 2. The Uppercut 3. Out on Bail 4. Ghetto Gospel 5. Black Cotton 6. Loyal to the Game 7. Thugs Get Lonely Too 8. N.I.G.G.A. 9. Who Do You Love? 10. Crooked Nigga Too 11. Don't You Trust Me 12. Hennessey 13. Thug 4 Life 48 14. Po Nigga Blues (Scott Storch Rmx) 15. Hennessey (Red Spyda Rmx) 16. Crooked Nigga Too (Saadiq Rmx) 17. Loyal to the Game (DJ Quik Rmx) Resurrection (2003) 1. Intro 2. Ghost 3. One Day At A Time 4. Death Around The Corner 5. Secretz Of War 6. Runnin (Dying To Live) 7. Holler If Ya Hear Me 8. Starin' Through My Rear View 9. Bury Me A G 10. Same Song 11. Panther Power 12. Str8 Ballin' 13. Rebel Of The Underground 14. The Realist Killaz Better Dayz (2002) CD1 1. Intro 2. Still Ballin 3. When we Ride On Our Enemies 4. Changed Man 5. Fuck Em All 6. Never B Peace 7. Mama's Just A Little Girl 8. Street Fame 9. Watcha Gonna Do 49 10. Fair Xchange 11. Late Night 12. Ghetto Star 13. Thug Mansion – Accoustic Better Dayz (2002) CD2 1. My Block - Remix 2. Thugz Mansion 3. Never Call You Bitch Again 4. Better Dayz 5. U Can Call 6. Millitary Minds 7. Fame 8. Fair Exchange - Remix 9. Catching Feelings 10. There U Go 11. This Life I Lead 12. Who Do You Believe In 13. They Dont Give A Fuck About Us 14. Outro The Rose That Grew From Concrete 1. Tupac Interlude 2. Wake Me When I'm Free 3. Can U C the Pride in the Panther 4. When Ure Heart Turns Cold 5. U R Ripping Us Apart 6. Tears of a Teenage Mother 7. God 8. And Still I Love You 9. Can U C the Pride in the Panther 50 10. If There Be Pain 11. River That Flows Forever 12. Rose That Grew from Concrete 13. In The Event Of My Demise 14. What of a Love Unspoken 15. Sometimes I Cry 16. Fear in the Heart of Man 17. Starry Night 18. What of Fame 19. Only 4 the Righteous 20. Why Must You Be Unfaithful 21. Wife 4 Life 22. Lady Liberty Needs Glasses 23. Family Tree 24. Thug Blues 25. Sun and the Moon Until The End Of Time (2001) CD1 1. Ballad Of A Dead Soulja 2. Fuck Friendz 3. Lil Homies 4. Let Em Have It 5. Good Life 6. Letter 2 My Unborn 7. Breathin' 8. Happy Home 9. All Out 10. Fuckin Wit The Wrong Nigga 11. Thug N U Thug N Me 12. Everything They Owe 13. Until The End Of Time 51 14. M.O.B. 15. World Wide Mob Figgaz Until The End Of Time (2001) CD2 1. Big Syke Interlude 2. My Closest Roaddogz 3. Nigga Nature (Remix) 4. When Thugz Cry 5. U Don't Have 2 Worry 6. This Ain't Livin 7. Why U Turn on Me 8. Lastonesleft 9. Thug n U Thug n Me 10. Words 2 My First Born 11. Let Em Have It (Remix) 12. Runnin on E 13. When I Get Free 14. Until the End of Time (RP Remix) Still I Rise (1999) 1. Letter to the President 2. Still I Rise 3. Secretz of War 4. Baby Don't Cry (Keep Ya Head up II) 5. As the World Turns 6. Black Jesuz 7. Homeboyz 8. Hell 4 a Hustler 9. High Speed 10. The Good Die Young 11. Killuminati 52 12. Teardrops and Closed Caskets 13. Tattoo Tears 14. U Can Be Touched 15. Y'all Don't Know Us Greatest Hits (1998) CD1 1. Keep Ya Head Up 2. 2 of Amerikaz Most Wanted 3. Temptations 4. God Bless the Dead 5. Hail Mary 6. Me Against the World 7. How Do U Want It 8. So Many Tears 9. Unconditional Luv 10. Trapped 11. Life Goes On 12. Hit Em Up Greatest Hits (1998) CD2 1. Troublesome 96 2. Brenda's Got a Baby 3. I Ain't Mad At Cha 4. I Get Around 5. Changes 6. California Luv (original) 7. Picture Me Rollin' 8. How Long Will They Mourn Me 9. Toss It Up 10. Dear Mama 11. All Bout U 53 12. To Live & Die in L.A 13. Heartz of Men R U Still Down? (Remember Me) (1997) - CD1 1. Redemption 2. Open Fire 3. R U Still Down? (Remember Me) 4. Hell Razor 5. Thug Style 6. Where Do We Go From Here (Interlude) 7. I Wonder if Heaven Got a Ghetto 8. Nothing to Lose 9. I'm Gettin Money 10. Lie to Kick It 11. Fuck All Y'all 12. Let Them Thangs Go 13. Definition of a Thug Nigga R U Still Down? (Remember Me) (1997) – CD2 1. Ready 4 Whatever 2. When I Get Free 3. Hold on Be Strong 4. I'm Losin It 5. Fake Ass Bitches 6. Do for Love 7. Enemies With Me 8. Nothin' but Love 9. 16 on Death Row 10. I Wonder if Heaven Got a Ghetto (Hip-Hop Version) 11. When I Get Free II 54 12. Black Starry Night (Interlude) 13. Only Fear of Death The Don Killuminati: The 7 Day Theory (1996) 1. Bomb First (My Second Reply) 2. Hail Mary 3. Toss It Up 4. To Live & Die in L.A. 5. Blasphemy 6. Life of an Outlaw 7. Just Like Daddy 8. Krazy 9. White Man'z World 10. Me and My Girlfriend 11. Hold Ya Head 12. Against All Odds All Eyez on Me (1996) - CD1 1. Ambitionz Az a Ridah 2. All Bout U 3. Skandalouz 4. Got My Mind Made Up 5. How Do You Want It? 6. 2 of Amerikaz Most Wanted 7. No More Pain 8. Heartz of Men 9. Life Goes On 10. Only God Can Judge Me 11. Tradin War Stories 12. California Love (Remix) 13. I Ain't Mad At Cha 55 14. What'z Ya Phone All Eyez on Me (1996) – CD2 1. Can't C Me 2. Shorty Wanna Be a Thug 3. Holla At Me 4. Wonda Why They Call U 5. When We Ride 6. Thug Passion 7. Picture Me Rollin' 8. Check Out Time 9. Ratha Be Ya Nigga 10. All Eyez on Me 11. Run Tha Streetz 12. Ain't Hard 2 Find 13. Heaven Ain't Hard 2 Find Me Against the World (1995) 1. Intro 2. If I Die 2Nite 3. Me Against The World 4. So Many Tears 5. Temptations 6. Young Niggaz 7. Heavy in the Game 8. Lord Knows 9. Dear Mama 10. It Ain't Easy 11. Can U Get Away 12. Old School 13. Fuck the World 56 14. Death Around The Corner 15. Outlaw Thug Life (1994) 1. Bury Me a G 2. Don't Get It Twisted 3. Shit Don't Stop 4. Pour Out a Little Liquor 5. Stay True 6. How Long Will They Mourn Me 7. Str8 Ballin' 8. Under Pressure 9. Street Fame 10. Cradle to the Grave Strictly 4 My N.I.G.G.A.Z. (1993) 1. Holler if Ya Hear Me 2. Pac's Theme 3. Point The Finga 4. Something 2 Die 4 5. Last Wordz 6. Souljah's Revenge 7. Peep Game 8. Strugglin' 9. Guess Who's Back 10. Representin' 93 11. Keep Ya Head Up 12. Strictly for my N.I.G.G.A 13. The Streetz R DeathRow 14. I Get Around 15. Papa'z Song 57 16. 5 Deadly Venomz 2Pacalypse Now (1991) 1. Young Black Male 2. Trapped 3. Soulja's Story 4. I Don't Give a Fuck 5. Violent 6. Words of Wisdom 7. Something Wicked 8. Crooked Ass Nigga 9. If My Homie Calls 10. Brenda's Got a Baby 11. Tha Lunatic 12. Rebel of the Underground 13. Part Time Mutha 58 12 FILMOGRAFIA As Duas Faces da Lei (Gang Related) (1997) Título: As Duas Faces da Lei Elenco: James Belushi, Tupac Shakur (Rodriguez), Lela Rochon, Dennis Quaid. Sinopse: Dois policiais, representados por Tupac Shakur e James Belushi, matam um agente de DEA por engano, e tentam encobrir seus rastros culpando um mendigo, do crime. Isso os envolve em prestidigitação de evidências, enquanto treinam a testemunha, e improvisam para impedir que o esquema desesperado deles seja descoberto. Gridlock (Gridlock) (1997) Título: Gridlock Elenco: Tim Roth, Tupac Shakur (Spoon), Thandie Newton. Sinopse: Depois de umas overdoses do amigo, Colher (representado por Tupac Shakur) e Stretch (Tim Roth) decidem largar as drogas e tentar se matricular em um programa de desintoxicação do governo americano. Os esforços deles são impedidos pela formalidade burocrática aparentemente infinita, sendo eles arrastados de um escritório a outro enquanto são perseguidos pelos negociantes de drogas e a polícia. Bullet (Bullet) (1996) Título: Bullet Elenco: Mickey Rourke, Tupac Shakur (Tank), Ted Levine, Adrien Brody. Sinopse: Neste filme de ação de gangues, um par de assassinos luta para sobreviver nas condições de intensa e violenta rivalidade entre eles, e o respeito invejado de um pelo outro. Um papel pequeno para Tupac (atuando como Tank). 59 O Lance Do Crime (Above The Rim) (1994) Título: O Lance Do Crime Elenco: Duane Martin, Tupac Shakur (Birdie), Leon, Marlon Wayans, Tonya Pinkins, Bernie Mac. Sinopse: História de uma estrela do basquetebol de escola secundária promissora e as relações dele com os dois irmãos, um traficante de drogas. Tupac Shakur marca presença como Birdie. Sem medo no coração (Poetic Justice) (1993) Título: Sem medo no coração Elenco: Janet Jackson, Tupac Shakur (Lucky), Tyra Ferrell, Q-Tip. Sinopse: Depois de testemunhar o assassinato da namorada, Justice decide esquecer da faculdade e se tornar uma cabeleireira em Los Angeles. Evitando amizades, o único modo para ela acabar com a depressão é compondo poesias bonitas. Filme conta com o Janet Jackson como Justice e Tupac Shakur como Lucky. Juice (Juice) (1992) Título: Juice Elenco: Omar Epps, Tupac Shakur (Bishop), Jermaine Hopkins, Khalil Kain, Cindy Herron, Vincent Laresca, Samuel L. Jackson. Sinopse: Os grandes amigos Q, Bishop representado por Tupac Shakur, Raheem, e Stell moram em um mundo onde diversão e perigo existem lado a lado, e violência é poderosamente sedutora. Estes quatro amigos assumem o Harlem onde lidam com a violência a todo momento. 60