35
DIVULGAÇÃO
Tribuna do Paraná
quarta, 15.05.13
[email protected]
Esperança contra o
melanoma
ELAS POR ELAS
Janaina Monteiro
Depilação
íntima
faz mal?
mineira Rosana Mara Saldanha Herculano, 48
anos, é designer aposentada. Gizelia Caruso
Batista, 54, mora em Sergipe e é educadora
física. A professora Adriana Kieffer Ferreira Van Deursen, 48, vive em São Paulo e é professora. Apesar de,
aparentemente, não terem muito em comum, elas são
unidas por uma realidade. Todas foram diagnosticadas com o melanoma avançado (tipo agressivo de câncer de pele) e participaram de estudos sobre um novo
medicamento que controla a doença, o ipilimumabe.
O programa foi conduzido pelo médico Antônio
Carlos Buzaid, chefe-geral do Centro Avançado de
Oncologia do Hospital São José, em São Paulo. A
droga foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2011. Desde março deste
ano, o tratamento está disponível no país com o nome
de Yervoy.
O melanoma é um tipo de câncer de pele cuja origem está nos melanócitos, células que produzem a
substância que determina a cor da pele, a melanina.
Quando diagnosticado e tratado em sua fase inicial,
ele geralmente tem cura. Caso contrário, pode se disseminar para outros órgãos, processo conhecido como
metástase. Nessa fase, leva a óbito cerca de 75% das
pessoas diagnosticadas no período de um ano em todo
o mundo.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), este
tipo de câncer é o mais frequente no Brasil e corresponde a 25% de todos os tumores malignos registrados
no país. Adultos brancos são os mais propensos a ter a
doença. Por isso, no Brasil, a região Sul é
a mais afetada. O maior risco é quando
se tem queimaduras solares durante a
juventude (entre os 10 e 19 anos). Portanto, é preciso se proteger contra o sol
desde cedo. Em 2012, segundo o Inca,
cerca de 6230 pacientes foram diagnosticados com a doença, 3060 deles eram
mulheres.
Fazer depilação faz parte
do cotidiano de muitas
mulheres, mas o que muita
gente desconhece é que nem
sempre a ela faz bem para a
saúde. Assim como qualquer
pelo do corpo, os pelos que
ficam na entrada da vagina
protegem a área contra contaminações externas.
Portanto, há que se ter cuidado ao depilar-se completamente. A cera quente ou fria
pode machucar a pele e ser
porta de entrada de infecções
oportunistas, como a candidíase.
Uma boa dica é prestar
atenção no histórico médico
da mulher. Se ela já está acostumada, faz a depilação
íntima completa e nunca
apresentou nenhuma doença
infecciosa vaginal, ela pode
continuar com o hábito.
Porém, quem tem um histórico de muitas infecções deve
tomar mais cuidado e remover somente os pelos das áreas
mais afastadas da vagina,
como coxas e pélvis. O recomendado é apenas aparar os
pelos próximos aos grandes
lábios.
Outra dica é dar preferência às ceras descartáveis em
vez das recicláveis. Elas oferecem menos risco. O local também deve ser escolhido com
muita cautela. Verifique sempre como a cera é preparada e
se materiais como espátulas e
pinças são esterilizados corretamente.
Maria Letícia
Fagundes
é médica ginecologista.
[email protected]
A
Adriana, Rosana e Gizelia aprovam
o resultado do medicamento.
Rosana percebeu uma pinta escura crescendo nas
costas, mas não se preocupou. Até que surgiu um
nódulo na axila que foi operado. “Recebi o diagnóstico sete anos atrás. Para mim foi uma sentença de
morte”, recorda. Certo dia, quando foi fazer um
check-up no médico, surgiu uma alteração no fígado
e Rosana logo foi tomando o “ipi”, como é carinhosamente chamado pelas pacientes. Foram três ciclos do
medicamento.
Mas o caso da sergipana Gizelia é a prova de que o
melanoma também ocorre em peles morenas. O câncer apareceu com um nódulo no pé. Ela chegou a
fazer cirurgia no Rio de Janeiro e quimioterapia em
São Paulo. “Tomei tudo quanto é medicamento e não
tive resposta até que meu médico disse para eu procurar Buzaid. Abaixo de Deus, é meu anjo na Terra”.
Três anos depois de se tratar com o “ipi”, Gizelia voltou a trabalhar e estudar.
Tratamento diferente
A taxa de sobrevida dos pacientes que receberam o
“ipi” é de 46%. O tratamento com Yervoy é feito com
apenas quatro infusões ao longo de três meses, ao
contrário da quimioterapia convencional, na qual o
paciente é tratado continuamente. “Pacientes que
são tratados com este medicamento têm uma sobrevida maior do que os que recebem outras drogas. O
paciente não precisa ficar no hospital enquanto
recebe o tratamento”, compara o médico oncologista
Sanjiv S. Argawala, chefe da Unidade de Hematologia e Oncologia do St. Luke”s Cancer Center, nos
Estados Unidos.
Sobrevivendo ao câncer
A esperança para o combate ao
melanoma veio como o ipilimumabe, a primeira imunoterapia que
demonstrou aumentar significativamente a
sobrevida a longo prazo de pacientes. No Brasil, 15
pessoas participaram de testes clínicos do Yervoy e
cerca de 500 receberam o medicamento por meio do
Programa de Acesso Expandido, regulamentado pela
Anvisa e que permite a disponibilização ainda experimental a pacientes elegíveis.
Os melanomas cutâneos se manifestam de diversas
formas no corpo. Em Adriana, foi uma pinta preta no
braço direito. “Tomei muito sol quando era criança
durante os três meses que tinha de férias todo o ano,
mas quando recebi a notícia que estava com melanoma
foi um baque”, lembra. Depois de sofrer metástase, a
professora fez cirurgia e foi submetida a diversos tratamentos, mas o tumor não regredia. Até que Buzaid lhe
deu uma notícia animadora: “menina, está chegando
coisa nova”. Após quatro infusões do medicamento, as
tomografias feitas em Adriana deram negativo.
O oncologista explica que o ipilimumabe é um
novo paradigma no tratamento do melanoma porque
estimula o sistema imunológico a combater o câncer,
mas pode trazer efeitos colaterais por causa disso. “O
sistema imunológico passa a rejeitar partes do
corpo”, conta Argawala. Pacientes podem ter reações
inflamatórias em diferentes órgãos e sistemas, como
pele (erupções e prurido), no sistema gastrointestinal (diarreia, colite) e no fígado (alterações nos testes de função hepática), entre outros. No Brasil, o
tratamento é caro, cerca de R$ 318 mil, e ainda não
está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
*A repórter viajou a São Paulo para workshop sobre
o tema a convite do Simpósio de Melanoma, organizado
por Antônio Carlos Buzaid.
Download

Esperança contra o