no 8 | 2010 atualidades ABAC-LUZ: solidariedade e acolhimento Gencitabina no protocolo de tratamento do câncer de bexiga e de pâncreas SBOC luta por melhorias em prol do médico e do paciente 10186 ChymiOn 8-2010.indd 1 27.08.10 13:46:35 Como a oncologia responde por grande parte dos tratamentos, inclusive os mais onerosos, é preciso lutar em defesa dos profissionais dessa área e pelo tratamento justo e correto dos pacientes. Esta é uma das bandeiras levantadas pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), representada pelo Dr. Enaldo Melo de Lima, destaque da História de Sucesso desta edição. A gencitabina, que é um análogo de nucleosídeo (2’, 2’-difluo rodesoxicitidina) com atividade antineoplásica que exibe especificidade na fase celular, interferindo Gencitabina com a síntese de DNA (fase S) e também no protocolo de tratamento do câncer de bloqueando a progressão das células por BEXIGA E DE PÂNCREAS meio da fase terminal G1/S, é uma SBOC luta por melhorias em prol do médico e do paciente importante aliada no tratamento de cânceres como o de bexiga e o de pâncreas. O Dr. Rafael Kaliks e a Dra. Patricia Santi, do Hospital Israelita Albert Einstein, elaboraram interessantes revisões sobre o tema. Quando o sistema público falha ou não dá conta do recado, as lacunas são supridas por pessoas ou instituições sensíveis à causa. A oncologista de Brasília Luci Ishii é um desses exemplos. Há 12 anos ela fundou a Associação Brasiliense de Apoio ao Paciente com Câncer (ABAC-LUZ), baseada no desejo de uma de suas pacientes terminais em ajudar outros pacientes. A médica narra essa exemplar história na seção Atualidades. Neste Espaço Sandoz, Dr. Orlando Ratto, de São Carlos (SP), faz as honras da vez e nos conta sobre o 17th International Oncology Meeting e a visita à fábrica da Ebewe Pharma/Sandoz que ele e outros colegas brasileiros fizeram. Acompanhe também os destaques da 20ª Expo Farmácia, que teve sede em São Paulo e promoveu discussões e reflexões sobre a segurança do paciente e a qualidade do tratamento. no 8 | 2010 ATUALIDADES ABAC-LUZ: solidariedade e acolhimento Rua Anseriz, 27, Campo Belo 04618-050 – São Paulo, SP Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br [email protected] Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Diretor médico: Marcello Pedreira CRM-SP 65377 Comunicações médicas: Cristiana Bravo Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Diretor de criação: Eduardo Magno Gerente de negócios: Marcela Crespi Coordenadora editorial: Fabiana de Paula Souza Diretora de arte: Renata C. Variso Peres Revisora: Renata Del Nero Produtor gráfico: Fabio Rangel Cód. da publicação: 10186.09.10 O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es). Produzido por Segmento Farma Editores Ltda., sob encomenda de Sandoz, em setembro de 2010. Material de distribuição exclusiva à classe médica. 10186 ChymiOn 8-2010.indd 3 sumário A “saúde” do Sistema Único de Saúde (SUS) e das empresas de convênios médicos continua debilitada. Para começar, nosso país não dispõe da elementar medicina preventiva. Quando passamos para a fase curativa, o problema é ainda maior, pois se não houve prevenção, a bola de neve foi aumentando e, ao chegar ao pé da montanha, se tornou uma avalanche. 4 11 14 16 18 Boa leitura! Os editores matéria de capa atualização espaço sandoz atualidades história de sucesso 27.08.10 13:46:36 Tratamento oncológico do câncer de bexiga O papel da gencitabina Patricia Santi Médica oncologista assistente da disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina do ABC CRM-SP 113.290 Introdução A neoplasia de bexiga é a quarta causa mais comum de câncer en- tre os homens e a nona entre as mulheres. A estimativa para o Brasil é de 13.110 casos novos em 2009 com 2.821 mortes. O subtipo histológico mais frequente é o carcinoma urotelial, e a mediana de Rafael Kaliks idade ao diagnóstico é de 65 anos1. Médico oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein tegorias que diferem quanto ao prognóstico, ao tratamento e ao CRM-SP 83.502 O espectro clínico do câncer de bexiga é dividido em três ca- objetivo terapêutico. A primeira categoria consiste em tumores não invasivos, e seu tratamento é direcionado para reduzir a re- corrência e prevenir a progressão para estágios mais avançados. O segundo grupo compreende os tumores invasivos, e a aborda- gem terapêutica inclui cirurgia, quimioterapia ou quimiorradiote- rapia, sempre objetivando a cura. A doença metastática representa 4 10186 ChymiOn 8-2010.indd 4 a terceira categoria, e seu tratamento tem o intuito de paliar sintomas e prolongar a sobrevida. 27.08.10 13:46:38 Câncer de bexiga não invasivo cisplatina)4. Embora os estudos tenham demonstrado efi- Estima-se que 40% a 80% dos tumores superficiais irão recorrer em 6 a 12 meses se tratados exclusivamente com ressecção transuretral. Assim, a terapia intravesical é frequentemente necessária para diminuir essa incidência. A gencitabina vem sendo avaliada em pequenos estudos fase II como alternativa à aplicação de BCG intravesical para tumores não invasivos de alto risco2. Os resultados são promissores, mas ainda não há evidência científica para instituir seu uso. Um estudo randomizado europeu fase III comparou gencitabina versus mitomicina em pacientes que recidivaram após uso de BCG. A gencitabina mostrou-se tão eficaz como a mitomicina com menor incidência de cistite química3. para uso dessa associação no cenário neoadjuvante. Câncer de bexiga invasivo Para tumores invasivos, o tratamento-padrão constitui em cistectomia radical com dissecção linfonodal pélvica bilateral. A despeito de uma cirurgia potencialmente curativa, cerca de metade desses pacientes vão desenvolver doença metastática nos dois primeiros anos de seguimento. Com o objetivo de erradicar micrometástases e prolongar a sobrevida, a terapia sistêmica neoadjuvante e adjuvante vem sendo consolidada. Em pacientes bem selecionados o tratamento multidisciplinar para preservação da bexiga constitui uma opção válida e segura. Tratamento neoadjuvante Inúmeros estudos demonstraram benefício em termos de sobrevida global em favor do tratamento neoadjuvante quando comparado à cirurgia isolada, ressaltando que a maioria desses protocolos utilizou o esquema quimioterápico MVAC (metotrexato, vimblastina, adriamicina e 10186 ChymiOn 8-2010.indd 5 cácia equivalente entre MVAC e a combinação de cisplati- na e gencitabina na doença metastática, não há evidência Tratamento adjuvante Alguns estudos randomizados avaliaram o benefício da quimioterapia adjuvante baseada em cisplatina e gencita- bina. Seus dados são muito conflitantes, principalmente porque muitos deles foram interrompidos prematuramente por não incluírem o número planejado de pacientes. Na ASCO 2010, foi apresentado um estudo espanhol randomizado, fase III, que comparou o uso da combinação de paclitaxel, gencitabina e cisplatina versus observação. Apesar de também ter sido interrompido precocemente, demonstrou benefício com significado estatístico quanto à sobrevida global, à sobrevida livre de doença e à sobrevida câncer-específica em favor do braço-tratamento5. Tratamento para preservação de bexiga Após a resseceção transuretral completa do tumor invasivo, alguns pacientes são candidatos à terapia de preservação de órgão. Essa abordagem pode ser baseada em quimioterapia exclusiva, em quimioterapia de indução seguida por quimiorradioterapia ou quimiorradioterapia isolada. A gencitabina foi avaliada no estudo RTOG 99-06, no qual os pacientes foram submetidos à radioterapia hiperfracionada concomitantemente à quimioterapia com paclitaxel e cisplatina seguida de quatro ciclos de gencitabina e cisplatina. Dados preliminares apontam índice de 87% de resposta completa e sobrevida de 69%, com bexiga intacta, em dois anos6. Outros estudos fase I demonstraram viabilidade no uso da gencitabina concomitantemente à radioterapia, e resultados de fase II estão sendo aguardados. 5 27.08.10 13:46:38 A combinação de gencitabina e cisplatina em primeira linha apresenta resposta mais duradoura e tem eficácia similar ao tradicional MVAC com melhor perfil de toxicidade, como foi demonstrado no estudo fase III com 405 pacientes7 Câncer de bexiga metastático 6 A quimioterapia sistêmica é o tratamento de escolha e, apesar do alto índice de resposta, a mediana de sobrevida é de apenas 14 meses. A gencitabina é ativa isoladamente com bom perfil de toxicidade e boa taxa de resposta, porém monoterapias têm demonstrado pequeno intervalo livre de progressão. Assim, a combinação de gencitabina e cisplatina em primeira linha apresenta resposta mais duradoura e tem eficácia similar ao tradicional MVAC com melhor perfil de toxicidade, como foi demonstrado no estudo fase III com 405 pacientes7. A adição de paclitaxel à cisplatina e à gencitabina resultou em alta taxa de resposta e aumento de sobrevida global em três meses (15,7 versus 12,8 meses), sem significado estatístico, quando comparada à cisplatina e à gencitabina, mas à custa de aumento de toxicidade hematológica8. Portanto, em primeira linha, a combinação de cisplatina e gencitabina é o tratamento de escolha. A associação de gencitabina e carboplatina é uma eficaz alternativa para pacientes com prejuízo da função renal ou baixo performance-status. Já a combinação com gencitabina e paclitaxel demonstrou aumento da toxicidade hematológica e severa toxicidade pulmonar, embora tenha apresentado altas taxas de resposta9,10. 10186 ChymiOn 8-2010.indd 6 Referências 1. www.inca.gov.br. Acessado em: 15 de junho de 2010. 2. Serretta V, Galuffo A, Pavone C, Allegro R, Pavone-MacAluso M. Gemcitabine in intravesical treatment of Ta-T1 transitional cell carcinoma of bladder: Phase I-II study on marker lesions. Urology. 2005 Jan;65(1):65-9. 3. Addeo R, Caraglia M, Bellini S, Abbruzzese A, Vincenzi B, Montella L, et al. Randomized Phase III Trial on Gemcitabine Versus Mytomicin in Recurrent Superficial Bladder Cancer: Evaluation of Efficacy and Tolerance. J Clin Oncol. 2010 Feb 1;28(4):543-8. Epub 2009 Oct 19. 4. Advanced Bladder Cancer Meta-analysis Collaboration. Neoadjuvant chemotherapy in invasive bladder cancer: a systematic review and meta-analysis. Lancet. 2003 Jun;7:361(9373):1927-34. 5. Paz-Ares LG, Solsona E, Esteban E, Saez A, Gonzalez-Larriba J, Anton M Hevia F de la Rosa V Guillem A, et al. Randomized pase III trial comparing adjuvant paclitaxel/ gemcitabine/ cisplatina (PGC) to observation in patients with resected invasive bladder cancer: Results of the Spanish Oncology Genitourinary Group (SOGUG) 99101 study. J Clin Oncol. 2010;28:18s(suppl;abstr LBA 4518). 6. Kaufman D, Winter KA, Shipley WU, Althausen AF, Hug EB, Toonkel LM, et al. Muscle-invading bladder cancer, RTOG protocol 99-06: initial report of a phase I/II trial of selective bladder-conservation employing TURBT, accelerated irradiation sensitized with cisplatin and paclitaxel followed by adjuvant cisplatin and gemcitabine chemotherapy (abstract). J Clin Oncol. 2008;26:379s. 7. Von der Maase H, Hansen SW, Roberts JT, Dogliotti L, Oliver T, Moore MJ, et al. Gemcitabine and cisplatin versus methotrexate, vimblastine, doxorubicin and cisplatin in advanced or metastatic bladder cancer: results of a large, randomized, multinational, multicenter, phase III study. J Clin Oncol. 2000 Sep;18(17):3068-77. 8. Bellmunt J, von der Maase H, Mead GM, Heyer J, Houede N, Paz-Ares LG, et al. Randomized phase III study comparing paclitaxel/ cisplatin/ gemcitabine (PGC) and gemcitabine/ cisplatin (GC) in patients with locally advanced (LA) or metastatic (M) urothelial cancer without prior systemic therapy (abstract # LBA 5030). J Clin Oncol. 2007;25:965s. 9. Calabrò F, Lorusso V, Rosati G, Manzione L, Frassineti L, Sava T, et al. Gemcitabine and paclitaxel every 2 weeks in patients with previously untreated urothelial carcinoma. Cancer. 2009 Jun 15;115(12):2652-9. 10. Li J, Juliar B, Yiannoutsos C, Ansari R, Fox E, Fisch MJ, et al. Weekly paclitaxel and gemcitabine in advanced transitional-cell carcinoma of the urothelium: a phase II Hoosier Oncology Group study. J Clin Oncol. 2005 Feb 20;23(6):1185-91. 27.08.10 13:46:38 Tratamento oncológico do câncer de pâncreas O papel da gencitabina Introdução Estima-se que 36.800 pessoas morrerão de câncer de pâncreas nos Estados Unidos no ano de 2010, sendo a quarta causa de morte específica por câncer nesse país1. No Brasil, essa neoplasia é responsável por cerca de 2% de todos os tipos de câncer e por 4% do total de mortes específicas por câncer2. A maioria dos tumores de pâncreas são adenocarci- nomas e se originam do epitélio ductal. A ressecção cirúrgica oferece a única chance de cura, mas somen- te 15% a 20% dos casos recém-diagnosticados apre- sentam-se potencialmente ressecáveis. Infelizmente, o prognóstico mantém-se sombrio mesmo após ressecção completa com dados de sobrevida em cinco anos em torno de 20% a 30% nos casos sem comprometimento linfonodal e de 10% quando há esse acometimento3. O tratamento com base em quimioterapia, radioterapia ou a combinação das duas modalidades pode ser oferecido no cenário neoadjuvante, adjuvante, na doença 10186 ChymiOn 8-2010.indd 7 localmente avançada e na doença metastática com intuito de aumentar a sobrevida global, o tempo livre de progressão e a paliação de sintomas. Tratamento quimioterápico exclusivo Existe benefício significativo em termos de sobrevida global e sobrevida livre de doença, com o uso de quimioterapia após ressecção cirúrgica. Em um estudo europeu com 368 pacientes, avaliou-se a eficácia da gencitabina adjuvante, sendo demonstrada diferença significativa quanto à sobrevida global e à sobrevida livre de doença a favor do tratamento em comparação ao placebo4. Um segundo estudo, o ESPAC 3, randomizou 1.088 pacientes para receber gencitabina ou fluorouracil/leucovorina (esquema Mayo Clinic), demonstrando eficácia semelhante e perfil de toxicidade favorecendo o braço com gencitabina5. Na doença localmente avançada, os dados favorecem o uso de quimioterapia exclusiva baseada em gencitabi- 7 27.08.10 13:46:39 100 95 75 na com impacto em sobrevida semelhante ao tratamento com quimiorradioterapia. A associação da gencitabina à oxaliplatina e ao irinotecano não demonstrou acréscimo de benefício, apenas aumento na toxicidade6. No cenário da doença metastática, o uso da gencitabina já está bem estabelecido como tratamento-padrão, tendo sido tentadas associações com oxaliplatina, cisplatina, capecitabina, docetaxel, irinotecano e erlotinibe. Duas metanálises concluíram que a associação de uma segunda droga à gencitabina oferece modesto, porém significativo, benefício em termos de sobrevida quando comparada a seu uso isolado, principalmente na combinação com capecitabina. A associação de erlotinibe à gencitabina demonstrou pequeno benefício em sobrevida global, sendo, porém, seu custo-benefício questionável6,7. Tratamento combinado com quimioterapia e radioterapia 8 A terapia combinada representa uma estratégia interessante no cenário adjuvante uma vez que 50% dos pacientes operados evoluem com recidiva locorregional. Há dados que demonstram segurança e boa tolerabilidade no uso da gencitabina como radiossensibilizante, mas essa abordagem nunca foi comparada ao tratamento-padrão com fluorouracil e radioterapia. O estudo americano RTOG 9704 comparou o uso dessas duas drogas sendo administradas antes e após a radioterapia com fluorouracil e encontrou benefício a favor do uso da gencitabina em análise de subgrupo dos pacientes com tumor em cabeça de pâncreas8. No tratamento neoadjuvante, a combinação de radioterapia e gencitabina mostrou aumento do controle local à custa de maior potencial de toxicidade quando comparado à radiossensibilização com fluorouracil. O uso de quimioterapia isolada não é aprovado nessa situação. Na doença localmente avançada, inúmeros estudos fase II avaliaram a eficácia e a segurança da combinação 10186 ChymiOn 8-2010.indd 8 de radioterapia e gencitabina e demonstraram bom controle local com dados de ganho de sobrevida conflitantes. Uma série retrospectiva do M. D. Anderson comparou gencitabina e radioterapia com fluorouracil e radioterapia e, apesar da diferença de dois meses na sobrevida global a favor do braço-gencitabina, esta não foi estatisticamente significativa9. A estratégia de gencitabina isolada seguida de radioterapia e gencitabina para os pacientes que não apresentam progressão vem sendo investigada e aponta resultados promissores, principalmente porque seleciona melhor os pacientes que se beneficiarão do tratamento combinado. 25 5 0 Referências 1. American Cancer Society Facts & Figures 2010. Atlanta: American Chemical Society: 2010. 2. Inca. <www.inca.gov.br>. Acessado em: 15 de junho de 2010. 3. Trede M, Schwall G, Saeger HD. Survival after pancreatoduodenectomy. 118 consecutive resections without and operative mortality. Ann Surg. 1990 Apr;211(4):447-58. 4. Oettle H, Post S, Neuhaus P, Gellert K, Langrehr J, Ridwelski K, et al. Adjuvant chemotherapy with gemcitabine vs observation in patients undergoing curative-intent resection of pancreatic cancer: a randomized controlled trial. JAMA. 2007 Jan 17;297(3):267-77. 5. Neoptolemos J, Buchler M, Stocken DD, Ghaneh P, Smith D, Bassi C, et al. ESPAC-3(v2): A multicenter, international, open-label, randomized, controlled phase III trial of adjuvant 5-fluorouracil/folinic acid (5-FU/ FA) versus gemcitabine in patients with resected pancreatic ductal adenocarcinoma (abstract #LBA4505). J Clin Oncol. 2009;27:797s 6. Sultana A, Smith CT, Cunningham D, Starling N, Neoptolemos JP, Ghaneh P. Meta-analysis of chemotherapy for locally advanced and metastatic pancreatic cancer. J Clin Oncol. 2007 Jun 20;25(18):2607-15. 7. Heinemann V, Boeck S, Hinke A, Labianca R, Louvet C. Meta-analysis of randomized trials: evaluation of benefit from gemcitabine-based combination chemotherapy applied in advanced pancreatic cancer. BMC Cancer. 2008 Mar 28;8:82. 8. Regine WF, Winter KA, Abrams RA, Safran H, Hoffman JP, Konski A, et al. Fluorouracil vs gemcitabine chemotherapy before and after fuorouracilbasec chemoradiation following resection of pancreatic adenocarcinoma: a randomized controlled trial. JAMA. 2008 Mar 5;299(9):1019-26. 9. Crane CH, Abbruzzese JL, Evans DB, Wolff RA, Ballo MT, Delclos M, et al. Is the therapeutic index better with gemcitabine-based chemoradiation than with 5- fluorouracil-based chemoradiation in locally advanced pancreatic cancer? Int J Radiat Oncol Biol Phys. 2002 Apr 1;52(5):1293-302. 100 95 75 25 5 0 27.08.10 13:46:40 100 95 75 25 5 0 20 Expo a Farmácia tem destaque para segurança do paciente A 100 95 75 25 5 0 10186 ChymiOn 8-2010.indd 11 20ª Expo Farmácia é um evento reconhecido pelo comprometimento e pelo profissionalismo com os quais se desenvolveu ao longo dos anos. A cada nova edição se consolida a ampliação da abrangência dessa iniciativa. Em 2010, a Expo Farmácia aconteceu no mês de julho, no Expo Center Norte, em São Paulo, com a presença das principais empresas produtoras e distribuidoras de produtos farmacêuticos, cosméticos e outros produtos para a saúde, insumos, equipamentos e inúmeros outros fornecedores de produtos e serviços para esse segmento. Também marcaram presença entidades profissionais e setoriais, inclusive a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que promoveu atividades específicas. A programação do evento contou com uma completa grade de atividades, sendo 6 mesas-redondas, 9 palestras e 17 cursos, compostos e ministrados por renomados palestrantes e com assuntos de relevante interesse para os profissionais e estudantes de Farmácia. As áreas temáticas abordadas nas atividades foram: Assistência Farmacêutica, Garantia da Qualidade, Gestão em Farmácias e Drogarias, Farmácia Clínica/Atenção Farmacêutica, Gestão em Farmácia Hospitalar, Farmacologia/Toxicologia/Farmacoterapia, Farmácia Magistral e Serviços Farmacêuticos, com atividades ocorrendo simultaneamente no Expo Center Norte e na sede do Instituto Racine, organizador do congresso. 11 27.08.10 13:46:43 12 Ocorreram 25 eventos integrados à 20ª Expo Farmácia, entre eles, a 20ª Semana Racine, que também visa reforçar a necessidade de estimular a produção científica a serviço da sociedade. Neste ano, por exemplo, houve a apresentação de pôsteres, trabalhos originais relacionados à prática farmacêutica nos âmbitos da farmácia comunitária (drogarias, farmácias com manipulação e farmácias populares), logística, farmácia hospitalar e assistência farmacêutica dos estados e municípios, classificados em duas categorias distintas: trabalhos acadêmicos (graduação e pós-graduação) e trabalhos profissionais. Houve mais de uma centena de trabalhos inscritos, dos quais 87 deles foram selecionados nas seguintes modalidades: Assistência Farmacêutica, Educação Farmacêutica, Farmacotécnica, Farmacovigilância, Gestão Farmacêutica, Seguimento Farmacoterapêutico, Farmácia Hospitalar e outros. Um dos destaques deste ano foi o estande da Farmácia Integrada, um espaço projetado para apresentar um conceito de farmácia que oferece produtos e serviços integrados de modo a atender às necessidades de saúde dos usuários de medicamentos, produtos para a saúde e serviços farmacêuticos. Esse conceito de farmácia vem sendo incentivado pelo Grupo Racine há mais de dez anos, com o propósito de inspirar os profissionais, proprietários ou farmacêuticos de farmácias 10186 ChymiOn 8-2010.indd 12 e drogarias a projetarem sua atuação para além de um espaço que apenas adquire, armazena e vende medicamento. A intenção é que esses locais transformem-se em empresas com um mix de produtos, porém com foco em saúde, mantendo alto valor e relevância para o público que atende. Na Farmácia Integrada houve também atendimento a pacientes sob a tutoria de professores e de profissionais farmacêuticos do Curso de Especialização Profissionalizante em Atenção Farmacêutica (Formação em Farmácia Clínica), do Instituto Racine. Os tutores farmacêuticos que acompanharam a atividade compõem o Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia José Ermírio de Moraes (IPGG), da Secretaria de Estado da Saúde do Governo do Estado de São Paulo. Lá eles desenvolvem o Serviço de Acompanhamento Farmacoterapêutico, o que garante a continuidade da assistência após a atividade do atendimento na Farmácia Integrada. Gestão de qualidade e segurança do paciente Outra atividade acompanhada pela equipe de reportagem da Revista Chymion foi a palestra sobre análise de risco, gestão de qualidade e segurança do paciente em serviço de saúde, ministrada pela profa. Bruna Malagoli, farmacêutica do Departamento de Qualidade da Santa Casa de São Paulo. Ela iniciou sua apresentação comparando situações de risco, como voar de avião ou esportes radicais, a uma hospitalização. “A hospitalização é a atividade mais perigosa e representa 15 mil óbitos por ano”, diz. As atividades usadas a título de exemplo envolvem menos pessoas se comparadas com as internações, ainda assim, o risco é bem significativo, principalmente em se tratando da qualidade da saúde e da segurança do paciente. Nesse contexto, a enfermeira britânica Florence Nightingale, especializada no cuidado com pacientes feridos na guerra, passou a investigar os riscos hospitalares (século XVII). Ela observou as características desencadeantes e passou a evitá-las e a preveni-las. “Pasmem, mas a principal delas era a falta de condutas de higiene básicas, como lavar corretamente as mãos”, conta Bruna. Dados da Organização Mundial da Saúde de 2007 apontam que uma em cada dez pessoas que necessitam de cuidados de saúde sofrerá agravos decorrentes de erros humanos. Um em cada dez pacientes internados em hospitais europeus sofre danos evitáveis e efeitos adversos decorrentes dos cuidados recebidos. “Os erros dos cozinheiros se cobrem com salsa, dos arquitetos, com flores, e dos médicos, com terra” (dito popular). Por isso, Bruna ressalta a importância de 27.08.10 13:46:44 prevenir erros nas instituições que cuidam da saúde. São registrados 2.715.480 eventos adversos por medicamentos ao ano nos hospitais brasileiros. “Errar é humano, todos estamos fadados a cometer um lapso, porém quando lidamos com vidas, eles podem ser fatais”, lembra a professora. Além do custo emocional, os erros causam um impacto econômico ao sistema de saúde. Uma forma de prevenir problemas dessa magnitude é estabelecer estratégias que visem à segurança do paciente. Isso pode ser atingido por meio das boas práticas em saúde: conhecer, aplicar e gerenciar para alcançar os melhores resultados para o paciente. “Existem diversos métodos para se trabalhar na gestão da qualidade e da segurança, e uma delas é a implantação de normas, como as da Organização Nacional de Acreditação (ONA)”, ensina Bruna. A qualidade em saúde representa a segurança do paciente, reduzindo-se os riscos a zero. Num processo de acreditação é preciso seguir rigorosamente os critérios estabelecidos, e a vigilância é constante, tanto entre os próprios membros da equipe quanto por profissionais externos. A qualidade impacta na cultura, no comportamento, no planejamento e na atuação da administração de uma instituição. A prevenção de erros também é possível com o sistema PDCA: planejar, fazer, checar e agir. Em uma farmácia hospitalar 10186 ChymiOn 8-2010.indd 13 Existem diversos métodos para se trabalhar na gestão da qualidade e da segurança, e uma delas é a implantação de normas, como as da Organização Nacional de Acreditação (ONA). A qualidade em saúde representa a segurança do paciente, reduzindo-se os riscos a zero ou de clínica oncológica, por exemplo, o farmacêutico responsável deve planejar seu trabalho, colocá-lo em prática (sozinho ou com os outros funcionários), verificar se sua mensagem foi transmitida corretamente, e agir tão logo noticie um problema ou a iminência dele. Bruna indica também a elaboração de um manual de procedimentos. Ele deve conter o mapeamento dos processos e os objetivos daquela instituição. “Se uma pessoa trabalha com dispensação de medicamentos, é preciso estabelecer o objetivo máximo dessa função para que o funcio- nário aja de acordo com o desejado”, conclui Bruna. Leituras recomendadas Anacleto TA, UFMG, 2003. Erros com injetáveis são frequentes. Disponível em: <http://www. amfar.com.br/apresenta/erros_dispensacao_ adminstracao_Simposio_CRFMG_2008. pdf>. Acessado em: 20/7/2010. Harada MA, Pedreira M, Pereira S. O Erro Humano e a Segurança do Paciente. São Paulo: Atheneu, 2006. Johnson JA, Bootman JL. Drug-related morbidity and mortality and the economic impact of pharmaceutical care. Am J Health Syst Pharm. 1997;54(5):554-8. Sikri S, Sansgiry S, Sanborn M, Flinn M. Effect of a remote order scanning system on processing medication orders. Am J Health Syst Pharm. 2006;63:1438-41. 13 27.08.10 13:46:44 Brasileiros participam de encontro e conhecem a Ebewe Pharma, em Unterach Em junho último foi promovido o 17th International Oncology Meeting, em Salzburg, na Áustria. Trata-se de um evento realizado anualmente pela Ebewe Pharma, um dos maiores produtores europeus de medicamentos antineoplásicos, e que teve continuidade após sua fusão com a Sandoz O encontro também foi uma oportunidade para que alguns médicos brasileiros visitassem o site da Ebewe, na Áustria que fica em Unterach, na região do lago Attersee. São eles: Milton Rabinowits, diretor médico dos Oncologistas Associados, Rio de Janeiro, RJ; Luciano Biela, diretor clínico do Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, PR; Orlando Sergio Ratto, diretor médico do Instituto Oncológico São Judas, São Carlos, SP; Francisco Wisintainer, diretor médico do Instituto DeVitta, Caxias do Sul, RS; Carlos Alexandre Cerny, Centro Paulista de Oncologia, São Paulo, SP; e Paula Alejandra Diaz Tapia, diretora de saúde do Hospital Nove de Julho e CCCâncer (Centro de Combate ao Câncer)/CPO, São Paulo, SP. Conversamos com Dr. Orlando Ratto, um dos médicos que participou desse comitê, e ele expressou suas opiniões sobre a viagem. Apesar da correria, valeu a pena! 14 10186 ChymiOn 8-2010.indd 14 Foi uma viagem muito rápida, pois nós saímos do Brasil em uma quarta-feira à noite e chegamos a Salzburg na quinta-feira após o almoço (fizemos escala em Munique, na Alemanha). Na sexta-feira, participamos do 17th International Oncology Meeting. Essa reunião científica, que eu até então desconhecia, é tradicional no cenário europeu. Seu formato envolve grupos de sete a dez médicos de países diferentes. Neste ano participaram médicos da Itália, da França, da Sérvia, da Áustria e do Brasil. A cada edição é proposto um tema, geralmente relacionado com as 27.08.10 13:46:44 Eu observei que não importa o país, as dificuldades e os desafios no tratamento do câncer são os mesmos. O que diferem são as abordagens, eventualmente, distintas, mas que conseguem resultados semelhantes principais pesquisas em andamento e que apresentem novidades. Como eu acabara de voltar do congresso promovido pela American Society of Clinical Oncology (ASCO), onde participaram 38 mil pessoas, pude comparar essa oportunidade diferenciada de discussão em um grupo menor. Acredito que a escolha do câncer de cólon metastático como tema principal desse evento foi muito bem feita, além da qualidade dos palestrantes selecionados. Todos eles são considerados expoentes nas diversas facetas do tratamento dessa neoplasia. Eu destacaria alguns, como Aimery De Gramont, da França, Eric Van Cutsen e Axel Grothey, da Clinica Mayo. O grupo foi composto por aproximadamente cem pessoas, o que proporcionou um ambiente mais adequado para interação. Foram abordados temas como tratamento e aspectos genéticos da doença. Lenz Heinz-Josef (University of Southern California Norris, Los Angeles) falou sobre os marcadores moleculares, e Bernard Nordingler (Hopital Amboise Pare, Cedex, França) trouxe suas casuísticas em hepatectomia, que é uma das maiores do mundo em câncer de cólon metastático. Eu observei que não importa o país, as dificuldades e os desafios no tratamento do câncer são os mesmos. O que diferem são as abordagens, eventualmente, distintas, mas que conseguem resultados semelhantes. No sábado, nós fomos à fábrica da Ebewe Pharma (Sandoz), em Unterach, Áustria. É um prédio relativamente pequeno se pensarmos em uma fábrica, com apenas três andares, porém isso se deve ao alto nível de automatização dos equipamentos (todos muito sofisticados), desde a matéria-prima à embalagem. Esse processo exige mais fiscais do que operários, que garantem o bom funcionamento das máquinas e dos processos. Eu já estive em fábricas farmacêuticas nos Estado Unidos, na França e na Irlanda, mas a da Sandoz foi a que mais me impressionou. Essa visita elevou minha confiança em prescrever produtos Sandoz, pois pude verificar pessoalmente a seriedade e a qualidade em todos os processos de produção. 10186 ChymiOn 8-2010.indd 15 Orlando Ratto Oncologista clínico, diretor médico do Instituto Oncológico São Judas, São Carlos (SP) 15 27.08.10 13:46:44 Luci Ishii Médica especialista em Clínica Médica e Cancerologia CRM 5531 Associação Brasiliense de Apoio ao Paciente com Câncer (ABAC-LUZ) Solidariedade e acolhimento U 16 10186 ChymiOn 8-2010.indd 16 ma paciente terminal de câncer de mama, Sra. Magdahil Carvalho de Noronha, identificou as necessidades dos pacientes adultos carentes portadores de câncer e idealizou uma associação que pudesse atender a essa comunidade em Brasília. Com ajuda de amigos, pacientes e familiares, em 6/6/1998, há 12 anos, foi fundada a Associação Brasiliense de Apoio ao Paciente com Câncer (ABAC-LUZ) pela Dra. Luci Ishii, oncologista da paciente. Com recursos escassos, a associação iniciou suas atividades apenas com palestras sobre prevenção e diagnósticos precoces do câncer, enfatizando que a curabilidade está diretamente relacionada com o diagnóstico e o tratamento na fase inicial. Com o número crescente de associados voluntários e o aumento dos recursos financeiros, obtidos por meio de ações beneficentes, a ABAC-LUZ ampliou suas atividades de apoio. Iniciou-se um trabalho com os pacientes da rede pública com a ajuda de psicólogos voluntários. Advogados voluntários na ABAC-LUZ iniciaram em 1998 a informação jurídica, conscientizando os direitos dos pacientes portadores de câncer. Coletando livros na comunidade, fez-se uma pequena biblioteca com livros de autoajuda e outros assuntos. Para melhorar a autoestima dos pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), foi criado “o dia da beleza”, no qual eles são levados a cabeleireiros, manicures e maquiadores voluntários nas áreas de tratamento dos hospitais públicos. Nesse dia, 27.08.10 13:46:45 são distribuídos lenços, bonés, chapéus e perucas, e ele sempre termina com uma pequena festinha em que são distribuídos pequenos kits com escova de dentes, creme dental, sabonete, desodorante, cremes para a pele, xampus, condicionadores etc. Com as doações de cabelos cortados em salões de beleza e a fabricação de perucas, montou-se um banco de empréstimo de perucas, sendo devolvidas após o crescimento dos cabelos e reemprestadas a outros. Hoje a ABAC-LUZ tem mais de 450 perucas de todas as cores, até mesmo grisalhas. A campanha de coleta de lenços, bonés, chapéus e echarpes é constante, pois a demanda é grande. Atualmente a ABAC-LUZ também oferece empréstimos de produtos hospitalares como nebulizadores, aspiradores de secreção, umidificadores, muletas, andadores, cadeiras de banho, cadeiras de rodas e camas hospitalares. Um número limitado de famílias obtém cestas básicas, e pacientes cadastrados recebem complementos alimentares para sonda nasoenteral, que são muito onerosos. Existe um programa de arteterapia com aulas semanais de artesanato na sede, nas quais são produzidos artigos para os bazares. Todo ano a ABAC-LUZ realiza uma festa beneficente, um jantar dançante chamado “Festa dos Corações”. Neste ano, em 1/10/2010, será realizada a nona edição. Com os recursos guardados de seis anos de baile, um ônibus foi reformado e transformado em uma unidade móvel com três consultórios ginecológicos completos, até mesmo com colposcópio, luz, água e ar-condicionado. Uma vez por mês, num fim de semana, é realizado um mutirão de exames preventivos de ginecologia e câncer de mama. Para ampliar os trabalhos, foi feita uma parceria com a Secretaria de Saúde, que proporcionou a utilização de um posto de saúde (no sábado), ampliando a possibilidade de atender a um número maior de exames preventivos. Entre médicos, enfermeiros, técnicas de enfermagem, auxiliares de cadastro e equipe de organização, são mais de cinquenta voluntários. Muitos são pacientes, ex-pacientes e familiares. Os exames de Papanicoloau são encaminhados para a Secretaria de Saúde, mas todos os outros exames, como ecografias, mamografias e biópsias são pagos pela ABAC-LUZ, com recursos da renda do baile beneficente. Em um ano, foram atendidos mais de 2 mil pacientes, 10186 ChymiOn 8-2010.indd 17 Membros da equipe da ABAC-LUZ durante suas atividades de apoio ao paciente. muitos diagnósticos de câncer foram feitos. Nesses casos, todos os exames de estadiamento e pré-operatório são pagos pela ABAC-LUZ e encaminhados para o SUS para realização do tratamento. A ABAC-LUZ tem um calendário anual recheado de palestras sobre prevenção e detecção precoce em locais públicos como parques, feiras, shoppings e empresas públicas e privadas. Nesses eventos, distribuem-se fôlderes que ajudam a comunidade a vencer o medo de se prevenir. A associação participou da organização do I Fórum de Cidadania em Cancerologia junto à Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), ao Núcleo de Apoio ao Paciente com Câncer (Napacan) e a outras entidades em 18/10/2000, onde foi escrita “a carta de Brasília” com todas as necessidades atuais para a melhoria do atendimento do paciente carente com câncer. Hoje a ABAC-LUZ também representa a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) em Brasília junto à Rede Feminina de Combate ao Câncer. Os sonhos não acabam, e um novo projeto foi idealizado: o “Projeto Acolhe”. Será construída uma grande área de lazer, com aulas profissionalizantes, refeitório com distribuição de refeição o dia inteiro e uma creche para cuidar dos filhos dos pacientes carentes em tratamento com vários projetos pedagógicos. Assim como o projeto dos ônibus, a semente foi lançada. Toda caminhada começa com um primeiro passo, e isso nos torna otimistas. A ABAC-LUZ é presidida pela Dra. Luci Ishii, que também é presidente do Instituto Luci Ishii de Oncologia. Associação Brasiliense de Apoio ao Paciente com Câncer (ABAC-LUZ) Setor Comercial Sul, quadra I, bloco M, salas: 5 a 8, Ed. Gilberto Salomão Bairro Asa Sul, Brasília, CEP 70305-900 Telefones: (61) 3343-2412 e (61) 3343-0321 www.abacluz.org.br 17 27.08.10 13:46:45 Em busca de tratamento justo Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) luta pela inclusão de novas tecnologias, revisão da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) e acesso globalizado aos tratamentos O Brasil dedica 3% de seu produto interno bruto (PIB) à saúde. A tabela de valo- res de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) está congelada há doze anos. Nesse ínterim, foram incontáveis os avanços em fármacos e em tecnologia médica. Isso representa custos diferenciados e mais altos, que, por sua vez, não foram acompanhados pelas fontes financiadoras da saúde. A oncologia é uma das especialidades cujos procedimen- tos dispendiosos e complexos mais dificultam o acompanhamento da evolução. A Revista Chymion conversou com o Dr. Enaldo Melo de Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), sobre essas dificuldades e também sobre os desafios vencidos em sua gestão (2009-2011). A SBOC, que atualmente conta com 950 associados (representa 80% dos oncologistas do Brasil), já está organizando o Congresso Brasileiro de Oncologia, 18 que será em outubro de 2011, em Gramado (RS). Acompanhe agora os detalhes. 10186 ChymiOn 8-2010.indd 18 Chymion – Quais foram os principais desafios que o senhor encontrou ao assumir a presidência da SBOC, em 2009? Enaldo Melo de Lima – Acredito que tenha sido principalmente a organização da defesa profissional. Atualmente os oncologistas têm enfrentado cada vez mais dificuldade no atendimento ao paciente oncológico, tanto no SUS quanto no âmbito da medicina suplementar. No SUS isso ocorre em função da tabela de procedimentos, que está totalmente desatualizada (desde 1998). Com isso não conseguimos proporcionar os tratamentos adequados. Mesmo aqueles tratamentos já bem estabelecidos e mais antigos ficam difíceis de executar em função dos preços da tabela vigente. As tabelas a seguir ilustram alguns desses valores. A tabela proposta pelo SUS é tão ruim que nem inclui os médicos. Eles não são remunerados pelo atendimento dentro dela. O que existe é a livre negociação com os hospitais. Faz seis anos que os valores estão em negociação, mas os gestores sempre encontram um motivo para protelar as 27.08.10 13:46:45 A SBOC está negociando a tabela com o SUS e esperamos que nas próximas semanas tenhamos novidades sobre o reajuste que já foi discutido centenas de vezes. É possível que haja melhorias a curto prazo negociações. Essa defasagem não é específica para a oncologia, as outras especialidades também sofrem com os valores baixos. As tabelas do SUS são completamente defasadas tanto em termos de tecnologia de indicações quanto sob o aspecto financeiro. O retorno dos convênios médicos também é muito ruim. Hoje o cerceamento e o atendimento são cada vez maiores por parte dos convênios, e os oncologistas também não conseguem aplicar as novas tecnologias e os tratamentos mais adequados em boa parte dos pacientes. Em algumas ocasiões, é melhor que o paciente seja tratado pelo SUS do que pelo convênio. Atualmente está muito difícil se fazer um tratamento complexo na medicina suplementar, seja por convênios, seguro-saúde ou nas próprias cooperativas médicas. Chymion – E quais foram as providências tomadas? Enaldo Melo de Lima – A SBOC está negociando a tabela com o SUS e esperamos que nas próximas semanas tenhamos novidades sobre o reajuste que já foi discutido centenas de vezes. É possível que haja melhorias a curto prazo. Com os convênios, a SBOC não pode interferir, já que é basicamente uma relação comercial, mas podemos auxiliar com a discussão técnica. Chymion – Quais são os projetos que estão em andamento em sua gestão? Enaldo Melo de Lima – Temos uma ampla estrutura de ensino que já vem de outras gestões, como a biblioteca 10186 ChymiOn 8-2010.indd 19 Enaldo Melo de Lima virtual, composta por revistas e periódicos disponíveis aos associados. Agora nós incrementamos com a livraria virtual, que possui uma série de livros também disponibilizados ao associado. Em termos de educação médica continuada, temos a reunião da telemedicina, realizada todas as terças-feiras, em São Paulo. Ela é transmitida por antena e pela internet, assim o médico não precisa necessariamente ter o ponto de antena para acompanhar. São reuniões semanais distribuídas ao longo de três anos, e os módulos versam sobre biologia tumoral. Participam profissionais de todo o Brasil. Nós também temos um departamento jurídico que foi criado no fim do ano passado, mediante todas essas questões de defesa profissional, e que funciona em período integral. Há cerca de dois meses nós criamos um departamento de pesquisa e bioestatística em que o profissional responsável trabalha dentro da SBOC para atender ao associado. Ele fornece orientações em pesquisa, estudo clínico, dicas para o oncologista sobre como deve ser o trabalho, por exemplo, sobre o parâmetro estatístico, o desenho, e o delineamento do estudo. Em breve teremos também um curso virtual sobre capacitação clínica, com quatro módulos. Chymion – Existem projetos em prol da população? Enaldo Melo de Lima – Atualmente estamos desenvolvendo uma nova cartilha para o paciente oncológico. Nós já temos uma, que está na segunda edição, elaborada pela 19 27.08.10 13:46:45 advogada Maria Cecília Mazzariol (conhecida como Dra. Chymion – Quais são os tipos de câncer mais incidentes no Brasil? Mariinha), de Campinas. Mas a Dra. Lucia Freitas, de nosso departamento jurídico, está coordenando uma re- Enaldo Melo de Lima – O primeiro mais incidente tanto em homem quanto em mulher é o câncer de pele, porém com baixo índice de letalidade. É uma neoplasia curável visão. A cartilha contém todas as leis e os direitos do paciente oncológico e é disponibilizada on-line. Tabela 1. Ovário DESCRIÇÃO QT CID At. Prof. Valor SP valor outros valor total 0304020273 Quimioterapia de Neoplasia Malígna Epitelial de Ovário ou Tuba Uterina estádio IV ou recidiva) – 1ª Linha PAL. C56, C57.0 32 11,50 560,00 571,50 0304020281 Quimioterapia de Neoplasia Malígna Epitelial de Ovário ou da Tuba Uterina – estádio IV ou recidiva - 2ª Linha PAL. C56, C57.0 32 17,00 2.230,78 2.247,78 0304040142 Quimioterapia de Neoplasia Maligna Epitelial de Ovário ou da Tuba Uterina em estádios III ou IV - 1ª Linha PREV. C56, C57.0 32 17,00 2.361,90 2.378,90 0304040134 Quimioterapia de Neoplasia Maligna Epitelial de Ovário ou da Tuba Uterina em estádios III ou IV – 2ª Linha PREV. C56, C57.0 32 17,00 2.230,78 2.247,78 0304050202 Quimioterapia de Neoplasia Maligna Epitelial de Ovário ou da Tuba Uterina em estádios IA e IB com grau G3 ou G4/ estádio Ic ou II/ estádio III ou estádio IV sem doença residual – pós-operatória ADJ. C56, C57.0 32 15,75 1.046,90 1.062,65 0304060160 Quimioterapia de tumor Germinativo de ovário em estádios de II até IV CUR. C56 32 15,75 1.046,90 1.062,65 Procedimento Tabela 2. Pâncreas Procedimento 0304020052 DESCRIÇÃO Quimioterapia do Adenocarcinoma de Pâncreas – estádios de II até IV QT CID At. Prof. Valor SP valor outros valor total PAL. C25.0, C25.1, C25.2, C25.3, C25.4, C25.7, C25.8, C25.9 32 15,75 1.970,25 1.986,00 QT CID At. Prof. Valor SP valor outros valor total PREV. C67.0, C67.1, C67.2, C67.3, C67.4, C67.5, C67.6, C67.7, C67.8, C67.9 32 11,50 560,00 571,50 Tabela 3. Bexiga – CID C67 Procedimento 0304040070 20 10186 ChymiOn 8-2010.indd 20 DESCRIÇÃO Quimioterapia do Carcinoma de Bexiga em estádios II até IV sem metástase a distância 27.08.10 13:46:45 cirurgicamente com um procedimento simples. Nas mulheres, o mais importante é o câncer de mama, e nos homens é o câncer de próstata. Chymion – Qual deles constitui o maior desafio em termos de tratamento. Por quê? Enaldo Melo de Lima – Na mulher é o câncer de mama em função da alta incidência. Existem muitas tecnologias novas para câncer de mama, mas não é possível aplicá-las em boa parte dos casos. Por exemplo, são publicados anualmente muitos estudos sobre o tema, e com isso, teoricamente, novas possibilidades de tratamento. No Brasil nós também enfrentamos muita dificuldade para incluir as pacientes em uma pesquisa clínica, o que ajudaria a aumentar a curabilidade e a sobrevivência dessas mulheres. Isso sempre ocorre em função do custo. A oncologia é uma especialidade muito cara para todo sistema de saúde, e as novidades deixam-na ainda mais onerosa. Mas essa realidade não é exclusividade do Brasil. Os Estados Unidos também não estão conseguindo absorver as novidades em função do alto valor. Chymion – Nós temos pesquisas e temos tecnologia, mas não podemos usufruir. Aonde chegamos? Enaldo Melo de Lima – Isso gera uma discriminação muito grande de pacientes; alguns são bem tratados, e outros recebem subtratamento. Quem tem recursos paga pelo tratamento ou por um convênio que ofereça as condições adequadas. Esse tipo de cenário é frequente no Brasil. A situação do SUS hoje é a mais gritante, pois o paciente nesse âmbito tem uma dificuldade de acesso primária, como aos exames básicos que permitiriam diagnósticos mais precoces. O SUS é responsável por 80% dos tratamentos oncológicos no Brasil, e os pacientes já chegam à rede referenciada num estágio bem avançado. Esses diagnósticos tardios prejudicam significativamente a chance de curabilidade e restringem a sobrevivência a longo termo. E o governo manipula os números. Para se ter ideia, 80 mil pacientes no Brasil com indicação de radioterapia não recebem por falta de equipamento. Eles acabam 10186 ChymiOn 8-2010.indd 21 partindo para quimioterapia, tratamentos sistêmicos paliativos. Quando essa pessoa consegue o tratamento adequado, a intenção já não será a cura, em função do progresso da doença. Chymion – O que o senhor destaca para os avanços nas terapias contra o câncer? Enaldo Melo de Lima – Na última década eu destaco novos medicamentos, como imatinibe, uma droga revolucionária em leucemia mieloide crônica e em GIST [gastrointestinal stromal tumor]. Anticorpos monoclonais como transtuzumabe agem positivamente no câncer de mama, e o rituximabe é uma boa opção no linfoma não Hodking. Para o tratamento sistêmico, estes são tratamentos de grande impacto tanto em termos de curabilidade quanto de aumento de qualidade de vida e sobrevivência dos pacientes. Chymion – E o que esperar do futuro dessa especialidade? O senhor acredita na cura ou na prevenção do câncer (levando em conta o estudo genômico, por exemplo)? Enaldo Melo de Lima – Nós já temos uma taxa de cura razoável. Para se ter ideia, em grandes centros de tratamento nos Estados Unidos, a taxa de cura ultrapassa 50% em tumores de adultos e 75% para tumores pediátricos. Não temos dados específicos para o Brasil sobre a cura, pois não há controle de indicadores, mas sabemos que mesmo com todas as dificuldades temos um índice de cura e controle a longo termo aceitável. Acredito que o estudo genômico represente o futuro da oncologia. A quimioterapia terá um limite que ela poderá atingir, então precisaremos estudar a genômica para fazermos a customização do tratamento para cada paciente (medicina individualizada). As assinaturas genéticas do tumor serão importantíssimas para o delineamento do tratamento específico de cada um desses pacientes. Isso já é realidade em alguns tipos de tumores. Essas drogas que eu citei como progressos na oncologia são específicas para cada tipo de tumor, o paciente precisa ter alterações genéticas para recebê-las. 21 27.08.10 13:46:45