UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ DIMITRI FIUZA LIMA MASCARENHAS PASSOS Trabalho de Iniciação Científica A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO DE PRÉEXPORTAÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS PMES: UMA VISÃO A PARTIR DO MODELO DE UPPSALA ITAJAÍ 2014 DIMITRI FIUZA LIMA MASCARENHAS PASSOS Trabalho de Iniciação Científica A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO DE PRÉEXPORTAÇÃO NAINTERNACIONALIZAÇÃO DAS PMES:UMA VISÃO A PARTIR DO MODELO DE UPPSALA Trabalho de Iniciação Científica desenvolvido para o Estágio Supervisionado do Curso de COMÉRCIO EXTERIOR do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora:Profª MSc. Breitenbauch de Moura ITAJAÍ 2014 Graziela Agradeço à minha família por estar sempre presente a meu lado. Agradeço especialmente à minha mãe Maria Tereza por além de me acompanhar, ter me ajudado neste trabalho. Agradeço a minha amada Suzana pela amor, apoio e estímulo. “Não desejo suscitar convicções, o que desejo é estimular o pensamento e derrubar preconceitos” (Sigmund Freud). EQUIPE TÉCNICA a) Nome do estagiário Dimitri Fiuza Lima Mascarenhas Passos b) Área de estágio Marketing Internacional c) Orientadora de conteúdo Profª MSc. Graziela Breitenbauch de Moura d) Responsável pelo Estágio Profª Msc.Natalí Nascimento RESUMO O interesse por se internacionalizar é um desejo que apresenta-se cada vez mais nos empresários, em especial nas Micro e Pequenas empresas (PMEs). O estudo da internacionalização de empresas é um campo que desenvolve-se desde a metade do sec. XX especialmente a partir das décadas de 60 e 70. Contudo, pouco se discutiu no Brasil sobre o que acontece anteriormente à internacionalização. A partir dos estudos dos escandinavos a internacionalização e a fase de préexportação passam a ser analisados como um movimento comportamental da empresa. O modelo de Uppsala enquadra-se bem ao modo de comportamento das PMEs por concentrar sua observação nos tomadores de decisão. Baseado neste contexto, este trabalho buscou estudar o modelo de Uppsala e a fase da pré-exportação, e sua importância em descrever o movimento de partida das PMEs para a internacionalização. A escolha do Modelo de Uppsala deu-se pelo mesmo ser considerado o precursor dos estudos de internacionalização destas empresas. O trabalho buscou também identificar quais são as atividades de pré-exportação. Em um segundo momento, procurou sinterizar a relevância econômica das PMEs e descrever a importância do modelo para elas. O método de pesquisa do presente trabalho foi o qualitativo, eo material utilizado foi documental e bibliográfico, como livros, revistas científicas, dissertações de mestrado e teses de doutorado além de sites. Aplicou-se também uma entrevista a um microepresário/tomador de decisão de uma empresa na cidade de Itajaí-SC. Palavras-chave: Internacionalização. Modelo de Uppsala. Pré-exportação. PMEs. TABELAS, QUADROS E FIGURAS Tabela 1 – Exportação por porte de empresa segundo SECEX com dados de 2012................................................................................................................... 13 Quadro 1 –Estímulos externos e internos......................................................... 22 Figura 1- Modelo de Uppsala reestruturado.................................................... 25 Quadro 2 – Porte de empresas segundo SEBRAE............................................. 26 Quadro 3 – Porte da empresa segundo Comissão Européia.............................. 27 8 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9 1.1 Objetivo geral ................................................................................................. 10 1.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 10 1.3 Justificativada realização do estudo ............................................................... 10 1.4 Aspectos metodológicos ................................................................................. 11 1.5 Técnicas de coleta e análise dos dados ......................................................... 12 2 INTERNACIONALIZAÇÃO ................................................................................. 13 2.1 O Modelo de Internacionalização de Uppsala ................................................ 13 2.2 O Modelo de Uppsala revisitado - Networks................................................... 15 3 A FASE DE PRÉ-EXPORTAÇÃO ..................................................................... 18 3.1 Características dos tomadores de decisão ..................................................... 18 3.2 Ambiente externo da empresa ........................................................................ 19 3.3 Ambiente interno da empresa ......................................................................... 20 3.4 Fatores suscitadores de atenção .................................................................... 21 3.5 Aprendizado e desaprendizado ...................................................................... 23 3.6 Prontidão para se internacionalizar ................................................................ 24 4 A IMPORTÂNCIA DAS PMEs ............................................................................ 26 4.1 Definição de PMEs ......................................................................................... 26 4.2 A participação das PMEs na economia .......................................................... 27 4.3 O envolvimento das PMEs nas exportações .................................................. 28 5 A Pesquisa ......................................................................................................... 30 6 Considerações Finais ......................................................................................... 33 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35 ANEXOS ................................................................................................................... 38 ANEXO A –Questões da Entrevista .......................................................................... 39 ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS ...................................................................... 40 9 1 INTRODUÇÃO A entrada no mercado externo, seja pelo motivo de buscar novas tecnologias, crescimento e posteriormente melhores lucros, ou fugir de uma economia local estagnada, é um dos desejos de muitos empresários. Consequentemente, a internacionalização das empresas é um assunto bastante discutido e pesquisado na academia. Para explicar a internacionalização há várias teorias que modelam o processo. Contudo, pouco se discute sobre o que acontece anteriormente à fase da internacionalização, ou seja, a fase da pré-exportação. O trabalho seminal de pesquisadores suecos na década de 70 foi de fundamental importância para o desenvolvimento do campo de estudo da internacionalização, e passou a formar o que acabou sendo conhecido como a Escola de Uppsala e mais tarde como a Escola Nórdica (JOHANSON; VAHLNE, 1977). A parte intessante proposta pelos escandinavos, é que a internacionalização passa a ser estudada como um movimento comportamental e não apenas como um movimento puramente econômico. Este trabalho busca compreender os estudos da escola nórdica, a fase de pré-exportanção segundo os moldes de Uppsala e por fim aplicar estes conceitos às Micro e Pequenas empresas (PMEs). Busca-se entender o modelo aplicado às PMEs por serem elas os grandes motores da economia dos países desenvolvidos, e terem crescido em relevância no Brasil como grandes geradores de emprego e renda. O trabalho está dividido em seis capítulos. No primeiro estabelece-se a introdução, metodologia justificativa e objetivos.No segundo capítulo discute-se o modelo original de internacionalização de Uppsala e sua posterior reanálise por seus próprios autores aproximadamente trinta anos depois. No terceiro capítulo encontram-se as dicussões sobre a fase de pré-exportação, as características dos tomadores de decisão, o ambiente externo e interno da empresa, os fatores suscitadores de atenção, o aprendizado/desaprendizado e a prontidão para se internacionalizar. No quarto capítulo aborda-se de forma sucinta a importância das PMEs na economia brasileira e européia. No quinto capítulo apresenta-se uma entrevista realizada com o tomador de decisões de uma microempresa itajaiense, buscando encontrar na prática os reflexos dos conceitos elaborados pelos autores 10 estudados no decorrer do trabalho. Por fim, no capítulo seis encontram-se as considerações finais do acadêmico. 1.1 Objetivo geral Estudar a importância do modelo de Uppsala na fase da pré-exportação na internacionalização das PMEs. 1.2 Objetivos específicos Apresentar o modelo de Uppsala. Identificar as atividades de pré-exportação. Sintetizar a relevância econômica das PMEs. 1.3 Justificativada realização do estudo Este estudo é interessante para o acadêmico por ser uma análise teórica de um processo que vem acontecendo há muito tempo em um mundo que vem se globalizando gradativamente com a internacionalização. A análise comportamental proposta inicialmente pelos nórdicos é extremamente atraente para o acadêmico por mostrar uma visão mais humanizada das relações, mesmo as relações comerciais que tendem a ser mais agressivas por serem direcionadas pela expectativa de lucro. O acadêmico considera oportuno o momento do estudo, pois acredita que força econômica das PMEs é crescente e o número das mesmas é altamente representativo no Brasil. Existem estudos sobre internacionalização no acervo da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), porém, não especificamente na parte teórica da pré-exportação. 11 O estudo é viável graças ao acesso que a UNIVALI oferece, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES), a um banco de dados de contendo revistas científicas nacionais e internacionais que servem como a fonte principal deste estudo. O acadêmico considera importante destacar que o presente estudo é um estudo de comportamento das empresas. Espera-se, com a conclusão deste trabalho, contribuir com um recurso introdutório para aqueles interessados em ingressar nos negócios internacionais. Anseia-se também que com este material as PMEs atraídas para o comércio exterior possam dar seus primeiros passos em seus estudos sobre internacionalização. 1.4 Aspectos metodológicos Esta pesquisa tem um enfoque eminentemente qualitativo, buscando uma relação entre a realidade observada e as interpretações dos sujeitos envolvidos. Fenômenos de caráter qualitativo precisam ser captados e analisados qualitativamente, portanto a pesquisa deve ser um diálogo crítico com realidade. Importante para isso é se perceber que o dado qualitativo é um dado construído e não somente colhido (DEMO, 2001). O meios de pesquisa é bibliográfico, principalmente, ao colher informações já anteriormente compiladas e publicadas em artigos científicos, pois “ A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudos [...] (MARCONI e LAKATOS, p.185, 2007). Também há uma entrevista, fonte de dados primária, pois não houve análise anterior da mesma, constituindo-se assim de dados originais (MARCONI, LAKATOS, 2007). A pesquisa é exploratório-descritiva, pois busca expor as características de deteminado fenômeno e as relações entre suas variáveis. Procura ainda levantar experiências práticas de pessoas diretamente involvidas com o problema levantado a fim de torná-lo mais explícito. (GIL, 2002). 12 1.5 Técnicas de coleta e análise dos dados Foi utilizado o levantamento bibliográfico para realização do estudo. Foram pesquisados livros, artigos científicos de revistas especializadas, teses de doutorado, dissertações de mestrado e endereços eletrônicos. Os dados da pesquisa originaram-se principalmente de artigos científicos internacionais e nacionais disponibilizados através do site da blioteca da UNIVALI. Também foi aplicada uma entrevista (APÊNDICE A) em uma PME localizada na cidade de Itajaí-SC, que havia procurado a Trade Junior Assessoria e Consultoria em Comércio Exterior em busca de algum modelo de documento para a exportação. Foi elaborado um roteiro de questionário constituído de questões abertas. As respostas foram registradas em áudio e posteriormente relatadas no capítulo 5. 13 2 INTERNACIONALIZAÇÃO O que se chama de internacionalização pode ser visto como um processo no qual as empresas aumentam o seu envolvimento internacional de forma gradual (JOHANSON; VAHLNE, 1977). A internacionalização se dá de muitos modos, tais como estabelecimento de subsidiárias, joint ventures internacionais, acordos de licenciamento, comércio internacional e uma enorme variadade de eventos e ações (JOHANSON; VAHLNE, 1990). A definição de internacionalização não pode se restrigi rúnicamente às operações de comércio exterior ou investimento externo, pois excluiria a internacionalização “para dentro”, que inclui a importação, transferência de tecnología ou o licenciamento (MELSOHN, 2006). O escopo destre trabalho restringe-se a estudar o Modelo de Internacionalização de Uppsala. 2.1 O Modelo de Internacionalização de Uppsala Pesquisadores no Departamento de Estudos de Negócios de Uppsala em meados dos anos 70 fizeram observações empíricas que divergiam da literatura econômica da época. De acordo com a literatura estabelecida, as empresas deveriam escolher o melhor modo de entrar no mercado internacional analisando os custos e riscos e levando em conta os próprios recursos. Porém, observações empíricas realizadas por eles mostraram que algumas empresas suecas no exterior e algumas no próprio país começaram a sua internacionalização Ad Hoc (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Ou seja, não foram internacionalizações planejadas, entende-se que foram vendas realizadas a pedido dos compradores. Após estas vendas não solicitadas, as empresas passaram então a utilizar intermediários para realizar suas vendas e a partir do momento que as vendas aumentavam, os intermediários eram substituídos por agentes das próprias 14 empresas. Com o crescimento contínuo dos negócios, começavam a manufaturar no exterior a fim de evitar as barreiras comerciais. Deram a este padrão o nome de establishment chain (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Outro fator relevante é que a internacionalização frequentemente inciáva-se em países próximos do mercado doméstico em termos de “distância psíquica” e posteriormente partia para mercados mais longínquos (JOHANSON;VAHLNE, 2009). Compreende-se por distância psíquica o conjunto de fatores que faz com que seja difícil entender ambientes estrangeiros. Quanto mais conhecemos ambientes estrangeiros, gradualmente as empresas expandem-se (JOHANSON, WIEDERSHEIN-PAUL, 1975). Este processo tem origem no conceito de liability of foreignness, susceptibilidade ao estrangeirismo, em tradução livre. Liability of foreignness referese a que investidor somente parte ao exterior se o conjunto de vantagens que sua empresa possui for superior à susceptibilidade que enfrentará. O modelo tem duas presunções subjacentes.A incerteza do ambiente e a racionalidade limitada. A incerteza é autoexplicativa, e a racionalidade limitada é um conceito desenvolvido que diz que a tomada de decisões é limitada pelo conhecimento que se possui, pela capacidade cognitiva individual e pelo tempo finito que se dispõe para tomar uma decisão (SIMON, 1955). O modelo explica que a empresa muda à medida que vai aprendendo com as suas operações no mercado e com suas atividades do dia a dia, e também com as decisões de comprometimento para com o mercado estrangeiro. A experiência constrói o conjunto do conhecimento de mercado e modifica o entendimento que a empresa tem de si mesma, influenciando assim decisões subseqüentes. Isto leva as empresas a outro nível de comprometimento com a internacionalização, e o processo se repete, caracterizando um modelo dinâmico. (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Esta teoria não especifica, contudo, a forma pelo qual este aumento de comprometimento ocorre. Destaca, porém, que o compromentimento pode aumentar, diminuir, ou até mesmo encerrar-se de acordo com os resultados obtidos. Segundo os autores, a aprendizagem e o aumento do comprometimento levam tempo. 15 O Modelo de Uppsala tem sido descrito pela literatura subsequente como comportamental, comparado com outras teorias que tem visão econômica, de custo de transação, e o paradigma eclético (JOHANSON, VAHLNE, 2009). De acordo com Andersson e Gabrielsson (2004), apesar do modelo de Uppsala não explicar todas as atividades internacionais de uma uma empresa, ainda assim é considerado o trabalho inicial dos estudos teóricos de internacionalização de PMEs. 2.2 O Modelo de Uppsala revisitado - Networks No ano de 2009, Jan Johanson e Jan-Erik Vahlne reanalisam o modelo por eles anteriormente formulado, em vista das mudanças de mercado e do processo de internacionalização. Nesta nova visão, os autores relatam o ambiente de negócios como sendo uma rede interligada de relacionamentos, diferente da sua visão neoclassica de cadeia de fornecedores/compradores. A partir desta visão de teia de relacionamentos, não pertencer a uma determinada rede é a raiz da incerteza, ao invés da distância psíquica, como antes defendiam (JOHANSON, VAHLNE, 2009) O argumento central deste novo estudo está baseado na pesquisa de rede de negócios, e tem dois lados. O primeiro é que redes de negócios são teias intricadas de relacionamentos, em que uma empresa é ligada a várias outras por meio de conexões complexas que às vezes são invisíveis. O Insidership, que pode ser traduzido livremente como o estado de pertencer ou estar dentro de um determinado grupo, é um fator necessário para uma internacionalização bem sucedida. Seguindo o mesmo raciocínio a liability of outsidership, pode ser traduzido como susceptibilidade a não pertencer a determinado grupo, é o fator restritivo a uma internacionalização bem sucedida. O segundo lado, é que relacionamentos oferecem oportunidades de aprendizagem, de aumento de confiança e comprometimento entre as empresas, fatores que são pré-condições para a internacionalização (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Os autores consideram que relações de negócios próximas e duradouras entre fornecedores e compradores são importantes, sejam elas dentro do próprio 16 país ou entre países. No decorrer do processo as relações fracas podem se transformar em relações fortes e interdependentes, o que levaria posteriormente a um aumento de produtividade em conjunto. O desenvolvimento de relacionamentos é um processo bilateral que involve duas partes agindo interativamente e estabelecendo comprometimentos mútuos. Importante ressaltar que o originalmente o modelo de Uppsala não estava ciente da importância de comprometimentos mútuos para a internacionalização. Os relacionamentos são construídos socialmente e a natureza sutil e informal das relações faz com que seja impossível para quem não está vendo o processo de dentro julgar o quanto cada parte investiu para o estabelecimento de tal processo (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Sobre a aprendizagem e o conhecimento, os autores afirmam que a criação do conhecimento é o resultado do confronto entre o conhecimento do produtor e do usuário, e que o processo de criar conhecimento não é diferenciado das atividades normais de negócio e sim embutido nestas. Os autores acreditam ainda, que o conhecimento necessário para a internacionazalização inclui vários tipos de experiências e é provavelmente mais importante do que haviam assumido em 1977 (JOHANSON; VAHLEN, 2009). Outra parte relevante no modelo revisitado é a da confiança e construção do comprometimento, fatores que não estavam inclusos no modelo anterior explicitamente. Os autores agora acreditam que uma dimensão afetiva, emocional e de confiança deve estar explicitamente inclusa no modelo por representar um ingrediente importante para o desenvolvimento de novos conhecimentos. Confiança pode ser até mesmo um subsituto para o conhecimento, quando por exemplo, uma empresa confia a um intermediário o desenvolvimento de um negócio no exterior (JOHANSON; VAHLNE, 2009). O modelo de Uppsala tem sido considerado como um modelo de redução de risco, porém os autores assumem que risco é inevitável quando se parte rumo ao desconhecido. E ao enfrentar riscos, há um aprendizado experiencial. Para os autores, o comprometimento com um mercado afeta os riscos e oportunidades percebidos pela empresa. Em decorrência disto, o conhecimento de oportunidades e problemas é o que inicia o processo de tomada de decisão (JOHANSON;VAHLNE, 2009). O processo de desenvolvimento de oportunidades inclui elementos de criatividade e de observação. Segundo os autores, a pesquisa sobre oportunidades 17 é separada em dois estágios, reconhecimento e aproveitamento. O desenvolvimento das oportunidades é então, um processo gradual e sequencial de reconhecimento (aprendizado) e aproveitamento (comprometimento) e a confiança é um elemento facilitador. O processo de aproveitamento de uma oportunidade é bastante parecido com o processo de internacionalização (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Neste modelo revisitado, os autores apontam uma queda da validade das Established Chains. Esta “corrente” implicava que as empresas começavam a se internacionalizar por perto e iam se distanciando, além disso começavam usando modos de entrada menos comprometidos como intermediários até subsequentemente utilizavar modos de alto compromentimento, como subsidiárias. Importante destacar que mudanças no comportamento das empresas tem mais a ver com as mudanças no ambiente internacional do que com mudanças nos mecanismos de internacionalização. O modelo de networks também ajuda a explicar estes desvios da Establishment Chain. Os autores agora acreditam que diminuiu a relação entra a velocidade de entrada no mercado internacional e a distância psíquica. A internacionalização agora é descrita como sendo o resultado de ações e atitudes que vêm a fortalecer a posição da empresa na Network, protegendo e consolidando sua situação. Na versão anterior da Teoria os autores identificaram o fato que o aprendizado experiencial pode levar à identificação de oportunidades como importante, porém não deram muito valor a este fato. Assumiram que a redução da incerteza tinha a ver com a diminuiçãoda diferença cultural e da distância psíquica, porém, agora acreditam que aprendizado e comprometimento é que estão relacionados com identificar e tirar proveito de oportunidades. Alguns tipos de conhecimento não estão acessíveis a todos, e sim restritos aos que pertencem a alguma Network, portanto, um profundo comprometimento com seus parceiros permite que as empresas construam sua base de conhecimento e assim possam descobrir, identificar, criar e/ou aproveitar-se de oportunidades. Concluem os autores dizendo que internacionalização depende muito mais em desenvolver oportunidades do que reduzir as possíveis incertezas (JOHANSON; VAHLNE, 2009). . 18 3 A FASE DE PRÉ-EXPORTAÇÃO Pode-se definir de uma maneira genérica a pré-exportação como o conjunto de atividades exercidas pela empresa que levam-na a decidir internacionalizar-se ou não. É essencialmente uma fase de aprendizado. A fase de pré-exportação é de suma importância para que a internacionalização seja bem sucedida. Antes que se possa chegar efetivamente à exportação é necessário se dar atenção às ditas atividades e comportamentos de pré-exportação. Nesta fase também é importante a observância dos estímulos provenientes de ambientes externos e internos da empresa. As atividades concentram-se especialmente em aprender/desaprender e no acesso à informação, e o comportamento diz respeito às características dos tomadores de decisão. A percepção de estímulos pelos tomadores de decisão diz respeito a sua sensibilidade aos múltiplos fatores suscitadores de atenção. 3.1 Características dos tomadores de decisão O comportamento do tomador de decisão, é claramente central na discussão do tópico de pré-exportação. O seu sistema de valores, suas experiências passadas e sua própria experiência internacional são fatores que modificarão suas decisões e sua visão do negócio. Um indivíduo com alto nível de contato com o exterior terá uma maior probabilidade de ser exposto a eventos que chamarão sua atenção para o mercado internacional. Alguém que tenha trabalhado para outra empresa estrangeira, ou tenha tido conhecimento de operações internacionais será mais influenciado pelo que ocorre fora do seu país, portanto, pode se tornar mais interessado em levar sua empresa a se internacionalizar (WIEDERSHEIN-PAUL; OLSON; WELCH, 1978). Outro fator que influencia a atitude do tomador de decisão é sua percepção das incertezas relativas à sua entrada no mercado internacional. Um determinado nível de incerteza é inerente à atividade, e deve ser absorvido. A capacidade do 19 tomador de decisões de tolerar esta incerteza é um indicador da sua motivação para se internacionalizar. É neste ponto que muitos possíveis exportadores param, pois o risco percebido pode ser alto demais (WIEDERSHEIN-PAUL;OLSON; WELCH, 1978). Extensas pesquisas foram feitas nas últimas décadas tendo como objeto o processo de tomada de decisão, e dentre estas pesquisas muitas enfocaram os traços sociais e demográficos. Dentro destes traços, a experiência internacional foi considerado determinante na real internacionalização do negócio (CASILLAS; ACEDO; BARBERO, 2010). Kadrid e Rangelova (2013) acreditam que características marcantes dos tomadores de decisão bem sucedido são sua visão clara, motivação interna para ir ao exterior e firme crença na qualidade do seu produtos, sejam estes traços originários de sua criação, experiências ou personalidade. A paixão por seus produtos e consciência de que estes oferecem qualidades únicas são características que estão presentes nos tomadoresde decisão bem sucedidos por eles analisados. É válido destacar também que os estes gestores sentem orgulho de suas empresas. 3.2 Ambiente externo da empresa Um fator importante para a empresa que busca se internacionalizar é sua localização no mercado doméstico. Logicamente a distância física e o acesso a transporte de mercadorias é relevante. Porém, mais importante talvez seja o acesso ao fluxo de informações. A eficiência de determinadas regiões é dada pelo acúmulo de empresas naquela área, que favorece o acesso a melhor produção e cria um ambiente mais favorável (WIEDERSHEIN-PAUL;OLSON; WELCH, 1978). Isto se torna especialmente verdadeiro no caso de “produtos de informação”, que são coletar, processar e transmitir informação. Este tipo de produto é mais suscetível a influência de interações face a face. Interações e negociações face a face são preferíveis quando se prevê incerteza na transmição da informação, pois 20 não se sabe se determinada transferência de informação exigirá nova transferência a fim de clarificar a anterior (WIEDERSHEIN-PAUL; OLSON; WELCH, 1978). Conclui-se então que estar próximo de um centro de informações, como uma grande cidade ou um aglomerado de empresas, é uma vantagem na fase de préexportação, enquanto que estar distante é uma nítida desvantagem. Estar localizado nestes centros cria atitudes mais positivas em relação a exportação em empresas não-exportadoras (WIEDERSHEIN-PAUL;OLSON; WELCH, 1978). Relevante destacar também que a localização da empresa no mapa mental do tomador de decisão é importante. Em relação a distância psíquica pode-se sentir próximo do exterior ao estar cercado de empresas que se relacionam como exterior (WIEDERSHEIN-PAUL;OLSON; WELCH, 1978). Apesar da análise citada nos parágrafos acima ser muito anterior ao modelo de Networks, aproximadamente 30 anos, percebe-se aí o embrião da idéia das redes de contatos e de informações que posteriormente foi bastante aprofundada na Teoria de Uppsala revisitada. Isto demonstra coesão entre as idéias de préexportação de Widershein-Paul, Olson e Welch com o modelo de Johanson e Wahlne. 3.3 Ambiente interno da empresa Muitas características do ambiente interno da empresa são relevantes no comportamentepré-exportação. Wiedershein-Paul, Olson e Welch (1975) destacam como mais marcantes a linha de produção, os objetivos da empresa, a sua história e a expansão para além da sua região original. A busca por evitar instabilidades indevidas nas vendas está relacionada com a sobrevivência da empresa e é o obejtivo mais básico de todos. Quanto mais imprevisível estiver o mercado percebido pela empresa, maior será sua preocupação em encontrar outras fontes de vendas e crescimento. Criar e vender um novo produto ou vender internacionalmente são dois possíves movimentos que blindam a empresa, garantindo que caso haja perdas em um mercado, é pouco provável que haja perdas em todos eles (WIEDERSHEIN-PAUL; OLSON; WELCH, 1978). Os 21 autores relatam ainda que, segundo suas pesquisas no mercado australiano, o crescimento e a estabilidade de vendas são os fatores mais frequentemente mencionados como estimulantes para iniciar as exportações. Sobre a linha de produção, existem muitos dados físicos que devem ser analisados para que a decisão das exportação seja tomada, tais como diferenças de tamanho, graus de padronização e grau de complexidade do produto. O aspecto mais relevante a ser destacado por esta análise, contudo, é a quantidade de informação necessária para o pleno uso do produto a ser vendido. Este aspecto é chamado de relação hardware/software. Entenda-se hardware como a parte mecânica para efetivamente se executar uma tarefa e software como a teoria que permite que esta tarefa seja executa. Ou seja, quanto mais complexo e pronto (tecnicamente) for o produto, menor será a necessidade de fluxo de informação entre vendedor e comprador e assim maior será a exposição do vendedor a estímulos de exportação (WIEDERSHEIN-PAUL;OLSON; WELCH, 1978). O inverso é também verdadeiro, se um produto exige mais conhecimento técnico para ser colocado em bom uso é mais difícil de ser vendido. A respeito da expansão e da história da empresa, Wiedershein-Paul, Olson e Welch (1975) concentram-se na idéias de liability of foreigness que já foi discutida anteriormente neste trabalho, destacando que quanto menos estrangeira uma empresa se torna no exterior, mais facilmente ele consegue se adaptar. Mais atual, contudo, é a visão de expansão dada a partir do Modelo Revisitado de Uppsala que também já foi discutido, e relaciona a expansão ao estabelecimento de Networks eficientes (JOHANSON; VAHLNE, 2009). 3.4 Fatores suscitadores de atenção O conceito de fatores suscitadores de atenção é absolutamente essencial para a compreensão do processo de pré-exportação como concebido por Wiedershein-Paul, Olson e Welch (1978). Estes fatores são os estímulos que ao serem percebidos pelos tomadores de decisão levam a empresa a considerar a exportação como uma possível estratégia. Estes estímulos são dicas do ambiente 22 externo e interno que levam a empresa a querer se engajar em atividades de préexportação. Leonidou (1998) categorizou estímulos externos e internos que foram analisados em aproximadamente 30 estudos empíricos, segundo o quadro abaixo: Quadro 1 – Estímulos externos e internos. Estímulos internos - proativos Estímulos internos - reativos Estímulos externos - proativos Alcançar enconomia de escala Interesses gerenciais únicos ou aspirações únicas Produtos com qualidades únicas Possuir uma vantagem competitiva única Potencial para lucros ou vendas extras Necessidade de crescimento corporativo Contrabalançar vendas de produtos sazonais Utilização de capacidade produtiva obsoleta Estagnação ou declínio devendas ou lucros domésticos Redução de dependência ou risco do mercado doméstico Encorajamento por organizações ou agentes externos Identificação de oportunidades atrativas no exterior Informação privilegiada proveniente do mercado exterior Incentivos ou assistência governamental Contatos após participação em feira internacional ou missão comercial internacional Estímulos externos - reativos Início da atividade exportadora por concorrentes Pressão competitiva no mercado doméstico Taxas de câmbio favoráveis Saturação ou encolhimento do mercado doméstico Recebimento de ordem de compra não solicitadas vindas do exterior (Ad Hoc) Fonte: Leonidou (1998) Frequentemente estes estímulos são gerados por meio das experiências ao fazer negócios domésticos (TAN; BREWER; LIESCH, 2007). A exposição a estímulos produz um impulso no tomador de decisão. A decisão subsequente de se internacionalizar ou de se compremetera se internacionalizar, depende do estímulo ter trazido consigo informação que pode ser internalizada pela empresa e transformada em conhecimento utilizável para a decisão informação de internacionalização. Quando suficiente relativa à 23 internacionalização for apreendida e absorvida, transformada em conhecimento aplicável à aquela empresa e, além disso, os recursos forem alocados para a internacionalização, a empresa estará então pronta para se internacionalizar (KNIGHT; LIESCH, 2002) 3.5 Aprendizado e desaprendizado Como discutido anteriormente, a exposição do tomador de decisões a estímulos e o reconhecimento destes estímulos como estratégias viáveis para a empresa são o motor que faz com que a empresa se movimente na fase de préexportação. O conhecimento é o combustível deste motor. A internacionalização é um processo que depende do qual caminho foi escolhido para se realizar. Neste processo a empresa aprende por meio do seu próprio comportamento no exterior e este aprendizado é o que vai determinar seu comportamento no futuro. É de comum acordo entre as perspectivas de vários autores que o conhecimento é um recurso primordial no processo de internacionalização, porém, pouco se sabe sobre como o conhecimento é adquirido, como ele é integrado ao conhecimento pré-existente, e em qual contexto este aprendizado ocorre (CASILLAS; ACEDO; BARBERO, 2010). Apesar de não haver consenso sobre uma definição de conhecimento, ele é aqui compreendido como a interpretação de um conjunto de informações, com uma relações de causa e efeito, que é desenvolvida por uma organização atráves do tempo. O aprendizado é o processo de aquisição, interpretação e inserção de novos conhecimentos com o objetivo de utilizar estes conhecimentos no futuro (CASILLAS; ACEDO; BARBERO, 2010). O Modelo de Uppsala considera que a internacionalização é um processo gradual de aprendizagem no qual a aquisição de conhecimento e a alocação de recursos se retroalimentam, e apesar da literatura ter corroborado este fato, a perspectiva sequencial do modelo não prevê um processo de desaprendizagem (CASILLAS; ACEDO; BARBERO, 2010). 24 Um modelo composto de três estágios é proposto. Primeiro o conhecimento prévio relacionado ao mercado internacional dispara a intenção de exportar, esta intenção evolui para um processo pró-ativo de busca de conhecimento no intuito de transformar a intenção de exportar em real exportação. Para esta transformação pode ser necessário desaprender processos normalmente executados e desprezar conhecimentos inúteis (CASILLAS; ACEDO; BARBERO, 2010). Uma análise empírica foi realizada em 103 PMEs na fase de pré-exportação, onde todas se interessavam por aquirir conhecimento, e que não podiam ser enquadradas como exportadores regulares. Os resultados obtidos em geral corroboraram o modelo proposto no qual a internacionalização é um processo de aprendizagem cuja base prévia de conhecimento é alternada com fases de desaprendizagem e posterior busca por novos conhecimentos. É muito destacado o aprendizado proveniente do relacionamento com networks e da experiência outros negociantes (CASILLAS; ACEDO; BARBERO, 2010). 3.6 Prontidão para se internacionalizar De acordo com Tan, Brewer e Liesch (2007) a literatura já tem suficientementemente estabelecido que a fase de pré-exportação é um estágio de aprendizado experienciado por todas as empresas antes da sua internacionalização. De acordo com os autores ainda, a prontidão para se internacionaliza é um conceito que descreve a potencial transição de um estágio puramente doméstico para uma empresa internacionalizada. Os autores desenvolveram um modelo de préinternacionalização que complementa a proposta inicial de Uppsala. A figura da página segiunte ilustra este modelo. 25 Figura 1 – Modelo de Uppsala reestruturado Fonte: Elaborada pelo acadêmico com base em Tan, Brewer e Liesch (2007) Compondo todos os fatores anteriormente estudados, busca-se chegar a um conclusão um pouco mais precisa sobre quando finalmente uma empresa encontrase pronta para se internacionalizar. O tomador de decisão, a partir de sua cosmovisão e de sua perspectiva internacional é a peça central de todo o processo. O reconhecimento dos estímulos internos e o industry knowledge são fatores que influenciam, e o comprometimento e o tempo dedicado são o que leva a empresa à prontidão (KADRIC; RANGELOVA, 2013). Industry knowledge pode ser traduzido como o conjunto dos profundos conhecimentos específicos, técnicos e mercadológicos de uma empresa. O seguinte ciclo, apesar de parecer redundante, não é. Decisões são tomadas apartir dedeterminada cosmovisão e perspectiva. O resultado destas decisões modifica, por sua vez, a cosmovisão e perspectiva, e o movimento repetese. Uma vez que um estímulo é recebido pelo tomador de decisão há um comprometimento dos recursos e do tempo da empresa. Há também um comprometimento psicológico. Ao cumprir estes passos, assume-se que a empresa está pronta (KADRIC; RANGELOVA, 2013). Ter um produto único, ou de destaque, diminui o risco de não haver demanda. Por ter industry knowledge, assume-se que a empresa beneficiou-se do conhecimento proveniente da sua network. Ter tempo disponível para tomar as decisões e estruturar as estratégias é necessário para que o tomador de decisões comprometa-se com o processo, e comprometer-se significa ter superado a incerteza (KADRIC; RANGELOVA, 2013). 26 4 A IMPORTÂNCIA DAS PMEs Tanto em países desenvolvidos, quanto nos em desenvolvimento as PMEs são o motor das economias nacionais. Empregam em grande quantidade, são responsáveis por boa parte da massa salarial, são competitivas entre si e adaptamse com mais facilidade aos desafios do mercado. As PMEs constituem o novo, o adaptável, o oferecimento de mais vagas de trabalho e uma boa parte da produção nacional. São flexíveis, conhecem os seus mercados regionais, e atendem-nos com mais eficiência que as grandes empresas, o que torna as PMEs ainda mais importantes para o Brasil (FLORIANI, 2010) Neste capítulo são destacados: a sua definição, sua relevância em termos numéricos para as economias nacionais e sua participação nas exportações. Serão apresentadas informações européias e brasileiras, visto que Modelo de Uppsala é europeu e busca-se traçar um paralelo com a realidade brasileira. 4.1 Definição de PMEs Segundo o SEBRAE(2013) o porte da empresa é definido a partir do número de pessoas que nela trabalha, e depende da área de atuação segundo a tabela abaixo: Quadro 2- Porte de empresas segundo SEBRAE. Setores Porte Indústria Comércio e serviços Microempresa até 19 pessoas ocupadas até 9 pessoas ocupadas Pequena Empresa de 20 a 99 pessoas ocupadas de 10 a 49 pessoas ocupadas Média Empresa de 100 a 499 pessoas ocupadas de 50 a 99 pessoas ocupadas Grande Empresa 500 pessoas ou mais ocupadas 100pessoas ou mais ocupadas Fonte: SEBRAE (2013) 27 A Comissão Européia (CE) (2013) tem uma definição diferente do que seja a PME, envolvendo também o volume de negócios anual e/ou o balanço total anual, de acordo com a tabela abaixo: Quadro 3 – Porte de empresas segundo CE Categoria da empresa Efetivos Volume de Negócios Balanço anual total anual Ou Média < 250 ≤50 milhões de Euros ≤43 milhões de Euros Pequena < 50 ≤10 milhões de Euros ≤10 milhões de Euros Micro <9 ≤ 2 milhões de Euros ≤2 milhões de Euros Fonte: Comissão Européia (2013) Cabe destacar que a definição do SEBRAE não é única no Brasil, ainda há o parâmetro do MERCOSUL, do estatuto da Micro e Pequenas Empresas, o da tributação SIMPLES e o do Ministério do Trabalho e Emprego. Para este estudo será utilizada a definição do SEBRAE. 4.2 A participação das PMEs na economia Mesmo com a diminuição do ritmo da economia brasileira, as PMEs no Brasil seguem em crescimento. Segundo SEBRAE (2013), entre 2002 e 2012 houve um aumento de 30,9% no número de empresas e o número de empregados nestes estabelecimentos dobrou. As PMEs respondem também por 40% da massa salarial do país e 52% dos postos de trabalho não agrícola. O dado mais impressionante, contudo, é que 99% dos estabelecimentos são PMEs. A capacidade da grande empresa de absorver mão de obra está se esgotando, e as PMEs estão tornando-se uma alternativa para a geração de emprego e contribuição com a massa salarial (MELSOHN, 2006). Segundo Floriani (2010), as PMEs são ágeis e inovadoras, conseguem se adaptar às variações do ambiente. Costumam se modificar numa velocidade que permite acompanhar os concorrentes, porém nem sempre há a disposição de inovar, visto que a inovação é traduzida em risco e custo. 28 As PMEs estão presentes em todos os ramos de atividade comércio, indústria, serviços e construção. Empregam mão de obra um pouco mais qualificada visto que 39,9% dos empregados possuem ensino médio completo e 4,4% possuem ensino superior (SEBRAE, 2013). Os dados provenientes da Comissão Européia (2006), são que as PMEs na UniãoEuropéia atingem a cifra de 23 milhões de estabelecimentos, empregando em torno de 75 milhões de pessoas. Assim como no Brasil, 99% de todas as empresas são PMEs. Lukács (2005), destaca que na União Européia há 35.000 empresas com mais de 250 empregados, e 18 milhões de empresas com menos de 10 empregados. Na média, o estabelecimento europeu emprega 4 pessoas, contando o gerente/dono, e tem um faturamento anual médio de 500.000 euros. Sobre a América Latina, Lukács (2005) diz que após muitos anos investindo na grande empresa, os governos latino americanos começam a perceber que as PMEs são as grandes geradores de emprego, e são peça chave na cadeia de suprimentos de tecnologia. Destaca ainda que no período de 1998-2002 no Brasil, Colômbia e México a participação das PMEs cresceu. A soma dos fatores massa salarial, número de estabelecimentos e número de pessoas empregadas nas PMEs demonstra o quanto a economia dos países é depentende deste setor. O cruzamento dos dados da Europa com os do Brasil é qualitativamente coincidente nos fatores acima citados, apesar das disparidades dos números absolutos.A meta aqui não é comparar a economia do Brasil com a da União Européia, pois um país não se equivale a um conjunto de nações. O que se busca é um comparativo qualitativo. 4.3 O envolvimento das PMEs nas exportações Por seu enorme número de estabelecimentos, as PMEs representam a maior quantidade de empresas brasileiras que se engajam nas atividades de exportação. Segundo a SECEX (2013) atingem 42,7% do número total de exportadores. Porém as PMEs representam apenas 0,7% do volume de negócios de exportação no Brasil. 29 A tabela comparativa abaixo ilustra a situação do país: Tabela 1- Exportação por porte de empresa segundo SECEX com dados de 2012 EXPORTAÇÃO BRASILEIRA POR PORTE DE EMPRESA Valores em US$ milhões FOB Total Micro e Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa Pessoa Física 242.580 1.787 8.132 232.156 502 Part. (%) 100,0 0,7 3,4 95,7 0,2 Qtde. (*) 21.482 9.171 5.464 6.439 399 Part. (%) 100,0 42,7 25,4 30,0 1,9 256.040 2.032 8.819 244.782 406 Part. (%) 100,0 0,8 3,4 95,6 0,2 Qtde. 21.951 9.973 5.710 5.791 472 Part. (%) 100,0 45,4 26,0 26,4 2,2 -13.460 -245 -687 -12.626 96 -5,2 23,6 Valor 2012 (A) Valor 2011 (B) Abs. (A/B) Valor Rel.(%) -5,3 -12,1 -7,8 (A/B) Qtde. Abs. -469 -802 -246 648 -73 Rel.(%) -2,1 -8,0 -4,3 11,2 -15,5 Nota: Os dados incluem exportações realizadas ao amparo de Declarações Simplificadas de Exportação - DSE (*) Em 2012, há o registro de 9 (nove) operadores não classificados dentre as categorias de porte. Assim, a soma das categorias constantes na tabela será de 21.473, diferente do total de 21.482 empresas. Fonte: MDIC/SECEX Segundo estatísticas do SEBRAE (2013) existem 6,3 milhões de PMEs no Brasil, e de acordo com a SECEX (2013) apenas 9.171 são exportadoras, ou seja apenas 0,14% das PMEs brasileiras exploram o mercado internacional. A disparidade é grande, pois segundo a Comissão Européia (2010), um total de 26% das PMEs dentro da União Européiaestão envolvidas somente na atividade de exportação, caso seja levada em consideração qualquer forma de internacionalização este número chega a 44%. É possível comparar diretamente números da UE como números do Brasil e perceber-se as discrepâncias. Procura-se aqui unicamente, demostrar que há muito espaço no mercado internacional para ser ainda conquistado por PMEs brasileiras que se interessarem. 30 5 A Pesquisa A presente entrevista tem um caráter ilustrativo buscando detectar se a empresa escolhida encontra-se no estágio de pré-exportação e se seus comportamentos correspondem ao previsto na literatura estudada. O acadêmico realizou uma entrevista com o empresário Patrick Roan Casas Mesquita, proprietário/tomador de decisão de uma microempresa que busca internacionalizar-se. A empresa é a Coador Colonial, localizada em Itajaí-SC. Seus principais produtos são coadores de café de pano, filtros permanentes e filtros de papel. As questões foram elaboradas tomando-se como parâmetro o estudo de Tan, Brewer e Liesch (2007) que propõe um método para formular um índice de prontidão de internacionalização (internationalization readiness index - IRI). Os autores apontam quatro fatores que podem explicar o construto internacionalização, a saber: fatores de estímulo, comprometimento e atitude psicológica, limite de capacidade de percepção e adaptação aos estímulos, e recursos da empresa. A entrevista constituiu-se de questões abertas, na qual buscou-se mais a opinião do tomador de decisões do que dados numérico (Anexo A). Na questão do estímulo o entrevistado disse que o interesse por se internacionalizar partiu da intensão de aumentar suas vendas e melhorar o seu faturamento, além dos impostos reduzidos no preço da exportação de produtos. O entrevistado encaixa-se exatamente no modelo proposto por Johanson e Vahlne (1977), suas primeiras exportações foram iniciadas por agentes externos, exportação Ad Hoc. O entrevistado acompanha as notícias sobre negócios internacionais, buscando sempre atualizar-se e estar atento ao que ocorre no mundo. O entrevistado vê a sua empresa com bom potencial de crescimento, pois considera que seu produto por ser popular não é muito afetado por crises. Sobre o comprometimento e atitude, o entrevistado considerou que entrar no mercado internacional é uma vontade, um desafio e uma oportunidade pois vender fora tem menos competição e margens melhores de lucro. Está decidido a dirigir-se ao mercado internacional, mas procura preparar-se antes com maquinário e estrutura. Busca principalmente atender aos pedidos de forma correta, preservando a reputação de sua empresa. O entrevistado demonstrou profundo conhecimento e 31 envolvimento pessoal com seu negócio e o único evento que o faria desistir de sua empresa seria um motivo de saúde muito grave. Na questão do limite de capacidade de percepção e adaptação aos estímulos, o entrevistado declarou estar disposto a adequar sua produção, ou seu produto às necessidades do mercado, caso as vendas sejam compensadoras. Demonstrou-se disposto a fazer com que sua empresa adapte-se de acordo com o que for percebido fora. O entrevistado disse que um cenário exterior positivo seria muito estimulante para vender internacionalmente, e que no caso de um quadro muito negativo no mercado interno, também buscaria o mercado externo antes de desistir do seu negócio. É importante destacar que o entrevistado se internacionalizaria definitivamente se houvesse uma relação profunda com um comprador internacional que ele pudesse se concentrar e no qual um fluxo de vendas constante se estabelecesse promovendo estabilidade. O entrevistado reforçou que mesmo assim, não abandonaria o mercado interno, buscando sempre diversificar. No que diz respeito à dimensão dos recursos, disse que se tivesse uma relação de compra constante dos seus produtos deslocaria mais esforços para internacionalizar-se, porém destacou que o produto a ser exportado é diferente do que é vendido no mercado interno. Em razão desta diferença não utilizaria o mesmo maquinário, o que permitiria um fluxo de produção constante tanto no mercado interno quanto no externo. Declarou ter planos de médio prazo especialmente na parte de prospecção de negócios e de vendas externas. Inicialmente não era do conhecimento do acadêmico que a empresa já havia realizado algumas exportações esporádicas, fato que veio a ser esclarecido no decorrer da entrevista. Apesar destas vendas esparsas, não há como classificar a Coador Colonial como uma empresa exportadora, visto que a exportação não é uma atividade habitual. De acordo com as respostas obtidas e conforme os pressupostos de Tan, Brewer e Liesch (2007) pode-se concluir que a empresa observada encontra-se em pleno estágio de pré-exportação. O tomador de decisões está sujeito a muitos dos estímulos descritos no subitem 3.4, tanto reativamente quanto proativamente. Além disso tem uma boa carga de industry knowledge. Está comprometido pessoalmente com a internacionalização, enxergando este movimento como potencialmente lucrativo e favorável. O empresário também está consciente das limitações às quais estará exposto, e respeitando estes limites está disposto a efetuar possíveis 32 mudanças internas necessárias. Tem planos de destinar mais recursos para internacionalizar-se, especialmente se houver uma boa relação com um contato externo. É cauteloso, contudo, com a qualidade do produto que possa enviar para o exterior, o que demonstra um alto grau de compromentimento ético. Praticamente todos os aspectos apresentados na literatura estudada estão presentes na empresa Coador Colonial, o que demonstra que o modelo teórico da pré-exportação e o modelo de internacionalização de Uppsala encontram correpondência nesta empresa especificamente. 33 6 Considerações Finais De acordo com o que foi discutido nos capítulos anteriores, a internacionalização segundo os moldes de Uppsala é um processo gradual, no qual o tomador de decisões é o centro das atividades. Durante a fase da pré-exportação a percepção dos estímulos e as atitudes que decorrem desta percepção são os fatores que movimentam a empresa no sentido de internacionalizar-se, ou não. Ao perceber um estímulo como uma oportunidade o tomador de decisão busca ativar seus recursos, aprender mais sobre sua empresa e sobre o mercado externo, estabelecer conexões com outros tomadores de decisões, informar-se sobre as condições externas e internas, e por fim adquirir conhecimentos necessários para uma nova cadeia de decisões. Este sequência de eventos se repetirá até que o tomador de decisão esteja firmemente convicto de sua posição estabelecida e realmente alcance o mercado externo de acordo com suas expectativas, ou caso contrário, decida por permanecer no mercado interno. O presente estudo teve como objetivo geral estudar, a partir do modelo de Uppsala de internacionalização, a importância da fase de pré-exportação em PMEs. A escolha do Modelo de Uppsala deu-se pelo mesmo ser considerado o precursor dos estudos de internacionalização de PMEs. Apesar do modelo original não contemplar estudos específicos sobre como as empresas chegam ao ponto de se internacionalizar, diversos trabalhos posteriores complementaram este aspecto. De especialmente relevância para o acadêmico foram os trabalhos de Tan, Brewer e Liesch. Estes autores desenvolveram um modelo de pré-internacionalização que conecta as idéias de Widershein-Paul, Olson e Welch com o modelo de Johanson e Wahlne. O modelo de Uppsala foi inicialmente pensado como sendo mais eficiente para pequenas empresas, mas os próprios autores tem uma opinião diferente na atualidade, acreditam ser igualmente aplicável em grandes empresas. O primeiro objetivo específico consistia em apresentar o modelo de Uppsala, o que foi realizado descrevendo sua forma inicial e também sua forma revisitada pelos próprios autores. O segundo objetivo específico, de identificar as atividades da fase de préexportação, era de grande relevância para a compreensão do trabalho como um todo e para alcançar este objetivo foi necessário um aprofundamento em cada uma 34 das atividades e atitudes pertinentes a esta fase. Procurou-se formar um conceito abrangente, expondo trabalhos de vários autores. O terceiro objetivo específico, de sintetizar a relevância econômica das PMEs, foi importante para justificar o enfoque do trabalho. Apesar do foco do estudo não ser estudar o desempenho das PMEs foi de grande importância apresentar a expressiva participação que estas empresas tem nos países desenvolvidos da Europa e no Brasil como geradoras de renda, emprego e salário. Por descrever o tomador de decisão como o nexo das atividades de preexportação, e nas PMEs os proprietários/gerentes terem uma grande concentração de poder decisório, conclui-se que quem efetivamente decide nas PMEs é quem pode levá-las a se internacionalizar de forma bem sucedida. A entrevista realizada, de maneira prática corroborou os levantamentos teóricos. Os estímulos previstos, a necessidade de conhecimento e informação, a disponibilidade em adaptar-se rapidamente, e até mesmo as primeiras exportações Ad Hoc como encontradas no estudo inicial da década de 70 estavam presentes na empresa Coador Colonial. O acadêmico considera muito importante destacar que no decorrer das pesquisas deparou-se com os trabalhos de Oviatt e McDougall (2005) sobre empreededorismo e sobre as empresas que já nascem globalizadas/internacionalizadas. Apesar da teoria ter uma perspectiva diferente da que o modelo de Uppsala tem, e escapar do escopo do presente trabalho, o acadêmico acredita que possuam características complementares, o que seria uma idéia interessante para futuras pesquisas. Com a finalização da pesquisa, o acadêmico considera que pode compreender melhor a questão da internacionalização de empresas, e os fatores dos quais ela depende. O trabalho foi desafiante, um pouco pela questão linguística pois grande parte do material de consulta é em língua inglesa, mas principalmente porque o objeto de estudo tem um bom nível de dificuldade. O ponto de vista humanizado da construção das relações comerciais internacionais desenvolvido a partir da escola Nórdica, onde o desenvolvimento do conhecimento é um processo bilateral e a confiança tem valor intrínseco, é muito relevante para o acadêmico pois vai ao encontro da sua própria cosmovisão. O acadêmico acredita firmemente que o respeito à diversidade e a cooperação são os caminhos para uma convivência mais harmoniosa no mundo. 35 REFERÊNCIAS ANDERSSON, Svante; GABRIELSSON, Jonas; WICTOR, Ingemar. International activities in small firms: examining factors influencing the internationalization and export growth of small firms. Canadian Journal of Administrative Sciences/RevueCanadienne dês Sciences de l'Administration V.21, no. 1 (2004): Disponível em http://www.corwin.com/upm-data/25517_Mc_Noughton~ch_01.pdf Acesso em: 10 mai. 2014 CASILLAS,José C.; FRANCISCO J. Acedo; and JOSÉ L. Barbero. Learning, unlearning and internationalisation: Evidence from the pre-export phase.International Journal of Information Management, V. 30, no. 2 (2010): 162173. Disponível em http://www-sciencedirectcom.ez119.periodicos.capes.gov.br/science/article/pii/S0268401209000929. Acesso em: 10 mai. 2014 BRASIL. SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. 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Está atento à notícias sobre exportações do Brasil? Como o senhor vê o desempenho de sua empresa hoje em dia? Como está a economia brasileira na sua opinião? Sobre a dimensão Comprometimento/Atitude Quão importante para o senhor é a entrada no mercado internacional, no nível pessoal? É um desafio, interesse próprio ou estratégia empresarial? Está firmemente decidido a isto? Sobre a dimensão Limite de Capacidade de Percepção e Adaptação aos Estímulos Um cenário muito positivo no exterior é um estímulo suficientemente grande para partir ao mercado externo de forma definitiva? E um cenário nacional muito negativo, como influenciaria? O que o faria mudar de opinião radicalmente (desistir de se internacionalizar ou comprometer-se totalmente)? Sobre a dimensão Recursos Considera que sua empresa tem todos os recursos necessários para efetuar negócios internacionais de forma regular? Tem planos de alocar uma maior parte dos seus recursos (tempo, mão de obra, financeiro) com foco na exportação? 40 ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS Nome do estagiário Dimitri Fiuza Lima Mascarenhas Passos Orientador de conteúdo Profª MSc. Graziela Breitenbauch de Moura Responsável pelo Estágio Profª MSc. Natalí Nascimento