Ficha técnica do CIM c e n t r o d e i n f o r m a ç ã o d o m e d i c a m e n t o A obesidade constitui actualmente um dos mais importantes pro- da fertilidade,2,6 síndroma do ovário poliquístico2,11); dermatológicas; blemas de saúde pública, sendo considerada pela OMS a epidemia psicológicas;1,3,4 neoplásicas (cancro da mama, endométrio, ovário, global do século XXI. É uma doença com grande prevalência nos próstata, cólon, recto, vesícula biliar 1 2 países desenvolvidos, 2-5 1,3,5 ), entre outras. afectando homens e mulheres de todas as raças2 e de todas as idades,2,6 e está associada a um aumento da Aconselhamento não farmacológico morbilidade e mortalidade,2,3,5 a problemas sociais3-6 e a um aumento Qualquer estratégia preventiva da obesidade deve basear-se numa do gasto sanitário devido às suas implicações.1-3,7 alimentação equilibrada, na actividade física e na educação.4 O seu A obesidade é uma doença crónica,1,2,4,8 de origem multifactorial, que se define pela existência de um excesso de gordura corporal. 2,3,5 Este excesso de gordura é resultado de um desequilíbrio no balanço entre a energia ingerida e a consumida nos processos metabólicos2,3 que é determinado pelas diversas interacções entre factores ambientais e genéticos.1,3,6,9 Os factores ambientais relacionados com a alimentação e a actividade física são os principais responsáveis pelo aumento da prevalência da obesidade.3 Excepcionalmente, esta doença pode resultar de um determinado problema médico (ex.: síndroma de Cushing, hipotiroidismo,10,11 síndromas genéticos3). Os factores sociais e psicológicos,5 a desabituação tabágica ou os medicamentos (ex.: contraceptivos orais, antidepressores,3,11 insulina, glucocorticóides3), podem também contribuir para a obesidade.3,10,11 tratamento inicial, e excluída a possibilidade de se tratar de uma obesidade secundária, consistirá em intervenções que controlem o aporte e/ou gasto energético,8 que também passam pela dieta e actividade física e pressupõem alterações comportamentais.8,9 A terapia comportamental poderá ser útil para aumentar o sucesso da intervenção.1,3,8,10,12,13 Em determinadas situações pode ser aconselhável recorrer a fármacos, ou à cirurgia bariátrica.1,3,9 Cabe ao farmacêutico colaborar nas estratégias de prevenção e tratamento da obesidade,3 sendo que o papel central e indispensável fica reservado a um médico especialista.3,9 Alimentação – Uma dieta tem que ser completa, devendo incluir os nutrientes de todos os grupos básicos.4 O índice adoptado para realizar o diagnóstico da obesidade é o Índice – As frutas, vegetais e os hidratos de carbono complexos (ex.: Peso/Altura ou IMC (índice de massa corporal), definido pela fórmula: pão, batatas, arroz, massa) devem constituir grande parte da IMC= Peso (Kg)/ Altura (m)2,1-6,7,9 que é utilizado pela OMS para clas- dieta, devendo ser consumidas 5 porções diárias variadas de sificar a obesidade em várias classes1,2,3,5 às quais se associa um deter- frutas e vegetais.10-12 minado risco de comorbilidade.2 O IMC não constitui uma determinação – Evitar as gorduras saturadas.4 Optar pelas carnes magras ou fiável da obesidade no caso dos atletas,1,2 idosos,1 indivíduos com ede- de aves,4,10,14 eliminando-lhes a pele e a gordura;4,14 evitar os ma e ascite2 e crianças e adolescentes,1,2,7 sendo que neste último caso enchidos e as carnes preparadas;4 limitar o consumo de pro- o IMC deve ser percentilado tendo como base tabelas de referência.2,7 dutos lácteos gordos4,10 e preferir o leite meio gordo ou magro, O padrão de distribuição da gordura corporal é também um aspec- o requeijão, o iogurte,4 etc. to a ter em conta na avaliação do adulto obeso. Segundo este, a – Consumir peixe,4,14 ingerindo duas a três porções por semana.10 obesidade pode classificar-se em: obesidade abdominal ou andrói- – Evitar adicionar sal à comida10 e cozinhar com azeite ou um 2 de (acumulação excessiva de gordura na região abdominal; 1,2 típica do homem obeso ) e obesidade glúteofemoral ou ginóide (excesso 2 1 de gordura corporal a nível dos glúteos e coxas; 1,2 típica da mulher obesa ). É importante a identificação destes tipos morfológicos devi2 do à relação entre a obesidade abdominal e determinadas doenças metabólicas e cardiovasculares. 1,2 A avaliação da obesidade abdo- minal faz-se pela determinação do índice cintura/ancas, 1,3 índice cintura/coxas3 ou pela medição do perímetro da cintura,1,2,3,5,7 que é a medida mais simples 1,5 e talvez mais útil. 1 A obesidade constitui um factor de risco para determinadas patolo- óleo vegetal (ex.: girassol).10,14 – Optar por cozinhar a vapor,4,11,13 cozer4,13,14 ou grelhar4,11 em vez de fritar os alimentos.11,13 – Ingerir água em abundância3,4 e evitar ou reduzir o consumo de bebidas alcoólicas,4,10 gasosas4,12,14 e açucaradas.4 – Reduzir o consumo de produtos de pastelaria4 e fast food.11,12 – Entre as refeições fazer merendas saudáveis à base de fruta,4,11,13,14 iogurtes, bolachas com fibra, etc.11,13 – Tomar sempre o pequeno-almoço,10,13,14 de preferência em casa.14 gias, tais como: metabólicas (dislipidémias, diabetes tipo 2, gota,1-3,5,9 – Ter um horário fixo8 e evitar saltar refeições para não comer hiperuricémia1-4); cardiovasculares (hipertensão arterial, acidentes vas- demasiado na refeição seguinte.4,10 É preferível comer pouco culares cerebrais,1-7,9-11 insuficiência cardíaca, doenças coronárias,4,5,9 insuficiência venosa periférica1,3,4,9); respiratórias (apneia do sono, insuficiência respiratória1-3,5); osteoarticulares (artrose dos joelhos, ficha técnica n.º 81 / 2008 Aconselhamento farmacêutico na obesidade várias vezes ao dia do que muito poucas vezes ao dia.4,14 – Comer lentamente,8,10,11 pequenas quantidades de cada vez.8 Servir para o prato apenas a comida suficiente.4 coluna, tornozelos, ancas1,3,4,11); digestivas (esteatose hepática, litíase – Evitar as situações em que há tentação para comer demasiado12 biliar,1,3,4 refluxo gastro-esofágico5,11); renais;4,5,7 sexuais (diminuição ou para não fazer as melhores escolhas alimentares11 (ex.: na ROF ROF 79 82 59 ficha técnica n.º 82 ida ao supermercado, levar uma lista de compras13 e evitar ir com fome;11 não comer em frente à televisão;12 comer apenas quando tiver fome – incentivarem a criança a beber água em vez de sumos ou bebidas gasosas;17,19 e não quando estiver cansado, aborrecido – evitarem oferecer alimentos à criança só para a manterem ocu- ou deprimido;11,13 o stresse e a falta de tempo podem também pada1 ou como recompensa18,19 ou castigo19 e evitarem premiá conduzir a escolhas incorrectas na alimentação ). ‑la com guloseimas;1 13 11 – Pode ser útil ter um diário alimentar, anotando: quando, quanto e o que comeu, e como se sentia no momento.11 – limitarem o número de horas que a criança passa a ver televisão ou no computador;1,3,17,19,20 – motivarem a criança para a prática regular de exercício físi- Actividade física – Ser mais activo nas rotinas diárias: utilizar as escadas em vez do elevador,1,10,11,13-15 ir a pé ou de bicicleta para o emprego,10,11 co,3,4,17,19 ajudando-a a escolher uma actividade física divertida19 e motivando-a a brincar fora de casa;19,20 estacionar o carro mais longe do local destinado e regressar a A família desempenha um papel muito importante na mudança de pé,1,13,15 jardinar,11,12,15 etc. hábitos da criança,3,4,16-20 quer participando numa alimentação sau- – Todos os adultos devem fazer no mínimo 30 minutos de actividade física aeróbia 5 dias por semana,10,11,15 que podem ser dável, quer implementando hábitos familiares de actividade física na rotina diária.18-20 divididos em várias sessões diárias.12,14,15 Ex.: caminhar,1,4,8,12,15 nadar,1,8,10-12,15 dançar,10,12,15 andar de bicicleta.1,8,12,15 Os adultos Joana Viveiro obesos que querem perder peso devem fazer entre 60 a 90 minutos de actividade física aeróbia,10,11 pelo menos 5 dias na Bibliografia semana,10 sendo as caminhadas as actividades mais aceites1,4 1. González MA. et al. Obesidad. Pan Actual Medicamento, 2005; 29 e as que apresentam menor risco cardiovascular. 4 – Fazer exercício com companhia pode ser um incentivo à manutenção do programa de actividade física.15 (282): 259-271. 2. Sérgio A. et al. Programa Nacional de Combate à Obesidade. Circular Normativa nº 03/DGCG. Direcção Geral da Saúde. Março 2005. Disponível em: www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i006908.pdf – No caso de doentes obesos ou não obesos com determinadas patologias associadas, o exercício físico deve ser prescrito e realizado sob controlo médico.8,15 (acedido a: 11/5/07). 3. Sociedad Española para el estudio de la Obesidad (SEEDO). Consenso SEEDO’2000 para la evalución del sobrepeso y la obesidad y el estabelecimiento de critérios de intervención terapéutica. Med Clin (Barc), 2000; 115: 587-597. Disponível em: www.seedo.es/portals/se- Obesidade infantil edo/consenso/Consenso_SEEDO_2000.pdf (acedido a: 6/7/07). A obesidade nas crianças e adolescentes surge actualmente como um grave problema de saúde pública.16,17 A sua avaliação é muito importante, pois esta comporta consequências a curto prazo durante a infância,1,16 como por exemplo a nível psicossocial16 (impacto negativo na auto-estima,1,18,19 na aceitação pelo grupo1) e consequências a longo prazo,1,16 relacionadas com o impacto do excesso de peso na idade adulta, sendo a obesidade a mais grave de todas.16 A criança obesa tem uma maior probabilidade de se tornar num adulto obeso1,18,19 com todas as complicações físicas que lhe estão associadas e que já foram referidas inicialmente.1,18 A persistência da obesidade na idade adulta é influenciada pela idade em que se inicia e pela 4. Garrote A, Bonet R. Obesidad y sobrepeso: visión farmacêutica. El farmacéutico, 2003; 301: 80-89. 5. Anon. Obésité: maigrir sans médicament. Rev Prescr, 2007; 27 (280): 123-128. 6. Obesity and overweight. WHO. 2003. Disponível em: www.who.int/ dietphysicalactivity/media/en/gsfs_obesity.pdf (acedido a: 28/3/07) 7. Blancher G., Uzan A. L’obésité: une épidémie à maîtriser. – Introduction. Épidémiologie. Ann Pharm Fr, 2004; 62: 75-79. 8. Tuneu L. Obesidad (y II): tratamiento. El farmacéutico, 2002; 276: 72-80. 9. Torrabadella P. Obesidad: factor de riesgo. El farmacéutico, 2002; 275: 63-68. 10. Obesity and overweight. July 2006. Disponível em: www.patient.co.uk/ showdoc/23068957 (acedido a: 27/3/07) existência de pelo menos um progenitor obeso.1,20 Geralmente a 11. Obesity. Patient information leaflet. NHS Direct. 2007. Disponível em: obesidade infantil resulta da interacção entre factores genéticos e http://cks.library.nhs.uk/patient_information_leaflet/obesity (acedido ambiente obesogénico, 17 sendo que só uma pequena percentagem está associada a doenças hormonais ou genéticas.1 a: 28/3/07) 12. When and how to lose weight. Treatment notes nº 2. Consumers Association. 2002. A melhor forma de evitar a obesidade é preveni-la desde as primeiras etapas da vida.1,3 A alimentação é o principal factor exógeno que influencia o crescimento e desenvolvimento da criança,3 daí que a educação alimentar se revista de extrema importância e deva ser implementada precocemente, visando uma aprendizagem contínua ao longo da 13. Anon. Perda de peso. Conselhos aos doentes. Postgraduate Med (Ed. Port), 2005; 23(2): 111-112. 14. !Cuide su peso! National Institutes of Health. September 1996. Disponível em: www.nhlbi.nih.gov (acedido a: 27/3/07) 15. Anon. Actividade física para ter um peso saudável. Informação do seu médico de família. Am Fam Physician (Ed. Port), 2004; 1(3): 157-159. vida e exigindo o envolvimento da escola e da família. Paralelamente, 16. Fowler-Brown A., Kahwati LC. Prevenção e tratamento do excesso de a prática regular de exercício físico é também muito importante.3,17 O peso nas crianças e adolescentes. Am Fam Physician (Ed. Port), 2006; tratamento da obesidade infantil deve basear-se em conselhos dietéticos, na prática de exercício físico e em conselhos comportamentais para instaurar hábitos correctos.3 Além de alguns dos conselhos já refe- 3(1): 11-26. 17. Silva D., Rego C. Prevenção da obesidade da criança e do adolescente: algumas regras simples. Alimentação humana, 2005; 11 (2): 91-92. 18. Obesity in children and teens. Facts for Families – nº 79. The American ridos, que também se aplicam à prevenção e tratamento da obesidade Academy of Child and Adolescent Psychiatry (aacap). January 2001. infantil, o farmacêutico pode ainda alertar os pais para: Disponível em: http://www.aacap.org/page.ww?name=Obesity+In+Ch ildren+And+Teens§ion=Facts+for+Families (acedido a: 27/6/07) – a importância do aleitamento materno1,17,19 e de um bom estado nutricional durante a gravidez;3 alth Channel. Victorian Government’s Department of Human Servi- – motivarem a criança a preparar alguns pratos simples19 e fazerem com que ela se sente à mesa em todas as refeições; 20 – deixarem a criança decidir se já não come mais 19 e não restrin- girem a quantidade de comida que ela pode comer, oferecendo-lhe, em vez disso, alimentos saudáveis;19,20 60 ROF 82 19. Overweight children – healthy lifestyles tips. Fact sheet. Better Heces. March 2006. Disponível em: http://www.betterhealth.vic.gov.au/ bhcv2/bhcarticles.nsf/pages/Overweight_children_healthy_lifestyle_ tips?OpenDocument (acedido a: 27/6/07) 20. La obesidad y los niños: ayude a su hijo o hija a perder peso. Familydoctor.org. American Academy of Family Physicians. April 2004. Disponível em: http://familydoctor.org/e343.xml (acedido a: 27/6/07)