A sustentabilidade do plano de pensões do Montepio Geral no século XIX O contributo do matemático Daniel Augusto da Silva1 Ana Patrícia Martins (FCUL) Daniel Augusto da Silva (1814-1878) foi um dos mais importantes matemáticos portugueses do século XIX. A sua produção científica abarcou áreas bem diversificadas, destacando-se em assuntos de Mecânica e de Teoria dos Números. Os seus escritos sobre a organização financeira de montepios, em particular sobre a viabilidade dos seus planos de pensões, e os estudos comparativos do movimento da população portuguesa com o de outras populações europeias constituem novidade em termos da abordagem a essas temáticas no país, podendo, por isso, considerar-se Daniel da Silva como precursor do cálculo actuarial em Portugal. Nesta comunicação analisamos, na perspectiva de História da Ciência, o contributo de Daniel da Silva no sentido de assegurar a sustentabilidade do Montepio Geral no terceiro quartel do século XIX, designadamente ao nível de plano de pensões proporcionado aos seus sócios. O interesse do matemático por assuntos de pensões manifesta-se com a entrada no Montepio Geral em 1863, na mesma altura em que surgem dúvidas, no seio da associação, sobre a sua estabilidade financeira. A sua afiliação ao MG o motivou a enveredar pelo estudo da estabilidade financeira de montepios de sobrevivência, tornando-o pioneiro em Portugal no uso de princípios do cálculo actuarial na organização financeira dessas associações. Entre 1865 e 1871 estudou a situação financeira do Montepio Geral, defendeu a sua posição em sessões da Assembleia Geral de sócios, marcadas por contestação generalizada, e integrou comissões de reforma de estatutos. Nos seus opúsculos sobre a situação financeira do Montepio Geral recorreu à teoria de anuidades sobre a vida exposta em tratados clássicos ingleses para concluir sobre a inadequação do plano de pensões em vigor, apresentando medidas para estabelecer o necessário equilíbrio entre as contribuições dos sócios e as pensões legadas, medidas essas que exigiam abolição de certas regalias dos sócios. Não foram elas bem acolhidas pela maioria dos sócios. Os seus escritos resultaram na tomada de consciência do risco de instabilidade financeira dos montepios de sobrevivência e tiveram um papel determinante na sustentabilidade do Montepio Geral, protegendo-o das falências que afectaram tantas organizações congéneres. As fontes que suportam este estudo contemplam, essencialmente, a produção científica produzida por Daniel Augusto da Silva na temática da organização de montepios de sobrevivência e estudos da população portuguesa, tratados clássicos de anuidades ingleses do século XIX, documentação do acervo documental do Montepio Geral, designadamente livros de actas da Direcção e da Assembleia Geral de sócios e documentação relativa a inquéritos oficiais a associações de socorros mútuos, da segunda metade do século XIX, disponível no Arquivo Histórico do MOPTC. Palavras-chave: Pensões, Montepio Geral, cálculo actuarial, Daniel da Silva Trabalho de investigação desenvolvido no âmbito de programa de doutoramento em História e Filosofia das Ciências ministrado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, sob orientação do Professor Doutor Luís Saraiva, Professor Auxiliar do CMAF/FCUL. Título registado da tese de doutoramento: “Daniel Augusto da Silva e a Matemática em Portugal na segunda metade do século XIX”. 1