1 A IMAGEM DIGITAL DO CELULAR OU LUPA ÓPTICA? OS RECURSOS TECNOLÓGICOS NAS AULAS DE ARTES Maria Cristina Blanco1 Universidade de São Paulo – Escola de Com. e Artes [email protected] RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar de que maneira as novas tecnologias de telefonia móvel, tornou-se um recurso que possibilita de forma social e democrática o acesso a informação. (HORST: MILLER, 2006). Os desdobramentos dessas possibilidades enriquecem de certa forma as metodologias educativas. Sendo as aulas de Artes, no ensino básico uma disciplina que desfruta destes recursos. Observou-se junto aos jovens alunos do ensino médio, como eles utilizam estes recursos contemporâneos. A questão central na verdade não é a forma como as tecnologias digitais se suplantam as formas tradicionais (ou mesmo métodos físicos), mas sim como uma pode colaborar e complementar em relação à outra. De certa maneira notou-se na pesquisa como o avanço tecnológico destes aparelhos possibilitou uma infinidade de recursos explorados pelos jovens na aprendizagem da Arte. Palavras chave: Ensino da arte, leitura da obra, novas tecnologias ABSTRACT This work has the objective of analyzing the way which mobile telephone technology is becoming a social and democratic resource to reach information.(HORST: MILLER, 2006).The appearing of these possibilities can also create, in some way, richer educational possibilities. The Art Education classes, during the basic education, are gifted with such resources. It’s been noticed among high school students, a continuous use of these contemporaneous resources. The central question, however, is not about the way digital technology has taken the place of the traditional methods (or even physical methods), but how both technology and methods can collaborate and complement each other. Somehow it’s been noticed in a research that, has created an infinity of resources, which can be explored by young Art students and help immensely the discoveries in this field of education. This has been noticed not only on formal learning places, but also on informal ones. Keywords: Teaching of art, reading of work art, new technologies 1.1 Introdução No mundo contemporâneo nota-se a presença cada vez mais acirrada da busca pelas informações digitais, que se fazem necessária tanto para o educador como para educandos. A era digital tem tocado a todos e mudado substancialmente o papel social da informação dentro desse contexto. 1 Estudante de Pós-Graduação , nível doutorado da Escola de Comunicações e Artes da USP, orientanda da profa Dra Maria Christina de Souza Lima Rizzi. 2 O professor contemporâneo faz usos destes recursos instrucionais ainda hoje e incorpora as novas tecnologias digitais. Nessa afirmação não deve sugerir que as novas tecnologias eletrônicas devam suplantar as antigas, pois são estas que podem trabalhar em parceria com as ditas “novas”. Segundo aponta a UNESCO, (2013) as possíveis razões pela busca desta tecnologia de informação: De acordo com o guia publicado pela UNESCO, entre os motivos para o uso de tecnologias móveis estão: permite que se aprenda em qualquer hora e lugar; dá suporte a aprendizagem in loco; provê avaliação e feedback imediatos; melhora a aprendizagem contínua e amplia o alcance e a equidade em educação. Dentre os dispositivos que podem entregar/suportar o Mobile Learning, o telefone celular é sem dúvida o mais popular e acessível. “Se o computador ainda é um objeto restrito, o celular está presente em boa parte das escolas, nas mochilas dos alunos de diferentes classes sociais”. (MERIJE, 2012, p.81). O presente trabalho em por intenção verificar a forma recorrente que os jovens estudantes de ensino médio utilizam seus telefones celulares para captar imagens através da câmera digital, armazenar imagens coletadas na internet, registrar as imagens como seus próprios desenhos, para suas criações nas aulas de Artes. Eles organizam assim um banco de imagens pessoal. Dessa forma percebe-se a importância dos usos tecnológicos, tanto na pesquisa como na sala de aula, nos obriga a atentar para os novos movimentos da era digital. A aula de Artes é responsável direta pela interpretação e leitura de imagens na escola, não que as demais disciplinas não o sejam, porém ela conecta os jovens estudantes a todo instante às imagens, relacionadas à produção artística. A questão aqui presente possibilita refletir como os jovens desta geração utilizam seus aparatos de telefonia celular para desfrutar melhor a percepção destas imagens. Esta forma de aprendizagem tem recebido uma nomenclatura específica segundo Fonseca (2013): O grande diferencial, no entanto, pode ser atribuído à ascensão dos dispositivos comunicacionais móveis. Convergentes, portáteis e multimídias, esses aparelhos tem possibilitado um conjunto de alternativas que podem ser exploradas também para a aprendizagem, denominada de Mobile Learning – aprendizagem Móvel. (FONSECA, 2013, p. 58) 1.2 Metodologia da pesquisa 3 A pesquisa utilizou-se da metodologia denominada “pesquisa-ação participante” postulada por Michel Thiollent, (2008), na qual coloca o pesquisador no bojo das ações, ou seja, como propositor dos movimentos, atuando junto aos sujeitos da pesquisa. Querem pesquisas nas quais as pessoas implicadas tenham algo a “dizer” e a “fazer”. Não se trata de simples levantamento de dados ou de relatórios a serem arquivados. Com a pesquisa-ação os pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo na própria realidade dos fatos. (THIOLLENT, 2008, p 18). Sendo assim tomei uma postura de pesquisadora e professora na qual me coloquei no bojo das ações da questão tratada. A pesquisa preocupou-se com uma das bases fundantes dentro do contexto do ensino da arte, que é a percepção das imagens (ARNHEIM, 1989:1986). Dessa forma torna-se o professor o grande responsável por estimular a percepção dos alunos através da leitura da obra de arte nos seus diversos sistemas de “ver”. Sobre o “olhar” ressalta Arnheim (1986): O ato de olhar está longe de ser um simples registro mecânico de elementos sensórios e, dessa forma, a visão prova ser uma apreensão verdadeiramente criadora da realidade, possibilitando a imaginação, a invenção, a perspicácia e a beleza. Toda a percepção é também pensamento, todo o raciocínio é também intuição, toda a observação é também invenção. (ARNHEIM, 1986, p. V). No caso verificou-se em lócus (presença na sala de aula) das ações a respeito das percepções de captação de pequenas imagens presentes nas obras localizadas no período Renascentista, correspondente aos pintores Hieronymus Bosch e Pieter Paul Brueguel. Outros momentos de aprendizagem da arte foram observados na pesquisa: o banco de imagens feitas pelos alunos para o apoio nas aulas de Artes, onde as obras são captadas de maneira digital, tornando-se assim facilitador nas atividades em sala de aula. Desde há alguns anos os instrumentos instrucionais para a observação minuciosa destas obras; tão repletas de detalhes; eram feitas na maioria dos casos, com a lupa ótica. A partir dos anos de 2010, notou-se um grande avanço tecnológico nos aparelhos celulares, no que diz respeito aos seus dispositivos de câmeras digitais acopladas a eles, e a forte presença destes objetos entre os materiais dos alunos do ensino médio. Por um problema estrutural que sofrem a maioria das aulas de artes nas escolas tradicionais, a quantidade de lupas óticas, só está disponível para uma parcela de quinze por cento dos alunos. De certa forma a solução para atender a captação de imagens, via modo digital tornou-se um grande facilitador neste 4 processo. Além disso, notaram–se os usos individuais (e em certos momentos há o compartilhamento das imagens, tanto via eletrônica como pelo meio físico) que todos os jovens fazem deste recurso. A seus modos cada um deles capta o fragmento da obra o traz consigo, tornando assim um “objeto imagético” de sua posse, diferente do recurso propiciado pela lupa óptica, que obriga a memorização a todo instante. Não se anulou o fato de memorizar em nome da captação da imagem via câmera do celular, mas os benefícios dessa nova forma de aprender e perceber a Arte. 1.3 Desenvolvimento das ações Tópicos a serem relatados e analisados: 1- [Espaços de aprendizagem formais- Escola] – Situação 1- A captação de imagens através das reproduções da obra de arte do pintor, Hieronymus Bosch, O Jardim das delícias terrenas, 1504 (tinta a óleo sobre madeira – tríptico) Museu do Prado, Espanha e Pieter Brueguel. Observação e análise da utilização dos recursos de captação de imagem digital pelos estudantes. Coleta de depoimentos e análise dos trabalhos feitos pelos alunos, baseados em análise qualitativa/quantitativa. 2- [Espaços de aprendizagem formais- Escola]- Situação 2- A utilização do banco de imagens presente nos aparelhos celulares dos jovens. Notou-se de maneira geral, eles armazenam desenhos (de anime, mangá, personagens de seriados, dos games, vinhetas, ícones da internet, entre muitos outros). Buscou-se investigar em que ordem e grau os jovens buscam, armazenam a acessam essas imagens, para o auxílio às atividades de criação durante as aulas de artes. Em ambas as situações foram elaboradas a coleta de depoimentos e análise dos trabalhos feitos pelos alunos, baseados em análise quantitativa, referente à posse de aparelhos celulares, computadores e acesso a internet. E qualitativa, no que se refere aos usos da tecnologia celular em sala de aula. 1.4 Panorama tecnológico particular dos estudantes e da Escola E. E Antonio Francisco Redondo2. 2 Pequeno Histórico - A Escola Estadual Antonio Francisco Redondo foi fundada no ano de resolução 40/81 D.O.E. de 19 de março de 1981. Situada a Rua Evandro Danton Ferreira Gandra nº 148 Vila Mangalot – Pirituba, São Paulo, na região de metropolitana de Pirituba. Quando fundada a escola, atendia apenas a comunidade de Ensino Básico, hoje Ensino Fundamental I, ou seja, de primeira a quarta série. Quando ocorreu a reestruturação das escolas estaduais, passou a oferecer também o antigo ginásio hoje conhecido como Ensino Fundamental II. Somente no ano de 2004 a escola passou a ser exclusivamente de Ensino Médio. Esse fato resulta até os dias de hoje, certo problema quando a organização do espaço físico 5 As escolas públicas brasileiras, assim como as americanas necessitam de reestruturação urgente, no que diz respeito às transformações tecnológicas (PAPERT, 1997). Percebe-se que neste sentido, por exemplo, o ensino médio nas escolas estaduais paulistanas está obsoleto devido à forma como se opera as tecnologias tanto na sala de aula como nos demais locais de aprender no espaço escolar. Foi realizado no mês de fevereiro de 2013 um levantamento a respeito, das posses relacionadas ao acesso à internet via computador residencial e via celular. Foi computada também a quantidade de alunos que não possuem acesso ao telefone celular assim como ao acesso via internet por este aparelho e mesmo os casos de alunos que não possuem sequer o aparelho celular. Seguem as tabelas destas definições: Tabela 1 – Informações quantitativas referentes à posse de aparelho celular e acesso/ não acesso à internet3 Possuem aparelho celular sem acesso a internet 13 % Possuem aparelho celular com acesso a internet 81 % Não possuem aparelho celular 6% Tabela 2 – Informações quantitativas referentes à posse de computador residencial e acesso/ ou não à internet: Possuem computador pessoal sem acesso a internet 39 % Possuem computador pessoal com acesso a internet 37 % Não possuem computador pessoal 24 % Perguntou-se para os estudantes entrevistados sobre a questão dos dados referentes à informação da grande quantidade de posse referente ao aparelho celular e o acesso a internet, o nos foi relatado que os planos de telefonia celular, com acesso à internet são mais econômicos do que os planos de internet banda larga via empresas de telefonia fixa ou mesmo da escola, sabendo-se que o volume físico dos alunos de Ensino Fundamental I e Ensino Médio são bastante diferentes. Hoje a escola opera com um número total de trinta e duas classes de séries, compostas pelos primeiros, segundos e terceiros anos do ensino médio. Sendo doze classes de primeiro ano, onze de segundo ano e sete de terceiro ano do ensino médio. Estes jovens são de idade que varia entre quatorze e dezenove anos. Atualmente o corpo docente é formado em seu total por quarenta e seis professores. A coordenação é formada por dois professores-coordenadores, um vice diretor e um diretor. 3 Observação: foram levantados os dados de treze turmas de alunos do ensino médio, (com idade entre quatorze e dezesseis anos) com o número total de alunos/ por série em torno de trinta e oito. Ou seja, o total de alunos entrevistados foi de quinhentos e dezoito alunos. 6 de TV a cabo. Além disso, estima-se que o número de 81%, de alunos que possuem acesso à internet via celular, não consta como um número verdadeiro, pelo fato de que os alunos acessam irregularmente a rede wireless da escola, sendo assim este número “exato”, difícil de ser calculado. Quanto à posse de computador pessoal, notou-se que 39%, dos alunos possuem este equipamento em casa, mas sem acesso a internet, e apenas 37 %, possuem com acesso à rede. E apresentou-se um número de 24 %, de estudantes que não possuem computador pessoal em casa. Perguntou-se de forma geral como eles acessam a internet quando não possuem computador em casa com acesso a internet, e as respostas foram dadas quase em unanimidade: utilizam-se os computadores nas lan house, presentes nas cercanias da escola ou de suas casas. No que diz respeito ao acesso dos computadores na escola, existe atualmente a S.A.I – Sala Ambiente de Informática4, com o uso democratizado a todos os alunos. Este projeto paga bolsas no valor de R$ 430,00 para os próprios estudantes das escolas estaduais para trabalharem como “aluno-monitor” da S.A.I. Porém nota-se certa dificuldade em manter os jovens estudantes do ensino médio nestes empregos temporários, pelo fato de serem estes necessitados de empregos fixos, que pagam salários um pouco melhores e que ofereçam condições trabalhistas melhores. 1.5 A Utilização do celular como instrumento de apoio às aulas de artes Notou-se nos últimos três anos, em decorrência do avanço tecnológico dos aparelhos celulares e ao fácil acesso a internet possibilitada graças às melhorias dos preços destes serviços, que a cada dia, os jovens estudantes utilizam esta tecnologia como um recurso educativo em sua formação. Além do que devido aos recursos destes aparelhos contemporâneos, eles são cada vez mais utilizados como agendas, despertador, máquina fotográfica, filmadora, gravador de áudio, assumindo assim o papel maior do que um simples aparelho que possibilita a ligação sem fio (DORLASS; MARQUES, 2013; AMIEL, 2011). Nota-se que nas aulas de artes, tão necessitantes do registro, e armazenamento de imagens, esse recurso contempla uma vasta exploração feitas pelos jovens adolescentes do ensino médio. Com seus aparatos dotados de acesso à internet, eles buscam imagens de todos os tipos, na Word Wilde web, e criam um banco de imagens, na qual acessam o tempo todo 4 Este projeto Acessa São Paulo, presente nas S.A. I é mantido pelo Governo do Estado de São Paulo, em colaboração administrativa da Diretoria de Ensino Norte 1. 7 para compor suas criações. Além disso, trocam essas informações entre si, via email ou mesmo através das redes sociais. Em verdade há educadores que proíbem o uso destas tecnologias em sala de aula. Porém na postura de professora e pesquisadora, coloco-me em defesa daquilo que é um aliado nas aulas de arte-educação, que é o “captador de imagens”, via câmera fotográfica do celular. Por exemplo, existe a todo o momento nas aulas de artes a necessidade da abordagem e leitura da obra de arte. Quanto aos recursos instrucionais referentes a esta atividade em sala de aula, trata-se de reproduções de obras de arte, impressas em geral em formatos de folhas A-4 (210x297 mm) e A-3 (297x420 mm). Tornando-se assim a visualização destas reproduções uma tarefa difícil sem o auxílio de uma lente de aumento óptica. Porém durante muitos anos este recurso era o único para solucionar o problema da dificuldade visual. A obra a que me refiro para observação minuciosa é Hieronymus Bosch, O Jardim das delícias terrenas, datada de 1504. Segue a imagem da obra: Figura 1 – Reprodução da obra: O Jardim das delícias terrenas, Hieronymus Bosch5, datada de 1504 A atividade em sala de aula consiste nas discussões em torno da leitura desta obra 6 que consiste em contextualizar a temática religiosa vista e interpretada aos olhos do pintor Hieronymus Bosch, que viveu no período que foi denominado pelos críticos de arte como Renascentista (entre 1400 a 1550, aproximadamente). A tarefa da leitura desta obra é a 5 Fonte da imagem: fragmentosculturais.wordpress.com . Acesso em 10/05/2013. Leitura da obra de arte refere-se à ação a ser realizada e inclui necessariamente as áreas de Crítica e Estética da Arte. Essa tarefa envolve uma participação ativa do educando, ou seja, ele não pode ser considerado um simples depositário de informação. A interpretação da obra de arte deve incluir o observador no processo de percepção da obra ou objeto a ser estudado. Sendo este apenas um dos três pilares básicos da proposta triangular do ensino da arte (BARBOSA, 1999). 6 8 contextualização geral desta obra específica e toda a sua relação com as demais obras deste pintor dentro do contexto típico do período dito acima. A questão religiosa e antropológica levantada em sala de aula sobre a temática de obra que neste caso é o pensamento religioso da época e modos de viver na sociedade da época só pode ser observada em detalhes com o uso de lentes de aumento (lentes ópticas). Porém na contemporaneidade com o uso dos registros fotográficos em celulares e suas múltiplas possibilidades, esta atividade ganhou uma nova dimensão. Segue procedimento do estudante diante das novas tecnologias de aparelhos de celular: Figura 2 – Detalhe da observação com lupa óptica da obra; O Jardim das delícias terrenas, Hieronymus Bosch, datada de 1504 Figura 3- Idem fig. 2, com captação da imagem do aluno Thiago, 16 anos Notou-se que em primeiro momento os jovens estudantes observam as imagens das reproduções com a lupa óptica, porém eles precisam investigar os pequenos detalhes com mais precisão e recorrem ao recurso da tecnologia celular, e dessa forma exploram seus recursos que são a câmera fotográfica como a ampliação de imagem. Utilização das linhas de guia, para selecionar a parte escolhida da obra, entre outros recursos. Segue imagem ilustrativa: 9 Figura 4 – Detalhe da observação da obra e captação da imagem através da fotografia digital, Thiago, 16 anos Figura 5- Manipulação do recurso de ampliação, no celular Galaxy 2S, Samsung, permite uma visualização quadriculada (linhas de guia) que disponibiliza sua ampliação selecionadaAluno Thiago, 16 anos Foi elaborado um estudo dentro do recorte de apenas duas turmas de sala de aula, (oitenta alunos), para este estudo qualitativo. Dos estudantes que prestaram seus depoimentos, notamos uma grande diversidade de opiniões, no que diz respeito às escolhas dos recursos de visualização. Quanto à tabulação dos dados coletados, optou-se dentro desta pesquisa, a não sistematização destes termos, pelo fato de que amostragem, que são no caso os jovens estudantes. Realizamos o questionário de pesquisa com apenas cinco estudantes do ensino médio, para termos uma situação de parâmetro comparativo. Em verdade encontramos uma série de fatores que variam desde a falta de recursos, na escola, como por exemplo, a carências de reproduções de obras de arte, a carências de lupas ópticas, (neste caso só estão disponíveis cinco delas), o que leva de certa forma a escolha da captação da fotografia digital a uma opção prática para resolver o problema de escassez de recursos instrucionais ou mesmo didático pedagógicos. Porém mesmo com estas ações pontuais dentro do contexto escolar, perguntei para estes jovens, a maioria deles, (dentro do grupo escolhido), se eles preferiam a lupa óptica ou a captação de foto digital. A maioria deles, respondeu que gosta do recurso da visualização da obra com a lupa ótica e que o recurso digital, lhes possibilita a apreensão da imagem, que funciona neste caso como um recurso facilitador pelo fato de colaborar com as ações de memória estimulada. Outra parcela (eu diria que uns 40%) da sala simplesmente não gosta de captar as imagens via celular, porém nestes casos a lupa óptica precisa estar em suas mãos o tempo todo durante o ato de desenhar/ ou recriar a obra. Ou seja, de certa forma as novas tecnologias digitais, são capazes de auxiliar a percepção e captação das imagens, mas não são estas insubstituíveis, ou descartadas em troca de outro recurso físico (no caso as lupas ópticas). Outra coisa que se deve destacar é o papel do professor, este deve propiciar que as escolhas dos estudantes seja livre e democrática. O professor deve tomar cuidado com a figura de líder que ele possui, e sendo assim não deve “conduzir” as escolhas dos alunos. Ele deve sim, ajudá-los a escolher seus próprios caminhos e não fazer as escolhas para eles. Sem contar com o fato de que quando os alunos estão em idade adolescente, o professor que queria torna-se um professor impositivo, este terá dificuldade, pelo fato de que os jovens desta idade possuem suas opiniões um pouco mais 10 firmes e formadas, do que no caso as crianças da primeira fase da infância (de cinco a nove anos). Figura 6- Aluno Thiago de Mesquita Arruda, (18 anos), primeira série Ens. Médio, utilizando uma imagem do seu banco de dados no celular, (Gasparzinho) Este aluno, que cursa o primeiro ano do ensino médio, Thiago de Mesquita Arruda, 18 anos, (fig. 6) busca com freqüência as imagens presentes no seu cotidiano visual, que neste caso são os desenhos animados da televisão (ao mesmo tempo gibi), muitas vezes já estão presentes no seu dispositivo de armazenamento do aparelho celular, e caso não, ele faz a busca via internet, salva o arquivo e o utiliza na sala de aula. Figura 7- Detalhe da mão esquerda do aluno Filipe de L. Porto, 14 anos, desenhando personagem já existente e criando outros Figura 8 – Idem fig. 7 com visão panorâmica Em outro caso, como por exemplo, o Filipe de Lira Porto, 14 anos, (fig. 7 e 8) que se apresenta como um jovem muito admirador da atividade do desenho, não gosta de desenhar observando modelos prontos, que neste caso exclui tanto os modelos feitos em papel ou digital. 11 Figura 9 – Vitor Hugo L. de Souza, selecionando imagem do Angry Birds, (game), em seu tablet Figura 10 – Idem fig. 9, em detalhe No entanto outros jovens investem em aparatos digitais na qual possui uma visualização um pouco mais ampla do que os celulares. O tablet vem sendo utilizado em pequena escala ainda nas escolas públicas devido ao seu alto preço de mercado hoje estabelecido. Percebeu-se que neste caso o aparelho celular é abandonado pelo fato de que a imagem visualizada no tablet é maior e possui boa definição (fig. 9 e 10). Além do papel de banco de dados de imagens que o celular assume dentro da sala de artes, ele serve também como o “registrador” do próprio trabalho feito pelo aluno. Após a realização do desenho/ ou outro trabalho de técnica similar, ele vê a possibilidade de fotografar como um fato de apropriar-se do trabalho e o leva consigo7·, tornando-se assim algo como um “bem” (Fig. 11 e 12). Figura 11- Aluno Cleiton Fernandes S. Filho, 16 anos, fotografando seu desenho finalizado 7 Figura 12- Aluno Cleiton Fernandes S. Filho, 16 anos, imagem fotográfica do seu trabalho Devido às regras escolares, o professor deve reter os trabalhos dos alunos durante o ano letivo, porém sendo um procedimento meu, retenho até o findar do bimestre, devolvendo logo que este acaba. Porém, para os mais aficionados nesta “arte do desenho” torna-se necessária a aquisição de tal imagem, realizada com tamanha destreza. 12 Considerações finais No caso desta pesquisa foi interessante notar as revelações sobre os usos e desusos das tecnologias digitais para captação de imagens para a aprendizagem da arte na escola. Pensar como utilizá-la sem afastar a ajuda dos velhos recursos, sendo assim um recurso cooperador e não excludente. Pensar as formas com que as pessoas usam incansavelmente estas tecnologias, não fazendo um bom uso delas e refletir sobre as demais que fazem seu uso que colabora para a vida moderna e dinâmica da era digital. E outra questão que nos coloca a pensar sobre o uso tecnológico e através dessas reflexões fazer de seu uso, um instrumento social e integrador. E principalmente transformá-lo em um novo ato de criação e construção de novos modos de ver. Além de que se deve levar em consideração, quem são os sujeitos pesquisados, que posses eles tem sobre as novas tecnologias digitais, ou mesmo que posses eles não tem! E no caso de ter alguma posse, que usos ele faz delas? Creio que o que voga na pesquisa, é sempre uma tomada de decisões para analisar os dados e quando isso ocorre, deve-se levar em conta muitos fatores como estes relatados acima, e não simplesmente analisá-los de um ponto de vista do pré-concebido. Acredito sim que devemos permitir e estimular o uso das novas tecnologias em sala de aula, inclusive nas aulas de Artes, mas recomendo a não condução dessas escolhas. Dessa forma teremos certeza de realizar uma educação de partilha e democratização com os estudantes. Referências AMIEL, Tel. Entre o simples e o complexo: tecnologia e educação no ensino básico. Comunicação e Ciência. Nº 131. Campinas. 2011 ARNHEIM, Rudolf. Intuição e intelecto na arte. São Paulo: Ed.Martins Fontes, 1989. 343 p. ______. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Ed. Pioneira. 1986. 503 p. BARBOSA, Ana Mae T. Bastos. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Ed. Perspectiva. 1999. 134 p. DORLASS; Walter C.; MARQUES, Fagner C. S.; Porque e como utilizar um celular para dar aula. Tecnologia da Informação- CW Dorlass Consultoria Educacional. (Material não publicado). FONSECA, Ana Graciela M. F. Questões relevantes na relação dispositivos comunicacionais móveis e processos de ensino-aprendizagem. Anais do II Congresso 13 Brasileiro de Recursos Digitais na Educação. Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo-SP. 2013. HORST, Heather M., MILLER, Daniel. The cell phone: an anthropology of communication. Berg Publishers. New York. 2006. MERIJE, Wagner. 2012. Mobimento: educação e comunicação mobile. São Paulo: Petrópolis, 125 p. PAPERT, S. Why school reform is impossible. The journal of the learning sciences, v. 6, n. 4, p. 417-427, 1997. Disponível em: < http://www.jstor.org/stable/1466781 >. RELATÓRIO DE ATIVIDADES 2012. COORDENADOR Profa Dra Dália RosenthalEscola de Comunicações e Artes - Universidade de São Paulo. SUPERVISORES Ariclaudio Francisco da Silva; Maria Cristina Blanco. PROGRAMA PIBID Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo. Ed. Cortez. 2008. 132 p. UNESCO Policy Guidelines for Mobile Learning. 2013. Disponível em: < http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002196/219641E.pdf>. Acesso em: 28 fev.2013. Maria Cristina Blanco – Doutoranda e mestre em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Sua área de investigação consiste em Arte-educação, educação em museus e história da gravura. Investiga no momento aprofundamentos na Leitura da obra de arte. A pesquisadora faz parte do projeto: Observatório da Formação de Professores no âmbito do Ensino de Arte: estudos comparados entre Brasil e Argentina. Atualmente leciona a disciplina de Artes na Rede Estadual de São Paulo. Supervisionou o projeto PIBID, ECA-USP, no ano de 2012.