MOBILE-LEARNING: VINHO NOVO EM ODRES VELHOS
Jefferson Antonio Nunes de Santana
Talita Vidal Pereira
Faculdade de Educação da Baixada Fluminense – FEBF/UERJ.
Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação.
Eixo: Pesquisa, Artes, Mídias e Educação
Categoria: Pôster
RESUMO: A popularização do uso de celular tem ocasionado inúmeras tensões no âmbito
da escola suscitando, inclusive do poder legislativo, uma série de medidas no sentido de
coibir o seu uso na sala de aula. No entanto, esse movimento acontece em um cenário em
que o poder público tem alocado recursos significativos para equipar tecnologicamente as
instituições de ensino em consonância com recomendações de agências de fomento
internacionais. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), por exemplo, defende que as tecnologias móveis podem ser a salvação da
educação mundial e nos apresenta o conceito de Mobile-Learning orientando que as ações
governamentais invistam nas mesmas. Foi esse cenário que motivou a formulação de um
projeto de pesquisa em que se procura entender, utilizando os conceitos de discurso e
hegemonia desenvolvidos por Ernesto Laclau na sua Teoria do Discurso, os sentidos de
ensino e de aprendizagem que preenchem o significante qualidade da educação e são
articulados nos discursos em defesa da ideia do Mobile-Learning como instrumentos
necessários e imprescindíveis para a garantia da qualidade de educação.
Palavras-chave: Mobile-Learning; Educação; Ensino; Tecnologias Móveis.
MOBILE-LEARNING: VINHO NOVO EM ODRES VELHOS
O Vinho
Um celular toca na aula. A aluna saca-o da bolsa e o desliga. O professor
desconcentra, mas retoma a explicação. Segundos depois, o celular toca
novamente… A aluna atende. O professor se aproxima, toma o aparelho da
mão da aluna e o atira ao chão.1
No dia 14 de março de 1984 foi vendido, por 4 mil US$, o primeiro aparelho celular, o
Motorola DynaTac 8000X2. Segundo o site techtudo, o DynaTac 8000X tinha 33 cm de
altura, 4,5 cm de largura, 8,9 cm de espessura e pesava 794 g. A bateria durava 1 hora de
conversação e 8 horas em modo de espera3. Só recebia e realizava chamadas.
O celular sofreu ao longo dos anos diversas transformações. Para termos uma ideia,
1 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mUjls4vbCWM>. Acesso em: 26 abr. 2014
2 Disponível em: <http://olhardigital.uol.com.br/noticia/40834/40834>. Acesso em: 26 abr. 2014
3 Disponível em: <http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/06/historia-dos-telefones-celulares.html>.
Acesso em: 26 abr. 2014
o aparelho celular mais vendido no mundo atualmente, o iphone 5s de 64 GB,4 custa 849
US$, possui 12,38 cm de altura, 5,86 cm de largura e 0,76 cm de espessura e pesa 112 g. A
bateria dura 8 horas e 225 horas em modo de espera. E tem inúmeras funções (serviços de
mensagens, acesso à internet, GPS, fotografa, filma, entre tantas outras funções)5.
Nesses 30 anos decorridos, o aparelho celular se popularizou. Segundo Anatel, no
ano de 2013, há 271,10 milhões de acessos móveis.6 Esse número fica assustador quando
o comparamos com a quantidade de brasileiros no mesmo ano. Pois segundo o IBGE,
somos aproximadamente 201.032.714 de habitantes.7
Esta tecnologia não se concentra somente nas mãos dos adultos. Pois de acordo
com o estudo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 41,9% dos
entrevistados na faixa de 10 a 14 anos e 67,5% na faixa dos 15 aos 17 tinham celular
próprio em 2011. A pesquisa também informa que comparando estes números com os dados
de 2009 houve um aumento de 12,6 e de 15,7 pontos percentuais respectivamente8.
Demonstrando um aumento na popularização deste aparelho nesta duas faixas etárias. Já
uma pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação
(CETIC.br), em 2013, informou que 14% das crianças entre 5 e 9 anos possuem de fato um
aparelho celular.9
A descrição da cena com que inicio esse texto ilustra uma tensão de parte dos
docentes frente as tecnologias móveis e que tem suscitado iniciativas por parte do poder
público no sentido de coibir o uso dessas tecnologias em sala de aula. No Estado de São
Paulo isso aconteceu em 2007 com a Lei nº 12.730 e logo após outros estados da federação
criaram leis similares. A Lei nº 12.884, de 03/01/2008, do Estado do Rio Grande do Sul10; a
Lei nº 14.363, de 25/01/2008 de Santa Catarina; Lei nº 5222, de 11/04/2008, Estado do Rio
de Janeiro; Lei nº 14.146, de 25/06/2008 do Ceara; Lei 7.269, de 06/05/2009 do Estado do
Pará. Em 2011 foi apresentado no Congresso Nacional o projeto de lei 2806, que proíbe o
uso de aparelhos eletrônicos portáteis nas salas de aula da educação básica e superior.
Atenta a popularização dessas tecnologias a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) lança, em 2013 o livro “Policy Guidelines for
Mobile Learning”, incentivando a criação de políticas para o uso do Mobile-Learning nas
4 Disponível em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/iphone-5s-passa-galaxy-s4-e-se-tornasmartphone-mais-vendido>. Acesso em: 26 abr. 2014
5 Disponível em: <http://tecnologiaeprogramas.blogspot.com.br/2013/09/apple-finalmente-anuncia-o-iphone-5se.html>. Acesso em: 26 abr. 2014
6 Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNoticias.do?acao=carregaNoticia&codigo=32359>.
Acesso em: 26 abr. 2014
7 Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/08/populacao-brasileira-ultrapassa-marca-de-200milhoes-diz-ibge.html>. Acesso em: 26 abr. 2014
8 Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/09/adolescentes-lideram-aumento-de-uso-decelular-no-brasil-diz-pnad.html> Acesso em: 26 abr. 2014
9 Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/um-quarto-das-criancas-de-9-anos-ja-possui-celular>.
Acesso em: 26 abr. 2014
10 Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br/filerepository/repLegis/arquivos/12.884.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2014
práticas docentes. Em meio a polêmicas sobre a adequação ou não do uso das tecnologias
móveis na escola a UNESCO passa a defendê-las com um discurso que enfatiza uma
aposta nas mesmas como possibilidade de “salvação da educação” em nível mundial a
partir do desenvolvimento do conceito de Mobile-Learning.
Foi esse cenário e essas tensões que motivaram a formulação de um projeto de
pesquisa em que procuro entender, através da Teoria do Discurso de Ernesto Laclau, os
sentidos de educação, de ensino e de aprendizagem articulados nos discursos em defesa
da ideia do Mobile-Learning como instrumentos necessários e imprescindíveis para a
garantia da qualidade de educação. Nesse texto apresento parte das reflexões que têm
orientado o estudo, na primeira apresento como tenho me apropriado dos conceitos de
discurso e hegemonia desenvolvidos por Ernesto Laclau (2011). Na segunda apresento
elementos iniciais que selecionei para analisar os sentidos produzidos em torno da defesa e
da recusa do uso das tecnologias móveis nas salas de aula.
O sóbrio
Exu leva dois amigos a uma luta de morte.
Dois camponeses amigos puseram-se bem cedo a trabalhar em suas roças,
mas um e outro deixaram de louvar Exu. Exu, que sempre lhes havia dado
chuva e boas colheitas! Exu ficou furioso. Usando um boné pontudo, de um
lado branco e do outro vermelho, Exu caminhou na divisa das roças, tendo
um à sua direita e o outro a sua esquerda. Passou entre os dois amigos e
os cumprimentou enfaticamente. Os camponeses entreolharam-se. Quem
era o desconhecido? "Quem é o estrangeiro de barrete branco?, perguntou
um. "Quem é o desconhecido de barrete vermelho?", questionou o outro. "O
barrete era branco, branco", frisou um. "Não, o barrete era vermelho",
garantiu o outro. Branco. Vermelho. Branco. Vermelho. Para um, o
desconhecido usava um boné branco, para o outro um boné vermelho.
Começaram a discutir sobre a cor do barrete. Branco. Vermelho. Branco.
Vermelho. Terminaram brigando a golpes de enxada, mataram-se
mutuamente. Exu cantava e dançava. Exu estava vingado (PRANDI, 2001,
p. 48)
O intuito deste mito é demonstrar a visão que temos sobre os significados que
atribuímos às coisas do mundo, em geral tomados como verdades que expressam
exatamente aquilo que o mundo é. Com essas certezas aprendemos a defender com unhas
e dentes as nossas verdades. Aprendemos a rejeitar os discursos contrários que vão contra
aos nossos discursos. Morreríamos, mataríamos por nossas crenças. Mas apesar de
demonstrar o engessamento humano sobre algo em que acredita, este mito nos mostra que
a verdade tem vários ângulos.
Não há uma verdade, há verdades. Se o orixá ladino passasse novamente entre os
dois camponeses, provavelmente a percepção que teriam seria outra. O mesmo objeto
poderia ser visto de outra forma, uma mudança de ponto de vista. No entanto, um terceiro
camponês, que visse o orixá de costas, poderia dizer que o gorro é vermelho e branco, se
fizesse a leitura do objeto da esquerda para a direita, por exemplo. Um hebreu poderia fazer
uma leitura da direita para a esquerda e diria branco e vermelho. Com isso quero dizer que
aquilo que defendemos como verdade é uma produção discursiva que depende do contexto
cultural e social em que nos inserimos.
É dessa forma que Burity (1997) concebe a produção de sentidos articulados em um
discurso acontece em um sistema de relações de poder. Segundo esse autor
Um objeto esférico chutado numa rua e num campo de futebol corresponde
ao mesmo acontecimento físico, mas não possui o mesmo sentido nos dois
casos. O objeto só é uma bola de futebol no contexto de um sistema de
regras e relações com outros objetos. Da mesma maneira, um diamante no
fundo de uma mina e numa joalharia é o mesmo objeto, mas ele só é
mercadoria no contexto de um determinado sistema de relações sociais.
Uma reunião de pessoas num estádio pode ser uma assembleia sindical,
uma concentração evangelística, uma torcida de futebol ou um comício
partidário. Obviamente, ninguém em sã consciência seria capaz de
confundir o evento em si com seu sentido. Mas o que importa é que o
sentido é contingente à ubicação daquele evento num sistema de relações.
(BURITY, p. 5 - 6)
Com esse exemplo o autor procura esclarecer como Laclau e Mouffe (2010)
concebem discurso. Para esses autores não existe distinção entre práticas discursivas de
práticas extradiscursivas. Nada existe fora do discurso, fora de um sistema de significação
porque não há uma realidade alheia aos conceitos e ideias. Para Laclau (2011), conceitos e
ideia são articulados discursivamente e assim projetam o que entendemos por realidade.
Por sua vez, o conceito de hegemonia em Laclau (2011) está implicado com o de
discurso, aponto de autores como Burity (2008) afirmarem que a teoria do discurso pode ser
entendida também como uma teoria da hegemonia. Em que medida?
Costa e Pereira (2013) afirmam que, para Laclau
a hegemonia consiste em um processo permanente, cujo objetivo é a
fixação de determinados significados particulares, desejando que eles
possam representar a totalidade. Entretanto, a fixação desses sentidos será
sempre contingente e provisória, e acontecerá a partir de determinadas
condições específicas (p. 295)
As tentativas de fixação de determinados significados é o que caracteriza a
concepção de discurso em Laclau (2011). São esses significados, que dão sentidos ao
mundo que são permanentemente disputados. Significados que são sempre particulares,
mas que dependendo da articulação produzida podem se tornar hegemônicos.
A concepção de hegemonia desenvolvida por Laclau se contrapõe a ideia de
estabilização, nela está presente um permanente e continuo trabalho para mantê-la.
Hegemonia é um processo permanente o que implica pensar que um dado discurso não
nasce hegemônico ele precisa se constituir como hegemônico. Em Laclau, o campo de
discursividade se caracteriza pelo seu caráter precário e contingente. O que significa que
novas práticas articulatórias produzem sentidos que podem reconfigurar as hegemonias
produzidas.
No estudo são utilizados os conceitos de discurso e de hegemonia para pensar como
sentidos de qualidade de educação têm sido articulados nos discursos que apresentam o
Mobile-Learning como instrumentos imprescindíveis para o alcance dessa qualidade.
Interessa investigar que sentidos qualidade, de educação e de ensino estão sendo
disputados nesses discursos e em que medida esses sentidos expressam grandes
inovações, ou rupturas, nas formas de pensar a educação, o ensino e a aprendizagem
contribuindo de fato, para a formulação de novas lógicas para pensarmos e organizarmos a
escola.
Os odres velhos
Voltando a tensão causada pela presença do celular na sala de aula intensificada
devido à popularização dos dispositivos móveis entre as crianças e os adolescentes. Dentro
deste espaço o celular é considerado um problema, na visão de alguns professores e
corroborada por setores significativos da sociedade na medida em que, como já foi
destacado, o poder legislativo vem produzindo iniciativas para proibir o uso desses
aparelhos na escola, na contramão de uma diversidade de investimentos voltados para
equipar tecnologicamente a escola.
A resistência ao celular tem sido justificada pelo entendimento de que seu uso, em
sala de aula “pode causar a distração do aluno, afetar o rendimento escolar das crianças e
atrapalhar a didática dos professores.”11
Na Câmara Municipal de Curitiba – Paraná tramita o projeto Lei 005.00016.2013,
protocolado em 04/01/2013 que apresenta como objetivo a “preservação da essência do
ambiente escolar, onde a atenção do aluno deve estar 100% voltada para os estudos”12.
Esse discurso expressa bem as expectativas e angústias dos docentes frente a
essas tecnologias, no entanto, interessa na investigação que realizo, analisar o que está
sendo significado como “essência escolar” nesses discursos pois essa “essência” tem
implicações nas formas de conceber o ensino e a aprendizagem.
Por outro lado, se a preocupação é o estudo porque ao apresentar o embasamento
do projeto, o legislador se reporta aos relatos dos professores sobre o uso do celular para
“armazenar a matéria”?13. Por outro lado, enquanto o legislativo proíbe o uso de tecnologias
11 Disponível em: <http://www.diariodopara.com.br/impressao.php?idnot=42458>. Acesso em: 26 abr. 2014
12 Disponível em: <http://www.cmc.pr.gov.br/wspl/sistema/ProposicaoDetalhesForm.do?
select_action=&pro_id=219876> . Acesso em: 26 abr. 2014
13 Disponível em: <http://www.cmc.pr.gov.br/wspl/sistema/ProposicaoDetalhesForm.do?
select_action=&pro_id=219876>. Acesso em: 26 abr. 2014
móveis na sala de aula são inúmeros os investimentos do poder público, em todos os níveis,
para equipar tecnologicamente as escolas. São discursos antagônicos que pretendo analisar
no estudo recorrendo à Teoria do Discurso de Ernesto Laclau.
O ébrio
A popularização dessas tecnologias no espaço escolar leva a UNESCO a lançar, Em
dezembro de 2011, a Primeira semana do Mobile-Learning com o objetivo de “compartilhar
formas inovadoras de aprendizado com e, através de tecnologias móveis e de usá-las para
alcançar a educação para todas as metas e melhorar a qualidade da educação.”14
Nota-se aqui uma diferença de perspectivas em que, longe de ser significado como
inimigo da escola o celular é apresentado como um auxiliar importante na busca por uma
educação de qualidade. Para além da redução da educação ao ensino, que será discutida
no processo de realização da pesquisa percebe-se aqui formas aparentemente diferentes de
se conceber o ensino e a aprendizagem.
Na mesma direção, em 2013 a UNESCO realiza um segundo evento que “tem como
objetivo explorar a aprendizagem móvel como uma contribuição única e significativa para
alcançar uma Educação para Todos (EPT), de aumentar o acesso à educação, a qualidade
e a igualdade”.
Neste mesmo ano, a UNESCO lança o livro “Policy Guidelines For Mobile
Learning”15, Nele contem diretrizes que incentivam os chefes de Estados a utilizarem o
Mobile-Learning. Mas o que é o Mobile-Learning? Podemos pensá-la, como sugere a
tradução literal como “aprendizagem móvel” que
envolve o uso de tecnologia móvel, quer isoladamente ou em combinação
com outras tecnologias de informação e comunicação (TIC), para permitir a
aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar. A aprendizagem pode
acontecer de várias maneiras: as pessoas podem usar dispositivos móveis
para acessar recursos educacionais, conectar-se com outros, ou criar
conteúdo, tanto dentro como fora das salas de aula. Mobile-Learning
também engloba os esforços em apoiar principalmente os objetivos
educacionais, tais como a administração eficaz dos sistemas escolares e
aperfeiçoar a comunicação entre as escolas e as famílias (UNESCO, 2013).
Tanto nos objetivos declarados pela UNESCO quanto na definição de Mobilelearning ficam explícitas as articulações de sentidos em que as tecnologias são significadas
14 “share innovative ways of learning with, and through, mobile technologies, and of using them to achieve the
Education for All goals and improve the quality of education” (Tradução do autor). Disponível em:<
<http://www.unesco.org/new/en/unesco/themes/icts/m4ed/unesco-mobile-learning-week/mlw/>. Acesso em: 26
abr. 2014
15 “The event aims to explore mobile learning as a unique and significant contribution to achieving the Education
for All (EFA) goals of increasing education access, quality and equality.”. Disponível em:
<http://www.unesco.org/new/en/unesco/themes/icts/m4ed/mobile-learningresources/unescomobilelearningseries/>. Acesso em: Acesso em: 26 abr. 2014
como imprescindíveis para que a educação possa ter qualidade. Um discurso que tem se
constituído como hegemônico em um cenário em que as tecnologias de informação e
comunicação tem sido alçadas à condição de ferramenta oficial de saída da crise
(MATTELART, 2002; 2005). No âmbito da UNESCO esses objetivos se articulam em cenário
de mudanças que tem justificado inúmeras políticas de intervenção nas escolas para que
essas se adéquem às novas dinâmicas do mundo produtivo (LAPLANE, 2004). No entanto,
assim como em outras políticas de intervenção, as mudanças não acontecem sem que
sentidos que se pretenda fixar sejam negociados com sentidos da tradição escolar. É nessa
perspectiva que penso o objetivo de meu trabalho de mestrado. Nele me proponho analisar
como esses sentidos são negociados e apropriados nos discursos da UNESCO que
defendem os benefícios do uso de Mobile Learning nos processos de ensino a partir do
pressuposto que eles garantiriam um melhor aprendizagem.
No
documento
lançado
pela
Unesco
são
destacados
alguns
benefícios
proporcionados pelo uso dessas tecnologias: a expansão do alcance e da equidade da
educação; a facilitação de um aprendizado personalizado; proporcionar feedback e
avaliações imediatas; permitir o aprendizado a qualquer hora e lugar; garantir o uso
produtivo do tempo gasto em sala de aula; construção de novas comunidades de
aprendizes; suporte de aprendizagem in loco; possibilitar uma aprendizagem contínua;
articulação entre a aprendizagem formal e informal; minimizar a interrupção do ensino em
áreas de conflito e desastres; auxiliar os alunos com deficiência; melhorar a comunicação e
administração; maximizar a relação custo-benefício.
Ainda que em uma análise inicial, é possível perceber que os benefícios que o
documento apresenta não avançam muito daqueles que têm sido preconizados nos
discursos em defesa do uso das tecnologias da informação e comunicação na escola e
nessa lógica o celular seria apenas mais uma dentre tantas ferramentas apresentadas como
redentoras mas que alteram pouco a lógica de funcionamento do ensino e da aprendizagem,
as formas como ambos são concebidos e organizados. Nessa perspectiva, essa pode ser
uma pista para explicar as resistências dos professores, porque essa tecnologia lhes é
estranha no registro que têm de ensino e de aprendizagem.
Para além dessa observação é possível perceber que os benefícios destacados se
inserem em que a educação é, mais uma vez, vendida como a possibilidade de inclusão,
tanto para os sujeitos, quanto para as nações, na medida em que dela resultaria maiores
possibilidades de desenvolvimento e para isso as tecnologias assumem papel fundamental
(LINGARD, 2004). Isso não significa que a lógica que orienta as formas de pensar os
processos de escolarização sejam profundamente alteradas.
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