Máster Universitario en Gestión de la Calidad en los Servicios de Salud. Curso 2011/2013 Departamento de Ciencias Sociosanitarias Facultad de Medicina TITULO DEL TRABAJO FINAL DE MÁSTER: Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados primários de saúde em Portugal Evaluación y mejora de la accesibilidad de la atención primaria en una institución en Portugal Tutor: D. Françes Medina i Mirapeix Cotutor: D. Zenewton André Da Silva Gama Alumno: Celeste Maria Pereira Freitas DNI: 08592113 Fecha: setembro 2013 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados primários de saúde em Portugal Resumo Objetivos: Avaliar o nível de acesso de alguns serviços prestados, mediante a análise do processo de cancelamentos e reprogramações e o cumprimento dos tempos máximos de resposta testando a efetividade de uma intervenção dirigida a resolver os problemas identificados na avaliação basal. Materiais e métodos: Foi realizado um ciclo de melhoria numa unidade de cuidados primários de saúde da Região Açores, Portugal. Estabelecemos 9 critérios de qualidade, alguns relacionados com a gestão de agendas e outros relacionados com o cumprimento dos tempos máximos de resposta garantida (TMRG). Realizou-se uma avaliação inicial, uma intervenção focalizada nos critérios mais problemáticos (num período de um ano) e uma reavaliação. As amostras foram aleatórias (n=60; n=30, neste último caso apenas para o critério 8), possibilitando uma inferência sobre as estimativas pontuais e intervalos de confiança (95%) do cumprimento de cada critério, assim como o cálculo da significância estatística da melhoria da qualidade, através do teste z. Resultados: Na avaliação inicial, detetaram-se incumprimentos em todos os critérios de qualidade definidos a priori. Após a intervenção, a melhoria relativa mínima foi de 30%, sendo estatisticamente significativa (p <0,05) em 5 dos 9 critérios. A frequência absoluta de não conformidades diminuiu de 112 (primeira avaliação) para 28 (segunda avaliação). Conclusão: O início do ciclo de avaliação da unidade de saúde revelou uma margem de melhoria nas dificuldades de acesso aos cuidados de saúde em virtude de cancelamentos e reprogramações. A reformulação dos procedimentos, o envolvimento de uma equipa multidisciplinar, a implementação de uma nova aplicação informática e o desenvolvimento de uma nova prática de avaliação institucional, conduziram a que este ciclo de melhoria fosse efetivo, de modo a promover as boas práticas e melhorar o nível de acessibilidade. Descritores: Acesso aos serviços de saúde, atenção primária à saúde; agendamento de consultas; avaliação de serviços de saúde; atenção centrada no paciente. Página 2 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal Evaluation and improvement of the accessibility to a primary health care institution in Portugal Abstract: Objectives: To evaluate the level of access to some health care services, by analyzing the process of cancellations and rescheduling, the compliance with the maximum response time and testing the effectiveness of an intervention aimed at addressing the problems identified at baseline. Materials and methods: It was conducted an improvement cycle in a primary health care unit in Azores, Portugal. We established nine quality criteria, some of them related to the management of appointments and schedules and the others related to the compliance with maximum response time to health care. It was carried out an initial evaluation, an intervention focused on the most problematic criteria (1 year period) and a reassessment. The samples were random (n = 60; n = 30, in this last case only for criteria 8), allowing an inference of the estimates and confidence intervals (95%) of the fulfillment of each criteria, and calculating the statistical significance of the quality improvement identified by the z test. Results: At baseline, we detected flaws in all initially defined quality criteria. After the intervention, the minimum relative improvement was 30%, being statistically significant (p <0,05) in five out of nine criteria. The absolute frequency of noncompliance decreased from 112 (first evaluation) to 28 (second evaluation). Conclusion: The beginning of the assessment cycle of the health care unit revealed a margin of improvement related to difficulties of the health care access caused by cancellations and rescheduling. The reformulation of the procedures, the involvement of a multidisciplinary team, the implementation of a new informatic tool and the development of a new practice of institutional evaluation, led to the effectiveness of this cycle of quality, in order to promote good practices and improving the level of accessibility. Keywords: Health services accessibility, primary health care, appointments and schedules, health care evaluation, patient-centered care Página 3 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal ÍNDICE 1 – INTRODUÇÃO………………………………………………………………………. 6 2 - METODOLOGIA……………………………………………………………………... 7 2.1 Bases de dados e pesquisa……………………………………………………….. 7 2.2 Desenho e âmbito de estudo………………………………………………………. 7 2.3 Desenvolvimento dos critérios de qualidade…………………………………….. 8 2.4 Unidade de estudo………………………………………………………………….. 10 2.5 Recolha dos dados…………………………………………………………………. 12 2.6 Desenho e intervenção de melhoria………………………………………………. 12 2.7 Análise dos dados…………………………………………………………………... 13 3 - RESULTADOS………………………………………………………………………. 13 3.1 Nível inicial da acessibilidade na unidade de saúde……………………………. 13 3.2 Efetividade do ciclo de melhoria da qualidade…………………………………... 15 3.3 Evolução da satisfação do paciente quanto ao tempo máximo de resposta garantida (TMRG) ………………………………………………………………….. 16 4 - DISCUSSÃO…………………………………………………………………………. 17 5 - CONCLUSÃO………………………………………………………………………... 18 6 – BIBLIOGRAFIA……………………………………………………………………… 20 Página 4 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal LISTA DAS TABELAS Tabela 1 – Critérios de qualidade elaborados participativamente para avaliar a acessibilidade na unidade de saúde…………………………………………………... 9 Tabela 2 – Descrição das características das unidades de estudo, por critério…. 11 Tabela 3 – Nível de qualidade inicial, depois da intervenção e significação de melhoria: comparação de resultados 1ª e 2ª avaliação……………………………... 14 LISTA DAS FIGURAS Figura 1 – Incumprimento dos critérios relacionados com a gestão dos cancelamentos e reprogramações, Pareto antes e depois…………………………. 15 Figura 2 – Critérios relacionados com o cumprimento dos TMRG………………… 16 Figura 3 – Indicadores de resultado de satisfação…………………………………... 17 Página 5 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal 1 - INTRODUÇÃO O conceito de qualidade aplicado à medicina familiar, segundo a World Organization of Family Doctors (Wonca), é definido como o “conjunto de atividades planeadas, baseadas na revisão e melhoria do desempenho clínico, com o objetivo de melhorar continuamente o nível de cuidados prestados aos doentes”.1 O acesso aos serviços de saúde é um pré-requisito para qualquer sistema de saúde de qualidade. Além de ser uma das dimensões da qualidade, conceitualmente, o acesso por si só já é considerado um elemento fundamental de qualquer sistema de saúde, tendo sido estabelecido nas constituições de vários países o acesso universal.2 Segundo Saturno2 na “assistência de qualidade ótima deve estar incluída o grau em que se contribui para não haver obstáculos para restaurar, manter ou melhorar a saúde", transformando a acessibilidade como parte da qualidade da atenção que o sistema e os profissionais oferecem ao usuário. Vários têm sido os estudos efetuados sobre a análise da acessibilidade aos serviços de saúde.4,5,6,7,8,12,26,37,40 De uma forma geral, e citando Mendes3, o resultado evidencia insatisfação geral por parte dos usuários no que concerne à obtenção de prescrições de medicamentos, realização de exames, tempos de espera para consultas e acesso à referenciação de especialistas demonstrando a existência de problemas organizacionais que provocam as barreiras que limitam a acessibilidade dos usuários aos serviços básicos de saúde. Recentemente, e neste enquadramento surgem tentativas de melhorar o acesso inclusive através da implementação de um sistema de acesso avançado (aberto/ flexível).,7,8,9,10,11 Considerando a dimensão do acesso como um dos componentes essenciais para o alcance da qualidade nos serviços de saúde, convém referir que apesar de tida como tal não deixa de ser um termo complexo que varia segundo os estudiosos e inclusive na sua terminologia.3 Muitos trabalhos relacionados com o tema abordam aspetos relacionados com a equidade e fatores mais ligados a barreiras geográficas, físicos e mesmo arquitetónicas.23,25,26,27,28,29,30,31 Atualmente, começam a surgir estudos focalizados para aspetos como os tempos de espera. 4,7,8,9,10,36,38,39 Em Portugal, a Estratégia Nacional para a Qualidade13,35 conduziu à criação do Programa Nacional de Acreditação14 que tem como principal objetivo “garantir o reconhecimento da qualidade dos serviços prestadores de cuidados de saúde. Neste contexto, o acesso se mantém como uma preocupação do passado e ainda do presente, nos programas nacionais estratégicos para a área da saúde.16,17,18,19,33. A título de exemplo, foi implementado o sistema da chamada Consulta a Tempo e Horas (CTH) 17 que visa monitorizar o acesso a consultas de especialidade referenciadas pelos médicos de família. A CTH permitiu a operacionalização dos tempos máximos de resposta garantida (TMRG),18 que serviu de base à definição dos critérios deste trabalho, tempos estes que também se encontram plasmados na Carta dos Direitos de Acesso.19 O Programa Nacional de Acreditação, contempla um bloco específico para a acessibilidade e continuidade assistencial. Neste bloco, constam normas específicas para que a unidade de saúde: (i) avalie e otimize os tempos de resposta aos utentes nos diferentes processos de prestação de cuidados; (ii) disponha de informação acerca das desprogramações; e, (iii) adote medidas de modo a diminui-las eliminando as evitáveis. Deste modo, garante-se que a prestação de cuidados se realiza no momento mais adequado e benéfico para o paciente.14 Página 6 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal A reorganização e afetação de recursos com vista a melhorar o acesso, a sua adequação aos diferentes níveis de necessidades devem estar na agenda do dia dos gestores e profissionais de saúde, de modo a flexibilizar a resposta e focalizar o desempenho na atenção centrada no paciente.8,15,16 No caso da unidade de saúde deste trabalho, detetou-se um excesso de reprogramações e cancelamentos, sendo causa para dificuldades de acesso aos cuidados de saúde. Deste modo, decidiu-se realizar um ciclo de melhoria tendo como objetivo geral melhorar a acessibilidade aos cuidados de saúde. Especificamente, pretendeu-se: (1) avaliar o nível de acesso aos serviços prestados, mediante a análise do processo de cancelamentos e reprogramações e o cumprimento dos tempos máximos de resposta; (2) testar a efetividade de uma intervenção dirigida a resolver os problemas identificados na avaliação basal; e (3) analisar a relação entre a intervenção e a evolução do nível de satisfação quanto ao acesso na unidade. Estrategicamente, iniciou-se um programa de gestão da qualidade no seu enfoque interno, de modo a criar os alicerces do programa numa base mais sólida de cultura de qualidade organizacional. Tratou-se de incentivar o trabalho de equipa (numa perspetiva multidisciplinar) promovendo uma campanha para o empenhamento e participação dos profissionais, necessária para o êxito do programa. É neste ambiente organizacional que surge este ciclo de avaliação e melhoria. 2 - METODOLOGIA 2.1 Bases de dados e pesquisa Para encontrar referências bibliográficas atuais foram feitas pesquisas utilizando as seguintes bases de dados: MD Consult, OVid: current opinion collection, UpToDate, Pubmed, Medscape, Scopus, Scielo, web of science e Google académico. Foram utilizados Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)34 e termos específicos do Medical Subject Headings (MeSH), tais como: acesso aos serviços de saúde (health services accessibility); atenção à saúde (health care/public health); equidade (equity); atenção primária à saúde (primary health care); avaliação de serviços de saúde (health care evaluation); atenção centrada no paciente (patient-centered care); agendamento de consultas (appointments and schedules); qualidade, acesso e avaliação da assistência à saúde (health care quality, access, and evaluation). Na pesquisa foi sempre feito o cruzamento AND com a palavra acesso (access) quando esta não estava incluído por defeito no termo escolhido. Além destas pesquisas foram feitas outras usando os seguintes termos: health care needs and demand AND organization and administration; time management AND waiting lists. No final, não obtivemos resultados tão pertinentes como usando os descritores da pesquisa inicial. 2.2 Desenho e âmbito do estudo Implementou-se um ciclo de melhoria da qualidade interno, que teve como inicio a identificação e priorização do seguinte problema de qualidade detetado: dificuldades de acesso aos cuidados de saúde após reprogramações e cancelamentos de consultas e Meios Complementares de Diagnóstico (MCD). Para o processo de identificação e priorização da oportunidade de melhoria utilizou-se a técnica de grupo nominal, resultando a elaboração de uma lista de problemas existentes na nossa instituição. Para o consenso, foi aplicada uma matriz de priorização considerando os critérios "número de utentes afetados", "gravidade para a saúde dos pacientes", "custos" e "possibilidade de resolução depende de esforços Página 7 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal internos". Face ao resultado obtido, ficou definida como prioridade para a oportunidade de melhoria efetuar uma avaliação do cumprimento dos procedimentos internos referentes à prevenção e gestão dos cancelamentos e das reprogramações de consulta e MCD, assim como o cumprimento dos tempos máximos de resposta. Perante este problema e encarando-o como oportunidade para melhorar a acessibilidade dos pacientes aos cuidados de saúde da unidade, foi feita a avaliação do nível de qualidade baseada na construção de critérios, planeamento de melhoria e reavaliação (no que devia ser feito para melhorar o acesso aos serviços prestados) da qualidade com o intuito de comprovar a efetividade da intervenção utilizada. O trabalho foi realizado durante 12 meses na Unidade de Saúde da Ilha do Faial, unidade de cuidados de saúde primários, que integra o Serviço Regional de Saúde dos Açores (Portugal). Trata-se de uma unidade de saúde de nível básico, sem serviço de internamento nem serviço de urgência. Os serviços oferecidos são consultas programadas e não programadas no âmbito dos cuidados de saúde primários, a saber: consulta por doença, consulta complementar (inclui atendimento para utentes sem médico de família por opção própria, consulta de reforço e de intersubstituição), serviços domiciliários, consultas de nutrição e de psicologia, serviço social. Além das consultas ainda está acessível a realização Meios Complementares de Diagnóstico, tais como raio x convencional, eletrocardiograma e espirometrias. Em termos de área de abrangência, serve toda a população da Ilha do Faial, o que corresponde a 14.994 habitantes (2011), a maioria dos quais reside na Horta, cidade onde se localiza a sede da unidade de saúde. 2.3 Desenvolvimento dos critérios de qualidade Previamente à construção dos critérios realizou-se uma análise qualitativa das causas mediante uma análise de causa-efeito. Os requisitos/critérios de qualidade construídos forma agrupados em dois grupos: (i) relacionados com a gestão eficiente dos cancelamentos e reprogramações e (ii) relacionados com o cumprimento dos tempos máximos de resposta garantida (TMRG). A definição, construção e elaboração dos critérios, incluindo as exceções e os esclarecimentos de cada um (na Tabela 1), foi feita pelos profissionais da USIFaial com base nos procedimentos internos existentes e em documentos normativos existentes a nível regional e nacional. 17,18,19 Salienta-se que todos os critérios estabelecidos dizem respeito ao processo assistencial das atividades programadas e não programadas. A validade facial e de conteúdo de cada um dos critérios de qualidade foram consideradas adequadas, tendo sido feito uma avaliação num primeiro momento com dois avaliadores. Página 8 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal Tabela1 - Critérios de qualidade elaborados participativamente para avaliar a acessibilidade na unidade de saúde. Critérios relacionados com a gestão eficiente dos cancelamentos e reprogramações CRITÉRIOS EXCEÇÕES ESCLARECIMENTOS 1 Em todo o cancelamento deve constar os dados administrativos básicos. Nenhuma Consideram-se dados administrativos básicos (do doente):nome e apelidos; data de nascimento; contacto telefónico; médico de família. 2 Em todo o cancelamento deve ser feito o preenchimento completo, por parte do médico ou do técnico, do documento para informar os motivos do cancelamento. Nos casos de doença do profissional. Considera-se preenchimento completo do documento, informação dos seguintes dados: nome do profissional; motivo de cancelamento e data inicio e fim; data da justificativa. Anexo: Lista de utentes contendo: correta identificação e indicação das prioridades de reprogramação. 3 Em todo o cancelamento deve existir a aprovação do impresso de cancelamento e reprogramação pelo diretor clinico (DC) ou quem o substitua, nas primeiras 24 horas depois da sua entrega. Nenhuma Deve conter menção da aprovação, assinatura e data. 4 Em todo o cancelamento é feito o encaminhamento do impresso para o gestor da agenda, nas primeiras 24 horas, depois da aprovação do mesmo. Nenhuma O secretariado clínico (SC) procede à reprogramação após receber o documento aprovado pelo DC (ou quem o substitua), respeitando a lista de doentes anexa e prioridades atribuídas pelo médico de família (MF) ou técnico. 5 Em todos os cancelamentos, informamse os doentes do cancelamento de consulta ou exame e da data de reprogramação. Nenhuma No caso de cancelamento de consultas ou exames o SC informa, previamente, os doentes. Critérios relacionados com o cumprimento dos tempos máximos de resposta garantida (TMRG) Critérios EXCEÇÕES ESCLARECIMENTOS 6 Pacientes com doença não aguda devem ser atendidos nos primeiros 15 dias. Nenhuma 7 Todos os pacientes com doença aguda devem ser atendidos nas primeiras 24 horas. Nenhuma 8 TMRG domiciliar a pedido do utente nas primeiras 24 horas, se a justificação do pedido for aceite pelo profissional de saúde. O respetivo agendamento é efetuado tendo em conta a gravidade da situação clínica 9 Cumprimento dos TMRG para os Meios Complementares de Diagnóstico. Nenhuma A consulta deve ser realizada dentro de um prazo máximo de 15 dias úteis. Atendidos e encaminhados para o seu MF, e no impedimento deste, para a consulta complementar. A solicitação do pedido é sujeita a avaliação de enfermagem que, por sua vez, encaminhará para o médico. Caso seja aceite, a visita domiciliária deverá observar um TMRG de 24 horas após a sua formulação. Este critério quantificará se a intervenção e melhoria dos critérios tiveram efeito no problema. Será considerado o número de dias entre a solicitação de exame de diagnóstico e da realização do mesmo. Página 9 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal A análise de confiabilidade foi efetuada por meio de um estudo piloto apenas para o critério 4 “em todo o cancelamento é feito o encaminhamento do impresso para o gestor da agenda, nas primeiras 24 horas, depois da aprovação do mesmo”. A escolha deste critério baseou-se por parecer o mais sujeito a problemas de confiabilidade. Assim, foi efetuado por meio de um teste (n=30) cujo resultado demonstrou confiabilidade (índice Kappa) satisfatória. A definição, construção e elaboração dos critérios, incluindo as exceções e os esclarecimentos de cada um (na Tabela 1), foi feita pelos profissionais da USIFaial com base nos procedimentos internos existentes e em documentos normativos existentes a nível regional e nacional. 17,18,19 Salienta-se que todos os critérios estabelecidos dizem respeito ao processo assistencial das atividades programadas e não programadas. A validade facial e de conteúdo de cada um dos critérios de qualidade foram consideradas adequadas, tendo sido feito uma avaliação num primeiro momento com dois avaliadores. A análise de confiabilidade foi efetuada por meio de um estudo piloto apenas para o critério 4 “em todo o cancelamento é feito o encaminhamento do impresso para o gestor da agenda, nas primeiras 24 horas, depois da aprovação do mesmo”. A escolha deste critério baseou-se por parecer o mais sujeito a problemas de confiabilidade. Assim, foi efetuado por meio de um teste (n=30) cujo resultado demonstrou confiabilidade (índice Kappa) satisfatória. Além dos critérios elaborados, foi utilizado um indicador que se refere ao número de reclamações relativas ao Tempo Máximo de Resposta, para monitorar a satisfação do utente em relação ao acesso aos cuidados de saúde durante o estudo. 2.4 Unidades de estudo A população alvo dos critérios (tabela 2) foi constituída por todos os pacientes sujeitos a reprogramações devido a cancelamentos de consultas ou MCD, exceto para os critérios 7 – pacientes com doença aguda devem ser atendidos nas primeiras 24 horas e critério 8 TMRG domiciliar a pedido do utente. Para avaliar a evolução da satisfação dos pacientes sobre os TMRG teve-se em consideração o total de reclamações registadas. O tipo de amostragem utilizada para todos os critérios foi a aleatória simples. O tamanho da amostra foi de 60 casos para os critérios 1-7,9 e de 30 casos para o critério 8. Página 10 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal Tabela 2 – Descrição das características das unidades de estudo, por critério Critério Recetores do serviço Provedores Período do processo avaliado Universo Gestão eficiente dos cancelamentos e reprogramações C1.Em todo o cancelamento deve constar os dados administrativos básicos. 891 Médicos Técnicos C2.Em todo o cancelamento deve ser feito o preenchimento completo, por parte do médico ou do técnico, do documento para informar os motivos do cancelamento. C.3Em todo o cancelamento deve existir a aprovação do impresso de cancelamento e reprogramação pelo diretor clinico (DC) ou quem o substitua, nas primeiras 24 horas depois da sua entrega. C4.Em todo o cancelamento é feito o encaminhamento do impresso para o gestor da agenda, nas primeiras 24 horas, depois da aprovação do mesmo. 891 Conselho de Administração Pacientes alvo de cancelamentos e reprogramações Cancelamentos reprogramações Jan e Fev (anos 2012 e 2013) 891 Secretariado clínico, médicos e técnicos C5.Em todos os cancelamentos, informam-se os doentes do cancelamento de consulta ou exame e da data de reprogramação. 891 Cumprimento dos TMRG C6.Pacientes com doença não aguda devem ser atendidos nos primeiros 15 dias. C7.Todos os pacientes com doença aguda devem ser atendidos nas primeiras 24 horas. C8.TMRG domiciliar a pedido do utente nas primeiras 24 horas, se a justificação do pedido for aceite pelo profissional de saúde. C9.Cumprimento dos TMRG para os Meios Complementares de Diagnóstico. 891 Secretariado clínico e médicos Pacientes com doença aguda Pacientes dos domicílios Pacientes alvo de cancelamentos e reprogramações 13357 Registos consulta aguda Jan e Fev (anos 2012 e 2013) Secretariado clinico, enfermeiros e médicos Técnicos de diagnóstico e terapêutica Registos domicílios Jan e Fev (anos 2012 e 2013) Cancelamentos reprogramações Jan e Fev (anos 2012 e 2013) 1501 78 720 Página 11 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal 2.5 Recolha dos dados A avaliação efetuada foi de iniciativa interna, com a recolha de dados retrospetiva e realizada pelos próprios profissionais responsáveis pela assistência (autoavaliação). O parâmetro temporal da extração foram os primeiros 2 meses dos anos 2012 e 2013. Deste modo, as duas avaliações foram separadas temporalmente por 10 meses, período que correspondeu à implementação da intervenção de melhoria. Foram utilizadas várias fontes para a recolha dos dados relativos ao cumprimento dos critérios, a saber: Aplicações informáticas: Consultórios (1ª avaliação) e MedicineOne (2ª avaliação) para as agendas e registos clínicos; Registos de cancelamentos e reprogramações; Registos de enfermagem sobre as atividades domiciliárias; Registos das reclamações. 2.6 Desenho da intervenção de melhoria Planear as ações que nos serviriam de guia para melhorar o acesso aos cuidados de saúde, isto é, para efetuar o planeamento das intervenções a melhorar, recorreu-se a um método participativo. Esta metodologia envolveu os profissionais da USIFaial relacionados com o processo de melhoria, o que implicou a criação de uma equipa com participação multidisciplinar permitindo a presença de representantes de todos os intervenientes. Para tal, elaborou-se um diagrama de afinidades com a programação das ações organizadas em quatro grupos, a saber: Reuniões: com dirigentes (incluindo a gestão do topo e responsáveis de áreas específicas, tais como: gestão do risco, gestão da qualidade, chefias médica e de enfermagem, e representante do secretariado clínico); Formação do pessoal envolvido: foram efetuadas sessões para expor os resultados e as causas dos não cumprimentos e para sensibilizar / mobilizar a participação de todos neste processo de melhoria; Criação de um sistema de alerta: pretendia-se criar um sistema associado ao controlo do agendamento o que foi facilitado pela implementação da nova aplicação mediciOne; Organização do trabalho: rever a metodologia da organização do agendamento, esclarecimentos dos procedimentos associados e criação de formulários com campos de preenchimento obrigatório. Definidas as ações de melhoria decidiu-se criar um diagrama de gantt que representa o tempo previsto de execução das ações com a definição dos responsáveis de cada uma das ações, com o objetivo de servir de instrumento de controlo para a implementação das intervenções de melhoria. Página 12 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal Além disso, criou-se uma dinâmica de grupo através da realização de reuniões periódicas com o objetivo de criar um ambiente propício para esclarecimentos, partilha de dificuldades e de pontos positivos, servindo também para motivar a monitorização ao plano previamente acordado e sempre que necessário efetuar ajustes considerados oportunos. Pretendeu-se com esta metodologia responsabilizar e criar um sentimento de pertença em relação ao ciclo de melhoria. 2.7 Análise dos dados Relativamente aos critérios utilizados para estimar a melhoria entre a avaliação inicial e a reavaliação realizou-se o cálculo da estimativa pontual e por intervalo (95% de confiança) do nível de cumprimento dos critérios das amostras. Para estimar a melhoria entre a reavaliação e a avaliação, calculou-se a melhoria absoluta e relativa de cada um dos critérios. Para comprovar a significação estatística da melhoria detetada, realizou-se um teste de hipótese unilateral através do cálculo do valor de z, considerando como hipótese nula a ausência de melhoria, que rejeitava quando o pvalor era inferior a 0,05. Elaborou-se uma representação gráfica dos principais defeitos da qualidade identificados nas duas avaliações para os critérios relacionados com a gestão eficiente dos cancelamentos e reprogramações. Para tal, optou-se pela utilização de um gráfico de pareto antes-depois, por ser uma representação gráfica completa e que facilita a priorização das ações da intervenção de melhoria. Neste gráfico, podemos observar e comparar, nas duas avaliações efetuadas, os valores dos não cumprimentos correspondentes a cada um dos critérios e identificar os critérios mais problemáticos chamados “poucos vitais”, segundo o princípio de Pareto.20 Para a evolução dos critérios relacionados com o cumprimento dos tempos máximos de resposta garantida (TMRG), critérios 6-9, optou-se por utilizar um gráfico de estrela ou radar antes-depois, pois tem a vantagem de possibilitar a visualização da melhoria global corresponde à área entre as linhas que representam as duas avaliações.É um gráfico interativo que permite visualizar até que ponto cada critério melhorou e o que falta melhorar em cada um deles. 21 Quanto à análise do indicador de satisfação, foi elaborado um gráfico de tendência para analisar a sua evolução quinzenal do número de queixas quanto aos Tempos Máximos de Resposta durante o período anterior e após a intervenção de melhoria. 3 - RESULTADOS 3.1 Nível inicial da acessibilidade na unidade de saúde O nível de acessibilidade inicial foi variável. Relativamente aos valores de cumprimento dos critérios na avaliação inicial observa-se, na tabela 3, que variavam entre 42% mínimo e 97% máximo, com um intervalo de confiança de 95%. Apesar desta variabilidade podemos afirmar que o nível de qualidade geral teve uma boa percentagem de cumprimento atingindo um nível próximo um nível próximo da excelência no critério 7, 97 (IC95%: 93-100) - todos os pacientes com doença aguda devem ser atendidos nas primeiras 24 horas, seguido do critério 5: 92 (IC95%: 85-99) em todos os cancelamentos, informam-se os doentes do cancelamento de consulta ou exame e da data de reprogramação. O número de não conformidades total do grupo de critérios foi de 112, mostrando que havia uma margem de melhoria importante, sobretudo nos seguintes critérios: (i) do grupos dos critérios relacionados com a gestão eficiente destaca-se o critério 2: 57 Página 13 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal (IC95%: 50-64), em todo o cancelamento deve ser feito o preenchimento completo, por parte do médico ou do técnico, do documento para informar os motivos do cancelamento; (ii) e do grupo de critérios relacionados com o cumprimento dos TMRG, o critério 6 – 42 (IC95%: 30-54) - Pacientes com doença não aguda devem ser atendidos nos primeiros 15 dias, do grupo de critérios. Os principais problemas na unidade eram, por um lado a gestão ineficiente dos cancelamentos e reprogramações (1-5) destacando-se como referido anteriormente o critério 2 e, por outro, o incumprimento dos tempos máximos de resposta garantida (critérios 6-9), destacando-se o critério 6. Tabela 3 – Nível de qualidade inicial, depois da intervenção e significação estatística da melhoria: comparação de resultados 1ª e 2ª avaliação CRITÉRIOS 1ª Avaliação Cumprimento antes (%) 2ª Avaliação Cumprimento depois (%) Melhoria Absoluta (%) Melhoria relativa (%) p1 (IC 95%) p2 (IC 95%) p2 - p1 p2-p1 100-p1 Nível de significação estatística p-valor GESTÃO EFICIENTE DOS CANCELAMENTOS E REPROGRAMAÇÕES 1. 2 3 4 5 Em todo o cancelamento deve constar os dados administrativos básicos. 89 (80-96) 100 -a 11 100 Em todo o cancelamento deve ser feito o preenchimento completo, por parte do médico ou técnico, do documento para informar os motivos do cancelamento. 57 (50-64) 85 (77-93) 28 65 0,003 Em todo o cancelamento deve existir a do impresso da aprovação do cancelamento feita pelo diretor clinico ou quem o substitua, nas primeiras 24 horas depois da sua entrega. 90 (82-98) 93 (87-99) 3 30 >0,05 (NS) Em todo o cancelamento deve é feito o encaminhamento do cancelamento para o gestor da, agenda nas primeiras 24 horas, após aprovação do mesmo. 80 (70-90) 90 (82-98) 10 50 >0,05 (NS) Em todos os cancelamentos, informam-se os doentes do mesmo com antecedência e respetiva data de reprogramação. 92 (85-99) 100 -a 8 100 0,023 >0,05 (NS) CUMPRIMENTO DOS TEMPOS MÁXIMOS DE RESPOSTA 6 7 8 9. (a) Pacientes com doença não aguda atendidos nos primeiros 15 dias. 42 (30-54) 93 (86-100) 51 88 <0,001 Pacientes com doença aguda atendidos nas primeiras 24 horas. 97 (93-100) 100 -a 3 100 >0,05 (NS) TMRG domiciliar a pedido do utente nas primeiras 24 horas, se a justificação do pedido for aceite pelo profissional. 80 (66-94) 100 -a 10 100 0,002 Cumprimento dos TMRG para os Meios Complementares de Diagnóstico. 72 (61-83) 92 (83-99) 20 71 0,006 Quando a proporção de cumprimento é 100% não se aplica o IC 95% Página 14 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal 3.2 Efetividade do ciclo de melhoria da qualidade Observando os resultados obtidos, percebe-se melhoria da gestão das reprogramações e cancelamentos e para o cumprimento dos tempos máximos de resposta. Apesar da melhoria ser mais evidente no critério 2 e no critério 6, constatouse uma melhoria global no cumprimento de todos os critérios. Após a intervenção, a melhoria absoluta variou entre os 3 e os 51%. Não nos podemos esquecer que na primeira avaliação tinha-se verificado um critério com cumprimento próximo de um nível de excelência (critério 7). A melhoria relativa mínima foi de 30% e a máxima de 100%, sendo muito significativa (<001) no critério 6. No total observa-se que quatro critérios melhoraram significativamente (p <0,05), foi o caso dos critérios 2 e 5, de grupo dos critérios da gestão eficiente de cancelamentos e reprogramações, e dos critérios 8 e 9 do grupo de critérios relacionados com o cumprimento dos TMRG. Em relação aos critérios relacionados com a gestão das reprogramações e cancelamentos a frequência absoluta diminuiu de 56 (primeira avaliação) para 19 (segunda avaliação) o que corresponde a uma melhoria de 30%, e à área de melhoria do Diagrama de Pareto (figura1) depois da intervenção. C1.Em todo o cancelamento deve constar os dados administrativos básicos. C2.Em todo o cancelamento deve ser feito o preenchimento completo, por parte do médico ou do técnico, do documento para informar os motivos do cancelamento. C3.Em todo o cancelamento deve existir a aprovação do impresso de cancelamento e reprogramação pelo diretor clinico (DC) ou quem o substitua, nas primeiras 24 horas depois da sua entrega. C4.Em todo o cancelamento é feito o encaminhamento do impresso para o gestor da agenda, nas primeiras 24 horas, depois da aprovação do mesmo. C5. Em todos os cancelamentos, informam-se os doentes do cancelamento de consulta ou exame e da data de reprogramação. Figura 1 – Incumprimento dos critérios relacionados com a gestão dos cancelamentos e reprogramações, Pareto antes e depois Página 15 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal Relativamente aos critérios relacionados com o cumprimento dos TMRG, representados na figura 2 percebemos facilmente que o cumprimento dos TMRG para a doença aguda (crit.7) permaneceu bom destacando-se que os cumprimentos dos outros critérios evoluiu de forma positiva (critérios 6, 8 e 9). A frequência absoluta de incumprimentos diminuiu de 56 (primeira avaliação) para (9) (segunda avaliação) que correspondeu a uma melhoria de 71%. 9. Exames 6. Doença não aguda 100 80 60 40 20 0 7. Doença aguda 1ª avaliação 2ª avaliação 8. Domiciliar C6.Pacientes com doença não aguda devem ser atendidos nos primeiros 15 dias. C7. Todos os pacientes com doença aguda devem ser atendidos nas primeiras 24 horas. C8.TMRG domiciliar a pedido do utente nas primeiras 24 horas, se a justificação do pedido for aceite pelo profissional de saúde. C9. Cumprimento dos TMRG para os Meios Complementares de Diagnóstico. Figura 2 – Critérios relacionados com o cumprimento dos TMRG 3.3 Evolução da satisfação do paciente quanto ao TMRG No que respeita ao objetivo especifico de analisar a relação entre a intervenção e a evolução da satisfação do paciente quanto ao acesso á unidade de saúde, podemos observar uma evolução positiva durante e depois da intervenção. O número de reclamações diminuiu paulatinamente até ser inexistente mesmo passado 3 meses após a intervenção (figura 3). Os registos efetuados pelos pacientes em 2013, depois da intervenção, apenas respeitam a 2 sugestões com aspetos relacionados com o funcionamento geral e não com os temas objeto de estudo. Página 16 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal Figura 3 - Indicadores de resultado de satisfação 4 - DISCUSSÃO Focalizar a nossa atenção na capacidade da organização em satisfazer as necessidades dos pacientes no menor período de tempo possível18 é um dos objetivos da gestão dos cancelamentos e reprogramações da unidade de saúde. Trata-se de uma visão de garantia da continuidade assistencial relacionada com a acessibilidade aos cuidados de saúde primários, com os processos assistenciais, com as transferências e com o seguimento dos cuidados.25 Para tal, é fundamental que os tempos de resposta ao paciente sejam cumpridos e adequados às suas necessidades de saúde e às características do próprio processo. Apesar de ainda permanecer margem para melhoria, o desenvolvimento deste ciclo permitiu-nos obter o primeiro contacto com a metodologia inerente à gestão da qualidade, ferramenta adequada para obter conclusões no âmbito da gestão e da organização de serviços de saúde, contribuindo para a melhoria dos resultados.4 Na avaliação inicial, todos os critérios revelaram falhas quer nos critérios relacionados com a gestão eficiente dos cancelamentos e reprogramações quer nos critérios relacionados com o cumprimento dos tempos máximos de reposta garantida. O nível de acesso que foi encontrado deveu-se ao incumprimento dos procedimentos internos detetando-se que além do incumprimento necessitavam de ser revistos e atualizados de modo ajustarem-se ao estipulado a nível regional e nacional para os cumprimentos dos tempos de resposta. 17,18,19,32,33,35 Na fase de definição dos critérios e planeamento da intervenção a melhorar verificouse que a inexistência da prática de monitorizar o cumprimentos dos procedimentos existentes. Nesta fase, o nível de incumprimento detetado e a análise das consequências para o paciente, para a organização e para os profissionais foi objeto Página 17 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal de reflexão conjunta,6,15,40 notando-se uma atitude positiva perante uma necessidade de intervenção. Com o propósito de deteção a desvios, passou-se a dispor de um sistema que permite, de forma precoce, alertar para desvios e demoras na prestação de cuidados. Além disso, implementou-se um sistema de intersubstituição para as situações em que o profissional não esteja na instituição e que surja uma necessidade por parte do paciente que não possa ou deva ser adiada, nem se justifique a ida a um serviço de urgência hospitalar. Sem dúvida que é fundamental manter a prática de monitorização periódica, ao acesso. Considerando que as ações necessários são de processo, importa avaliar, em termos administrativos, como é feita a distribuição do volume de agendamentos tendo em conta o horário de funcionamento e os turnos praticados. Torna-se necessário uma informação mais detalhada acerca das marcações e respetiva distribuição por turnos. 36,42 Além disso, importa planear outras medidas já fruto de experiências noutros países e que permitem melhorar a acessibilidade aos serviços de saúde. Referimo-nos a opções como o designado livre acesso ou acesso avançado cuja implementação demonstra que reduz de forma significativa o tempo de espera aos cuidados primários.7,8,9,10,38 A concretização em termos de efetividade das ações do ciclo de melhoria, tendo como base as boas práticas e a melhoria dos procedimentos internos, havendo também uma reorganização nas atividades relacionadas com a gestão dos cancelamentos e reprogramações e do cumprimento dos tempos de resposta, veio-se a verificar que foi compensador na fase de reavaliação do ciclo. 36,38,42 A melhoria global entre as duas avaliações poderá ser motivador no investimento de ciclos de melhoria contínua da qualidade e até mesmo repensar em estratégias de melhoria para a continuidade desta avaliação ou mesmo para outras áreas de intervenção para melhorar o acesso das unidades de saúde dos cuidados primários dos Açores. A mudança organizacional, o empenhamento e reconhecimento dos profissionais, o envolvimento da gestão do topo e a consolidação da estrutura de gestão da qualidade deu início a um novo ciclo de vida da unidade. Em relação à evolução da satisfação do paciente quanto aos tempos de resposta refletida na diminuição das reclamações poderá estar relacionada com a adesão dos profissionais de saúde ao plano de melhoria, por um lado, e ao investimento que foi feito em formação6,28,41 sobre a qualidade no atendimento onde se conseguiu uma elevada percentagem (88%) de participação dos profissionais da unidade de saúde. Esta ação formativa que decorreu ao longo de 2012 e 2013 de modo a realizar em número suficiente para poder abranger, neste ciclo, da maioria dos profissionais. Esta ação permitiu também detetar aspetos a melhorar relacionados com a forma como a unidade comunica com os pacientes.24 Assim, e como consequência implementou-se um plano de melhoria para a área de comunicação e em particular para as relações interpessoais e gestão de conflitos. Não obstante o nível ótimo deve ser objeto de atenção futura atendendo a que apesar de verificar a existência de poucos registos, parece-nos pelo que é verbalizado que os registos feitos pelos utentes não refletem de forma mais realista a qualidade percebida. Apesar da inexistência de registos de reclamações e sabendo que nem sempre o silêncio é sinónimo de satisfação, 22 incluiremos no próximo ciclo de melhoria, uma ação complementar para averiguar as necessidades e expetativas dos utentes em relação aos cuidados de saúde da USIFaial. Este estudo terá o objetivo de conhecer a qualidade percebida na acessibilidade aos serviços que disponibilizamos na nossa área de abrangência. Quanto às dificuldades sentidas, além das que advieram da falta de experiência na aplicação da metodologia, sem dúvida que foi a necessidade de reformular os procedimentos existentes, investir fortemente na promoção do trabalho em equipa (em Página 18 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal especial, o multidisciplinar) promovendo a comunicação interna, as práticas de planeamento, a monitorização e aprender a aprender com os outros, incentivando a transformar o êxito individual pelo êxito coletivo. A sensibilização para a necessidade de tomada de consciência dos benefícios do cumprimento de procedimentos, normas e outros documentos orientadores nesta áreas, para a importância da colaboração de todos os profissionais6 tendo sempre presente a melhoria da organização, da segurança do doente e dos profissionais, como tríade fundamental para o cumprimento da missão da unidade de saúde foi, sem dúvida, um contributo fundamental deste trabalho. Para continuidade impulsionaremos projetos com o objetivo de melhorar a capacidade de acesso aos serviços disponibilizados. Nos referimos a projetos que incluem aspetos como: A diminuição das esperas para consultas e meios complementares de diagnóstico mediante melhoria de planeamento e acesso de marcação por iniciativa do paciente; Melhorar a comunicação entre os profissionais e os pacientes; Melhorar a comunicação e coordenação entre a atenção primária e os cuidados especializados; Impulsionar as experiências de participação dos cidadãos como forma de melhoria contínua da qualidade percebida. Em definitivo, trata-se de reorientar os processos assistenciais para que incorporem o ponto de vista do paciente, o que deve reverter numa melhoria da efetividade e eficiência adequada ao modelo de qualidade total que faz com que toda a organização trabalhe em busca da satisfação do paciente.6,22,28 5- CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste estudo contribuíram para a compreensão da efetividade dos ciclos de avaliação da qualidade para melhorar o acesso aos cuidados na atenção primária à saúde. O estudo mostrou que o nível de qualidade na gestão dos tempos de espera, devido a cancelamentos e reprogramações, tinham uma margem de melhoria principalmente nos critérios referentes ao tempo de espera por doença não aguda e em relação ao número de dias entre a solicitação e o agendamento da consulta/meios complementar de diagnóstico. A resposta mediante uma intervenção baseada no planeamento participativo possibilitou uma melhoria significativa, mostrando a efetividade do ciclo neste estudo. Apesar de não se ter atingido o nível ótimo para todos os critérios (ausência total de não cumprimentos) está presente a importância de continuar o ciclo de avaliações com a intenção de promover as boas práticas e a melhoria contínua dos critérios agora identificados como prioritários. Por último, podemos dizer que a realização deste ciclo trouxe benefícios para os pacientes que sentiram diretamente no tempo de espera aos cuidados de saúde, mais adequado às necessidades dos cidadãos e às características do próprio processo assistencial. Página 19 de 22 Avaliação e melhoria da acessibilidade numa instituição de cuidados de saúde primários em Portugal 6 - BIBLIOGRAFIA 1 Booth, B.; Mäkela, M.; Roberts, R. – Family doctors journey to quality: the WONCA working party on quality in family doctors. Helsinki: Stakes, 2001. 2 Saturno, PJ: Cómo definimos calidad. Opciones y características de los diversos enfoques y su importancia para los programas de gestión de la calidad. Manual del Máster en gestión de la calidad en los servicios de salud. Módulo 1: CONCEPTOS BÁSICO. Unidad Temática 1. 2ª Ed. Universidad de Murcia, 2008. 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