Pró-Reitoria de Graduação Curso de Farmácia Trabalho de Conclusão de Curso IMPORTÂNCIA DO RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL Autora: Bruna Barbosa Teodoro Orientador: Msc. Paulo Roberto Sabino Junior Brasília - DF 2014 BRUNA BARBOSA TEODORO IMPORTÂNCIA DO RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL Trabalho apresentado ao curso de graduação em Farmácia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Farmacêutico. Orientador: Msc. Paulo Roberto Sabino Junior Brasília 2014 CURSO DE FARMÁCIA COORDENAÇÃO DE TCC Ciência do Orientador Eu, Paulo Roberto Sabino Junior, professor do curso de Farmácia, orientador da estudante Bruna Barbosa Teodoro, autora do trabalho intitulado “Importância do Rastreamento e Diagnóstico do Diabetes Mellitus Gestacional”, estou ciente da versão final entregue à banca avaliadora quanto ao conteúdo e à forma. Taguatinga: ____/_____/______ _______________________________________________________________________ Msc. Paulo Roberto Sabino Junior Artigo de autoria de Bruna Barbosa Teodoro, intitulado “IMPORTÂNCIA DO RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL”, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Farmácia da Universidade Católica de Brasília, em 11 de junho de 2014, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: _________________________________________________________________________ Prof. Msc. Paulo Roberto Sabino Junior Orientador Farmácia – UCB __________________________________________________________________________ Prof. Esp. Wislon Mendes Pereira Farmácia – UCB ___________________________________________________________________________ Prof(a). Msc. Yara de Fátima Hamú Castanheira Farmácia - UCB Brasília 2014 Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso aos meus pais Aparecida e José Maria, em sinal do apoio e confiança depositados em mim durante esses cinco anos de jornada acadêmica. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me encorajar nos momentos mais difíceis a continuar lutando pelos meus objetivos. Aos meus pais, pelo imenso amor e apoio incondicional, sempre acreditaram no meu potencial e contribuíram para aumentar a minha força de vontade frente aos desafios da vida. Ao meu esposo, pelos momentos de compreensão, motivação e amor que teve comigo e ao meu orientador por direcionar e orientar meu trabalho. RESUMO TEODORO, Bruna. Importância do Rastreamento e Diagnóstico do Diabetes Mellitus Gestacional. 2014. 9 folhas. Artigo Científico. Farmácia – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2014. O diabetes mellitus é uma doença crônica que acomete um grande número de pessoas no mundo. Quando diagnosticado pela primeira vez na gestação é conhecido como diabetes mellitus gestacional (DMG). Se diagnosticado e tratado pode evitar sérias complicações obstétricas e perinatais, além de diminuir as chances da mãe e da criança desenvolverem outras doenças futuramente, como por exemplo: DM 2 e obesidade, respectivamente. Apesar de sua importância clínica, ainda não existe um consenso sobre os métodos de rastreamento e diagnóstico. Os mais utilizados são a glicemia em jejum, que seleciona gestantes com valores elevados para o Teste Oral de Tolerância a Glicose (TOTG) e o próprio TOTG. Além desses também existem outros métodos, porém são menos utilizados. Esta revisão tem como objetivo evidenciar a importância do rastreamento e diagnóstico do DMG e discutir os métodos disponíveis e utilizados com esta finalidade, além de reunir os conhecimentos mais recentes acerca do diabetes gestacional, já que essa é uma condição patológica menos difundida que as outras formas clássicas do diabetes. Palavras-chaves: Diabetes gestacional. Epidemiologia. Rastreamento e diagnóstico. RESUMO EM LÍGUA ESTRANGEIRA Diabetes mellitus is a chronic disease that affects a large number of people in the world. When first diagnosed during pregnancy is known as gestational diabetes mellitus (GDM). If diagnosed and treated can prevent serious obstetric and perinatal complications, and reduce the chances of mother and child develop other diseases in the future, such as: 2 DM and obesity, respectively. Despite its clinical importance, there is still no consensus on methods for screening and diagnosis. The most used are the fasting plasma glucose, which selects women with high values for the Oral Glucose Tolerance Test (OGTT) and OGTT own. Besides these there are also other methods, but are less used. This review aims to highlight the importance of screening and diagnosis of GDM and discuss the methods available and used for this purpose, and gather the latest knowledge about gestational diabetes, since this is a pathological condition less widespread than other forms classical diabetes. Keywords: Gestational diabetes. Epidemiology. Screening and diagnosis. LISTA DE SIGLAS DM – Diabetes Mellitus DMG – Diabetes Mellitus Gestacional IADPSG – International Association of the Diabetes and Pregnancy Study Groups IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PHPN – Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes SUS – Sistema Único de Saúde TOTG – Teste Oral de Tolerância a Glicose VDRL - Venereal Disease Research Laboratory SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11 FISIOPATOLOGIA DO DIABETES ...................................................................................... 12 EPIDEMIOLOGIA DO DMG.................................................................................................. 13 PRÉ-NATAL NO BRASIL ...................................................................................................... 14 RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO .................................................................................. 15 ACOMPANHAMENTO E PÓS-PARTO ................................................................................ 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 19 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 20 ANEXO – NORMAS DA REVISTA BRASILEIRA DE ANÁLISES CLÍNICAS - RBAC . 24 11 IMPORTÂNCIA DO RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL Importance of Screening and Diagnosis of Gestational Diabetes Mellitus Bruna Barbosa Teodoro RESUMO - O diabetes mellitus é uma doença crônica que acomete um grande número de pessoas no mundo. Quando diagnosticado pela primeira vez na gestação é conhecido como diabetes mellitus gestacional (DMG). Se diagnosticado e tratado pode evitar sérias complicações obstétricas e perinatais, além de diminuir as chances da mãe e da criança desenvolverem outras doenças futuramente, como por exemplo: DM 2 e obesidade, respectivamente. Apesar de sua importância clínica, ainda não existe um consenso sobre os métodos de rastreamento e diagnóstico. Os mais utilizados são a glicemia em jejum, que seleciona gestantes com valores elevados para o Teste Oral de Tolerância a Glicose (TOTG) e o próprio TOTG. Além desses também existem outros métodos, porém são menos utilizados. Esta revisão tem como objetivo evidenciar a importância do rastreamento e diagnóstico do DMG e discutir os métodos disponíveis e utilizados com esta finalidade, além de reunir os conhecimentos mais recentes acerca do diabetes gestacional, já que essa é uma condição patológica menos difundida que as outras formas clássicas do diabetes. PALAVRAS-CHAVES: Diabetes gestacional. Epidemiologia. Rastreamento e diagnóstico. INTRODUÇÃO O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica, caracterizada por hiperglicemia e distúrbios no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. Também considerada uma síndrome de etiologia múltipla, é resultante da falta insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos. Os sintomas clássicos (polidipsia, poliúria e perda de peso), são na maioria das vezes ausentes (1). O aumento do crescimento e do envelhecimento da população, sedentarismo, obesidade, estilo de vida, alimentação inadequada e maior sobrevida do paciente diabético, são fatores que contribuíram para elevar a prevalência do DM. Em 2002, o número de pessoas no mundo acometidas pela doença, atingia cerca de 173 milhões (2). As projeções para 2030 é que esse número alcance aproximadamente 366 milhões de pessoas, das quais 90% apresentarão diabetes tipo 2. No Brasil, estima-se que a prevalência seja de 8% da população entre 30 a 69 anos, sendo que metade dos pacientes acometidos desconhece a patologia. Isso contribui para resaltar a importância da doença, principalmente pela mortalidade do diabetes ser subestimada (3-4). 12 A alta morbidade associada ao DM demanda a promoção de medidas preventivas e a detecção de grupos de riscos para as devidas intervenções. Além disso, o diagnóstico faz com que a prevalência do diabetes no Brasil seja menos frequente que outras doenças crônicas, como a hipertensão, já que requer exame de sangue com glicemia em jejum ou preferencialmente teste de tolerância à glicose (5-6). Na gravidez uma das patologias mais comuns é o Diabetes Mellitus Gestacional (DMG). Muitas vezes deixado de lado é importante ressaltar sua relevância clínica. Associada a uma trilogia de riscos, como complicações obstétricas e perinatais, a chance da criança desenvolver obesidade e diabetes na idade adulta e o risco da gestante desenvolver diabetes tipo 2 no futuro. Apesar do diagnóstico ser bem elucidado na literatura, os métodos de rastreamento e diagnóstico ainda permanecem sem consenso (7). O profissional de saúde deve ter habilidades para detectar e agir mediante sinais clínicos dos pacientes. A atenção, assim como o apoio e monitoramento da doença é fundamental para que o paciente tenha uma melhor adesão ao tratamento e realize mudanças de comportamento e estilo de vida (8). A melhor forma de prevenir as complicações associadas ao diabetes é através de mudanças nos hábitos diários e a educação para o autocuidado. Isso proporciona que o paciente alcance os níveis normais ou quase normais de glicose sanguínea (9). Esse trabalho tem por objetivo realizar uma revisão da literatura recente sobre o rastreamento e diagnóstico do diabetes gestacional, além de ampliar os conhecimentos acerca do diabetes gestacional já que essa é uma condição patológica menos difundida que as outras formas clássicas do diabetes. Foram pesquisados nos bancos de dados do Portal CAPES, empregando-se os termos “epidemiologia do diabetes gestacional” e “rastreamento e diagnóstico do diabetes gestacional”. Foram incluídos estudos publicados entre 2004 a 2014, em português e inglês. FISIOPATOLOGIA DO DIABETES A maioria dos casos de diabetes se enquadra em duas grandes categorias: o DM tipo 1 (caracterizada pela destruição das células β pancreáticas – auto imunidade ou causa desconhecida) abrange cerca de 8% do total de casos e o DM tipo 2 (provocado por um 13 defeito na secreção e/ou ação da insulina) que compreende cerca de 90% dos casos na população (10-11). Além desses tipos, existe o DMG, que merece um destaque maior, devido ao impacto que causa na saúde da gestante e do feto. É caracterizada por um estado de hiperglicemia de intensidade variável, diagnosticado pela primeira vez ou se inicia durante a gestação. Na maioria dos casos resolve-se no período pós - parto, porém pode retornar anos depois. Na mãe a hiperglicemia pode aumentar as chances de desenvolver o diabetes e ter uma baixa tolerância a carboidratos futuramente. No feto está relacionado a morbidades decorrentes da macrossomia e no bebê é associada à hipoglicemia, à policitemia, hipocalcemia, icterícia e ao sofrimento respiratório (12). Durante a gestação existe um aumento da resistência periférica à insulina, que pode ser justificada pela presença dos hormônios diabetogênicos, como: prolactina, progesterona, cortisol e lactogênio placentário. Pois isso há necessidade de um incremento adequado na produção/liberação de insulina, justamente para controlar os níveis glicêmicos da gestante, que em jejum tendem a ser mais baixos e o pós-prandial mais elevado. Entretanto, quando não há esse incremento, diagnostica-se o DMG (13). O diagnostico precoce é de fundamental importância, visto os riscos que a doença pode trazer, assim como a qualidade de seu controle. Hoje estudos já conseguem comprovar que tratamento do DMG melhora o prognóstico da gestação. Evitar a hiperglicemia no início da gravidez é essencial para evitar malformações congênitas e consequentemente a hiperinsulinemia fetal. Além dessas complicações, o DMG mal controlado pode levar à óbito fetal e neonatal (13). EPIDEMIOLOGIA DO DMG O DMG é uma doença bastante frequente na gestação. Sua prevalência atinge cerca de 3 a 25% e difere devido a vários fatores, como: população estudada, raça, características geográficas, os métodos utilizados para diagnóstico e a frequência do rastreamento. No Brasil existem mais de 200.000 novos casos por ano e a estimativa é de que esse número cresça ainda mais nos próximos anos, principalmente devido ao aumento da obesidade (14). 14 No sistema único de saúde (SUS) a prevalência do DMG é de 7,6% nos atendimentos de mulheres com mais de 20 anos. Com a redução dos níveis de hormônios no período pósparto, na maioria dos casos, os níveis de glicemia retornam aos níveis normais. Entretanto, existe um risco elevado dessas mulheres desenvolverem diabetes tipo 2 a longo prazo (15). Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de nascimentos registrados em 2012 foi de 2,8 milhões. Levando em conta a prevalência do diabetes e o número de novos casos por ano, pode-se deduzir que existe um número significante de casos subnotificados (16). PRÉ-NATAL NO BRASIL Segundo o “Caderno de Atenção Básica – Atenção ao Pré Natal de Baixo Risco” disponibilizado pelo Ministério da Saúde, logo após a confirmação da gravidez, inicia-se o acompanhamento da gestante juntamente com o seu cadastramento do SisPreNatal (programa que permite o acompanhamento adequado das gestantes inseridas no Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN), do SUS). Inicialmente a gestante é classificada em relação ao risco gestacional, para identificação de pacientes que necessitam de tratamento imediato (12). As consultas devem ser no mínimo seis, o ideal é uma consulta por mês até a 28ª semana. Conforme vai ser aproximando do final da gestação é necessário aumentar a frequência das visitas. Existem dois tipos de exames realizados durante o pré-natal, os exames físicos e os complementares. Nos exames físicos os componentes mais importantes que devem ser verificados durante as consultas são: peso, altura, pressão arterial, avaliação das mucosas, tireoide, mamas e das extremidades. A altura do fundo uterino no abdome é medida após a 12ª semana, assim como a ausculta fetal (12). Nos exames complementares são geralmente realizados a cada trimestre e são solicitados: hemograma, tipagem sanguínea, glicemia em jejum, anti-HIV, toxoplasmose IgM e IgG; sorologia para hepatite B, exame de urina e urocultura; teste rápido de triagem para sífilis e/ou VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) (12). 15 A assistência pré-natal permite a detecção, o controle e tratamento de uma série de patologias, além de controlar fatores de risco que comprometem a saúde da mulher e do bebê. No Brasil, a assistência pré-natal evoluiu consideravelmente nos últimos 15 anos. O aumento na cobertura dos municípios e no número de consultas proporcionou que 98% das gestantes no ano de 2009 tivessem algum atendimento durante a gestação. Entretanto, nem sempre o serviço prestado é de qualidade e juntamente com outros problemas, como o início tardio, comprometem a assistência (17). Um estudo feito nos cartões de pré-natal das gestantes no estado do Espírito Santo revelou vários campos em branco nos cartões, o que leva ao questionamento se realmente houve a ausência da realização dos procedimentos e exames laboratoriais ou se houve negligencia por parte do profissional de saúde que não realizou o devido registro. As condições socioeconômicas são diferentes nas áreas de cobertura do serviço de saúde, o que justifica o fato das gestantes muitas vezes não comparecerem nas consultas de rotina (18). A ausência de informações no histórico da gestante ao longo dos anos foi relevante para a elaboração de políticas no campo da saúde materno-infantil. Desde 1991, o governo tem criado programas, como: Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS), que atuava em uma área determinada com ações de prevenção e promoção da saúde e a identificação e encaminhamento de gestantes ao pré-natal. Como forma de ampliar o PACS, foi criado o Programa Saúde da Família (PSF) que reformulou o modelo de assistência de saúde pública no Brasil. Como vantagem teve a implantação do PSF em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e teve como objetivo qualificar a assistência ao pré-natal, através de atividades educativas, clínicas e de diagnóstico. Entretanto, ainda hoje não alcança todos os municípios do Brasil, além de seguirem lógicas distintas em um mesmo território (18). RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO O rastreamento do DMG é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e deve ser oferecido a todas as gestantes durante o pré-natal. Preferencialmente deve ser realizado na primeira consulta e/ou em 24 a 28 semanas de gestação. Além disso, também é recomendado conforme os fatores de risco (12). 16 A elevação dos hormônios: lactogênio placentário e cortisol materno iniciam-se a partir da 7ª semana e na 26ª semana de gestação alcança seu máximo efeito. Assim como a progesterona que tem sua ação antiinsulínica aumentada na 32ª semana. Desse modo, esse período torna-se de grande importância do ponto de vista metabólico para realizar o rastreamento da doença, pois é quando a doença se manifesta e as chances do tratamento surtir efeito são maiores (19). Alguns fatores estão associados com o elevado risco de a mulher desenvolver o DMG, como: idade superior a 35 anos; multiparidade; histórico de DG e macrossomia fetal; abortos; diabetes em familiares de 1º grau e sobrepeso, obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual. Nesses casos, o médico deve solicitar a prova de rastreio logo após o diagnóstico de gravidez (20). Sobre os métodos de rastreamento e diagnóstico do DMG utilizados no Brasil, ainda hoje existe certa controvérsia sobre a indicação de cada um deles. O teste de rastreamento deve ter uma boa precisão, ser de baixo custo e fácil execução. O mais utilizado é a glicemia em jejum, que tem por objetivo selecionar as gestantes que apresentam valores elevados para o teste de diagnóstico (20). As últimas diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), lançadas em 2009 e que ainda estão em uso na prática clínica até a total substituição pelas diretrizes 2013/2014, recomendam a glicemia de jejum para gestantes sem fatores de risco e que esta seja realizada na primeira consulta do pré-natal. Os valores compreendidos entre 85 a 125 mg/dl é necessário realizar o Teste Oral de Tolerância a Glicose (TOTG) de imediato. Valores de glicemia em jejum acima ou iguais a 126 mg/dl detectados duas vezes já caracteriza o quadro de diabetes pré-gestacional. Esse último também vale para as gestantes com fatores de risco, porém essas já realizam de imediato o TOTG (2). Para aquelas que tiveram o rastreamento positivo, ou seja, a glicemia em jejum alterada o procedimento padrão utilizado é o TOTG, onde é administrada 75 gramas de glicose anidra (dextrosol) e feita a avaliação da resistência insulínica no tempo basal, após 60 e 120 minutos. Para a realização do exame é necessário que a paciente esteja em jejum de oito horas e mantenha uma dieta sem restrição de carboidratos ou com 150 gramas de carboidratos nos três dias anteriores ao teste (2). 17 Já na última revisão das diretrizes (2013/2014), ainda em fase de divulgação, a SBD propõe uma mudança no valor de corte para a glicemia em jejum durante a primeira consulta pré natal. Valores ≥ 92 mg/dl e < 126 mg/dl indicam o diagnóstico do DMG. Porém é necessário realizar a confirmação do resultado com uma segunda dosagem de glicemia em jejum. Se for encontrado um valor menor que 92 mg/dl a gestante deve ser reavaliada no segundo trimestre com o TOTG (21). Além disso, essa diretriz atual adotou novos pontos de corte para os valores de jejum, uma e duas horas, sendo iguais ou superiores a 92 mg/dl, a 180 mg/dl e a 153 mg/dl, respectivamente, onde um único valor alterado já confirma o diagnóstico. A mudança desses valores, que antigamente eram considerados iguais ou superiores a 95 mg/dl, a 180 mg/dl e a 155 mg/dl respectivamente, e que dependia de dois valores alterados para se estabelecer o diagnóstico, teve como objetivo encontrar o ponto exato que associa a hiperglicemia materna à eventos perinatais adversos. Isso também pode ser justificado em função dos valores glicêmicos serem mais baixos durante o período da gestação (21). Os métodos e valores citados acima fazem parte do novo protocolo proposto pelo International Association of the Diabetes and Pregnancy Study Groups (IADPSG), que foi desenvolvido por especialistas e baseado em um estudo com mais de 25 mil mulheres em 16 centros diferentes de 9 países. O objetivo do mesmo visa a adoção mundial pelos centros de atendimento a gestantes com a finalidade de se obter um diagnóstico mais abrangente, realizar um tratamento precoce da hiperglicemia materna e melhorar o prognóstico das gestações, além do risco materno fetal (22). Existem outros métodos utilizados no rastreamento, porém são utilizados com menor frequência e incluem: glicemia capilar, testes pós prandias, hemoglobina glicada, glicosúria e medida da circunferência abdominal fetal (24). A glicemia capilar não é considerada um método confiável para o DMG, devido aos diferentes pontos de cortes existentes na literatura, principalmente ao fato do paciente estar em jejum ou fora do jejum. Porém ainda assim, na ausência de outros métodos ele pode se tornar útil no rastreamento. Como exemplo disso, podemos citar um estudo feito na população de um bairro da periferia de São Paulo onde a glicemia capilar foi empregada como método de diagnóstico para novos casos de diabetes mellitus (24). 18 Os testes pós prandiais possuem como vantagem uma refeição padrão como referência ao invés de uma solução artificial de glicose, entretanto não é um método muito utilizado devido às refeições não serem padronizadas. A hemoglobina glicada possui baixa sensibilidade na gestação, entretanto o IADPSG propôs que o valor de hemoglobina glicosilada acima de 6,5% seja utilizado para o diagnóstico do DMG, uma vez que seus valores elevados indicam aumento da probabilidade de morbilidade e mortalidade neonatal (23) . Já a glicosúria e a medida da circunferência abdominal fetal não são muito utilizadas no rastreamento, pelo fato de que mais da metade das mulheres com glicosúria não possuem DMG e a medida da circunferência fetal não tem relevância quando a macrossomia já está instalada (23). ACOMPANHAMENTO E PÓS-PARTO Após a confirmação do DMG é necessário o controle e acompanhamento das gestantes por uma equipe multidisciplinar especializada nessa patologia, a fim de prevenir, detectar e resolver problemas relacionados com os medicamentos, melhorando assim os resultados da farmacoterapia, monitorar a glicemia regularmente, além de orientar a paciente sobre outras medidas não farmacológicas como alimentação e atividade física adequada para seu estado fisiológico (20). Seis semanas após o parto, deve-se realizar o TOTG ou glicemia em jejum (dependendo da gravidade do quadro metabólico apresentado na gravidez), para verificar o nível glicêmico da paciente. Se o resultado estiver normal é recomendado realizar pelo menos uma vez ao ano a glicemia de jejum (21). 19 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando todos os fatos apresentados, conclui-se que a elevada prevalência do diabetes gestacional merece um destaque maior, principalmente por ainda existir casos subnotificados. Apesar de não haver um consenso sobre o rastreamento e diagnóstico, é importante utilizar na prática métodos que auxiliem na detecção de mulheres com predisposição para a doença, como exemplo podemos citar os testes rápidos, onde através de uma picada no dedo é possível fazer uma análise da taxa de glicemia no sangue. Esse teste fornece orientações de caráter preventivo para a doença e sua execução é simples e rápida, podendo ser realizada por agentes de saúde. Apesar de se ter uma variação entre os resultados obtidos, muitas vezes decorrente da própria calibração do aparelho, sugere-se que seja feita uma padronização do método para se obter resultados mais precisos. Contudo, sua utilização é de grande importância na triagem de pacientes, a fim de direcionar para um diagnóstico mais específico sobre a doença. Dentre os testes de rastreamento e diagnóstico, a glicemia em jejum pode ser considerada o melhor teste, visto sua facilidade de execução, maior comodidade para a paciente e baixo custo. Apesar de sua acurácia variar conforme o valor de corte e a população estudada, ainda assim apresenta uma boa sensibilidade. Já o TOTG, apesar de possuir também boa sensibilidade, apresenta certas restrições, já que exige uma maior disponibilidade de tempo e material para sua execução, além de causar certo desconforto para a gestante, o que pode ser considerado um fator desfavorável em relação a sua utilização como método universal. É fundamental que todas as gestantes saibam sobre os riscos que o DMG pode causar tanto para sua saúde como a do bebê. Para isso, o governo precisa ter uma ação mais incisiva: invista em campanhas, elabore panfletos/cartilhas, divulgue na mídia, informações sobre o DMG (risco materno-fetal, diagnóstico, tratamento) como forma de alcançar um número maior de mulheres. Além disso, é preciso aumentar a frequência da realização de exames nas comunidades com menor assistência e criar novas políticas voltadas para a saúde materno-infantil. O diagnóstico precoce permite um tratamento com melhor resultado e evita complicações futuras. Consequentemente, com as ações propostas acima, haveria uma redução na prevalência do DM 2 e um aumento na qualidade de vida das mulheres. 20 REFERÊNCIAS 1- MIRANZI, Sybelle de Souza Castro et al. Qualidade de vida de indivíduos com diabetes mellitus e hipertensão acompanhados por uma equipe de saúde da família. Florianópolis, v.4,n.17,p.672-679,out-dez2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v17n4/07.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2014. 2- Sociedade Brasileira de Diabetes. 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