O USO DAS CORES NO DESENVOLVIMENTO DE WEBSITES COM FOCO EM USABILIDADE Profa. Adriana Morais da SILVA: [email protected] Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio - Ceunsp Prof. Ricardo Roberto LEME: [email protected] Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio - Ceunsp Resumo: A usabilidade tem componentes múltiplos e por isso há a necessidade de se definir os seus atributos. Com base nestes atributos, algumas orientações são pertinentes para que a técnica de desenvolvimento com foco em usabilidade, seja alcançada. Para se construir interfaces dentro dos padrões de usabilidade um dos enfoques é o enfoque Artístico, em que o designer deve expressar seu trabalho de forma criativa e harmoniosa, sendo que neste enfoque a cor ganha destaque especial. Palavras-chave: interface, usabilidade, cores. ABSTRACT Usability has multiple components and therefore there is a need to define their attributes. Based on these attributes, some guidelines are relevant to the technical development with a focus on usability is achieved. To build interfaces within the standards of usability of the approaches is the Artistic approach, in which the designer should express his work in a creative and harmonious, and this approach is highlighted especially the color. Keywords: interface, usability, colors 1. Introdução Damasceno (2005) relata que desde primórdios da humanidade, a cor vem sendo utilizada como elemento de sinalização. Quando relacionada à cultura de cada sociedade do planeta, uma mesma cor tende a adquirir diversos significados. Estudos revelam que o modo como a cor chega aos nossos olhos, inevitavelmente, faz com que o cérebro ainda perceba significados inconscientes que ela muitas vezes transmite. Dessa forma a cor deve ser utilizada pelos Web Designers que buscam o desenvolvimento com foco em usabilidade, levando-se em consideração para isso alguns aspectos relevantes sobre o uso das cores. Para Farina, Perez e Bastos (2006), a cor é tão importante que pode ser utilizada também como transmissora de informações e como um código que, após ter sido aprendido, pode ser entendido por todas as pessoas. Para qualquer pessoa a cor não pode ser desvinculada de uma estreita relação com os sentimentos. Essa importância estudos que pode ser evidenciada através de demonstram que os indivíduos julgam subconscientemente as pessoas, um ambiente ou um item nos primeiros 90 segundos, e nesse lapso de tempo entre 62% e 90% do julgamento é baseado unicamente na cor. Além disso, quando se trabalha com cores deve-se levar em consideração o mecanismo fisiológico da visão que está associado a um mecanismo de equilíbrio das cores que procurar neutralizar um forte estímulo visual de uma cor com uma impressão de sua cor complementar. Busca-se então com este estudo das cores, demonstrar algumas técnicas de aplicação que favorecem a usabilidade do Site. 2. Teoria das Cores e Percepção das Cores Segundo Damasceno (2005) a cor vem perdendo ao longo dos anos os mitos que possuía desde a antiguidade. Este fato deve-se a grandes gênios que passaram a utilizar a cor em suas obras após pesquisas de seus efeitos de iluminação e impacto sobre as obras. utilizam com frequência Atualmente os Web designers a como elemento diferencial e harmonioso em seus trabalhos. Para Damasceno (2005) é necessário então que o Web designer, antes de escolher as cores para a composição do layout, deve ter em mente dois pontos fundamentais: O tipo de empresa para a qual está construindo o Web site. O público-alvo que esta empresa pretende atingir. Já na visão de Marmion (2005), ao definir a cor ou as cores básicas do Website, deve-se levar mais do que dois pontos fundamentais. Na visão do autor, deve haver uma preocupação com relação: Ao assunto: neste sentido deve-se levantar qual o foco principal do Website, trata-se de um site de diversão ou um site para operadores da bolsa de valores. A plateia: deve-se buscar homogeneizar as informações, detectando se a maioria é do sexo feminino ou masculino. importante, pois o A idade é algo desenvolvimento deve contemplar características daquela faixa etária. Deve-se também identificar quando a plateia é totalmente heterogênea como nos casos de usuários de home banks. o ambiente: o ambiente físico no qual os usuários estão inseridos pode levá-los a algum tipo de estresse. O tipo de luminosidade do ambiente pode ser elevada ou baixa. Além desses pontos especiais, o Web Designer precisa lembrar que a cor, relaciona-se diretamente aos sentimentos humanos e, por isso, também influi fisicamente no organismo, conforme provaram diversos estudos científicos. Na visão de Damasceno (2005), as cores podem agradar ou desagradar o usuário e, por isso, cores escuras devem ser evitadas, pois dificultam a leitura. A autora recomenda a utilização de cores mais claras em grandes áreas, para que se tenha um trabalho harmonioso escolhendo ainda combinações adequadas à empresa e às exigências do mercado atual. Para a autora, algumas recomendações devem ser seguidas, são elas: Cuidado redobrado com as cores roxo e preto: ambas as cores causam fadiga aos olhos do usuário, além de sugerir amadorismo dificultando a leitura. Evite misturar dois tons quentes ou dois tons muito luminosos em áreas maiores: observa-se que esta combinação tende também a ferir a vista. Evite combinar apenas preto e cinza: esta combinação demonstra monotonia e por isso sugere-se uma cor mais alegre para quebrar este efeito. Cuido extremo com alguns tons de verde (verde bandeira e limão): deve-se analisar cuidadosamente esta aplicação que pode até mesmo favorecer o layout quando bem aplicada. O rosa deve ser utilizado restritamente para sites femininos: neste sentido a análise do público alvo é imprescindível. Cores muitos escuras ofuscam a leitura de textos: isto acontece mesmo quando os textos estão em cores claras. 3. As cores e os sentimentos Para Marmion (2005), é extremamente importante compreender os significados das cores para definir adequadamente as características de nossas aplicações. Neste sentido Farina, Perez e Bastos (2006), elencam características relacionadas aos sentimentos de algumas cores que devem ser observadas para o desenvolvimento com foco em usuários que podem ser observadas no quadro abaixo. Ao se projetar as interfaces, uma análise primordial deve ser feita onde a pergunta chave deve ser: O que pretendo transmitir ao utilizar determinada cor? Tabela 1.0 – Relação de Cores com Sentimento Fonte: Tabela elaborada a partir dos dados constantes em Farina, Perez e Bastos (2006) Segundo Farina, Perez e Bastos (2006) as cores quando aplicadas em ambientes tem funções especificas. Desta forma quando pensamos em uma página Web, estas também passam a ser um ambiente de interação e desta forma as funções devem ser previamente analisadas. Um ambiente pintado de branco cria um clima tranquilo, porém, torna-se monótono e hostil, levando à dispersão. É aconselhável a utilização de outras cores para quebrar a monotonia compondo assim um layout mais interessante. Não se aconselha a colorir um ambiente na cor preta, pois significa escuridão e depressão. Expressa um sentimento universal de agressividade, sinalizando sensações de distância e isolamento. Já o vermelho pode ser usado em ambientes que requeiram um clima de excitação. O vermelho deve aparecer em áreas de pequenas extensões. Em exageros pode estimular reações agressivas e irritantes. Por ser uma cor alegre o amarelo é indicado para todos os ambientes em que o objetivo é comunicação e reflexão. O amarelo eleva o poder de criatividade, ativa o raciocínio e estimula a memória. Considerada a cor da harmonia, o verde é a cor que menos causa fadiga visual, pois é o equilíbrio entre o calor e o movimento do amarelo e a estática e a frieza do azul. Estimula o silêncio e pode ajudar a amenizar o estresse. Rocha e Baranauskas (2005) acreditam no poder do cinza combinado em vários tons, podendo-se assim compor um ambiente bonito e elegante. O azul pode ser usado em superfícies maiores não se tornando cansativo. Aconselha-se a utilização de outras cores para evitar um clima de tristeza e monotonia. O azul tem ainda ação terapêutica. O Violeta e o roxo levam a dispersão, porém estimulam a intuição e a espiritualidade influenciando diretamente nas emoções e humores. Para Rocha e Baranauskas (2005), a cor bege é uma cor bastante versátil e pode ser utilizada para qualquer público-alvo e por isso recomenda-se a sua utilização sem restrições. Para Marmion (2005), é extremamente importante compreender os significados das cores para definir adequadamente as características de nossas aplicações. Trata-se da análise proposta por Damasceno (2005) em que o tipo de empresa para a qual está construindo o Website deve ser objeto de estudo. 4 . Percepção das Cores pelos usuários Segundo afirmações de Borges e Souza (2002), as imagens são formadas no cérebro através da retina. A retina é uma área sensível a luz que possuí cones e bastonetes que são células foto receptoras. Os cones são os responsáveis pela percepção de cores enquanto os bastonetes identificam a presença ou ausência de luz. Existem três tipos de cones no olho e cada tipo é capaz de distinguir uma cor: vermelho, verde e azul. A quantidade de cones varia para cada cor. O olho possuí pequenos músculos que fazem com que o cristalino seja modificado focando sobre a retina a imagem do objeto visualizado. A acomodação e convergência do cristalino estão relacionadas à cor que se visualiza, visto que as ondas verde, azul e vermelha convergem à diferentes distâncias da retina. Somente ondas verdes são capazes de serem enviadas diretamente para a retina sem que haja a convergência do cristalino e por esse motivo não causa fadiga visual. Já as ondas vermelhas, também chamadas de ondas longas convergem além da superfície da retina, e desta forma para focalizar objetos avermelhados o cristalino deve tornar-se mais convexo, como se o objeto estivesse próximo do observador. Ao contrário para focalizar objetos azuis, o cristalino fica menos convexo e mais relaxado, como se o objeto estivesse distante. Isto resulta em uma acomodação O resultado da visualização das cores é uma acomodação sofrida pelo mecanismo de visão constante sempre que se tenta visualizar cores diferentes o que comprova o fato de que cores muito intensas na interface podem causar fadiga visual. Ainda na visão de Borges e Souza (2002), quando expomos os usuários a áreas extensas e de cores fortes podemos levar os usuários a um efeito chamado afterimages. Este efeito ocorre, pois o olho exposto 30 segundos fixamente para uma área preenchida com uma única cor, e a seguir mudando-se o foco para uma folha de papel branco; nela se formará uma imagem semelhante em forma, mas nas cores complementares da figura original. A interrupção do movimento dos olhos pode reduzir temporariamente a sensibilidade dos cones produzindo imagens posteriores (afterimages). Isto pode ser facilmente experimentado observando-se por 30 segundos fixamente para uma área preenchida com uma única cor, e a seguir mudando-se o foco para uma folha de papel branco; nela se formará uma imagem semelhante em forma, mas nas cores complementares da figura original. Uma área vermelha poderá ser observada na cor azul porque foi suprimida temporariamente a resposta dos cones para ondas longas (vermelho) e apenas os cones para ondas médias (verdes) e curtas (azuis) estão respondendo normalmente para a luz branca. Este mecanismo fisiológico da visão parece estar associado a um mecanismo de equilíbrio das cores que procurar neutralizar um forte estímulo visual de uma cor com uma impressão de sua cor complementar. Por este motivo, cores com fortes e com alto contraste que podem produzir afterimages devem ser evitadas. 4.1 . Diferenças na visualização das cores entre indivíduos Para Borges e Souza (2002), as cores não são percebidas por todas as pessoas da mesma forma. Dados revelam que 8% dos homens europeus e norteamericanos têm algum tipo de deficiência visual para cor. O tipo mais comum de deficiência de cor é o dicromatismo, onde a pessoa não percebe uma das três cores. Existe também um efeito um efeito denominado contraste simultâneo, na qual a percepção da cor de um objeto pode variar em função da cor dos demais objetos da cena e da cor de fundo. Desta forma objetos da mesma cor podem parecer de cores diferentes, ou vice-versa, pela influência de outros objetos na cena. Uma ferramenta que poderia ser utilizada para projetar interfaces de cores pensando nas diferenças de visão entre indivíduos está disponível no site www.universodacor.com.br. Figura 1.0 – Deficiências Visuais na percepção das cores. Fonte: www.universodacor.com.br Na figura 4.0, pode-se observar uma lista com os principais distúrbios na visão. O desenvolvedor Web poderá então escolher as cores que utilizará e perceber como esta cor é percebida pelo grupo de usuários portador daquela deficiência. 5 . Harmonia das Cores Para Borges e Souza (2002), trabalhar o conceito de harmonia das cores pode facilitar a projeção de interfaces através de combinações de cores que agradem o usuário final. Neste contexto de harmonias é utilizado um círculo cromático desenvolvimento inicialmente por Guilherme Ostwald1 onde cores frias e quentes se combinam. As harmonias podem ser facilmente identificadas também no site www.universodacor.com.br, local este em que um sistema facilita a composição dentro de algumas harmonias possíveis, sendo elas: Harmonia Monocromática: onde se utiliza apenas uma cor e suas variantes em tons claros e escuros. Harmonia Análoga: utiliza-se uma cor do círculo cromático e uma ou mais cores vizinhas. Harmonia de Contraste: escolhe-se uma cor do círculo cromático e a cor oposta do círculo. Harmonia Tetra: Nesta harmonia, quatro cores se combinam a fim de conferir uma mistura inovadora. Harmonia Tríade: Nesta harmonia compõem-se a combinação através da junção das cores que correspondem a um triângulo. Um exemplo pode ser observado na figura 5.0. 1 Guilherme Ostwald – professor da Universidade de Leipzig e ganhador do prêmio Nobel Figura 2.0 – Harmonia Tríade Fonte: www.universodacor.com.br 6. Princípios de Projetos de Cores Segundo Borges e Souza (2002) uma boa orientação para projetar interfaces baseadas em cores seria seguir as recomendações citadas pela ISO (ISO (International Standards Organization). Neste sentido, alguns princípios são citados e evidenciados na sequência. 6.1 Organização da Cor Quanto ao princípio da Organização da Cor, recomendase: Utilizar uma única cor para criar uma coesão visual entre itens relacionados, e usar uma cor padrão para telas de monitores, para documentação e para materiais de treinamento. Em geral, cores similares implicam numa relação entre objetos. O usuário pode sentir o relacionamento ou não entre objetos, pela cor entre espaços e no tempo através da sequência de imagens. Use cores de fundo similares ou iguais para áreas corelatadas. Uma vez estabelecidas às codificações de cores, estas devem ser mantidas em todas as interfaces gráficas e matérias relacionados. Para tanto há a necessidade da utilização de Pantones para a padronização das cores. Figura 3.0 – Exemplo de Website onde se aplicou o Princípio de Organização das Cores Fonte: www.cocacola.com.br 6.3 Economia da Cor Um dos princípios da simplicidade das cores sugere que se usem no máximo três cores, onde seu significado deve ser lembrado. A cor deve ser utilizada para destacar a informação preto-e-branco, desta forma recomenda-se que primeiro projete a tela para trabalhar em preto-e-branco. 6.4 Ênfase das Cores Recomenda-se a utilização de um forte contraste na saturação e na luminosidade, para chamar a atenção do usuário sobre uma informação crítica. O uso de cores brilhantes é recomendado para sinais de alerta ou perigo, bem como para fixar a atenção sobre um ponto. Na página abaixo o vermelho altamente saturado torna-se muito mais eficaz para chamar a atenção do que qualquer outra cor. Neste exemplo a cor esta falando por si só. Figura 7.0 – Exemplo de Página onde se aplicou o Princípio de Ênfase das Cores Fonte: www.nippon-maquinas.com.br 4. CONCLUSÃO Mesmo sabendo que o desenvolvimento de Websites sob a ótica da usabilidade vai além da projeção de interfaces com boa aparência, transcendendo o design gráfico, fica evidente que o estudo do uso das cores na interface continuam influenciando positivamente na aceitação do Web Sites pelos usuários, garantindo-se assim uma navegação prazerosa. Vale ressaltar que diante do caráter dinâmico e veloz que a internet apresenta, os projetos precisam ser revistos de tempos em tempos para se adaptarem às exigências emergentes dos usuários de Internet, do mercado de trabalho e da atualização de tecnologias que possam aperfeiçoar o desenvolvimento dos Websites. REFERÊNCIAS BORGES, Roberto Cabral de Mello; SOUZA, Helena Saint P. V. Comunicação Homem-Máquina. Disponível em: <http://www.inf.ufrgs.br/~cabral/ Apostila.IHC.doc>. Acesso em: 5 de novembro de 2009. DAMASCENO, Anielle. Webdesign: teoria e prática. Florianópolis: Visual Books, 2003. FARINA, Modesto; PEREZ, Clotilde; BASTOS, Dorinho. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. Rio de Janeiro: Edgard Blucher, 2006. MARMION, Jorge. A utilização de cor no mecanismo de interação com o usuário. Disponível em: <http://www.ibrau.com.br/artigoutilizacaodecor.html>. Acesso em: 27 de janeiro de 2010. MARTINEZ, Maria Laura. Um método de webdesign baseado na usabilidade. 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Sistemas Eletrônicos) – Programa e Pós-Graduação em Engenharia de Sistemas Eletrônicos, USP, São Paulo. ROCHA, Heloisa Vieira da; BARANAUSKAS, Cecília C. Design e avaliação das interfaces humano-computador. Campinas: NIED/UNICAMP, 2003. <http://www.universodacor.com.br>.Acesso em: 11 de novembro de 2009. <http://www.coca-cola.com.br>.Acesso em: 8 de dezembro de 2009. <http://www.nippon-maquinas.com.br>.Acesso em: 8 de dezembro de 2009.