CAMINHOS METODOLÓGICOS PROPOSTOS NO ENSINO COM PESQUISA NA FITOTERAPIA Marilis Dallarmi Miguel Marilda Aparecida Behrens Pontifícia Universidade Católica do Paraná RESUMO A pesquisa participante foi desenvolvida na UFPR, Curso de Farmácia, disciplina de Farmacotécnica I. A pesquisadora contou com o envolvimento de --acadêmicos. Optamos por uma abordagem pedagógica baseada no ensino com pesquisa que visava instrumentalizar o aluno para a produção do conhecimento de maneira crítica e criativa. Nos propusemos a resgatar os conhecimentos adquiridos pelos estudantes, até o 3° ano acadêmico, para elencar estratégias e ações que permitissem a conversão do aluno num profissional de farmácia que viesse a utilizar com propriedade as formas de administração medicamentosa, voltando atenção especial aos fitoterápicos. No caminho percorrido levantamos uma série de referenciais, como, questões históricas, científicas, éticas, lógicas, legais e políticas. Nesse processo evidenciamos o enfrentamento entre a teoria e a prática real ligadas aos fitoterápicos. Trabalhamos com questionamento crítico e criativo e com efetivo envolvimento dos sujeitos, afim de preparar o aluno para exercer o seu papel de profissional da saúde engajado na sociedade e que viesse a buscar uma melhor qualidade de vida para população. No desenvolvimento da metodologia optamos por leitura de textos em revistas científicas. Tal postura pretendia reforçar a consciência crítica do acadêmico universitário, aguçando a curiosidade, mostrando o caminho, dotando o aluno da capacidade de refletir e elaborar seu próprio conhecimento. A evolução acadêmica constituiu-se num processo de conquistas individuais e coletivas. O processo contemplou etapas sucessivas porém não estanques, estas, muitas vezes se sobrepunham e se interrelacionavam a medida que as discussões e construções acadêmicas se sucediam.. A essa produção de conhecimento próprio evidenciou a competência e o clima de extase acadêmico na autonomia de manifestar-se com cientificidade. Tratou-se, pois, de entender a especificidade e a aplicabilidade do processo ensino-aprendizagem, na formação profissional, em busca de condições elementares que propiciem a uma postura do profissional para descoberta e acesso independente ao conhecimento. Nesse processo de pesquisa participante, pudemos observar que a produção do conhecimento requer a aplicação de uma metodologia do "ensino com pesquisa" que contemple uma visão integrada com as diversas áreas do conhecimento. Inserir uma prática pedagógica inovadora e eficiente, prática esta revestida do rigor científico e metodológico, é o sonho de todo professor. É difícil tornar a pesquisa uma atitude cotidiana, na vida do acadêmico, voltada para a capacitação consciente, fundamental na formação acadêmica. Com este desafio optou-se por desenvolver uma pesquisa participativa calcada na metodologia de ensino com pesquisa, pois esta, viabiliza o recuo e o avanço no contexto científico, com intuito de buscar a produção do conhecimento. A pesquisa ocorreu na Universidade Federal do Paraná no curso de Farmácia, disciplina de Farmacotécnica I, com 45 alunos que compõe o quinto período do referido curso. Estruturou-se uma proposta metodológica do ensino com pesquisa para o desenvolvimento e a produção do conhecimento. Apresentou-se aos acadêmicos a visão geral da proposta do ensino com pesquisa e as possíveis etapas, que foram discutidas e analisadas pelos alunos e pelo docente. Foi ofertada aos acadêmicos a oportunidade de visualizar um esquema gráfico caracterizando cada etapa proposta metodológica. Este fato ocasionou a possibilidade, de discutir e refletir sobre as ações a serem desenvolvidas no processo, com a preocupação de oferecer a visão do todo, os alunos puderam acompanhar o processo com momentos de reflexão e interação. Nesse processo foi provocada a produção de conhecimento significativo para a área da farmácia, mas essencialmente, criou-se a necessidade de se envolver, produzir, discutir e coletivizar os conhecimentos pesquisados. Esta metodologia propiciou momentos de reflexão crítica, coletiva e desafiadora. Os acadêmicos sabiam que no decorrer do processo poderiam dialogar sobre as proposições das atividades a serem desenvolvidas. A composição do conteúdo programático, adveio da experiência profissional da pesquisadora e da participação dos alunos. Porém por ser um o tema amplamente diversificado que compõe um ramo da ciência, caracteriza-se pela cuja multidiversidade que se dá em cada tópico. A riqueza da disciplina propiciou a aplicação da metodologia de ensino com pesquisa. Esta permite idas e vindas no processo, consideradas como etapas, não necessariamente numa ordem de seqquência , mas depende do envolvimento e interesse dos acadêmicos pelo tema. Com a clareza que os alunos precisam aprender a aprender optou-se por artigos que subsidiassem a leitura e reflexão, procuraram despertar a consciência crítica e sobretudo nortear os rumos dos conteúdos. Alguns artigos já haviam sido estudados em outras disciplinas, de maneira fragmentada isolada do contexto científico de que fazem parte, e outros eram inéditos na visão do acadêmico. A CONSTRUÇÃO DOS ACADÊMICOS COMO SUJEITOS ATIVOS NO PROCESSO DE ENSINO COM PESQUISA No sentido de esclarecer o processo da metodologia do ensino com pesquisa, optou-se contemplar os seguintes aspectos: a) Apresenta-se os textos que pretendem configurar todas as áreas que compõe a Fitoterapia. b) Contempla-se o objetivo de ensinar os diversos conteúdos apresentados, de forma clara, sob enfoque interdisciplinar, onde se pretende demonstrar uma breve panorâmica da referida prática. c) Objetiva-se oferecer uma visão do todo e aponta-se caminhos para o exercício profissional. d) Resgata-se muitos conteúdos já abordados ou que foram ministrados em disciplinas específicas. Conteúdos que tinham sido apresentados isolados do todo e por vezes apresentados como conteúdo acabado, único e independente. e)Apresenta-se de forma inovadora os conteúdos, buscando promover a interdisciplinaridade, tentando ultrapassar a fragmentação na busca da produção do conhecimento. deste saber. f) Mostra-se ao acadêmico a relevância do trabalho em parceria, numa ação multiprofissional de modo a apontar a pesquisa como caminho para aprender a aprender e de buscar competência na formação profissional. A metodologia do ensino com pesquisa contempla procedimentos que visam fundamentar e oportunizar a elaboração de textos que retratem o conhecimento produzido pelo aluno. Neste processo buscou-se refletir com os estudantes sobre perspectivas nacionais de desenvolvimento tecnológico de Fitoterápicos no Brasil. Em paralelo discutiu-se também a questão dos medicamentos obtidos por síntese, que compõem uma série de questões prioritárias a serem abordadas e, concomitantemente, viabilizou-se o elenco de estratégias de ensino voltadas a educação acadêmica do profissional da saúde. Esta característica que reporta o acadêmico as responsabilidades do futuro profissional, foi bastante significativa para o grupo, permitiu usufruir da ação educativa, não só como exposição de conteúdos cognitivos, mas também como constatação da realidade e formação da consciência profissional, que se viabiliza, por remeter o acadêmico a refletir sobre as questões prioritárias de sua responsabilidade como profissional da área. AS FASES DO PROCESSO NA PROPOSTA PEDAGÓGICA DO ENSINO COM PESQUISA No início do processo de ensino com pesquisa com os alunos, optou-se por dividir a primeira etapa de estudo em duas grandes temáticas: o processo envolvido na produção de medicamentos e o estudo da Fitoterapia propriamente dita. Nesta fase inicial propõe-se um acordo através de uma minuta de contrato onde apresenta-se a descrição da disciplina ou programa. Apresenta-se a minuta para discussão dos alunos e se esclarece a expectativa do professor para com os alunos e dos alunos para com o professor, e a proposição da metodologia da avaliação. Tal postura viabiliza a consciência crítica para a real importância de sua participação no processo ensino aprendizagem, caracterizando o acadêmico como o responsável ativo na construção do próprio conhecimento. Na primeira etapa se dá a apresentação de textos e artigos para discussão reflexiva da problemática, com os conceitos e processos envolvidos na produção de medicamentos, perpassando a questão das vias de administração e formas farmacêuticas em relação a biodisponibilidade. Como subsídio para as reflexões e posterior discussão, foi fornecido material didático- teórico. Nesta fase inicial de estudo do saber elaborado, a autora optou por construir um texto condensado, devido à extensão do tema, que considera como subsídio, os seguintes autores: GILMAM e cols. (1991);VOIGT e col (1979); MILLER cols. (1988); HESS, H. (1985) e MOLL e cols. (1994) RITSCHEL (1973). Este texto, proporcionou ao acadêmico a visão interdisciplinar que compõe a globalização deste conhecimento. Esta proposta inicial foi sensibilizar e fomentar a discussão da temática em sala de aula. Na seqüência, foram apresentados três textos sobre aplicação das plantas sob enfoques distintos. A obra "Matière Médicale" de PARIS e MOYSES (1976), que caracteriza para os acadêmicos a Fitoterapia e sua corrente filosófica de atuação. A análise teórica de temas a partir de uma coletânea de textos possibilita e oportuniza levantar limites e possibilidades dos temas reforçando as questões sociais, históricas, éticas, legais e cognitivas, revestidas de um rigor científico, aliadas a algumas práticas de elaboração do produto como elemento questionador e incentivador desta ciência. Optou-se por contemplar textos que levassem os estudantes a reflexão crítica da teoria e da prática e na busca da produção do conhecimento para tanto elenco-se : a) CARVALHO (1986) para mostrar a pesquisa desde a extração da planta, a purificação até a identificação química, apontando resultados farmacológicos e remetendo o fármaco à estudos clínicos, como exemplo de aplicação da pesquisa científica com plantas medicinais em ampla abrangência. b)A obra GUERRA (1985, p.11-16), facilitou a demonstração ao acadêmico que o assunto pode se apresentar sob uma abordagem interdisciplinar. Fomentada a importância do tema e a curiosidade do acadêmico, procurou-se investigar ao estudo da Fitoterapia; em paralelo ao estudo da manipulação dos medicamentos sintéticos . Nesse processo optou-se pela indicação de leitura dos seguintes textos: a) O artigo de KOROLKOVAS (1989), voltado ao planejamento racional da síntese de fármacos. b) O artigo de CARLINI (1983), apresentando um fluxograma bastante didático, instrumentalizando uma proposta de pesquisa sobre plantas medicinais. c) O artigo de AKERELE (1988), fornecendo ao acadêmico as questões sociais da Fitoterapia, junto aos serviços públicos de saúde do País. d) O artigo de FARNSWORTH e col. (1986), apontando para a necessidade de se implementar pesquisas que atendam às necessidades de cuidados primários de saúde. e) O Informe Epidemiológico dos SUS, Sinitox/Fiocruz (1993), servindo de alerta ao acadêmico para os riscos das indicações e manipulações infundadas. f) O artigo de SCHVARTSMAN (1992), publicado no Caderno de Saúde Pública, que aborda o controle das intoxicações por plantas e animais no Estado de São Paulo e faz um alerta ao acadêmico da responsabilidade na identificação correta do vegetal utilizado na manipulação. g) O artigo de SCHEFFER (1"Roteiro 990), que permite uma visão sob o ponto de vista agronômico e evidencia a necessidade do desenvolvimento e aprimoramento das técnicas de produção. h) O artigo de LADEIRA (1987), de caráter agronômico, correlaciona importantes aspectos fitoquímicos direcionados à época da colheita vegetal. i) O artigo de CERQUEIRA (1991) e AZEVEDO (1991), que promovem a reflexão sobre a qualidade da matéria-prima vegetal e suas tecnologias de cultivo e beneficiamento, caracterizando o trabalho orientado, a parceria com agrônomos e reforça a questão multiprofissional. j) O artigo de CAMARGO (1988) que demonstra a importância da abordagem antropológica em estudos na área da saúde. Essas leituras possibilitaram reflexões individuais e coletivas, à luz de referenciais teóricos, as quais foram extremamente importantes para o processo de amadurecimento acadêmico, frente à responsabilidade que exerce o farmacêutico junto à sociedade. Neste momento, ocorreu o nivelamento cognitivo de todo o grupo. O processo de idas e vindas, no tema, exigiu a complementação de alguns referenciais contemplados na segunda etapa. Esse fato demonstrou a necessidade do indivíduo aprender mais. A diversirdade dos alunos trouxe para o debate teorias, propostas concretas , a visão do mundo, de homem, de cultura e de ideologias distintas. Essa primeira etapa tornou os sujeitos capazes de contribuir n sua própria formação e desenvolver o senso crítico. Na segunda etapa instigou-se um levantamento bibliográfico individual em obras de compilação bibliográfica como o Chemical Abstract e Biological Abstract, sobre detminada planta num período mínimo de dez anos. Geralmente a escolha foi feita pelos próprios acadêmicos, de acordo com preferências e o uso habitual. Estas obras representam um catálogo Internacional de publicação anual, indexando trabalhos científicos e seus respectivos autores e instituições, subsidiando o pesquisador sob diversos aspectos. Houve nesta etapa um processo de denuncia e crítica quanto a falta deinformações, ou excesso de contra-indicações dos medicamentos. Se identificou uma lacuna existente entre as informações geradas pela ciência, e a realidade demonstrada pela indústria de Fitoterápicos no País. Tal discrepância constitui fato de extrema gravidade diante da cultura racional da automedicação do povo no consumo do medicamento Fitoterápico. Ainda nesta etapa, o acadêmico relacionou todas as referências encontradas no levantamento e escolheu uma delas, a qual requisitou na biblioteca. A publicação serviu de apoio à elaboração do texto individual que foi analisada e construída em 25 linhas.Essa produção individual do texto foi submetida à apreciação dos pares e a discussão reflexiva em pequenos grupos de alunos. Na seqüência, instigou-se a execução de trabalhos individuais, na produção do "paper" e a análise das bulas de medicações. Estes procedimentos funcionaram como uma alavanca no processo emancipatório do acadêmico. Objetivou-se com este trabalho, assentado no ensino com pesquisa preparar o acadêmico sob três aspectos: Primeiro: familiarizar o acadêmico com as ferramentas bibliográficas disponíveis à vida profissional, no exercício da produção de Fitoterápicos; Segundo: mostrar o caminho inicial da pesquisa científica para elaboração de um novo medicamento. Terceiro: provocar dúvidas, indignação e inquietude, aguçando enfim a curiosidade. O acadêmico ao perceber os absurdos da realidade no mercado nacional dos fitoterápicos subsidiados pelo levantamento, perceberam a necessidade e a grandeza da pesquisa para nossas indústrias. Verificaram a importância e a responsabilidade do farmacêutico no exercício desta temática. A orientação da professora se deu através do fornecimento de material e discussões, levantando hipóteses e, ou apontando caminhos.Esta etapa teve seus objetivos amplamente alcançados. Na seqüência, a terceira etapa decorreu da necessidade vislumbrada pelo acadêmico em aprofundar-se na pesquisa científica, ir além da manipulação e buscar os caminhos científicos que compõem o desenvolvimento e a produção de medicamentos. Apresentou-se neste momento, para análise e discussão de uma coletânea de trabalhos científicos, contemplando a ótica interdisciplinar e a aplicabilidade das plantas medicinais no desenvolvimento de medicamentos, caracterizando a rota da pesquisa científica na referida prática. Proporcionou-se ao acadêmico a reflexão sobre a necessária seriedade e o rigor científico aliados ao papel do profissional farmacêutico. Nessa etapa objetivou-se o reforço dos aspectos tecno-científicos, o levantamento da importância do tratamento científico e da visão político-social da fitoterapia. A proposição dos textos para leitura e reflexão nesta fase foram: a) O artigo de CORREA, ( 1992) que caracteriza a etapa farmacognóstica no tratamento científico da Fitoterapia. b) O artigo de CAMARGO (1993),que promove o incentivo na pesquisa e aplicabilidade do vegetal. c) O trabalho de GOMES e col. ( 1993) que evidencia ao acadêmico a necessidade da análise quantitativa da matéria-prima em prol da segurança do produto. d) O artigo de TAKEMURO e col. (1994) que caracteriza uma pesquisa fitoquímica. e) Os artigos de MIGUEL (1995), MIGUEL (1995), LIMA e col. ( 1995), publicado na revista Acta Farmacêutica Bonaerense, que caracterizam ao acadêmico, a pesquisa fitoquímica aplicada, demonstando a necessidade da pesquisa integrada a fim de obter a construção cognitiva deste saber, relacionando fitoquímica, farmacologia, microbiologia e síntese. f) O artigo CECHINEL FILHO e col. (1995), que demonstra aos acadêmicos a aplicabilidade dos estudos fitoquímicos na produção de novos fármacos. Esse aspecto torna-se relevante pois conscientiza os acadêmicos do alto custo do desenvolvimento de uma molécula alvo por síntese química, e exercita, em contrapartida, uma alternativa viável do uso de substâncias ativas de origem vegetal. A importância da quarta etapa se deu numa análise reflexiva e crítica das questões que normalizam e regulamentam a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos, inclusive os fitoterápicos. Nesta fase, instigou-se o estudo individual e a discussão coletiva dos aspectos legais que envolvem a Fitoterapia. Utilizaram-se os seguintes textos para construir esta etapa: a) A Portaria 44 de 6 de abril de 1993, que demonstra ao acadêmico a necessidade de aquisição de material vegetal legalizado e não fruto de extrativismo, podendo apresentar qualidade comprometida e por conseguinte inviabilizar a qualidade do produto acabado. b) A Portaria 174 - P, de 11 de março de 1981, que demonstra a importância da preservação e a responsabilidade do cientista, preparando o acadêmico para a pesquisa como fim profissional. c) O artigo "Plantas medicinais na saúde pública" de NEVES (1990), serve para dar início a discussão das questões políticas e legais do tema. d) A Resolução Ciplan n° 8188, esclarece a Fitoterapia como prática terapêutica milenar. e) O artigo de KOROLKOVAS (1994), fornecendo aos acadêmicos noções básicas da realidade nacional em paralelo com as exigências legais. f) A Portaria 97, de 17 de setembro de 1993 subsidiando os acadêmicos no tocante à apresentação legal. g) A Portaria 6, de 31 de janeiro de 1995, visa instituir e normalizar o registro de produtos fitoterápicos. h) A Portaria de junho de 1996 apresenta ao acadêmico os parâmetros legais de testes desta natureza. i) A Portaria, 19 de 16 de fevereiro de 1996, direciona o acadêmico quanto aos parâmetros legais da comercialização de produtos importados na farmácia de dispensação. j) O modelo de bula proposto pelo (SNVS) onde o acadêmico aprende como elaborar uma bula dentro dos padrões oficiais. A análise desse documentos promoveram o estímulo do estudo individual e da discussão coletiva sobre os aspectos legais e provocaram a construção de um conhecimento próprio, fundamentado cientificamente, orientados para a importância da verticalidade na prática farmaceutica. Nessa etapa , muitas vezes, foram contemplados temas com textos que emergiram das necessidades dos próprios acadêmicos, permitindo o entrelaçamento de forma dinâmica e significativa oriunda da iniciativa dos próprios acadêmicos ou mesmo da pesquisadora, ao deparar-se com a inquietude e angústia gerada nas discussões. Após o estudo individual e discussão dos textos, decorreu a quinta etapa que caracterizou-se por uma pesquisa de campo, onde o acadêmico realizou um estudo comparativo das bulas encontradas no mercado para medicamentos fitoterápicos e obtidos por síntese. Na seqüência, o acadêmico analisou as bulas disponíveis no mercado apresentando proposta própria de uma bula a nível teórico, subsidiado pelo material oriundo do levantamento bibliográfico realizado no Chemical Abstract e Biological Abstract. Este momento foi muito rico para os acadêmicos, pois eles perceberam que foram construindo um conhecimento próprio, que por muitas vezes pareceu isolado, não correlacionado, e que neste instante serviu de fundamentação teórica para subsidiar as discussões. Percebeu-se um êxtase cognitivo, porém a inquietude e insegurança quanto à responsabilidade do futuro profissional transpareceu nas discussões. O momento exigiu uma parada para reflexão. Os acadêmicos trouxeram seus exemplares de bulas e respectivos fitoterápicos, apontaram os problemas, elogiaram os acertos. As aulas começaram a tomar forma, os discursos inquisitivos fluíram com mais facilidade, os acadêmicos denunciaram e aprenderam mais e corretamente a forma de exercer a manipulação e de medicamentos. A sexta etapa viabilizou o desenvolvimento individual do acadêmico. Surgiu a indagação como fazer o correto e com qualidade. Percebeu-se a necessidade do acadêmico de fazer parte mais efetiva no processo, o que propiciou maior envolvimento nesta etapa. Além da reflexão, os alunos fizeram uma série de sínteses, tomando como exemplo um Fitoterápico comercializado, analisando e expressando o seu ponto de vista. Essa atividade exigiu do acadêmico que agisse como sujeito reflexivo, lógico e crítico deste processo. Como já referido, a questão do controle de qualidade emergiu dos próprios acadêmicos. Utilizou-se para instrumentalizar a realização da síntese da prática e da teoria, os seguintes artigos: a) O texto "Pautas para la evaluacion de medicamentos herbarios", que justifica o tratamento científico da fitoterapia e incentiva o acadêmico a ingressar nos grupos de pesquisa desta temática, visto que muito há por fazer. b) O artigo de SCHEFFER (1989), que reforça ao acadêmico novamente a necessidade implícita do trabalho multiprofissional. c) O documento "Quality control methods for medicinal plant materials" (1993), caracteriza para os acadêmicos a amplitude e importância técnicocientífica desta temática. d) O artigo de MATOS (1994), expressa a pesquisa e o uso das plantas medicinais. e) O artigo de SCHENKEl (1985), aponta a importância da pesquisa acadêmica para sua melhoria. f) O artigo de ALVES (1992), caracteriza para o acadêmico a importância do rastreamento da composição química do vegetal, abrindo uma série de discussões relacionando a matéria prima vegetal desde o cultivo até a fase de produção. g) O artigo de OLIVEIRA (1985), alerta o futuro profissional para o momento da aquisição da matéria prima. h) O artigo "de KOROLKOVAS ( 1989), expõe a necessidade de se obter novos fármacos e investir na pesquisa acadêmica e tecnológica. i) "O 32° Relatório do Comitê de Peritos da OMS, esclarece aos acadêmicos questões internacionais, referentes a garantia da qualidade, boas práticas de fabricação, controle de qualidade, sanitização, higiene e validação de processos. j) O artigo de Hanai (1985), serve de subsídio para discussões referentes à interações produto-embalagem, despertando a consciência analítica e crítica do acadêmico. k) O trabalho de HIGASKINO (1994), justifica a necessidade do farmacêutico no campo em trabalho integrado com o agrônomo. l) O trabalho de FONTENELE (1989), reafirma a necessidade da pesquisa científica integrada na tecnologia de Fitoterápicos. m) O artigo de NAKAMURA e col. (1988) caracteriza para o aluno a amplitude dos testes de triagem, aplicabilidade das plantas medicinais e alerta sobre o uso exagerado de animais em testes pré-clínicos. n) O trabalho de MARQUES NETO (1988), exemplifica muito bem, ao acadêmico, a dinâmica de uma pesquisa desta ordem, apresentando os protocolos clínicos, discussão e conclusão dos dados obtidos. Surgiu então um novo sentimento, a insegurança, "se tudo está errado, como fazer certo?", a dúvida representou um ponto importante para a construção deste conhecimento, tudo aquilo que possa ter passado desapercebido, o aluno voluntariamente retomou, e demonstrou desejo de buscar mais referenciais que pudessem subsidiar a prática farmacêutica na questão da manipulação e produção de medicamentos. Nesse momento, observou-se que emergiu a indignação dos acadêmicos, que passaram a se apropriar de novos enfoques. A sétima etapa, caracterizada por seminários, oportunizou o desenvolvimento da criatividade, iniciativa, capacidade de síntese e sobretudo da atitude de reflexão diante de um trabalho coletivo, onde a interação ocorreu entre os membros da equipe, e destes com toda a classe de acadêmicos. A interação foi efetiva, pois, os acadêmicos mesta etapa desenvolverem o tema proposto e elaboraram estratégias para promover o envolvimento dos demais colegas. Todos os seminários enfocaram o papel do farmacêutico e sua responsabilidade diante da manipulação e dispensação de medicamentos desta natureza. A apresentação dos acadêmicos nos seminários contou com o uso de diversos recursos como diapositivos, transparências, cartazes, video e a participação ativa dos demais acadêmicos. Os alunos provocaram a participação dos colegas através de jogos, sorteios e questionamentos, onde todos eram convidados a participar a qualquer momento. E como elemento incentivador, optaram por distribuir prêmios por participação. Os seminários aconteceram no decorrer do semestre, intercalados de aulas teóricas e ou discussões de grupo. A presença nos sete seminários foi maciça, cerca de 98% a 100% de comparecimento, todos perceberam tratar-se de um trabalho conjunto, todos desempenharam papel fundamental no processo ensino-aprendizagem. Todos relataram, na avaliação dos seminários, ter havido interação, reflexão, desinibição, desenvolvimento da criatividade, conquista de segurança e autonomia acadêmica. Os acadêmicos puderam abordar novas bibliografias, utilizaram-se da informática (Internet) na busca de informações, e saíram a campo, resgatando os problemas encontrados pelos profissionais que atuam no mercado de trabalho.. As descobertas foram muitas, o senso crítico acadêmico possibilitou a descoberta e avaliação das perspectivas e propostas para de forma científica e técnica trilhar caminhos responsáveis e éticos, como futuros profissionais. Essas manifestações propiciaram momentos de reflexão sobre o papel do famacêutico e o desafio de proporcionar à população um atendimento e orientação farmacêutica mais efetiva, adequada e consciente. Todas as etapas de execução e apresentação dos seminários foram acompanhadas e orientadas pela pesquisadora. Esta etapa, sem dúvida, exigiu o comprometimento de todos com o ato e o desejo de aprender. Contribuiu para o processo coletivo de construção do conhecimento, bem como proporcionou a desinibição e criatividade acadêmica gerado através do diálogo dirigido, onde os conteúdos foram explorados e questionados exaustivamente. Os alunos sugeriram que os seminários pudessem criar espaço para elaboração de vídeo, que serviria como material didático para campanhas e estudo nas outras disciplinas. A oitava etapa demonstrou o crescimento e amadurecimento individual acadêmico. Constituiu-se pela elaboração de um "paper" ou artigo cujo tema foi de livre escolha, por parte dos acadêmicos. Os temas deveriam ser inéditos e tratar da ação farmacêutica. O acadêmico ao produzir o "paper" teve a oportunidade de apontar problemas, comentários, soluções e exaltações da temática elencada. As produções individuais dos alunos na disciplina de Farmacotécnica, geraram artigos "paper" que foram organizados e publicados na Revista Acadêmica de cunho semestral, criada pela professora para reservar espaço para os acadêmicos expressarem suas perspectivas e responsabilidades. O intuito de tornar os "paper" uma publicação oficial, funcionou como alavanca no processo de produção do conhecimento original e significativo e levou o acadêmico a pesquisar e fundamentar-se, antes de elaborar a síntese para o texto. Esta proposta propiciou o exercício lógico, crítico e criativo, e permitiu aos alunos intervir no processo como sujeito construtor do próprio conhecimento. Nesta fase, a ação da pesquisadora se deu por meio de orientações individuais e fornecimento de material quando requisitado. Na produção do "paper" procurou não interferir na idéia propriamente dita, permitiu-se ao acadêmico expressar suas próprias linhas de pensamento, fundamentado nos artigos recentes de revistas especializadas e ou discussões em sala. Percebeu-se a interação do acadêmico com o tema, na produção do seu próprio conhecimento alicerçado na fundamentação científica. A relevância evidenciou-se na escolha, na apresentação e análise de conteúdos científicos, complexos e por vezes polêmicos. Os textos (paper) que abordaram os aspectos legais puderam caracterizar com expressividade e clareza a responsabilidade farmacêutica do futuro profissional na dispensação de medicamentos. O avanço foi significativo, os alunos envolvidos na pesquisa demonstraram segurança na escolha dos temas. A pertinência na produção do conhecimento (paper) aflorou um processo de criticidade, criatividade , raciocínio lógico e cientificidade. As manifestações foram relevantes para a formação do farmacêutico na sociedade moderna . BIBLIOGRAFIA AKERELE, O.; HEY WAOD, V. ; SYNGE, H. Conservation of Medicinal Plants. New York: Cambridge University Press, 1991. ALVES, A. C. ; COSTA, M. A. C. ; PAUL, M. I. ; SILVEIRA, J. A. C. Identificação de fármacos vegetais em medicamentos. Rev. Portuguesa de Farmácia. Lisboa: v. XLI, nº 2, p. 25-38; abr. -jun. 1992. CAMARGO, M. T. R. de A. 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