1 Estudo e Caracterização de Filmes Bioativos Poliméricos Fabricados Através Da Técnica de Automontagem Galdino1, L.F.M.D., Davi1,C.P., Oliveira Jr1,2, O.N., Zucolotto2,V., Borelli3,P., Fock3,R.A., Ferreira1,M. 1 Universidade Federal do ABC, CCNH, Santo André, SP - Brasil 2 Universidade de São Paulo, IFSC, São Carlos, SP - Brasil 3 Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, SP – Brasil A fabricação de filmes finos bioativos poliméricos através da técnica de automontagem (LbL – layer-by-layer) é um método simples e robusto empregado para investigar possíveis candidatos a biomateriais. A versatilidade deste método se dá pela variedade de policátions e poliânions que vão de polímeros a proteínas e que podem ser empregados sobre diferentes substratos como quartzo ou mica. Neste trabalho foram investigados filmes finos automontados através da técnica de automontagem utilizando-se macromoléculas como o cloridrato de polialilamida (PAH) como policátion e proteínas purificadas extraídas do látex natural da Hevea brasiliensis como poliânions. Para a caracterização físico-química foram utilizados métodos de espectroscopia de Uv-visível, tanto para crescimento dos filmes e degradação, microscopia de força atômica e ângulo de contato. Para o ensaio biológico de proliferação celular foi utilizado o ensaio de MTT. Os ensaios biológicos demonstraram que as proteínas do látex utilizadas no presente estudo apresentam pouca atividade biológica no aspecto proliferação celular sendo que em muitos casos ficou evidente a dificuldade de adesão e proliferação celular sobre o substrato. Palavras-chave: layer-by-layer, proteínas do latex, cloridrato de polialilamida. I. INTRODUÇÃO A engenharia de tecidos tornou-se recentemente um dos principais campos na área da biotecnologia e desenvolvimento de materiais. Biomateriais tridimensionalmente projetados nos fornecem ferramentas fundamentais como guias ao desenvolvimento de tecidos in vitro e in vivo. Um suporte ideal ao tecido deve além de ser biocompatível, isto é, não provocar nenhuma resposta imunitária do tecido ao implante, também deve ao mesmo tempo ter uma superfície química que promoverá a adesão celular funcional, ser biodegradável deixando o tecido sadio e ter uma força mecânica necessária à criação de um suporte macroporoso que permitirá a retenção após o processo de implantação. Entretanto, poucos suportes possuem estas qualificações [1,2]. O desenvolvimento de técnicas de fabricação de filmes ultrafinos para a aplicação na engenharia de tecidos foi impulsionado pela necessidade de se obter estruturas organizadas, com controle de espessura e de propriedades em escala molecular [3]. O método de automontagem (LbL) (layer-by-layer) [4] desponta como um dos mais promissores neste aspecto. Este método atraiu a atenção extensiva porque possui vantagens extraordinárias para aplicações neste campo: facilidade de preparação, versatilidade, capacidade de incorporar diferentes tipos de biomoléculas nos substratos, controle fino sobre a estrutura dos materiais e manutenção da funcionalidade dos produtos sob circunstâncias ambientais e fisiológicas [5]. Em filmes LbL, proteínas como colágeno, fibronectina (FN) ou peptídeos têm sido usados freqüentemente para aumentar a aderência de tipos celulares específicos sobre substratos projetados para ambientes in vitro [6]. Outras proteínas como as encontradas na borracha natural extraída da árvore Hevea brasiliensis têm sido incorporadas em filmes LbL por sua ação no processo de recuperação de úlceras causado, por exemplo, pelo diabetes [7]. A disposição ideal das proteínas deve levar em consideração fatores que maximizem o sítio de ligação delas às células e minimize alterações de sua conformação interna. Filmes finos via LbL oferecem a possibilidade de ligar proteínas do látex a sua orientação mais favorável preservando (e talvez estabilizando) sua conformação interna. Neste trabalho foram investigados filmes finos automontados através da técnica de automontagem utilizandose macromoléculas como o cloridrato de polialilamida (PAH) como policátion, proteínas purificadas extraídas do látex natural da Hevea brasiliensis e a fibronectina como poliânions. II. MATERIAIS E MÉTODOS Na confecção dos filmes LbL foram utilizadas as soluções a seguir descritas e os tempos de deposição respeitados confome tabela 1: Cloridrato de Polialilamina PAH – [CH2CH(CH2NH2.HCl) - MM 56.000 g.mol-1 – adquirido da empresa Alfa Aesar) solução em concentração de 0,5 mg.mL-1 em pH 6,0; Proteína purificada do látex [doado por Ricardo Mendonça e Joaquim Coutinho Netto da FMRP-USP - 14 a 50 kDa, ponto isoelétrico 4.7] solução em concentração de 1 mg.mL-1 em tampão tris(hidroximetil) aminoetano 10 mM em pH 3,0; 7,4 e 9,0; 2 Tabela 1: Tempos respectivos para policátions e poliânions Filmes LbL Tempo de deposição em minutos PAH/proteína pH 3 3e5 PAH/proteína des pH 7,4 3e3 PAH/proteína in pH 7,4 3e3 PAH/proteína pH 9 3e3 II. RESULTADOS E DISCUSSÃO III.1 Filmes LbL de proteína do látex Sobre substrato de quartzo foram confeccionados filmes LbL de PAH/proteínas do látex até a décima quarta bicamada, conforme gráfico 1: Gráfico 1: Filme LbL de PAH/Proteínas do látex em diferentes pHs O filme de PAH/proteína em pH 7,4 foi selecionado como o sistema mais favorável segundo os dados de crescimento apresentado no gráfico 1, pela melhor linearidade de crescimento. III.2 Filmes LbL de proteína do látex Sobre substrato de quartzo foram confeccionados filmes LbL de PAH/proteínas do látex até a décima quarta bicamada, conforme gráfico 2: Gráfico 2: Filme LbL de PAH/Proteínas do látex in natura e desnaturada em pH 7,4 Este ensaio foi realizado para verificar se a proteína do látex, mesmo desnaturada, ainda permite a automontagem de filmes LbL e se ela possue algum fator de influencia sobre testes biológicos. Os resultados obtidos demonstram que é possível confeccionar filmes com as proteínas do látex desnaturadas R²=0,9677 e in natura R²=0,9592 mantendo o regime de crescimento linear, similares aos observados nos filmes com proteína in natura. III.3 Degradação de filmes de proteínas do látex Os filmes automontados de PAH/proteínas do látex foram automontados sobre substratos de quartzo e imersos em 1,5 mL de solução PBS por 21 dias, conforme gráfico 3: Gráfico 3: Filme LbL de PAH/Proteínas do látex in natura em meio de degradação Observou-se que o filme analisado não alcançou o valor inicial de absorbância (0,24 u.a) ao final de 21 dias indicando que o filme de proteína do látex não se degrada totalmente durante o período avaliado. O PBS pode ter contribuído para o aumento da absorbância do filme já que o substrato de PBS apresentou pequeno aumento de absorbância durante 10 dias III.4 Microscopia de Força Atômica Os ensaios de microscopia de força atômica foram feitos em amostras com 5 e 15 bicamadas dos sistemas PAH/ proteína do látex in natura em diferentes pHs, conforme figura 1: Figura 1: Imagens de AFM de filmes PAH/proteína do látex in natura em pH 3,0; 7,4 e 9,0 com 5 e 15 bicamadas. Escala de 4µm. 3 Pela figura 1 temos: filme PAH/proteína em pH 3,0 com rugosidade média (Rms) de 3,7 e 5,0 nm para 5bc e 15bc, filme em pH 7,4 apresenta topografias com baixa rugosidade, com Rms de 5,3 e 8,7 nm para 5bc e filmes em pH 9,0 cujos índices de Rms se elevaram de 4,3 nm em 5bc para 7,2 nm em 15bc. Pela figura 1 percebe-se a tendência dos filmes de PAH/ proteínas do látex in natura tornarem-se mais rugosos com o aumento do número de bicamadas. III.5 Ângulo de Contato Sobre substrato de quartzo foram confeccionados filmes LbL de PAH/proteínas do látex até a décima camada, conforme gráfico 4: das soluções dos polieletrólitos não apresentaram boa proliferação celular ao longo de 21 dias quando comparados ao controle sobre a placa de poliestireno. Um teste complementar chamado de direto, onde células de fibroblastos humanos normais foram semeadas sobre monocamadas de proteínas do látex em diferentes concentrações, conforme gráfico 5, revelou que quanto menor for a concentração das proteínas, maior foi a atividade proliferativa. Gráfico 5: Proliferação celular de fibroblastos humanos normais para monocamadas de diferentes concentrações de proteína do látex Gráfico 4: Ângulo de contato medidos camada a camada para o sistema PAH/proteína do Látex Para o sistema PAH/proteínas do látex in natura é notória a influência da rugosidade da superfície nos ângulos de contato. Um fator que explicaria este fenômeno seria a presença de ar que pode ficar preso nas irregularidades da superfície ocasionando um molhamento heterogêneo da superfície [8,9]. III.6 Ensaio de MTT Este ensaio foi realizado para verificar a influência da atividade biológica do filme de PAH/proteínas do látex sobre a proliferação celular de fibroblastos normais humanos, conforme gráfico 4: Gráfico 4: Proliferação celular de fibroblastos humanos normais para o sistema PAH/proteína do látex Verificou-se que tanto os filmes de PAH/ proteínas do látex in natura e desnaturada assim como castings (monocamadas III. CONCLUSÕES Através da técnica de LbL foi possível automontar filmes de PAH/proteínas do látex em diferentes pH´s. O aumento no número de bicamadas deste sistema implica em um aumento na rugosidade média e na elevação do ângulo de contato. Os filmes não se degradaram completamente ao final de 21 dias de experimento. Através do ensaio de proliferação celular verificou-se que as proteínas usadas no presente estudo casos dificultaram a adesão e proliferação celular sobre o filme. IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Sittinger, M.; Perka, C.; Schultz, O.; Haupl, T.; Burmester, G. R. Z Rheumatol. 1999, 58(3), 130-135. [2] Cima, L. G.; Vacanti, J. P.; Vacanti, C.; Ingber, D.; Moony, D.;Langer, R. J. Biomech. Eng. 1991, 113 (2), 143-151. [3] Paterno, L. Go; Mattoso, Capparelli, L. H, Oliveira Jr , O. N. de., Quim. Nova, Vol. 24, No. 2, 228-235, 2001. [4] Decher, G, J., Hong D., Schmitt, J., Thin Solid Films 1992, 210, 831. [5] Z.Tang; Y. Wang; P. Podsialdo; N.A.Kotov. Biomedical applications of Layer-by-Layer Assembly: From Biomimetics to Tissue Engineering. Adv. Mater, 2006, 18, 3203-3224. [6]Li, M, Mills, D. K., Cui, T., McShane, M. J. ,IEEE Transactions on nanobioscience, Vol. 4, No. 2, June 2005 [7] Frade, M.A.C., Valverde, R. V., Assis, R.V.C. de, Coutinho-Netto, J., and N.T. Foss, Cronic phlepoppathic cutaneous ulcer: a therapeutic proposal. Int. J. Dermatol., 40(3): 238-240, (2001). [8] Hikita, M. et al. Super-liquid-repellent surfaces prepared by colloidal silica nanoparticles covered with fluoroalkyl groups. Langmuir [S.I.], v. 21, n. 16, p. 7299-7302, 2005. [9] Marmur, A. The lotus effect: Superhydrophobicity and metastability. Langmuir [S.I.], v. 20, n. 9, p. 3517-3519, 2004. AGRADECIMENTOS UFABC, FAPESP, CNPq, CAPES e todos os professores e amigos envolvidos neste trabalho.