Adubação nitrogenada em azevém: Eficiência na Produção Animal e Vegetal
Luiz Giovani de Pellegrini1, Alda Lúcia Gomes Monteiro 2, Mikael Neumann3, Ana Carolina Ribeiro
Sanquetta de Pellegrin4, Anibal de Moraes2, Paulo Roberto Ost3, Guilherme de Medeiros Bastos3
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– Instituto Federal Farroupilha - Campus Julio de Castilhos, Setor de Zootecnia. [email protected]
– Pós-Graduação em Produção Vegetal, UFPR.
– Departamento de Medicina Veterinária, UNICENTRO.
4
– Medica Veterinária.
2
3
Resumo: O experimento teve por objetivo avaliar a eficiência do uso do nitrogênio e o custo de
produção da pastagem de azevém (Lolium multiflorum Lam.) fertilizada com diferentes doses de
nitrogênio, sob pastejo contínuo de cordeiros de corte. O azevém foi implantado em 06 de junho de 2006,
em sistema de plantio direto com densidade de semeadura de 45 kg de sementes/ha. A adubação de base
foi de 300 kg/ha com o fertilizante 0 kg N, 60 kg/ha P2O5 e 60 kg/ha K2O. Os tratamentos
corresponderam a quatro doses de nitrogênio (N), na forma de uréia (45 % de N) em aplicação de
cobertura única, após 35 dias do plantio, sendo: 0 kg/ha de N; 75 kg/ha de N; 150 kg/ha de N; e 225
kg/ha de N. O período de avaliação foi de 84 dias, dividido em quatro períodos de 21 dias. A eficiência
de utilização do nitrogênio na produção de matéria seca e na produção animal diminuíram com o
incremento das doses de nitrogênio, na proporção média de 15,7 e 35,3 %, respectivamente. A
produtividade animal apresentou comportamento linear crescente com aumento de 1,1103 kg/ha para
cada kg de N aplicado na pastagem.
Palavras–chave: Ganho de peso total, dose de nitrogênio, produção total de matéria seca, uréia
Nitrogen Fertilization in ryegrass: Animal and Vegetable Production Efficiency
Abstract: The aim of this experiment was to evaluate the nitrogen use efficiency and the production cost
of ryegrass pasture (Lolium multiflorum Lam.) fertilized with different levels of nitrogen, in continuous
grazing by meat type lambs. The ryegrass pasture was established on 06/06/2006, under no-tillage
cropping system with seed density of 45 kg of seeds/ha. The base fertilization was of 300 kg/ha with the
0 kg N, 60 kg/ha P2O5 e 60 kg/ha K2O fertilizer. The treatments consisted of four levels of nitrogen, in
the urea form (45 % de N) in single broadcasting application, 35 days after planting: 0 kg/ha of N; 75
kg/ha of N; 150 kg/ha of N; and 225 kg/ha of N. The evaluations were realized in 84 days, divided into 4
periods of 21 days each. The nitrogen use efficiency on the production of dry matter and animal
production decreased as the nitrogen levels increment, in the mean proportion of 15.7 e 35.3 %,
respectively. The animal productivity increased linearly 1.1103 kg.ha-1 to each kg of N applied in the
pasture.
Keywords: Total weight gain, nitrogen level, total dry matter production, urea
Introdução
O uso de pastagem cultivada de inverno pode ser uma ótima opção para proporcionar alimentação
de qualidade no período em que os rebanhos estão sofrendo déficit alimentar. Ainda em sistemas mais
intensivos de produção, as pastagens cultivadas de inverno são usadas para redução da idade de abate ou
de acasalamento e, quando manejadas de forma satisfatória, podem ser rentáveis economicamente, como
demonstra Restle et al. (1998). Para Soares & Restle (2002) a produtividade de uma pastagem de
gramíneas depende de vários fatores, como condições climáticas e edáficas e de manejo a que são
submetidas, principalmente em relação a dose de nitrogênio, por tratar-se do nutriente mais limitante ao
crescimento das plantas (Malavolta, 1980). Portanto, o estudo da eficiência do uso deste nutriente em
pastagem de inverno sob pastejo é de extrema importância, uma vez que se trata do elemento mais
exigido pelas plantas, que demonstram potencial de resposta, porém é um nutriente de custo elevado
(Bona Filho, 2002; Soares & Restle, 2002; Freitas, 2003). Neste sentido o presente experimento teve por
objetivo avaliar a eficiência do uso do nitrogênio em pastagem de azevém fertilizada com diferentes
doses de nitrogênio, sob pastejo contínuo de cordeiros de corte.
1
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), em
Guarapuava-PR, no período de 01 de junho de 2006 a 12 de novembro de 2006. A pastagem de azevém
(Lolium multiflorum Lam.) foi implantada em 06 de junho de 2006, em sistema de semeadura direta,
após aplicação do herbicida gliphosate (360 g/L). No plantio do azevém utilizou-se espaçamento entre
linhas de 15 cm, profundidade de semeadura de 0,4 cm e densidade de semeadura de 45 kg de
sementes/ha. Os tratamentos corresponderam a quatro doses de nitrogênio (N), na forma de uréia (45 %
de N) em aplicação de cobertura única, após 35 dias do plantio, sendo: 0 kg/ha de N; 75 kg/ha de N; 150
kg/ha de N; e 225 kg/ha de N. Adubação de base de 300 kg/ha com o fertilizante 0 N, 60 kg/ha P2O5 e 60
kg/ha K2O, conforme Comissão ... (1995). Após 35 dias do plantio (11 de julho de 2006), foi efetuada
aplicação única da adubação nitrogenada de cobertura na forma de uréia (45 % de N). O experimento
teve duração de 90 dias, sendo 6 dias de adaptação dos animais à dieta e às instalações experimentais e,
concomitante, quatro períodos de 21 dias de avaliação. Foram utilizados 72 cordeiros, com idade média
de dois meses e peso vivo inicial de 24,7 kg. Os animais foram mantidos na pastagem em sistema de
lotação contínua, com carga variável. A lotação contínua foi adotada por intermédio da técnica put-andtake (Moot & Lucas, 1952), com o objetivo de manter a altura do pasto entre 14 e 15 cm, seguindo
recomendações de Freitas (2003). Para alcançar a altura de manejo pretendida, utilizou-se 72 animais
testes e 130 animais reguladores. A massa de forragem (MF) foi determinada a cada 21 dias por meio da
técnica de dupla amostragem (Gardner, 1986), onde efetuou-se o corte de 2 amostras (0,25 m2) para 15
avaliações visuais, por piquete. A massa de forragem produzida na pastagem foi obtida através do
somatório das taxas de acúmulo de matéria seca do período experimental somado à massa de forragem
presente no instante de entrada dos animais. A eficiência das doses de nitrogênio na produção de MF,
expressa em kg MS/kg N aplicado, foi calculada admitindo-se que a contribuição do N do solo foi
semelhante nos tratamentos que receberam adubação nitrogenada e na testemunha (zero de N aplicado
em cobertura). Por isso, no cálculo da eficiência dos tratamentos que receberam adubação nitrogenada
em cobertura foi subtraída a produção da testemunha. O resultado da subtração foi dividido pela
quantidade de N aplicado em cobertura. A eficiência das doses de nitrogênio no ganho de peso por área
foi obtida pela diferença do ganho de PV/ha do tratamento com N pelo ganho de PV/ha da testemunha. O
resultado da subtração foi dividido pela dose de N aplicada, sendo os valores expressos em kg PV/kg N
aplicado. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, composto por quatro tratamentos, com
três repetições. Os dados coletados para cada variável foram submetidos a analise de variância com
comparação das médias e analise de regressão, testando-se os modelos linear e quadrático, a 5% de
significância, por intermédio do programa estatístico SAS (1997).
Resultados e Discussão
Os valores referentes a massa de forragem, ganho de peso, eficiência de utilização do nitrogênio
na produção de massa de forragem, eficiência de utilização do nitrogênio na produção animal e eficiência
de transformação da matéria seca são apresentados na Tabela 1. A massa de forragem total apresentou
comportamento linear frente as doses de N aplicadas, sendo que para cada kg de N aplicado aumentou
15,84 kg/ha de MS. Uma vez que a produção de forragem foi superior em 35,5 %, 63,0 % e 85,1 % para
os tratamentos com 75, 150 e 225 kg/ha de N, respectivamente. A eficiência de utilização do nitrogênio
na produção de matéria seca diminuiu com o incremento das doses de nitrogênio, variando de 19,9 a 15,9
kg MS/kg N para a dose de 75 kg/ha de N e 225 kg/ha de N, respectivamente (Tabela 1). A dose 150 e
225 kg/ha de N produziram 11,4 e 20,4 % a menos por kg de N em relação a dose 75 kg/ha de N.
Gonçalves (1979) relatou que à medida que aumenta as doses de N diminui a eficiência de utilização,
sendo esta justificada por Mello (1987) como o menor aproveitamento pelas plantas, maiores perdas por
lixiviação e volatilização, e desbalanço de nutrientes nas altas doses (Dougherty & Rhykerd, 1985). A
eficiência das doses de nitrogênio na produção animal, expressa em kg de ganho de peso/kg de N
aplicado (Tabela 1), apresentou maior valor na dose 75 kg/ha de N (1,7 kg PV/kg N), decrescendo na
dose 150 kg/ha de N (1,0 kg PV/kg N), elevando-se novamente na dose 225 kg/ha de N (1,2 kg PV/kg
N). Segundo Lupatini (1996) as recomendações de adubação para as pastagem tornam-se mais eficientes
e lucrativas à medida que se conhece a eficiência da adubação na produção animal, possibilitando o
cálculo simples do custo e beneficio adicional para cada quilograma de nutriente adicionado. É indicado
por Soares (1999) que relacionando-se o total de kg de peso vivo produzido por kg de N, quando
multiplicados pelo preço do peso vivo, e o resultado for maior que o custo do kg de N colocado na
propriedade, a adubação nitrogenada está sendo eficiente economicamente. Ainda, o mesmo autor
salienta que a eficiência do uso do N na produção animal deve ser usado para definir a dose de N a ser
utilizado nas pastagens; para isso, é necessário o conhecimento do potencial de resposta de cada
pastagem à adubação nitrogenada. Neste sentido, considerando o valor médio de venda de 3,00 reais o kg
de peso vivo do cordeiro a arrecadação foi de 5,1, 3,0 e 3,6 reais para cada kg PV produzido por kg de N
2
aplicado. Considerando-se o valor médio do kg de N de 2,26 reais, todos as doses de N utilizados
apresentaram eficiência na produção animal. Se fixarmos o valor de comercialização do cordeiro a 3,00
reais e utilizar o preço médio de comercialização do nitrogênio (R$ 2,26), gera-se um índice de
referência do valor máximo que pode ser pago pelo kg do nitrogênio. Sendo assim, pode-se pagar até 32
% a mais pelo valor no kg do nitrogênio que ainda o produtor terá lucro. A produtividade animal,
expressa pelo ganho de peso vivo em kg/ha (GPT) apresentou comportamento linear crescente com
aumento de 1,1103 kg/ha para cada kg de N aplicado na pastagem (Tabela 1), acompanhando o
comportamento da produção total de forragem (Tabela 1). As produções médias totais de PV observadas
foram de 339,4, 467,4, 494,3 e 608,1 kg PV/ha para as doses 0, 75, 150 e 225 kg/ha de N,
respectivamente. O GPT expressa a produtividade animal na pastagem, sendo um das melhores medidas
de seu valor econômico (Maraschin, 1984), pois é o fruto do manejo adotado na pastagem reflete o que
vai ser comercializado gerando a receita bruta da propriedade. Para a eficiência de transformação da
matéria seca não houve efeito (P>0,05) das doses de N (Tabela 1), com média de 13,1 kg MS
produzida/kg ganho de peso, apresentando variação de 12,5 kg de MS/kg de ganho de peso para a dose
75 kg/ha de N e 14,0 kg de MS/kg de ganho de peso para a dose 150 kg/ha de N. Segundo Soares (1999)
estes valores estão diretamente dependentes da produção, qualidade e perdas da forragem e do ganho de
peso vivo/ha. Os resultados econômicos das doses de N na pastagem de azevém refletem os dados de
produtividade animal e demonstram claramente a sua importância na recomendação da adubação
nitrogenada para qualquer área de produção em pastagem.
Tabela 1. Produção total de matéria seca (PTMS), ganho de peso vivo total (GPVT), eficiência de
utilização do nitrogênio na produção de matéria seca da forragem (EFMS), eficiência de
utilização do nitrogênio na produção animal (EFKG) e eficiência de transformação da
matéria seca (ET) da pastagem de azevém submetida a doses de nitrogênio, na produção de
cordeiros.
Doses de nitrogênio (kg.ha-1)
Parâmetros
0
75
150
225
PTMS, kg.ha-1 de MSa
4203,2
5696,8
6851,3
7778,2
GPVT, kg PV.ha-1b
339,4
467,4
494,3
608,1
EFMS, kg MS produzida/kg de N
19,9
17,7
15,9
EFKG, kg PV produzido/kg de N
1,7
1,0
1,2
ET, kg MS produzida/kg PV produzidoc
12,8
12,5
14,0
13,0
a
- Y = 4350,4200 + 15,8396N (R2: 0,8075; CV: 11,5854 %; P=0,0001)
- Y = 352,3900 + 1,1103N (R2: 0,7172; CV: 13,4170 %; P=0,0005)
c
- Y = 13,1000a (R2: 0,1314; CV: 26,4670 %; P=0,9584)
b
Conclusões
As doses de nitrogênio apresentaram excelente potencial de produção e ganho de peso dos
cordeiros, além de produção de forragem, que são importantes para o planejamento de sistemas de
forrageamento nos períodos críticos do ano. O preço de comercialização dos cordeiros e do kg de
nitrogênio devem ser considerados no momento da escolha da dose a ser utilizada na pastagem para a
terminação dos mesmos.
Literatura citada
FREITAS, T.M.S. de. Dinâmica da produção de forragem, comportamento ingestivo e produção de
ovelhas Ile de France em pastagem de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) em resposta a
doses de nitrogênio. 2003. 114f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia,
Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2003.
GARDNER, A.L. Técnicas de pesquisa em pastagem e aplicabilidade de resultados em sistemas de
produção. Brasília: IICA/EMBRAPA_CNPGL, 1986. 197p. (IICA, Série publicações Miscelâneas, 634).
MELLO, F. de A.F. Uréia fertilizante. Campinas: Fundação Cargil, 1987.
MOOT, G.O., LUCAS, H.L. The design conduct and interpretation of grazing trials on cultivated and
improved pastures. In: INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS. 6. Poceedings … Pensylvania:
State College, 1952, p.1380-1395.
RESTLE, J.; LUPATINI, G.C.; ROSO, C.; SOARES, A.B. Eficiência e desempenho de diferentes
categorias de bovinos de corte em pastagem cultivada. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.27,
n.2, p. 397-404, 1998.
STATISTICAL ANALISYS SYSTEMS- SAS. User’s guide: statistics. Version 6, Cary: 1997, v.2.
1052p.
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