A EXPERIÊNCIA EDUCATIVA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR EM LAGES, NO CONTEXTO DE UMA ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA (1977-1982) SOUZA, Ana Rita de Universidade Federal de Santa Catarina RESUMO Este estudo investiga e pretende aprofundar a explicitação das causas reais que viabilizaram a construção da "Experiência de Democracia Participativa" na gestão da "Equipe Dirceu Carneiro" na prefeitura de Lages, SC (1977-1982) principalmente no que se refere ao aspecto educativo do ponto de vista da Instituição Escolar, período marcado pela vigência do regime militar em nível nacional. Na pesquisa, retomam-se as categorias que expressaram as idéias educativas/pedagógicas da "Equipe Dirceu Carneiro". Busca-se perceber a importância que a educação vai adquirir neste período, uma vez que o processo estabelecido envolveu toda a população, no seu sentido real de expressão. Não para reinventar a História como política do presente, mas para tentar compreender o dinamismo através do qual as questões democráticas se confrontam ao longo do desenvolvimento histórico. Com base nas primeiras avaliações dos dados já coletados, refutamos como necessário compreender a lógica que pontua a atual política de descentralização dos gastos e das relações educativas, a gestão escolar, as escolas comprometidas com as comunidades que, no cenário atual, absolutamente diferente daquela experiência vivida em Lages, passam a ser condição para que o Estado se afaste da função pública, tenha suas responsabilidades sociais minimizadas e exerça as novas funções de "Minimal State" A pesquisa investiga e pretende aprofundar a explicitação das causas reais que viabilizaram a construção da "Experiência de Democracia Participativa" na gestão da "Equipe Dirceu Carneiro" na prefeitura de Lages, SC (1977-1982) principalmente no que se refere ao aspecto educativo do ponto de vista da Instituição Escolar. A experiência em foco ocorreu em momento histórico profundamente adverso. Corriam os anos do regime militar no Brasil(268). Eram tempos difíceis, a dívida externa do país se aproximava de 43 bilhões em 1978 contra 3,2 bilhões em 1970 (GERMANO,1994:226). Contudo, crescia o movimento sindical e popular contra o arrocho salarial, e as greves voltavam a acontecer colocando em cheque a legalidade da ditadura. As periferias urbanas denunciam as degradantes condições de vida do povo. Era publicizado o desemprego e a carestia. Os protestos chegavam também ao campo. A participação social e política despontava de forma iminente. Veja-se, portanto, que a eleição de Dirceu Carneiro insere-se no contexto de crescimento de oposição ao regime, representado pela "oposição consentida" do MDB como mostram os resultados das eleições legislativas de 1978. No norte o MDB, subiu de 18,8% (em 1966) para 30,4% dos votos (em 1978). No centro oeste, nestes mesmos Anos de 27,6% para 34,2%. No centro sul, de 30,2% para 40,8%.(VIEIRA,1987:200). Mas, é inquestionável que o crescimento da oposição dava-se em circunstâncias extremamente difíceis. É nesse conjunto de dificuldades, ainda de acentuada repressão e perseguição política que a experiência de uma democracia participativa se destaca. Três meses depois de eleito, por exemplo, Carneiro de sua equipe realizam o encontro - "O Município Brasileiro e Diretrizes Básicas de uma Administração de Oposição", congregando todos os prefeitos eleitos pelo MDB em Santa Catarina, com o objetivo de ampliar e aprofundar os temas tratados pelo "Seminário de Porto Alegre". Outros exemplos da singularidade da "democracia participativa" se expressam nos vários projetos desenvolvidos, entre eles: o projeto de Cultura e Educação do Povo, o qual incluía o Projeto Lageano de Popularização do Teatro, que com o grupo "Gralha Azul" e seus famosos bonecos transformaram-se em poderoso instrumento de agitação cultural, na cidade e no campo. Não obstante os limites e as contradições que perpassaram a gestão Dirceu Carneiro, pode-se perceber, acompanhando a história posterior de Lages as marcas profundas que ela deixou. Seguindo as pegadas da produção acadêmica, expressas em algumas dissertações e livros, relatório de pesquisa , feitas sobre a chamada "democracia participativa" da Equipe Dirceu Carneiro, percebemos que tratam-se de estudos em alguns casos densos, com grande quantidade de informações e análise, com distintas abordagens teóricas. No entanto, tais estudos não contemplam a Instituição Escolar, propriamente dita. Esta, até então, não obteve uma investigação que desse visibilidade ao lugar que teria ocupado na totalidade dos projetos desenvolvidos pela Equipe de Carneiro. Aliás, conforme assinala MARTENDAL (1983:341), os resultados de pesquisa sobre o período em foco "sugerem um estudo específico sobre a escola pública, que atende exatamente as populações da periferia urbana e as localidades mais isoladas do setor rural do município". Por outro lado, em um país tão pouco preocupado com sua memória, nos parece de fundamental importância o resgate e a sistematização de dados referentes a um período tão significativo da história de Lages(270) e, de modo especial, a educação. O processo de investigação - estágio atual da pesquisa. Inicialmente, fizemos um levantamento da produção acadêmica: livros, dissertações de mestrado, relatório de pesquisa, artigos de periódicos de divulgação com circulação nacional e regional, identificação e análise de alguns documentos oficiais, inclusive legislação municipal referente ao período. Entre os diversos trabalhos, destacamos os que se seguem. O trabalho de Marcio Moreira Alves do quadro histórico do MDB que, depois de ouvir Maurício Tragtenberg, fascinado sobre a existência de uma administração inovadora na Prefeitura de Lages, transforma sua vinda a Lages em " A força do povo", livro reeditado diversas vezes, no qual discute a experiência de gestão participativa em Lages, 1977-82, como a possibilidade de se administrar uma prefeitura brasileira dentro das limitações econômicas e políticas impostas ao país; demonstra a importância de uma democracia participativa; defende que existem possibilidades de se reproduzirem muitas daquela experiência e que, relatá-las em detalhes, tanto nos seus acertos como nos seus erros, possui caráter pedagógico. MUNARIM (1990), embora situe seu trabalho nos anos posteriores à gestão de Dirceu Carneiro, dedica parte de sua pesquisa ao estudo das áreas da educação e da cultura e qualifica o momento como "de prática social intensa, com marcas profundas de participação no processo de formação da sua postura". Ainda, segundo o autor, o período marca o início de um processo de transformação social e política da região, iniciado com a presença de um populismo no município de Lages, no momento em que no plano nacional já estava no ostracismo – pela força - desde 1964. Munarim (1990:145-136) situa o período histórico (1977-1983) como de "alta relevância da prática de poder público no processo de transformação social na Região Serrana de Santa Catarina..., a partir daquela prática, a dinâmica político-social da Região ganhou novo impulso e deu um salto qualitativo no sentido da definição mais explícita das classes sociais". O estudo feito por MARTENDAL et al (1983), logo após o "término da administração participativa", com recursos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU) da Universidade Federal de Santa Catarina. Trata-se de uma pesquisa que se propôs estudar e analisar os Projetos Especiais desenvolvidos em Lages, no período que, segundo os autores, deveriam ter seus efeitos discutidos e avaliados, com vistas à ampliação e geração de modelos alternativos, bem como enriquecer as discussões sobre educação popular em nível nacional. O referido estudo buscou a recuperação das origens do processo e dos resultados dos Projetos Especiais; também, procurou identificar a relação das propostas de educação e cultura popular dos Projetos Especiais com o processo produtivo local. As observações deste grupo de pesquisadores acerca daquele período apontam que , "..., em Lages, a luta política se organizou. As classes populares reorientaram a proposta educativa ...E no conflito se preparam para recomeçar a conquistar espaços, que permitem a realização de práticas de educação e cultura". Por sua vez QUINTEIRO (1990), descreve a experiência democrática no município de Lages(SC), partindo de uma caracterização histórica e sócio-econômica da região e do homem dos Campos de Lages. Mostra como a equipe Dirceu Carneiro criou, num município sem tradição organizativa anterior e em plena vigência de um regime militar, as sementes de um movimento popular estruturado e reivindicativo. Tal trabalho se propôs a contribuir para o debate político sobre as relações entre os Movimentos Sociais e o Estado, a importância do fortalecimento dos partidos políticos, a consolidação de uma cultura democrática e enfatiza as ideologias que, de modo subjacente, influenciaram a opção pela democracia direta em nosso país. Outra investigação foi levada a cabo por SILVA (1994). Seu foco principal de pesquisa foram os partidos políticos e, mais especificamente a reconstituição da história das administrações do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), em oposição aos aliados do regime militar. Nesse contexto, segundo a autora, Lages, em determinado momento, parecia estar concretizando uma nesga dos ideais e sonhos de uma parte das vítimas do chamado "milagre brasileiro". Para Silva, a gestão 1977-82 na prefeitura de Lages não foi passiva às contingências impostas; Lages não teria ficado no imobilismo. No contexto desta preocupação de aprofundar os estudos sobre o período da Gestão Dirceu Carneiro que se situa nosso trabalho. De nosso ponto de vista foi no âmbito da Instituição Escolar, e resguardadas suas relações com outras práticas educativas inovadoras que tais categorias foram postas em prática. Daí a importância de privilegiar o papel da Instituição Escolar neste contexto. Trata-se em nossa pesquisa de resgatar a importância que a educação adquiriu no período como uma das formas de expressão participativa. Como já dissemos, o nosso objeto de investigação é a Escola mas, enquanto uma particularidade atravessada por relações no conjunto da administração participativa. E as primeiras evidências da investigação levam-nos aos chamados "projetos especiais" como elementos indicativos de participação popular naquela gestão. Ao que tudo indica, eles foram uma das principais estratégias da Equipe Dirceu Carneiro, na proposição de alternativas de organização popular, a partir da discussão com vistas à solução de problemas nas diversas práticas sociais, na cidade e no meio rural . Por outro lado, embora reconhecendo a impossibilidade de desvincular da totalidade da gestão Dirceu Carneiro, qualquer um dos chamados projetos especiais(271) ou demais programas desenvolvidos, sob pena de se ter uma visão parcial e distorcida dos mesmos, faremos a princípio, uma referência breve de cada um; posteriormente, nos ateremos àqueles que até então, em nossa investigação, apresentam maior proximidade e articulação com a instituição escolar, isto é, os projetos que estão possibilitando compreender, identificar e analisar o papel da Escola no contexto de uma gestão municipal que pretendeu ser de democracia participativa. Os projetos especiais no meio rural: os Núcleos agrícolas - surgem com a finalidade de oferecer mecanismos de organização para pequenos e médios proprietários. Estavam em pauta questões como: viabilização econômica das propriedades, fixação do homem no campo e a associação como forma de viabilizar a articulação de interesses para obras comuns. As Mostras do Campo - pretendiam valorizar as atividades, costumes e produtos característicos da sociedade rural. Buscava-se resgatar a cultura do interior em suas diversas formas de expressão. Uma das consequências desse projeto, foi a criação da Casa do Artesão, sob a Lei nº 550 de 06.08.82. A Escola Rural - visava estabelecer práticas articuladoras do meio em que estava situada e a preocupação de que a mesma refletia as características deste mesmo meio. Na "Escola Rural", observa-se pontos de confluência com os projetos: Mostras do Campo e os Núcleos Agrícolas, que objetivavam articular a vida rural nos âmbitos econômico, social, cultural e educacional. Exemplo disso, foi a criação do Boletim "Escola Rural", no qual circulavam notícias, comunicados, trabalhos feitos pelos professores e alunos da zona rural, bem como, a divulgação de informações, conhecimentos, dados de cultura da comunidade rural. No âmbito urbano situam-se os seguintes projetos: Associação de moradores de bairro - tinham por escopo a mobilização das comunidades da periferia urbana, com vistas a solução dos problemas comuns ao bairro; viabilizar a participação das comunidades no processo administrativo do município através de assembléias; superar o paternalismo e fortalecer a solidariedade comunitária. Hortas comunitárias objetivavam a melhoria na qualidade da alimentação popular, ocupando parte da mãode-obra ociosa e que sabia trabalhar a terra. Tratava-se de hortas comunitárias, a partir da cessão de terrenos pela Prefeitura, sob a orientação técnica da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento. A organização e manutenção da horta era decidida em comum pelas famílias participantes do projeto. O hortão - local de trabalho para desempregados que quisessem produzir em regime comunitário. O resultado da produção era partilhado entre os sócios, de acordo com o trabalho de cada um. Aos trabalhadores, era dada orientação técnica, bem como, o equivalente a 80% do salário mínimo regional, até o oitavo mês de atividade. O Projeto Lageano de Habitação - tinha a finalidade de atender famílias cuja renda não atingisse dois salários mínimos regionais. Tratava-se de um projeto alternativo ao BNH( Banco Nacional de Habitação). As famílias selecionadas para o projeto, havia o compromisso de se submeterem à Lei Municipal 346/80, que dispunha sobre a aquisição do terreno e parte do material de construção. No que se refere à construção, era previsto o regime de mutirão, o que garantia o baixo custo da obra. O pagamento da dívida era em dez anos, com valores mensais, nunca superiores a 10% da renda familiar. Era parte do projeto, ainda, um banco de materiais usados, provindos de doações comunitárias, os quais eram arrecadados anualmente (no Dia da Habitação) e posteriormente reciclados. Medicina (saúde) comunitária - com a participação das Associações de Moradores e outros núcleos organizados (de modo especial na zona rural) foi implantada uma rede de postos de saúde, para atendimentos públicos e gratuitos, prestando serviços de primeiros socorros, prevenção de doenças e educação para a saúde. A cargo da Prefeitura, o pessoal e demais recursos necessários, a comunidade, a organização e indicação de atendentes nos postos e agentes de saúde. Os últimos devendo atender o público da zona rural. Registre-se que a Lei Municipal no 550/82 previa a escolha dos atendentes e agentes através das organizações populares, era via eleição. A Casa do Artesão - fruto do trabalho das Secretarias de Educação junto às Escolas e de Cultura, Esporte e Turismo nas "Mostras de Campo", visava incentivar o artesanato regional. Constituiu-se, com o aumento da produção, num entreposto de vendas, a cargo dos próprios produtores. Distinguiu-se como forma de resgate cultural e alternativa de trabalho com ampliação da renda familiar. O Teatro - proposta de popularização da atividade teatral, com ênfase na cultura regional. A partir do trabalho do grupo Gralha Azul foram criados e confeccionados bonecos; as apresentações eram feitas em praças e ruas da cidade, em Escolas urbanas e rurais. Trabalhava-se com professores e alunos das Escolas municipais, utilizando o teatro como instrumento didático e pedagógico. Embora não fizessem parte formalmente dos chamados Projetos Especiais, foram viabilizados alguns programas através da Secretaria da Cultura, Esportes e Turismo, de significativa relevância no conjunto das ações da "Equipe Dirceu Carneiro" entre eles: Artes nos Bairros - com o fim de mobilizar os moradores dos bairros através do resgate e promoções artísticas, no seio do próprio bairro. Movimento de artes plásticas - concentrava artistas plásticos, cujas produções eram expostas individual ou coletivamente, também envolviam-se em promoções realizadas pelos bairros. Grupo Carretão - reunia pessoas ligadas à Literatura. Através do apoio da Secretaria era publicado um caderno literário chamado "Carretão". Centro de Artes Elusa Bianchini Araújo - espaço que abrigava a promoção das artes, promovia exposições periódicas e exposição permanente de reproduções de obras universais; ainda continha uma escolinha de artes - uma espécie de laboratório. Associação Lageana de Pequenos e Médios Comerciantes - pretendia facilitar às pessoas mais pobres do município o suprimento de mantimentos de primeira necessidade, através de preços mais acessíveis . Para tanto constituiu-se uma entidade que concentrava pequenos comerciantes, os quais, faziam compras em conjunto com maior poder de barganha junto aos atacadistas e posteriormente vendiam mais barato aos consumidores. A proposta de educação. No contexto da administração da "Equipe Dirceu Carneiro", a educação era entendida como uma questão política. Assim sendo, o processo educativo deveria libertar e não oprimir; deveria criar instrumentos de luta para a população menos favorecida na disputa social. Portanto, se fazia necessário uma educação comprometida com os interesses populares, o que seria alcançado com a participação efetiva do povo. Com respaldo na Lei 550/82, a educação preconizava a adequação à realidade regional e ao modo de vida das populações. A ênfase no ensino era para os aspectos ambientais, culturais e familiares. O currículo básico estava calcado na tríade: saúde, expressão e trabalho cooperativo. No que se refere a Pré-Escola (02 a 06 anos), tratava-se de assistir e orientar, com vistas a habilitar ao aprendizado curricular posterior; as mães desempenhavam o papel de monitoras. A participação efetiva dos pais, foi assegurada com a criação dos Conselhos de Pais, os quais tinham assegurada plena autonomia e, como principais atribuições, discutir e deliberar sobre planos, métodos e programas de ensino, escolher e indicar o corpo diretivo da escola, reclamar adoção de medidas a nível de ensino e pessoal executor, reivindicar a implantação de escolas, solicitar melhorias, promover festividades em benefício da escola. Da parte da Secretaria Municipal de Educação cabia a promoção de cursos de orientação e debates junto aos Conselhos de Pais, com vistas à troca de informações pertinentes à atividade escolar. Feita uma breve explanação do conjunto dos chamados "projetos especiais" da administração participativa, com o intuito de dar visibilidade ao universo em questão, passamos às considerações acerca dos questionamentos que vimos fazendo, no sentido de ir construindo no processo de investigação respostas acerca da problemática que nos move; ou seja, analisar a experiência educativa da Instituição Escolar, em Lages (SC), em sua relação com as demais práticas educativas inovadoras, materializadas nos diversos projetos (já referidos) da chamada democracia participativa da gestão Dirceu Carneiro no período de 19771982. Algumas das questões importantes para dar conta da problemática são , a nosso ver, identificar e analisar a filosofia e pedagogia presentes na prática social e política desenvolvida em Lages no período mencionado; identificar e analisar iniciativas da administração, em outras áreas, e seu impacto no interior da instituição escolar; identificar o significado da descentralização de uma gestão municipal em articulação com a Escola. Para tanto, diante da amplitude do tema a ser investigado, buscou-se a incorporação de equipes de estagiários dos cursos de graduação em Ciências Sociais e Pedagogia da UNIPLAC, através da elaboração de projetos de pesquisa com diferentes recortes da temática central. Desta proposição, surgiram algumas investigações, algumas ainda no início do processo. Entre elas:" "Da Republiqueta Marxista" À Realidade Do Neoliberalismo: Onde/Quem é Você Escola Pública De Lages" (já concluída), sob nossa orientação, constituiu-se numa reflexão sobre educação pública, buscando compreender a Escola e a prática pedagógica a partir da problematização dos modelos de administração centralizado e descentralizado. Com esta finalidade e tendo como fio condutor de reflexão, a Filosofia (s), Pedagogia (s) e Proposta Curricular (es) do período 1977-1982 de um lado, e a prática escolar de uma determinada escola pública em nossos dias, foram sendo feitas reflexões. Sem desconsiderar o fato de se tratar de dois contextos econômico-histórico-político-social e cultural distintos, buscou-se identificar elementos que apontassem ou não para a caracterização de uma instituição escolar participativa. Conforme as considerações finais do relatório de estágio, a equipe considerou, com base nas entrevistas dirigidas, questionários e depoimentos, que nem sempre houve total coerência entre o que os sujeitos da pesquisa falaram e/ou escreveram a respeito de suas inserções; que não perceberam unanimidade acerca do que as pessoas pensaram e traduziram em prática do que seja ou deva ser uma instituição escolar participativa. Contudo, a partir da análise de documentos/depoimentos, do período 1977 - 1982 sobre as Escolas Municipais Santa Helena e Mutirão, inferiu-se que era preocupação e prática do poder público municipal daquele período tudo o que se refere à escola, desde a sua forma arquitetônica, estreitamente vinculada com o produto final, ou seja, até a qualidade do ensino. As Escolas referidas, tiveram origem orgânica para criação e desenvolvimento dos respectivos bairros. Veja-se, por exemplo, a livre circulação da população no interior da escola, a inexistência de cercas ou muros entre a escola e a comunidade, a presença das mães na escola (clube de mães), o trabalho dos artífices no interior das escolas. "A mulher na política" - proposta de resgatar as ações e contribuições das mulheres militantes na política do município de Lages, em especial no que se refere a educação e cultura no período 1977-1982. As primeiras evidências na sistematização das fontes apontam uma história da participação feminina na política lageana, já em 1964. Percebe-se uma identificação com as causas sociais, constando na primeira gestão de uma vereadora mulher - a indicação de criação da creche : Maria de Castro Arruda. No ano de 1973, as mulheres novamente saem do anonimato; são eleitas duas vereadoras, com preocupações e ações voltadas também para a educação, cite-se por exemplo a indicação 043/73 que sugere a criação da casa do Estudante e Restaurante Universitário. "Metodologia de Ensino na Administração Participativa" - proposta de análise da metodologia utilizada na rede pública municipal, e o estabelecimento de um paralelo com o trabalho desenvolvido na rede particular, no mesmo período. Para tanto, foram selecionadas duas unidades escolares: a Escola Municipal Frei Rogério e o Colégio Santa Rosa de Lima. A metodologia adotada pela equipe levou-os inicialmente a uma pesquisa bibliográfica sobre a realidade educacional no período, seguida de pesquisa de campo, com entrevistas / depoimentos de pessoas envolvidas diretamente com o processo educacional da época. Os primeiros depoimentos de professores da rede particular situam-na com uma caminhada completamente independente da rede pública municipal no período 1977/82. "nem como parceria, nem como rivalidade. Se ouvia notícias pelo rádio. Nós sabíamos da intenção do prefeito de resgatar a realidade do aluno. A gente ficava restrito a nossa escola, o material vinha de Curitiba". (272) "Memórias da Escola" - trata-se de uma pesquisa sobre os impactos da gestão Dirceu Carneiro, no interior da Escola Municipal "Marechal Rondon" pertencente à rede municipal de Lages e que funcionava no então distrito de Otacílio Costa. Pretende-se analisar as possíveis dificuldades e mudanças ocorridas no regimento escolar devido à "política da Equipe Dirceu Carneiro" vigente entre 1977 e 1982, bem como identificar a atuação dos professores, direção da Escola e método(s) de avaliação utilizado. "A educação nos anos de 1977 a 1982 no município de Lages: a experiência da Escola Básica Correia Pinto no ano de 1977" (atual Escola Básica Pa. Antônio Trivellin) - pesquisa voltada para o resgate e sistematização de momentos significativos no interior da unidade escolar que na época funcionava no então distrito de Painel. Além desta parceria com estudantes de graduação dos cursos de Ciências Sociais e Pedagogia, em processo de estágio supervisionado, estamos no início da proposição de um projeto de "Criação de um banco de dados sobre políticas públicas na área da educação e cultura, no município de Lages, SC no período 1977-82". Tal projeto, surge como necessidade apontada no processo de sistematização de fontes primárias referentes ao período da investigação. A partir de doação de acervo de fotografias, slides, filmes e depoimentos escritos, impôs-se à esta pesquisadora estabelecer articulações com as instituições: Universidade do Planalto Catarinense UNIPLAC (em acompanhamento), através dos departamentos de Educação e de Ciências Sociais, a Fundação Cultural de Lages, através do Departamento de Memória e Patrimônio Cultural e a Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, através do Centro de Ciências da Educação e do Núcleo de pesquisa de História de Educação. Finalmente, registramos nossas reflexões iniciais com base nas respostas obtidas nos depoimentos, questionários e/ou entrevistas respondidos por professores, dirigentes, ex-alunos, ocupantes de cargos políticos, todos sujeitos envolvidos, de um modo ou de outro, na administração Dirceu Carneiro. Os dados obtidos até o momento vão desde a defesa até manifestações de repúdio àquele período. Dos seguimentos atingidos até agora pela investigação, a nosso ver, o que está a exigir um aprofundamento que lhes dê maior visibilidade no processo, são os alunos que no período 1977-1982, freqüentavam as Escolas Públicas Municipais de Lages; porquanto, nos permitirão melhor definição nas questões colocadas pela problematização inicial. Atualmente, estamos definindo a amostra dos alunos que nos anos da "democracia participativa", encontravam-se em processo de escolarização e que nos anos imediatamente posteriores àquela "experiência" continuaram seus estudos na rede pública municipal ou foram para a rede pública estadual. Acreditamos que, uma vez sistematizados os dados de evasão, repetência e avanço, entre outros, no processo de escolaridade destes estudantes, das unidades escolares, que mais estiveram envolvidas com a prática educativa daquele período, como é o caso por exemplo, da Escola Básica Santa Helena e Escola Básica Mutirão, teremos dados significativos para interrogar os fatos sob investigação. Acrescente-se a isso o processo em curso, de sistematização e identificação das fontes primárias, às quais já nos referimos anteriormente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Marcio Moreira. A Força Do Povo: democracia participativa em Lages. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. GERMANO, José Willington. Estado Militar E Educação No Brasil (1964-1985). 2ª ed. São Paulo : Cortez, 1994. MARTENDAL, José Ari Celso et al. Relatório do projeto de educação e cultura popular - a experiência de Lages 1977-1982. Florianópolis, FAPEU; Rio de Janeiro, INEP, 1982. MUNARIM, Antônio. A Práxis dos Movimentos Sociais na Região de Lages. UFSC, 1990 (Dissertação de Mestrado). QUINTERO, Jucirema. A "força do povo" em Lages: mas o que foi mesmo, esta experiência? São Paulo,1991. Dissertação (Mestrado em Filosofia da Educação), Pontifícia Universidade Católica. SILVA, Elizabeth Farias da. O MDB/PMDB em Lages; análise de um partido de oposição no governo (1977-1982). Florianópolis, 1985. Dissertação (Mestrado em Sociologia Política), Universidade Federal de Santa Catarina. BIBLIOGRAFIA ALVES, Marcio Moreira. A Força Do Povo: democracia participativa em Lages. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. ANDRADE, Edinara Terezinha. "A Força Do Povo": do clientelismo diático ao clientelismo de massas. 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