Projeto Jefferson Miranda Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Áreas de Ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final LUÍS ROBERTO TAKIYAMA UÉDIO ROBDS LEITE DA SILVA ERICA ANTUNES JIMENEZ RONALDO ALMEIDA PEREIRA DIEGO MAIA ZACARDI ERLYSON FARIAS FERNANDES FLÁVIO AUGUSTO FRANÇA SOUTO LUIS MAURICIO ABDON DA SILVA MARCIO SOUSA DA SILVA MARIA APARECIDA CORRÊA DOS SANTOS SALUSTIANO VILAR DA COSTA NETO VALDENIRA FERREIRA DOS SANTOS Projeto Jefferson Miranda Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Áreas de Ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final Macapá-AP 2012 Presidenta da República Federativa do Brasil Dilma Rousseff Ministra do Meio Ambiente Izabella Mônica Vieira Teixeira Ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante Oliva Promotor de Justiça, Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Conflitos agrários, Habitação e Urbanismo da Comarca de Macapá, Ministério Público do Estado do Amapá Marcelo Moreira dos Santos Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá Augusto de Oliveira Júnior Governador do Estado do Amapá Carlos Camilo Góes Capiberibe Secretário de Estado da Ciência e Tecnologia Antônio Claudio Almeida de Carvalho Centro de Pesquisas Aquáticas Luís Roberto Takiyama Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro Uédio Robds Leite da Silva Secretário de Estado de Meio Ambiente Grayton Tavares Toledo Procuradora-Geral de Justiça, Ministério Público do Estado do Amapá Ivana Lúcia Franco Cei Organização, Produção e Revisão de Textos: Luís Roberto Takiyama Márcio Wendell de Lima Neri Márcio Leite da Silva Projeto Gráfico e Capa: Jefferson Miranda Fotos: Centro de Pesquisas Aquáticas/IEPA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T136p TAKIYAMA, Luís Roberto. [et al.] Projeto zoneamento ecológico econômico urbano das áreas de ressacas de Macapá e Santana, estado do Amapá: relatório técnico final. /Luis Roberto Takiyama. Macapá: IEPA, 2012. 84p.: il.; 21x30 ISBN: 978-85-87794-18-5 1. Zoneamento ecológico econômico – Macapá (Cidade). 2. Zoneamento ecológico econômico – Santana (Cidade). 3. Área de ressacas – Macapá (Cidade) . 4. Área de ressacas – Santana (Cidade). 5. Projeto. 6. Meio Ambiente. I. Silva, Uédio Robds Leite da. II. Jimenez, Érica Antunes. III. Pereira, Ronaldo Almeida. IV. Zacardi, Diego Maia. V. Fernandes, Erlyson farias. VI. Souto, Flávio Augusto França. VII. Silva, Luis Maurício Adbon da. VIII. Silva, Márcio Sousa da . IX. Santos. Maria Aparecida Corrêa dos. X. Costa Neto, Salustiano Vilar da. XI. Santos, Valdenira Ferreira dos. XII. Ferreira Sobrinho, Aristides. XIII. Caldas, Deive. XIV. Augustin. Fabiano Ribeiro de Farias. XV. Costa, Heidi Keler Sales. Titulo. CDD (21.ed.) 557.5098116 Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Bibliotecário Responsável: José Augusto S. Souza CBR-2 1110 Exemplares desta publicação podem ser adquiridos no: Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA Endereço – Av. Feliciano Coelho 1509, Bairro do Trem, Macapá-AP CEP.: 68900-000 - Fone: (96) 3212-5341 Impresso no Brasil 2012 AGRADECIMENTOS Ao Ministério Público do Estado do Amapá por proporcionar os meios de concretização deste trabalho. COLABORADORES Francinete da Silva Facundes Joel Lima da Silva Eduardo Luís Teixeira Baptista Cassia Ceres Pereira Evangelista Danusa Machado da Silveira Lana Nunes Richelly de Souza Furtado Rilton J. Vieira Pereira Thaís Sá Victor Lamarão Maria Lucélia dos Santos LISTA DE INSTITUIÇÕES AP POSTO TEXACO – IGARAPÉ FORTALEZA CAESA – COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO DO ESTADO DO AMAPÁ EXÉRCITO BRASILEIRO – 34º BATALHÃO DE INFANTARIA DE SELVA IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IG/UFPA – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ IMAP – INSTITUTO DE ORDENAMENTO TERRITORIAL E MEIO AMBIENTE DO ESTADO DO AMAPÁ INCRA – INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA INFRAERO/AP – EMPRESA BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA AEROPORTUÁRIA MPA – MINISTÉRIO PÚBLICO DO AMAPÁ MPEG – MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI PMM – PREFEITURA MUNICIPAL DE MACAPÁ PMS – PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTANA SEMA – SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE SETEC – SECRETARIA DE ESTADO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA UEAP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAPÁ UFPA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ UNIFAP – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ APRESENTAÇÃO A população amapaense, especialmente a que vive na região banhada pelo Rio Amazonas, tem uma relação muito próxima com as áreas de ressaca. Com extensas áreas cortadas por rios e igarapés, a ressaca tem sido utilizada historicamente para o desenvolvimento de atividades econômicas, sociais, culturais e de lazer. A importãncia que têm para o meio ambiente, como também para as atividades humanas, justificou a realização deste estudo, que vem preencher uma lacuna de conhecimento imprescindível para o desenvolvimento autossustentável dessa região do Amapá. Com esse trabalho, poderemos entender como o acelerado crescimento urbano das cidades de Macapá e Santana tem impactado as áreas de ressaca, que foram sendo engolidas por um processo de expansão desordenado e predador. É sabido que essa interação entre a cidade e a natureza não tem sido vantajosa, nem para as pessoas, que por falta de opção de moradia digna ocuparam essas áreas, nem para a natureza, que, pela degradação ambiental que esse tipo de ocupação provoca, vem perdendo sua capacidade de manter e gerar a vida. O estudo identifica, também, que nos municípios de Macapá e Santana existem 27 áreas de ressaca. Nessas áreas, sobretudo nas que ficam dentro do perímetro urbano, habitam cerca de 15.000 famílias em condições extremamente precárias. Palafitas construídas sobre um terreno úmido, as moradias ficam alijadas das condições de saneamento necessárias para prover uma vida com dignidade. O difícil acesso às casas dificulta a implementação de políticas e de serviços públicos que garantam o direito fundamental à cidadania. Outro aspecto que fica claro é que a falta de planejamento econômico e social para utilização dessas áreas pode já ter provocado danos irreversíveis ao meio ambiente. As áreas de ressaca compõem um frágil ecossistema fundamental para o equilíbrio ambiental. Sua degradação pode trazer consequências danosas para a própria atividade humana. Segundo o relatório do trabalho, as áreas de ressaca interferem, inclusive, na quantidade de chuvas que caem na microrregião em que se localizam. Daí a importância do Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano das Áreas de Ressaca de Macapá e Santana, que, segundo seus próprios realizadores, não pretende esgotar o assunto, mas, com certeza, é uma contribuição fundamental para o conhecimento cientifico sobre as referidas áreas. Quero parabenizar os pesquisadores do IEPA envolvidos no projeto e o próprio Instituto pelo trabalho realizado. Quero estender este reconhecimento ao Ministério Público Estadual, sem o qual, dificilmente, o projeto teria avançado. E afirmar que, de posse desses novos conhecimentos, o Estado poderá formular, com mais precisão, as políticas públicas necessárias para a utilização sustentável dessas áreas, gerando riqueza e bem-estar para o ovo do Amapá. EQUIPE TÉCNICA Adam Wesley Almeida de Castro – Graduando em Arq. e Urbanismo Admilson Moreira Torres – Geólogo Alexandre José Santos da Silva – Graduando em Arq. e Urbanismo Aline Franklin Furtado – Graduanda em Arq. e Urbanismo Ana Maria Pessoa Nogueira – Tecnóloga em Gestão Ambiental Anne Karollyne Silva Carvalho – Graduanda em Arq. e Urbanismo Antônio Elielson Rocha – Taxonomista em Botânica Antônio Flexa Viana – Técnico Botânico Apolo Fernandes Souza Alves – Graduando em Arq. e Urbanismo Aristides Ferreira Sobrinho – Graduando em Eng. Pesca Arnaldo de Queiroz da Silva – Geólogo Bianca Moro de Carvalho – Arquiteta e Urbanista Camila Barbosa de Araújo – Bióloga Carliendel Dias Guimarães - Graduando em Geografia Cassia Ceres Pereira Evangelista – Graduanda em Ciências Sociais Catiane Góes – Graduanda em Arq. e Urbanismo Cristóvão Soares Palheta – Graduando em Geografia Davi Silva de Oliveira – Graduando em Arq. e Urbanismo Deive Caldas – Graduando em Geografia Diego Maia Zacardi – Engenheiro de Pesca Elizabeth Cardoso Alves – Tecnóloga em Gestão Ambiental Erica Antunes Jimenez – Oceanógrafa Erlyson Farias Fernandes – Químico Industrial Fabiano Ribeiro de Farias Augustin – Graduando em Biologia Gilvan Portela de Oliveira – Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental Heidi Keller Sales Costa – Tecnóloga em Gestão Ambiental Israel Borges – Graduando em Arq. e Urbanismo Janiele Costa dos Santos – Graduanda em Arq. e Urbanismo João Wilton Ribeiro Alvino Júnior – Graduando em Arq. e Urbanismo José Dinaldo de Miranda Brito – Matemático José Maria Luz do Rosário – Graduando em Geografia José Roberto Santos Pantoja – Graduando em Biologia Kerly Araújo Jardim - Graduanda em Geografia Leonardo Beltrão – Graduando em Arq. e Urbanismo Lina Pereira Botelho – Graduanda em Arq. e Urbanismo Luís Maurício Abdon da Silva – Biólogo Luís Roberto Takiyama – Químico Luiz Klelmar da Silva Braga – Graduando em Arq. e Urbanismo Mairta Elainne Serra Silva – Graduanda em Tecnologia em Gestão Ambiental Marcelo Ferreira – Graduando em Arq. e Urbanismo Marcio Sousa da Silva – Geólogo Marcos Henrique de Abreu Martins – Geólogo Marcos Ubiratan Madeira Barbosa – Graduando em Arq. e Urbanismo Maria Aparecida dos Santos – Bióloga Marinete Gomes Monteiro – Graduanda em Arq. e Urbanismo Mário Renato Lobato da Silva – Graduando em Arq. e Urbanismo Marta Vieira da Silva – Geógrafa Milena Carvalho de Moraes – Química Industrial Newton Andrade – Graduando em Arq. e Urbanismo Petter Isackson Maia – Graduando em Arq. e Urbanismo Rafael de Castro Nascimento – Graduando em Arq. e Urbanismo Raimunda Kelly Silva Gomes – Bióloga Raimundo Moura Rolim Neto – Tecnólogo em Gestão Ambiental Raimundo Welson Pereira de Aquino – Técnico Químico Ramon Daví – Graduando em Arq. e Urbanismo Rita de Cássia Monteiro Ferreira – Assistente Social Roberto de Jesus Vega Sacasa – Geofísico Rosivan Serique Gato – Técnico em Agropecuária Salustiano Vilar da Costa Neto – Biólogo Sara Heloiza Alberto Neri – Engenheira Elétrica Sérgio Kleber dos Santos – Graduando em Biologia Severino Pereira Mancio Filho – Graduando em Geografia Suéllen Conceição de O. da Silva – Graduanda em Arq. e Urbanismo Tayara Miranda Maia – Graduanda em Arq. e Urbanismo Uédio Robds Leite da Silva – Geógrafo Vagno Taveira Fonseca – Tecnólogo em Gestão Ambiental Valdenira Ferreira dos Santos – Geóloga Wagner José Pinheiro Costa – Geólogo Wandemberg Almeida Gomes – Graduando em Arq. e Urbanismo Wandency Nunes de Morais – Técnico do INCRA PREFÁCIO A ocupação das áreas úmidas localmente denominadas de “ressacas” em Macapá-AP e Santana-AP vem ocorrendo de maneira desordenada, principalmente nas duas últimas décadas. A utilização das ressacas como espaço para moradias é a forma que mais causa impactos sociais e ambientais, ocasionada pela falta de planejamento urbano e pela explosão demográfica. Outros usos impactantes como a extração de argila para olarias e a piscicultura ocorrem de forma indiscriminada. As queimadas intencionais, comuns na época de agosto a dezembro, causam sérios prejuízos ambientais. Outras atividades tais como a caça e pesca de subsistência, a extração vegetal, a navegação, e a recreação e em menor proporção, o turismo, também são realizadas nas áreas de ressacas. A “Lei das Ressacas” (Lei Estadual Nº 0835/2004) indica no Artigo 1º que é de obrigação do Estado em conjunto com os municípios, a realização do Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano – ZEEU, como suporte ao ordenamento das atividades de uso e de ocupação dessas áreas úmidas. O Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), em cooperação técnica com o Ministério Público do Estado do Amapá (PRODEMAC/MP), procedeu a finalização do projeto Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano das áreas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá em 2011, cujos resultados encontram-se na íntegra na presente publicação. Em termos gerais, foram estabelecidas e mapeadas, em escala cartográfica de detalhe apropriada, zonas distintas baseadas em critérios de uso e ocupação, paisagem geográfica, densidade populacional, existência de desenho urbano e condições de vida da população. Para cada uma das zonas, além da localização na forma de produtos cartográficos, foram construídos cenários futuros e indicadas as ações para alcance dos cenários. Toda a construção foi realizada a partir de pesquisas oriundas da execução do projeto em diversas áreas do conhecimento; todos os dados e as informações científicas e tecnológicas produzidas fazem parte deste livro. Para o ZEEU, também foram considerados os materiais bibliográficos produzidos no âmbito dos órgãos estaduais e municipais, e da academia. Dessa forma, tem-se em mãos um valioso instrumento de planejamento para que os órgãos públicos, a iniciativa privada, o terceiro setor e, principalmente a população em geral possam trilhar os rumos do crescimento, desenvolvimento e progresso dos principais centros urbanos do Amapá primando pela preservação e pelo uso adequado desse importante ecossistema. “A raça humana seria destruída se as pessoas parassem de se ajudar. Não somos capazes de sobreviver sem ajuda mútua” (Walter Sott) Ivana Lúcia Franco Cei Procuradora-Geral de Justiça, Ministério Público do Estado do Amapá SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 1.1. Histórico do projeto............................................................................................................. 2. REFERENCIAIS PARA O ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO URBANO (ZEEU) DAS RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA.................................................................. 2.1. Zoneamento ecológico-econômico (ZEE): Bases conceituais.............................................. 2.2. Marcos legais para o zoneamneto ecológico-econômico urbano (ZEEU) das ressacas de Macapá e Santana........................................................................................................................ 2.2.1. Esfera Federal..................................................................................................................... 2.2.2. Esfera Estadual.................................................................................................................... 2.2.3.Esferas Municipais................................................................................................................ 2.3. Referenciais estaduais para a construção do zoneamento-ecológico econômico urbano (ZEEU) das ressacas de Macapá e Santana................................................................................... 2.3.1. O programa de zoneamento ecológico-econômico do Estado do Amapá.............................. 2.3.2. O programa estadual de gerenciamento costeiro do Estado do Amapá - GERCO/AP............. 2.4. Referenciais municipais para a construção do zoneamento ecológico-econômico urbano (ZEEU) das ressacas de Macapá e Santana................................................................................... 2.4.1. O plano diretor de Macapá.................................................................................................. 2.4.2. O plano diretor de Santana.................................................................................................. 2.5. Aspectos naturais das áreas de ressacas................................................................................ 2.5.1. Meio físico.......................................................................................................................... 2.5.2. Meio biótico....................................................................................................................... 2.6. Aspectos institucionais ambientais relevantes...................................................................... 2.6.1. Alguns mecanismos............................................................................................................ 2.6.2. A fragilidade das instituições ambientais municipais................................................................ 2.6.3. A participação da Sociedade Civil......................................................................................... 3. RESULTADOS DOS ESTUDOS REALIZADOS NA EXECUÇÃO DO PROJETO................... 3.1. Estudo da dinâmica de inundação das áreas de ressaca.......................................................... 3.2. Estudos de geologia, geomorfologia e correlatos das áreas de ressacas................................. 3.3. Levantamento e seleção de novas áreas para a extração de argilas........................................ 3.4. Estudo da qualidade da água das áreas de ressacas................................................................ 3.5. Estudo de vegetação das áreas de ressacas e etnobotânica................................................... 3.6. Estudos da distribuição da ictiofauna e potencial de espécies de interesse comercial............ 3.7. Estudo de ovos e larvas de peixes (osteichthyes) ao longo do Igarapé da Fortaleza................ 3.8. Levantamentos socioambientais.......................................................................................... 4. O ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO URBANO DAS ÁREAS DE RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA......................................................................................................... 4.1. Conceituação das zonas e subzonas das áreas de ressacas de Macapá e Santana.................... 4.2. Apresentação das zonas e subzonas das áreas de ressacas de Macapá e Santana.................... 4.2.1. Zona destinada à proteção ambiental Z1 ............................................................................. 4.2.2. Zona sob pressão da ocupação urbana Z2 ........................................................................... 4.2.3. Zona em processo de ocupação urbana Z3.......................................................................... 4.2.4. Zona com ocupação urbana consolidada Z4......................................................................... 4.2.5. Zona de interesse especial Z5.............................................................................................. 4.2.6. Zona estruturada Z6........................................................................................................... 4.2.7. Zona industrial e empresarial Z7.......................................................................................... 4.2.8. Recomendações gerais....................................................................................................... 15 20 23 25 27 27 30 31 31 31 33 36 36 38 38 39 40 41 43 44 44 45 47 50 52 52 54 56 57 58 65 68 69 69 70 71 71 72 73 74 74 4.3. Descrição dos produtos cartográficos elaborados para a base de dados espaciais................. 4.3.1. Área do projeto.................................................................................................................. 4.3.2. Escala de projeto ................................................................................................................ 5. PROGRAMA DE MONITORAMENTO DAS ÁREAS DE RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA..................................................................................................................................... 5.1. Contextualização e justificativa............................................................................................... 5.2. Objetivos do programa.......................................................................................................... 5.3.Estratégia de ação................................................................................................................... 5.3.1.Componentes do programa de monitoramento das áreas de ressacas de Macapá e Santana....... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 74 74 75 77 79 80 81 81 87 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Sistemas de ressacas mapeados na área de estudo. MER = margem esquerda; MDR = margem direita........................................................................................................................... Figura 2. Mapa com as áreas sujeitas a inundações e processos associados....................................... Figura 3. Classificação dos sedimentos superficiais da lagoa dos Índios. Dados em porcentagem (%). Areia Muito Fina (AMF), Lama (silte e argila) (L), Areia Fina (AF) e Areia Média (AM)..................... Figura 4. Classificação dos sedimentos superficiais do leito do igarapé da Fortaleza. Dados em porcentagem (%). Areia Muito Fina (AMF), Lama (silte e argila) (L), Areia Fina (AF) e Areia Média (AM).......................................................................................................................................... Figura 5. Variação da média dos valores de pH e oxigênio dissolvido das amostras de água superficial ao longo do Igarapé da Fortaleza, desde a sua foz (A1) até a ressaca da Lagoa dos Índios (A12). Data da coleta: 27 de agosto de 2009.................................................................................................. Figura 6. Variação da média dos valores de condutividade elétrica das amostras de água superficial ao longo do Igarapé da Fortaleza, desde a sua foz (A1) até a ressaca da Lagoa dos Índios (A12). Data da coleta: 27 de agosto de 2009.................................................................................................. Figura 7. Principais famílias de macrófitas aquáticas da ressaca dos municípios de Macapá e Santa, Amapá....................................................................................................................................... Figura 8. Porcentagem das formas biológicas de macrófitas aquáticas da ressaca dos municípios de Macapá e Santa, Amapá. A = anfíbia; EM = emergente; FL = flutuante livre; FF = flutuante fixa; SF = submersa fixa; SL = submersa livre; EP = epífita....................................................................... Figura 9. Número de plantas indicadas para as 13 ressacas estudadas.............................................. Figura 10. Usos adotados nas ressacas de Macapá para as diferentes plantas mencionadas pelos entrevistados............................................................................................................................ Figura 11. Plantas usadas nas áreas estudadas. São apresentadas as 10 mais citadas.......................... Figura 12. Número de espécimes de peixes capturados classificados por família.............................. Figura 13. Participação relativa (%) das famílias mais abundantes capturadas ao longo do canal do Igarapé da Fortaleza, Macapá, Amapá.......................................................................................... Figura 14. Tempo de residência, em anos, de moradias dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá....................................................................................................................... Figura 15. Vista da ocupação de área de ressaca em Macapá, demonstrando um processo de ocupação das áreas, com suporte em madeira para estender a rede improvisada de energia............ Figura 16. Situação de domínio do imóvel dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá...................................................................................................................................... Figura 17. Mão de obra utilizada na construção do imóvel dos entrevistados das ressacas da cidade de Macapá................................................................................................................................. Figura 18. Número de cômodos dos imóveis onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá................................................................................................................... Figura 19. Localização do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá...................................................................................................................................... Figura 20. Localização do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá...................................................................................................................................... Figura 21. Situação fundiária do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá....................................................................................................................... Figura 22. Tipos de usos das edificações residenciais nas ressacas de Macapá................................... Figura 23. Existência de tratamento de esgoto sanitário nas ressacas de Macapá............................... Figura 24. Existência de tratamento de esgoto sanitário por ressaca em Macapá.............................. 48 49 51 51 53 53 54 55 55 55 56 56 58 59 60 60 60 61 61 61 62 62 62 62 Figura 25. Vista das galerias de coleta e distribuição das águas pluviais sendo despejado diretamente nas ressacas............................................................................................................................... Figura 26. Vista das galerias de coleta e distribuição das águas pluviais sendo despejado diretamente nas ressacas............................................................................................................................... Figura 27. Serviço e fonte de abastecimento de água nas unidades residenciais nas áreas de ressacas. Figura 28. Existência de entidades da sociedade civil nas ressacas de Macapá................................... Figura 29. Participação dos moradores das ressacas de Macapá nas entidades de representação social......................................................................................................................................... Figura 30. Participação dos moradores das ressacas de Macapá nas atividades e mutirões organizados pela representação social local.................................................................................. Figura 31. Principais problemas sociais existentes nas ressacas de Macapá....................................... Figura 32. Principais alterações ambientais presentes nas ressacas de Macapá.................................. Figura 33. Delimitação da área do projeto para a elaboração dos produtos cartográficos.................. Figura 34. Articulação das cartas na escala de 1:10.000 na região metropolitana de Macapá e Santana...................................................................................................................................... Figura 35. Esquema da estratégia de ação do Programa de Monitoramento das ressacas de Macapá e Santana................................................................................................................................... 62 63 63 63 64 64 64 75 76 81 LISTA DE QUADROS LISTA DE QUADROS Quadro 1. Levantamentos da fauna das ressacas de Macapá e Santana................................................ Quadro 2. Quadro de ações anual do Programa de Monitoramento das Áreas de Ressacas de Macapá e Santana........................................................................................................................................ 41 84 1. INTRODUÇÃO Jefferson Miranda PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final 1. INTRODUÇÃO O Estado do Amapá, no extremo norte do Brasil possui particularidades ambientais em função principalmente de sua localização, na foz do rio Amazonas a qual lhe dá características ímpares no uso dos recursos naturais. A zona costeira do estado está dividida em dois setores – o setor costeiro estuarino ou amazônico e o setor atlântico ou oceânico (Chagas, 1997). O primeiro, banhado pelas águas do rio Amazonas, se caracteriza por possuir as maiores densidades demográficas do Amapá, onde os problemas sociais e as pressões ambientais já são preocupantes. Também neste setor encontram-se extensas áreas úmidas chamadas localmente de "RESSACAS", que constituem sistemas físicos fluviais colmatados, drenados por água doce e ligadas a um curso principal d'água, influenciados fortemente pela pluviosidade e possuindo vegetação herbácea. Em termos globais, as áreas úmidas têm sido discutidas sobre seus valores e funções para a vida humana, tanto no âmbito social, cultural, científico e econômico (Moser et al., 1996). Dentre elas, podemos citar: controle de enchentes, alimentação dos reservatórios de água subterrânea, controlador do clima, manutenção da biodiversidade, recreação e turismo, valor cultural, e geração de produtos (alimentos). Entretanto, a falta de conhecimento sobre a estrutura e funcionamento deste frágil e complexo ecossistema tem levado à falta do reconhecimento de sua importância local, principalmente nas cidades de Macapá-AP (capital do estado) e Santana-AP, a segunda mais populosa. Em Macapá e Santana, o uso e a ocupação das áreas úmidas vêm ocorrendo de maneira totalmente desordenada. O estabelecimento de moradias é o mais perceptível e a mais impactante, ocasionado principalmente pela falta de planejamento urbano e pela explosão demográfica, representada por uma taxa anual de crescimento de 3,44% (IBGE, 2010), uma das mais altas no Brasil. As condições de vida das pessoas que residem em áreas de ressacas, morando em palafitas, são visivelmente de baixa qualidade e o avanço da ocupação aumenta a cada dia que passa. Além da moradia, outros usos impactantes como a extração de argila para olarias, a criação de búfalos em áreas da periferia urbana e a piscicultura ocorrem de forma indiscriminada. As queimadas, muito comuns na época de estiagem (agosto a dezembro), causadas em sua maioria de modo intencional para a "limpeza" e renovação da pastagem para os búfalos causam sérios prejuízos ambientais. Outras atividades tais como a caça e pesca de subsistência, a extração vegetal, a navegação, e a recreação e turismo também são realizadas nas áreas de ressacas sem nenhum ou pouco controle por parte dos órgãos ambientais. Somente no início da década de 2000 foram realizados estudos específicos para a caracterização das ressacas de Macapá e Santana. A Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado do Amapá – SEMA demonstrou que no ano de 2000, 32 % das margens das ressacas nas duas cidades já estavam totalmente descaracterizadas com relação ao seu estado natural (Silva, 2000). Maciel (2001) realizou um diagnóstico preliminar abordando aspectos físicos e de biodiversidade, identificando problemas sociais e ambientais, sua conseqüências e propostas de soluções. Dentre as indicações, a escassez de informações gerais instigou a proposta de pesquisa em várias áreas, tais como: Ÿ Levantamentos abióticos como clima, hidrografia, geologia e geomorfologia. Ÿ Estudos da produtividade primária e comunidades fitoplanctônicas, assim como investigações sobre eutroficação. Ÿ Estudos da produção secundária incluindo comunidades de zooplânctons e produção da biomassa. Ÿ Inventariamento e comportamento da flora e fauna, tanto aquática como das áreas de entorno. Ÿ Criação e implantação de banco de dados sobre espécies da flora e da fauna e acervo bibliográfico sobre as ressacas. Em um trabalho organizado por Takiyama e Silva (2004) iniciado em 2002, seguindo uma das recomendações de Maciel (2001) foi realizado o diagnóstico abrangendo os meios físico, biótico e antrópico de algumas ressacas de Macapá e Santana. As ressacas trabalhadas incluem as da bacia 17 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá do igarapé da Fortaleza e abrangem as duas principais cidades do Estado onde o curso d'água principal permeia entre os dois municípios, que através dos seus "braços", constituem as áreas de ressacas. As ressacas da bacia hidrográfica do rio Curiaú também foram estudadas, sendo que essas pertencem a uma Área de Proteção Ambiental, a APA do Curiaú. Esses estudos foram financiados exclusivamente com recursos do Governo do Estado do Amapá, através da Secretaria de Estado do Planejamento Orçamento e Tesouro (SEPLAN). Após a produção dos resultados dos estudos técnicos houve a realização do Seminário Ações Integradas de Intervenção em Áreas de Ressaca em abril de 2003 promovido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) com a participação de várias entidades governamentais, não governamentais, da iniciativa privada, e representantes de comunidades, cujo objetivo foi apresentar resultados do diagnóstico realizado e discutir sobre problemas e soluções possíveis sobre a questão das ressacas, estabelecendo a necessidade de agir de forma integrada e participativa. Entre os grupos de debate formados, foi consenso estabelecer que a princípio deve-se conter o avanço da ocupação e da exploração predatória nas ressacas, enquanto as providências de recuperação e ordenação das áreas ocupadas não poderem ser tomadas. Dentre as soluções propostas no seminário, consideram-se prioritárias: Ÿ Regulamentação da então Lei Estadual N.º 0455/99, baseada nos estudos realizados pelo GERCO/IEPA e SEMA; Ÿ Delimitação e zoneamento das ressacas de Macapá e Santana; Ÿ Fiscalização integrada e sistemática, com adoção de tecnologias que permitam a cobertura das áreas pressionadas e a rapidez das ações; Ÿ Elaboração de plano diretor das cidades de Macapá e Santana, atribuindo funções de uso para as ressacas; Ÿ Elaboração de um banco de dados com cadastro das moradias, empreendimentos e atividades desenvolvidas em áreas de ressaca, de uso multisetorial e integrado; Ÿ Elaboração de projetos habitacionais e planejamento de ocupação das áreas de terra firme; 18 Relatório Técnico Final Ÿ Incentivo à organização social das comunidades que vivem em áreas de ressaca e entorno; Ÿ Programas de educação ambiental voltado à sensibilização da sociedade para a valorização das áreas úmidas (ressacas); Ÿ Incentivo ao desenvolvimento de atividades econômicas alternativas, como apicultura, artesanato e turística, com finalidade de uso racional e sustentável dos recursos naturais; Ÿ Projetos em parceria entre indústria oleira existente e piscicultores, visando à recuperação das áreas degradadas e a minimização dos impactos. Dentre essas diretrizes, algumas já foram contempladas com ações estritamente pontuais, principalmente por parte do poder público, mas o avanço da ocupação das áreas de ressacas ainda continua sendo o maior problema nas cidades de Macapá e Santana. Gomes et al. (2011) avaliaram as condições da população de três áreas de ressacas na cidade de Macapá e constataram que o alto crescimento demográfico e a falta da operacionalização das políticas públicas, principalmente ambientais, deixa marginalizada a população residente nesses ambientes com péssimas condições de vida. Os autores propõem a efetivação do planejamento urbano, investimento em infraestrutura e serviços básicos, gestão participativa dos recursos (inclusive financeiros) locais e sensibilização da população ao tema de proteção das áreas úmidas. O Ministério Público do Estado do Amapá, através da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Conflitos Agrários, Habitação e Urbanismo da Comarca de Macapá (PRODEMAC) baseado nas demandas causadas pelas invasões e degradação das áreas de ressacas fomentou em 2006 a criação de um grupo denominado de "Força Tarefa" para frear as incursões ilegais nas áreas úmidas. O grupo foi composto principalmente pelo Ministério Público do Estado do Amapá - MPEA, Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA, Batalhão Ambiental – BA, Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SEMAM e Grupamento Ambiental da Guarda Municipal de Macapá. A Força Tarefa PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá realizou vários atos conjuntos, entre os quais destacamos a fiscalização nos Bairros Renascer, Orla do Perpétuo Socorro, Vale Verde, Marabaixo, Loteamento Açaí, Lagoa dos Índios, Ramal do Goiabal e área do 34º BIS (www.mp.ap.gov.br). Em 2003, realizou-se a revisão da Lei Estadual N.º 0455/99 que foi revogada pela Lei Estadual Nº 0835, de 27 de maio de 2004 que dispõe sobre a ocupação urbana e periurbana, reordenamento territorial, uso econômico e gestão ambiental das áreas de ressaca e várzea localizadas no Estado do Amapá. A Lei Estadual 835/04 tem em seu Artigo 10: Art. 10 - Esta Lei será regulamentada pelo Poder Executivo, no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias após a realização do Zoneamento Ecológico Econômico Urbano – ZEEU. A Lei ainda não foi regulamentada, pois o Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano ainda não foi realizado. Entretanto, tal instrumento de gestão não pode ser considerado um componente estático e necessita ser construído com o auxílio de informações atualizadas das áreas de ressacas. O estudo em questão vem contribuir para que tal instrumento possa ser viabilizado, constituindo uma importante ponte de interação entre a pesquisa aplicada e o gerenciamento ambiental. Adicionalmente, Plano Diretor de Macapá-AP, construído de forma participativa e instituído em fevereiro de 2004 reconhece as áreas de ressacas como patrimônio ambiental municipal e prevê várias ações de uso e conservação remetendo tais ações às necessidades de estudos específicos, em especial os que apontem para o uso sustentável das áreas úmidas locais e proteção das suas águas. Da mesma forma, o Plano Diretor do Município de Santana confere importância ímpar à essas áreas onde são previstas ações de prevenção e controle da degradação dos ambientes de "ressacas e baixios". Relatório Técnico Final ambiente e dos recursos hídricos associados ao mesmo. Para a construção do zoneamento ecológico-econômico urbano das ressacas é necessário ter em mãos informações atualizadas e espacializadas em escala adequada ao planejamento e, tanto a qualidade como a quantidade dessas informações é imprescindível para a implantação desse instrumento de gestão. Os resultados do Projeto ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO URBANO DAS ÁREAS DE RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA, ESTADO DO AMAPÁ, aqui apresentados representa um esforço institucional do IEPA para contribuir na resolução dos vários problemas advindos do uso e ocupação inadequada das áreas úmidas que permeiam as cidades de Macapá e Santana. O trabalho consiste na visão técnica e científica sobre o tema e tem a intenção de subsidiar as discussões (que devem ocorrer de forma participativa) das diretrizes do planejamento urbano e ordenamento territorial das duas principais cidades do estado. Cabe ao poder público, ao se apoderar dos resultados, propor as intervenções sugeridas com o aval participativo dos setores envolvidos, em especial a numerosa população dessas áreas, a qual será a parte diretamente afetada. Apesar do respaldo legal e dos estudos já realizados, ainda existem várias lacunas de conhecimento sobre as áreas úmidas de Macapá e Santana, o que compromete a regulamentação do uso adequado e sustentável, assim como a proteção desse tipo de 19 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá 1.1. Histórico do Projeto No ano de 2003, com a finalização do trabalho intitulado "Diagnóstico das Ressacas do Estado do Amapá: Bacias do Igarapé da Fortaleza e do Rio Curiaú" havia a necessidade da continuidade das ações no sentido de inibir o uso e a ocupação indiscriminada dessas áreas úmidas, já apontados na época como um dos sérios problemas socioambientais das cidades de Macapá-AP e Santana-AP. Desta forma, uma pré-proposta formatada em conjunto pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) e pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA) cujo objetivo era o de complementar e validar o diagnóstico socioambiental e realizar a construção participativa do zoneamento ecológico-econômico das áreas de ressacas. A proposta foi encaminhada ao Banco Mundial (BIRD) para avaliação, mas não foi contemplada, pois os recursos disponíveis se destinavam exclusivamente às soluções dos problemas de saneamento enfrentados pelo estado do Amapá. Para atender aos requisitos de um projeto de pesquisa o documento redigido pela SEMA e pelo IEPA foi modificado, onde incluíram-se além do detalhamento metodológico do zoneamento ecológico-econômico, várias atividades para a atualização do diagnóstico realizado em 2002; o projeto foi então submetido ao Edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Fundo Setorial de recursos Hídricos (Edital CT-HIDRO 01/2006) em 2006 o qual foi indeferido por critérios de classificação e não por falta de mérito técnico-científico. Outra modificação foi realizada e a proposta fora encaminhada ao edital de chamada de projetos da Petrobras Ambiental, edição de 2008. Nesta última tentativa, incluiu-se como viés principal, as potencialidades das atividades de turismo proporcionadas pelas áreas de ressacas e o zoneamento ecológico-econômico como uma necessidade para apontar ações e locais para o desenvolvimento dessas atividades. Finalmente, ao final do ano de 2008, o Ministério 20 Relatório Técnico Final Público do Estado do Amapá, através da Promotoria do Meio Ambiente e Conflitos Agrários (PRODEMAC) concordou em viabilizar o financiamento da proposta por meio de recursos provenientes de Termos de Ajuste de Conduta, não só para atender às suas demandas, mas entendendo que os problemas causados pela falta de ordenamento de ocupação das cidades de Macapá e Santana afligem a todos os setores sejam eles governamentais, sociais ou econômicos. O projeto ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO URBANO DAS ÁREAS DE RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA, ESTADO DO AMAPÁ teve início oficialmente no dia 30 de janeiro de 2009, data em que foi assinado o Termo de Cooperação Técnica entre o IEPA e o Ministério Público Estadual. Desde então, iniciaram-se as atividades do projeto. Entretanto, as atividades técnicas foram iniciadas no dia 1 de março do corrente, data esta em que o orçamento suplementar ao IEPA referente ao projeto foi oficializado pelo Estado do Amapá. O referido projeto atendeu as seguintes áreas de estudos para complementação do diagnóstico: Ÿ Sensoriamento remoto e geoprocessamento; Ÿ Dinâmica de inundação; Ÿ Botânica e etnobotânica; Ÿ Distribuição da ictiofauna e potencial de espécies de interesse comercial; Ÿ Geologia e geomorfologia; Ÿ Seleção de novas áreas para extração de argilas; Ÿ Limnologia – qualidade da água, fitoplâncton e zooplancton; Ÿ Levantamentos socioambientais. Dentre os produtos principais, além das cartografias temáticas, são apresentados: Ÿ O Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano das áreas de Ressacas de Macapá e Santana Ÿ O Programa de monitoramento ambiental das áreas de ressacas da bacia hidrográfica do Igarapé da Fortaleza Ÿ A Proposta de regulamentação da Lei Estadual PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final 835/2004 que prevê o Zoneamento EcológicoEconômico Urbano das áreas de ressacas. Após todos os esforços para o sucesso na obtenção de recursos financeiro e início da execução do projeto, surgiram várias dificuldades de ordem técnico-administrativa do IEPA. A aquisição de bens, serviços e materiais não acompanhou o cronograma proposto e os atrasos deram origem a várias adversidades o que comprometeu seriamente a realização das atividades previstas. Como exemplos, pode-se citar: i) a aquisição da imagem de satélite de alta resolução que consistiu na base cartográfica, a qual foi solicitada no início do segundo semestre de 2009 e que foi adquirida, após muitos impasses, em janeiro de 2011; e ii) a compra de materiais para pesquisas de campo e para o laboratório os quais, apesar de solicitados em vários momentos, a licitação ocorreu somente em junho de 2011 e ainda não foram entregues. Obviamente, a influência dessas ocorrências nos produtos finais se mostra mais do que evidente. Ademais, a saída de membros da equipe de pesquisa fez com que alguns itens da proposta original deixassem de ser contemplados, como no caso dos estudos de fitoplâncton. Com relação à infraestrutura, os anos de 2009 e 2010 foram os mais sofridos em termos do sucateamento do aparelhamento institucional; para exemplificar, todo o IEPA contava apenas com um único veículo pequeno; não havia linhas telefônicas disponíveis, o acesso à "Internet" era (ainda permanece) precário. Enfim, essas dificuldades muitas vezes foram superadas com esforços pessoais dos membros da equipe de trabalho. 21 2. REFERENCIAIS PARA O ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO URBANO (ZEEU) DAS RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA Jefferson Miranda PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Nesta seção, são mostrados os referenciais em termos dos conceitos envolvidos, dos aspectos da legislação vigente e dos trabalhos já realizados no estado do Amapá, relacionados ao tema principal. Em nenhum momento pretende-se cobrir todos os aspectos relevantes, mas tem-se a pretensão de mostrar que várias ações em termos de políticas públicas já foram oficializadas e também apontar o nível de entendimento dos problemas ocasionados pela ocupação desordenada das áreas de ressacas. 2.1. Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE): bases conceituais Segundo o MMA e SAE (1997), o ZEE é definido como um "instrumento político e técnico do planejamento, cuja finalidade última é otimizar o uso do espaço e as políticas públicas". Neste contexto, os mesmos autores acercam que há princípios fundamentais baseados em aspectos políticos e técnicos, que devem ser considerados. No âmbito político, tem-se como princípios a territorialidade, a garantia da sustentabilidade ecológica e econômica, a participação democrática, e a articulação institucional; já nos aspectos técnicos, relevam-se a abordagem sistêmica do ambiente, a valorização da multidisciplinaridade, a necessidade de sistemas de informação e a possibilidade de elaboração de cenários. De acordo com Simões et al. (1999), o ZEE é definido como um dos instrumentos para a racionalização da ocupação dos espaços e de redirecionamento de atividades e tem a finalidade de dotar o Governo das bases técnicas para espacialização das políticas públicas visando a Ordenação do Território. Este último termo remete à organização espacial das políticas econômica, social, cultural e ecológica. Nessa dimensão, segundo Benatti (2004), para que uma ação no ordenamento territorial possa ter sucesso, são necessários quatro elementos fundamentais: • Elementos jurídicos (normativos): refere-se a base normativa das ações dos diversos atores e Relatório Técnico Final setores que fazem uso dos recursos naturais e do território. A regulação dessas ações e das relações entre os envolvidos é crucial para a operacionalização do zoneamento. • Elementos técnicos (indicativos): constituem-se na construção de alicerces técnicos que dará origem a uma série de ferramentas e de informações que, por sua vez, servirão para a tomada de decisões dos envolvidos no processo de ordenamento. • Elementos sociais (participativos): consistem em itens de grande importância, pois sem a participação dos diversos atores sociais responsáveis e diretamente afetados pelo ordenamento no dia-a-dia, este nunca poderá concretizar-se. • Elementos políticos (institucionais): são importantes para induzir a construção de decisões políticas. Mais ainda, deve-se incorporar ao processo de descentralização uma visão estratégica de definição de competências dentre os atores e setores envolvidos. O ZEE é ainda considerado como uma poderosa ferramenta de ordenamento territorial, pois conta com as seguintes características MMA e SAE (1997): a) é um instrumento técnico de informação sobre o território, necessária para planejar a sua ocupação racional e o uso sustentável dos recursos naturais: Ÿ provê uma informação integrada em uma base geográfica; Ÿ classifica o território segundo suas potencialidade e vulnerabilidade; b) é um instrumento político de regulação do uso do território: Ÿ permite integrar as políticas públicas em uma base geográfica, descartando o convencional tratamento setorizado de modo a aumentar a eficácia das decisões políticas; Ÿ permite acelerar o tempo de execução e ampliar a escala de abrangência das ações, isto é, aumenta a eficácia da intervenção pública na gestão do território; 25 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Ÿ é um instrumento de negociação entre as várias esferas de governo e entre estas, o setor privado e a sociedade civil, isto é, um instrumento para a construção de parcerias; c) é um instrumento do planejamento e da gestão territorial para o desenvolvimento regional sustentável. Significa que não deve ser entendido como um instrumento apenas corretivo, mas também ativo, e estimulador do desenvolvimento. As palavras-chave mencionadas tais como: planejar, ocupação racional, integrada, negociação, parcerias, desenvolvimento descrevem muito bem as finalidades do ZEE sendo talvez a visão e operacionalização setorizada, principalmente do setor público, o maior vício e inimigo da eficácia da aplicação de tal instrumento. O MMA (2006) considera que as bases técnicas e institucionais do poder público estão bastante avançadas, mas muitos obstáculos necessitam ser ultrapassados, pois a dispersão de projetos e a desarticulação política e institucional ainda persistem causadas por interesses corporativos. Desta forma, a construção e utilização do ZEE devem ser encaradas como um desafio para o poder público e sociedade e necessita de atualizações técnicas e institucionais constantes para que possa ser um instrumento de negociação prestigiado por todos os interessados. E, ainda de acordo com MMA e SAE (1997): O ZEE portanto, não é um fim em si, nem mera divisão física, e tampouco visa criar zonas homogêneas e estáticas cristalizadas em mapas. Trata-se sim, de um instrumento técnico e político do planejamento das diferenças, segundo critérios de sustentabilidade, de absorção de conflitos, e de temporalidade, que lhe atribuem o caráter de processo dinâmico, que deve ser periodicamente revisto e atualizado, capaz de agilizar a passagem para o novo padrão de desenvolvimento. A base conceitual apresentada se refere aos trabalhos relacionados especificamente ao Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico (PZEE) coordenado pelo MMA que tem: 26 Relatório Técnico Final como objetivo executar o ZEE no Brasil, integrando-o aos sistemas de planejamento em todos os níveis da administração pública e gerenciando, em diversas escalas de tratamento, as informações necessárias à gestão do território. Entretanto, não há limitações de escalonamento geográfico para utilizar as premissas conceituais para conduzir o trabalho envolvido no ZEE Urbano das áreas de ressacas de Macapá e Santana tanto que, no PZEE são previstos os devidos detalhamentos. Sendo assim, um Programa de ZEE, de acordo com o MMA (2006), tem como objetivos (adaptado de MMA e SAE, 1997): Ÿ Subsidiar a elaboração de planos, programas e projetos e propor alternativas para tomada de decisão, segundo o enfoque da compatibilização das atividades econômicas com o ambiente natural. Ÿ Conjugar os elementos de diagnóstico físicobiótico e socioeconômico, para estabelecer cenários exploratórios com vistas a apresentar alternativas ao desenvolvimento social, ambientalmente sustentável. Ÿ Identificar as políticas públicas de desenvolvimento e de meio ambiente, comparando suas afinidades e incongruências. Ÿ Conceber e implementar formas de divulgação pública das informações utilizadas no processo de ZEE. Ÿ Identificar oportunidades de uso dos recursos naturais, estabelecendo os parâmetros necessários para sua exploração. Ÿ Identificar e analisar problemas ambientais, tais como áreas degradadas, usos inadequados dos solos, das águas superficiais e subterrâneas, exploração irregular de recursos ambientais e desenvolvimento urbano descontrolado. Ÿ Identificar conflitos de interesses entre os usos dos recursos naturais e as políticas ambientais, bem como a concorrência desses usos. Ÿ Identificar e analisar problemas socioeconômicos da população, correlacionando-os a processos de dinâmica territorial. Ÿ Propor as diretrizes legais e programáticas de caráter preservacionista e de desenvolvimento econômico e social para cada sistema ambiental identificado e, quando for o caso, de ações PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final voltadas à mitigação ou correção de impactos ambientais danosos, porventura ocorridos. Promover o desenvolvimento de técnicas e instrumentos necessários para a elaboração de ZEE. Propor a elaboração de instrumentos legais visando o desenvolvimento sustentável. Criar saídas (respostas) dos sistemas de informações que atendam aos principais usuários da gestão territorial. Estimular mecanismos que favoreçam a criação e implementação de instrumentos e técnicas voltadas para a análise ambiental. Montar banco de dados, em linguagem universal, de amplo acesso e facilidade de uso, com as informações primárias e secundárias utilizadas pelos projetos, inclusive metadados, espacializando as informações em um Sistema Gerenciador de Banco de Dados, utilizando Sistema de Informações Geográficas. componente dinâmica e; Ÿ zoneamento "participativo", cuja denominação garante a participação popular e de todos os setores da sociedade. Tais objetivos devem ser os mesmos alvos do presente trabalho, senão incluídos em atividades de desdobramento e continuidade a partir dos resultados alcançados pelos programa nacional e estadual de ZEE. Resumidamente, o propósito do zoneamento é buscar a conciliação de fatores de ordem natural e antrópica da forma mais harmoniosa possível, com o intuito de proporcionar (i) a melhoria da qualidade de vida, (ii) o desenvolvimento socioeconômico equilibrado das regiões, (iii) uma gestão responsável dos recursos naturais, (iv) a proteção do meio ambiente e (v) a participação das populações. 2.2. Marcos Legais para o Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano (ZEEU) das Ressacas de Macapá e Santana Ÿ Ÿ Ÿ Ÿ Ÿ Em consulta a Benatti, 2004, o autor classifica o zoneamento de acordo com três concepções distintas: Ÿ zoneamento "normativista", que se refere à imposição de restrições e proibições de uso e ocupação dos espaços apoiados na legislação vigente e nas recomendações de ordem técnicas; Ÿ zoneamento "indicativo" mais apropriado à definição do SAE e MMA, o qual se baseia em um instrumento técnico indicativo para o "planejamento das diferenças" com forte Preferencialmente, a classificação adotada pelo presente trabalho tende a ser inicialmente o zoneamento indicativo e deve ser internalizado como uma ferramenta de discussão e diálogo para atingir os objetivos propostos pelo zoneamento. As discussões, entretanto, devem obrigatoriamente ter um caráter participativo e, desta forma adota-se a outra (última) forma da classificação. Entretanto, devido aos requisitos de regulamentação da Lei Estadual 835/2004 que indica a necessidade do Zoneamento EcológicoEconômico Urbano das áreas de ressacas, uma proposta normativa de zoneamento também é apresentada concomitante à finalização deste projeto. 2.2.1. Esfera Federal O Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE – é um dos principais instrumentos do processo de ordenamento territorial para se chegar ao desenvolvimento sustentável das cidades. Tornou-se referência para a questão ambiental a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano realizada em Estocolmo em 1972. Concomitante à sua implementação no restante do país, foi desenvolvido um esforço metodológico para elaboração de uma proposta como ferramenta de planejamento para a Amazônia Legal, devido, entre outros fatores, à visibilidade que esse ecossistema ganhou internacionalmente e à pressão das entidades ligadas ao meio ambiente, sendo, posteriormente, incluído no Programa do Plano Plurianual (PPA) do país, com o objetivo de integrar aspectos naturais e sociais na gestão territorial (DEL PRETTE; MATTEO, 2006). 27 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá O processo de implantação desta ferramenta no Brasil está intimamente ligado ao desenvolvimento das políticas ambientais no país, que começaram a serem discutidas em 1934, quando foi aprovada a primeira versão do Código Florestal (Decreto no. 23.793/34); revisada anos depois quando entrou em vigor a Lei no. 4.771/65 instituindo o Novo Código Florestal. Esta Lei considera como de preservação permanente (Art. 2º) as florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo de rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal, cuja largura mínima seja de 30 metros para cursos d'água de menos de 10 m de largura e de 50 m para os cursos d'água que tenham de 10 a 50 m de largura; além das nascentes, ainda que intermitentes, nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja sua situação topográfica, num raio de 50 m de largura e ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios naturais ou artificiais. Posteriormente, foi aprovada a Lei no. 6.766/79, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e proibiu o parcelamento em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas, bem como em áreas de preservação ecológica. Entretanto, somente no início dos anos 80, foi instituída a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei no. 6.938/81), que se tornou a base filosófica para o gerenciamento do meio ambiente no Brasil e tinha como objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, por meio de instrumentos como o zoneamento ambiental. No mesmo período o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, por meio do RADAMBRASIL, um projeto iniciado na década de 70 com o objetivo de mapear sistematicamente o país, produziu uma coletânea de mapas temáticos e relatórios, com base em imagens de radar, que pode ser considerada ponto de partida para o ZEE da Amazônia Legal, o qual foi inserido em diversas vertentes de cooperação internacional do Governo Brasileiro, dentre elas, o Programa Piloto 28 Relatório Técnico Final de Conservação das Florestas Tropicais – PPG7, que englobava Projetos de Gestão Ambiental Integrada, dos quais o ZEE era uma das componentes. Em 1986, o IBGE elaborou o documento "Termo de Referência para uma Proposta de Zoneamento Ecológico Econômico do Brasil", que não foi implementado, entretanto, pode ser considerado o marco do ZEE no Brasil (DEL PRETTE; MATTEO, 2006). Ainda em meados dos anos 80, o então Ministério do Interior firmou um convênio com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAO – para iniciar um processo de zoneamento agroecológico e ordenamento territorial da Amazônia. Paralelamente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA – realizou diversos trabalhos dessa natureza, incorporando-os ao processo de planejamento do Ministério da Agricultura (DEL PRETTE; MATTEO, 2006). Para responder questões existentes em áreas de maior ocupação e, consequentemente, as mais dinâmicas do país, a costa brasileira, em 1988, foi instituído o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC – (Lei no. 7.661/88), cujo objetivo era orientar a utilização racional dos recursos da zona costeira e previa o zoneamento de usos e atividades nessa região. Posteriormente, o Grupo de Coordenação para elaboração e atualização do PNGC, criado pelo Decreto no. 96.660/88, indicou a formulação de normas para zoneamento e monitoramento da zona costeira (DEL PRETTE; MATTEO, 2006). No mesmo período, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, ficou estabelecido como dever do poder público e da coletividade defender e preservar o meio ambiente (Art. 225), bem como passou para competência dos municípios (Art. 30) promoverem o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. Em seguida foi criada a Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE, que contava com a Diretoria de Ordenação Territorial, a qual realizou, entre outros PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá trabalhos, a adequação de conceitos e métodos que orientariam os trabalhos do ZEE e de ordenamento territorial e o plano de ZEE da Amazônia. Com a extinção da SAE (Medida Provisória no. 1.795/99), as atribuições referentes ao ZEE foram transferidas para o Ministério do Meio Ambiente (Medida Provisória no. 1.911/99). Em 2003, a responsabilidade pelo ordenamento territorial passou para o Ministério da Integração Nacional e ao Ministério da Defesa (Lei no. 10.683/03). Algumas conferências internacionais também ajudaram a intensificar a discussão sobre a questão ambiental, dentre elas, vale citar a Convenção de RAMSAR ocorrida no Irã em 1971, mas somente ratificada pelo Brasil em 1993, da qual é signatário, que estabeleceu uma cooperação internacional de conservação e uso racional de zonas úmidas, e a Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e o Desenvolvimento - UNCED 92, mais conhecida como RIO – 92, que culminou na assinatura de grandes tratados internacionais, como a Convenção do Clima, a Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) e a Agenda 21. A CDB foi promulgada pelo Decreto no. 2.519/98 e, por meio do Decreto no. 4.339/02, foram instituídos os princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade, a qual conta como um dos objetivos específicos da Componente Conservação da Biodiversidade, apoiar ações para elaboração dos ZEEs. Posteriormente, foi instituído o Decreto no. 4.703/03, que dispõe sobre o Programa Nacional da Diversidade Biológica (PRONABIO) e a Comissão Nacional da Biodiversidade. Outra importante conquista para a gestão do meio ambiente ocorreu em 1997 quando foi instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH (Lei no. 9.433/97) que, tinha como diretriz, dentre outras a integração da gestão dos recursos hídricos com a do meio ambiente (Art. 3º, inciso III). A atribuição pela implementação da PNRH foi dada à Agência Nacional de Águas – ANA -, entidade federal criada pelo Decreto no. 9.984/00. Relatório Técnico Final condutas e atividades lesivas ao meio ambiente foram estabelecidas somente com a aprovação da Lei de Crimes Ambientais (Lei no. 9.605/98) e especificadas através da instituição do Decreto no. 3.179/99. Em seguida, com a instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC – (Lei no. 9.985/00), o zoneamento passou a ser reconhecido como instrumento de definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com o intuito de proporcionar os meios e condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz (Art. 2º, inciso XVI). Com a instituição do Estatuto da Cidade (Lei no. 10.257/01), ficaram estabelecidas as diretrizes gerais da política urbana e seus instrumentos (Art. 4º), tais como a disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo e o zoneamento ambiental. No mesmo ano foi instituído o Decreto s/n de 28/12/01, que dispõe sobre a Comissão Coordenadora do Zoneamento EcológicoEconômico do Território Nacional e o Grupo de Trabalho Permanente para a Execução do ZEE, denominado Consórcio ZEE-Brasil. Este Decreto atribuiu competência à Comissão para compatibilizar os trabalhos dos estados com aqueles executados pelo Governo Federal. Posteriormente, o Decreto no. 4.297/02 regulamentou o processo de implantação do ZEE em território nacional, como instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente, e estabeleceu os princípios e objetivos do ZEE, bem como os elementos mínimos que deverão constar em seu conteúdo. Por meio do Decreto no. 5.300/04, a Lei 7.661/88 (PNGC) foi regulamentada e o zoneamento ecológico econômico passou a ser considerado como um dos principais instrumentos de gestão da zona costeira. Este decreto define normas gerais visando à gestão ambiental da zona costeira do País, estabelecendo as bases para a formulação de políticas, planos e programas federais, estaduais e municipais (Art. 1º). As sanções penais e administrativas derivadas de 29 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Posteriormente, foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial – GTI – (Decreto s/n de 12/02/07), responsável pela elaboração da Política Nacional de Ordenamento Territorial – PNOT – e coordenado pela Casa Civil da Presidência da República. Em 2010 o macrozoneamento ecológico econômico da Amazônia Legal foi aprovado como instrumento de orientação para a formulação e espacialização das políticas públicas de desenvolvimento, ordenamento territorial e meio ambiente, assim como para as decisões dos agentes privados (Decreto no. 7.378/10). 2.2.2. Esfera Estadual No Amapá, com a promulgação da Constituição Estadual em 1991, o poder público estadual comprometeu-se em realizar o zoneamento ecológico econômico do Estado, de modo a compatibilizar o desenvolvimento com a preservação e a conservação do meio ambiente (Art. 311). Adicionalmente, o Estado deveria criar um sistema de administração da qualidade ambiental, proteção e desenvolvimento do meio ambiente e uso adequado dos recursos naturais, com o fim de, entre outros, preservar os ecossistemas essenciais e promover o manejo ecológico de espécies e zelar pelas áreas de preservação dos corpos aquáticos (Art. 313, incisos XI e XII). Esta legislação também passou a considerar as terras marginais dos cursos d'água como áreas de preservação permanente, proibindo o seu desmatamento (Art. 315). Em seguida foi instituído o Código de Proteção ao Meio Ambiente (Lei no. 005/94), que tinha como um dos principais instrumentos o planejamento ambiental, cujos objetivos incluíam estabelecer as condições e critérios para definir e implantar o zoneamento ecológico econômico do Estado (Art. 6, inciso VII). Esta Lei também considera como de preservação permanente as áreas ou vegetação situadas ao redor de lagos temporários ou permanentes e reservatórios de águas naturais ou artificiais (Art. 41, inciso II). No mesmo ano foi instituído o Plano Estadual de Gerenciamento 30 Relatório Técnico Final Costeiro – PEGC (Lei no. 0188/94 regulamentada pelo Decreto no. 4.112/96), com o objetivo de orientar o processo de ocupação e utilização dos recursos naturais da zona costeira e tinha como instrumento de execução o zoneamento ecológico econômico (Art. 7º). A partir de 1995 o ZEE no Amapá passou a ser valorizado como instrumento de planejamento regional. No período entre 1996 e 2003, por meio de recursos financeiros do PPG7 e do Governo do Estado, foi realizado o ZEE da área sul do Estado. Adicionalmente, foi criado o Centro de Ordenamento Territorial do Estado através do Decreto no. 6.320/02. Em 1999 as áreas de ressacas do estado do Amapá foram tombadas (Lei no. 0455/99), sendo privilegiadas como áreas protegidas as ressacas localizadas em áreas municipais urbanas, com delimitação iniciando-se pela Lagoa dos Índios, no município de Macapá. Em seguida foi criada a Política Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Amapá (Lei no. 0686/02), que tinha como um dos objetivos a compatibilização do gerenciamento dos recursos hídricos com o desenvolvimento regional e a proteção do meio ambiente e previa o zoneamento das áreas inundáveis e das disponibilidades hídricas efetivas. Posteriormente, foi instituída a Lei no. 0835/04 que previa que o Governo do Estado, em colaboração com as Prefeituras Municipais, realizaria em um prazo de até três anos, o zoneamento ecológico econômico urbano – ZEEU, em escala de detalhe adequada, das áreas de ressaca e várzea localizadas nas zonas urbanas e periurbanas visando à promoção social, o ordenamento econômico e à proteção do meio ambiente. Esta Lei estabeleceu ainda a proibição de novas ocupações e usos de áreas de ressacas urbanas e periurbanas, exceto para execução de obras de infraestrutura (Art. 2º). No ano seguinte foi instituída a Lei no. 0919/05 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final que dispõe sobre o ordenamento territorial do Amapá e adota como instrumento técnico da condição normativa do uso e ocupação territorial, os resultados do ZEE e Gerenciamento Costeiro. ocupação do solo em Macapá e têm como uma das diretrizes a proteção das áreas de preservação e fragilidade ambiental, dentre as quais, as áreas de ressacas da zona urbana da cidade. A revisão do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro ocorreu em 2007, por meio da Lei no. 1.089/07, a qual estabeleceu os objetivos e diretrizes do Plano e disciplinou os instrumentos de sua elaboração, aprovação e execução. Uma das metas do Plano passou a ser a definição do ZEE costeiro e as respectivas normas e diretrizes para cada setor da zona costeira. No mesmo ano foi instituída a Lei Complementar no. 030/04, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano do município de Macapá e estabelece a obrigatoriedade de reserva de faixa não edificável de, no mínimo, 30 metros de cada lado ao longo das áreas de ressacas, enquanto não estiver aprovado o Código Ambiental de Macapá. Já em 2006 foi instituído o Plano Diretor Participativo de Santana por meio da Lei Complementar no. 002/06, que tinha o zoneamento como instrumento para instituir as regras gerais de uso e ocupação do solo. 2.2.3. Esferas Municipais Ao nível municipal, em 1998 passou a ser considerada como preservação permanente todas e qualquer vegetação junto às ressacas, lagos, lagoas, reservatórios naturais e artificiais, nascentes e demais cursos d'água, através da instituição da Lei no. 948/98 que dispõe sobre a lei de proteção, controle, conservação e melhoria do meio ambiente do município de Macapá. Posteriormente, o Executivo Municipal de Macapá ficou autorizado a construir lixeiras coletivas nas entradas das ressacas ocupadas por residências, visando à coleta e o destino apropriado do lixo (Lei no. 1.054/00). Em seguida, todas as ressacas localizadas na cidade de Santana foram transformadas em patrimônio ambiental do referido município por meio da Lei no. 498/01. Por meio da Lei complementar no. 026/04, foi instituído o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Macapá, cujo objetivo era ordenar a ocupação do território municipal e tinha como uma das estratégias a proteção ambiental das ressacas, evitando a ocupação por usos e atividades que venham a causar degradação. Esta Lei previa ainda o macrozoneamento municipal para garantir a ocupação equilibrada do território e o desenvolvimento não predatório das atividades. Em atendimento às normas estabelecidas pela Lei anterior, foi instituída a Lei complementar no. 029/04, que estabelece os critérios de uso e 2.3. Referenciais estaduais para a construção do Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano (ZEEU) das Ressacas de Macapá e Santana 2.3.1. O Programa de Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Amapá O Programa de Zoneamento EcológicoEconômico do Estado do Amapá (PZEE-AP) tem apresentado grandes avanços no decorrer da sua efetiva existência, desde 1995. De maneira óbvia, seu objetivo principal é subsidiar o planejamento e gestão territorial no sentido do uso sustentável dos recursos naturais e da ocupação ordenada do território e obedece aos princípios e preceitos básicos do respectivo programa nacional. Entretanto, dada à carência de informações socioambientais sistematizadas no Amapá, o PZEE-AP adquiriu atribuições outras do que simplesmente constituir um instrumento de informações técnicas ou mapeamentos que visam contribuir para o planejamento das políticas públicas relevantes ao ordenamento territorial e passa a ser uma fonte invejável de informações para todos os setores da sociedade, sejam órgãos públicos, privados e instituições do terceiro setor ou cidadãos comuns. Isso não só pela carência citada de informações técnicas, mas pelo modo cuidadoso e realista no qual é conduzido, prezan- 31 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá do pela capacitação e aprendizado da equipe e formatando parcerias importantes para a sustentação de recursos necessários à execução. No entanto, ainda há muitas barreiras a transpor, pois muitos gestores e "tomadores de decisões" ainda não internalizaram o zoneamento como uma poderosa ferramenta para que assuma um papel de instrumento de negociações multi-setoriais e resolução de conflitos, onde os atores envolvidos possam ter informações suficientes para avaliar as relações de ganhos e perdas das partes envolvidas (www.iepa.ap.gov.br). Vários produtos já estão disponíveis ao público para conhecimento e uso; dentre eles: Ÿ Macrodiagnóstico do Estado do Amapá: Primeira Aproximação do ZEE; Ÿ Zoneamento Ecológico-Econômico da Área Sul do Estado do Amapá; Ÿ Detalhamento do ZEE do município de Laranjal do Jari; Ÿ Detalhamento do ZEE do município de Mazagão. O Macrodiagnóstico do Estado do Amapá identifica no estado em três áreas homogêneas principais. São elas (Rabelo et al., 2008): Ÿ De natureza inundável Ÿ De natureza savanítica Ÿ De natureza florestal de terra firme As áreas de ressaca da bacia hidrográfica do igarapé da Fortaleza são classificadas como formações campestres deprimidas que funcionam como bacias de acumulação temporária e estão inseridas na área de natureza inundável, que ficam na porção mais exterior do território do Amapá. São influenciadas por regimes de marés e chuvas e compreendem sistemas exclusivamente fluviais e estão na zona estuarina amazônica (Rabelo et al., 2008). a) Potencial dos recursos naturais (Rabelo et al., 2008) Em termos de domínio florístico, considerando-se todo o Estado do Amapá, as áreas similares são denominadas de campos de várzea e ocorrem 32 Relatório Técnico Final desde o Oiapoque, ao norte até o extremo sul, no limite delineado pelo rio Jari. Tais áreas correspondem a 11,20 % do território do estado. São subaproveitadas primariamente para a pecuária extensiva e pesca artesanal, não sendo observado o potencial hídrico, de biodiversidade e de beleza cênica. O solo das ressacas enquadram-se no grupo hidromórfico que são definidos como solos muito jovens expostos à influência do regime das chuvas e marés e que têm origem nos sedimentos do período geológico do quaternário. Tais solos possuem aptidão à agricultura de baixo custo de cultivares possíveis em áreas alagadas. A rica avifauna e ampla distribuição de jacarés e capivaras nas áreas inundáveis indicadas pelo Macrodiagnóstico também incluem as ressacas de Macapá e Santana. Entretanto, com as pressões de uso e ocupação na atualidade é de se esperar raramente encontrar esses animais. Sugere-se a criação desses animais silvestres como potencialidade inerente a este tipo de ambiente. b) Limitações naturais (Rabelo et al., 2008) A alta dependência do regime hidrológico confere às áreas inundáveis uma limitação em termos das modificações ambientais sofridas de forma periódica devido à grande variação sazonal das chuvas. Alterações significativas nos processos físicos, químicos e biológicos podem ocorrer em um ciclo do regime pluvial. Os meses de janeiro a junho compreendem o período de maior índice pluviométrico (regionalmente chamado de "inverno"), enquanto nos restantes dos meses (conhecido como período de "verão") tem-se a estiagem das chuvas. Em termos da vulnerabilidade natural, os ambientes campestres deprimidos se encaixam na classificação "altamente limitante" devido à fragilidade (facilmente sujeitas às modificações ambientais) e ao grau de formação e evolução. PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá c) Síntese socioambiental (Rabelo et al., 2008) As áreas de ressacas de Macapá e Santana situamse, no âmbito socioambiental do Macrodiagnóstico, na região de maior concentração dos processos de uso e ocupação do território e de maior diversidade de ambientes naturais. Em termos regionais, as atividades econômicas são diversificadas, fundamentada na ocupação ribeirinha, exploração extrativista, inclusive mineral (argila), pesca e desenvolvimento de pecuária extensiva, principalmente a bubalina. Especificamente na capital do estado e na cidade de Santana, como já mencionado, as maiores preocupações são as ocupações de forma desordenada. 2.3.2. O Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro do Estado do Amapá – GERCO/AP O Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro - GERCO/AP, constitui em um programa de ordenamento territorial que segue diretrizes nacionais, mais especificamente do Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente MMA e sob a responsabilidade do Departamento de Zoneamento Territorial na Gerência Costeira. No Amapá o GERCO tem por objetivo geral orientar, disciplinar e racionalizar o processo de ocupação e a utilização dos recursos naturais da Zona Costeira, por meio de instrumentos próprios, visando a melhoria da qualidade de vida das populações locais e a proteção dos ecossistemas costeiros, em condições que assegurem a qualidade ambiental, atendidos os seguintes objetivos específicos: I - compatibilização dos usos e atividades humanas com a garantia da qualidade ambiental, através da harmonização dos interesses sociais e econômicos de agentes externos ou locais, sem prejuízo da competência municipal na mesma matéria; II - exercer efetivo controle do uso e ocupação do solo e da exploração dos recursos naturais em toda a Zona Costeira, com foco: a) na erradicação da exploração predatória dos recursos naturais; Relatório Técnico Final b) no impedimento da degradação e/ou da descaracterização dos ecossistemas costeiros; c) na minimização dos conflitos e concorrências entre usos e atividades; e, d) na otimização dos processos produtivos das atividades econômicas, observadas as limitações ambientais da região; III - garantia de fixação e de desenvolvimento das populações locais, através da regularização fundiária, dos procedimentos que possibilitem o acesso das mesmas à exploração sustentada dos recursos naturais e da assessoria técnica para a implantação de novas atividades econômicas ou para o aprimoramento das já desenvolvidas, observando-se a capacidade de suporte ambiental da região; IV - assegurar a utilização dos recursos naturais litorâneos, com vistas à sua sustentabilidade permanente, através da avaliação da capacidade de suporte ambiental face às necessidades sociais de melhoria da qualidade de vida e ao objetivo do desenvolvimento sustentado da região; V - defesa e restauração de áreas significativas e representativas dos ecossistemas costeiros, bem como a recuperação e/ou a reabilitação das que se encontram alteradas e/ou degradadas; e: VI - planejamento e gestão, de forma integrada, descentralizada e participativa, das atividades antrópicas na Zona Costeira. Para o cumprimento de seus objetivos, o Estado do Amapá deu início a sua participação no Programa em 1988, sob a coordenação inicial vinculada à Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral - SEPLAN e posteriormente do Museu Costa Lima. Nessa época, várias iniciativas foram feitas no sentido de institucionalizar e operacionalizar o programa. Em 1991, com a reestruturação da excoordenadoria Estadual do Meio Ambiente-CEMA (atual SEMA), passa a responder pelo Programa no Amapá. Nesse mesmo ano ocorre a realização, no Amapá, do IV Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro. Esse encontro marcou a transferência definitiva do GERCO/CIRM para a coordenação ambiental/IBAMA nacional e, 33 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá desencadeou o processo de reformulação metodológica do GERCO. A institucionalização de direito, do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, se deu através da Lei 0188/1994 e posteriormente regulamentado pelo Decreto 4112/1996. A partir de 1997, o programa passou a ser coordenado pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá – IEPA – onde passou a contar com uma equipe de pesquisadores para a realização de atividades voltadas para o conhecimento e desenvolvimento da zona costeira do Estado do Amapá. Cabe mencionar que até então, as atividades e produtos do GERCO/AP eram modestos e, portanto, ainda insuficientes para o propósito de ordenamento territorial. Em 2002, com a criação do Centro de Pesquisas Aquáticas no IEPA, estruturado a partir das demandas do GERCO/AP, deu-se mais um passo para o estabelecimento de uma estrutura de apoio institucional ao programa. A primeira fase de consolidação do GERCO/AP, posto em prática efetivamente em 1998, culminou com as atividades do diagnóstico sócio-ambiental da zona costeira estuarina onde optou-se por um processo metodológico diferenciado baseado na participação efetiva da população local. Desde então, o GERCO/AP tem conseguido importantes avanços na relação com as comunidades ribeirinhas e indicações dos anseios, problemas e soluções dos moradores que dependem diretamente dos recursos naturais existentes na zona costeira. Para a efetivação da participação dos comunitários na discussão de sua realidade, em 2001 foram realizados 2 ciclos de seminários que abrangeu 171 comunidades da zona costeira estuarina, onde houve a participação de mais de 2000 pessoas que garantiram a fidelidade do diagnóstico sócioambiental. Auxiliado pelo processo participativo, foram produzidos vários relatórios, cartas temáticas (Geologia, Dinâmica Geomorfológica, Tipologia dos Solos e Vegetação) e sínteses (Uso e 34 Relatório Técnico Final Ocupação do Solo, Potencialidades Naturais e Culturais e Limitações ao Uso do Território e Qualidade Ambiental), em escala 1:100.000, por técnicos e pesquisadores do IEPA. Todos esses produtos encontram-se condensados em um CDROM lançado em 2004 (SANTOS e FIGUEIRA, 2004) integrando uma ferramenta que deve ser considerada em qualquer nível de ação e atividades de gerenciamento. Essa iniciativa do processo de participação da sociedade em geral foi financiada integralmente pelo Governo do Estado do Amapá. A partir dessas ações, o GERCO/AP têm se fortalecido a articulação com sociedade local na busca de soluções para os problemas comuns incidentes na zona costeira amapaense. A materialidade dessa articulação se apresenta na forma da minuta de Decreto do Zoneamento EcológicoEconômico do Setor costeiro Estuarino elaborada em 2006, na Lei de Revisão do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (Lei 1089 de Maio de 2007) e na formatação da Lei de Ordenamento Territorial (Lei 919 de agosto de 2005) do qual todos os membros da equipe do GERCO/AP são coautores. Destaca-se, ainda, o envolvimento dos moradores das Orlas Estuarinas de Macapá e de Santana, que, em conjunto com instituições públicas ajudam na elaboração dos Planos de Gestão Integrada para as Orlas desses dois Municípios. Encontra-se em andamento a fase do diagnóstico socioambiental do Setor Costeiro Atlântico, iniciado em 2009. Com sua conclusão será iniciada a fase de Zoneamento dessa porção da costa amapaense, o que permitirá a incorporação dos setores diagnosticados, com seus respectivos ZEECs concluídos em legislação unificada para toda Zona Costeira do Estado do Amapá. a) O Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro Participativo Estuarino Entre os instrumentos adotados para a gestão costeira, destaca-se o Zoneamento EcológicoEconômico Costeiro - ZEEC. No entanto, para chegar-se ao ZEEC, é necessário ultrapassar PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá algumas etapas. A principal é a de elaboração do diagnóstico socioambiental, elemento que permite retratar a situação de uma área além nortear as ações para a elaboração do zoneamento. No Amapá essa área apresenta mais de 600 km de extensão (TAKIYAMA & SILVA, 2009) e está dividida em dois setores – o setor costeiro estuarino ou amazônico e o setor atlântico ou oceânico (CHAGAS, 1997). O primeiro se caracteriza por possuir as maiores densidades demográficas do Estado, onde os problemas sociais e as pressões ambientais são mais preocupantes, o que constituiu critério para que os trabalhos fossem iniciados por esse setor. A proposta de zoneamento costeiro do setor estuarino foi realizada no ano de 2005 de forma participativa, tendo como origem o diagnóstico socioambiental, cujas bases permitiram o avanço da sua construção, que compreendeu três fases principais. A saber: 1) A primeira correspondeu à fase preparatória de seminários participativos nas comunidades da zona costeira estuarina, que envolveu a mobilização das lideranças comunitárias e outros atores locais incluindo as prefeituras. Ao todo, foram mobilizadas 168 comunidades e as 6 prefeituras dos municípios. A elaboração da metodologia e programação das atividades a serem empregadas nos seminários também integrou essa fase. A metodologia utilizada para a oficina foi a Facilitação de Discussão de Processo Grupal-Moderação, com a participação de representantes da comunidade e técnicos de instituições governamentais e não governamentais. 2) A segunda fase incluiu a realização dos seminários participativos para validação, complementação do diagnóstico e discussão da proposta de ZEEC, no primeiro semestre de 2005. Participaram dos seminários 172 líderes ou representantes de 71 comunidades. 3) Na terceira fase, houve a apresentação e a consolidação das discussões, junto aos diferentes segmentos, incluindo instituições governamentais e não-governamentais, articulando argumentações técnicas com as opções político-institucionais, das propostas do Plano Estadual de Relatório Técnico Final Gerenciamento Costeiro e do decreto do ZEEC. No início de 2006, após apresentação de breve histórico sobre as fases pelas quais a proposta passou, foi encaminhada a proposta de zoneamento para apreciação e orientações de encaminhamento para a formalização, tramitação e possível aprovação pelos poderes executivos e legislativos, à Procuradoria Geral do Estado. Simultaneamente, foi preparado, editado e publicado o Atlas da Zona Costeira Estuarina do Estado do Amapá. Tal ação foi fomentada pelo MMA através do PNMAII. O Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro prevê para a chamada Subzona B2: Campos Inundáveis os quais possuem áreas periodicamente ou permanentemente inundadas (Silva et al., 2007). Subzona - B2. Campos Inundáveis: possuem áreas periodicamente ou permanentemente inundadas. Cobertura de campos arbustivos ou herbáceos § 1° Os cenários desejados para essa subzona são: I. controle do desenvolvimento de atividades que, isoladamente ou em conjunto, coloquem em risco a baixa estabilidade natural, altamente dependente dos regimes hidrodinâmicos locais; II. uso dos estoques faunísticos, prioritariamente, como suprimento alimentar pelas populações residentes locais; III. manutenção de áreas úmidas durante o período de estiagem; IV. recuperação e manutenção da biodiversidade; V. recuperação dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais; VI. recuperar a beleza cênica; VII. recuperar área para recreação; VIII. melhor qualidade de vida da população local com condições para produzir; IX. preservar as áreas que não foram utilizadas pela pecuária extensiva, e; X. preservar as cabeceiras dos rios para a reprodução de peixes. § 2° São proibidas nessa área: I. implantação de obras ou serviços que impliquem em modificações na conformação fisiográfica, sem o cumprimento da legislação ambiental; II. lançamento de resíduos de qualquer natureza no solo e nos corpos de água sem tratamento 35 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá adequado; III. uso agrícola extensivo; IV. pecuária extensiva; V. uso de agrotóxico sem controle; VI. queimadas sem controle; VII. abertura de canais de drenagem; VIII. ocupação urbana em áreas de ressacas; IX. pesca de arraste, e; X. introdução de espécies exóticas. XI. replantio de espécies nativas; XII. monitoramento da qualidade d'água pelo órgão ambiental; XIII. projetos de recuperação das margens dos rios; XIV. abastecimento de água para consumo humano; XV. realizar parcerias entre as instituições governamentais e a sociedade civil organizada, e; XVI. incentivar a produção sustentável . § 3° São toleradas com restrição nessa área: 2.4. Referenciais municipais para a construção do Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano (ZEEU) das Ressacas de Macapá e Santana I. extrativismo vegetal com utilização de manejo e condicionado ao licenciamento ambiental e a fiscalização; II. utilização dos estoques faunísticos, obedecidas às exigências regidas por lei específica; III. exploração de produtos não madeireiros está condicionado ao cadastro ambiental e ao credenciamento de manejo florestal; IV. Plantio com rotação de cultura e manejo; V. pecuária manejada com a promoção do ordenamento da atividade mediante estudos técnicos especializados, que apontem para a capacidade de suporte natural e redefinição de módulo produtivo, e; VI. navegação de embarcações de pequeno porte no período chuvoso. § 4° São toleradas nessa área: I. turismo contemplativo; II. pesca artesanal; III. olericultura, e; IV. criação de pequenos animais. § 5° São incentivadas nessa área: I. implantação de medidas que favoreçam a melhoria do padrão tecnológico da pecuária, levando-a a modelos mais vantajosos economicamente e com menor pressão sobre os recursos naturais; II. controlar as espécies invasoras; III. desenvolvimento de culturas inundáveis; IV. elaboração de projetos para a área produtiva e ambiental; V. produção de espécies nativas; VI. Prevenção de queimadas; VII. Desenvolver programas comunitários para coleta de lixo; VIII. visitação para fins científicos e de educação ambiental; IX. definir áreas especiais para reprodução, alimentação e repouso de aves migratórias e de quelônios e para refúgio de mamíferos; X. projetos para áreas de recreação; 36 Relatório Técnico Final 2.4.1. O Plano Diretor de Macapá Nesta seção são delineados os itens referentes às ressacas incluídos no Plano de Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Macapá. As áreas de ressacas são consideradas como patrimônio ambiental do Município de Macapá e são definidas como: as áreas que se comportam como reservatórios naturais de água, apresentando um ecossistema rico e singular e que sofrem a influência das marés e das chuvas de forma temporária. Em termos gerais, o Plano Diretor de Macapá faz com muita propriedade e detalhes a indicação das soluções para o problema de uso e ocupação dessas áreas úmidas. São apresentados os princípios e objetivos que norteiam o Plano, as estratégias de desenvolvimento do município, a estrutura em termos territoriais, os instrumentos necessários e o sistema de gestão territorial. A Estratégia para Proteção do Meio Ambiente e Geração de Trabalho e Renda tem como um dos alvos a proteção ambiental das ressacas, evitando a ocupação por usos e atividades que venham a causar sua degradação. Há recomendações na estratégia nos âmbitos do território municipal e da cidade de Macapá as quais, além da proteção ambiental, são priorizadas a integração de setores responsáveis pelo meio ambiente, desocupação de ressacas ocupadas e ações de uso sustentável tais como atividades sustentáveis de turismo, extrativas, pesqueiras e de criadouros e de educa- PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá ção ambiental. Na Estratégia para Promoção da Habitação Popular, recomenda-se a urbanização de áreas já aterradas e o reassentamento de moradores em áreas recuperáveis, se possível, próximo ao local atual. Adicionalmente, prevê o controle ambiental das áreas impactadas, o impedimento de novas ocupações e a participação da sociedade civil organizada nos processos que concernem à habitação popular. Como suporte, a estratégia tem forte relação com o Programa de Reassentamento de Famílias de Áreas de Risco, abrangendo as chamadas Áreas de Interesse Social previstas em lei e com o Fundo de Habitação Social que além de apoiar e realizar os projetos de reassentamento, também é destinado à ações de recuperação e proteção das áreas de ressaca. O Sistema Ambiental, que faz parte da estruturação territorial do município de Macapá inclui recomendações de proteção ambiental, principalmente aquelas previstas nas legislações federais e estaduais são reforçadas. Nos bosques (vegetação arbórea) das margens são indicadas a proteção e criação de unidades de conservação. Ainda na descrição da estrutura municipal territorial, o macrozoneamento reforça o impedimento à ocupação nas áreas de ressacas e na Zona Urbana são prioridades a proteção e recuperação das áreas de ressaca as quais são classificadas como Subzona de Proteção Ambiental. Nos instrumentos, há indicativos específicos em termos de localização das ressacas, como o direito de preempção nas subzonas de ocupação prioritária, tal como a descrita no Art. 107 da Lei Complementar 026/2004: direito de preempção nas subzonas de ocupação prioritária, excetuadas as áreas localizadas no bairro Central, para fins de execução de programas e projetos de habitação popular voltados para o reassentamento da população que habita as ressacas Chico Dias, Beirol, Sá Comprido e Pacoval. E, as operações urbanas consorciadas para valorização, recuperação, preservação e criação de Relatório Técnico Final patrimônio ambiental, em especial a recuperação, preservação e utilização sustentável das áreas de ressaca são também sugeridas. Para as Áreas de Interesse Social 1, que são aquelas constituídas em locais já ocupados por população de baixa renda, apresentando irregularidades urbanísticas e precariedade de infraestrutura e de equipamentos públicos, o Art 129 prevê o seguinte: Art 129. Sem prejuízo de outros casos, serão implantadas Áreas de Interesse Social 1 nos seguintes assentamentos habitacionais: I - ... II - ocupação residencial nas áreas de ressaca já comprometidas com aterramento e próximas à área central da cidade de Macapá, sendo reconhecidamente a situação dos seguintes casos: a) ressaca Laguinho/Nova Esperança; b) trecho da ressaca do Pacoval; c) trecho da ressaca Chico Dias; d) trecho da ressaca do Beirol, incluindo parte do bairro do Muca; e) trecho da ressaca do Tacacá; f) demais ressacas consideradas irrecuperáveis por estudos realizados sobre as áreas de ressaca, especialmente o Estudo de Ações para Intervenções nas Ressacas desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). III - assentamentos subnormais em condições precárias de habitabilidade ocupados por população de baixa renda, em áreas de fragilidade ambiental já comprometidas pela ocupação e de fácil integração à malha urbana, sendo reconhecidamente a situação dos seguintes casos: a) Baixada do Japonês; b) Baixada do Pará; c) Baixada das Pedrinhas; d) Praia do Aturiá; e) Mucajá; f) "área do Gruta"; g) Cuba do Asfalto; h)demais assentamentos subnormais identificados pelos órgãos governamentais responsáveis pela habitação popular. Tais especificidades determinam as condições dos locais citados, assim como as destinações adequadas à minimização das irregularidades e precariedades, ou seja, essas áreas são: as prioritariamente destinadas à implementação da 37 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá política habitacional do Município de Macapá, e de programas habitacionais voltados para a população de baixa renda, incluindo os previstos nesta lei, reguladas por normas próprias de parcelamento, uso e ocupação do solo. Relatório Técnico Final Baixa Densidade (ZEBD) tem como finalidade os mesmos objetivos da primeira com exceção a redução do adensamento populacional. 2.5. Aspectos naturais das áreas de ressacas Finalizando, o Código Ambiental Municipal incluso no Plano Diretor de Macapá contém recomendações para criação de unidades de conservação e proteção ambiental das ressacas. 2.4.2. Plano Diretor de Santana Aos 11 de outubro de 2006, foi sancionada a Lei Complementar Nº 002/2006-PMS e reconhece no seu Art 4º: as possíveis áreas de proteção e recuperação das ressacas e baixios têm como função social a manutenção do ecossistema, o aproveitamento turístico, e o controle da ocupação e uso do espaço urbano, assim como os casos específicos da área rural. Daí a grande importância conferida às áreas úmidas existentes na cidade de Santana. A Política Municipal de Habitação faz referência às condições de moradia da população de baixa renda e sugere o reordenamento habitacional das ocupações nas áreas de ressacas e baixios e uma de suas diretrizes convoca o impedimento da invasão desses ambientes para moradia através de planos e programas de gestão. No quesito do saneamento ambiental integrado, tem-se recomendações para evitar a degradação das áreas úmidas. As áreas ocupadas são inseridas na Zona Mista de Baixa Densidade (ZMBD) a qual se caracteriza: pela predominância de uso Misto de Baixa Densidade, situada próxima da cota de 5 (cinco) metros e na maioria são tidas como áreas de ressacas ou inundáveis, dispondo de condições de solo e drenagem pouco apropriadas ao adensamento, uso e ocupação. Os objetivos dessa zona incluem a mitigação dos impactos ambientais, o controle da ocupação e redução do número de moradores. Semelhante à ZMDB em suas características, a Zona Especial de 38 Em ambientes de grande diversidade como o das ressacas de Macapá, um inventário dos recursos naturais constitui uma fonte imprescindível de informação para ações de manejo e conservação. O quadro das espécies de plantas e animais presentes num dado momento representa também a linha de base para estudos de monitoramento que visem a detecção de alterações provocadas por agentes naturais ou antrópicos. Os aspectos aqui demonstrados incluem estudos prévios à realização do presente projeto e podem ter falhas na contemplação de alguns estudos, mas o intuito aqui é mostrar, além da riqueza em termos do ambiente, a potencialidade na área da pesquisa científica que essas áreas úmidas representam. No início de 2000 foram realizados estudos específicos para a caracterização das ressacas de Macapá e Santana. A Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado do Amapá – SEMA demonstrou que no ano de 2000, cerca de 69 km de margens de ressacas na cidade apresentavam alto grau de comprometimento, onde a ocupação humana promoveu uma completa descaracterização do ambiente natural; 46 km de margem tinham médio grau de antropização (degradação), constituindo um quadro ainda considerado reversível. Porém, a maior parte das margens das ressacas, aproximadamente 102 km, ainda apresentava um bom nível de preservação e por isso mereciam atenção especial (SEMA, 2000). Em rápida visita pelo Estado, Maciel (2001) realizou um estudo preliminar abordando aspectos legais, físicos e de biodiversidade, identificando os principais problemas sociais e ambientais associados à ocupação desordenada das ressacas, e propondo algumas soluções, necessidades e sugestões. Takiyama e Silva (2004), seguindo uma das recomendações de Maciel (2001), coordenaram um diagnóstico das ressacas abrangendo PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá estudos dos meios físico, biótico e antrópico de algumas ressacas de Macapá e Santana. As ressacas trabalhadas pertencem à bacia do igarapé da Fortaleza e abrangem as duas principais cidades do Estado onde o curso d'água principal faz divisa entre os dois municípios. As ressacas da bacia do rio Curiaú, as quais fazem parte da Área de Proteção Ambiental do Rio Curiaú, também foram estudadas, mas em menor esforço, pois não sofrem a pressão urbana. Relatório Técnico Final de camada orgânica na superfície indica o fechamento por colmatação das drenagens antigas. As principais extrações que ocorrem nessa unidade são de areia, na estrada entre Mazagão e Carvão, e de argila para olaria, nas cidades de Macapá, Santana e Mazagão. A classificação geomorfológica, segundo Santos et al. (2004) indica que as ressacas pertencem à Planície Costeira do Estado do Amapá, mais especificamente como: As áreas de ressacas constituem unidades dos "Depósitos de Planícies Fluviais Antigas" da zona costeira estuarina do Amapá (Santos et al., 2004), conforme descrição a seguir: Planícies fluviais inundáveis e em processo de colmatação por sedimentos holocênicos, comportando meandros abandonados e sujeitas a inundações pluviais e por marés. As modificações na rede hidrográfica da Planície Costeira do Estado do Amapá ocorrem em função de mudanças do nível de base associadas às variações do nível do mar, atividades tectônicas e/ou elevada taxa de sedimentação (Silveira, 1998); estes processos ocorrem nos diversos subambientes da planície costeira com diferentes freqüências: i) duas vezes ao dia - fenômenos diários devido à entrada e saída das marés; ii) duas vezes ao mês - fenômenos mensais - durante as marés de sizígia (luas cheia e nova); iii) pelo menos uma vez ao ano - fenômeno das cheias - especialmente nos meses de março e setembro, quando as marés de sizígia (marés lançantes) são coincidentes com os períodos em que o sol encontra-se mais próximo da terra (periélio); e iv) em intervalos de tempo irregulares (fenômenos excepcionais), durante as grandes cheias. Durante os períodos de inundação, grande parte da planície costeira fica alagada, principalmente nas áreas de acumulação de sedimentos ( Seria bom descrever o significado dessas abreviações Apfi e Apfc), relacionadas aos campos inundáveis e às áreas de ressacas. Ocorrem na forma de depósitos parcialmente consolidados ao longo de planícies fluviais antigas. Nas porções internas da planície costeira estão em contato com os depósitos da Formação Barreiras. Suas cotas topográficas variam de 2 a 15m sendo mais altas às proximidades do rio Vila Nova, no município de Mazagão. Apresentam-se como sedimentos argilosos com laminação plano paralela, variando de coloração cinza escura, na base, a cinza clara, no topo quando são capeados por camada centimétrica de lama com matéria orgânica (restos de vegetais). O ambiente de deposição desta unidade está relacionado a depósitos de canais fluviais antigos, colmatados, formados quando da elevação do nível do mar, a qual foi responsável, também, por esculpir falésias, hoje inativas, nas unidades terciárias. A presença Torres e Oliveira (2004) realizaram o estudo faciológico dos sedimentos das ressacas sob influência do igarapé da Fortaleza e do rio Curiau onde foram encontrados os sedimentos orgânicos a argilo-orgânicos nas áreas de ressacas com contribuição maior de matéria orgânica vegetal. Abaixo dos depósitos orgânicos (> 20% de matéria orgânica) há a ocorrência de paleolamas cuja granulometria é mais fina do que os sedimentos siltosos recentes dos canais fluviais. Isto pode ser em decorrência (da contribuição) de depósitos no interior da Planície Quaternária devido às inundações sazonais causadas pelo rio Amazonas e por grandes marés que atingem os campos de Com a execução destes estudos, já se possui uma base de conhecimento para dar continuidade a investigação sobre a estrutura e funcionamento desse importante ecossistema do Estado do Amapá. A corrida agora é contra o relógio, pois as modificações impostas pelo homem, principalmente nas áreas urbanas são cada vez mais rápidas e de grande impacto pondo em risco a sobrevivência desse importante recurso natural. A seguir são mostrados, resumidamente, alguns resultados que mostram o estágio de conhecimento a respeito das ressacas de Macapá e Santana, no que se refere aos meios físicos e bióticos. 2.5.1. Meio Físico 39 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá várzea. Em termos da qualidade da água, as ressacas de Macapá e Santana, que sofrem intensa ocupação, já apresentam expressiva deterioração devido ao lançamento direto de dejetos e efluentes domésticos, sem nenhum tratamento, nos corpos d'água. Baixos valores de oxigênio dissolvido, altas concentrações de nutrientes (fósforo e nitrogênio) e de coliformes fecais indicam níveis de degradação (Takiyama et al., 2004). Os resultados de 3 anos de investigação na calha do igarapé da Fortaleza, o principal curso d'água ligado às principais ressacas de Macapá e Santana indicam um significativo grau de comprometimento e degradação ambiental onde a retirada das matas ciliares, erosão das margens, assoreamento intensivo e urbanização desordenada, trazem reflexos negativos para a qualidade da água da bacia hidrográfica (Cunha et al., 2004). 2.5.2. Meio Biótico a) Flora das Ressacas Costa Neto et al. (2004) identificaram um total de 119 espécies, distribuídas em 44 famílias e 83 gêneros nas áreas de ressacas. As plantas aquáticas foram classificadas em sete formas biológicas de acordo com a descrição de Pott & Pott (2000). Todo o material coletado encontra-se catologado no herbário do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA HAMAB. A família com maior variedade foi a Cyperaceae, com 18 espécies, seguida da família Poaceae com 15, Fabaceae com 7 e Rubiaceae 3. As espécies dominantes nas áreas de ressacas foram: Eleocharis intesticta (Vahl) Roem. e Schult (piripiri), Thalia geniculata L. (sororoca), Sagittaria rhombifolia Cham. (chapéu-de-couro), Montrichardia arborescens Schott. (aninga) e Mauritia flexuosa L. f. (buriti). As formas biológicas mais freqüentes, com 78% de freqüência, foram as anfíbias e/ou emergentes. Os autores mostram também outras informações de grande importância tais como as épocas de floração e frutificação das várias espécies identificadas. De acordo com a 40 Relatório Técnico Final distribuição das espécies de plantas, foram verificadas diferenças e similaridades entre as ressacas estudadas, onde notou-se variações entre a vegetação das ressacas preservadas e as já impactadas pela atividade humana. É indiscutível a importância de se conhecer a vegetação de um dado ambiente para a integridade do funcionamento do mesmo. Com os dados e informações levantadas, também são fornecidos subsídios à utilização sustentável de espécies de plantas seja em aplicações no artesanato, na alimentação ou na fitoterapia. Na bacia hidrográfica do igarapé da Fortaleza, Silva et al. (2009) identificaram 4 unidades fitoecológicas e suas respectivas extensões. São elas: 2 Ÿ Ressaca: extensão de 36,6 km (18,9% da área da bacia hidrográfica). 2 Ÿ Floresta de terra firme: extensão de 21,8 km (11,4% da área da bacia hidrográfica) 2 Ÿ Floresta de várzea: extensão 12,1 km (6,3% da área da bacia hidrográfica) 2 Ÿ Cerrado: 9,2 km (4,7% da área da bacia hidrográfica) No mesmo trabalho, fez-se a valoração dos serviços ambientais prestados pelas áreas úmidas de Macapá e Santana, em especial a amenização do calor, a alimentação dos lençóis freáticos, o controle de enchentes. Comenta-se a carência de informações sobre o potencial de uso da biodiversidade e dos atributos paisagísticos das áreas de ressacas. Utilizando-se o valor de referência de US$ 19.580,00 há-1 ano-1, de acordo com estudos anteriores em áreas úmidas, os autores obtiveram valor anual dos serviços ambientais desempenhados por esse ecossistema, estimados em US$ 71.271.200,00. b) Fauna das ressacas O Quadro 1, mostrado a seguir, sumariza os principais levantamentos sistemáticos de identificação de espécies da fauna das ressacas. Maciel (2001) faz um resgate histórico das coletas da fauna no Amapá, principalmente nas imediações PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá da capital, Macapá. Apesar de não apresentar um estudo sistemático, a autora faz menção à presença de alguns animais já registrados tais como o ratodo-mato (Signomys savannarum) e arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) e em visita a duas áreas de ressacas, do Curiau e do Tacacá, observa a presença de morcegos, insetos, anfíbios, peixes diversos e crustáceos. Cabe destacar que no grupo de mamíferos, nenhum estudo recente foi realizado. Em uma página da Internet (Figueiredo, 2011), o autor David Figueiredo relata a ocorrência de moréia de água doce (Lepidosiren paradoxa) na área da ressaca dos Congós. Conhecida como "piramboia", o peixe é visto pelos moradores com desdém por se parecer com uma cobra; entretanto, a maioria concorda que a espécie deva ser protegida. Além da matança indiscriminada, a Relatório Técnico Final poluição dos ambientes aquáticos contribui para a diminuição da ocorrência do animal nas ressacas urbanas de Macapá. 2.6. Aspectos institucionais ambientais relevantes Ao avaliar o arcabouço legal na área ambiental, pode-se perceber a riqueza de detalhes e das intenções claramente definidas em prol da proteção do meio ambiente ou da positiva conciliação entre o homem e a natureza, mas que vão por "água abaixo" pela negligência ou dificuldades enfrentadas por todos os setores interessados. A escassez de recursos financeiros, em geral colocada como um dos maiores empecilhos à realização de ações pode ser considerado como uma consequência pela falta de operacionalização das Quadro I . Levantamentos da fauna das ressacas de Macapá e Santana. No. de espécies identificadas Grupo Peixes 81 Características gerais e observações Referência - Baixa diversidade – dominância de 1 espécie: Hyphessobrycon sp2. - Várias espécies jovens (representando 28 espécies) capturadas nas ressacas e comuns na calha do igarapé da Fortaleza, indicando a importância desse ambiente no ciclo de vida dos peixes. - Espécies importantes para a pesca e aquariofilia foram identificadas. - O trabalho apresenta fotos de todas as espécies identificadas. Gama e Halbolth, 2004 Macro8 Crustáceos - Espécies Euryrhynchus cf. wrzesniowskii e Pseudopalaemon cf. chryseus com primeira ocorrência registrada no Estado do Amapá. - Nove espécimes de CONCHOSTRACA coletados e não identificados. - espécie mais abundante Palaemonetes carteri (Gordon, 1935). - Poucos espécimes de Macrobrachium amazonicum (camarão regional) encontrados. - Menor número de espécimes em áreas impactadas. Vieira, 2004 Insetos Culicídeos 35 - Áreas naturais de ressacas - propícias para a formação de criadouros de várias espécies de culicídeos. - Processo de ocupação desordenada das ressacas - estabelecimento de casos de malária urbana na cidade de Macapá, sendo Anopheles marajoara a principal responsável por esta transmissão. - Maior riqueza e abundância de espécies em ressacas preservadas Souto, 2004 Insetos – geral - 14 espécies de abelhas sem ferrão (Meliponinae; 391 exemplares) - 30 espécies de vespas (Vespidae; 378 exemplares) - 14 espécies de besouros serradores (Cerambycidae; 23 exemplares) - 36 espécies de libélulas (Odonata; 329 exemplares), - Identificação de abelhas sem ferrão (nativas) – potencial para produção de mel, própolis, cera. - Grupos como as libélulas e algumas famílias de besouros aquáticos - candidatos importantes para estudos de monitoramento de qualidade ambiental das ressacas. - Grande contribuição para a coleção científica do IEPA – milhares de exemplares coletados. Silveira, 2004 Aves - 51 espécies que se alimentam em ou sobre áreas abertas - 33 espécies associadas a hábitats abertos - Identificações feitas através de breves visitas. SEMA, 2002 Mamíferos - 12 espécies não voadores - Área de abrangência do trabalho foi o Parque Zoobotânico Municipal de Macapá. Santos e Silva, 2006. - Ocorrência da espécie Holochilus brasiliensis (rato d'água) pouco conhecida. 41 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá políticas ambientais, desde a formatação de propostas até a falta de pessoal qualificado para exercer funções técnicas e/ou cargos a níveis decisórios. Inclui-se também nesse contexto a avaliação de Maricato (2008) que compara a administração pública com um "elefante com pernas de garça", ou seja, com um corpo numeroso que não consegue executar as tarefas práticas e operacionais. Adiciona-se a isso a corrupção em todos os níveis, em especial no controle urbanístico e ambiental. No espectro nacional, é reconhecida a fragilidade das instituições públicas ambientais. Rodrigues (2004) faz uma análise em relação ao desflorestamento na Amazônia e atribui grande responsabilidade à ineficiência dos processos de monitoramento e fiscalização de responsabilidade dos entes públicos. Inclui-se também na avaliação, a fraca atuação dos órgãos de fiscalização e controle territorial. Segundo o autor: Conforme observado, a legislação ambiental e suas regulamentações não têm sido aplicadas pelos órgãos ambientais, seja por interesse de curto prazo, seja por conivência, seja por absoluta falta de vontade política para punir os responsáveis. Um dado revelador é fornecido por COSTA et al. (2002), que observou que a fiscalização aplicou mais de trezentos milhões de reais em multas na Amazônia entre 1999 e 2000, embora a arrecadação esperada fosse menos de 10% deste montante, com resultados ambientais muito modestos. Em resumo, quem infringe a lei não paga a multa nem recupera o dano feito. Isto mostra que as forças políticas e econômicas locais ainda são mais fortes do que a lei. Não se teme a lei porque se sabe de antemão que não será aplicada na maioria das vezes. Esta seria uma da principais causas do desflorestamento. Em um trabalho sobre a evolução da gestão ambiental de instituições privadas, Peixe et al. (2011) avalia como positiva a atuação das empresas que visam, através do apelo ambiental, melhorias na competitividade e desempenho. Entretanto, a fragilidade institucional dos órgãos de meio ambiente indica a necessidade da reavaliação do modelo reconhecido como "comando e controle", em busca de uma política ambiental, que 42 Relatório Técnico Final concilie o indispensável papel regulador do Estado com as demandas da sociedade em toda a sua abrangência. Em breves palavras, o Estado não age de forma eficiente nas suas atribuições de "comando e controle" que muitas vezes estão em desencontro com as aspirações empresariais. Há alguns casos em que as empresas fazem mais que o necessário sem interferência dos entes públicos ambientais, e muitos outros em que só se herda as consequências dos danos e o passivo ambientais. Tais exemplos fornecem a dimensão das dificuldades dos órgãos ambientais encontradas no cenário federal, mas que em geral são magnificadas nos âmbitos estaduais ou municipais. Em relação a isso, a incorporação das componentes de participação social e compartilhamento das competências, dividindo com os órgãos ambientais estaduais e municipais a gestão, proteção e conservação dos recursos naturais tem sido vista como um avanço nas políticas ambientais. Mas, aí se cria um grande impasse, pois a descentralização necessita de recursos humanos e financeiros a serem alocados nas instituições de meio ambiente dos estados ou municípios. A grande vantagem é que os conflitos de competências ficam minimizados, pois cada partícipe tem definida a sua responsabilidade nas ações de licenciamento, monitoramento e conservação ambiental (MELLO, 2002). O Relatório da Avaliação Ambiental Estratégica (RAAE) do Programa de Melhoria da Qualidade Ambiental Urbana do Amapá promovido pelo Governo do Estado do Amapá (GEA, 2006) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 2006 apontou que os principais problemas ambientais concentram-se nas áreas urbanas, dada a distribuição demográfica do Amapá, onde 80,57% da população moram nas cidades de Macapá, Santana e Laranjal do Jari (IBGE, 2010). Dentro deste contexto, as principais vulnerabilidades em termos de gestão territorial identificadas foram: • Baixa cobertura e qualidade dos serviços de saneamento ambiental; • Ocupação desordenada do espaço urbano, agravada com a ocupação de áreas de fragilida- PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá de ambiental; • Fragilidade institucional dos governos estadual e municipal, em termos de capacidade técnica. A partir desse exemplo, há um consenso de que um dos problemas de ocupação das áreas de ressacas é de ordem institucional causado tanto pela falta de planos, programas, projetos e ações integradas e articuladas como a inoperância das atribuições ordinárias inerentes aos órgãos ambientais. Isso é fruto da fragilidade institucional em todas as esferas públicas, mas que é marcadamente acentuada em nível municipal. Assim como as instituições governamentais, o terceiro setor, o setor produtivo e comercial, e a sociedade civil se pronunciam em relação ao problema do uso e ocupação das áreas de ressacas também na forma de ações pontuais e que não produzem continuidade, à exceção de raríssimos casos. Nos órgãos públicos isso é magnificado pela pulverização das ações e dos recursos financeiros a elas destinados o que origina pouca efetividade na resolução do problema da degradação nas áreas de ressacas. Ainda mais, as companhias de energia elétrica e abastecimento de água se veem na obrigatoriedade do fornecimento de estrutura para atendimento à população nessas áreas alagadas, pelo simples motivo de que se trata de cidadãos com direitos e deveres. Para melhorar o quadro de desempenho operacional no estado do Amapá, houve a alteração do Sistema Estadual de Meio Ambiente no final de 2007 e início de 2008, onde ocorreu o repasse das responsabilidades ao Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial (IMAP) para as ações de licenciamento, fiscalização e monitoramento ambiental e ao Batalhão Ambiental para as ações de fiscalização ambiental. Mais especificamente, o IMAP tem por finalidade "executar as políticas de meio ambiente, de gestão do espaço territorial e dos recursos naturais do estado do Amapá" (Lei No. 1184 de janeiro de 2008). A SEMA passou a ser responsável pela política de meio ambiente do estado e, cujas competências incluem a política e ações de educação ambiental, a gestão das unidades de conservação estaduais, a elaboração de Relatório Técnico Final políticas e normas ambientais e o desenvolvimento do geoprocessamento e tecnologia da informação para a gestão ambiental. No entanto, o IMAP ainda não possui o seu estatuto e regimento interno aprovados e ainda há sobreposições de ações pois não há ainda a compreensão clara, principalmente por parte do próprio Estado, da função de cada uma dessas instituições no cenário ambiental do Amapá. 2.6.1. Alguns mecanismos O COEMA desde a sua criação tem um papel atuante nas discussões dos problemas ambientais do estado, no auxílio da avaliação de processos de licenciamento ambiental de grandes projetos e no acompanhamento da gestão ambiental nos municípios. O Conselho através da gestão dos recursos do FERMA tem prestado crucial apoio as instituições ambientais estaduais tais como o IMAP e o Batalhão ambiental. Entretanto, o alcance da atuação do COEMA é limitado devido às mesmas situações citadas acima são identificadas onde o planejamento e execução de ações não são funcionais. Como exemplo há a necessidade imediata da revisão do código ambiental do estado. Atuação do Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CERH é recente, pois com sua criação em 2010, houve a aprovação do Regimento Interno e posteriormente em 2011 ocorreu a criação do grupo de avaliação sobre a possível criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do igarapé da Fortaleza. Com esta ação, almeja-se a aplicação de mais instrumentos necessários à proteção das áreas de ressacas. 2.6.2. A fragilidade das instituições ambientais municipais Na publicação "Balanço de governo 2003-2010" (BRASIL, 2010), há um capitulo sobre a gestão das cidades que aponta algumas melhoras na habitação, saneamento, planejamento e gestão territorial 43 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá urbana, regularização fundiária urbana e mobilidade em termos gerais. Apesar disso, muito pouco se modificou em relação à degradação ambiental, muito em razão dos números observados no quesito de saneamento. Adicionalmente, ainda existem grandes concentrações da população de baixa renda em assentamentos subnormais. O documento reconhece as desigualdades, as fragilidades institucionais para o ordenamento territorial a desarticulação das esferas de poderes e a falta de participação como razões para o cenário atual das cidades. (BRASIL, 2010). O Estado do Amapá, apesar de 100% dos municípios possuírem estrutura administrativa ambiental, somente 6 desses tem secretarias municipais de meio ambiente exclusivas e que funcionam precariamente. Percebe-se que o meio ambiente não é tratado como prioridade em relação às políticas públicas e as externalidades, principalmente econômicas, ainda perfazem os ditames do desenvolvimento local. Exemplo disso é a associação da agenda ambiental com outros setores da administração principalmente turismo e agricultura. Tais conformações pulverizam recursos e destoam os focos reais das políticas ambientais, assim como mostrado em um estudo na região Norte sobre as estruturas institucionais ambientais municipais na Amazônia Legal (ARAUJO; MELO, 2008). Macapá possui uma secretaria exclusiva, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM) criada em 2005. Juarez (2009) faz uma análise da construção da política ambiental desse município elogiando o modelo estrutural e ideológico; entretanto, a fraqueza institucional é evidenciada que somente é amenizada através das parcerias principalmente com organizações estaduais mais desenvolvidas. A SEMA em 2010 (SEMA, 2010) elaborou um Plano de Ação para Apoio ao Programa de Gestão Ambiental Municipal do Estado que possibilitou o acompanhamento e a capacitação das equipes municipais. Apesar dos esforços, é comum observar nas prefeituras a presença de quadro de funcionários reduzido, baseado em funções gratificadas e equipes tecnicamente deficientes. 44 Relatório Técnico Final 2.6.3. A participação da sociedade civil Em termos da população em geral, a participação na formulação das políticas e nas ações ambientais se dá pela total ausência ou passividade. Alguns eventos participativos têm sido fomentados na última década, tal como a Conferência Nacional do Meio Ambiente, mas é necessário se fazer uma avaliação dos processos, pois os desdobramentos e a cobrança de resultados são esquecidos. O terceiro setor auxilia em ações isoladas e os eventos direcionados aos cidadãos, em geral feitos em parcerias, ocorrem eventualmente em datas específicas relacionadas ao meio ambiente. Veja-se a quantidade de problemas causados pela população; volta-se a citar aqui os direitos e deveres dos cidadãos, os quais majoritariamente só enxergam seus direitos. Não só o ZEEU necessita participação efetiva da sociedade, mas os canais de comunicação com, e entre, os poderes públicos constituídos devem estar sempre abertos e em pleno funcionamento. A classe produtiva e empresarial também não deve se calar, mas auxiliar no caminho conjunto de se achar alternativas para a resolução dos conflitos identificados há décadas e que parecem não ter solução, pois a cada dia, piores e mais custosos se tornam as soluções. Desta forma, o ZEEU tem a pretensão de ser o instrumento de articulação para que todos discutam e haja a convergência de interesses para não só cumprir com a legislação, mas atender aos reais anseios da sociedade. 3. RESULTADOS DOS ESTUDOS REALIZADOS NA EXECUÇÃO DO PROJETO Jefferson Miranda PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá 3.1. Estudo da dinâmica de inundação das áreas de ressacas O objetivo principal do trabalho foi identificar a dinâmica de inundação das áreas de ressacas em dois períodos sazonais distintos caracterizando a distribuição dos processos fluviais e oceanográficos visando dar suporte aos estudos de ameaças a inundação nas áreas urbanas dos municípios de Macapá e Santana. Para atingir tal objetivo, foram coletados dados de referência de campo, processamento dos dados de sensores remotos e o mapeamento da bacia hidrográfica do igarapé Fortaleza e sistemas de ressacas. O detalhamento das atividades e os resultados são mostrados no Apêndice I. Os dados de referência de campo foram coletados com quatro fins específicos: 1) reconhecimento da rede de drenagem da bacia do Igarapé Fortaleza; 2) reconhecimento da abrangência espacial do fenômeno das marés e seu comportamento nos diferentes períodos sazonais; 3) coleta de pontos de controle para correção geométrica de imagens e; 4) validações dos padrões das imagens e dados de sensores remotos. Dados de sensores remotos orbitais e aerotransportados foram utilizados, além de elevação de terreno para compor a base de dados pretérita do projeto subsidiando os estudos relacionados a temática. A base de dados pretéritos foi organizada em ambiente Spring, versão 5.0.5 . Os dados SRTM (Rabus et al., 2003) foram tratados no software Global Mapper com edição da paleta de cores em intervalos de 1 metro e 2 metros de amplitude. Os dados de alta resolução que foram utilizados são referentes ao mosaico dos satélites IKONOS, ano de 2001, acervo CAESA, apresentando resolução espacial de 1 metro. Entre as aquisições de imagens realizadas no âmbito do projeto, um mosaico composto por imagens Geoeye e QuickBird, ano de 2009, foi adquirido. O mosaico apresentava-se em formato geotiff, formato 8 bits, tamanho de pixel de 1 metro. As imagens IKONOS foram reprojetadas do Datum Relatório Técnico Final SAD69 para o Datum WGS84. Também foi empregado o recobrimento aerofotogramétrico realizado no ano de 2005, encomendado pela Prefeitura Municipal de Macapá com suas respectivas pranchas cadastrais. As ortofotos apresentam resolução de pixel de 30 cm com sistema de projeção UTM, Datum SAD69/1996. Foram realizados grupos de mosaicos no software ENVI e em seguida reprojetados para o Datum WGS84 com reamostragem de pixel para 50 cm. Os limites da bacia do igarapé Fortaleza foram vetorizados sobre o modelo numérico de terreno do SRTM e o modelo proveniente do recobrimento aerofotogramétrico adquirido pela Prefeitura Municipal de Macapá. Apesar das limitações dos dados SRTM devido a resolução da célula do DEM (90 metros), ele permitiu identificar de forma clara as estruturas de relevo da área. Na região de floresta de várzea confundiu-se com as áreas de cobertura vegetal densa. Os sistemas de ressacas foram delimitados levando-se em consideração os critérios de fotointerpretação apresentados por Soares & Fiori (1976), presença de quebra de relevo, situação de umidade no terreno e forma dos vales. Também foi usado como critério a presença de cobertura vegetal de palmeiras (buriti) que geralmente bordejam esse sistema. Para a retirada da quebra do relevo, além da estrutura e textura do elemento na imagem, utilizou-se ainda os modelos numéricos de terreno do SRTM e as curvas de nível do recobrimento aerofotogramétrico realizado para a área urbana de Macapá. Os limites foram digitalizados sobre o mosaico de imagens de 2009. Na impossibilidade de delimitação das áreas devido a presença de nuvens utilizou-se o mosaico de imagens IKONOS do ano de 2001 e o mosaico de imagens do ano de 2009 processados pela empresa ENGESAT. Os sistemas de ressacas foram classificadas de acordo com sua localização em relação a margem do rio principal da bacia do igarapé Fortaleza. 47 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá O mapa de dinâmica de inundação foi construído a partir do cruzamento do mapa dos sistemas de ressacas adicionando-se as áreas úmidas associadas as florestas de várzea e demais canais de drenagem. Adicionou-se ainda a distribuição espacial do fenômeno de marés, valendo-se das informações provenientes das medições da observação visual da influência da marés verificadas durante o trabalho de campo. Uma classificação da dinâmica de inundação foi construída a partir da modificação de exemplos da literatura. As nascentes da rede de drenagem da bacia do igarapé Fortaleza e da bacia do rio Jandiá e do Lago da Vaca estão associadas aos rios de primeira ordem. As nascentes encontradas na área são do tipo intermitente, com água brotando do solo apenas nos períodos chuvosos devido a baixa profundidade do lençol freático. Das 41 nascentes visitadas em campo, a maioria encontra-se com a Relatório Técnico Final vegetação parcialmente suprimida. Nas áreas urbanas, são comuns os aterramentos. Este fato vem causando danos às propriedades instaladas nesses terrenos com riscos de deslizamentos associados, uma vez que as áreas de nascentes encontram-se nas porções mais elevadas do terreno. Na bacia do igarapé Fortaleza estão associados 09 (nove) sistemas de ressacas situados à margem esquerda do igarapé Fortaleza, principal rio da bacia hidrográfica homônima. A maioria desses sistemas está em áreas pertencentes ao município de Macapá. Na margem direita do igarapé foram identificados 06 (seis) sistemas de ressacas que influenciam as áreas do município de Santana (Figura 1). Estes sistemas de ressacas perfazem uma área de 28,94 km2, representando 17,11% da bacia de drenagem. Figura 1. Sistemas de ressacas mapeados na área de estudo. MER = margem esquerda; MDR = margem direita. 48 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Além da rede de drenagem interconectando os sistemas de ressacas, outros pequenos canais encontram-se dispostos perpendicularmente a linha de costa e drenam as áreas de florestas de várzeas do rio Amazonas. Alguns desses canais podem ter sua gênese associada a canais de marés, cujas relações precisam ser melhores averiguadas. Florestas de várzea desmatadas em algumas ocasiões podem assemelhar-se ainda aos sistemas de ressacas, no entanto a dinâmica de inundação, tipo de solo e relações de contexto entre os ambientes permitem que as mesmas sejam distinguidas nas imagens de satélite. A bacia do Igarapé Fortaleza por sua conexão com o rio Amazonas além de ser influenciada pela dinâmica das águas do rio Amazonas, também pode ser influenciada pelo regime de precipitação Relatório Técnico Final local. As medições demonstram que a influencia das marés sobre os corpos hídricos comportam-se de forma diferenciada de acordo com a sazonalidade e a localização ao longo da bacia hidrográfica do igarapé Fortaleza. O sistema de ressacas da Lagoa dos Índios não recebe influência das marés seja no período chuvoso ou no período seco. O resultado das medições demonstra que as maiores cotas foram encontradas em maio de 2010 que alcançaram quase 3 metros de altura. Os menores níveis de água foram encontrados em novembro de 2009 com decréscimo de 0, 75 m no nível de água. Na foz do igarapé Fortaleza é perceptível a presença de marés semidiurnas, traduzindo-se pelos dois ciclos diários de marés. As maiores amplitudes são encontradas nos meses de setembro e novembro, com amplitudes que alcançam quase 3 metros. Estas variações de marés comandam a situação de inundação no baixo curso do igarapé Fortaleza, Figura 2. Mapa com as áreas sujeitas a inundações e processos associados. 49 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá adentrando pelos canais de ligação chegando facilmente aos sistemas de ressacas. A influência dos processos de inundação pluvial e por marés sobre os sistemas de ressacas e nas florestas de várzeas associadas mudam de acordo com o período sazonal. A Figura 2 sumariza o quadro extremo de inundação para a região para o período chuvoso quando as águas das chuvas somam-se as águas das marés. Nesse período, a rede de drenagem meandrante que perpassa por dentro dos sistemas de ressacas demonstra que longe de ser um sistema inativo de águas paradas permite um fluxo que se conecta das cabeceiras passando por dentro dos sistemas de ressacas e alcançando os braços de drenagem que se conectam com o igarapé Fortaleza. Vale ressaltar que na região do Canal Mendonça Jr., apesar de ser uma área aterrada, em eventos de grandes inundações, a população local e o comércio sofre os danos dessas inundações. As condições naturais das áreas associadas às condições de baixo relevo e susceptibilidade a dinâmica de inundação fluvial e por marés tornam as áreas de ressacas identificadas vulneráveis aos processos de inundação. É oportuno lembrar que os contínuos aterramentos nos sistemas de ressacas e canais fluviais diminui o espaço disponível para acumulação de água e sedimentos naturais aumentando a susceptibilidade à inundação em áreas antes não inundáveis. 3.2. Estudos de geologia, geomorfologia e correlatos das áreas de ressacas No mês de agosto de 2009 foi realizada uma campanha de campo conjunta com pesquisadores e técnicos das áreas de ictiologia e topografia, tendo como um dos objetivos de efetuar a incursão no Igarapé da Fortaleza da sua foz em direção a montante até próximo à Lagoa dos Índios, realizando limpeza do canal para as campanhas subseqüentes realizadas por outras equipes. Adicionalmente, foram efetuadas as coletas de sedimentos de fundo (23 amostras) do igarapé da Relatório Técnico Final Fortaleza para início da caracterização geológica da bacia hidrográfica. Uma segunda campanha foi feita no dia 4 de dezembro de 2009 onde foram coletados aproximadamente 1kg de amostra, totalizando 19 amostras todas devidamente registradas, sendo que em alguns locais foram coletadas amostras ao longo do perfil amostrado (topo, meio e base). No total, foram coletadas 42 amostras das quais 41 foram encaminhadas ao Laboratório de Geoquímica de Sedimentos e devidamente registradas, e iniciadas as análises e tratamento das amostras. Algumas amostras já foram enviadas para laboratórios da UFPA e do Museu Paraense Emílio Goeldi para análise granulométrica e química, mas os resultados ainda não se encontram disponíveis. O Apêndice II contém o relatório do grupo de geologia e geomorfologia. Para uma melhor interpretação e análise dos resultados as amostras foram divididas em dois grupos: um com as amostras coletadas no leito (fundo) do Igarapé da Fortaleza (22 amostras) e outro com as coletadas na Lagoa dos Índios e adjacências (19 amostras). Na Lagoa dos Índios os sedimentos superficiais apresentam uma classificação granulométrica pela média ao longo de sua área caracterizada por Areia Muito Fina (AMF), Lama (silte e argila) (L), Areia Fina (AF) e Areia Média (AM). A Figura 3 mostra a distribuição em percentual de cada sedimento, onde se pode verificar que há uma predominância das areias ao longo da superfície da lagoa dos Índios. Sedimentos com granulometria tipo Areia Fina e Areia Média ocorrem em locais sob condições de sedimentação diferentes da maior parte da área da lagoa. A Areia Média pode ser associada a uma área de cabeceira de um dos braços de drenagem que chegam à lagoa. A Areia Fina tem como fonte o canal que corta a lagoa nas proximidades da ponte da rodovia Duque de Caxias, onde se tem uma sedimentação fortemente influenciada pelo material que é carreado pelas enxurradas que drenam a rodovia, sedimentando material mais grosseiro neste setor. 50 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final Figura 3. Classificação (pela média) dos sedimentos superficiais da lagoa dos Índios. Areia Muito Fina (AMF), Lama (silte e argila) (L), Areia Fina (AF) e Areia Média (AM). Figura 4. Classificação (pela média) dos sedimentos superficiais do leito do igarapé da Fortaleza. Areia Muito Fina (AMF), Lama (silte e argila) (L), Areia Fina (AF) e Areia Média (AM). 50 70 60 Porcentagem (%) Porcentagem (%) 40 30 20 10 0 50 40 30 20 10 0 AMF L AF AM Classificação De um total de 22 amostras do leito do Igarapé da Fortaleza, apenas 16 amostras passaram pelo processo de análises granulométricas. Os resultados mostraram uma grande coerência das características granulométricas e texturais com os parâmetros hidrodinâmicos e sedimentológicos observados. A granulometria média dos sedimentos do igarapé da Fortaleza é caracterizada pela ocorrência de sedimentos tipo Lama (silte e argila) (L), Areia Fina (AF), Areia Muito Fina (AMF) e Areia Média (AM). Na porção mais a montante, onde a influência dos parâmetros hidrodinâmicos (correntes e marés) é menor ocorre à deposição de sedimentos de granulometria mais fina, caracterizados pela Lama. À medida que se aproxima da foz, temos um aumento gradativo da granulometria dos sedimentos, caracterizado pelas frações arenosas (areia muito fina, areia fina e areia média), associadas a sedimentos carreados por dois tributários que deságuam nesse trecho e por sedimentos do rio Amazonas transportados pelas correntes de maré que adentram no igarapé da Fortaleza. As amostras de fundo coletadas próximas a foz possuíam material do embasamento (Formação Barreiras) que afloram no fundo. A Figura 4 ilustra a porcentagem de amostras caracterizadas por cada uma das classificações granulométricas. Foram também caracterizadas as amostras quanto ao teor de matéria orgânica. As amostras do leito do igarapé da Fortaleza apresentaram uma média de 27,3% de matéria orgânica, com máxima de 72% e mínima de 2.3%. Os valores obtidos acima L AF AMF AM Classificação de 50% de matéria orgânica nos sedimentos de fundo do igarapé da Fortaleza estão associados à zona onde se tem uma cobertura vegetal densa nas margens do canal. O percentual de matéria orgânica das amostras superficiais da Lagoa dos Índios apresenta uma distribuição mais homogênea, com uma média de 32%, a máxima de 64%, e o mínimo de 17%. O pacote de sedimentos superficiais rico em matéria orgânica que ocorre nas áreas mais próximas às margens do igarapé da Fortaleza é utilizado pelas comunidades de entorno como matéria prima na agricultura familiar, mas também é vendida para os comerciantes de produtos orgânicos, onde é revendida como terra preta de alta qualidade. A composição mineralógica dos sedimentos foi determinada por Difração de Raios-X. Na Lagoa dos Índios o resultado das amostras totais, no geral apresentou como constituintes maiores o Quartzo, Albita, Ilita e Montmorillonita (Esmectita). Como constituintes menores observaram-se Muscovita, Ortoclásio e Hematita e como traços Microclínio (feldspato potássico), Feldspato e Anatásio. As amostras de fundo do leito do Igarapé da Fortaleza apresentaram como minerais maiores o Quartzo, Albita, Montmorillonita (Esmectita) e Muscovita e como constituintes menores a Ilita e a Hematita, e como traços os minerais Anortita, Ortoclásio, Nontronita (Esmectita de Ferro), Riebekita (Anfibólio) e a Biotita. Ao analisar a distribuição mineralógica dos sedi- 51 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá mentos superficiais da Bacia do Igarapé da Fortaleza, verifica-se uma nítida relação desses com suas áreas fontes. Os sedimentos superficiais observados na Lagoa dos Índios (planície de inundação do Igarapé) apresentaram uma mineralogia que corrobora com as suas áreas fontes, ou seja, os terrenos que bordejam toda a bacia, representados pelos sedimentos da Formação Barreiras. Os sedimentos do leito do canal do Igarapé da Fortaleza mostram a grande influência que os parâmetros hidrodinâmicos da maré (correntes e amplitude) exercem na composição de seus sedimentos, ou seja, ocorre um grande transporte de sedimentos do rio Amazonas para o igarapé da Fortaleza através das fortes correntes de marés. A caracterização sedimentológica fornece informações importantes no que tange à dinâmica hídrica das áreas de ressacas, e também podem indicar ações da intervenção humana contribuindo para o diagnóstico da integridade desses ambientes. O relatório detalhado das atividades de sedimentologia está no Apêndice I. 3.3. Levantamento e seleção de novas áreas para extração de argilas Na etapa inicial foram levantadas informações pretéritas existentes da área em estudo incluindose: relatórios, imagens de satélites, livros, e outras fontes bibliográficas. O trabalho de campo envolveu a aplicação de questionário nas empresas e coleta de matéria-prima para ser analisada. Foram levadas em consideração todas as atividades de levantamento de campo, análise de matérias e documentação da área do projeto, informações as quais serviram para complementar as atividades de pesquisa do Laboratório de Tecnologia em Cerâmicas do IEPA - CERAMITEC - relacionadas com o setor oleiro cerâmico estadual. O objetivo principal deste trabalho foi levantar áreas para futura exploração além de cadastrar estudar o contexto geológico bem como as características químicas e mineralógicas, bem como suas características tecnológicas-cerâmicas. 52 Relatório Técnico Final Através da pesquisa realizada neste trabalho, verificou-se que existem aproximadamente 29 olarias em funcionamento fabricando basicamente o bloco cerâmico de vedação (tijolo de 6 furos) com produção média de 68.411 milheiros de tijolos ao ano, alavancando uma receita bruta de aproximadamente R$ 15.866.180,00. Os municípios de Macapá e Santana responsáveis por 93% desse total, mostrando a importância econômica desse setor nas duas principais cidades do Amapá. Três horizontes de sedimentos foram identificados constituídos por silte de coloração amarelada, silte de coloração cinza-amarelado e silte-argiloso cinza-azulado. A segunda litologia foi observada em todos os locais amostrados. De acordo com os valores obtidos nos ensaios químicos, mineralógicos e de caracterização dos tijolos, diversas olarias mostraram excelentes materiais e produtos, mas algumas empresas devem realizar adequações nas instalações para melhoraria na qualidade. Devido às restrições de expansão das áreas de exploração, uma possível alternativa poderia ser a utilização de áreas do Município de Mazagão, mas haveria a necessidade da realização de profundos estudos da mesma para avaliação de suas potencialidades para cerâmica vermelha. Segundo informações obtidas no site do DNPM existe uma área requerida, com número de processo 802294/1978, pertencente à empresa CIMACER SA, de aproximadamente 1000 hectares com argila de boa qualidade e com estimativa para exploração de 100 anos, informações obtidas junto a SEICOM. A área se localiza próxima ao Distrito Industrial no município de Santana. Estão contidos no Apêndice III os detalhes dos estudos relacionados à exploração de argila para as olarias de Macapá e Santana. 3.4. Estudos da qualidade da água das áreas de ressacas Foi investigada a qualidade da água superficial do igarapé da Fortaleza, trecho que compreende sua foz até a montante na ressaca da Lagoa do Índios PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Os resultados e detalhamento das análises encontram-se no Apêndice IV, referente ao relatório técnico elaborado pelo grupo que realizou os estudos de qualidade da água. Figura 5. Variação da média dos valores de pH e oxigênio dissolvido das amostras de água superficial ao longo do Igarapé da Fortaleza, desde a sua foz (A1) até a ressaca da Lagoa dos Índios (A12). Data da coleta: 27 de agosto de 2009. 8 7 Valor do parâmetro 6 5 4 pH 3 O.D. (mg/L 2 1 0 A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 A11 A12 Amostra Figura 6. Variação da média dos valores de condutividade elétrica das amostras de água superficial ao longo do Igarapé da Fortaleza, desde a sua foz (A1) até a ressaca da Lagoa dos Índios (A12). Data da coleta: 27 de agosto de 2009. 160 140 120 C.E. (µS/cm) (uma única campanha em setembro de 2009), e de 3 áreas de ressacas: Lagoa dos Índios, Curralinho e Curiaú (campanhas mensais), localizadas nas bacias do igarapé da Fortaleza e do rio Curiaú, durante o período de Março de 2009 a Outubro de 2010. As análises realizadas em campo incluíram os parâmetros pH, condutividade elétrica, transparência, oxigênio dissolvido, temperatura da água e profundidade. Em laboratório, procedeu-se as análises de turbidez. Cabe salientar que, desde 07/09/2006 a equipe responsável faz o monitoramento da qualidade da água das áreas de ressacas do Curralinho e Lagoa dos Índios e desde 13/10/2006, da área de ressaca do Curiaú, realizando análises de parâmetros físicoquímicos tais como: pH, condutividade elétrica, turbidez, temperatura da água, transparência da água, profundidade e oxigênio dissolvido. Relatório Técnico Final 100 80 60 40 20 0 A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 A11 A12 Amostra Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) para o igarapé da Fortaleza e para comparação entre as áreas de ressacas, e o teste de Student (teste t) foi aplicado em cada ressaca para identificar possíveis diferenças dos parâmetros nos períodos sazonais distintos (chuvoso e seco). Ao longo do igarapé da Fortaleza, os parâmetros de qualidade de água (pH, condutividade elétrica, turbidez e oxigênio dissolvido) apresentaram diferenças significativas (P < 0,05). Observa-se nos resultados uma diferença nos valores dos parâmetros mostrados nas Figuras 5 e 6 no ponto A10, que corresponde à ressaca dos Congós onde ocorre despejo de grandes quantidades de esgoto doméstico devido à aglomeração de residências dentro da área alagada. A água deste local apresenta-se escura com odor desagradável. O alto valor da condutividade pode indicar impactos ambientais que ocorram na bacia de drenagem ocasionados por lançamentos de resíduos industriais, mineração, esgotos, dentre outros. A transparência e a temperatura ambiente demonstram diferenças entre os períodos na ressaca da Lagoa dos Índios. Na ressaca do Curralinho a única diferença constatada foi para a variável condutividade, com valores menores que os encontrados nas demais áreas. No Curiáu exibem diferenças a variável temperatura da água e transparência. As áreas de ressacas da Lagoa dos Índios, Curralinho e Curiaú apresentaram diferenças (P < 0,05) quanto aos parâmetros pH, condutividade elétrica, temperatura da água, oxigênio dissolvido, temperatura ambiente e profundidade, não havendo diferenças para a turbidez e transparência. A ressaca da Lagoa dos Índios é a que possui o pH menos ácido (5,81), os maiores valores de condutividade elétrica (32,22 μS/cm) e os menores valores de temperatura ambiente (29,48°C) e oxigênio dissolvido (1,58 mg/L), além de apresentar a menor variação de profundidade de 0,91m entre os períodos estudados. A ressaca do Curralinho foi a que apresentou o pH mais ácido 53 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Nenhum resultado para as análises de ORP, íons nitrato, amônio e cloreto, sólidos (totais, suspensos e dissolvidos), nitrogênio total, nitrito, fósforo total, fosfato, clorofila a, alcalinidade, dureza e sílica reativa, que estão previstas neste projeto foram de fato obtidas devido a falta de materiais, equipamentos e reagentes que foram solicitados neste projeto, e que, até o presente momento, ainda não foram comprados e/ou entregues. 3.5. Estudo de vegetação das áreas de ressacas e etnobotânica Figura 7. Principais famílias de macrófitas aquáticas da ressaca dos municípios de Macapá e Santa, Amapá. Lentibulariaceae Convolvulaceae Asteraceae Araceae Família (5,17) os maiores valores de temperatura da água superficial (30,84°C) e temperatura ambiente (31,61°C). A ressaca do Curiaú apresentou os maiores valores de oxigênio dissolvido (4,96 mg/L) e de transparência (100,89 cm), possuindo também a maior variação de profundidade que é de 1,70m. Relatório Técnico Final Onagraceae Fabaceae Cyperaceae Poaceae 0 5 10 15 20 25 30 No de espécies Congós, devido ao crescimento populacional sobre as áreas úmidas, aumentando dos resíduos, aterros e a retirada de sedimentos pelas olarias. Desta forma, medidas preservacionistas devem enfocar primordialmente estes aspectos. Da mesma maneira, deve-se proteger as florestas que compõe as nascentes e cabeceiras das principais drenagens e igarapés que alimentam a bacia do igarapé do Fortaleza. Mesmo com poucas etapas de campo, concentrando a maioria no período de menor intensidade pluviométrica (meses de setembro a dezembro), foi possível observar que este ambiente sofre alteração fitofisionômica marcante relacionada com os períodos de seca e de alagamento. Isto se deve ao fato de algumas espécies serem anuais e desaparecerem completamente na época de estiagem (gênero Utricularia e Cabomba); outras, apesar de suportarem os períodos de seca, têm a população profundamente reduzida (Eleocharis mínima e Nymphaea gardneriana), o que altera substancialmente a paisagem. Já os principais representantes das famílias Cyperaceae e Poaceae são perenes, dominando o ambiente em ambos os períodos sazonais. Foram realizadas excursões de campo no período de setembro a dezembro de 2009 e outubro de 2010 nas ressacas do Congós, Lagoa dos Índios, Igarapé do Fortaleza, Infraero I e II, Aeroporto Internacional de Macapá, Alinhas, Coração e Cabralzinho, onde foram realizadas coletas de material botânico assim como identificação das espécies presentes nas margens do igarapé. Foram encontrados 127 táxons, distribuídos em 92 gêneros e 45 famílias de hidrófitas nas Ressacas de Macapá e Santana do Estado do Amapá. As principais famílias das ressacas de Macapá e Santana são as Poaceae e Cyperaceae representada por 27 e 16 táxons, o que significa cerca de 34% de todos os táxons encontrados até o momento, seguida pelas famílias Fabaceae e Onagraceae (oito táxons cada), Araceae (seis táxons), Asteraceae e Convolvulaceae (cinco táxons cada) e Lentibulariaceae (quatro táxons) (Figura 7). Os detalhes das atividades de botânica estão dispostos no Apêndice V. Como mostrado na Figura 8, as formas de vida identificadas foram 56% de anfíbias, 25% de emergentes, 9% de flutuantes livres, 5% de flutuantes fixas, 3% de submersa livre e 2% de epífitas e submersas fixas. As áreas de tensão são observadas mais criticamente para o bairro do Em relação às atividades de etnobotânica, o levantamento das plantas utilizadas nas ressacas de Macapá foi conduzido juntamente com o diagnóstico socioambiental. Foram empregadas técnicas propostas e adaptadas por Alexiades (1996), com a aplicação de questionários aos moradores, em 54 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final Figura 8. Porcentagem das formas biológicas de macrófitas aquáticas da ressaca dos municípios de Macapá e Santa, Amapá. A = anfíbia; EM = emergente; FL = flutuante livre; FF = flutuante fixa; SF = submersa fixa; SL = submersa livre; EP = epífita. 5,4% 3,2% 2,1% 2,2% A 9,7% EM participantes nos dias das visitas. Nas ressacas Infraero II e Coração, em Macapá, e nas ressacas de Santana não foram aplicados questionários, sendo apenas realizadas visitas exploratórias. FL seus domicílios. Foi entrevistada a pessoa presente na residência ou aquela com maior disponibilidade para o momento, sem nenhuma preferência expressa pelos pesquisadores. Tacaca P. Socorro Sá Comprido Pacoval Pedrinhas Muca N. Esperança Marabaixo Lago da Vaca Lagoa dos Índios Número de platas Chico Dias Tempero Ornamental Medicinal Gripe Fígado 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Não mencionado Os trabalhos de campo foram realizados no período de 19/04 a 18/05 de 2010, com o envolvimento de uma equipe de, inicialmente, 28 pessoas vinculadas ao IEPA e ao Curso de Arquitetura da UNIFAP. Esta equipe foi dividida em cinco grupos, que trabalharam em três áreas cada, distribuídas por sorteio. O número de representantes de cada grupo variou em função da disponibilidade dos Figura 10. Usos adotados nas ressacas de Macapá para as diferentes plantas mencionadas pelos entrevistados. Dor As plantas foram indicadas por seus nomes populares e, em função de as plantas serem mantidas em casa em quantidades muito pequenas, não foi realizada a coleta de material botânico para herbário. Essa atividade ainda poderá ser executada, uma vez que foram tomadas as coordenadas geográficas das áreas. Assim sendo, as plantas serão coletadas conforme as técnicas descritas por Fidalgo & Bononi (1984) e as exsicatas serão depositadas no Herbário Amapaense (HAMAB), em triplicata, após identificação botânica. 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 No tocante ao uso de plantas medicinais, isso pode ser reforçado pelo fato de que os tipos de uso mais freqüentes são como medicinal e como alimento (Figura 10), já que sabemos de trabalhos anteriores que a assistência à saúde desses locais é bastante deficitária (Neri, 2004 ; Aguiar et al., 2003; Maciel, 2001). Número de platas Os questionários abrangeram questões relacionadas ao uso e ocupação das áreas, composição e renda familiar e nele foram inseridas as questões relacionadas ao uso de plantas para fins específicos. Dada a dinâmica do trabalho conjunto e do número de informações a serem levantadas, nessa ocasião não foram realizadas entrevistas de campo (inventário etnobotânico) nem o check-list das espécies levantadas. Figura 9. Número de plantas indicadas para as 13 ressacas estudadas. Consumo SF Chá EP 81,54% Foram respondidos 380 questionários, dos quais 115 continham respostas para a questão relativa ao uso de plantas para algum fim (Figura 9), onde foram registrados 119 nomes de plantas utilizadas para alguma finalidade pelos moradores. Açai SL Canal do Jandiá FF Alimento 25,20% Boldo, babosa, hortelã, erva cidreira e anador estão entre as plantas mais citadas, considerando todas as ressacas (Figura 11). Apenas chicória não tem emprego como medicinal e a maioria é usada na forma de chá, com ou sem fim medicinal. Todas as plantas mais citadas são herbáceas e de fácil 55 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final manutenção nas condições disponíveis nas ressacas, como vasos e pequenos canteiros. Figura 11. Plantas usadas nas áreas estudadas. São apresentadas as 10 mais citadas. 30 20 15 10 5 Manjerição Hortelãzinho Hortelã Erva Cidreira Cidreira Chicória Boldo Babosa Anador 0 Amor crescido Número de plantas 25 Com base nos resultados alcançados, é lícito afirmar que a população das áreas de ressacas de Macapá utiliza de maneira importante algumas plantas, especialmente com finalidade medicinal. Como na sua grande maioria trata-se de plantas herbáceas, é costume mantê-las em canteiros próximos as residências, onde podem ser acessadas de maneira mais fácil. Ainda se pode sugerir que a comunidade desconhece, ou desconsidera, a importância que algumas plantas espontâneas como chapéu de couro, buriti, aninga podem ter em sua vida cotidiana ou até como uma alternativa econômica viável. O Apêndice VI compreende o relatório detalhado das atividades de levantamento etnobotânico. 3.6. Estudo da distribuição da ictiofauna e potencial de espécies de interesse comercial redes de espera de malhas 15, 20, 30, 40 e 45 mm (entre nós adjacentes), colocadas em pontos estratégicos as margens dos corpos d'água e amarradas para que não se desprendessem, e em seguida foram utilizadas a tarrafa e o puçá. Os peixes capturados foram colocados em sacolas de plástico, devidamente etiquetados, acondicionados em caixas térmicas e transportados até o laboratório do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA), onde foram fixados em formol à 10%, para posterior identificação, mensuração e pesagem. Os exemplares coletados foram identificados até a menor categoria taxonômica possível, medidos e pesados. Em alguns casos a ocorrência da espécie no local foi registrada apenas através de entrevistas, mostrando fotos de exemplares da literatura. O número total de indivíduos coletados neste trabalho foi de 534, distribuídos em 56 espécies, 42 gêneros e 17 famílias. A família com maior número de indivíduos coletados foi a família Characidae com 203 indivíduos (38,0%) e a família Cichlidade foi a segunda mais representativa, contribuindo com 100 exemplares (18,7%). Em seguida vieram as famílias Serrasalmidae, Anostomidae, Erithrinidae e Loricariidae representadas por 75 (14,0%), 66 (12,4%), 25 (4,7%) e 23 (4,3%) indivíduos, respectivamente e as demais famílias somando ficou com 42 (7,9%) indivíduos (Figura 12). As amostragens para a caracterização da ictiologia foram realizadas no período de novembro de 2009 a outubro de 2010 em seis diferentes locais situados na Bacia Hidrográfica do Igarapé da Fortaleza, os quais foram: o Igarapé da Fortaleza, onde as coletas foram realizadas tanto no curso principal do igarapé quanto no "Porto da Embrapa" situado na parte média do referente igarapé; além também de quatro áreas de "ressacas" situadas próximas ao igarapé, sendo elas: Ressaca do Congós, Ressaca da Lagoa dos Índios, Ressaca do Tacacá e Ressaca do Wagner. Para a captura dos exemplares, foram utilizadas 56 Família Figura 12. Número de espécimes de peixes capturados classificados por família. Sternopygidae Scianidae Nandidae Hypopomidae Doradidae Clupeidae Auchenipteridae Ageneiosidae Belonidae Callichthyidae Curimatidae Loricariidae Erithrinidae Anostomidae Serrasalmidae Cichlidae Characidae 0 50 100 150 200 250 Número de espécies A dominância da ordem dos Characiformes esta comumente documentada em vários trabalhos disponíveis na literatura acadêmica. Além disso, PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá entre os Characiformes há um grande predomínio de espécies de pequeno porte e/ou capazes de concluir seu ciclo de vida em ambientes lênticos. No presente estudo a abundância se refletiu na ordem dos Perciformes, exclusivamente na família Cichlidae. Os Cichlidae congregam um dos maiores grupos de peixes de água doce do mundo. Na América do Sul, conta com aproximadamente 290 espécies, o que representa cerca de 6 a 10% da ictiofauna de água doce deste continente. A maioria das espécies possui comportamento territorial, ou seja, defende um certo espaço onde se alimenta e reproduz. Também possuem cuidados parentais, fazem ninhos e cuidam dos ovos e filhotes, comportamento pouco comum entre os peixes. São peixes evolutivamente avançados, com padrões comportamentais muito complexos. A riqueza de espécies foi maior no canal principal do Igarapé da Fortaleza, com 26 espécies. O índice de diversidade revelou que esse canal principal possuiu uma maior diversidade quando comparado as outras áreas coletadas. Na área conhecida popularmente como Ressaca do Congós foi evidente o efeito de alterações antrópicas tais como a remoção da mata ciliar, lançamento de efluentes na água, mudança do canal principal, entre outras. O trabalho destaca a caracterização detalhada de várias espécies de interesse comercial em termos de alimentação e aquariofilia. (Apêndice VII). 3.7. Estudo de ovos e larvas de peixes (OSTEICHTHYES) ao longo do igarapé da Fortaleza Esta atividade foi agregada através do convite feito ao professor da UEAP Diego Maia Zacardi pela coordenação do projeto, o qual forneceu apenas o suporte logístico para a realização dos estudos que foram feitos em conjunto com os levantamentos da ictiofauna. O período de coleta abrangeu dezembro de 2009 a junho de 2010, com os pontos de amostragem Relatório Técnico Final escolhidos e distribuídos aleatoriamente ao longo do canal: P1 (ponto mais externo – foz), P2, P3 e P4 (pontos medianos ao longo do canal) e P5 (ponto mais interno - cabeceira). As variáveis abióticas de temperatura da água, condutividade elétrica da água, pH e oxigênio dissolvido foram registradas in loco e introduzidas em planilhas eletrônicas para a elaboração de gráficos e tabelas descritivos. Os organismos são coletados por meio de arrastos sub-superficiais na coluna d'água (aproximadamente 10 minutos), com redes cilíndrico-cônicas de malhas de 200 e 300μm, a bordo de uma embarcação local, logo após o pôr-do-sol e em períodos de maré vazante. Após a utilização do método de captura o material biológico é imediatamente fixado a bordo da embarcação com formol a 10% neutralizado com bórax e acondicionado em recipientes de polietileno de 500 ml devidamente etiquetados e levados para análise no Laboratório de Bioecologia Aquática da Universidade do Estado do Amapá. No laboratório o material biológico proveniente das coletas são triados, separando os ovos e as larvas de todo o material em suspensão (detritos e do plâncton total), com auxílio de pinças e placas de Petri, sob microscópio estereoscópico, posteriormente as larvas são contadas e identificadas ao menor nível taxonômico possível. Os espécimes identificados são armazenados em frascos de vidro contendo formalina a 4% e etiquetados, para constituir uma coleção de referência para a UEAP. Durante o período de amostragem (dezembro/09 a junho/10), foram realizadas quatro expedições, totalizando 38 amostras, as quais apresentaram um total de 593 larvas, sendo que os organismos identificados corresponderam a 8 ordens e 15 famílias. A família Engraulidae apresentou maior abundância com 40,3%, enquanto que as famílias Auchenipteridae, Pimelodidae, Sciaenidae, Curimatidae, Tetraodontidae, Gobiidae, Achiridae, Prochilodontidae e Rivulidae apresentaram abundancia inferior a 1,5% (Figura 13). 57 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final Figura 13. Participação relativa (%) das famílias mais abundantes capturadas ao longo do canal do Igarapé da Fortaleza, Macapá, Amapá. 42,7 14,3 3,1 Characidae 4,6 Syngnathidae 7,9 Eleotridae Clupeidae Pristigasteridae Engraulidae 8,9 Das 15 famílias registradas, seis representaram mais de 80,6% do total dos exemplares capturados, enquanto que as 9 famílias restantes (de menor abundância), participaram em conjunto com 4,7 %. Os 14,7% restantes são das Ordens Characiformes e Clupeiformes, juntamente com as larvas que não foram identificadas devido ao seu estágio muito inicial de desenvolvimento ou por se encontrarem danificadas. As famílias Characidae, Engraulidae e Syngnathidae apresentaram ampla distribuição espacial, ocorrendo em todos os pontos de amostragem, sendo que as famílias Curimatidae, Rivulidae e Achiridae ocorreram apenas no ponto P4, P2 e P3 respectivamente. As maiores densidades de larvas de Engraulidae ocorreram no mês de dezembro, indicando este período (menos chuvoso), provavelmente o mais propício para a desova destas espécies na área de estudo, concentrando as suas fases iniciais de desenvolvimento nos pontos P4 e P5. Para as larvas de Syngnathidae as maiores densidades foram registradas nos meses de abril e junho (período mais chuvoso) com maiores concentrações nos pontos P3 e P4. Os resultados preliminares obtidos mostraram que o ambiente estudado abriga expressiva quantidade de estágios iniciais de peixes, provavelmente devido às caracterísiticas ambientais favoráveis ao desenvolvimento inicial de vida dos peixes como: alta produtividade primária e secundária, servindo de refúgio para a reprodução, oferecendo às larvas proteção contra predadores e uma rica fonte de alimentos, maximizando desta forma a sobrevivên- 58 cia e que neste ambiente. As cabeceiras desempenham um importante papel na manutenção dos estoques pesqueiros, além de ter sido constatado um gradiente de distribuição de larvas ao longo do rio, com as maiores abundâncias e densidades do ponto mais interno (cabeceira) para o ponto mais externo (foz), sendo as larvas de Clupeiformes as mais representativas do canal apresentando ampla distribuição e ocorrência em todas as expedições de coleta. O Apêndice VIII mostra em detalhes as atividades realizadas nos estudos de ovos e larvas de peixes. 3.8. Levantamentos socioambientais Durante os meses de abril, maio e junho de 2010 foi realizada uma pesquisa por amostragem de domicílios em vinte e três áreas úmidas do Município de Macapá, denominadas localmente de ressacas. Em cada área foram aplicados 30 (trinta) questionários com perguntas de caráter socioambiental, preferencialmente nas residências construídas sobre a lâmina d'agua, ou melhor, com ocupação dentro da ressaca. Adicionalmente, em caso de locais com poucas edificações nessas condições, as amostras se estendiam aos domicílios construídos mais próximos à linha d'água. As perguntas dos questionários foram do tipo estruturada e semiestruturada, de modo a se fazer anotações de informações adicionais por desdobramento, no momento da entrevista. No total foram aplicados 390 questionários, envolvendo indicadores sociais e ambientais amplamente utilizados em pesquisas sobre a dinâmica humana e ambiental, tais como: questões relativas à renda, populacional, migração, à moradia, infraestrutura habitacional, saneamento básico, educação, saúde, segurança pública, organização social, lazer, percepção de condições de vida, atividades econômicas, problemas sociais, alterações ambientais no local onde mora, impacto humano no ambiente de moradia. Todos esses indicadores envolvem um conjunto de variáveis que os qualifica. PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá O processo de ocupação das áreas das ressacas teve início da década de 50, aumentando paulatinamente, devido à ineficiência do poder público no planejamento urbano e sua implementação, resultando na intensificação do processo a partir do início dos anos 90. A principal característica da ocupação dessas áreas é a forma desordenada como ocorrem, que devido à ausência da administração pública, os assentamentos humanos vão se concretizado de maneira espontânea, sendo estruturados em sua própria lógica. Os altos índices migratórios para o Estado, também têm contribuído para a ocupação desenfreada e desordenada que modificou o ambiente natural das ressacas, ao tempo em que não resolveu a problemática crucial do processo de urbanização que é o direito do cidadão à habitação em condições adequadas de moradia. O relatório detalhado das atividades do grupo de estudos socioambientais encontra-se no Apêndice IX. Como resultados o relatório destaca que muitos dos problemas atuais são oriundos de faltas de iniciativas do poder público, tanto no passado ao não resolver as questões, quanto atualmente que resolve diversos problemas, inclusive no âmbito do próprio planejamento urbano e na execução do Plano Diretor e suas leis complementares, o que certamente acarretará implicações negativas para a cidade e para seus habitantes. Questões funda- mentais da população como necessidades de moradia, alimentação e geração de renda, permitiriam melhor qualidade de vida a todos. Assim, a gestão pública não acompanhou a dinâmica do seu território, o que tem agravado problemas habitacionais, de infraestrutura de saneamento, de diversos outros problemas sociais e ambientais. A reconhecimento de cada área de ressaca está vinculada ao bairro no qual está inserida, normalmente na memória dos moradores mais antigos e, associadas aos canais ou igarapés que as drenam e/ou a alimentam (MACIEL, 2001). No entanto, essas denominações não englobam todas as ressacas existentes na área urbana das duas cidades. Considerando o tempo de moradia foi constatado que a maioria dos entrevistados reside há poucos anos nas áreas das ressacas estudadas, sendo que aproximadamente 50% residem há menos de 5 anos e 29% entre 6 e 10 anos (Figura 14). Figura 14. Tempo de residência, em anos, de moradias dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá. 100 90 80 70 % entrevistados Todos os dados foram organizados em planilhas do software Excel, para serem analisadas em seus respectivos agrupamentos. A pesquisa foi coordenada pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá-IEPA, e realizada em parceria com a atividade pedagógica dos alunos do 4º ano do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Amapá-UNIFAP. As etapas das atividades permitiram que as entrevistas, os registros fotográficos e o georreferenciamento fossem feitos simultaneamente. O mapeamento das habitações e edificações comunitárias incluindo tipologia, escalas e infraestrutura foram identificadas através de GPS de navegação. Relatório Técnico Final 60 50 40 30 20 10 0 Até 05 De 6 a 10 De 11 a 15 De 16 a 20 Mais de 20 Tempo de residência (anos) A ocupação das áreas de ressacas intensifica-se a partir dos anos 1990 como resultado de diversos fatores, dentre os quais a não implementação dos planos urbanísticos, já existentes (MACIEL op. cit.) e a não adequação da cidade às transformações na dinâmica populacional. O processo de ocupação das ressacas não foi disciplinado, o que resultou em sua intensificação, é o caso das áreas na Chico Dias, Sá Comprido e N. Esperança, caracterizando-se como as de moradores com mais tempo de ocupação. A condição atual demonstra que recomendações 59 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final como a desocupação dessas áreas (MACIEL, 2001) não foram seguidas (Figura 15). Apenas 3% dos entrevistados relataram ter buscado solidariedade na construção e outros 6% compraram a casa já pronta (Figura 17). As demais ocupações nas ressacas apresentaram uma porcentagem de entrevistados da categoria “tempo de residência” na faixa de 11 a 15 anos em torno de 12%. Por outro lado, a faixa de 16 a 20 anos representa 5% mesmo apresentando pessoas, das antigas ocupações estão no local. Para os moram acima de 20 anos no local, foram entrevistados apenas 4%. Figura 16. Situação de domínio do imóvel dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá. 100 90 % entrevistados 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Figura 15. Vista da ocupação de área de ressaca em Macapá, demonstrando um processo de ocupação das áreas, com suporte em madeira para estender a rede improvisada de energia. Alugada Casa própria Cedida Doada Herança Outras Situação do imóvel Figura 17. Mão de obra utilizada na construção do imóvel dos entrevistados das ressacas da cidade de Macapá. Mão de obra contratada 1% 6% 5% Mutirão familiar 3% 46% Mutirão comunitário Mutirão familiar e mão de obra contratada 39% Considerando a condição de domínio do imóvel, aproximadamente 91% dos entrevistados residem em casas próprias e, secundariamente, em residência alugada (4%) ou cedida (3%). Os entrevistados que residem em casas cedidas foram mais representativos nas ressacas Lago da Vaca (10%), Pacoval (7%) e Lagoa dos Índios (7%). Enquanto que aqueles que vivem em casas alugadas foram mais representativos nas ressacas Chico Dias (10%), Marabaixo (10%) e Muca (10%). Os entrevistados que vivem em casas herdadas ou doadas somados representaram menos de 2 % do total de entrevistados (Figura 16), sendo que apenas nas ressacas Açaí e Tacacá foram encontrados entrevistados que residem em imóveis herdados. Em relação à construção do imóvel, a maioria dos entrevistados (46%) utilizou mão de obra contratada, mediante pagamento em dinheiro e, secundariamente, através de mutirão familiar (39%). 60 Comprou pronta Sem resposta Dentre as ressacas analisadas, a utilização de mão de obra contratada foi o principal meio de construção adotado pelos entrevistados das ressacas Canal do Jandiá (60%), Chico Dias (57%), Muca (43%), Lagoa dos Índios (53%), Nova Esperança (47%), Sá Comprido (57%) e Tacacá (70%). Enquanto que a utilização de mutirão familiar destacou-se nas ressacas Açaí (50%), Lago da Vaca (50%), Pacoval (40%), Pedrinhas (47%) e Perpétuo Socorro (59%). A contratação de terceiros para a construção das edificações revela a existência de trabalhadores autônomos experientes na construção de estruturas em áreas úmidas. Pela constatação, destaca-se que o dinamismo do processo de ocupação abrange um setor importante com agentes produtores do espaço urbano, com movimentação de atividades autônomas, tal qual a carpintaria, além da geração e ocupação de postos de trabalho. A utilização de mutirão comunitário foi mais PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final freqüente nas ressacas Açaí (17%) e Pedrinhas (10%), enquanto que a aquisição da casa pronta foi mais representativa nas ressacas do Pacoval (17%) e Perpétuo Socorro (21%) (Ver Apêndice IX). Grande parte dos entrevistados (31%) habita residências que apresentam quatro cômodos, incluindo sala, quarto, cozinha e banheiro. Apenas aproximadamente 5% vivem em casas com mais de sete cômodos. Aqueles que vivem em casas com apenas um cômodo totalizaram aproximadamente 11%. Normalmente este único cômodo se constitui em um tipo de ambiente conjugado (Figura 18). (Figura 21). Aproximadamente 27% possuem título de posse do terreno e apenas 6% possuem o título definitivo. Cabe ressaltar que os entrevistadores não tiveram acesso aos títulos citados anteriormente em função de não ser uma exigência metodológica. Uma significativa parcela de entrevistados (24%) afirmou residir em áreas de invasão, uma vez que a construção da residência ocorreu sem a devida autorização dos órgãos competentes. Figura 19. Localização do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá. Figura 18. Número de cômodos dos imóveis onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá. 38% Lago 100 90 Terra Firme 80 62% 60 50 40 30 20 Figura 20. Localização do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá. 10 0 A maioria dos entrevistados (40%) não possui documentos comprobatórios da posse do lote, apesar disso, os mesmos não consideram que residem em áreas de invasão pela justificativa de que adquiriram o lote por meios considerados regulares, sem, no entanto, informar tais meios Tacaca Sá Comprido Pacoval Pedrinhas P. Socorro Muca Quando consultados a respeito da localização terreno em que habitavam, aproximadamente 62% dos entrevistados responderam residir em áreas alagadas e 38% em terra firme. O grupo de entrevistados das ressacas Açaí, Canal do Jandiá, Lago da Vaca, Lagoa dos Índios, Marabaixo e Sá Comprido, foi formado predominantemente por pessoas que residem em áreas de terra firme. Enquanto o grupo de entrevistados das demais ressacas foi formado principalmente por pessoas que residem em áreas alagadas, destacando-se as ressacas Chico Dias e Perpétuo Socorro, nas quais todos os entrevistados afirmaram residir neste tipo de terreno (Figuras 19 e 20). % entrevistados Número de cômodos 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 N. Esperança Mais de Sem Sete resposta Marabaixo Seis Lagoa dos Índios Quatro Cinco Chico Dias Três Lago da Vaca Dois Açai Um Canal do Jandiá % entrevistados 70 Lago Terra Firme Ressaca Quando consultados sobre o tipo de uso que o imóvel adquire considerando a possibilidade de geração de renda ou prestação de serviços, aproximadamente 93% dos entrevistados afirmaram que o mesmo é utilizado apenas como residência (Figura 10). Este padrão foi observado em todas as áreas de ressaca analisadas. A utilização do imóvel para fins comerciais (2%) foi observada apenas nas ressacas Lagoa dos Índios (3%), Marabaixo (6,7%), Muca (10%) e Nova Esperança (6,7%). Normalmente o ponto comercial é destinado à venda de gêneros alimentícios e outros produtos de primeiras necessidades. 61 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final Figura 21. Situação fundiária do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá. 100 90 80 % entrevistados 70 60 50 40 30 20 10 0 Invasão Não titulado Título de posse Título definitivo Outros Sem resposta Situação fundiária Em quase todas as ressacas foram registrados entrevistados que residem em imóveis que são utilizados tanto para habitação quanto para comércio (3,9%) com uso misto. Os serviços oferecidos pelos imóveis que apresentam uso misto são variados, incluindo batedeiras de açaí, comercialização de pescado, estética feminina, venda de “chope” e escritório. Menos de 1% dos entrevistados afirmaram que o imóvel é utilizado para fins institucionais. Esse tipo de uso inclui, por exemplo, o funcionamento provisório de igrejas. Outros entrevistados também afirmaram que o imóvel dispõe de quartos para aluguel (0,5%), incluindo “kitnets” (Figura 22). maioria da população associa a rede coletora de águas pluviais, com o serviço de esgoto. A atual condição de manutenção da estrutura é tão precária que chega a aumentar os problemas, que não são poucos, dos moradores dessas áreas. Por ocasião das chuvas, frequentemente as galerias ficam obstruídas pelo lixo. A água, impedida de ser canalizada passa a escoar superficialmente, apresentando como conseqüência inundação às residências. Além do lixo, depositado pelas águas, as residências ficam expostas à contaminação por diversos agentes como a leptospirose, hepatite e diversas verminoses. Figura 23. Existência de tratamento de esgoto sanitário nas ressacas de Macapá. 3% 2% Possui Não possui Sem resposta 95% Figura 24. Existência de tratamento de esgoto sanitário por ressaca em Macapá. Figura 22. Tipos de usos das edificações residenciais nas ressacas de Macapá. Institucional Aluga cômodos Tipo de uso do imóvel Um dos indicadores que normalmente é consultado é a existência do esgotamento sanitário. Como mostra a Figura 11, a maioria dos entrevistados (95%) afirmou que não ocorre tratamento de esgoto no local. Apenas 10% dos entrevistados da ressaca Açaí e, 6,7% dos entrevistados das ressacas Marabaixo, Muca, Nova Esperança e Tacacá, afirmaram que possuem tratamento de esgoto (Figuras 23 a 26). O tratamento de esgoto é inexistente e, justamente por não conhecer o sistema de esgotamento a 62 Tacaca Pacoval Pedrinhas P. Socorro Muca Marabaixo Sá Comprido Uso misto N. Esperança Comercial Lagoa dos Índios Residencial Não possui Chico Dias 20 10 0 Possui Lago da Vaca 60 50 40 30 Açai 70 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Canal do Jandiá % entrevistados % entrevistados 100 90 80 Sem resposta Ressaca Figura 25. Vista das galerias de coleta e distribuição das águas pluviais sendo despejado diretamente nas ressacas. PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final Figura 26. Vista das galerias de coleta e distribuição das águas pluviais sendo despejado diretamente nas ressacas. organização social local. os entrevistados que participam mais freqüentemente das entidades sociais locais, totalizando 47% dos entrevistados e, apenas 1% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder à pergunta (Figura 29). Figura 28. Existência de entidades da sociedade civil nas ressacas de Macapá. 25% 40% Quanto ao abastecimento público, observa-se com o auxílio da Figura 27 que aproximadamente 53% dos entrevistados afirmaram que o abastecimento de água para suas residências é realizado pela CAESA. A utilização de poço do tipo Amazonas (36%) é o principal meio de abastecimento de água de outros entrevistados. Existe Inexistente Sem resposta 35% Figura 29. Participação dos moradores das ressacas de Macapá nas entidades de representação social. Figura27. Serviço e fonte de abastecimento de água nas unidades residenciais nas áreas de ressacas. 1% 14% 100 % entrevistados 90 80 Participa 70 Não participa 60 Sem Resposta 50 40 85% 30 20 10 0 CAESA Poço Amazonas Poço Artesiano Outros Abastecimento de água Enquanto o abastecimento de água por meio de poço do tipo artesiano é mais significativo nas ressacas Lagoa dos Índios, Marabaixo e Sá Comprido. A utilização de outros meios de abastecimento de água foi mais comum para os demais entrevistados. Consultados a respeito da existência de organização social na área, aproximadamente 40% dos entrevistados afirmaram que há uma entidade de representação social no local (Figura 28). Outros 35% dos entrevistados afirmaram que não há organização social. Os entrevistados que não souberam ou não quiseram responder à pergunta correspondem a 25% do total. A maioria dos entrevistados (85%) não participa da Em relação à participação dos entrevistados em atividades comunitárias, aproximadamente 75% afirmaram que participam de alguma atividade (Figura 30). Dentre as atividades comunitárias mais citadas, destacaram-se as atividades religiosas (3 %), festividades (16%) e atividades esportivas (15%). A participação em limpeza de ruas e horta ou roça foi mencionada somente por5% e 3%, respectivamente, do total de entrevistados. Considerando a percepção dos entrevistados em relação aos problemas sociais (Figura 31), o alcoolismo (65%) foi o principal fator mencionado pelos entrevistados, seguido por roubos (60%). A utilização de drogas ilícitas também foi citada por grande parte dos entrevistados (51%). Uma significativa parcela de entrevistados também identificou outros graves problemas como agressão à mulher (41%), e homicídios (42%), especialmente nas ressacas Lago da Vaca (53%). A ocor- 63 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final rência de prostituição e agressão às crianças foi mencionada por 27% e 21% dos entrevistados, respectivamente. Já a existência de trabalho infantil foi mencionada por 17% dos entrevistados. Figura 30. Participação dos moradores das ressacas de Macapá nas atividades e mutirões organizados pela representação social local. Figura 31. Principais problemas sociais existentes nas ressacas de Macapá. Homicídios Roubos Agressão à mulheres Agressão à crianças Trabalho infantil % entrevistados Prostituição 100 90 80 70 60 50 40 30 20 Drogas Alcoolismo 0 20 40 60 80 100 % entrevistados Figura 32. Principais alterações ambientais presentes nas ressacas de Macapá. 0 Horta ou roça Limpeza de Festividades Atividades ruas religiosas Atividade esportivas Atividades comunitárias As principais alterações ambientais identificadas pelos entrevistados foram as inundações (35%) e os aterros (31%) (Figura 32). A primeira foi mencionada principalmente pelos entrevistados das ressacas Nova Esperança (63%), Pacoval (47%) e Pedrinhas (47%). Já os aterros foram identificados como problema, principalmente pelos entrevistados das ressacas Nova Esperança (57%), Lagoa dos Índios (47%) e Perpétuo Socorro (45%). A ocorrência de entulhamento com lixo (25%) foi mais freqüentemente citada pelos entrevistados das ressacas Marabaixo (50%) e Nova Esperança (40%). Enquanto as alterações causadas pelas queimadas (22%) foram mencionadas principalmente pelos entrevistados do Marabaixo (50%) e Lagoa dos Índios (57%). O despejo de águas pluviais (20%) foi um fator citado principalmente pelos entrevistados das ressacas Chico Dias, Pacoval e Pedrinhas, representando aproximadamente 37% de cada uma. Em menor percentual, porém não menos importante, foram citadas alterações como entulhamento com restos de construção (17%), despejo de esgoto (13%), desmatamento (11%), descarga de sobras de açougue (3%), abertura de valas (10%) e tanques para piscicultura (6%). 64 Abertura de tanques Abertura de valas Aterros Descarga de sobras de açougues Desmatamento Despejo de águas pluviais Despejo de esgoto Entulhamento com lixo Entulhamento com restos de construção Inundações Queimadas Outros 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 % entrevistados 4. O ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO URBANO DAS ÁREAS DE RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA Jefferson Miranda PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá O Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano para as áreas de Ressacas é o instrumento básico de planejamento local, que articulado a outros, como o plano diretor, indicando critérios para o uso e ocupação do solo e o manejo dos recursos naturais em zonas específicas. Parte do concreto pensado, no qual a realidade objetiva permite abstração, de modo a se construir instrumentos de intervenção, fundamentando-se na sociedade e em seu movimento. Fundamenta-se nas características naturais e na dinâmica humana, de maneira integrada objetivando um cenário desejado, a ser alcançado, logo, se propõe a orientar as atividades a serem estimuladas, toleradas, toleradas com restrição e proibidas, em cada zona. Assim, buscar a garantia da preservação dos ecossistemas frágeis, indicando atividades econômicas compatíveis com o desenvolvimento ambientalmente sustentado, definidas nas análises de suas características ecológicas e socioeconômicas. O Zoneamento em termos gerais é um instrumento político para a organização do território. Ecológico com vistas à proteção do meio ambiente do qual o homem faz parte. Econômico considerando a necessidade de desenvolvimento de atividades produtivas, e Urbano: área territorial em que encontram-se inseridas as ressacas, definidas por estudos como área de intervenção. Para desenvolver a proposta das zonas e subzonas, além do cenário desejado e suas atividades inerentes, foram adotados critérios capazes de envolver a dinâmica socioambiental, em cada zona e, desta com seu entorno. Os critérios baseiam-se em: Ÿ Paisagem geográfica: Apresenta-se visualmente dominada por edificações diversas, empreendimentos ou ocupação residencial, dentro da área da ressaca. Ÿ Configuração urbana: O adensamento da ocupação ocorre de maneira desorganizada com edificações aglomeradas não apresentando delimitação clara das parcelas e/ou lotes, não apresenta afastamento lateral em conformidade com o parcelamento urbano, assim como a não definição de quadras e/ou arruamento. Ÿ Densidade populacional: Dos dados do IBGE foram extraídos os setores censitários com a Relatório Técnico Final respectiva população. De posse dessas informações, gerou-se a densidade de ocupação por setor censitário. Assim, foram somados os valores de todos os setores existentes dentro de cada ressaca. Portanto, foi gerada a densidade de ocupação para cada uma delas. Ÿ Condições de vida da população: Critério que não envolve apenas as condições econômicas, mas também condições insalubres e de riscos. O critério para o adensamento populacional teve por base os resultados do Censo IBGE-2010, o Estado do Amapá apresenta uma população de 669.526 habitantes, cuja densidade Estadual é de 4,69 hab/km2 (habitantes por quilômetro quadrado). Destes, 381.214 residem na área urbana de Macapá, a capital, correspondendo a 95,73% da população de todo o Município, com 62,14 hab/km2. Já Santana, o segundo mais populoso do Estado, apresenta uma população de 101.262, sendo que 95.895 residem na área urbana, representando 94,70% de todo o Município e densidade de 64,11 hab/km2. A Densidade populacional da zona é obtida a partir do resultado cálculo da divisão simples entre a quantidade de moradores existentes nos setores censitários do Censo IBGE-2010, pela área da mesma zona. Com exceção da zona de proteção ambiental, foram estabelecidas faixas de 50 m para as demais, consideradas a partir da linha d'água mapeada para dentro das áreas de ressacas. O limite foi obtido por interpretação de sensores orbitais da base cartográfica do projeto. Identificados os critérios, os mesmos articulam-se de forma estratégica com o cenário desejado, junto aos meios necessários para que o cenário seja alcançado. A partir disso imbricam-se os papeis indispensáveis dos agentes (instituições e pessoas) e os serviços que deverão ser envolvidos para o sucesso da proposta, tais como: Ÿ Atualizações sistemáticas dos dados informações: para que as transformações sejam incorporadas em um instrumento dinâmico 67 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Ÿ Ÿ Ÿ Ÿ como deve ser um ZEE que se propõe nãoestático; Captação e otimização de recursos: de modo que garanta a continuidade de ações; Elaboração de banco de dados: dinâmico que permita o uso de informações atualizadas; Ações pautadas em programas de monitoramento: A articulação em forma de programas permite o tratamento integrado entregado dos atributos; Avaliação dos programas e do ZEEU: de modo que a realidade não seja engessada pela burocratização excessiva de um instrumento político, mas que responda de maneira dinâmica ao movimento da sociedade. Nesse sentido, o ZEEU das ressacas constitui um detalhamento no macrodomínio do sistema das áreas inundáveis da Planície Costeira do Estado do Amapá, definido na política estadual de ordenamento territorial; compondo a Subzona Campos Inundáveis e a Zona de Água Superficiais, do ZEE Costeiro no âmbito do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro. A primeira fase da construção do ZEEU constituise na discussão, em reuniões, com a equipe técnica do projeto para o refinamento da proposta e espacialização das sugestões. Com as experiências adquiridas ao longo dos trabalhos realizados nas áreas de ressacas, os pesquisadores, técnicos e auxiliares puderam contribuir para o embasamento das propostas. Posteriormente, o material compilado foi disponibilizado em meio digital para que novos aportes técnicos da equipe pudessem ser acrescentados ao documento, que está sendo apresentado. Esta é uma proposição dinâmica que está disponível para e sugestões de todos. As zonas foram definidas preferencialmente de acordo com as necessidades de proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, sendo que nas áreas de urbanização consolidada as propostas visam a melhoria das condições de vida da população residente. A instituição de zonas foi orientada pelos princípios da utilidade e da simplicidade, de modo a 68 Relatório Técnico Final facilitar a definição de seus limites e restrições pelo Poder Público, bem como sua compreensão pelos cidadãos. Adicionalmente, os dados do meio físico, flora e dos levantamentos socioambientais auxiliaram no estabelecimento das zonas. Como exemplo, pode-se citar a deterioração da qualidade da água, da flora e a baixa diversidade de peixes na ressaca dos Congós. Em termos de espacialização, todas as cartas referentes ao ZEEU encontram-se anexados ao presente relatório e a descrição da articulação cartográfica está descrita adiante. Destaca-se que a escala cartográfica de trabalho adotada no projeto foi de 1:10.000. 4.1. Conceituação das zonas e subzonas das áreas de ressacas de Macapá e Santana - Zona Destinada à Proteção Ambiental – Z1: Zona Destinada à Proteção Ambiental é formada por áreas com nenhuma ou baixa ocupação dentro e no entorno das ressacas e que apresentam baixo grau de poluição ambiental, cumprindo com suas funções ecológicas. - Zona Sob Pressão da Ocupação Urbana – Z2: Zona Sob Pressão da Ocupação Urbana é formada áreas sem ocupação dentro das ressacas, mas que se encontram sob pressão devido à ocupação urbana e oferta de serviços em seu entorno. - Zona em Processo de Ocupação Urbana – Z3: Zona em Processo de Ocupação Urbana é formada por áreas com médio adensamento populacional e de construções dentro e no entorno das ressacas, apresentando indícios de ocupação recente ou em processo de ocupação atual. Zona com Ocupação Urbana Consolidada – Z4: Zona com Ocupação Urbana Consolidada é formada por áreas com médio a alto adensamento populacional e de construções dentro e no entorno das ressacas, apresentando paisagens altamente antropizadas, alto grau de poluição sanitária e uma multiplicidade de usos e ocupação. PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Zona de Interesse Especial – Z5: Zona de Interesse Especial é formada por áreas destinadas a usos específicos definidos institucionalmente em categorias especiais. Incluem-se nesta zona as áreas militares, unidades de conservação, áreas tombadas como sítios históricos e arqueológicos, comunidades tradicionais e/ou remanescentes de quilombos, faixa de servidão para linhas de transmissão e faixa de pista de rolamento de Rodovia BR-210 Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte - DNIT. Zona Estruturada – Z6: Zona Estruturada é formada por áreas com espaços múltiplos de lazer, atividades acessíveis a diferentes grupos sociais e espaços planejados, apresentando nível elevado de condições sanitárias. Zona Industrial e Empresarial – Z7: Zona Industrial e Empresarial é formada por áreas onde estão instalados empreendimentos produtivos e/ou serviços diversos. Esta Zona é formada por quatro subzonas: I. Subzona destinada a atividades de aquicultura; II. Subzona destinada a atividade oleiro-cerâmica; III. Subzona destinada a atividades de agricultura; IV. Subzona destinada a atividades de comércio e serviços. 4.2. Apresentação das zonas e subzonas das áreas de ressacas de Macapá e Santana 4.2.1. Zona Destinada à Proteção Ambiental – Z1 Os cenários desejados para essa zona são: I. Controle do desenvolvimento de atividades que, isoladamente ou em conjunto, coloquem em risco a estabilidade ambiental, altamente dependente dos regimes hidrodinâmicos locais; II. Uso dos estoques faunísticos somente como suprimento alimentar pelas populações residentes nas proximidades da área e sem acesso a outras fontes protéicas, mediante autorização do órgão competente; III. Manutenção do ambiente intacto, mesmo durante o período de estiagem; IV. Manutenção e recuperação e da biodiversida- Relatório Técnico Final de; V. Recuperação dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais; VI. Recuperação da beleza cênica; VII. Preservação das cabeceiras dos rios que alimentam as ressacas; VIII. Desocupação das áreas dentro e conservação entorno das ressacas. São proibidas nessa zona: I. Implantação de obras ou serviços que impliquem em modificações na conformação fisiográfica; II. Lançamento de resíduos de qualquer natureza no solo e nos corpos d'água; III. Agricultura; IV. Pecuária; V. Uso de substâncias tóxicas para qualquer fim; VI. Realização de queimadas; VII. Abertura de canais de drenagem; VIII. Ocupação urbana; IX. Pesca de arrasto e com a utilização de venenos, ervas ou substâncias químicas de qualquer natureza; X. Introdução de espécies exóticas; XI. Obstrução de canais ou cursos d'água; XII. Supressão de espécies nativas da flora e da fauna; XIII. Extração de argila. São toleradas com restrição nessa zona: I. Extrativismo vegetal e animal somente com fins de subsistência da população residente nas proximidades da área e mediante autorização do órgão competente; II. Pesca esportiva condicionada ao licenciamento e fiscalização pelo órgão competente. São toleradas nessa zona: I. Turismo contemplativo. São incentivadas nessa zona: I. Controle de espécies invasoras; II. Realização de projetos de educação ambiental; III. Atividades para prevenção de queimadas; IV. Pesquisa científica; 69 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final V. Ações que garantam a integridade do ambiente de modo que possibilite a reprodução, alimentação e repouso de aves e de quelônios e refúgio de mamíferos; VI. Monitoramento da qualidade da água pelo órgão ambiental competente; VII. Realização de projetos de recuperação das margens das ressacas. X. Introdução de espécies exóticas; XI. Obstrução de canais ou cursos d'água; XII. Supressão de espécies nativas da flora e da fauna; XIII. Utilização de fossa negra ou qualquer outro tipo de instalação que não esteja de acordo com os padrões sanitários; XIV. Extração de argila. 4.2.2. Zona Sob Pressão da Ocupação Urbana – Z2 São toleradas com restrição nessa zona: I. Extrativismo vegetal e animal somente com fins de subsistência da população residente nas proximidades da área e mediante autorização do órgão competente; II. Pesca esportiva condicionada ao licenciamento e fiscalização pelo órgão competente. Os cenários desejados para essa zona são: I. Controle do desenvolvimento de atividades que, isoladamente ou em conjunto, coloquem em risco a estabilidade ambiental, altamente dependente dos regimes hidrodinâmicos locais; II. Uso dos estoques faunísticos somente como suprimento alimentar pelas populações residentes no entorno das ressacas e sem acesso a outras fontes protéicas, mediante autorização do órgão competente; III. Manutenção do ambiente intacto mesmo durante o período de estiagem; IV. Manutenção e recuperação da biodiversidade; V. Recuperação dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais; VI. Recuperação da beleza cênica; VII. Preservação das cabeceiras dos rios que alimentam as ressacas; VIII. Contenção do avanço do processo de ocupação para dentro das áreas de ressacas. São proibidas nessa zona: I. Implantação de obras ou serviços que impliquem em modificações na conformação fisiográfica; II. Lançamento de resíduos de qualquer natureza no solo e nos corpos d'água; III. Agricultura; IV. Pecuária; V. Uso de substâncias tóxicas para qualquer fim; VI. Realização de queimadas; VII. Abertura de canais de drenagem; VIII. Ocupação dentro das áreas de ressacas; IX. Pesca de arrasto e com a utilização de venenos, ervas ou substâncias químicas de qualquer natureza; 70 São toleradas nessa zona: I. Turismo contemplativo; II. Plantio de hortas sem fins comerciais; III. Criação de pequenos animais. São incentivadas nessa zona: I. Controle de espécies invasoras; II. Realização de projetos de educação ambiental; III. Produção de espécies nativas; IV. Prevenção de queimadas; V. Desenvolvimento de programas comunitários para coleta de lixo; VI. Pesquisa científica; VII. Ações que garantam a integridade da área de modo que possibilite a reprodução, alimentação e repouso de aves e de quelônios e refúgio de mamíferos; VIII. Replantio de espécies nativas; IX. Monitoramento da qualidade da água pelo órgão ambiental competente; X. Realização de projetos de recuperação das margens das ressacas; XI. Estabelecimento de parcerias entre as instituições governamentais e a sociedade civil organizada, visando à proteção destes ambientes; XII. Manutenção dos remanescentes de mata ciliar ao longo das ressacas. 4.2.3. Zona em Processo de Ocupação Urbana – Z3 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Os cenários desejados para essa zona são: I. Controle do desenvolvimento de atividades que, isoladamente ou em conjunto, coloquem em risco a estabilidade ambiental, altamente dependente dos regimes hidrodinâmicos locais; II. Uso dos estoques faunísticos somente como suprimento alimentar pelas populações residentes no entorno das ressacas e mediante autorização do órgão competente; III. Manutenção do ambiente intacto mesmo durante o período de estiagem; IV. Recuperação e manutenção da biodiversidade; V. Recuperação dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais; VI. Recuperação da beleza cênica; VII. Preservação das cabeceiras dos rios que alimentam as ressacas. VIII. Melhoria da qualidade de vida da população residente no entorno das ressacas; IX. Manutenção da ocupação somente em áreas não sujeitas à inundação. São proibidas nessa zona: I. Implantação de obras ou serviços que impliquem em modificações na conformação fisiográfica; II. Lançamento de resíduos de qualquer natureza no solo e nos corpos d'água; III. Agricultura extensiva; IV. Pecuária; V. Uso de substâncias tóxicas para qualquer fim; VI. Realização de queimadas; VII. Abertura de canais de drenagem; VIII. Ocupações dentro das ressacas; IX. Pesca de arrasto e com a utilização de venenos, ervas ou substâncias químicas de qualquer natureza; X. Introdução de espécies exóticas; XI. Utilização de fossa negra ou qualquer outro tipo de estrutura que não esteja de acordo com os padrões sanitários; XII. Extração de argila. São toleradas com restrição nessa zona: I. Extrativismo vegetal e animal somente com Relatório Técnico Final fins de subsistência da população residente no entorno da área e mediante autorização do órgão competente; II. Pesca esportiva condicionada ao licenciamento e fiscalização pelo órgão competente. São toleradas nessa zona: I. Turismo contemplativo; II. Plantio de hortas sem fins comerciais; III. Criação de pequenos animais. São incentivadas nessa zona: I. Controle de espécies invasoras; II. Realização de projetos de educação ambiental; III. Produção de espécies nativas; IV. Prevenção de queimadas; V. Desenvolvimento de programas comunitários para coleta de lixo; VI. Pesquisa científica; VII. Ações que garantam a integridade da área de modo que possibilite a reprodução, alimentação e repouso de aves e de quelônios e refúgio de mamíferos; VIII. Replantio de espécies nativas; IX. Monitoramento da qualidade da água pelo órgão ambiental; X. Monitoramento socioambiental; XI. Desenvolvimento de projetos de recuperação das margens das ressacas; XII. Estabelecimento de parcerias entre as instituições governamentais e a sociedade civil organizada objetivando a proteção dessas áreas; XIII. Promoção da recuperação ambiental, revertendo os processos de degradação das condições físicas, químicas e biológicas do ambiente; XIV. Manutenção dos remanescentes de mata ciliar ao longo das ressacas. 4.2.4. Zona com Ocupação Urbana Consolidada – Z4 Os cenários desejados para essa zona são: I. Área residencial com ordenamento urbano e regularização fundiária concluída; II. Inexistência de assentamentos subnormais; 71 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá III. Existência de serviços públicos com qualidade; IV. Livre circulação de pedestres com trânsito ordenado; V. Ciclovias e passarelas para o passeio público; VI. Praças arborizadas com áreas para entretenimento e laser; VII. Diminuição do déficit habitacional; VIII. Controle social por meio da participação direta do cidadão. São proibidas nessa zona: I. Implantação de obras ou serviços inadequados às condições bioclimáticas locais e aos ambientes de ressaca; II. Aterro sem controle; III. Lançamento de resíduos de qualquer natureza no solo e nos corpos d'água; IV. Construção e utilização de fossas negras; V. Construção de habitações em desacordo com plano urbanístico; VI. Ocupação desordenada; VII. Especulação imobiliária; VIII. Construção de edificações com mais de dois pavimentos; IX. Intervenções urbanísticas sem a prévia consulta pública. São toleradas com restrição nessa zona: I. Intervenção na infraestrutura mediante cumprimento da legislação ambiental; II. Intervenções urbanísticas mediante consulta pública. São toleradas nessa zona: I. Uso residencial. São incentivadas nessa área: I. Regularização fundiária; II. Urbanização da área para requalificação do padrão de ordenamento urbano e melhoria da mobilidade e acessibilidade, ajustando-as ao entorno; III. Implantação de infraestrutura de suporte à moradia (equipamentos de base e de serviços); IV. Elevação dos padrões sanitários e estéticos; V. Adoção de soluções arquitetônicas e urbanísticas adequadas às condições bioclimáticas locais 72 Relatório Técnico Final (insolação, ventilação e clima) e aos condicionantes naturais de ambientes de ressaca, utilizando-se de soluções tecnológicas o menos impactantes possível; VI. Preservação das áreas mais profundas, nas quais o aterramento não seja a solução adequada, visando à manutenção da dinâmica hidrológica; VII. Envolvimento da população na elaboração das propostas de intervenção nas ressacas; VIII. Criação de conselho gestor composto pelos moradores para o controle social na área. IX. Reserva de uma área para captação das águas das chuvas e dos canais. 4.2.5. Zona de Interesse Especial – Z5 Os cenários desejados para essa zona são: I. Manutenção das características do ambiente natural; II. Manutenção do ambiente intacto mesmo durante o período de estiagem; III. Manutenção e recuperação da biodiversidade; IV. Manutenção e/ou recuperação da qualidade dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais; V. Destinação de áreas para contemplação da beleza cênica; VI. Garantia da reprodução de espécies em áreas de cabeceiras dos rios. São proibidas nessa zona: I. Implantação de obras ou serviços que impliquem em modificações na conformação fisiográfica; II. Lançamento de resíduos de qualquer natureza no solo e nos corpos d'água; III. Agricultura extensiva; IV. Pecuária no perímetro urbano; V. Uso de substâncias tóxicas para qualquer fim; VI. Realização de queimadas; VII. Abertura de canais de drenagem; VIII. Pesca de arrasto e com a utilização de venenos, ervas ou substâncias químicas de qualquer natureza; IX. Introdução de espécies exóticas; X. Obstrução de canais ou cursos d'água; XI. Supressão de espécies nativas da flora e da fauna. PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá São toleradas com restrição nessa zona: I. Extrativismo vegetal e animal condicionado ao tipo de uso definido para cada categoria e de acordo com a legislação ambiental; II. Exploração de produtos não madeireiros condicionada ao cadastro ambiental e ao credenciamento do manejo; III. Pesca esportiva condicionada ao licenciamento e fiscalização; IV. Treinamento militar desde que esta atividade não ofereça riscos ao equilíbrio ambiental. São toleradas nessa zona: I. Turismo contemplativo; II. Horticultura; III. Criação de pequenos animais; São incentivadas nessa zona: I. Controle de espécies invasoras; II. Execução de projetos de educação ambiental; III. Prevenção de queimadas; IV. Pesquisa científica e educação ambiental; V. Agricultura sustentável; VI. Monitoramento da qualidade da água pelo órgão ambiental; VII. Projetos de recuperação das margens dos rios; Nas áreas especiais deverá ser aplicada legislação específica definida para cada uma delas. Poderão ser criadas novas unidades de conservação sempre que identificados espaços territoriais de relevante interesse ambiental, levando-se em consideração as legislações federal, estadual e municipal vigentes. Os Sítios arqueológicos, sempre que identificados, ficarão sujeitos ao regime de proteção do Instituto de Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) e demais normas pertinentes ao assunto. 4.2.6. Zona Estruturada – Z6 Relatório Técnico Final Os cenários desejados para essa zona são: I. Ambiente em equilíbrio, dotado de seus atributos naturais; II. Existência de áreas de entretenimento e lazer; III. Passeios em veículos não motorizados, adequados às condições das ressacas; IV. Segurança no acesso às áreas para banhistas. São proibidas nessa zona: I. Descaracterização do ambiente; II. Implantação de obras que alterem o fluxo hídrico; III. Circulação de veículos motorizados, com exceção dos usados pelos órgãos fiscalizadores ou de pesquisa devidamente autorizados; IV. Caça e pesca, com exceção de pesque-pague devidamente licenciado; V. Retirada de argila e/ou abertura de tanques para aquicultura; VI. Lançamento de resíduos de qualquer natureza, no entorno e dentro das ressacas; VII. Exposição da vertente das ressacas a processos de erosão ou movimentos de massa não naturais; VIII. Implantação de espaços de lazer em áreas não consolidadas; IX. Uso residencial; X. Especulação imobiliária; XI. Introdução de espécies exóticas; São toleradas com restrição nessa zona: I. Infraestrutura de apoio, obedecendo ao afastamento mínimo da margem da ressaca estabelecido na legislação; II. Supressão da vegetação, condicionada ao licenciamento e fiscalização; III. Ocupação da lâmina d'água, condicionada ao licenciamento e fiscalização. São toleradas nessa zona: I. Delimitação do perímetro utilizado dentro das ressacas; II. Turismo contemplativo. São incentivadas nessa zona: I. Recuperação de áreas alteradas pelas ativida- 73 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá des humanas; II. Criação de espaços de acesso ao público, sem segregação de grupos sociais; III. Controle do uso excessivo do ambiente; IV. Reposição da vegetação com espécies nativas; V. Implantação de programas de educação ambiental. 4.2.7. Zona Industrial e Empresarial – Z7 Os cenários desejados para essa zona são: I. Regularização dos empreendimentos; II. Recuperação das áreas usadas pelos empreendimentos; III. Compensação à comunidade pelas perdas decorrentes da presença dos empreendimentos. São proibidas nessa zona: I. Implantação de obras ou serviços que impliquem em modificações na conformação fisiográfica, sem o cumprimento da legislação ambiental; II. Lançamento de resíduos de qualquer natureza no solo e nos corpos d'água; III. Agricultura; IV. Pecuária no perímetro urbano; V. Uso de substâncias tóxicas para qualquer fim; VI. Realização de queimadas; VII. Abandono das áreas utilizadas sem a devida recuperação. São toleradas com restrição nessa zona: I. Utilização das cavas resultantes da extração da argila para aquicultura de espécies nativas. II. Implantação de infraestrutura de apoio, obedecendo ao afastamento mínimo das margens da ressaca estabelecido na legislação; III. Supressão de vegetação, condicionada ao licenciamento ambiental; IV. Ocupação da lâmina d'água, condicionada ao licenciamento e fiscalização ambiental. São toleradas nessa zona: I. Delimitação do perímetro utilizado dentro das ressacas. São incentivadas nessa zona: I. Incorporação de práticas sustentáveis ao 74 Relatório Técnico Final processo produtivo; II. Plantio de hortas familiares; III. Implantação de Programas de Capacitação para a comunidade visando às atividades produtivas sustentáveis. A Zona Industrial e Empresarial é subdividida em quatro subzonas: V. Subzona destinada a atividades de aquicultura; VI. Subzona destinada a atividade oleirocerâmica; VII. Subzona destinada a atividades de agricultura; VIII. Subzona destinada a atividades de comércio e serviços. 4.2.8. Recomendações Gerais Em todas as zonas são incentivadas atividades referentes à: I. Criação e formalização de organizações sociais; II. Processo de capacitação para associativismo; III. Capacidade gerencial das organizações; IV. Criação de Conselhos Comunitários; V. Capacitação e qualificação da mão-de-obra local para as atividades produtivas urbanas, novas e tradicionais. 4.3. Descrição dos produtos cartográficos elaborados para a base de dados espaciais 4.3.1. Área do Projeto A delimitação da área do projeto, ilustrado na Figura 33, para definir zoneamento ecológico e econômico das áreas de ressacas busca constituir uma referência espacial que alcance as dinâmicas socioambientais estabelecidas em relação à região metropolitana de Macapá e Santana. A área total pré-estabelecida para as áreas de ressacas urbanas nessa região metropolitana corresponde a 32,74 km² com um perímetro total de 382,99 km. Esta área divide-se em dois territórios distintos o primeiro corresponde à área urbana de Macapá contendo 26,56 km² (81,14%) e perímetro de 306,38 km, com as seguintes ressacas: Lago da Vaca, Jandiá, Pacoval, Infraero, Açai, Ramal km 9, PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final Figura 33. Delimitação da área do projeto para a elaboração dos produtos cartográficos. Marabaixo, Coração, Lagoa dos Indios, Sá Comprido,Chico Dias, Nova esperança, Congós, Pedrinhas e Tacacá. O segundo constitui a área urbana de Santana com superfície de 6,17 km² (18,86%) e perímetro de 83,20 km, composta das ressacas Funda, Fonte Nova, Paraíso, Vaga-lume e Provedor. esquadrinhada em 13 quadrículas, com o tamanho de 0º 3' 45" (6,906 km) de longitude por 0º 2' 30" (4,604 km) para latitude, articuladas a partir da carta ao milionésimo obedecendo aos critérios metodológicos propostos pelo Conselho Nacional de Cartografia - CONCAR, pelo IBGE, conforme Figura 34. 4.3.2. Escala de Projeto As referências espaciais adotadas para o projeto trabalham com o sistema de projeção Universal Transversal de Mercator – UTM - e Datum WGS 84, enquadradas na zona 22 hemisfério norte. Por tratar-se de região de baixa latitude esta projeção oferece menores índices de distorção para geometrias e posicionamentos. Com vistas a elaborar uma base para o nível de detalhamento necessário ao planejamento urbano, a escala do projeto busca adaptar-se a um nível de interpretação de dados sócio espaciais na ordem de 1:10.000. Com essa escala de mapeamento a área foi 75 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Figura 34. Articulação das cartas na escala de 1:10.000 na região metropolitana de Macapá e Santana. 76 Relatório Técnico Final 5. PROGRAMA DE MONITORAMENTO DAS ÁREAS DE RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA Jefferson Miranda PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá A palavra "monitorar" significa "acompanhar, avaliar e controlar dados fornecidos por aparelhagem técnica" (www.dicionarioweb.com.br). O monitoramento ambiental envolve a observação e o registro regular de dados ambientais para a verificação do cumprimento de um ou mais objetivos em especial. No presente caso, consiste em coletar, analisar e avaliar as condições naturais e o nível de uso e ocupação das áreas de ressacas. Em termos gerais as atividades de monitoramento podem e devem: Ÿ identificar os problemas e ajudar na solução dos mesmos; Ÿ verificar se os recursos aplicados estão sendo utilizados adequadamente; Ÿ garantir que as metas e objetivos traçados sejam executados corretamente e em tempo definido; Ÿ servir de referência para estudos posteriores. A proposta aqui apresentada tem a intenção de traçar ações para o controle ambiental do uso e ocupação das áreas de ressacas de Macapá e Santana. Mais do que isso, deve ser internalizado como uma referência para o planejamento e execução de atividades de forma articulada e integrada entre os participantes, em especial as instituições ambientais federais, estaduais e municipais no estado do Amapá. 5.1. Contextualização e Justificativa Em Macapá-AP (capital) e Santana-AP, as duas principais cidades do Estado, a ocupação das áreas úmidas vem ocorrendo de maneira totalmente desordenada. A ocupação para fins de moradia é a mais perceptível e a mais impactante, ocasionada principalmente pela falta de planejamento urbano e pela explosão demográfica, representada por uma taxa anual de crescimento em torno de 3,44% (IBGE, 2011), três vezes a média no Brasil. As condições de vida das pessoas que residem em áreas de ressacas, morando em palafitas, são péssimas e o avanço da ocupação aumenta a cada dia que passa. Relatório Técnico Final Além da moradia, outros usos impactantes como a extração de argila para olarias, a criação de búfalos em áreas da periferia urbana e a piscicultura ocorrem de forma indiscriminada. As queimadas, muito comuns na época de estiagem (agosto a dezembro), causadas em sua maioria de modo intencional para a "limpeza" e renovação da pastagem para os búfalos causam sérios prejuízos ambientais. Outras atividades tais como a caça e pesca de subsistência, a extração vegetal, a navegação, e a recreação e turismo também são realizadas nas áreas de ressacas. A legislação aplicada à proteção ambiental, e ao uso e ocupação das áreas de ressacas em todos os âmbitos, seja federal, estadual ou municipal, se cumpridas fielmente evitaria a grande maioria dos conflitos existentes nas zonas urbanas de Macapá e Santana. Tal arcabouço legal já apresenta de forma completa as restrições e permissões referentes às áreas úmidas. Destacam-se a aqui especificamente: a Lei Estadual Nº 0835 que "dispõe sobre a ocupação urbana e periurbana, reordenamento territorial, uso econômico e gestão ambiental das áreas de ressaca e várzea localizadas no Estado do Amapá" e que também possui em seu conteúdo ações de preservação das áreas de ressacas; e o Plano Diretor do Município de Macapá que de forma enfática cita nada menos do que 67 vezes a palavra "ressaca" fornecendo subsídios legais suficientes para coibir qualquer agressão a esses ambientes. Vários estudos com observações gerais e de pesquisa científica já foram realizados, mas que tiveram grande impulso no início do século XXI e que obviamente servirão de embasamento para as atividades de monitoramento. No começo da década de 2000 a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado do Amapá – SEMA demonstrou que naquele ano, 32 % das margens das ressacas nas duas cidades já estavam totalmente descaracterizadas com relação ao seu estado natural (Silva, 2000). Maciel (2001) realizou um diagnóstico preliminar abordando aspectos físicos e de biodiversidade, identificando problemas 79 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá sociais e ambientais, sua conseqüências e propostas de soluções. Em um trabalho organizado por Takiyama e Silva (2004) seguindo uma das recomendações de Maciel (2001) foi realizado o diagnóstico abrangendo os meios físico, biótico e antrópico de algumas ressacas de Macapá e Santana. As ressacas trabalhadas incluem as da bacia do igarapé da Fortaleza e abrangem as duas principais cidades do Estado onde o curso d'água principal permeia entre os dois municípios, que através dos seus "braços", constituem as áreas de ressacas. As ressacas da bacia do rio Curiau também foram estudadas, sendo estas pertencentes a uma área de Proteção Ambiental, a APA do Curiau. Após a produção dos resultados dos estudos técnicos houve muita discussão acerca dos conflitos identificados e algumas ações foram realizadas, principalmente por parte do poder público. Em meados da década de 2000, ocorreu uma desaceleração das discussões e consequentes intervenções por parte dos órgãos ambientais; com isso, o avanço da ocupação das áreas de ressacas ainda continua sendo o maior problema nas cidades de Macapá e Santana. Entre os anos de 2004 a 2006, havia um Programa do Governo do Estado do Amapá junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (GEA-BID), que tinha dentre seus objetivos, o fortalecimento da gestão ambiental urbana e a preservação dos atributos ambientais estratégicos, através do componente "Recuperação e Proteção de áreas Úmidas" a elaboração do Plano Diretor de Recuperação e Proteção de ressacas urbanas (PD-Ressacas). Para a construção desse trabalho vislumbrou-se a elaboração de um documento técnico através da contratação de consultoria, que seria supervisionado e aprovado pelo Governo do Estado, por meio de uma Comissão de Supervisão e Acompanhamento instituída e coordenada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA). Entretanto, não foi dada sequência à execução do plano. Durante mais de 10 anos, o Ministério Público do Estado do Amapá, através da PRODEMAC vem tentando, através de iniciativa própria, lidar com a complexidade de problemas nas áreas de ressacas, mas a 80 Relatório Técnico Final falta de articulação entre os poderes constituídos, as fragilidades institucionais e a dinâmica populacional são empecilhos que dependem da vontade e da responsabilidade de todos os atores envolvidos. Em 2009, já com muito atraso, iniciaram-se as atividades de execução do projeto ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO URBANO DAS ÁREAS DE RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA, ESTADO DO AMAPÁ pelo IEPA, financiado pelo Ministério Público do Estado do Amapá; o projeto ainda encontra-se em execução devido aos empecilhos oriundos na inoperância do poder público na aquisição de bens e serviços, a qual causou sérios atrasos na execução das atividades previstas num cronograma inicial de 18 meses. A previsão de conclusão ficou adiada para o primeiro semestre de 2011. Já se passaram vários anos desde o sancionar da Lei Estadual 835/2004 e das Leis que instituem os Planos Diretores de Macapá e Santana e muito pouco se avançou nas ações de proteção das ressacas de Macapá e Santana. Alguns esforços foram empreendidos, mas de forma pulverizada e sem nenhum caráter de integração entre os envolvidos sejam eles da sociedade civil, órgãos públicos e do terceiro setor. Chega o momento em que não é mais tolerável o poder público servir de espectador dos acontecimentos. Deve-se encarar o problema com responsabilidade, visando a integração das ações e planejando metas a curto, médio e longos prazos, contemplando com seriedade o acompanhamento, avaliação e as cobranças de forma efetiva. 5.2. Objetivos do programa O objetivo Programa de Monitoramento das Áreas de Ressacas nas áreas urbanas de Macapá e Santana consiste em desenvolver as seguintes atividades de forma interinstitucional e integrada: Ÿ Garantir o reconhecimento do ZEEU como instrumento de planejamento e execução de atividades voltadas à proteção ambiental e ao uso adequado das áreas de ressacas. Ÿ Realizar atividades de monitoramento da fauna, flora, meio físico e estudos socioambientais PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Ÿ Ÿ Ÿ Ÿ Ÿ Ÿ Ÿ Relatório Técnico Final para manutenção das ressacas não ocupadas; Produzir atualização das cartas de vegetação, uso e ocupação e qualidade ambiental das áreas de ressacas; Executar estudos socioambientais nas ressacas ocupadas; Realizar atividades de recuperação ambiental das áreas futuramente desocupadas; Alimentar o Banco de Dados de informações dentro de um SIG; Realizar a avaliação periódica das ações de monitoramento; Analisar os planos, projetos, infraestruturas existentes e projetadas, e a legislação urbana e ambiental relevantes ao tema visando identificar conflitos e complementaridades; Qualificar e quantificar os impactos nas ressacas causados por atividades econômicas e empresariais. Ÿ Fornecer dados para utilização sustentável das áreas de ressacas. 5.3. Estratégia de ação A estratégia de ação está centrada no esquema mostrado na Figura 35. 5 . 3 . 1 . C o m p o n e n t e s d o Pr o g r a m a d e Monitoramento das ressacas de Macapá e Santana. Componente 1: Fortalecimento institucional Subcomponente 1.1. Diagnóstico institucional. Constitui na realização do diagnóstico Institucional dos órgãos ambientais em termos de infraestrutura e quadro de pessoal técnico confrontado com as demandas e atribuições de cada um. A SEMA, IMAP, Batalhão Ambiental, secretarias municipais Figura 35. Esquema da estratégia de ação do Programa de Monitoramento das ressacas de Macapá e Santana. Componente 1. Fortalecimento institucional Componente 2. Observação e registro Diagnóstico institucional Aquisição de dados Articulação institucional Alimentação do banco de dados Mobilização de recursos Geração de produtos Componente 3. Avaliação do Monitoramento Banco de dados 81 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá de meio ambiente deverão obrigatoriamente apresentar ou, no caso, realizar essa ação para verificação das necessidades de fortalecimento institucional. Subcomponente 1.2: Articulação Institucional. Deve-se conhecer, dentro do planejamento dos órgãos ambientais, qual é a forma de articulação prevista entre os entes públicos, com o setor produtivo e empresarial e com a sociedade em geral e se, no caso do monitoramento, como melhorar e dar efetividade às interações. Para isso, é necessária também a identificação de intervenções dos vários setores nas áreas de ressacas e entorno e avaliação dos planos, projetos, infraestruturas existentes e projetadas, e a legislação urbana e ambiental relevantes ao tema visando identificar conflitos e comple-mentaridades. Incluem-se, atrelado ao poder público ambiental, atividades de comando e controle, comunicação e educação ambiental e monitoramento. Subcomponente 1.3. Mobilização de recursos. Entidades estaduais e municipais deverão demonstrar quais as previsões orçamentárias e de recursos humanos já existem para as ações de monitoramento das áreas de ressacas. Dessa forma, deverão traçar um plano estratégico referente com a finalidade de se otimizar os recursos (também humanos) previstos. Os financiamentos oriundos de fundos como o FERMA, o de recursos hídricos, a Fundação Tumucumaque, além de compensações ambientais e multas poderão auxiliar na execução do presente programa assim como garantir a perenidade do mesmo. Outras fontes também devem ser vislumbradas originadas de outros setores tais como Ciência e Tecnologia, Educação e Saúde. Subcomponente 1.4. Modelagem e elaboração do banco de dados socioambientais. Sabe-se que o Sistema de Informações Ambientais Georreferenciadas (SIAG) utilizado pela SEMA no passado está desativado. Deve-se então, convergir esforços para a construção de um novo banco de dados atrelado a base cartográfica do estado que está ainda na fase de discussão da sua formatação. 82 Relatório Técnico Final Uma consultoria será necessária para a modelagem e elaboração do banco de dados, que deverá ser realizada em conjunto com as instituições participantes do monitoramento. É desejável que outros setores e instituições possam fazer uso e também alimentar a base de dados. Componente 2. Observação e registro Subcomponente 2.1. Aquisição de dados e produção de resultados. Neste componente, o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá e a Universidade Estadual do Estado do Amapá ficarão à frente das ações. Demais instituições como EMBRAPA, UNIFAP e demais instituições de ensino superior poderão colaborar nos estudos. Diagnósticos em períodos regulares dos meios físico e biótico assim como os levantamentos socioambientais deverão ser realizados periodicamente para a verificação da integridade natural das ressacas e da condição de vida das populações residentes. A estratégia adotada deverá seguir as recomendações do ZEEU das ressacas. Também se valerão desse componente as áreas destinadas à recuperação ambiental as quais deverão receber sugestões de medidas mitigatórias baseadas nos diagnósticos técnico-científicos. Imagens de sensoriamento remoto orbitais de alta resolução deverão ser adquiridas e as cartas temáticas de vegetação, uso e ocupação e qualidade ambiental deverão ser atualizadas. Subcomponente 2.2. Alimentação do banco de dados. Os resultados obtidos na aquisição de dados deverão alimentar o banco de dados, de responsabilidade da Secretaria de Estado do Meio Ambiente através da Coordenadoria de Geoprocessamento e Tecnologia da Informação. De maneira óbvia, a interlocução desta Secretaria com os órgãos de ensino e pesquisa deverá ser de caráter assíduo e permanente. Já está em discussão a formatação de uma base cartográfica única para o Amapá, a qual, além de abrigar as informações geradas na presente proposta poderá promover a função da integração das várias bases de dados existentes de diversos setores. Nesta fase, as ações de comando PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final e controle, inerente aos órgãos ambientais assim como as ações de comunicação e educação ambiental também deverão ser inseridas na base de dados. Componente 3. Avaliação das ações para o monitoramento Após a sistematização, a avaliação do monitoramento será realizada, a partir dos resultados espacializados, por um grupo interinstitucional e multidisciplinar, por zonas, conforme delimitadas no ZEEU das condições das áreas de ressacas, e, a partir de recomendações, terá que se responsabilizar pela iniciativa das intervenções. Os órgãos ambientais terão as demandas das intervenções e o COEMA poderá auxiliar na iniciativa, justificada pela premissa da priorização de resolução dos problemas de ocupação das ressacas. O Quadro 2 adiante tenta esboçar as ações necessárias para a implantação do Programa de Monitoramento com os respectivos responsáveis e as estimativas de custos. Cabe frisar novamente que o sucesso do monitoramento não pode contar com atividades isoladas e esporádicas, mas depende da articulação e participação efetiva de várias instituições. 83 Quadro 2 PROJETO - Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Areas de ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá Relatório Técnico Final REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, J.S.; SILVA, L.M.S. 2004. Caracterização e Avaliação das Condições de Vida das Populações Residentes nas Ressacas Urbanas dos Municípios de Macapá e Santana. pp. 165-236. In: Takiyama, L.R. ; Silva, A.Q. da (orgs.). Diagnóstico das Ressacas do Estado do Amapá: Bacias do Igarapé da Fortaleza e Rio Curiaú, Macapá-AP, CPAQ/IEPA e DGEO/SEMA, p.165-230. ARAUJO P.T.M.; MELO, A.S.S.A. 2008. Instituições ambientais da amazônia legal brasileira:um estudo das d i f e r e n ç a s e m n í v e l m u n i c i p a l . 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