Memórias de São José
A noite já caia.
Depois de uma longa jornada, chegamos eu e
Maria à região de Judá.
Os pés cansados, sujos pela areia do longo
caminho que percorremos queriam descanso.
É noite em Belém, precisamos descansar,
disse à minha esposa.
Maria, já cansada, começara e sentir que
aquela noite não seria igual às outras,
O menino dava sinais que queria nascer.
Meu Deus, mas como? Não agora! Não sem
um lugar em que Maria possa descansar, não sem
um lugar digno para teu filho nascer!
O barulho das portas fechando doem, doem
muito. Meu Deus, teu filho não tem onde nascer!
Por favor, deixem-nos entrar! Minha esposa está grávida! Por favor!
Senhora, por acaso tens um lugar na hospedaria? Qualquer lugar!Só queremos um lugar para que
minha esposa possa dar à luz o nosso filho.
Não, por favor, não feche a porta! Por favor, por Deus!
Maria, não se preocupe. Deus dará um jeito. Não chore!
- Senhor, me desculpe, mas não pude deixar de ouvir que sua esposa está grávida. Não sou nada
aqui na hospedaria, não tenho autoridade para recebê-los, mas, se o senhor quiser, tem um lugarzinho no
cocho. Pelo menos sua esposa não dará à luz a seu filho, sem abrigo – disse um bom homem.
Seguimo-lo. Que lugar rico. Os animais já haviam limpado o lugar, como se adivinhassem quem ali
nasceria. Numa manjedoura, ainda restava um resto de capim, deixado pelos bichos, para aquecer o
menino. Ali nos deitamos, esperando, tendo um céu negro, iluminado pelas estrelas, como cobertor.
Nasceu! Nasceu! Meu Deus, ele é tão bonito. O sorriso lembra o de Maria. Acho que vou chorar.
Olha Maria, é nosso menino. O menino que Deus nos confiou. Para de chorar, senão não conseguirei parar
também (não sabíamos se chorávamos ou dávamos gargalhadas de felicidade), olha as mãozinhas dele.
Deus preparou o melhor palácio para que o Rei dos reis pudesse nascer. Eu e Maria somos
testemunhas disso.
Memórias de São José
Hoje vejo nosso menino crescendo, um menino que me foi confiado por Deus. Um filho que é Dele,
mas que me deu a alegria de também poder chama-lo de meu filho. Meu menino, meu filho, minha vida,
meu Deus-conosco.
Olha Maria, como é bonito, como é sábio.
Só sendo grande mesmo, para se fazer tão pequeno.
Padre Dayvid da Silva tentando imaginar os sentimentos de São José.
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Pe. Dayvid: Memórias de São José