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QUE AULA, MEU DEUS, EM PLENO DOMINGO À TARDE!
Rosane Vieira Alchieri1
Domingo, primeiro de junho de dois mil e oito, por ocasião do aniversário do município de Liberato
Salzano, RS, houve comemoração na Praça da Diversificação, praça central do município. Porém, não foi
uma comemoração como se imagina, com bandinha e bolo com 44 velas. O que aconteceu foi uma aula
interdisciplinar de história, literatura e interpretação, com duração de1hora e 30 minutos. Aula, acreditem, a
qual mobilizou e concentrou da criança ao idoso presente. O sol, escaldante, sequer foi percebido.
Dividi-me em prestar atenção na aula e observar as pessoas ao redor. Sala de aula, ou melhor, praça
lotada, brilho e emoção no olhar de cada um. Para a maioria, primeira aula com esta abordagem
metodológica. Muitos não entenderam toda a aula, pois era rápida e maravilhosa ao mesmo tempo. Todos
devem estar se perguntando que professor é este e que metodologia é esta para manter “os educandos” tão
concentrados num momento em que a televisão rouba a cena, consegue criar alunos com DDA - Déficit de
Atenção e transformar qualquer aula numa batalha para o professor manter o aluno concentrado e
interessado.
Digamos ser esta aula pouco convencional, mas com grandes resultados. O que tivemos foi uma
peça teatral com o Grupo Teatral Viramundos da UPF – Universidade de Passo Fundo. Os atores, fazendo
de camarim o pergolado e as calçadas ao lado da praça. A concentração antes do espetáculo chamava a
atenção, pois era em frente ao público que chegava e olhava com grande curiosidade e não com menos
estranheza. Uns balbuciavam, outros ensaiavam as falas, outros pareciam estátuas e todos muito
interessantes.
A história representada é de uma qualidade ímpar, com verossimilhança, consegue ir além de uma
peça de teatro, se transforma numa aula de História da Idade Média, inquisição, má distribuição de renda,
falso celibato, justiça para ladrões de galinha ( como é até hoje na maioria dos casos), céu e inferno – quem
merece o quê ? Morrer preservando a consciência ou sobreviver e esquecer que existe a moral e os bons
costumes?
Til – peça teatral representada – é uma peça de humor crítico. Por representar uma época quase
remota, poderíamos imaginá-la alienada da realidade, mas não só consegue representar a realidade da
Professora e Vice-Diretora do Colégio Estadual Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha - Liberato Salzano-RS. Formação em Letras
– Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Respectivas Literaturas. Especialista em Língua Inglesa (URI-FW).
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época, como também transportar esta realidade para a época atual. A fala é prosaica, com dimensão
cotidiana. O personagem que dá título à peça é, como o nome já diz, “coisinha insignificante”. É insignificante
porque é pobre e abandonado (na visão da época, e de hoje em muitos casos, a pessoa era alguém
importante se tivesse posses), mas faz um estrago. Engana com sutileza, pois é esperto; não é mau, apenas
luta pela sobrevivência, ludibria a todos tirando a empáfia dos poderosos que se dizem inteligentes, fazendoos provar do próprio veneno. Até depois de morto consegue dar uma lição aos que cometem um dos sete
pecados capitais – a ganância. Por fim, se Til fosse representado na Idade Média, autor e atores seriam
condenados á fogueira em praça pública, se fosse nos anos da Ditadura Militar, seria censurado. Como não é
nem uma nem outra época, podemos nos divertir e aprender sobre nós, seres humanos, comparando épocas
históricas e rindo muito.
Feliz foi quem criou este grupo, certamente um amante da cultura e do povo, pois teatro profissional
só existe em grandes centros e para quem pode pagar. Este grupo vem até o público, emociona, ensina e
distrai. A aproximação da cultura ao povo mostra que nem tudo está perdido, porque ainda existem coisas
boas diante de tantos problemas sociais existentes.
Também, analisando pedagogicamente esta “aula dominical”, temos a prova de que ainda é possível,
com muita criatividade e sabedoria, atrairmos nossos educandos para o ensino. Se nós professores
conseguirmos tal proeza (apesar das adversidades que todos conhecemos), mudaremos o eixo da educação
resultando em educação de qualidade, caminho mais certo para um mundo melhor.
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Que aula, meu Deus, em pleno domingo à tarde