Página 33 a 34 QUE AULA, MEU DEUS, EM PLENO DOMINGO À TARDE! Rosane Vieira Alchieri1 Domingo, primeiro de junho de dois mil e oito, por ocasião do aniversário do município de Liberato Salzano, RS, houve comemoração na Praça da Diversificação, praça central do município. Porém, não foi uma comemoração como se imagina, com bandinha e bolo com 44 velas. O que aconteceu foi uma aula interdisciplinar de história, literatura e interpretação, com duração de1hora e 30 minutos. Aula, acreditem, a qual mobilizou e concentrou da criança ao idoso presente. O sol, escaldante, sequer foi percebido. Dividi-me em prestar atenção na aula e observar as pessoas ao redor. Sala de aula, ou melhor, praça lotada, brilho e emoção no olhar de cada um. Para a maioria, primeira aula com esta abordagem metodológica. Muitos não entenderam toda a aula, pois era rápida e maravilhosa ao mesmo tempo. Todos devem estar se perguntando que professor é este e que metodologia é esta para manter “os educandos” tão concentrados num momento em que a televisão rouba a cena, consegue criar alunos com DDA - Déficit de Atenção e transformar qualquer aula numa batalha para o professor manter o aluno concentrado e interessado. Digamos ser esta aula pouco convencional, mas com grandes resultados. O que tivemos foi uma peça teatral com o Grupo Teatral Viramundos da UPF – Universidade de Passo Fundo. Os atores, fazendo de camarim o pergolado e as calçadas ao lado da praça. A concentração antes do espetáculo chamava a atenção, pois era em frente ao público que chegava e olhava com grande curiosidade e não com menos estranheza. Uns balbuciavam, outros ensaiavam as falas, outros pareciam estátuas e todos muito interessantes. A história representada é de uma qualidade ímpar, com verossimilhança, consegue ir além de uma peça de teatro, se transforma numa aula de História da Idade Média, inquisição, má distribuição de renda, falso celibato, justiça para ladrões de galinha ( como é até hoje na maioria dos casos), céu e inferno – quem merece o quê ? Morrer preservando a consciência ou sobreviver e esquecer que existe a moral e os bons costumes? Til – peça teatral representada – é uma peça de humor crítico. Por representar uma época quase remota, poderíamos imaginá-la alienada da realidade, mas não só consegue representar a realidade da Professora e Vice-Diretora do Colégio Estadual Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha - Liberato Salzano-RS. Formação em Letras – Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Respectivas Literaturas. Especialista em Língua Inglesa (URI-FW). 1 Página 33 a 34 época, como também transportar esta realidade para a época atual. A fala é prosaica, com dimensão cotidiana. O personagem que dá título à peça é, como o nome já diz, “coisinha insignificante”. É insignificante porque é pobre e abandonado (na visão da época, e de hoje em muitos casos, a pessoa era alguém importante se tivesse posses), mas faz um estrago. Engana com sutileza, pois é esperto; não é mau, apenas luta pela sobrevivência, ludibria a todos tirando a empáfia dos poderosos que se dizem inteligentes, fazendoos provar do próprio veneno. Até depois de morto consegue dar uma lição aos que cometem um dos sete pecados capitais – a ganância. Por fim, se Til fosse representado na Idade Média, autor e atores seriam condenados á fogueira em praça pública, se fosse nos anos da Ditadura Militar, seria censurado. Como não é nem uma nem outra época, podemos nos divertir e aprender sobre nós, seres humanos, comparando épocas históricas e rindo muito. Feliz foi quem criou este grupo, certamente um amante da cultura e do povo, pois teatro profissional só existe em grandes centros e para quem pode pagar. Este grupo vem até o público, emociona, ensina e distrai. A aproximação da cultura ao povo mostra que nem tudo está perdido, porque ainda existem coisas boas diante de tantos problemas sociais existentes. Também, analisando pedagogicamente esta “aula dominical”, temos a prova de que ainda é possível, com muita criatividade e sabedoria, atrairmos nossos educandos para o ensino. Se nós professores conseguirmos tal proeza (apesar das adversidades que todos conhecemos), mudaremos o eixo da educação resultando em educação de qualidade, caminho mais certo para um mundo melhor.