Avanço do Estado Islâmico aproxima Rússia e Ocidente5
28/09/201418h03
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Apesar de os russos não integrarem a coalizão militar formada pelos americanos para lutar contra os
jihadistas, Rússia e EUA estão do mesmo lado nas operações em solo iraquiano. Divergências mesmo só no
caso da Síria.
À primeira vista, tudo está como era antes. A televisão estatal russa continua não deixando escapar
nenhuma oportunidade de criticar o Ocidente. Na quinta-feira passada, a apresentadora de um
programa de notícias citou parte da fala do presidente iraniano, Hasan Rohani, durante a
Assembleia Geral da ONU. O trecho afirmava que o fortalecimento da milícia terrorista "Estado
Islâmico" (EI) no Iraque e na Síria era resultado de um "erro estratégico dos países ocidentais".
As alfinetadas diretas também continuam. "Parece-me estranho que o presidente dos EUA tenha
dito várias vezes que o mundo ficou mais livre e mais seguro", comentou o ministro russo do
Exterior, Serguei Lavrov, ironizando o discurso de Barack Obama no encontro das Nações Unidas,
em Nova York. O chanceler disse que chegou a se perguntar se o americano realmente estava
falando sério.
Lavrov ficou indignado por Obama ter se referido a violações da lei internacional por parte da
Rússia, na crise da Ucrânia, como segunda maior ameaça à paz mundial nos dias atuais, atrás
apenas da epidemia do ebola – e à frente até do terrorismo islâmico.
Aviões russos no Iraque
O caso da Ucrânia continua desgastando as relações entre a Rússia e o Ocidente, mas a luta contra
os terroristas do EI no Oriente Médio parece estar aproximando Moscou e os países ocidentais
como há meses não se via. Na quarta-feira passada, a Rússia aprovou, juntamente com os outros
países do Conselho de Segurança da ONU, uma resolução apresentada pelos Estados Unidos
contra o grupo radical islâmico. Todos os países-membros estão agora incumbidos de impedir que
os extremistas recebam qualquer tipo de ajuda.
O Kremlin assumiu uma posição neutra em relação à coalizão formada e coordenada pelos Estados
Unidos contra o EI – os russos, porém, não querem fazer parte dela. "A coalizão anti-EI não é uma
festa. Não esperamos receber convite e não vamos comprar ingresso para entrar", afirmou um
representante do Ministério do Exterior à agência de notícias Interfax. Ele garantiu, no entanto, que a
Rússia apoia os países que lutam contra o grupo terrorista.
Isso significa principalmente apoio militar ao Iraque. No meio do ano, a Rússia entregou uma dúzia
de aviões de guerra do tipo Sukhoi Su-25 e um número não revelado de helicópteros militares Mi-28
ao governo em Bagdá, segundo informações divulgadas pela imprensa.
Em julho, Rússia e Iraque assinaram um outro contrato milionário para entrega de lançadores
múltiplos de mísseis do tipo Grad, obuses (peça de artilharia) e outros equipamentos de guerra.
"Mesmo sem qualquer coalizão, nós já ajudávamos há tempos o Iraque, a Síria e outros países da
região na luta contra esse mal", frisou Lavrov, referindo-se ao "Estado Islâmico".
Preocupação com a Síria
Mas, se no caso do Iraque, Rússia e Ocidente estão, na prática, do mesmo lado, a tensão se torna
evidente quando o assunto é a Síria. Moscou observa com olhar crítico os recentes ataques das
Forças Armadas americanas e suas aliadas árabes contra áreas ocupadas pelos terroristas do EI na
Síria.
Os russos exigem que os ataques somente ocorram com autorização do governo em Damasco. Mas
os EUA rejeitam a ideia. Washington não reconhece mais a legitimidade do regime do presidente
Bashar al-Assad devido à violenta repressão da oposição.
A Síria é aliada próxima da Rússia desde os tempos da União Soviética. A proximidade vem
garantindo o apoio de Moscou a Damasco desde o início da guerra civil em território sírio, em março
de 2011, e evitou que o Conselho de Segurança aprovasse resoluções duras contra o país.
Há cerca de um ano, o Kremlin convenceu o governo sírio a entregar suas armas químicas para
serem destruídas – evitando, na época, ataques aéreos americanos contra as tropas leais a
Damasco. Agora, Moscou teme que os EUA ataquem não apenas os combatentes terroristas do EI,
mas
também
os
soldados
sírios.
A Rússia acusa Washington de aplicar dois pesos e duas medidas com relação à Síria e vê agora
justificada sua posição com relação ao país. "Quando pedimos ajuda para a Síria no combate aos
terroristas, não nos ouviram", reclamou Lavrov.
EI é ameaça para Putin
O apoio indireto da Rússia à luta contra os terroristas do "Estado Islâmico" é, na verdade, uma
medida de autoproteção. Há poucas semanas, as milícias terroristas fizeram ameaças ao presidente
russo, Vladimir Putin. Num vídeo divulgado na internet, elas afirmam que vão "libertar" o Cáucaso
Norte da Rússia.
"As ameaças de ataques terroristas no Cáucaso deveriam ser levadas a sério", declarou Michael
Margelov, presidente do comitê de relações exteriores do Conselho da Federação (câmara alta do
Parlamento russo).
Especialistas em segurança acreditam tanto na existência de jihadistas russos na Síria quanto na de
ativistas do EI na Rússia. Mas números exatos são desconhecidos. No início de setembro, um
suposto integrante do EI foi preso em Moscou, e páginas na internet de integrantes do grupo
terrorista são frequentemente bloqueadas na Rússia.
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