Soja
Fotos Leila Costamilan
Via dupla
Ao mesmo tempo em que doenças como podridão radicular de fitóftora, podridão
vermelha da raiz e ferrugem tendem a ter seu efeito minimizado no período de La
Niña, o clima seco favorece o ataque de oídio, nematoides e podridão cinza da
raiz, além de afetar a emergência de plântulas. Tratamento de sementes, seleção de
cultivares resistentes, controle químico e melhoria das condições de manutenção
de água no solo estão entre as estratégias para enfrentar o problema
D
e acordo com o boletim emitido
em 20 de agosto pelo Centro de
Previsão de Tempo e Assuntos
Climáticos (CPTec) do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), o fenômeno
La Niña configura-se no pacífico equatorial,
com possibilidade de persistir pelo menos até
o início de 2011. Para os meses de setembro,
outubro e novembro de 2010, a previsão
climática de consenso sugere maior probabilidade de chuvas abaixo da média na região
Sul, especialmente no Rio Grande do Sul,
enquanto as temperaturas estão previstas
dentro da normalidade climatológica. Assim,
possivelmente teremos a safra 2010/2011 de
soja mais seca que o normal.
O clima mais seco pode favorecer algumas
doenças de soja, como oídio, nematoides e
podridão cinza da raiz, além de afetar a emergência de plântulas. Por outro lado, doenças
diretamente relacionadas com alta umidade,
como podridão radicular de fitóftora, podridão
vermelha da raiz e ferrugem, não deverão apresentar altas incidências e/ou severidade.
distribuídas durante o período de semeadura
da soja. Nessa situação, é muito importante
a conscientização dos sojicultores quanto
à utilização de sementes de alta qualidade
fisiológica (com altos índices de vigor e de
germinação) e sanitária (livres de patógenos),
além da necessidade do tratamento de sementes com misturas de fungicidas de contato +
Germinação de sementes e emergência de plântulas
Segundo o pesquisador Ademir Henning,
da Embrapa Soja, em 2010 o risco é muito alto
de ocorrerem chuvas abaixo da média e mal
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sistêmicos, para garantir proteção à semente
no solo, evitando ressemeaduras por falhas no
estabelecimento do estande. Além disso, em
áreas sujeitas ao ataque de lagarta elasmo ou
corós, a aplicação de produtos que contenham
inseticida poderá ser boa alternativa.
Se a semeadura de soja não for realizada
em condições ideais de umidade do solo,
Problemas de germinação devido
à podridão radicular de fitóftora
Folhas de soja com
sintomas de ferrugem
poderão ocorrer sérios problemas na emergência. Em tais circunstâncias, o tratamento
de semente com fungicidas oferece garantia
adicional ao estabelecimento da lavoura a
custos reduzidos (estimados em menos de
0,6% do custo de instalação da lavoura). A
adoção desta técnica possibilita ao agricultor
economizar sementes e evitar operação de
ressemeadura, que é extremamente danosa
para a rentabilidade da lavoura, pois, muitas
vezes, perde-se o período ideal de semeadura,
Grupo de plantas de soja com folhas carijós,
causadas por podridão vermelha da raiz
podendo ocorrer troca de cultivar (pela que,
normalmente, está sobrando no mercado),
além de problemas relacionados com aplicação de herbicidas e adubação, bem como
problemas fitossanitários, principalmente a
ferrugem da soja, sabidamente mais severa
em plantios atrasados.
A eficiência de diversos fungicidas no
controle dos principais patógenos transmitidos
pela semente de soja, como Cercospora kikuchii, Cercospora sojina, Fusarium semitectum,
Phomopsis spp. e Colletotrichum truncatum
é anualmente avaliada na Embrapa Soja.
O controle dos quatro primeiros patógenos
é propiciado por fungicidas sistêmicos, especialmente do grupo dos benzimidazóis.
Dentre os produtos testados e hoje indicados
para tratamento de sementes de soja, os
fungicidas dos grupos químicos tiabendazol,
carbendazim e tiofanato metílico têm sido
os mais eficientes. Os fungicidas de contato,
tradicionalmente conhecidos (captan, tiram
Dose/100kg de semente1
Nome
Ingrediente
comum
ativo (gramas)
Produto
Produto
comercial1
comercial (g ou ml)
Carbendazim + Captana2
30 g + 90 g
Derosal 500 SC + Captan 750 TS
60ml + 120g
Carbendazim + Tiram
30g + 70g
Derosal 500 SC + Rhodiauram SC2
60ml + 140ml
Derosal 500 SC + Thiram 480 TS2
60ml + 144ml
Derosal Plus
200ml
Protreat3
200ml
Carboxina +
75g + 75g ou
Tiram
50g + 50g
Vitavax - Thiram WP
200g
Vitavax - Thiram 200 SC4
250ml
Difenoconazol + Tiram
5g + 70g
Spectro + Rhodiauram SC
33ml + 140ml
Spectro + Thiram 480 TS
33ml + 144ml
Fludioxonil + Metalaxil-M
2,5g + 1,0g
Maxim XL
100ml
Piraclostrobina + Tiofanato
5g + 45g
metílico + Fipronil
+ 50g
Standak Top
200ml
Tiabendazol + Captana2
9,7g a 19,4g + 90g
Tecto SC + Captan 750 TS
20ml a 40ml + 120g
Tiabendazol + Tiram
9,7g a 19,4g + 70g
Tecto SC + Rhodiauram SC2
20mL a 40ml + 140ml
Tecto SC + Thiram 480 TS2
20mL a 40ml + 144ml
Tiofanato metílico + Tolilfluanida2
50g + 50g
Cercobin 700 WP + Euparen M 500 WP
70g + 100g
Cercobin 500 SC + Euparen M 500 WP
100ml + 100g
Tolilfluanida + Carbendazim2
50g + 30g
Euparen M 500 WP + Derosal 500 SC
100g + 60ml
1 Poderão ser utilizadas outras marcas comerciais, desde que sejam mantidos o tipo
de formulação e a dose do ingrediente ativo. 2 Com indicação de uso apenas na
RPS-Sul. 3 Sem indicação de uso na RPS-Sul. 4 Caso não seja adicionado nenhum
outro produto líquido, fazer o tratamento com pré-diluição, na proporção de
250ml do produto + 250ml de água para 100kg de semente. Cuidados: devem
ser tomadas precauções na manipulação dos fungicidas, seguindo as orientações
da bula dos produtos.
e Aspergillus spp. (A. flavus) que, entre outros,
podem causar a deterioração da semente no
solo ou a morte de plântulas.
pactação e favorecendo o desenvolvimento do
sistema radicular.
Podridão cinza da raiz (Macrophomina phaseolina)
De acordo com os pesquisadores Álvaro
Almeida e Leila Costamilan esta doença é a
mais favorecida por períodos de estiagem e
altas temperaturas. Provavelmente, será muito
frequente durante a safra 2010/11. Há várias
safras vem ocorrendo no Sul do Brasil, o que
significa a presença de alta quantidade de
inóculo no campo. Seu sintoma mais visível é
a antecipação do ciclo de plantas distribuídas
ao acaso ou agrupadas em áreas de solo mais
seco, resultando em grãos de menor tamanho e
de menor qualidade. Estas plantas apresentam
raízes apodrecidas, desprendendo a casca com
facilidade, apresentando o lenho de coloração
acinzentada. Trabalhos realizados na Embrapa
Soja mostraram a correlação entre chuva e
ocorrência desta doença, no Paraná. Em ano
de deficiência de água, mais de 50% de plantas
de soja mostraram a doença aos 105 dias após
a semeadura. Nos dois anos seguintes, quando
não houve restrição hídrica, este índice atingiu
30% no final do ciclo da cultura.
É uma doença de difícil controle, pois não
há cultivares de soja com resistência, a rotação
de culturas não é eficiente em curto prazo e
o tratamento com fungicidas não tem efeito
algum. Para minimizar seus impactos, o agricultor deve investir em formas para manter
suprimento adequado de água às plantas,
como irrigação, plantio direto (que aumenta
a quantidade de matéria orgânica) e melhoria
das condições físicas do solo, evitando a com-
Segundo a pesquisadora Leila Costamilan
esta doença não deverá ocorrer de forma significativa nesta safra, principalmente porque
depende de alta umidade no solo para infectar
as plantas de soja. Além disto, os agricultores
têm preferido usar cultivares resistentes em
áreas onde a doença já foi constatada em anos
anteriores, diminuindo o risco de desenvolvimento do problema. Somente causará danos
como apodrecimento de sementes e morte de
plântulas em áreas onde ocorrerem chuvas
fortes ou acúmulo de umidade no período
de germinação e emergência de plântulas
de cultivar suscetível, levando, inclusive, à
necessidade de ressemeadura. A doença pode
causar, também, sintomas em plantas adultas,
como o apodrecimento radicular e o escurecimento da parte inferior da haste e de ramos
laterais, associados com chuvas esporádicas
durante a safra.
e tolilfluanid), que apresentam bom desempenho no campo quanto à emergência, não
controlam totalmente Phomopsis spp. e F. semitectum nas sementes que apresentam índices
elevados destes patógenos (acima de 40%).
Por essa razão, tais produtos devem sempre
ser utilizados em misturas com fungicida
sistêmico (Tabela 1).
Além de controlar estes patógenos, o tratamento de sementes é uma prática eficiente
para assegurar populações adequadas de plantas, quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são desfavoráveis à germinação e à rápida emergência da soja, deixando
a semente exposta por mais tempo a patógenos
habitantes do solo, como Rhizoctonia solani,
Phytophthora sojae, Pythium spp., Sclerotium
rolfsii; Fusarium spp. (principalmente F. solani)
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Podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae)
Ferrugem (Phakopsora pachyrhizi)
e oídio (Erysiphe diffusa)
A pesquisadora Cláudia Godoy destaca
que para a ocorrência de ferrugem da soja, o
ambiente exerce papel relevante no desenvolvimento de epidemias durante a safra, pois a
maioria das cultivares é suscetível e o fungo
sobrevive de um ano para outro em plantas voluntárias ou em outros hospedeiros. Trabalhos
publicados no exterior e no Brasil mostram
que a dispersão e o desenvolvimento da ferrugem são favorecidos pela melhor distribuição
Leila Costamilan
Tabela 1 - Misturas formuladas e respectivas doses
de fungicidas para tratamento de sementes de soja.
Indicações da XXXI RPSRCB, Brasília (DF), e da
XXXVIII RPS-Sul, Cruz Alta (RS), agosto 2010
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Folha de soja
afetada por oídio
terodera glycines – O pesquisador Waldir Dias
informa que no caso de nematoides de galhas,
as raízes da soja apresentam engrossamento
e as plantas podem murchar nas horas mais
quentes do dia, apresentar baixo desenvolvimento e reduzido rendimento de grãos.
Com nematoide de cisto, as plantas ficam
verde-claras, com menor desenvolvimento e
rendimento.
Tudo que é favorável ou negativo para a
soja também é bom ou ruim para os nematoides. Em anos de seca, quando falta água
no solo, a soja fica mais vulnerável aos danos
por estes organismos, devido à dificuldade de
absorção de água pelo sistema radicular, provocada por nematoides. A falta de água livre no
solo, entretanto, tem a vantagem de dificultar
a disseminação destes organismos. Além disso,
plantas de soja mais estressadas não favorecerão a multiplicação dos nematoides.
Dessa forma, sabendo-se que algumas
doenças de soja podem ser favorecidas por
períodos de seca, medidas são recomendadas para diminuir eventuais prejuízos em
anos de La Niña. Tratamento de sementes,
seleção de cultivares resistentes a oídio e
a nematoides, controle químico de oídio e
melhoria das condições de manutenção de
água no solo, principalmente com o uso de
plantio direto, são fatores que têm efeito
positivo no controle de doenças favorecidas
por seca e, consequentemente, no rendiC
mento de grãos de soja.
Leila M. Costamilan,
Embrapa Trigo
Ademir A. Henning,
Álvaro M. R. Almeida,
Cláudia V. Godoy,
Claudine D. S. Seixas e
Waldir P. Dias,
Embrapa Soja
Figura 1 - Evolução do número de focos de ferrugem da soja cadastrados no site do Consórcio Antiferrugem (www.
consorcioantiferrugem.net), em diferentes safras
aplicações desnecessárias de fungicida.
De forma oposta à ferrugem, o oídio da
soja é favorecido por condições de baixa umidade relativa do ar e pode predominar principalmente em regiões com temperaturas amenas, caso as previsões climáticas se confirmem.
O oídio tem a capacidade de provocar danos
de até 35% de produtividade, no entanto, as
cultivares apresentam níveis diferenciados de
resistência e seu controle pode ser realizado
por meio da aplicação de fungicidas.
Podridão vermelha da raiz (Fusarium spp.)
Os pesquisadores Claudine Seixas e Álvaro
Almeida apontam que, provavelmente, esta
não será uma doença muito importante nesta
safra de La Niña, pois seu desenvolvimento
está relacionado com bom suprimento de água
no solo. Quatro espécies de Fusarium podem
estar associadas aos sintomas da doença, F.
tucumaniae é a prevalente no Brasil. Este fungo
reduz o volume e a nodulação das raízes. A
região do colo da planta apresenta mancha
avermelhada. As folhas de plantas infectadas
apresentam o sintoma conhecido como folha
“carijó”, com manchas cloróticas entre as nervuras das folhas, que posteriormente tornamse necróticas. Geralmente, plantas com estes
sintomas ocorrem em reboleiras.
Solos compactados e com alta umidade
favorecem o ataque por esse fungo. O controle dessa doença pode ser auxiliado com a
escarificação ou subsolagem, o que permite a
“quebra” da camada compactada, favorecendo
o desenvolvimento radicular e o aumento da
infiltração de água.
Nematoides de galhas
Meloidogyne javanica, M. incógnita e He-
Fotos Leila Costamilan
da precipitação na safra. A chuva influencia
diretamente no período de molhamento foliar
(necessário para a infecção), na disseminação
(atuando na liberação, dispersão e deposição
de esporos do fungo) e também, indiretamente, na sobrevivência do inóculo (pela menor
exposição dos esporos à radiação UV durante
períodos nublados). Conforme os dados do
Consórcio Antiferrugem, a evolução da doença tem apresentando padrões distintos nas
safras, associados aos padrões de precipitação
nas diferentes regiões produtoras (Figura 1).
Nas safras 2006/07 e 2009/10, sob influência
de El Niño, a ferrugem começou mais cedo e
o número total de focos foi maior que na safra
2008/09, sob influência de La Niña. Embora
as precipitações pluviais irregulares previstas
para a safra 2010/11 possam desfavorecer a
evolução de ferrugem, as orientações para o
manejo da doença não se alteram, devendo ser
realizados o monitoramento das lavouras e o
acompanhamento da ocorrência da doença na
região. O controle de ferrugem deve ser feito
após os sintomas iniciais da doença na lavoura,
ou preventivamente, levando em consideração
o estádio fenológico da cultura, a presença da
ferrugem na região, as condições climáticas,
a logística de aplicação, a presença de outras
doenças e o custo do controle.
A baixa umidade no inverno, especialmente na região central do Brasil, tem desfavorecido a brotação de plantas voluntárias e a
sobrevivência do fungo, contribuindo com o
vazio sanitário, que tem como principal objetivo a redução do inóculo do fungo durante a
entressafra. Desta forma, espera-se atraso na
ocorrência dos primeiros focos de ferrugem
na próxima safra, enfatizando ainda mais a
necessidade do monitoramento para evitar
Sistema radicular de soja deformado por galhas
causadas por nematoide do gênero Meloidogyne
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