Ele faz tudo ao mesmo tempo e ainda tira notas boas Andrisa da Cruz Teixeira1 Adriana Soares2 Resumo: O trabalho a seguir apresenta um estudo de caso realizado durante o Estágio Supervisionado em Língua Inglesa no Ensino Fundamental, a questão abordada foi a análise do comportamento de um aluno na disciplina de Língua Inglesa, levando em consideração a sua capacidade de conseguir realizar várias atividades ao mesmo tempo. Palavras-chave: Aluno, comportamento, professor, multitarefa. Abstract: The work presents a case study conducted during “Estágio Supervisionado em Língua Inglesa no Ensino Fundamental”, the point addressed was the analysis of the behavior of a student in the English Language discipline, considering his ability to perform several activities at the same time. Keywords: Student, behavior, teacher, multitask. Ao longo das atividades docentes, muitos professores se deparam com o chamado “aluno multitarefa”, que parece não conseguir prestar atenção somente no que o professor está dizendo e realiza várias tarefas ao mesmo tempo, muitas vezes atrapalhando os colegas em sua volta. Neste sentido, o presente ensaio irá destacar as atitudes de um aluno da 6ª série do ensino fundamental, de 12 anos, observadas durante o estágio supervisionado em Língua Inglesa no ensino fundamental, realizado na cidade de Osório. O mundo está cada vez mais agitado e os jovens parecem estar se adaptando a essas mudanças rapidamente. Os alunos de hoje estão apresentando uma capacidade de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, são os chamados “multitarefas”, que parecem não conseguir se concentrar exclusivamente em uma só atividade. Segundo a revista Profissão Mestre (Ano II, p. 14), “as gerações mais jovens, que nasceram na era digital, já são naturalmente mais adaptadas à característica predominante da sociedade atual”. O aluno escolhido para que o estudo fosse realizado, chamou atenção pelo fato de nunca permanecer fixado em apenas uma atividade. Ao mesmo tempo em que o aluno ouvia uma explicação sobre a matéria dada pela professora, escutava seu 1 Graduada do curso de Letras – Licenciatura Plena, Faculdade Cenecista de Osório [email protected]. 2 Professora Orientadora da Disciplina de Estágio Supervisionado em Língua Inglesa no Ensino Fundamental e Médio- FACOS - Mestre em Letras - Linguística Aplicada. 44 Mp3, conversava com os colegas e ainda de tempos em tempos dava uma olhada pela janela. Muitas vezes, o aluno andava pela sala de aula à procura de um colega para conversar, enquanto os outros alunos tentavam se concentrar para realizar as atividades. No entanto, para surpresa do professor, mesmo com toda essa agitação, ao ser questionado sobre a matéria recém vista, enquanto ele parecia não estar prestando atenção, o aluno apresentava domínio do conteúdo proposto, mostrando que tinha assimilado o conteúdo e ao ser realizada qualquer avaliação obtinha notas excelentes nas avaliações. Ao ser questionado sobre o assunto, o aluno respondeu que nunca faz só uma tarefa por vez. Confessou, ainda, que sempre que está estudando para alguma prova, ouvem música, conversa no MSN e assiste televisão, tudo ao mesmo tempo. Esta habilidade de realizar várias tarefas simultaneamente está diretamente ligada ao fato de os jovens das novas gerações terem o mundo na ponta dos dedos, pois em frente ao computador eles têm acesso a várias informações instantâneas, que são analisadas e selecionadas pelo jovem internauta de acordo com o interesse e a relevância do conteúdo. De acordo com a revista Profissão Mestre (Ano II, p. 14), “as novas tecnologias, principalmente o celular, o computador e a internet, que transformaram o mundo e a forma como as pessoas se relacionam.” Para alguns pesquisadores, estão modificando também o cérebro e, sobretudo, mudaram definitivamente o processo de aprendizagem. É por esse motivo que os adolescentes de hoje estão adquirindo a habilidade de fazer tudo ao mesmo tempo. Em artigo publicado na revista Nova Escola, Giovana Girardi afirma que, Por volta dos 12 ou 13 anos, o cérebro entra num processo de reconstrução. Tudo o que pode parecer estranho no comportamento dos adolescentes tem explicação neurológica. A falta de interesse pelas aulas, por exemplo, é consequência de uma revolução nas sinapses (conexões entre células cerebrais – e os neurônios). Nessa etapa da vida, uma série de alterações ocorre nas estruturas mentais do córtex pré-frontal – área responsável pelo planejamento de longo prazo e pelo controle das emoções –, daí a explicação para ações intempestivas a às vezes irresponsáveis. (GIRARDI, 2004, p.17) O professor de hoje deve estar adaptado à forma de aprendizagem do aluno, tendo o papel de guia para que este chegue a um resultado satisfatório, não o 45 repreendendo em sala de aula, mas sim valorizando suas habilidades. A autora Telma Weisz (2002, p.56) afirma que, “no momento em que o professor entende que o aprendiz sempre sabe alguma coisa e pode usar esse conhecimento para seguir aprendendo, ele se dá conta de que a pura intuição não é mais suficiente para guiar o seu trabalho.” Todavia, para que isso aconteça, o professor tem que avaliar o comportamento de cada um de seus alunos, entendendo que cada um apresenta habilidades e ritmos de aprendizagem distintos. O propósito da escola deveria ser o de desenvolver as inteligências e ajudar as pessoas a atingirem os objetivos de ocupação e de passatempo adequados ao seu aspectro particular de inteligências. As pessoas que são ajudadas a fazer isso, acredito, se sentem mais engajadas e competentes, e, portanto mais inclinadas a servirem à sociedade de uma maneira construtiva.(GARDNER, 1995, p. 16) Levando em consideração que cada indivíduo apresenta um ritmo diferente em relação à aprendizagem, pode se afirmar que a escola da atualidade deve compreender seus alunos individualmente, não generalizando o processo de construção de conhecimento de cada um. O professor tem que entender que possui em sala de aula alunos com habilidades distintas e que deve valorizar essas habilidades, pois entender a cabeça de sua turma é a chave para se obter um bom aprendizado. Neste sentido, César Coll Salvador afirma que, Partindo da base que a educação não pode pretender que todos os alunos realizem as mesmas aprendizagens, propõe-se estruturar os sistemas educativos de maneira que incluam diversas vias ou itinerários acadêmicos possíveis, que conduzam a finalidades e objetivos diferentes e aos quais os alunos se inscrevam de acordo com as suas capacidades – e eventualmente com os seus interesses.(SALVADOR, 2000, p. 45) Diante do que foi dito anteriormente, pode-se afirmar então que o professor deve estar preparado para lidar com o chamado “aluno multitarefa”, levando atividades para sala de aula que estimulem e incentivem a autonomia, a responsabilidade e a criatividade no aluno, orientando-o aos prós e contras no uso destas novas ferramentas tecnológicas. Desta forma, para que o professor acompanhe o ritmo do seu “aluno multitarefa”, talvez tenha que se tornar um “professor multitarefa” para dar conta desta nova geração. Referências 46 GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Revista Profissão Mestre. Nº 130. ano II. Curitiba, PR: Humana editorial. Pg. 14. SALVADOR, César Coll. Psicologia do ensino. Porto Alegre: Artmed, 2000. WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Editora Ática, 2002. Artigo disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/criancaeadolescente/compo ratamento/adolescentes-entender-cabeca-431429.shtml Acessado em 30/11/2010 às 22:00h. 47