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Tempo Feminino
Tempo Masculino
As corridas, sejam de que género forem, são-no contra o cronómetro, contra o Tempo. O deserto,
diz-se, dá-nos uma perspectiva diferente da vida e da sua dimensão temporal. Nada melhor para nos
elucidar sobre estas matérias, que con vidar dois especialistas. Cada um do seu género.
fotos Nuno Correia
Espiral do Tempo: Em que é que o deserto marcou o Tempo na sua vida?
Elisabete Jacinto: No deserto não há tempo!...
Muitas das coisas imprescindíveis para nós no dia-a-dia não têm qualquer importância no deserto.
O tempo é uma delas. Toda aquela amplitude, espacialidade… e imobilidade… dá-nos vontade de parar,
virar as costas ao tempo e tornar eterno o momento.
Mas eis que se inventaram as corridas… e por elas
viramos as costas ao deserto. Nele é o tempo que
marca o nosso ritmo, o nosso movimento, a nossa
maneira de estar, de sentir, de viver.
E. T.: Em prova, o maior gozo é o da condução ou
o de vencer o cronómetro?
E. J.: O da condução. O cronómetro é apenas um
pretexto… A vitória ao cronómetro é o passaporte
para a aventura da condução no deserto.
E. T.: Qual o Tempo que passa mais depressa no
Dakar, o da prova ou o do descanso?
E. J.: O do descanso. Passa tão rápido que nem dou
por ele. Durmo profundamente… e é normalmente
muito curto.
E. T.: Para um ocidental, qual dos géneros lida
melhor com o Tempo no deserto, o masculino ou o
feminino?
E. J.: Acho que, não só no deserto, mas em qualquer
parte do mundo… a mulher tem uma maior noção do
tempo. Sabe vivê-lo e rentabilizá-lo melhor.
E. T.: Dá mais gozo vencer aos 20 ou aos 40 anos?
E. J.: Quando se vence aos vinte é porque a natureza
nos dá esse privilégio. Aos 40 vence-se porque se
quer vencer, porque se trabalha para tal. Aí o prazer
é sublime.
E. T.: Quando pensa num relógio, vê um inimigo, um
instrumento de precisão, um objecto de arte ou
objecto de decoração?
E. J.: Um instrumento de trabalho… e são muito
os requisitos que lhe exijo: tem de ser preciso, tem
de ter data, cronómetro, um despertador bem
sonoro, números bem legíveis… É fundamental que
possa apanhar água, que a bracelete não se degrade
com o suor, que seja confortável e, já agora…que seja
bonito e que vá bem com todo o tipo de roupa… para
não ter de o mudar.
Elisabete Jacinto
Piloto de camiões
078 | ESPIRAL
E. T.: O que é um desperdício de Tempo?
E. J.: Realmente… é não tirar partido do tempo e
ali ficar sem fazer nada.
Espiral do Tempo: Como passa o Tempo de um
piloto, fora de prova?
Bernardo Vilar: Devagar, mas com uma certa pressa
em que venha a próxima (corrida).
E. T.: Qual foi o Dakar que gostava de ter corrido
e qual o melhor em que correu?
B. V.: O Dakar que gostava de ter corrido… talvez
seja o primeiro Dakar, em 78. Deve ter sido o mais
emocionante de todos, pois na altura era completamente diferente, era a pura aventura.
O que melhor me correu? Não sei. Participei
dez vezes no Dakar, terminei em oito, e acho
que todos tiveram as suas histórias, os seus bons
e maus momentos. Talvez o melhor tenha sido
o de 2000, pois foi onde obtive o melhor resultado
(9.º geral), e o de 2002, que marcou o 'momento'
da minha carreira, onde ganhei uma etapa (KiffaDakar).
E. T.: Qual a diferença entre conduzir aos 20 e
conduzir aos 40?
B. V.: Bem, diferenças de condução entre os 20 e os
40 anos há muitas, mas a realidade é que a primeira
vez que fiquei sem carta foi exactamente aos 40!
E. T.: Conduz sempre contra o relógio?
B. V.: Não. Conduzir contra o tempo é impossível
e, normalmente, acaba mal, quer na vida quer
no desporto. O tempo perdido é impossível de recuperar. O possível e o desejável é, a partir daí, perder
o menos tempo possível, ou seja, não parar.
E. T.: Qual a diferença entre o Tempo de condução
por lazer e o Tempo de condução quando se está
em prova?
B. V.: A diferença é grande. Através da condução
desportiva, conseguimos percorrer uma determinada
distância o mais rápido possível, sem erros, sem
olhar para as paisagens, sem pensar em mais nada:
concentração máxima e acelerador sempre a fundo.
Conduzir por lazer não deixa de ser divertido, acaba
por ser como aquele lema: "devagar se vai ao longe".
Sem stress o tempo passa com mais calma.
E. T.: Que relógio costuma usar?
B. V.: Uso um TAG Heuer Searacer.
E. T.: Qual a mecânica mais sedutora, a de um
relógio ou a de um carro?
B. V.: Acho que ambas são fascinantes, embora a
dos relógios seja mais curiosa e, ao mesmo tempo,
mágica!
Bernardo Vilar
Piloto de automóveis
ESPIRAL | 079
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