ROSIMARA MARINHO KADIDJA FERNANDES/AT FERNANDO RIBEIRO/AT Mitos e milagres das benzedeiras >20 e 22 Doenças estão mais graves, dizem médicos >2 a 4 Manual do príncipe moderno >AT2 R$ 2,00 2ª Edição VITÓRIA-ES | DOMINGO, 09 DE MARÇO DE 2014 | ANO LXXV | Nº 24.829 | FUNDADO EM 22/09/1938 | EDIÇÃO DE 128 PÁGINAS Lista das 100 profissões que vão ter mais vagas no Estado O governo estadual, a Federação das Indústrias e especialistas em mercado de trabalho apontam quais são os setores que mais vão oferecer emprego nos próximos três anos. >34 e 35 ESCOLA SÃO PAULO PARAQUEDISMO Pais liberam namoro cada vez mais cedo Coração na boca a 4 mil metros de altura >12 e 13 >62 a 64 AGÊNCIA ESTADO Vasco vacila e não garante classificação >69 a 72 O INSTRUTOR Gustavo Brisolla e o repórter de A Tribuna Eduardo Fernandes em seu primeiro salto de paraquedas, em Boituva, São Paulo TV TUDO Caio Blat engrossa a sua lista de personagens inusitados com o budista Sonan. AT EM FAMÍLIA HENRIQUE MEIRELLES PEDRO VALLS FEU ROSA DORA KRAMER Street workout, um novo esporte que ganha cada vez mais adeptos. Todos os fatores da complexa equação ucraniana têm de ser avaliados. >32 Segundo pesquisa, apenas 37% dos brasileiros confiam na democracia. >29 A raiz da desavença entre PT e PMDB é a partilha do poder real. >57 Policial militar reage a assalto, escapa de tiros e mata motoqueiro em Itapoã >23 62 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 09 DE MARÇO DE 2014 Esportes FALE COM O EDITOR FLÁVIO DIAS E-MAIL: [email protected] FOTOS: ESCOLA SÃO PAULO PARAQUEDISMO EXPERIÊNCIA NAS ALTURAS Coração na boca a 4 mil metros A reportagem de A Tribuna aceitou o desafio de saltar de paraquedas em Boituva, São Paulo, e conta a experiência Eduardo Fernandes BOITUVA, SP avião é uma porta para o mundo. Lá embaixo, casas e carros tornam-se pontos coloridos. No alto, o homem se transforma em pássaro e desafia a gravidade e o medo. Quando a porta do avião é aberta, as pernas balançam, o coração vem à boca e liberdade e receio se misturam. A reportagem de A Tribuna, a convite do paraquedista Marcus Morandi, viveu a sensação de saltar em Boituva (SP), maior centro de referência do País em paraquedismo. E conta, da preparação ao pouso, como foi o salto duplo. O primeiro passo é na garagem da escola. Nela, os atletas põem o macacão, a mochila com os paraquedas titular e reserva e, no caso dos novatos, recebem orientações quanto a posições no salto. Gustavo Brisolla, paraquedista com mais de oito mil saltos, é um dos responsáveis por instruir e acompanhar os alunos da Escola São Paulo Paraquedismo no salto duplo (ou tandem). “Existem pessoas que sorriem quando estão nervosas e outras que ficam quie- O DEPOIMENTO “Pareci estar em um liquidificador” Por todo trajeto, tentei medir o risco com os olhos e consegui os manter abertos. Mas, ao sair do avião, em queda livre, pareci estar em um liquidificador por um instante e o som era de vários apitos — não usa-se proteção para os ouvidos. A 200 km/h, passei dentro de uma nuvem e deu para sentir as gotículas! Com o paraquedas aberto, ainda fiz giros no ar. GUSTAVO BRISOLLA e o repórter Eduardo Fernandes em salto duplo em Boituva, templo do paraquedismo no País tos. Tenho de perceber isso”. Após as explicações, o barulho da hélice avisa que a hora de entrar no avião chegou. Lá, sentamse 15 pessoas apertadas e sobem a 3.657 metros. Há voos que facilmente passam de 4 mil metros. No caminho, tensão e concentração são evidenciadas pelo silêncio. Com um “empurrão” do professor de salto duplo, os dois estão no ar gelado (a temperatura diminui 6,4 graus Celsius a cada mil metros). São 45 segundos de queda livre, com a cara ao vento. Os saltadores cortam as nuvens, literalmente, a mais de 200 km/h, e o coração, no ritmo acelerado, vai na boca. O “camera flyer” Marco Antonio Domingos filma tudo, à frente dos saltadores. Isso até o paraquedas ser aberto, acima de 762 metros de altura. Um solavanco puxa os aventureiros para cima, o voo se torna suave (cerca de 30 km/h) e é possível contemplar o horizonte e até guiar o paraquedas com as mãos. A aproximação até o chão, por cerca de cinco minutos, é lenta. Quando os pés tocam o solo (ou o bumbum, no salto duplo), a sensação é de que todas as emoções da vida se misturaram e se tornaram uma: o salto de paraquedas. Eduardo Fernandes, repórter Como é o salto? Atletas atingem mais de 200 KM/H 3 2 PASSO PARA O AR 1 PREPARAÇÃO Em queda livre por 45 segundos, eles atingem mais de 200 Km/h . No salto duplo, o paraquedas deve ser aberto acima de 762 metros. Quando aberto, a velocidade cai para 30 Km/h. Os paraquedistas sobem a 3.657 metros, por cerca de 10 minutos. Há atletas que passam facilmente dos 4 mil metros e até 5 mil metros. No avião, o equipamento do instrutor é afivelado ao do “passageiro”. Na escola de paraquedismo, estreantes na modalidade e atletas veteranos põem o macacão, a mochila com os paraquedas titular e reserva e, no caso dos novatos, recebem orientações quanto a posições e segurança. QUEDA LIVRE 4 TERRA FIRME A aproximação é lenta. O pouso no salto duplo é de “bumbum” no chão, para não haver riscos de quedas e lesões PREÇOS Os preços dos saltos variam de R$ 200 ( sem fotos e filmagem) a R$ 600 (com fotos e filmagem). Fonte: Paraquedista Gustavo Brisolla, paraquedista Marco Antonio Domingos, paraquedista Marcus Morandi; Pesquisa A Tribuna, VITÓRIA, ES, DOMINGO, 09 DE MARÇO DE 2014 ATRIBUNA 63 Esportes ACERVO PESSOAL EXPERIÊNCIA NAS ALTURAS Um salto por dia em um ano no ar O empresário Marcus Morandi mora no Estado há 20 anos e sempre gostou, nas horas vagas, de praticar esportes que envolvem velocidade. No ano passado, com uma rotina mais calma nos negócios, resolveu dar uma chance para o paraquedismo, que havia conhecido ainda quando serviu ao Exército, aos 20 anos de idade. Marcus atuou como oficial temporário e teve o primeiro contato com a modalidade ao concluir o curso básico da tropa de elite da brigada paraquedista. “No Exército, realizei saltos de combate em baixa altitude. O paraquedas era acionado por um tirante que ficava preso à aeronave”. Trinta e dois anos depois, no primeiro novo salto, viu que tinha de dar mais uma chance ao esporte. E resolveu levá-lo a sério. “Hoje realizo saltos em elevadas altitudes com autonomia para acionar equipamento. É bastante diferente”, conta o capixaba. Em menos de um ano, foram 365 saltos - média de um por dia - no Brasil e nos Estados Unidos. Marca incomum para quem não mora próximo de uma área de salto (no OS NÚMEROS 365 saltos 12 saltos Marcus Morandi fez em um ano ele chegou a fazer em um dia Estado, a única está desativada). Quando vai a Boituva, ele costuma ficar uma semana e chega a saltar 12 vezes em um dia. Hoje, a vida é sobre as nuvens. “O paraquedismo não é só um esporte, é uma filosofia de vida. Lá em cima, não há lugar para preconceito e para os problemas do dia a dia. Me sinto realizado quando estou saltando. É a celebração de minha vida. Cada salto, para mim, é um grande evento”, diz o capixaba, que também fez dois saltos saindo de um balão. O segundo deles foi acompanhado pela reportagem de A Tribuna. Por causa dos ventos, o balão acabou deixando os paraquedistas longe da área de pouso, que era em Boituva (SP). Eles foram parar no meio de uma fazenda. “O salto de balão é único porque é fora do cotidiano do paraquedista. Pousamos em uma fazenda no meu salto, longe da área. A gente desce com sensação de vazio, porque o balão tem velocidade quase zerada. A queda é na descendente vertical”. Marcus Morandi criou um site (paraquedismo.TV) no qual disponibiliza material informativo sobre o esporte e fala sobre a experiência no ramo empresarial e no paraquedismo. O paraquedismo não é só um esporte, é uma filosofia de vida. Lá em cima, não há lugar para preconceito “ Marcus Morandi, paraquedista ” MARCUS MORANDI já fez 365 saltos em um ano no paraquedismo, incluindo dois de balão Tecnologia diminui os riscos Os praticantes de paraquedismo já foram chamados de loucos outrora. Hoje, acidentes no esporte, ainda considerado um dos mais radicais, são incomuns. A evolução tecnológica do paraquedas é a principal explicação. Além da chance de o principal e o reserva não abrirem ser irrisória, muitos possuem o DAA, dispositivo que abre o reserva automaticamente caso o paraquedista fique desacordado e não o faça. Há um limite de saltos para cada paraquedas. O velame (tecido colorido do paraquedas) é trocado a Nas alturas Salto mais alto que Pico da Bandeira cada 4 mil saltos. Aos 16 anos, já se pode saltar, com a autorização dos pais. A prática é desaconselhada a pessoas com pressão alta e a indivíduos obesos. No salto duplo, o “passageiro” deve ter até 120 quilos. Como é um esporte radical, o saltador assina termo de responsabilidade de vida. No salto individual, o atleta deve fazer um curso. Um dos mais procurados inclui nove saltos, além das aulas teóricas. Mesmo com toda segurança, há tipos de salto mais arriscados e com um índice de mortalidade elevado. É o caso do base jump, proibido em vários países. Nele, o paraquedista salta de um ponto estático muito alto - prédios, antenas, pontes ou montanhas usando apenas um paraquedas. Em estudo publicado pela revista Superinteressante, foi revelado que essa modalidade é a sexta mais arriscada entre todas, com 0,83 mortes a cada 12 mil saltos. Próxima a ela vem o Sky Surfing, em que o paraquedista usa uma prancha no ar. A taxa de mortes é de 0,5 a cada 10 mil saltos. TIPOS DE SALTO DIVULGAÇÃO PRECISÃO Mais antiga modalidade do paraquedismo, é praticada com o velame (dispositivo de tecido do paraquedas) aberto e o objetivo é atingir um alvo oficial, com 25 metros de raio COMPARAÇÕES MONTE ponto terrestre mais alto do mundo: EVEREST 8.844 metros SALTO DUPLO altura básica para os saltos : 3.657 metros PICO DA BANDEIRA Ponto mais alto do Espírito Santo e terceiro do Brasil: 2.892 metros BURJ KHALIFA Maior prédio do mundo, em Dubai: 828 metros MACIÇO DA FONTE GRANDE Ponto mais alto de Vitória: 308,8 metros SALTO DUPLO Praticada por iniciantes que pegam carona como um experiente paraquedista. O salto é extremamente seguro e dispensa o curso. CONVENTO DA PENHA 154 metros CURIOSIDADES Maior salto da história Felix Baumgartner saltou no dia 14 de Outubro de 2012 de uma cápsula levada por um balão à estratosfera por volta a 38.969 metros. Ele quebrou outros recordes, como a maior velocidade atingida por um homem (1357,6 Km/h) e a maior Fonte: Pesquisa A Tribuna queda livre percorrida antes de abrir o para quedas (36.529 metros). Invenção do paraquedas Primeiro a saltar de paraquedas O pintor, arquiteto, escultor e cientista Leonardo da Vinci idealizou um “protetor para quedas”, em 1843, feito de pano e com o formato de uma pirâmide. O paraquedas moderno só surgiu no século XVIII. André-Jacques Garnerin (1796-1823) foi o primeiro homem a saltar de paraquedas, que mais parecia um enorme guardachuva. Em 1797, ele amarrou a estrutura num balão e saltou de uma altura de 1.000 metros em Paris, SKYSURF (FOTO) Nesse salto, uma prancha é utilizada e permite manobras originais e possibilita giros bem mais rápidos. É um dos estilos mais arriscados. FREESTYLE Os atletas saltam em duplas optando por um tipo de queda livre em que o controle dos giros e das posições dão origem a sequências similares as da ginástica acrobática ou olímpica e dos saltos ornamentais. FORMAÇÃO EM QUEDA LIVRE No ar, atletas formam o maior número de figuras no menor tempo possível. As seqüências das figuras também são sorteadas e executadas por times de 4, 8 ou 16 paraquedistas. Um dos participantes grava vídeo do salto, que será analisado. SKYSURF: prancha no ar BASE JUMP Um dos mais perigosos tipos de salto, nele os paraquedistas saem de de penhascos, prédios, antenas e até pontes. Para esse tipo de atividade, o base jumper faz o uso de um páraquedas apropriado para aberturas em baixas altitudes. SWOOP No Swoop ou Pilotagem de Velames, o paraquedista voa próximo ao solo em altas velocidades, testando sua habilidade e precisão através de um mergulho com o paraquedas. FREEFLY Aqui, todo tipo de manobra no ar é liberadas. As mais corriqueiras são sentadas, em pé e de cabeça para baixo (“head dow”).