Primavera 2012 Trimestral €1
montepio
cinema
a sétima
arte
é cada vez
mais global
Um universo mágico
no qual os portugueses
também dão cartas
Paulo Branco,
Produtor de cinema
Maria João Bastos,
Atriz
número
05
série
ii
#05 sumário
primavera
2012
!4
Reportagem
18
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Finanças
pessoais
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58
80
Conhecimento e centros Ciência Viva
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32
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Ime
Rosalia Vargas fala
sobre a importância
da educação científica
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Rep
Entrevista
Breve
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Responsa
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10
#4
Islândia:
O longo degelo
económico
já começou
$6
Reportagem
Design, Marca
Portugal
iPad
rumo ao futuro
revista
montepio
em Ipad
Há cerca de um ano, quando apresentámos a nova revista Montepio,
dissemo-nos confiantes no projeto de comunicação associativa que tínhamos desenvolvido, na qualidade e pertinência dos conteúdos e na
inovação e dinamismo do design. Agora, já depois de termos acolhido
inúmeros comentários dos nossos leitores felicitando-nos pelo trabalho realizado, recebemos a notícia de que a revista Montepio figura entre os candidatos finalistas aos prémios de design editorial mais reconhecidos do mundo – os SPD, Society of Publication Designers –, sendo
a única publicação portuguesa nomeada entre mais de 7 mil títulos.
O prémio a que concorremos, na categoria de redesign, coloca-nos
em competição com revistas como The New York Times Magazine ou
Wired Italia, e ainda que a decisão relativa ao título que merecerá o
galardão de trabalho excecional do ano só seja anunciada em maio,
em Nova Iorque, entendemos a novidade como um reconhecimento
da competência das equipas e dos projetos portugueses e como uma
confirmação do nosso alinhamento pelas melhores práticas na área
da comunicação.
Determinados a promover a proximidade e a ampliar a rede de
comunicação com os mais de 500 mil associados do Montepio, trazemos-lhe mais uma boa notícia: a da publicação da sua revista
Montepio também em formato iPad, o que lhe permitirá complementar a leitura em suporte impresso com uma experiência multissensorial suportada no mundo digital.
A decisão de publicar a revista em suporte iPad – disponível no
Quiosque Montepio – resulta da vontade que sentimos de acompanhar
as mais recentes inovações tecnológicas, mas também da importância que atribuímos a uma comunicação gratuita, próxima e inovadora,
que fomente a proximidade com os membros da maior associação do
País: o Montepio. Acompanhe-nos, pois, rumo ao futuro.
mais
perto
de si!
p r o p r i e d a d e
c o l a b o r a ç õ e s
Montepio Geral – Associação
Mutualista, Rua do Ouro, 219-241,
1100-062 Lisboa
Tel. 213 249 828
Esta revista foi redigida ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
#05
d i r e t o r
António Tomás Correia
série
primavera 2012
ii
-adj
Ana Rita Branco
d i r e t o r
u n t o
c o o r d e n a ç ã o
Gabinete de Relações Públicas
Institucionais
Baptista-Bastos, Bárbara Silva, Bruno
Lopes, Cláudia Marina, Fátima Ferrão,
Gonçalo Byrne, Helena C. Peralta, Helena
Viegas, João Caraça, Jorge Pires, Luísa
de Carvalho Pereira, Marta Reis, Nuno
Silva, Pedro Faro, Raquel Amaral, Rute
Marques, Susana Torrão (texto), Artur,
Luís Viegas, Paul Todd /Volvo Ocean
Race, Carlos Monteiro (ilustração), Luís
Grañena (ilustração capa)
p u b l i c i d a d e
Maria João Siqueira
Tel. 213 804 010 | Fax 213 804 011
i m p r e s s ã o
Envie-nos as suas
sugestões e comentários
para revistamontepio@
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Revista Montepio,
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Públicas Institucionais,
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6º, 1070-072 Lisboa
Tel. 213 804 010
e d i t o r
Ana Ferreira
d i r e t o r
Inês Reis
montepio primavera 2012
d e
a r t e
| Revista trimestral |
Depósito Legal nº 5673/84
| Publicação periódica |
registada sob o nº 120133
t i r a g e m
Certificado PEFC
330 300 exemplares
O Montepio é alheio ao conteúdo da
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de leitura com a consulta
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simples e intuitiva, os temas
publicados na edição impressa
são complementados
com imagens, comentários
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I NTERATI VI DA DE
… com criatividade.
O toque e a dinâmica
de navegação transformam
a leitura numa experiência única.
GA LERI A DE I MAGENS
Os artigos da revista impressa
surgem enriquecidos
com novas fotografias, caixas
de texto interativas e animações
gráficas criadas especificamente
para iPad.
I NFO
O índice está sempre visível,
o que permite “percorrer”
a revista e desfrutar de uma
navegação rica, amigável
e futurista.
A EDIÇÃO EM IPAD CHEGA COM A REVISTA Nº 5, MAS TODAS
AS REVISTAS DA NOVA SÉRIE PASSAM A ESTAR DISPONÍVEIS NESTE FORMATO.
montepio primavera 2012
Glocal
G LOCAL
2012 foi declarado o Ano Internacional
da Energia Sustentável para todos.
de entre as renováveis, a energia
eólica é a menos poluente e uma
das que Registou maior crescimento
nos últimos anos
Eólica no mundo
Como funciona um parque eólico:
Os atuais aerogeradores são constituídos por uma
torre, em cima da qual está um rotor com três pás
e a nacelle, que abriga o gerador. Quando o vento
coloca as pás em movimento, o gerador transforma
a energia mecânica contida neste movimento em
energia elétrica. As pás ajustam automaticamente
a inclinação, de modo a maximizar a energia
captada, e um controlo automatizado permite que
a nacelle gire de forma a estar sempre orientada
face ao vento.
Pá
Capacidade instalada (MW)
por região do mundo, em 2010
22 km/h
Pode ter
entre 25 e
45 metros
1 079
África e Médio
Oriente
Eixo de baixa
v
velocidade
61 087
Ásia
Velocidade média
do vento mínima
exigida para a
instalação de um
parque eólico
Eix
Eixo de alta
velocida
ade
velocidade
Rotor
86 274
Europa
Caixa de
velocidades
2 008
América Latina
e Caraíbas
44 189
América
do Norte
Travão
2 397
Região do
Pacífico
Rotor
Permite que
a nacelle gire
de forma a estar
sempre orientada
face ao vento
Motor
do rotor
Nacelle
Caixa exterior
do aerogerador
Gerador
Um aerogerador com uma
potência entre 2 a 3 MW
pode responder às
necessidades de 2 000
a 3 000 lares
Evolução da energia eólica no mundo
Capacidade total instalada (MW)
197 000
200
Torre
A altura das torres
dos aerogeradores
varia entre os 50
e os 120 metros
150
100
50 24 322
0
2001
2002
2003
montepio primavera 2012
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Energia eólica no total consumido (%)
Top 10 UE
24
14,8
14,4
Portugal
Dinamarca
Espanha
Produção de CO2*
gCO2/kWh por tipo de energia
*Ao longo do ciclo de vida de uma central elétrica
10,1
9,4
Irlanda
4,1
Alemanha
Holanda
MW
Chipre
Itália
3,2
Reino Unido
Energia eólica na UE
% do total
instalados
onshore
18
Petróleo
Espanha
Itália
722
9 616 MW
instalados
em 2011
13
11
866 MW
950 10
Gás Natural
França
Suécia
9
1 293
1 050
Biomassa
22
2 086
Reino Unido
27
Hídrica
Grécia
3,4
8 750 MW
167
9
3,4
Capacidade instalada em 2011
Alemanha
Fotovoltaica
3,7
830
instalados
offshore
9
Energia eólica em Portugal
763
8
Roménia
Eólica
520 5
75
1 hora de
consumo de
eletricidade
em Portugal
(2011)
Polónia
436 5
Geotérmica
Portugal
377 4
955
Carvão
Grécia
311 3
11 minutos
foram produzidos através
de meios eólicos
Capacidade acumulada em Portugal
MW por distrito
Capacidade instalada
173
Em construção
719
24
514
66
20
440
434
339
110
254
139
180
148
80
74
Viana do Bragança Braga
Castelo
6
335
16
Vila Real
Porto
104
42
Aveiro
Viseu
Guarda Coimbra Castelo
Branco
Leiria Santarém Lisboa
19
26
Setúbal
Beja
Faro
montepio primavera 2012
O MEU MUNDO
tendências na
economia, sociedade,
vida E cultura
página 14
página 18
página 26
página 34
Fomos a Reiquiavique
perceber como os
islandeses saíram da crise
e retomaram o crescimento
económico
A revolução tecnológica
do cinema e os portugueses
que marcam o mundo
da sétima arte
A economia social
está a crescer por todo
o mundo. Para muitos
é a melhor alternativa
ao atual sistema capitalista
É possível educar para
a ciência? Rosalia Vargas,
presidente da Associação
Ciência Viva e do Pavilhão
do Conhecimento, garante
que sim
reportagem
cultura
futuro
ciência
1
o meu mundo
REPORTAGEM
10
tecnologia
ao seu serviço
Imersos em
tecnologia
Smartphones, tablets,
internet, Facebook, mobile
banking, compras online e uma
imensidão de outros termos
semelhantes invadiram
o dia a dia de muitos de nós
e constituem uma extensão
das nossas vidas.
seja Bem-vindo à tecnologia
ao serviço de todos
por fátima ferrão
montepio primavera 2012
Quando, em fevereiro de 2004,
o estudante universitário Mark
Zuckerberg criou “The Facebook”
para uma utilização exclusiva
pelos alunos de Harvard, não podia
imaginar que em menos de um
ano a sua plataforma social teria
mais de um milhão de utilizadores,
nem tampouco que, volvidos sete
anos, contaria com cerca de 850
milhões de pessoas ligadas por
esta via (dados de agosto de 2011).
Certo é que, desde então, o mundo
da Internet como o conhecíamos
mudou. Hoje é possível encontrar
amigos e colegas de quem há muito
perdemos o rasto, organizar eventos
e divulgar marcas, entre muitas
outras coisas, sem sair das
redes sociais.
é o peso do setor das
Tecnologias da Informação e
Comunicação no PIB português.
a sua informação e estado em várias
redes sociais ao mesmo tempo, ligue
o perfil no LinkedIn a outros sites de
redes sociais e veja facilitada, em simultâneo, a condução de negócios e a
comunicação pessoal.
O Facebook tornou-se “a plataforma” social por excelência e concorrentes como o Twitter, Hi5, Orkut
e muitos outros que entretanto surgiram, um pouco por todo o mundo,
não conseguem impor-se à “criação”
de Zuckerberg. Não será fácil atingir
números como os que impressionam
quando se fala no Facebook. Aqui, os
utilizadores têm, em média, 135 amigos, estão online cerca de 750 minutos por mês, fazem mais de 900 milhões de pesquisas mensais e são já
cerca de 180 milhões os que acedem
via dispositivos móveis. Estados Unidos, Reino Unido e Índia lideram em
número de utilização. Em Portugal,
são mais de quatro milhões os utilizadores do Facebook, o que representa
cerca de 81% da população com acesso à Internet.
O uso crescente de smartphones e
tablets é outra tendência que potencia
a utilização das redes sociais.
O iPhone deu o mote para este tipo
de utilização no telefone e, hoje, são
milhares os sites de widgets onde podemos descarregar todo o tipo de aplicações, configurar as redes sociais...
Estas aplicações permitem, entre outras coisas, que o utilizador atualize
Tecnologia made in Portugal
Não faltam exemplos para ilustrar
a importância das tecnologias na vida diária das pessoas. O que por vezes não sabemos é que muitas destas
tecnologias são de origem nacional.
Os mais mediáticos talvez sejam a Via
Verde ou a rede multibanco, mas existem muitos outros, desenvolvidos em
Portugal, nos mais diversos setores,
e aplicados noutros países.
É o caso do recém-lançado jogo
Energy for Life, resultado de uma parceria entre a portuguesa Inovaworks e
a ONG OIKOS, que procura ensinar a
gerir os recursos energéticos que estão
ao nosso dispor e se prepara para ser
adotado nas salas de aulas de Portugal,
Espanha, Itália, Malta e Alemanha.
A nível institucional, a Voice Interaction, uma empresa que nasceu no
seio do ISCTE, desenvolveu um sistema
de reconhecimento de voz que é diariamente aplicado em tribunais, para a transcrição de julgamentos, ou em hospitais,
para a elaboração de relatórios médicos.
A mesma aplicação é usada no Panteão Nacional, onde o quiosque eletrónico “Ask Maria” fala literalmente com
os visitantes.
O desenvolvimento destas aplicações está cada vez mais condicionado
1,16%
Francisco
Fernandes
Maria Nazaré
Ferreira
Estudante
17 anos
Reformada
81 anos
Para mim a
tecnologia é o
dia a dia. Faço
tudo o que posso
no PC e através
do telemóvel.
A Net é uma
ferramenta ótima
para estudar e
pesquisar.
Das redes sociais
não gosto muito,
mas podem
ser úteis para
algumas coisas.
No futuro
próximo,
telefones, PC,
tablets e outros
dispositivos
estarão ainda
mais interligados,
pelo que a
tecnologia estará
mesmo connosco
em todo o lado.
Não uso muita
tecnologia, só
telemóvel para
telefonar e enviar
sms. Às vezes
falo com a família
pelo computador,
vejo-os na
câmara, porque
os meus netos
fazem a ligação.
Também trato de
questões como
as Finanças pelo
computador,
com a ajuda da
minha filha, e
faço operações
bancárias quando
é necessário.
Para estas coisas
acho a tecnologia
muito importante
porque facilita a
vida das pessoas.
Perde-se menos
tempo.
"Tentar vender alguma coisa no Facebook é
como tentar fazê-lo no café, rodeado de amigos"
opinião
Frank Feather
Business
futurist
who lives online
O Facebook é a rede social mais popular do momento. As pessoas gostam porque podem
“ligar-se” a amigos, familiares e pessoas com os mesmos interesses. Muitas empresas tentaram,
sem sucesso, usar o Facebook para marketing. Tentar vender alguma coisa ali é como tentar
fazê-lo num café, rodeado de amigos. Os utilizadores não gostam. O Facebook deve ser usado
para direcionar tráfego para os sites e para gerar o tão famoso “passa palavra”. Já o Twitter
é uma plataforma de notícias. As novas histórias são “twitadas” antes de serem divulgadas
pelas agências. O LinkedIn, por outro lado, destina-se a profissionais, executivos e facilita
ligações business to business (B2B). Está também a tornar-se um bom recurso para recrutar
pessoas e pode vir a tornar as agências de recrutamento obsoletas. O Google+ está a crescer
muito rapidamente e pode vir a ultrapassar ou até a substituir o Facebook. Nos EUA, a plataforma
mais hot é o Pinterest. Com um nível de crescimento muito rápido, é usada para colecionar
e apresentar coisas e as mulheres são os principais membros (cerca de 80%).
montepio primavera 2012
11
1
o meu mundo
reportagem
tecnologia
opinião
69
%
iOS
versus
Android
é a percentagem
de utilizadores
de smartphones em todo o mundo,
segundo um estudo realizado pela
Oracle Corporation.
12
pela vontade e necessidade dos utilizadores. A prová-lo está a quantidade
de pequenas aplicações e utilitários
que podemos descarregar para os telefones móveis.
Imagine, por exemplo, uma carteira universal móvel… no seu telemóvel. Ou seja, a oportunidade de
pôr de lado todos os cartões que lhe
enchem a carteira e tê-los à sua disposição numa versão virtual. Esta é
a proposta da empresa CardMobili,
também ela cem por cento nacional.
Basta registar-se no site, descarregar
uma aplicação e escolher os cartões
que deseja tornar virtuais. Estão disponíveis cartões tão diversos como o
do cidadão, de eleitor, cartões de milhas ou de pontos.
Basta uma pequena visita a uma
qualquer loja de aplicações online,
disponíveis em operadores de telecomunicações e algumas marcas
de telemóveis, para constatar que
estes dispositivos abriram portas a
um admirável mundo novo. Receitas elaboradas por reconhecidos
chefes de cozinha, guias de restauração e agendas culturais são apenas algumas das aplicações que
pode descarregar para o telefone.
O limite será sempre a imaginação e
esta estará pronta a dar resposta às
necessidades dos consumidores.
? o que significa
X Primeiro
a chegar
ao mercado
X Design de fazer
inveja
X Ecrã multitoque
para quem
privilegia uma
navegação rápida
Z Aplicações
pagas
Z Sistema
operativo
fechado*
X Plataforma de
desenvolvimento
livre
X Mais aplicações
em menos tempo
X Aplicações
gratuitas
X Compatibilidade
Z Chegou após
o iPhone
Z A maioria
das versões não
suporta multitoque
Em todo o mundo, a tecnologia
tornou-se indispensável.
Por vezes com assinatura
portuguesa.
* As definições da Apple não podem ser customizadas pelas operadoras móveis
montepio primavera 2012
Miguel
Albuquerque
e Castro
Executive producer
MSN Portugal
"O móvel será parte
integrante do dia a dia"
A tendência da
tecnologia ao serviço
das pessoas vai evoluir
a partir de cinco vetores
confluentes e com o
objetivo de permitir
melhor acesso à
informação de forma
organizada, intuitiva
ou até inesperada.
Os cinco vetores são:
pesquisa, social, móvel,
curação de conteúdo
e especialização.
Os projetos tecnológicos
terão em conta estes
vetores para criarem
experiências únicas
de navegação e
descoberta. Vamos,
ainda, assistir a uma
maior integração entre
empresas de software,
hardware, projetos
comerciais e produção
de conteúdos para criar
experiências ricas em
texto, imagem, vídeo
e (tendencialmente)
também voz, evoluindo
para experiências
tridimensionais sem
suporte físico. O que
hoje chamamos de PC,
portátil, smartphone
ou tablet evoluirá
para experiências de
projeção em qualquer
plataforma.
A pesquisa vai sofrer
uma evolução natural
dos blue links atuais
para resultados mais
alinhados com as
preferências, hábitos de
consumo e localização
do utilizador.
O social vai fazer parte
de toda a oferta web
para que o utilizador,
além de conseguir
saber o que é mais visto,
comprado, partilhado
pelos utilizadores,
consiga ter uma
visão do que os seus
contactos das redes
sociais veem, compram,
partilham, comentam,
dependendo da sua
localização.
O móvel vai tornar-se parte integrante
do dia a dia e a
localização uma chave
da experiência de
utilização. Mas
o indivíduo (ainda)
é sedentário e manterá
a vontade de tirar
partido do potencial
do equipamento.
A curação de conteúdo
vai ser importante,
no sentido dos portais
e sites generalistas
serem aqueles que
filtram, editam,
programam e
apresentam o conteúdo,
tendo em conta a sua
localização, redes
sociais e hábitos de
navegação.
A especialização
pretende destacar
a abertura dos
utilizadores a nichos
especializados,
havendo espaço para
uma especialização
clara de produção,
curação e integração
tecnológica de
conteúdos em áreas
específicas.
1
o meu mundo
reportagem
Islândia
O longo degelo
económico já começou
14
Foi o segundo país
que mais Range
Rovers importou
em 2006 em toda a
Europa – antes da
bolha bancária
rebentar, a Islândia
nadava em dinheiro
fácil. Depois veio
o crash, o FMI, a
recusa em assumir
a dívida dos bancos
e a ressaca. Três
anos depois o país
começa, lentamente,
a sair da crise, mas
as cicatrizes na
sociedade ainda
são profundas
por bruno lopes
montepio primavera 2012
Oito e meia da manhã, lóbi de
um elegante hotel no centro de
Reiquiavique. Gunnar Tómasson
faz deslizar os dedos robustos pelo
seu iPad e mostra-me um mapa
com sete pontos em movimento.
O “rato” cai sobre um ponto
minúsculo, na costa norte da
Noruega, e a partir do conforto do
hotel, na capital islandesa, ficamos a
saber o que andou a fazer a traineira
de 50 metros nos quatro dias que
passou no gélido mar de Barents.
“Apanharam 60 toneladas, 50 de
bacalhau, o que é bom, e sete de
arinca [um primo do bacalhau]”,
diz Gunnar, com o ar satisfeito de
quem tem um negócio a crescer
quase 10% ao ano.
Para o copresidente da empresa
familiar que fatura 50 milhões
de euros por ano, o grande crash
islandês foi uma ajuda. Primeiro
porque o colapso da coroa islandesa
tornou o peixe que exporta mais
competitivo. Depois, porque
recuperou pescadores: “Antes
do crash tínhamos dificuldade
em arranjar tripulação para os
barcos porque perdemos muitos
pescadores para os bancos e para
a construção – agora estão todos
de volta à pesca”, explica.
Em 2008, a Islândia, um país com
320 mil habitantes – menos que o
distrito de Viseu –, foi a primeira vítima soberana da crise financeira.
As elites da ilha, que sempre viveu
de negócios tradicionais como a pesca, acreditaram, no início da década
passada, que podiam transformar o
país num grande centro financeiro.
Muitas pessoas, incluindo pescadores e recém-licenciados, vestiram, de
repente, a pele de gestores de ativos.
Mal regulados e geridos sem experiência, os bancos puderam crescer até serem dez vezes maiores que a economia do país. Quando Wall Street começou a ruir, em meados de 2008, já
os banqueiros islandeses cheiravam a
desgraça. O crash, ou kreppa como lhe
chamam na Islândia, aniquilou, em
outubro de 2008, o sistema bancário,
derrubou o governo depois de manifestações invulgarmente violentas e
atirou o país para os braços do FMI.
Depois do kreppa a Islândia embarcou num caminho original de resolução da crise – os islandeses não
salvaram a totalidade do sistema bancário, tendo deixado cair bancos e
credores. A coroa islandesa caiu cerca de 50% e está a ser mantida baixa
para aumentar a competitividade externa. O anterior primeiro-ministro
enfrenta um processo judicial por má
governação. O governo islandês que
saiu da crise – uma aliança exótica
entre sociais-democratas e esquerda
– conseguiu preservar o Estado Social do país e até expandiu a rede de
proteção para os cidadãos mais expostos, cobrando mais aos mais ricos.
Três anos depois, quem chega às
ruas cobertas de neve de Reiquiavique não vê sinais da ressaca da maior
bolha bancária da história. Os cafés
da moda, ao longo da avenida central
Laugavegur, estão cheios de islandeses e de turistas atraídos pela coroa
baixa (ao meu lado viajaram duas
chinesas de Pequim para “ver a natureza da ilha”). A noite selvagem da
capital – a “runtur” (algo como “raid
pelos bares”) – ferve com juventude
no frio de fevereiro. Não há pedintes
nas ruas. No porto, o centro cultural
montepio primavera 2012
15
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o meu mundo
reportagem
islândia
beleza agreste
O gelo e o fogo moldaram
a paisagem islandesa
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da cidade, inaugurado no ano passado, brilha frente às montanhas nevadas do outro lado da baía.
Nos mercados financeiros a imagem também parece boa. O país conseguiu pedir emprestado pela primeira
vez no mercado de dívida desde 2008 e
a agência de rating Fitch tirou a dívida
islandesa do nível “lixo”, onde está Portugal. O programa do FMI está a chegar ao fim e os oficiais do Fundo falam
das “lições” que aprenderam na Islândia. “Para um país cujo sistema financeiro colapsou, a Islândia está a sair-se
muito bem”, reconhece Julie Kozack,
chefe de missão do FMI. Depois do duro ajustamento o país mantém uma
das taxas de pobreza mais baixas da
Europa e a economia começou a crescer (2,5% é a previsão este ano).
O retrato sumário da recuperação islandesa e os sinais à superfície
tentam-nos a concluir que a Islândia
oferece um manual eficaz para resolução de crises financeiras. Falando
com islandeses percebe-se que a realidade é muito mais complexa.
Sob a superfície
“O que está a ferver sob a superfície
é a dificuldade das famílias, sobrecarregadas com os empréstimos que fizeram e a redução no poder de compra
de cerca de 20%”, explica Karl Blöntal,
editor do Morgunbladid, o principal diário islandês. “Há muito ressentimento face ao governo e às exceções dadas
a outros devedores.”
Logo a seguir ao colapso da banca
a moeda islandesa pulverizou mais de
50%. Como a ilha importa grande parte daquilo que produz, a inflação disparou para cerca de 20% e, além da perda
de poder de compra direta, houve outro impacto: 80% dos empréstimos para
habitação estão indexados à inflação.
Gudrun Ingvarsdóttir, arquiteta de 39 anos, casada e com dois filhos, conta como esta subida afetou
as contas da família. Em dezembro
montepio primavera 2012
Pagar a dívida
O caso Icesave
A
de 2005 – quando era sócia de um gabinete de arquitetura sólido e o marido consultor – compraram uma casa
de dois quartos por 30 milhões de coroas (400 mil euros na altura e 180 mil
euros no valor atual da coroa). Deram
como entrada 40% do valor da casa e
pediram os restantes 18 milhões emprestados, a uma taxa de 4,5% indexada à inflação. “A melhor taxa na altura
e uma entrada muito boa para a nossa
idade”, diz. Com o salto na inflação, a
prestação, de 97 mil coroas, saltou para 137 mil por mês – os 18 milhões que
deviam passaram a 27,7 milhões, “comendo” praticamente todo o capital
próprio que tinham investido na casa.
“São famílias de classe média, jovens, que estão a pagar esta crise”, sublinha Gudrun. Na véspera da nossa
conversa o Supremo Tribunal da Islân-
Islândia
recusou
assumir a dívida dos
bancos privados – mas teria
opção? “Não, foi
mais fruto das
circunstâncias do
que uma opção:
a banca valia dez
vezes mais que
a economia, era
demasiado grande para salvar”,
explica Thórólfur
Mathíasson,
professor de
Economia da
Universidade
da Islândia.
Entre os credores
que o governo
deixou cair estão
400 mil depositantes britânicos
e holandeses, que
abriram contas
muito rentáveis nas filiais
estrangeiras
do Landsbanki.
Os governos do
Reino Unido e
da Holanda, que
pagaram o fundo
de garantia de
depósitos aos
seus cidadãos,
reclamam desde
2008 a devolução
do dinheiro, com
juros.
O governo apresentou, por duas
vezes, um plano
de repagamento
aos islandeses
que, em referendo, chumbaram
a hipótese duas
vezes.” Os islandeses preferiram arriscar ir
para tribunal”,
diz o ministro
da Segurança
Social, Gudbjartur
Hannesson.
A Islândia pagará
na mesma
o fundo de garantia de depósitos
(20 mil euros
por depositante), avaliado em
cerca de 3,8 mil
milhões de euros
– a liquidação
de ativos do
Landsbanki
chega para tal
e o pagamento já
começou.
dia baixara drasticamente os juros nos
cerca de 20% de contratos de empréstimo para habitação indexados a moeda
estrangeira (que em alguns casos mais
do que triplicaram de custo), uma decisão que causa mal-estar. “É uma má lição que estamos a dar, recompensando
os que correram mais riscos e penalizando os mais prudentes”, critica Gudrun. O ressentimento aumentou com
a publicação, em 2010, de uma auditoria sobre o que se passou no sistema
financeiro, vendida nas livrarias por
menos de um euro. No país que mais
livros edita por habitante a auditoria foi
um best seller. “Foi como ler um mau
romance de ficção para perceber quão
corrupto é este país”, conta Gudrun.
Numa sociedade tão pequena toda
a gente se conhece e as ligações cruzadas entre política e empresas são constantes, as pessoas rodam entre cargos.
O diretor do Morgunbladid (que num
país de 318 mil pessoas tira cerca de
45 mil exemplares) já foi autor de peças para teatro, primeiro-ministro e
governador do banco central. O círculo
social é muito pequeno. “Estou cá há
dois anos e já fui a casa da Björk duas
vezes”, graceja Anna Andersen, editora do jornal The Grapevine.
Afinal, um (pequeno)
estado nórdico
As pessoas queixam-se, mas os sinais
exteriores revelam uma sociedade
ainda próspera. Qual o segredo?
“Tem que olhar para de onde estamos a vir: um estado social nórdico”,
lembrou o ministro Gudbjartur Hannesson. “Ainda somos um estado social
nórdico. O ponto de partida foi bom e a
ênfase do governo foi posta no Estado
Social”, diz. Anna Baldursdóttir, conselheira do ministro, acrescenta: “Também foi possível porque somos uma nação muito pequena.” Pequena e rica.
O nível salarial médio para os trabalhadores não qualificados ronda 1 500 euros e o subsídio de desemprego mínimo
começa em 1 800 coroas (1 100 euros).
Confrontado com a necessidade de
reduzir um défice superior a 10% em três
anos, o governo cortou o mínimo possível nos gastos sociais: 5% em saúde e 7%
em educação (e um mínimo de 15% em
todas as restantes áreas). Subiu os impostos sobre os mais ricos e expandiu a rede social para os mais pobres: o subsídio
de desemprego foi alargado de três para
quatro anos. “O FMI foi muito flexível e
houve sempre uma grande relação de
confiança”, explica o ministro.
O lado bom da força:
há vida além dos bancos
Dificuldades à parte, a verdade é que
a crise islandesa – com uma resolução dolorosa mas mais flexível por estar fora do euro – abriu muito potencial abafado pelo domínio anterior de
uma banca insustentável. Parte dos
islandeses voltaram a um dos setores
que mais dinheiro faz agora – a pesca,
pilar da economia do país – mas há
sementes a crescer por todo o lado.
“Antes de 2008 as pessoas não pensavam que a criatividade fazia parte
dos negócios. Depois de 2008 começaram a pensar que este tipo de indústrias e de ideias pode ser alguma coisa”, conta Hugrún Árnadóttir.
Encontrei Húgrun e o marido Magni numa conferência no hotel Hilton que reuniu a nata empresarial islandesa. Foi fácil ver a barba ruiva de
Magni e a túnica colorida de Húgrun.
Os dois fundaram, em 2000, a Kron­
Kron, cadeia de lojas de moda e de sapatos. “Lançámos a nossa própria linha
em outubro de 2008, precisamente no
mês do crash”, conta Húgrun, rindo-se
da coincidência. “Foi o momento perfeito: houve um grande ressurgimento na
apetência por produtos islandeses e design local e foi um sucesso”, explica.
A KronKron vende sapatos em
Nova Iorque a 500 dólares, peças de
design elaborado feitas em Espanha –
e a presença dos dois criadores num
fórum de empresários é um sinal de
mudança na economia islandesa.
“É a oportunidade para aproveitar o
potencial criativo desta nação meio
louca”, diz Húgrun (o facto da empresa ser islandesa faz com que tenham
que adiantar o pagamento de 100%
aos fornecedores, mercê da desconfiança que ainda existe face ao país).
O ressurgimento do design islandês e o foco em áreas criativas nasce
do incentivo dado pela desvalorização
da coroa – o aumento brutal do preço das importações e a maior facilidade em exportar fez os islandeses
optarem pela produção local. Os novos negócios são uma resposta ao que
muitos islandeses mais jovens consideram a preguiça intelectual nascida
de um período de dinheiro fácil.
O Toppstódin é um lugar onde se
encontram pessoas assim. A incubadora de ideias funciona numa antiga central elétrica, num cenário evocativo de antigas fábricas soviéticas.
Vala Helga, gestora, levou-me pelas
salas mostrando diferentes projetos,
desde o desenvolvimento de um carro
de corrida elétrico a um salão caótico,
onde uma dupla de jovens desenvolve
a marca de moda Shadow Creatures,
que já colocou peças em Nova Iorque.
O futuro é incerto? Sim, mas mais
sólido.
? o que significa
A Islândia não deixou cair o Estado
Social. Ao fim de três anos a economia
cresce 2,5%.
Portugal vs Islândia
Portugal
10 561 000
17 416
485
14%
-3,30%
-7,3
107%
Indicador
População (2011)
PIB por habitante (2011)
Salário mínimo*
Desemprego
Evolução do PIB no pior ano da crise**
Diminuição do consumo privado
entre 2008 e 2012
Dívida Pública
Islândia
318 200
28 500
1 500
7,2%
-9%
-18,1
130%
* salário indicativo para a Islândia; a definição salarial faz-se por área // **previsão para Portugal em 2012, pela Comissão Europeia; valor para a Islândia, em 2009
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o meu mundo
tema de capa
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cinema
indústria
mundial
Há pouco mais de uma
década, filmes como
Avatar foram adiados por
falta de tecnologia. Hoje,
com as novas câmaras
3D, a imaginação dos
realizadores é o único limite
por pedro faro e susana torrão
Na era do cinema digital e do 3D, o grande
vencedor dos BAFTA e dos Oscars foi
O Artista, filme mudo, a preto e branco,
realizado por Michel Hazanovicius.
Na noite de 12 de fevereiro último, em
Londres, a equipa de O Artista subiu ao
palco para receber sete dos 12 BAFTA
para que estava nomeado: melhor ator
para Jean Dujardin, melhor realizador
para Hazanovicius, melhor filme, melhor
argumento, melhor fotografia, melhor
guarda-roupa e melhor banda sonora
original. A Los Angeles, à cerimónia da
84ª edição dos Oscars da Academia, o filme
chegou com 10 nomeações, logo a seguir
a A Invenção de Hugo, de Martin Scorsese.
Num ano marcado por produções carregadas
de efeitos especiais como Piratas das Caraíbas,
Harry Potter (Harry Potter e os Talismãs da Morte:
parte 2 foi o filme mais visto em Portugal, com
494 milhões de espectadores e 2,9 milhões
de euros de bilheteira), Missão Impossível ou
X-Men, o triunfo de um filme que remete para
os primórdios do cinema faz a diferença.
O Artista é a vitória da nostalgia e uma homenagem à história do cinema. E não foi o
único. A Invenção de Hugo, o filme com mais
nomeações para os Oscars, é também uma
homenagem aos primeiros anos do cinema.
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o meu mundo
tema de capa
cinema internacional
Êxito
Raúl Ruiz conseguiu
a aclamação mundial
com Mistérios de Lisboa
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Filmes
Arte com peso económico
Os êxitos de 2011 são a prova da diversidade de uma indústria mundial
cujo peso económico é cada vez maior.
De acordo com os números da Motion Picture Association of America,
em 2009 a indústria do cinema era responsável, apenas nos Estados Unidos
(EUA), por 2,2 milhões de postos de trabalho, que contribuíram com 175 mil
milhões de dólares para a economia
americana e 15 mil milhões de dólares
Brasil Vermelho,
de impostos. O caráter universal atingiLeonel Vieira
do pelo cinema made in USA garante-lhe o estatuto de produto de exportação,
com receitas que, em 2009, atingiram os
13,8 mil milhões de dólares.
Se a isto se juntar um custo médio por filme que, nos EUA, atinge
os 100,3 milhões de dólares (34,5 milhões só para marketing), é fácil enMistérios de Lisboa, tender a preocupação dos grandes estúdios em recuperar o investimento.
Paulo Branco
Hoje, mais do que uma história, um
filme é sinónimo de banda sonora,
séries de brinquedos e vestuário, videojogos e, mais importante, um elemento da programação televisiva à
escala mundial.
Produção
2011/2012
Rafa,
Filmes do Tejo
Revolução tecnológica
O cinema digital levou os efeitos especiais e a manipulação da imagem
a resultados nunca imaginados, ao
mesmo tempo que tornou a produção
muito mais simples e barata.
Há filmes que só puderam existir
graças à tecnologia digital. Quando
montepio primavera 2012
terminou Titanic, o realizador James
Cameron sabia qual o próximo projeto
com que queria avançar. O argumento
de Avatar já estava esboçado mas faltava a tecnologia. Foram necessários dez
anos para que o filme estreasse, em dezembro de 2009. Com câmaras especialmente desenhadas para a produção e exibição em 3D, Avatar entrou
de imediato para a história da tecnologia na sétima arte. Uma semana após
a estreia as receitas de bilheteira atingiam os 232 milhões de dólares e foi
o primeiro filme a ultrapassar os dois
mil milhões de dólares de bilheteira.
Os avanços tecnológicos chegaram
também à sala de estar. Com os modernos aparelhos de televisão e a universalidade da Internet, as viagens ao
clube de vídeo da esquina tornaram-se
obsoletas e preocupações como a qualidade do som e imagem deixaram de
fazer sentido.
Para Eduardo Cintra Torres, crítico de televisão, esta realidade reflete-se na indústria do cinema. “Há uma
cada vez maior aposta nos blockbusters, com direito a sequelas, ou uma
tendência para filmes destinados a
adolescentes. É para aí que se tem direcionado o empenho da produção,
para garantir gente em sala.” Os adolescentes são, na opinião de Cintra
Torres, a faixa de público com mais
apetência para assistir a filmes em
sala, sendo as comédias românticas
e os filmes de ação e aventuras os géneros mais procurados.
Saiba mais
Conhece
Nollywood?
N
as
últimas
duas
décadas,
a indústria
cinematográfica
nigeriana cresceu
até se tornar
no segundo
produtor mundial
de cinema,
ultrapassando os
EUA. Nollywood
– alcunha
que ganhou a
partir das suas
congéneres
Hollywood
e Bollywood
– produz uma
média de 200
filmes mensais
que se destinam,
sobretudo, ao
mercado de
homevideo.
P&R
Paulo Branco
Produtor de Cinema
Para o realizador e produtor Leonel Vieira, a relação de causa-efeito entre as mudanças tecnológicas e o tipo
de filmes produzidos não é tão clara.
“O cinema não pára de evoluir mas
os princípios estão nos grandes clássicos. A técnica sempre influenciou as
mudanças: quando os russos criaram
a montagem passou a contar-se a história de uma forma diferente, o mesmo aconteceu quando, no pós-guerra, se descobriram as câmaras leves,
que fizeram nascer as novas cinematografias europeias, como a Nouvelle
Vague”, exemplifica.
“As janelas de exibição estão a alterar-se e a um ritmo alucinante. Com o aparecimento de câmaras de 4k e 8k, o
cinema eletrónico chegou a um nível
muito grande. Entre isso e a necessidade de poupar nos custos, com um
novo acesso às truncagens digitais
nos projetos, vai nascer uma diferença de produção”, afirma o realizador.
Contaminações
Na era da globalização torna-se cada vez mais difícil definir cinematografias nacionais. Não só a contaminação entre os vários tipos de
cinema é cada vez maior, como muitos dos filmes com “formato americano” são, na sua maioria, produzidos fora dos EUA. A Europa é hoje
um importante produtor de cinema,
com grandes estúdios e produtoras.
França lidera a produção e empresas
como a Pathé – empresa centenária
nn
Perfil
Paulo Branco
iniciou o seu percurso nos anos
70 e, desde então,
produziu mais
de 200 filmes
de realizadores como Manoel
de Oliveira, João
César Monteiro, João Canijo,
Teresa Villaverde,
Pedro Costa, Wim
Wenders, Raoul
Ruíz, ou Paul
Auster. Reconhecido defensor do
cinema europeu,
em 1999 foi distinguido pelo Parlamento Europeu
como Melhor Produtor da Europa.
Já em 2005
Jacques Chirac o
tinha condecorado
com a medalha de
Officier de L’Ordre
des Arts et Des
Lettres da República Francesa.
A juntar ao palmarés tem o Lisbon
& Estoril Film
Festival, também
obra sua.
Quando é que o cinema
português começou
a ter maior projeção
internacional?
Nos anos 70 e 80, com
o reconhecimento
internacional de cineastas
como Manoel de Oliveira.
Atrás disso, outros
realizadores começaram
a ter acesso às vitrines
internacionais, como
João César Monteiro
e, depois, João Botelho
ou Pedro Costa. Houve
uma abertura dos
mercados que não se
mede só no número
de espectadores mas
também na capacidade de
encontrar financiamentos
internacionais.
Como é que o cinema
português é visto no
estrangeiro?
O cinema português
esteve na moda e, como
qualquer moda, passa.
Há um reconhecimento
dos grandes vultos
mas as novas gerações
não aproveitaram
isso. Fecharam-se no
reconhecimento dado por
alguns pequenos lobbies
e não perceberam que o
reconhecimento mundial
abre mercados.
Qual a importância de
um prémio internacional
para um produtor?
Há prémios e prémios.
Muitos não têm sentido.
Quando o filme Mistérios
de Lisboa ganhou os
prémios que ganhou,
a repercussão foi uma
difusão internacional, em
termos comerciais, maior
que a de qualquer outro
filme português. Estar
em Cannes numa seleção
competitiva é diferente
de estar numa pequena
secção. É importante ver
onde e como os filmes são
difundidos.
Que aspetos devem ser
realçados na produção
nos últimos 10 anos?
Nos anos 80 e 90 vivemos
uma época eufórica do
cinema português, depois
houve um “endeusamento”
e os últimos 12 anos foram
de retrocesso. Não houve
estratégia política no
sentido de consolidar os
instrumentos necessários
a uma produção contínua.
Os critérios de atribuição
de financiamentos
falharam e surgiram
capelinhas que fecharam
a autocrítica que todos
deveríamos ter feito.
Qual é o papel do Estado
na internacionalização
do cinema?
O cinema não vive
do Orçamento Geral do
Estado, depende 4%
do valor da publicidade.
No Brasil as empresas
podem investir deduzindo
os seus lucros, em
Inglaterra parte do dinheiro
do jogo vai para o cinema...
Portugal nunca teve a
noção da importância do
investimento nas artes
criativas.
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P&R
João Salaviza
Lá fora: Ação!
Realizador
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Qual a importância de um
prémio internacional?
Ter visibilidade
internacional permite
obter apoios noutros
países. É muito triste que
ninguém repare que há
meia dúzia de tipos a tentar
fazer filmes com imensa
dificuldade. Considerando
os espectadores que
fazem nos festivais,
concluímos que não são
tão underground como
se pinta.
Quais as diferenças entre
trabalhar em Portugal e no
estrangeiro?
A grande vantagem de
fazer filmes em Portugal
tem sido, até ao momento,
a liberdade. A grande
desvantagem é que em
Portugal se vive num
contexto onde não há uma
visão da cultura há anos.
Quais os problemas da
distribuição do cinema
português?
É muito difícil ter um
filme português ao lado
de um filme que gasta em
promoção aquilo que um
filme português gasta em
produção. Mas estamos
a viver um tempo de
viragem. Há o exemplo
do João Botelho, com
O Filme do Desassossego,
que organizou uma
espécie de tournée pelos
cineteatros. Temos
que encontrar formas
alternativas de mostrar
os filmes.
montepio primavera 2012
Entre o êxito em festivais
internacionais e o divórcio
do público no mercado interno,
o cinema português continua
a dar cartas
OURO EM BERLIM, Rafa, de
nn
João Salaviza, ganhou o Urso de
Ouro para melhor curta-metragem
no Festival de Berlim, realizado no
último mês de fevereiro
por trás de filmes como Quem Quer
Ser Milionário ou A Fuga das Galinhas
− ou a Europacorp, de Luc Besson, dão
cartas a nível mundial. E é nos arredores de Paris, em Saint Denis, que está a
nascer a “Cidade do Cinema”, que acolherá os maiores estúdios da Europa.
No Extremo Oriente, os filmes de
ação produzidos em Hong Kong há
muito deixaram de ser um fenómeno local. De Bruce Lee a Jackie Chan,
os seus atores ganharam projeção e o
género acabou por influenciar filmes
como Reservoir Dogs, Kill Bill (ambos
de Quentin Tarantino) ou The Matrix,
dos irmãos Wachowski.
Títulos como Moulin Rouge, de Baz
Luhrman, podem ser vistos como um
regresso ao musical mas vão beber
aos filmes de Bollywood. Nos últimos
anos o cinema indiano ganhou projeção, nomeadamente com a nomeação de Lagaan para o Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro. Curiosamente,
muitos destes filmes têm os seus exteriores rodados nos Alpes suíços.
O cinema português começou bem
o ano, com dois filmes premiados no
Festival de Cinema de Berlim. Rafa,
de João Salaviza, ganhou o Urso de Ouro para melhor curta-metragem, Tabu,
de Miguel Gomes, recebeu o Prémio
Alfred Bauer, destinado a distinguir a
inovação, e, à margem do Festival, foi
considerado o melhor filme do certame
pela Federação Internacional de Críticos Cinematográficos.
Os críticos do jornal Público elegeram os filmes Sangue do meu Sangue, de João Canijo, e 48, de Susana de
Sousa Dias, como as obras portuguesas
mais relevantes de 2011. Sangue do Meu
Sangue foi, aliás, o filme português que
mais espectadores levou às salas.
Diversidade
Os dados do Instituto do Cinema e
do Audiovisual (ICA) confirmam
o reconhecimento internacional.
Em 2011 foram premiados 44 filmes
portugueses no estrangeiro, entre longas e curtas-metragens, documentários e cinema de animação. Entre os
galardoados estiveram Sangue do meu
Sangue, de João Canijo, Mistérios de
Lisboa, de Raúl Ruiz, e os documentários Angst, de Graça Castanheira,
e 48, de Susana de Sousa Dias.
Nova lei, nova vida
O
projeto da
nova Lei do
Cinema pode
vir a reunir anualmente
50 milhões de euros
para o setor. O aumento
da verba disponível é
conseguido graças ao
alargamento das fontes
de financiamento que,
além dos canais de
televisão generalistas,
passa a incluir outros
operadores de televisão
e, a pedido, os serviços
audiovisuais. A isto
junta-se o aumento das
contribuições atuais.
A Plataforma do
Cinema, associação
que representa
cineastas e produtores,
veio a público apoiar o
projeto.
Mistérios de Lisboa, do cineasta
chileno Raúl Ruiz, falecido em 2011,
com produção portuguesa, foi outro
dos filmes em destaque, recebendo, a
título póstumo, entre outros, o Special
Award, da Associação de Críticos de
Nova Iorque, e o galardão de Melhor
Filme Estrangeiro, da Associação de
Críticos de Cinema de Toronto.
Pelos EUA há apelidos portugueses bem conhecidos na indústria.
É o caso de Eduardo Serra, diretor de
fotografia nomeado para os Oscars
com The Wings of the Dove e Rapariga
com Brinco de Pérola. Yuri Alves é outro nome a reter. O luso-descendente
realizou mais de 12 filmes desde 2001,
quando, ainda aluno do Secundário,
assinou The Day the World Changed,
sobre o 11 de setembro.
No campo da representação a pioneira foi Maria de Medeiros que, no
início dos anos 90, participou em Henry & June, de Philip Kaufman, e Pulp
Fiction, de Quentin Tarantino. Mais
recentemente, Maria João Bastos alcançou destaque ao protagonizar Mistérios de Lisboa. Apesar do sucesso, a
atriz admite que em Portugal é difícil
viver apenas do cinema. “A televisão
é o nosso porto seguro, que nos permite
seguir o sonho de viver da paixão que
é representar. Além disso não gosto
de desvalorizar a televisão. Tenho tido
oportunidade de fazer projetos muito
bons, como foi o caso de Equador.”
Relação com o público
Apesar do êxito internacional, o público nacional permanece distanciado do
cinema português. No início do ano,
O que Há de Novo no Amor e Paixão tinham, de acordo com o ICA, uma média de 10 espectadores por sessão.
Leonel Vieira, realizador de títulos como A Sombra dos Abutres, Zona
J ou A Arte de Roubar, e produtor de
Budapeste, de Walter Carvalho, recusa-se a acreditar que tudo está bem.
“Quando um país proporciona que se
faça cinema sem obrigação de mercado, temos que ter respeito pelo público. Algo está errado quando a nossa
cinematografia mantém 0,5% de quota de mercado. Em Espanha a produção nacional chega aos 23%, a média da Europa é 20%. Eu só pedia que
Portugal tivesse 5%”, afirma.
Nos últimos anos Leonel Vieira
concentrou-se na produção. Neste
1
o meu mundo
tema de capa
cinema português
momento termina Brasil Vermelho,
filme para televisão feito em coprodução entre Portugal, Canadá, França e
Brasil, que narra a história de João da
Silva que, em 1564, combateu os franceses no Brasil. Em março, El sexo de
los ángeles, do espanhol Xavier Villaverde, também produzido por Vieira,
estreou no Festival de Cinema Ibero-Americano de Miami.
Festivais
Para Catarina Mourão – autora dos
documentários A Dama de Chandor
e Pelas Sombras −, a internacionalização do cinema português deu-se
“quando surgiu um maior apoio estatal ao cinema de autor e à divulgação
no estrangeiro, através do apoio à ida
a festivais, cópias legendadas, mostras e conferências”. Já o realizador
Gabriel Abrantes julga ser “necessário perguntar se o circuito de galerias
e festivais é a melhor opção”.
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o meu mundo
tema de capa
cinema português
P&R
Maria João Bastos
Três visões sobre o cinema português
Leonel Vieira
Realizador
24
Em França e
Espanha estreiam,
semanalmente,
filmes de produção
local. O que impede
Portugal de fazer o
mesmo, dinheiro?
Não se pode reduzir
isso a uma questão.
Se a pudesse
resumir numa, seria
o interesse político.
Se houver vontade
política as coisas
acontecem. Nunca
houve vontade
política em Portugal.
Podíamos não ser
como Espanha,
porque não temos
dimensão, mas
podíamos ser uma
Bélgica! Passamos
o tempo a evocar
os exemplos de
Espanha e França
mas não imitamos
as suas leis.
Tendo uma produtora
com a dimensão
da Stopline, desde
o início sabíamos
que não podíamos
dedicar-nos só aos
filmes. Produzimos
Porquê?
cinema, televisão e
Porque isso toca no publicidade. Foi uma
interesse de pessoas decisão estratégica.
que viveram
Uso a televisão para
disto 30 anos,
produzir coisas
sem apresentar
de que gosto.
resultados.
Há projetos muito
bons, como Conexão
O cinema é a sua
ou Tempo Final.
paixão. A televisão Assim, fico feliz por
é uma necessidade? produzir televisão.
Se fosse só
Em breve começo,
realizador podia
no Brasil, um projeto
escolher só um
baseado numa obra
caminho.
de Jorge Amado.
Qual o principal problema do cinema português?
Não há dinheiro. E quando não há dinheiro é impossível apostar
no cinema em larga escala. Daí que o cinema em Portugal
seja sempre alternativo, não consensual, com uma linguagem
diferente. Sem dinheiro, os únicos que se arriscam a fazer
cinema são os que o fazem por paixão e amor à camisola.
Para se criar uma indústria ou para se produzirem filmes mais
consensuais é necessário dinheiro.
A aposta em telefilmes pode ser uma saída?
Atualmente, entre a RTP e a TVI, estão na calha duas ou três
dezenas de telefilmes. Mas não sei se é este o caminho ou se leva
a algum lado. Depende se as pessoas os veem, o que depende do
tema, atores, horários e programação da concorrência.
"Se houver
vontade política
as coisas
acontecem.
Nunca houve
essa vontade"
Leonel Vieira
montepio primavera 2012
Atriz
"Quero
acreditar que
conseguiremos
atravessar esta
fase"
Maria João Bastos
Eduardo Cintra
Torres
Crítico
"Sem dinheiro,
os únicos que se
arriscam a fazer
cinema são os
que o fazem por
paixão"
Eduardo Cintra Torres
Estava à espera do
sucesso alcançado por
Mistérios de Lisboa?
De certa forma já
sabíamos que ia ser
um bom projeto. O Raúl
Ruiz era um realizador
muito considerado a
nível mundial e a sua
genialidade ia fazer deste
filme um projeto especial.
Mas nunca pensámos
que o filme tivesse tanto
sucesso. Fico muito feliz
com isso pois não só é
merecido como é muito
bom ver o trabalho de todos
reconhecido.
Como correram as
filmagens de As linhas
de Torres?
O filme correu muito
bem. Este era um projeto
que ia ser realizado pelo
Raúl. Quando o Raúl
faleceu o Paulo Branco,
em homenagem, decidiu
seguir com o projeto, com
a realização de Valeria
Sarmento, viúva do Raúl
Ruiz. Foi bonito poder
fazer-lhe esta homenagem.
Para crescer
profissionalmente
a única opção era ir para
o estrangeiro?
O crescimento mais
importante é a nossa
própria evolução enquanto
atores e isso vai-se
ganhando com as nossas
personagens e com quem
trabalhamos.
Mas, neste momento de
crise em que o cinema
está a ser tão crucificado,
recorrer ao estrangeiro é
uma opção.
1
o meu mundo
reportagem
Economia Social
Mais próxima,
mais integrada,
mais estável
26
É apontada por muitos como
a alternativa de futuro ao
sistema capitalista. A economia
social ganha terreno em tempos
de crise financeira
por susana torrão
Um pouco por todo o mundo
a Economia Social ganha
protagonismo. O trabalho, sempre
importante, de ONG, mutualidades,
cooperativas e associações assume
novo destaque em momentos
de crise económica. Mas há
quem vá mais longe e aponte o
setor da Economia Social como
a alternativa de futuro para
resolver os problemas económicos
à escala global. É o caso de
Muhammad Yunus, Nobel da Paz
em 2006 e criador do conceito do
microcrédito, para quem só uma
economia baseada em empresas
sociais pode resolver o problema
da pobreza mundial. Um ideal
partilhado pela OCDE para a qual
“sem empreendedorismo social
as sociedades não alcançarão
novos patamares de inovação
e competitividade.”
montepio primavera 2012
A definição e forma de desenvolvimento do setor varia consoante as
latitudes. No mundo anglo-saxónico
inclui apenas as organizações sem
fins lucrativos, ao passo que na Europa integra áreas de mercado (mutualidades e cooperativas, por exemplo) e de não mercado (caso das IPSS
e de algumas associações e ONG).
E se nos países do Sul surge associado à falência dos sistemas nacionais
de saúde, que leva a que a sociedade
civil crie projetos financiados pela
comunidade destinados a assegurar
esses serviços, no Norte foi a falência
do modelo capitalista que levou os
cidadãos a redescobrirem a importância da Economia Social. Independentemente do motivo, os exemplos
multiplicam-se à escala mundial.
Mãos à obra
Nos países do Norte da Europa como
a Suécia e Finlândia, onde a sociedade civil é bastante ativa, as funções
sociais não são cobertas apenas pelo
Estado-Providência mas também pela
sociedade civil. Mais a Sul, na Suíça, o
setor da Economia Social assume um
peso significativo. Não só ao nível do
setor cooperativo − duas maiores cooperativas de consumo, Migros e Coop,
são responsáveis por 8% do PIB – mas
ao nível associativo, com várias creches, centros de apoio e equipamentos sociais de bairro criados e geridos
pelos cidadãos.
No Reino Unido, a crescente importância do setor levou ao aparecimento
de entidades como a ClearlySo, agência
britânica que faz a ligação das empresas sociais com investidores e o mundo
empresarial. O objetivo é ligar negócios
sociais, empresas, comércio e investimento, ajudando os empreendedores
sociais a conseguirem capital e a melhorarem as suas capacidades.
Em Moçambique, na província do
Chibuto, Binaisa acalentava três sonhos enquanto trabalhava na rádio local: entrar para a faculdade para estudar Língua Portuguesa, criar um cen-
P&R
Eduardo Graça
Presidente da CASES
Que papel assume hoje
a Economia Social?
A crise tornou os modelos e
princípios da Economia Social
mais atuais. Tornam-se quase
um imperativo da prática social,
o que faz com que um setor que
muitos decisores encaravam
como residual passe a estar, em
alguns aspetos, na vanguarda
das respostas à crise.
tro cultural e contribuir para melhorar
a alimentação de crianças e jovens do
distrito. Foi o último destes sonhos que
o jovem empreendedor realizou primeiro. No distrito do Chibuto as escolas
lecionam a disciplina de Agropecuária
mas não há condições para explorar ao
máximo as potencialidades das aulas.
Binaisa criou o “Projeto Porcos” no qual
uma escola receberia um casal de leitões com o compromisso de dar outro
casal a outra escola quando os porcos
se reproduzissem. Quando a criação tivesse escala para criar um pequeno talho a carne seria vendida, melhorando a alimentação de crianças e jovens.
Com o apoio da associação portuguesa Primeiro Passo − que apoia iniciativas autossustentáveis com um financiamento até 500 euros – Binaisa levou
o projeto a bom porto. Os 200 euros
iniciais chegaram para adquirir os primeiros animais, vacinas, ração e medicamentos. Hoje o projeto ainda não
tem dimensão para o talho mas já são
várias as escolas envolvidas.
A associação Primeiro Passo foi
criada por Clara Piçarra depois de
uma experiência de voluntariado em
Moçambique, entre janeiro e abril de
2010, ao serviço da ONG AID-Global.
“Estava na cidade do Chibuto e trabalhava no centro comunitário da aldeia
do Chimundo, para onde ia de bicicleta”, recorda. Pouco depois, todos já conheciam a “mana Clara”, a portuguesa
do centro. No regresso a Lisboa criou a
Primeiro Passo para dar continuidade
ao trabalho iniciado em Moçambique,
trabalhando em conjunto com o Corpo
da Paz, uma ONG laica norte-americana que faz a ponte entre o terreno e a
associação portuguesa. “É importante ter alguém que receba as propostas,
veja a sua viabilidade e ajude na parte
das candidaturas”, assume Clara. Muitos projetos são recusados porque não
cumprem o critério principal: a autossustentabilidade.
A vários milhares de quilómetros
de distância, o Social Economy Centre da Universidade de Toronto, no
De que modo isto é observável?
Parece ser evidente por parte
de empresários, governos e
do próprio setor associativo a
consciência de que é necessário
adotar princípios da Economia
Social. As sociedades não
podem continuar a pensar
segundo o modelo que vingou
durante os últimos 20 a 30 anos.
Têm que se encontrar formas de
cooperação entre os cidadãos de
modo a que, consumindo menos,
se possa manter uma boa
qualidade de vida. Só com os
princípios da Economia Social
isto é possível.
A Economia Social é o sistema
económico do futuro?
Julgo que no fim continuará a
existir a empresa capitalista
e a organização de Economia
Social. O que acontecerá são
profundas alterações no modelo
da empresa capitalista – que
corresponde a uma necessidade
de adaptação aos novos tempos
– e, simultaneamente, de todas
as organizações de Economia
Social para poderem dar
respostas no âmbito da sua
intervenção.
montepio primavera 2012
27
1
o meu mundo
reportagem
economia social
Projetos
com futuro
A Economia Social ganha
protagonismo. Conheça quatro
projetos que fazem a diferença
junto das comunidades em que
se inserem
Associação de
Socorros Mútuos
de Ponta Delgada
Esta IPSS açoriana desenvolve
atuação na área da saúde,
disponibilizando aos 4 500
sócios um centro médico, uma
farmácia e uma parafarmácia.
)1
28
Instituto de Apoio
à Criança
Criado em 1983, o IAC foi
a primeira instituição a
desenvolver ações junto
de crianças que dormiam
na rua, através do Projeto
Rua. Hoje atua no combate
à delinquência, junto de
crianças e jovens ligados
ao universo da droga e
da prostituição. O IAC
também presta apoio a nível
legislativo, através de serviços
de esclarecimento e da recolha
e tratamento da legislação.
)2
Caritas
A Caritas atua em várias
vertentes, da ação social
paroquial à formação para
entidades da Economia Social,
passando pela intervenção em
favor da promoção da igualdade
de género.
)3
Liga dos Bombeiros
Portugueses
Agrega todas as associações
e corpos de bombeiros
nacionais e tem por objetivo
a obtenção de benefícios
e de melhores equipamentos
para os bombeiros, de forma
a garantir uma melhor atuação
junto da comunidade.
)4
montepio primavera 2012
Canadá, cria pontes entre a universidade e as organizações da comunidade,
preferencialmente com cooperativas
ou organizações sem fins lucrativos, ao
mesmo tempo que promove a pesquisa
multidisciplinar em temas relacionados com a Economia Social. A capital
do estado de Ontário é pródiga em projetos. É o caso da Inspirations Studio e
da Foodshare Toronto.
A empresa social
Todas as organizações citadas integram a Economia Social mas nenhuma delas é, por definição, uma empresa social, o conceito defendido por
Muhammad Yunus como a solução
de futuro para a economia mundial.
Autor de obras como A Empresa Social e Criar um Mundo sem Pobreza,
Yunus defende que a empresa social,
ao contrário da empresa capitalista,
tem por objetivo atingir ganhos sociais específicos. Mas não pode ser
confundida com uma associação de
caridade, já que tem que recuperar
os custos enquanto atinge os objeti-
economia social
O caso das cooperativas
A
s Nações
Unidas
declararam 2012 como
Ano Internacional
das Cooperativas,
sob o lema “empresas cooperativas
constroem um
mundo melhor”.
Hoje, mais de mil
milhões de pessoas, à escala mundial, são membros
de cooperativas,
que criam mais
de 100 milhões de
empregos.
Na Bélgica, em
cada 200 sociedades 29,9 são
cooperativas.
Em França, 23
milhões de pessoas são membros
de uma ou mais
cooperativas
(cerca de 38%
da população).
Na Noruega, as cooperativas detêm
96% do mercado
de produção de leite e 55% do mercado de queijo, mais
de 70% das vendas
de ovos e peles e
52% do mercado
de sementes.
Já na Suíça, as
duas maiores
cooperativas de
consumo – Migros
e Coop – são responsáveis por 8%
do PIB do país.
vos sociais – para Yunus, um dos defeitos das ONG é o facto de não funcionarem como uma empresa e, por
isso, serem obrigadas a passar grande parte do tempo a angariar fundos.
Uma empresa social, que cobra pelos produtos ou serviços que produz,
não tem ganhos nem perdas e, quando produz dividendos, estes são reinvestidos nos negócios.
Para Muhammad Yunus existem
dois tipos de empresas sociais: as que
têm como objetivo criar um benefício
social e as que visam o lucro e são detidas por indivíduos carenciados.
No livro A Empresa Social Yunus
alerta para o facto de, durante a atual
crise financeira e económica, ter-se
criado a perspetiva de que, uma vez
ultrapassados os problemas, tudo voltará a ser como era. Para Yunus, só
alterando o paradigma base da sociedade poderá ser alcançada uma solução duradoura. “Numa sociedade em
que a empresa social seja uma força
económica dinâmica as pessoas não
terão que esperar pelo Governo para
abordar problemas como os da pobreza, da fome, da falta de habitação
e das doenças, porque elas próprias
poderão descobrir formas de as resolver”, advoga.
Através da Fundação Grameen e
da parceria com multinacionais, Yunus esteve na origem de várias empresas sociais no Bangladesh, como a
Grameen Danone, que produz iogurtes destinados ao público infantil, ou
a Grameen Adidas, destinada à produção de calçado. Nos dois casos, foram necessários ajustes à realidade
local tendo em conta a cultura gastronómica e as relações familiares.
Aposta na proximidade
Clara Piçarra destaca o envolvimento
com a comunidade como um elemento-chave para o sucesso dos projetos
apoiados em Moçambique. “Só resulta se forem pensados e criados pelas
pessoas locais, que conhecem as necessidades da comunidade”, afirma.
Eduardo Graça, presidente da CASES – Cooperativa António Sérgio
para o Estudo da Economia Social,
concorda: “A intervenção local é uma
das vantagens da Economia Social.
É uma realidade que não funciona ao
sabor dos ciclos das crises de mercado. Está sempre presente no terreno,
ligada às comunidades.”
2 milhões
de empregos na Europa são criados
por entidades que pertencem
à Economia Social.
10%
das empresas europeias
pertencem ao Terceiro Setor, com um
peso considerável na economia da UE.
Eduardo Graça dá como exemplo
as mutualidades: “É um subsetor da
Economia Social que é muito importante porque produz bens e serviços
transacionáveis, está no mercado, não
persegue o lucro, gera emprego e não
se deslocaliza”, afirma. Para o presidente da CASES, entidades como
o Montepio – a maior associação e a
maior mutualidade portuguesa – “têm
a grande virtude de cobrir todo o território nos espaços em que não existem outros serviços, incluindo zonas
menos prósperas do interior.”
Um aspeto determinante, uma vez
que, à medida que a globalização cresce, com os seus efeitos de vulnerabilidade e dependência acrescida, é importante reforçar o desenvolvimento
local. É a proximidade das comunidades que torna mais fácil identificar
necessidades de emprego, formação,
e incentivar o empreendedorismo.
A Economia Social combina a eficiência económica e o empreendedorismo
social, equilibrando crescimento económico e solidariedade social.
O Parlamento Europeu, num relatório divulgado no início de 2009, é claro
quanto aos benefícios do setor: “A Economia Social contribui para a concretização dos quatro principais objetivos
da política de emprego da UE: melhorar o espírito empresarial da população ativa, promover o espírito de empresa, reforçar a capacidade de adaptação
das empresas e dos seus trabalhadores,
através da modernização da organização do trabalho, e reforçar a política de
igualdade de oportunidades.” O setor
representa hoje 10% das empresas europeias, totalizando dois milhões de
empregos.
Embora o peso da Economia Social em Portugal seja inegável, de momento é difícil ter uma perceção clara das empresas que a integram, já
que muitas não são discriminadas
nas estatísticas. A CASES está atual­
mente num processo de criação de
estatísticas para o setor. O trabalho,
realizado em conjunto com o INE, deverá estar concluído no final de 2012.
“Sem correr o risco de cometer
erros grosseiros, pode dizer-se que o
setor é uma realidade significativa
do ponto de vista da economia, contribuindo para a criação de emprego, para o PIB e para o VAB”, afirma
Eduardo Graça, que estima que centenas de milhar de portugueses trabalhem no setor. Do trabalho efetuado até agora estima-se que a Economia Social em Portugal integre entre
cerca 43 600 a 48 400 pessoas, sendo
estes valores aproximados.
? o que significa
Mais próxima da comunidade, menos
volátil e mais resistente às crises,
a Economia Social é uma alternativa
de futuro.
29
1
o meu mundo
OBSERVATÓRIO
ciência
pôr a mão
na massa
32
Educar as populações
para a importância
da ciência e para a
apetência para o
pensamento científico
é o papel principal dos
museus interativos de
ciência e tecnologia.
Afinal, as ciências são
o motor da economia
por helena c. peralta
Jean Piaget influenciou profundamente o ensino do século xx ao
impôr-se à escola tradicional, na
qual o professor se limitava a debitar conhecimento e o aluno a tentar
adquiri-lo. Para o cientista suíço, o
conhecimento na criança é resultado das descobertas que faz e da capacidade de apreensão desse conhecimento. Logo, educar, para Piaget, é
provocar a atividade, ou seja, estimular a procura do conhecimento.
Hoje ninguém parece ter dúvidas
quanto à importância da pesquisa e
da experimentação para o desenvolvimento cognitivo da criança. Mas foi
sobretudo a partir dos anos 50 do século xx que vários países criaram novos espaços, influenciados pelas novas teorias educacionais, que enfatizavam processos de aprendizagem
inspirados na experimentação, e surgiram os primeiros museus de ciência interativa.
Os atuais centros inspiraram-se no
primeiro museu interativo: o Deuts-
montepio primavera 2012
nn
Pavilhão
do conhecimento
Com várias exposições,
regista mais de
800 visitas diárias,
potenciando descobertas
nas áreas da física,
matemática e tecnologia
Ciência viva
3 objetivos
^ apoiar o ensino
experimental das ciências
e a educação científica nas
escolas do País
^ Desenvolver a Rede
Nacional de Centros de
Ciência Viva como espaços
de divulgação interativa
para a população
^ PROMOVER campanhas
nacionais de divulgação
científica
ches Museum, fundado em 1903, em
Munique, na Alemanha, e onde os
visitantes interagiam com os objetos
da exposição. Já no final da década
de 60 nasceu, em S. Francisco, nos
EUA, um projeto pioneiro no campo
da ciência, o famoso Exploratorium,
fundado por Frank Oppenheimer, físico que estimulava a curiosidade dos
alunos pela experimentação na sala
de aula.
Existe hoje uma alargada rede pelo mundo, de que são exemplo o Cittá della Scienza, em Nápoles, o Exploradôme, em Paris, o Technopolis,
em Copenhaga e o Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Liga-os o papel fundamental que têm na sociedade: demonstrar, de forma simples e
acessível, que a ciência, além de fundamental, não é exclusiva de alguns
“iluminados.”
Ensino formal é insuficiente
As ciências são o motor da economia
e só criando apetência para as áreas
científicas se pode desenhar o futuro das civilizações. “Se, há um século, o problema das sociedades menos
desenvolvidas era o analfabetismo,
hoje o problema grave é o analfabetismo científico”, escreve Carlos Fiolhais, investigador e professor de Física na Universidade de Coimbra, na
sua obra A Ciência em Portugal.
Apesar da evolução positiva que
Portugal registou nesta área nos últimos anos há ainda muito trabalho
por fazer. Existe no País um grande
défice de cultura científica que os museus e centros de ciência e tecnologia
ajudam a colmatar. Segundo o PISA
(Programme for International Students
Assessement), estudo da OCDE que
testa os conhecimentos dos estudantes de 15 anos em diversos países, os
portugueses ficaram nos últimos lugares no que diz respeito às questões
científicas. Países como a Coreia do
Sul e a Finlândia conquistaram os
primeiros lugares. “Como não há nenhum defeito no cérebro dos alunos
portugueses, penso que o problema
está na escola e na cultura”, explica
Carlos Fiolhais à Montepio.
“O ensino em Portugal, infelizmente, não estimula o interesse dos
alunos pela ciência, em especial
o dos mais jovens. Esta é uma das
grandes mudanças que é necessário
fazer: introduzir mais experimentação no jardim-de-infância e no primeiro ciclo do ensino básico. É pelas
próprias mãos que as crianças, que
nascem curiosas, podem e devem
ganhar uma primeira ideia da ciência na chamada idade dos porquês”,
remata o investigador.
Com ele concorda Alexandre
Quintanilha, investigador, professor
e diretor do Centro de Citologia Experimental da Universidade do Porto. Para Quintanilha o ensino formal
“deveria caminhar no sentido da experimentação e afastar-se do ensino puramente teórico. Pensar que
o que aprendemos hoje nos garantirá emprego amanhã é infantil. Infelizmente, a curiosidade não é fácil
de ensinar, tem que ser por infeção
saudável.”
A importância dos centros de
ciência interativa
E foi precisamente para motivar esta
infeção saudável que se criaram redes de partilha de informação científica e centros de ciência interativa.
As instituições representadas na ECSITE*, à qual pertence a Rede Nacional de Centros Ciência Viva, recebem
cerca de 30 milhões de visitantes por
ano, sendo que cerca de 60% destes
participantes têm menos de 25 anos.
O Programa Ciência Viva surgiu
em 1996, pela mão do Ministério da
Ciência e Tecnologia, com o objetivo
de contrariar o divórcio entre os portugueses e a ciência. É gerido atualmente pela Associação Ciência Viva
− Agência Nacional para a Cultura
Científica e Tecnológica, onde participam diversas entidades nacionais,
nomeadamente universidades, e liderado por Rosalia Vargas. Este programa atua em três eixos: apoio ao
ensino experimental das ciências e
promoção da educação científica nas
escolas; desenvolvimento da Rede
Nacional de Centros de Ciência Viva, espaços de divulgação interativa
para a população; e campanhas nacionais de divulgação científica.
O trabalho junto dos professores
também é essencial para que se sintam atraídos pela educação científica.
Centros da Rede Ciência Viva, como
o Exploratório de Coimbra, fazem esse trabalho, dando formação específica para o ensino científico. Mas há
outras formas de beber este conhecimento. Por exemplo, a Net-Eu (Network to Improve Non-Formal Science Teaching), uma rede social onde se
trocam experiências sobre métodos
e abordagens diferentes da ciência.
“Penso que estamos no caminho
certo. Dar às pessoas autoconfiança
para questionarem a sociedade que
querem construir, e quem querem
ser, é provavelmente o que de melhor
temos para dar aos outros”, finaliza
Alexandre Quintanilha.
science4you
Ciência para todos
q
uando
Miguel
Pina Martins acabou os
seus estudos
universitários
fora já mordido
pelo bichinho
do empreendedorismo. Ligado
ao Audax, centro
de formação de
empreendedores
do ISCTE e da
Fundação Faculdade de Ciências
da Universidade
de Lisboa, não se
assustou com a
pouca experiência e começou
logo a trabalhar
na ideia de produzir brinquedos
científicos.
Assim, em 2008,
fundou a Science4you, empresa
que começou por
desenvolver, produzir e comercializar brinquedos
científicos e que,
atualmente, se
dedica também à
formação e animação científica.
Esta última já
tem um peso de
30% no volume
de negócios
que, em 2011, se
situou nos 600
mil euros.
Com 14 funcionários, a
Science4you já
está presente
em Espanha,
Moçambique,
Angola e Brasil.
* EcsITE - The EuropEan Network of Science Centres and Museums
montepio primavera 2012
33
1
o meu mundo
entrevista
presidente do Pavilhão do Conhecimento
e da Associação Ciência Viva
"Ciência viva
é case study"
34
O modelo seguido em Portugal para a
construção da rede de museus de ciência
interativa, descentralizado, em parceria
com universidades e autarquias,
é destacado a nível internacional
como fonte de inspiração
por helena c. peralta
fotografia artur
Rosalia Vargas é presidente do Pavilhão do Conhecimento e
da Associação Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica
e Tecnológica. Como responsável pela Rede de Centros de Ciência Viva,
revela-nos que a opção seguida para a sua implementação foi
bem-sucedida e é, inclusive, alvo de destaque por países como a Noruega.
Como é que locais de partilha de
conhecimento, como o Pavilhão do
Conhecimento e os centros da Rede Ciência Viva, contribuem para a
melhor educação científica de crianças e jovens?
Sabemos hoje que o contacto entre as
pessoas e a ciência se faz principalmente em três espaços: a escola, os
museus e centros de ciência e os media. Os centros de ciência são, talvez,
aqueles onde o contacto é mais físico, mais emocional. Aprendemos melhor aquilo de que gostamos. Einstein
conta-nos que o seu amor pela Física foi desencadeado por uma bússola que o pai lhe ofereceu na infância.
Os centros de ciência respondem à
curiosidade e ao desejo de saber mais,
estimulam e entusiasmam, são catalisadores de uma melhor educação
científica. Oppenheimer, o fundador
do Exploratorium de S. Francisco, dizia que nenhuma criança “chumba”
num centro de ciência porque são espaços de grande motivação, de grande
curiosidade.
Como se compara Portugal com outros países neste tipo de ensino?
A Ciência Viva e o Pavilhão do Conhecimento são membros ativos do
ASTC* e do ECSITE**. Ocupamos um
patamar de prestígio e inovação entre os museus e centros de ciência de
todo o mundo, sobretudo pela forma
como criámos a nossa rede de centros
e pelos resultados alcançados. Somos
procurados por consórcios internacionais de produção de exposições e
por parcerias de projetos de educação
científica, para os quais a forte interação com a comunidade científica é
muito relevante. Participámos num
seminário, que se realizou na Noruega, em 2005, totalmente dedicado à
Rede Ciência Viva como fonte de inspiração, onde a experiência portuguesa foi amplamente discutida. Mas há
ainda um longo caminho a percorrer.
Não podemos ocultar que a educação
científica sofre ainda de um atraso estrutural, que decorre de décadas de
ensino retórico e pouco experimental.
Mas estamos no caminho certo. Portu-
gal está entre os países da OCDE onde
a apetência dos jovens por cursos de
engenharia e tecnologia mais cresceu.
O que foi que a Noruega destacou de
positivo na rede portuguesa?
A forte ligação com a comunidade
científica, com reflexos no trabalho
com escolas, alunos e professores.
O modelo de criação dos centros também é apreciado pela sua natureza
descentralizada e pelo papel dinamizador do desenvolvimento local.
Este tipo de estrutura, tal como está
montada, é pioneira ou segue algum
modelo internacional?
O pioneirismo reside no enraizamento da estrutura na sociedade portuguesa. Poder-se-ia ter optado por um
* ASTC - Association of Science - Technology Centers // * * EcsITE - The EuropEan Network of Science Centres and Museums
montepio primavera 2012
modelo, a partir do topo, e depois replicá-lo aqui e ali de forma centralizada, com um franchising. Escolheu-se
outra via, a do envolvimento das autarquias, a partir das suas realidades
regionais e locais, numa forte ligação
e comprometimento com a comunidade científica. Os municípios têm
Somos procurados
por consórcios
internacionais de produção
de exposições e por
parcerias de projetos de
educação científica, para os
quais a forte interação com
a comunidade científica
é muito relevante.
um papel marcante na manutenção
e gestão desses equipamentos. É esta
proximidade que deverá tornar viável
e sustentável o crescimento da Rede de
Centros de Ciência em todo o País.
Quantos centros já tem a Rede e qual
o número acumulado de visitantes?
A Rede conta com 19 centros em todo o
País e já tem novos projetos em desenvolvimento, respondendo ao interesse
de universidades, instituições de investigação e autarquias. Naturalmente, o
Pavilhão do Conhecimento, pela sua
localização e dimensão, é o que tem
atraído maior número de visitantes.
Em 2010 tínhamos um número global
de seis milhões de visitas acumuladas.
A média anual de cada Centro Ciên-
cia Viva varia entre as 15 e as 50 mil
visitas. O Pavilhão do Conhecimento
é uma realidade diferente, com uma
média anual de 230 mil.
Quais são os projetos mais recentes
no Pavilhão do Conhecimento?
Um projeto aliciante é a produção de
grandes exposições para o mercado
nacional e internacional: é um desafio que só os maiores centros mundiais são capazes de encarar, já que
exige muita experiência e capacidade
de realização. A tendência atual é fazer projetos de colaboração internacional e a Ciência Viva já faz parte desse
núcleo. Mas há um outro projeto que
nos merece grande atenção, trata-se
de uma escola no próprio Centro de
Ciência. A Escola Ciência Viva está
a funcionar no Pavilhão do Conhecimento, como resultado de uma parceria com o Agrupamento de Escolas
Fernando Pessoa: cada uma das 33
turmas do 1º ciclo passa uma semana inteira neste Centro, acompanhada por professores, cientistas e educadores, num trabalho organizado que
depois continua nas próprias escolas
de origem. Tratando-se de um projeto sem paralelo, em Portugal e na
Europa, está a ser acompanhado por
avaliação independente. O objetivo é
acumular experiência para lançar as
bases de um diálogo ainda mais sólido entre os Centros Ciência Viva e as
escolas de todo o País.
O que acontece durante essa semana
aqui no Pavilhão do Conhecimento?
O Pavilhão do Conhecimento é a sala de aula com que qualquer criança
sonha. Espaçosa, luminosa, plena de
desafios e aventura. É altura de vestir a pele de um cientista, que é como
quem diz a sua bata, usar equipamentos científicos, fazer experiências no
laboratório, falar com cientistas, falar
de ciência. A batalha pela educação
científica, e contra os estereótipos, começa cedo, de preferência no primeiro
dia de escola, que é o primeiro de uma
aprendizagem que se espera longa, como a vida.
montepio primavera 2012
35
1
o meu mundo
OBSERVATÓRIO
pavilhão do conhecimento
2
1 Todos os sentidos são
postos alerta à chegada ao
Pavilhão do Conhecimento
2 Num mundo colorido
aprender é mais fácil
1
36
Uma viagem
pelo saber
Com 800 visitantes por dia, o
Pavilhão do Conhecimento é um
fenómeno nacional na educação
da ciência de forma lúdica.
Conheça as atuais exposições
deste museu interativo
Famoso no mundo, o Pavilhão do
Conhecimento já recebeu a visita de
ilustres personalidades como Bill Gates.
Em 2006 o fundador da Microsoft esteve em Portugal e acabou a
dar uma aula, naquele espaço, a mais
de uma centena de jovens alunos de
escolas dos arredores de Lisboa, que
colocaram inúmeras questões ligadas
à tecnologia.
Inaugurado em 1998, aquando da
Exposição Internacional de Lisboa,
no Parque das Nações, em Lisboa, o
edifício foi desenhado pelo arquiteto
Carrilho da Graça. Abriu ao público
com uma exposição sobre o Conhecimento dos Mares, tendo sido um dos
mais visitados do certame, com cerca
de 2,5 milhões de entradas.
Reabriu em 1999, já como Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva,
com diversas exposições, permanentes e temporárias, e centenas de módulos ligados ao conhecimento científico, com os quais os participantes podem interagir de forma ativa e lúdica.
montepio primavera 2012
VISITA GUIADA
Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva
S
ão cerca de 800 as visitas diárias de participantes que entram num
mundo de descoberta da física, matemática e tecnologia, entre outras.
Siga-nos agora numa visita guiada pelo Centro:
^ O Mar é Fixe
mas não é só
peixe
A exposição
temporária
dedicada ao mar
está patente até
agosto. A ideia
é mostrar a
importância do
mar na evolução
da humanidade.
Os módulos
convidam a uma
viagem entre
embarcações,
contentores,
boias e farois,
num total de 30
experiências
interativas.
A mostra foi
desenhada
pela Heureka
Science Center,
na Finlândia,
e chegou
a Portugal
adaptada à nossa
realidade.
Aqui pode sentar-se aos comandos de um reach
stacker e testar
a perícia a empilhar contentores.
^ A Física
no Dia a dia
Exibição interativa inspirada na
obra A Física no
Dia a Dia, de Rómulo de Carvalho. Sabia que
tem um centro de
física em casa?
É esta a questão
que se levanta no
início da viagem,
distribuída pelas
divisões de uma
casa, com 73 atividades, realizadas com materiais simples e
acessíveis.
^ Explora
A sala Explora
concentra um
conjunto de fe-
nómenos naturais, divididos em
cinco áreas: Luz,
Visão, Ondas, Perceção e Sistemas
(Bué) Complexos.
A exposição foi
concebida para
o Exploratorium
de S. Francisco,
tornando-se num
clássico nos centros de ciência
em todo o mundo.
^ Algoritmos
Criativos
É a mais recente
exposição do
Pavilhão e resulta
da colaboração
com o Espaço do
Tempo – Convento da Saudação,
de Montemor-o-Novo. É uma
mostra de 12 trabalhos artísticos,
em áreas como o
design de interação, computação
científica, robótica, inteligência artificial e
engenharia de
sistemas.
^ Brincar
Ciência
Este é, por
excelência, o
espaço dos mais
novos. Pequenos
exploradores,
dos 3 aos 6 anos,
vestem um fato
de astronauta,
entram dentro de
um foguetão ou
constroem a Casa
Inacabada.
^ Exposição
em Fuga
Alguns dos módulos interativos
saíram das salas
de exposição e
estão espalhados
um pouco por
todo o Pavilhão.
Procure-os antes
que fujam de vez.
Serviço
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1
o meu mundo
OBSERVATÓRIO
centros ciência viva
É proibido não mexer
Estes espaços não se
compadecem com quem fica de
mãos nos bolsos. Quem passa a
porta tem que ter espírito aberto
para deixar o conhecimento
entrar. E mexer é obrigatório
> PARQUE DE ASTRONOMIA
CENTRO CIÊNCIA VIVA
DE CONSTÂNCIA
Data de fundação: 1992
38
O centro de Constância surgiu pela
mão do atual diretor, Máximo Ferreira, que, desafiado a criar um museu de astronomia na Universidade de Ciência de Lisboa, levou algumas atividades para fora do museu.
Os programas Astronomia na Praia e
Astrofestas deram origem a pólos de
astronomia, entre eles o Observatório de Constância.
Inaugurado em 2000, integrou
a Rede de Centros Ciência Viva
em 2004. “Todos os equipamentos
estão relacionados com a astronomia mas envolvem conceitos de física, matemática e geografia”, diz
Máximo.
> EXPLORATÓRIO
CENTRO CIÊNCIA VIVA
DE COIMBRA
Data de fundação: 1995
Número de exposições: 4
O Exploratório foi inaugurado em
1995, por iniciativa do Centro de Iniciação Científica da Universidade de
montepio primavera 2012
O centro é composto por vários
módulos e plataformas. A Esfera Celeste, constituída por aros de 7,5 metros de diâmetro, representa o meridiano do local, o equador celeste, os
trópicos e os círculos polares e permite ao visitante observar a Estrela
Polar através de um orifício situado
no eixo de rotação da terra.
O Relógio Analemático permite ver as horas através do sol de forma muito precisa e a Galáxia, uma
estrutura móvel em inox, representa as características da Via Láctea.
Os equipamentos mais apreciados
pelas crianças são os carrosséis, o do
Sol/Terra/Lua, o de Júpiter e o de
Saturno, módulo onde os mais novos
podem sentar-se, girar e perceber os
movimentos dos astros.
Coimbra, com os temas “O acaso em
Ciência” e “A Ciência pode ser divertida”.
No edifício, junto ao rio, até a cafetaria tem alusões à ciência. Nas paredes explica-se o que são hidratos de
carbono, lípidos e glícidos. Mas é na
oficina que se constroi a magia. É lá
que três colaboradores desenvolvem
material científico para novas exposições. Atualmente o Exploratório tem quatro exposições a funcionar: “Em Boa Forma com a Ciência”,
“Sentir.com”, “Viajar com a Ciência” e
“Ciência no Parque”, num total de 112
módulos no interior e 47 no jardim.
Também no jardim se “estuda”
ciência através de um xilofone em
madeira, torneiras suspensas, um
simulador lunar ou um parafuso de
Arquimedes para regar a horta.
> mina de ciência
CENTRO CIÊNCIA VIVA
DO LOUSAL
Data de fundação: 1988
Número de exposições: 6
Explorar ciência, extrair conhecimento é o lema deste centro que surgiu numa antiga mina de pirites, perto
de Grândola. A mina, explorada pela
SAPEC, funcionou até 1988 e chegou
a ter 1 200 trabalhadores. Quando encerrou criou-se um problema social.
“Foi então que a SAPEC se uniu à
Fundação Frederic Velge para um
projeto de revitalização local”, conta
Jorge Relva, professor na Faculdade
de Ciências de Lisboa e atual presidente da Associação Ciência Viva do
Lousal. O Centro do Lousal foi inaugurado em Junho de 2010, com 11 mil
visitantes até ao final do ano.
São seis as atuais exposições, como
o “Sem Terra Não Há Carochas” ou o
“Gruta Virtual” onde, através de uns
óculos 3D, poderá visitar um mundo
virtual. “O Banho de Ciência”, “Ciências do Virtual”, “Darwin Now” e “Mina P’ra Gente Pequena” são as restantes atividades. Este último módulo faz
as delícias da pequenada, que se diverte
a fazer o árduo trabalho de um mineiro.
A MINHA CIDADE
caminhos a percorrer em
mobilidade, urbanismo,
solidariedade
página 40
página 46
página 49
página 50
Lisboa é, uma vez mais,
capital da vela.
Saiba tudo sobre
a Volvo Ocean Race
e a regata Tall Ships
Conheça projetos
nacionais que
dão cartas lá fora
Como o grupo
Visabeira recuperou
a Vista Alegre Atlantis
e a Cerâmica
Bordallo Pinheiro
O arquiteto Gonçalo Byrne
revela a sua visão
da cidade que o acolheu
há 60 anos: Lisboa
VELA
design
inovação
Opinião
regata
Lisboa à vela
Nos próximos meses Lisboa
afirmaRÁ, uma vez mais, a sua
condição de capital atlântica
da Europa. A Volvo Ocean Race
chega À capital portuguesa
a 31 de maio e julho marca
o regresso da regata Tall Ships
por luísa de carvalho pereira
fotografia ©paul todd/volvo ocean race
40
Aquela que é considerada a Volta
ao Mundo à Vela terá como paragem a doca de Pedrouços, em Lisboa. Entre 31 de maio e 10 de junho,
a cidade acolhe a final da etapa
transatlântica da Volvo Ocean Race
(VOR) 2011-2012, que resultará
num impacto económico acima dos
50 milhões de euros.
“Portugal é um país de navegantes,
que deu novos mundos ao mundo,
e a sua capital, Lisboa, foi ponto de
partida para a fabulosa saga dos Descobrimentos”, afirmou António Costa, presidente da Câmara de Lisboa,
no anúncio da vitória da candidatura portuguesa. Para António Costa,
uma cidade de vocação histórica tão
transatlântica só poderia estar associada à maior aventura oceânica dos
tempos modernos.
Tendo em conta que se trata de um
dos cinco maiores eventos desportivos
mundiais – a par dos Campeonatos
do Mundo e Europa de Futebol, Jogos Olímpicos e Ryder Cup (em golfe)
–, são inegáveis as mais-valias que a
VOR trará a Portugal. “Uma vez mais,
pela via do desporto ao mais alto ní-
montepio primavera 2012
vel, a marca Portugal será comunicada pelos quatro cantos do mundo, dando a conhecer um país de excelência,
com uma oferta turística de altíssima
qualidade e capacidade para acolher
grandes organizações, como é o caso
da Volvo Ocean Race”, comenta a Lagos Sports, responsável pela candidatura de Lisboa a receber o evento.
Os momentos altos da etapa portuguesa da VOR – a In-Port Race e a Partida
de Lisboa, rumo a Lorient (França),
nos dias 9 e 10 de junho, respetivamente – serão transmitidos em direto
para mais de 100 países.
Uma aventura épica
No início dos anos 70 alguns velejadores da Royal Navy Sailing Association começaram a discutir a possibilidade de competirem numa volta ao
mundo à vela. Das palavras passaram
aos atos e organizaram uma prova mítica: a Whitbread, hoje conhecida por
Volvo Ocean Race. Realizada todos os
quatro anos, mais do que uma prova
de vela é uma incrível volta ao mundo cumprida em nove meses. São seis
equipas, cada uma com 11 tripulantes, que, depois de partirem, estão
BASTIDORES
Um dia na VOR
U
m dia na VOR
garante a
possibilidade de
conhecer de perto as mais
avançadas embarcações
do mundo e contactar com
alguns dos mais conceituados
desportistas do planeta.
Um dia típico incluirá,
também, a visita às estruturas
de animação do Race
Village – cinema, simuladores
ou cinema 3D –, assistir à
manutenção dos barcos de
competição na zona das
equipas ou às regatas com a
linha de largada bem perto de
terra firme, mesmo em frente
ao Race Village. Também
pode optar pelo batismo
em experiências náuticas
ou por assistir a concertos
e espetáculos enquanto
almoça ou janta nos diversos
restaurantes, cafés
e bares. A entrada é livre.
2
a minha cidade
reportagem
41
galway
lorient
lisboa
Alicante
miami
Sanya
1
Abu Dhabi
n
w
e
Itajai
s
Cape Town
Auckland
2
O percurso
As seis equipas percorrem o globo ao longo de nove meses, enfrentando toda a espécie de desafios.
cidade anfitriã
chegada
in-port race
leg start
destino
distância
Alicante
Cape Town
Abu Dhabi
Sanya
Auckland
Itajai
Miami
Lisboa
Lorient
Galway
–
25/11/2011
1/1/2012
4/2/2012
8/3/2012
4/4/2012
6/5/2012
31/5/2012
17/6/2012
3/7/2012
30/10/2011
10/12/2011
13/1/2012
18/2/2012
17/3/2012
21/4/2012
19/5/2012
9/6/2012
30/6/2012
7/7/2012
5/11/2011
11/12/2011
14/1/2012
19/2/2012
18/3/2012
22/4/2012
20/5/2012
10/6/2012
1/7/2012
–
Cape Town
Abu Dhabi
Sanya
Auckland
Itajai
Miami
Lisboa
Lorient
Galway
–
6 500 mn
5 430 mn
4 600 mn
5 220 mn
6 705 mn
4 800 mn
3 590 mn
940 mn
485 mn
–
1 A viagem pode
ser acompanhada,
diariamente,
no site do evento
2 Em cada
paragem as
equipas reparam
os veleiros e
promovem a vela
a nível mundial
montepio primavera 2012
2
a minha cidade
reportagem
volvo ocean race
1 A VOR
testa os
velejadores
ao limite
2 Em nove
meses a regata
percorre
todos os mares
42
1
completamente sós. “Esta corrida é a
derradeira aventura humana, visitando todos os continentes, atravessando
todos os oceanos e desafiando a natureza como nenhum desporto. Quando
as equipas partem despedimo-nos, esperando vê-los na meta final. É uma
corrida onde colocam a sua vida em
risco para ganhar um dos mais prestigiantes troféus do desporto”, afirmou
Knut Frostrad, CEO da VOR.
O lema Life at the Extreme (a vida
no limite) é adequado a uma competição que passa por cinco oceanos e
quatro continentes, em condições de
extrema dureza, muitas vezes no limite da resistência física e psicológica.
Uma candidatura de peso
A escolha de Lisboa como cidade
porto da Volvo Ocean Race 2011-2012
resulta de uma candidatura complexa, liderada pela Lagos Sports, em
parceria com a Câmara Municipal
de Lisboa, que contou com a participação de 34 cidades europeias.
Durante mais de um ano foi feito um
trabalho rigoroso de preparação de
todo o projeto que, aliando a história
marítima de Portugal, as extraordinárias condições para a prática da
vela e provas dadas na organização
de grandes eventos, logrou bater as
restantes candidaturas. Ficou assim
garantido o estatuto de stopover (paragem) recebendo a prova na chegada ao continente europeu, vinda dos
Estados Unidos. “Portugal tem uma
tradição única na história da navegação e a sua capital é perfeita para receber um evento de vela offshore desta envergadura”, comenta Jon
Bramley, diretor de Comunicação da
VOR, que realça a importância económica do evento.
montepio primavera 2012
2
Para fazer a previsão do impacto
em Portugal, a Lagos Sports usa como
referência o estudo levado a cabo pela Deloitte na Volvo Ocean Race 2008-2009. “Segundo os dados disponibilizados pela organização da prova, as
cidades de Galway (Irlanda) e Estocolmo (Suécia), que acolheram a prova nas mesmas datas em que a regata estará em Lisboa, beneficiaram de
impactos económicos na ordem dos
60 e 80 milhões de euros”, explica.
Em termos de impacto turístico, só a
paragem da prova em Galway acolheu
perto de 500 mil visitantes. Dadas as
características da capital portuguesa
a Lagos Sports pretende superar estes valores, lembrando que este é um
evento que promove a marca Portugal durante nove meses. “São valores
quase inqualificáveis de promoção do
País”, conclui.
Race village
É na Race Village, na doca de Pedrouços, que poderão ser encontradas zonas de interesse para o público,
convidados e patrocinadores. A área
de exposições será o espaço onde se
concentrarão todas as entidades que
apoiam o evento, com tendas promocionais, stands e zonas de hospitalidade. Em simultâneo, os visitantes
terão à disposição uma vasta área de
restauração. “Pretende-se criar um
conjunto de animações e espetáculos,
desde concertos a sessões de cinema,
que permitam atrair público, criando
um evento único, capaz de desafiar,
cativar, absorver e acolher todos os
públicos, de forma cómoda e atraente”, avança a organização. Na área de
equipas, estarão localizadas as bases
de terra para as equipas em competição, com zonas de atracagem, estalei-
jj
paragem em Lisboa
A capital portuguesa acolhe a prova
na sua chegada à Europa após
a travessia atlântica
ros em seco, onde poderão ser feitas
reparações, velarias e locais para os
barcos de apoio. Prevê-se uma visita massiva por parte dos espectadores, que podem tomar contacto com
o espetáculo paralelo que consiste na
preparação de uma regata oceânica.
Apesar de muitas ações para a etapa de Lisboa ainda estarem em fase
de projeto, a VOR conta com iniciativas dedicadas aos mais jovens, como a Volvo Ocean Race Academy – que
se traduz numa competição por equipas na Classe Optimist, cujos participantes são apurados depois de fases
de qualificação locais (mais informações em www.volvooceanrace.com).
A Lagos Sports avança que todos os
dias haverá concertos e animações.
Garantida está já, na noite da In-Port
Race, a exibição, em grande ecrã, do
Portugal-Alemanha, o primeiro jogo da nossa seleção no Europeu de
Futebol.
2
a minha cidade
reportagem
tall ships
“5 Portos,
5 Culturas, 1 Regata”
Desde 1956 que a Tall Ships Race promove
os grandes veleiros e celebra o convívio entre jovens
de todo o mundo
44
De 19 a 22 de julho Lisboa recebe a
segunda etapa da corrida que começa
em Saint-Malô, França. É o regresso
da Tall Ships a Portugal, depois da última passagem, em 2006. De Lisboa,
a prova segue para Cádiz, Corunha e
Dublin, onde terminará a última etapa, entre 23 e 26 agosto.
O Montepio é um dos patrocinadores da Tall Ships. Depois de ações em
Lisboa, o veleiro Montepio acompanhará a regata até Vila Real de Santo
António, de onde seguirá para o Triângulo Atlântico.
A regata Tall Ships foi criada em
1956. Hoje, as The Tall Ships Race são
regatas anuais organizadas pela Sail
Training International, que visa promover e formar o treino de mar e a
convivência intercultural de jovens
de todo o mundo. Mais de 60 grandes
veleiros e 5 000 tripulantes de 49 países são esperados nesta edição.
Os visitantes poderão conhecer o
recinto, onde haverá uma zona lounge
com pontos de restauração e música
ambiente, zona com atividades para crianças, exposições de fotografia,
conferências e workshops sobre o mar
e a cidade de Lisboa.
circum-navegação
Sozinho
à vela
Objetivo: Triângulo
Atlântico
A viagem do
veleiro Montepio
é acompanhada
de histórias
e História
objetivo
Rio 2016
J
oão Villas
Boas
e João
Duarte são
outra dupla de
velejadores
apoiados pelo
Montepio.
Em 2012, na
classe 470,
tem início a
caminhada
para os Jogos
Olímpicos.
Em abril, a dupla
competirá no
ISAF Sailing
World Cup, em
Espanha, com
o objetivo de se
classificar na
“frota de ouro”.
montepio primavera 2012
Mas a meta não
são os Jogos
Olímpicos de
Londres. “Acabo
o curso em 2012
e o meu grande
objetivo são os
Jogos Olímpicos
do Rio de Janeiro,
em 2016”, assume
João Villas Boas.
P&R
Ricardo Diniz
Navegador solitário
O que o leva a ser um
navegador solitário?
O que me leva a ir para
o mar tem mais a
ver com a educação.
É possível ensinar história, matemática, geografia,
seguindo a viagem de um
veleiro. Tento desenvolver projetos que contem
uma história e que ajudem
a honrar a nossa História
como país. Faço isto desde
1996, mas também desenvolvo projetos de empreendedorismo, palestras.
Só sobre a vela?
Especialmente sobre gestão
pessoal e financeira. Faço
isto como um accidental
coach. Tentei sempre ter
parceiros que gerassem
parcerias e acreditassem
na importância de valorizar
Portugal, reforçando a nossa
História e projetando-a
no futuro. No ano passado
contactei o Montepio, que
me acolheu com entusiasmo
e "comprou", com os
objetivos certos, o meu
maior projeto de sempre.
Foi assim que surgiu
o Triângulo Atlântico?
Sim, o meu segredo mais
bem guardado desde 2004.
Sair de Lisboa, capital atlântica da Europa, ir até Vila
Real de Santo António e circum-navegar a zona económica exclusiva portuguesa.
Temos 20 vezes mais mar
do que terra, o “petróleo” de
Portugal. É um projeto político, artístico, educativo.
Um desafio brutal.
Quando é a partida?
Vou partir em julho, agosto.
Mas antes vamos fazer a
Tall Ships Race. Durante a
Tall Ships vamos mostrar
o barco e fazer ações e
quando a regata arrancar
para Cádiz saíremos
com aquelas centenas
de veleiros. Acompanho
a Tall Ships e, em Vila
Real de Santo António,
viro à direita e sigo para
o Triângulo Atlântico.
Um historiador contará
diariamente uma história
no nosso site.
É muito importante falar de
Portugal, saber que Vasco
da Gama tinha 24 anos.
Quero que o protagonismo
seja de Portugal.
Como é estar no mar
sozinho?
Há momentos muito
profundos. Planeio os meus
projetos com muito cuidado,
o máximo de pormenor,
depois há uma fatia de risco
calculado e uma fatia de fé
brutal. É assim que atinjo os
meus projetos.
O Ricardo enjoa?
Enjoo que nem uma
pescada! Mas depois passa.
Em média, quanto tempo
por ano vive num barco?
Varia muito. Entre 1998
e 2000 vivi sempre num
barco. No ano passado fui
para o mar e não ia
há quatro anos. Coincidiu
com o nascimento dos
meus filhos. Não tenho
pressa... S.T.
2
a minha cidadeade
reportagem
Design
Marca
Portugal
46
Arriscam novos
materiais ou
reinterpretam
valores antigos,
como o da cortiça,
da madeira ou
do vidro. Vários
nomes do design
português apostam
tudo na inovação.
Resultado?
Peças icónicas
que atravessam
fronteiras
por helena viegas
fotografia artur
Pilar del Rio, a presidente da
Fundação José Saramago, “vestiu”
uma mala La.Ga no dia de estreia
do documentário José e Pilar, em
Nova Iorque. Não um modelo
comum, mas uma edição especial,
estampada com imagens do
próprio filme. Dez anos depois da
sua criação, a mala assinada pelos
designers Jorge Moita e Daniela
Pais, que usa tecido hospitalar e é
cosida na prisão de Tires, continua
a reinventar-se. Depois de nomes
como Marcel Wanders, Joana
Vasconcelos e Paula Rêgo terem
desenhado ou autorizado padrões
especiais para a La.Ga, é a vez da
literatura. Em março surgirá
um modelo com imagens de
Fernando Pessoa.
montepio primavera 2012
design
Destino Nova
Iorque
Ao longo de
vários meses,
vários designers
integraram o
projeto Destination:
Portugal, que os
levou até ao MO.Ma,
em Nova Iorque,
o mais importante
museu de arte
contemporânea à
escala mundial.
2
1
3
“A La.Ga ganhou vida própria”, explica Jorge Moita, do ateliê Krv Kurva Design. Daniela Pais seguiu uma
carreira individual e ele próprio está
empenhado no desenvolvimento de
projetos de design sustentável na empresa digital em grande formato Pictorial. Mas a mala com o nome inspirado em Gala Fernandez, a project
manager da Fabrica Features da Benetton que impulsionou a sua produção, em 2003, continua o seu percurso,
com novos padrões, edições limitadas
e a diferença que lhe deu notoriedade:
o material.
O efeito “folha de papel” é ilusório. Na verdade, a mala diversas vezes premiada, confecionada por mulheres detidas − o cariz sustentável
do projeto, com a etiqueta Made In Tires, é parte integrante da sua identidade −, é feita num tecido hospitalar, também usado pela NASA.
O Tyvek, resistente a partículas radioativas, pode ser lavado na máquina e tem uma resistência notável:
a mala pesa 55 gramas e suporta 55
quilos. Até a chanceler alemã, Angela Merkel, tem uma La.Ga, que lhe foi
oferecida pelo Presidente da República português.
Quando, em 2010, o MO.Ma −
Museu de Arte Moderna de Nova
Iorque decidiu lançar na loja do museu o projeto Destination: Portugal,
com uma seleção de peças portuguesas, a mala La.Ga foi um dos objetos
escolhidos. Integrado na série Destination: Design Series, o projeto levou
aos Estados Unidos inúmeras peças
que pretendiam mostrar as novas tendências do design português. Lá estava também outro clássico de usar ao
ombro, a célebre mala desenhada por
João Sabino, feita com teclas de computador, bem como outras inovações
mais ou menos ambiciosas. Entre os
pins feitos com peças de Lego, de António Azevedo; os acessórios de moda
em cortiça, da Pelcor; as jóias contemporâneas de filigrana, desenhadas por
Liliana Guerreiro, e a Tavares Chair,
1 Chapéu
de chuva feito
de cortiça,
da Pelcor
2 PUF-FUP
e Lagarta, da
designer
Ana Mestre,
da Corque
Design
3 Caixa
de lápis de
aguarela para
a Viarco
de Marco Sousa Santos, mais de cem
peças estiveram em montra durante
três meses no mais famoso museu de
arte contemporânea do mundo.
Encontrar traços comuns entre
elas não é fácil. “Não diria, de facto,
que existe uma escola ou uma identidade de design português”, diz Bárbara Coutinho, diretora do MUDE –
Museu da História e do Design, em
entrevista. Há, contudo, traços comuns a alguns dos caminhos escolhidos por estes designers das gerações mais recentes. “Assiste-se, em
Portugal, a uma reinterpretação de
algumas referências culturais e de
materiais tradicionais como a cortiça, a madeira, o têxtil, a cerâmica ou o
vidro”, acrescenta Bárbara Coutinho.
“Temos assistido a uma investigação
sobre estas matérias, desafiando por
vezes os limites técnicos ou reformulando diferentes tipologias de objeto.
Deteta-se, também, a permanência de
técnicas tradicionais que permitem
conservar a delicadeza específica da
Importância da sustentabilidade
o
novo projeto de Jorge Moita resulta das parcerias com empresas. O designer
estudou formas de potenciar os desperdícios de material impresso e desse
trabalho estão a surgir candeeiros e vários tipos de peças que vão ao encontro
da utilização do design ao serviço da sustentabilidade. Uma das ideias, já em prática, é
a reabilitação de móveis antigos, forrados com desperdícios. Para Jorge Moita, esse é o
desafio do momento. Bárbara Coutinho sublinha, também, a questão da sustentabilidade:
“Encontramos em Portugal, como no contexto internacional, uma diversidade de atitudes
e áreas de investigação, desde um design mais formalista a um design com maiores
responsabilidades sociais que tem a sustentabilidade e a pegada ecológica como
preocupações dominantes. Importante é a marca de excelência, inovação e atualidade.”
montepio primavera 2012
47
2
a minha cidade
reportagem
design nacional
filigrana
A reabilitação da tradição
48
nn
liliana guerreiro
A designer portuguesa partiu da arte
tradicional da filigrana para criar joias
de caráter contemporâneo
produção artesanal ou a exploração
de modelos de fabrico alternativos.”
Ana Mestre e o projeto Corque Design são um bom exemplo de dedicação à investigação de uma matéria-prima nobre e sustentável: a cortiça.
“É um material que, a meu ver, expressa em pleno uma possível identidade nacional. Não só pelo material
e grande disponibilidade industrial,
mas também pela presença das tradições socioculturais e ambientais relacionadas com a exploração da cortiça na floresta de Sobro e ecossistema
envolvente”, explica a designer portuguesa. Ana Mestre assinou, em 2004,
o PUF-FUP, um assento desenvolvido a partir de uma linha de algodão
contínua composta por 2 500 esferas
de cortiça.
O ateliê Corque Design foi um
dos convidados a estar presente no
MO.Ma. “Para a Corque, foi uma porta
de entrada para o mercado dos Estados Unidos, pois a partir daí estabelecemos novos contactos que ajudaram
a divulgar e a implementar a marca
nos EUA e a promovê-la em termos
internacionais”, elogia Ana Mestre.
Além das peças já referidas e outras, como o banco Handle − peça de
madeira e feltro com uma pega que
permite pendurá-lo na parede, assinada por Fernando Brízio −, também estiveram presentes na seleção
do MO.Ma faianças da Bordallo Pinheiro e outros exemplos de um Portugal dos anos 40 e 50. A peça mais
vendida foi um exemplar do que hoje
muitos chamam retrodesign: uma caixa de lápis Viarco, em cartão serigrafado. Mais de 300 foram compradas
pelos visitantes do museu, segundo
informação de José Vieira, administrador com funções na área de desenvolvimento de produto.
Regresso ao passado
A reabilitação de marcas como a
Bordallo Pinheiro, a Vista Alegre e
a Claus Porto, entre outras, procura
dar resposta à procura interna de uma
imagética de infância mas também
atingir o mercado externo. Na opinião
de Jorge Moita, são resquícios de uma
autenticidade perdida mas muito procurada no estrangeiro. “A Europa tem
uma tecnologia diferente, deu um salto que nós não demos, e produtos co-
mo esses são muito valorizados lá fora”, garante. Mas a subsistência das
empresas não depende só do respeito
pela origem da marca e de toda a história passada – a capacidade de atualização é importante. Não terá sido sem
motivo que Sandra Correia, a empresária que decidiu que a fábrica da família, em São Brás de Alportel, também poderia produzir guarda-chuvas
de cortiça, foi eleita a “melhor empresária da Europa” em 2011. E é, com
certeza, com visão estratégica que a
Viarco, além dos lápis com a tabuada,
usados nas escolas do Antigo Regime,
se dedica à inovação através de parcerias com designers e artistas. Foi uma
dica de um escultor que deu origem ao
bastão de grafite, de 250 gramas, aguarelável, lançado pela Viarco.
Sucesso internacional
e sustentabilidade
Bárbara Coutinho tem uma perspetiva mais otimista: “Atualmente, são
múltiplas as iniciativas que vão dando a conhecer a criatividade nacional além-fronteiras. Quer seja através
de eventos organizados por instituições como a ExperimentaDesign ou
a Trienal de Arquitetura, quer seja a
título individual, é progressivamente
maior o conhecimento de Portugal no
exterior”, diz. O próprio museu, além
do seu papel no estudo, investigação,
conservação, divulgação e apresentação do design nacional, contribui
no apoio ao trabalho de designers nacionais através do programa Creative
Lab, e propõe-se, com o tecido empresarial, trabalhar para a promoção e
desenvolvimento de projetos nacionais específicos. “Assim poderemos
contribuir para o estreitamento das
relações entre o setor criativo e o setor empresarial ou industrial”, conclui Bárbara Coutinho.
As novas faces da tradição
É
ao designer Miguel Neiva que se deve um dos produtos que mais deu que falar
nos últimos tempos: os lápis com código de identificação de cor, para daltónicos,
da Viarco. “Temos designers em Portugal ao nível dos melhores no Mundo. Falta-nos é capacidade de investimento para ter acesso às montras que permitem abrir novos
mercados”, afirma José Vieira, administrador da Viarco. No caso da Viarco, a aposta está
num crescimento sustentado, lento e prudente, mas as perspetivas são animadoras: os
lápis com que tantas gerações aprenderam a escrever e a desenhar podem ser encontrados nos EUA, França, Itália, Alemanha e Chipre e, muito em breve, também no Brasil.
montepio primavera 2012
2
a minha cidade
entrevista
comunidade
Aposta no
exterior
A Vista Alegre
e a cerâmica
Bordallo Pinheiro
contam hoje
histórias de sucesso
por helena viegas
fotografia artur
49
Álvaro
Tavares
Administrador
Vista Alegre
em destaque
vista alegre
Além da
internacionalização,
aposta no
poder criativo
dos designers
contemporâneos.
Raphael
bordallo-pinheiro
Ao mesmo tempo
que recupera
moldes antigos e
aposta no mercado
vintage, a empresa
convida artistas
contemporâneos
a reinterpretarem o
legado de Raphael
Bordallo-Pinheiro.
“É impossível encontrar um
defeito num produto da marca
Vista Alegre Atlantis (VAA).”
Álvaro Tavares, administrador da empresa, é perentório
quando defende a excelência
como imagem de marca da
Vista Alegre, a que se junta
uma preocupação com o design. “Somos das poucas fábricas no mundo com uma equipa de pintores que pintam
manualmente peças magníficas como as aves, que são características da marca”, afirma. A preocupação para que
cada peça conte uma história
é outra das características que
distingue a VAA. Desde sempre, a Vista Alegre – que pode ser encontrada nas mesas
da Casa Branca ou da rainha
Isabel II – procurou o equilíbrio entre as linhas clássicas e
contemporâneas. A isto junta,
atualmente, a aposta na inovação. O ID.Pool (International Design Pool) foi o programa de residências criado pela
VAA, em Ílhavo, “que recebe
jovens talentos internacionais
nas áreas do design industrial,
design gráfico e fotografia.”
Recentemente foram lançadas linhas de artistas contemporâneos como Joana Vasconcelos, Nadir Afonso, Malangatana ou Eduardo Nery. Uma
estratégia que se revelou acertada, deixando para trás os 18,4
milhões de euros de prejuízo registados em 2008, antes da OPA
pelo grupo Visabeira. Tendo os
mercados externos como motor
da empresa – com destaque para
o Brasil, Espanha e Inglaterra −,
as exportações da VAA têm um
peso crescente na faturação da
empresa: 60% em 2011.
Nuno Barra
Diretor de
Marketing
VAA e Bordallo Pinheiro
Quando, em 2009, o grupo Visabeira chegou à cerâmica Bordallo Pinheiro, a empresa estava prestes a fechar. Três anos
depois o dinamismo voltou,
com crescimentos de faturação
na ordem dos 40%. O segredo
está no reforço da internacionalização, reposicionamento da
marca e novos produtos.
Da estratégia fez ainda parte
a recuperação dos moldes antigos. “É uma prioridade para
manter vivo o legado de Raphael
Bordallo-Pinheiro. É um processo moroso, que exige técnica e uma investigação aprofundada. Nem sempre é fácil mas é
muito recompensador”, afirma
Nuno Barra, responsável pelo
marketing da empresa.
Entretanto a Bordallo Pinheiro esteve presente na exposição Destination Portugal, no
MO.Ma, em Nova Iorque, e as
suas peças estão à venda em várias lojas de design. Para Nuno
Barra, são as peças que fazem
parte do ADN da empresa, como as andorinhas ou o serviço
de couves, “um best seller em
vários mercados”, aquelas que
têm maior sucesso.
Mas nem só de peças antigas se faz esta dinamização.
O projeto BB − Bordalianos do
Brasil, que sustentará a internacionalização naquele mercado,
tem como objetivo o desenvolvimento de peças por 19 artistas
plásticos brasileiros que reinterpretarão a obra de Raphael
Bordallo-Pinheiro.
montepio primavera 2012
2
a minha cidade
opinião
Gonçalo Byrne
Arquiteto
As muitas “Lisboas” da cidade
Cidade em constante transformação,
lisboa contém em si várias outras
"cidades" com diferentes vivências
e modos de ocupar o espaço público
50
Sou lisboeta desde o final dos anos 50 e Lisboa é, sem dúvida, a
minha cidade. Como insinua Italo Calvino nas Cidades Invisíveis, a
cidade donde se parte é a referência à qual sempre se acaba por voltar. Tenho uma relação de carinho com a cidade, um pouco influenciada, diria mesmo contaminada, pela minha vida de arquiteto.
O que sempre me fascinou na cidade de Lisboa é o modo como
expõe a sua permanente transformação ao longo de mais de dois
mil anos. É um mostruário de cidades onde há um pouco de tudo.
Desde logo, um padrão muito forte de cidade árabe espraia-se pelas encostas da primitiva alcáçova, a medina que se sobrepõe aos fragmentos
da cidade romana que, em Lisboa, encontra na forte topografia uma
grande resistência ao seu modelo hipodâmico. O terreno acidentado
resiste à cidade em quadrícula e é mais propício à implantação de núcleos conventuais que se vão apropriando dos terrenos extramuros e
no tempo, gerando à sua volta núcleos de urbanização mais ou menos
espontâneos tortuosamente intercomunicáveis. As vias de maior continuidade desenvolvem-se “naturalmente” ao longo da margem do rio
e dos vales que aí vão desaguar. Só na reconstrução da Lisboa moderna do Marquês de Pombal ­– com ilustres antecedentes como o Bairro
Alto – é implementada a quadrícula iluminista.
É fascinante a forma
como a cidade se constroi ao longo do tempo.
São pedaços que se articulam entre si, continuam
vivos e adaptam-se à evolução dos modelos de vida, eles próprios em contínua mutação.
As cidades são feitas
por edifícios – palácios,
igrejas, edifícios anónimos de rendimento – mas,
mais marcante do que os
edifícios é o local onde se
desenrola a vida comum:
o espaço público. Em Lisboa a experiência do espaço público é totalmente
diferente quando se passa de Alfama para a Baixa, do Bairro Alto para a
montepio primavera 2012
frente ribeirinha, de Campo
de Ourique para os bairros
novos de Alvalade. É uma diversidade espacial fascinante
que enquadra a vida coletiva
em toda a sua riqueza e complexidade.
Contudo, as cidades são
vulneráveis. Catástrofes como o Terramoto de
1755 – seguido de tsunami e de um longo incêndio
– ou ações programadas, como a guerra, podem
destruí-las. Mas a destruição mais eficaz é o abandono puro e simples. Quando se desliga a vida das
estruturas construídas das cidades, estas entram
em ruína. Isso é muito visível em determinados
setores históricos da cidade de Lisboa, como a
Baixa e, hoje, contagia praticamente quase todos
os velhos centros urbanos deste país.
Nos últimos anos assistimos ao fenómeno do
centro da cidade em clara perda e ao aparecimento de uma nova Lisboa pujante, na zona da Expo.
Ali a cidade tem todas as condições para ser uma
cidade vivida, competitiva, muito classe média,
beneficiando da Gare do Oriente, que é o centro
de maior acessibilidade de todo o país.
Contudo, a Lisboa com que mais me identifico é a dos Olivais, onde habito desde o início dos
anos 70 e de onde dificilmente sairia. É um modelo de cidade que segue os princípios largamente
expandidos após a Segunda Guerra Mundial que
hoje se estabilizou numa população interclassista e num quadro ambiental bastante qualificado
apesar das críticas possíveis.
Mas Lisboa tem que ser vista em conjunto: Olivais é o que é porque também existe um
Bairro do Castelo, da Lapa ou de Campo de Ourique. A sua identidade global deriva dum arquipélago de áreas que se complementam e a
sua construção faz-se, sobretudo, a partir da
convergência de vontades e de esforços. O processo de divergências desfaz a cidade, não a faz.
Hoje geram-se dois fenómenos opostos – por
um lado o abandono e a expressão destruidora,
e por outro a reação da extrema conservação,
como se a cidade construída se pudesse conservar intacta imersa em formol. E essa visão
é brutal para a cidade. As cidades são coisas
vivas. A identidade ou se recria e reinventa e
segue vivendo, ou se vai extinguindo e transformando em arqueologia.
A identidade
ou se recria
e reinventa
e segue
vivendo, ou se
transforma em
arqueologia
A MINHA economia
Produtos financeiros,
sugestões e
empreendedorismo
página 52
página 56
página 58
página 62
Em ano de crise
conheça 10 regras de ouro
que ajudarão a gerir
o seu dinheiro
O Professor João Caraça
revela-lhe os benefícios
de algumas ideias
perigosas
Um Guia para preencher
corretamente a declaração
de impostos, potenciando
ganhos
Faça um orçamento,
pense no futuro
e aprenda a amealhar
finanças
OPINIÃO
IRS
poupança
3
a minha economia
Finanças pessoais
estratégias
para a vida
10 regras
de ouro
para o seu
dinheiro
52
Alcançar sucesso
financeiro não é
uma ciência, mas
algumas regras são
fundamentais para
uma tese ganhadora
Na gestão dos seus
recursos. Saiba o que
FAZER PARA dar um
destino promissor às
suas finanças
por nuno silva
montepio primavera 2012
“Estar preparado é metade da
vitória.” Para a maioria dos portugueses não é necessário recorrer
à célebre frase de Miguel de Cervantes para saber que, assim como
poucas coisas na vida se alcançam
sem preparação e esforço, também
nas finanças a história não é diferente. Quantos não sonharão com
a desejada independência financeira, vivendo anos de descanso à
sombra dos rendimentos. Sonhos
que passam por seis zeros depois
de um simples 1 ou por um prémio
de uma qualquer totolotaria que
transforme um mero trabalhador
num milionário. Se quer vencer
a batalha com as suas finanças
e alcançar sucesso financeiro,
prepare-se para tornar os seus
sonhos mais reais.
As 10 regras que se seguem não
são mandamentos mas ajudam na
hora de decidir o amanhã.
01
Faça um
orçamento
Imagine que estava
a gerir um qualquer
negócio sem ferramentas
de gestão, navegando à
vista. Será que saberia
quais as suas despesas ou
receitas futuras e se este
modelo resistiria durante
muito tempo? Não é por
acaso que as empresas
possuem, por exemplo,
um orçamento. Fazer
previsões ajuda a perceber
e a enfrentar melhor os
cenários traçados. Por isso,
pense na sua família como
uma microempresa, que
tem receitas (os salários,
pensões ou juros de
investimentos) e despesas
(prestações de créditos,
rendas ou contas de
serviços) e maximize
o que pode tirar dela.
O objetivo? Libertar
dinheiro para poupar,
isto é, reduzir a despesa
desnecessária e aumentar
os seus lucros caseiros.
Dica: Antes de fazer
o orçamento, aponte
todas as despesas
durante alguns meses
para conhecer bem o
seu padrão de gastos e
rendimentos. Além disso,
controle com frequência a
conta bancária para saber
se está a cumprir com o
planeado.
Número: Os indivíduos
entre os 25 e os 39 anos
são os que consideram
mais importante
a execução de um
orçamento, segundo um
inquérito do Banco de
Portugal (ver artigo p. 62).
02
Poupe
sempre
Poupar, poupar, poupar.
Não é novidade, mas podia
ser o slogan de uma vida
financeira equilibrada.
A maioria dos manuais
de finanças aponta para
uma poupança de 10% do
rendimento mensal como
a poupança ideal, mas não
é uma regra que muitos
possam seguir. “Claro que,
se apenas conseguirmos
poupar, numa fase inicial,
cinco por cento do que
ganhamos, também é
bom – é um começo”, pode
ler-se no livro Tempos
Complicados, Soluções
Simples, da jornalista
Bárbara Barroso.
Dica: Comece por
transferir para os seus
investimentos (conta
poupança, depósito,
reforço de um fundo de
investimento) uma fatia
do seu salário antes de
começar a pagar as suas
contas.
Número: 48% dos
portugueses dizem não
fazer poupança.
O principal motivo está
na falta de rendimento
que o permita.
03
Tenha
um plano
Se folhear as páginas de
um dos muitos manuais
de finanças pessoais à
venda em Portugal vai
certamente encontrar um
capítulo, um separador ou
algumas páginas sobre
o planeamento dos seus
investimentos. E a razão
é simples: para conseguir
ter sucesso financeiro
tem que ter objetivos.
Aqui vai precisar de
conhecer-se, saber que
produtos financeiros há no
mercado à sua disposição
e constituir uma carteira
equilibrada para atingir as
suas metas. Comprar casa,
preparar a reforma ou pagar
os estudos de um filho são
objetivos possíveis numa
família.
Dica: Comece o seu plano
fazendo as perguntas:
Onde? Como? Quando?
Se souber para onde quer
ir com o seu dinheiro,
como pode fazer para lá
chegar e quanto tempo
tem para alcançar o
destino, será mais fácil
realizar os seus desejos.
Junte a isto produtos que
se ajustam ao seu prazo
de investimento e à sua
situação financeira e terá
uma possível receita para
um plano saudável.
Número: 58% dos
portugueses constituem
poupanças para cobrir
uma situação de despesa
imprevista.
04
Conheça
o seu perfil
Há investidores para todos
os gostos: aspirantes
a acionistas, quando
conhecem histórias de
lucros fabulosos dos seus
amigos, sem coragem
para enfrentar as bolsas;
os que gostam de correr
riscos e aumentar o
potencial ganho com o
seu investimento até aos
que procuram jogar com o
melhor dos dois mundos:
risco pela metade, retornos
potenciais equivalentes.
Normalmente os
investidores separam-se em categorias como
conservador (prefere
investimentos de menor
risco), moderado (mistura
investimentos de risco
médio – dívida – com
pequenas parcelas de
risco baixo e elevado) e
agressivo (está disposto a
tomar risco elevado na sua
carteira em instrumentos
com maior potencial de
valorização, como as
ações).
Dica: Procure sempre
investir em produtos que,
pelo menos, cubram a taxa
de inflação correspondente
ao seu período de
investimento. Se cobrir
a subida dos preços vai
aumentar o seu poder de
compra. Para conhecer o
retorno líquido dos seus
investimentos deve retirar
aos ganhos o valor de
impostos e das comissões.
Número: No momento
de escolher os produtos
financeiros, 26% dos
portugueses dão maior
importância ao risco e
27% consideram mais
importante a rendibilidade.
05
Diversifique os
investimentos
Para não estar exposto aos
humores de um "cavalo
de corrida" o melhor é
equilibrar a sua carteira
de investimentos.
Tenha uma base de
liquidez para fazer face
a imprevistos e depois
expanda a carteira conforme
o seu perfil de risco.
Mais ações permitem
sonhar com maiores
retornos mas
têm maior risco.
Menos mercados bolsistas
potenciam menores ganhos
mas traduzem-se em menor
volatilidade.
Se gosta de ações e tem
pouco capital para investir,
a solução pode ser um fundo
de investimento.
Dica: “Uma diversificação
ampla só é necessária
quando os investidores
não percebem o que estão
a fazer”, afirma Warren
Buffett, um dos mais
famosos investidores
do mundo.
Número: Segundo o
Inquérito à Literacia
Financeira do Banco
de Portugal, 1% dos
portugueses detém
obrigações, 3% fundos de
investimento, 4% ações e
31% depósitos a prazo.
ações
títulos
montepio primavera 2012
53
3
a minha economia
finanças pessoais
regras para o seu dinheiro
Quanto menor a idade, maiores as
possibilidades de manter em carteira
ativos com risco elevado como ações
25 aos 40 anos
5
%
30
%
65
%
54
40 aos 65 anos
{ Liquidez
{ Obrigações
{ Ações
10
%
20
%
70
%
Toda a proteção é útil
na hora de falar de
dinheiro. Se não tem uma
poupança para enfrentar
um imprevisto, comece
por procurar constituir
um produto financeiro
de baixo risco (depósito,
conta poupança) que
albergue poupanças
que mantenham as suas
despesas correntes por um
período entre 3 e 6 meses.
Além disso, mantenha
o seu património bem
seguro. A casa, o carro
e a família devem estar
bem protegidos. Se o seu
rendimento é fundamental
para a sua casa, equacione
a realização de um seguro
de vida que proteja
a família em caso de
infortúnio.
Dica: Não dobre as
coberturas dos seguros
e leia bem os contratos
que efetua. Além disso,
não atrase a ida ao banco
para fazer o seguro porque
poderá ser tarde.
Número: Os seguros são
os produtos financeiros
que mais portugueses têm
depois da conta bancária.
37% dizem ter algum tipo
de seguro, o que mostra a
importância destes.
Juros com mais juros.
É isto que poderá fazer
com a capitalização dos
rendimentos dos seus
investimentos através
dos juros compostos.
Por exemplo, se constituir
um depósito que pague
regularmente juros e os
reinvestir vai estar a criar
dinheiro do dinheiro ganho
no banco. Não é por acaso
que Albert Einstein se
referia à capitalização como
“a força mais poderosa do
universo”. Se conseguir
ganhar dinheiro nas suas
aplicações e voltar a
receber algum rendimento
pelo investimento
desse acréscimo ao seu
património, estará no bom
caminho.
Dica: Procure produtos de
poupança que possibilitem
a capitalização dos juros
ou faça você o trabalho
de casa, reinvestindo o
dinheiro que ganha nos
seus investimentos.
Número: Se fizer duas
aplicações, uma com
juros simples e outra
com juros compostos, de
1 000 euros a 10 anos, com
juros de 5%, terá, no final,
1 500 euros com os juros
simples e 1 628,9 euros
capitalizando.
Capitalize
O “milagre”
da capitalização
O “milagre”
da capitalização
65 anos em diante
{ Liquidez
{ Obrigações
{ Ações
07
Proteja a
sua família
Carteiras
possíveis para
diferentes idades
{ Liquidez
{ Obrigações
{ Ações
06
Como Como
crescem
1000 euros
euros
taxa
com
de
taxa
jurode
dejuro
5%
por
5%
ano
por
ano
crescem
11000
000com
euros
com
uma
taxa
dede
juro
de
5%
por ano
5
%
25
%
Juros Simples
Juros Simples Juros Compostos
Juros Compostos
1 2761€276 €
1 2501€250 €
70
%
montepio primavera 2012
5 anos5 anos
1 5001€5001€6291€629 €
10 anos
10 anos
08
Procure educação
financeira
“A formação financeira
tem um papel importante,
quer no apoio às decisões
do quotidiano, quer na
tomada de decisões
financeiras complexas,
como a escolha de
aplicações de poupança
ou de crédito de longo
prazo para financiamento
de habitação.”
A importância de saber
mais sobre as questões
relacionadas com o seu
dinheiro está assim
descrita no Plano Nacional
de Formação Financeira,
uma iniciativa dos
reguladores nacionais
como o Banco de Portugal,
o Instituto de Seguros
de Portugal e a Comissão
do Mercado de Valores
Mobiliários. Procure
informar-se antes de
subscrever um produto
financeiro e conhecer
melhor os mecanismos
que podem ajudar a
decisões acertadas nas
suas finanças.
Dica: Pela Internet,
através de manuais de
finanças pessoais, ou
lendo informação diária
económica, pode ficar
com uma ideia melhor do
mundo que rodeia a sua
vida financeira. Para seu
bem, seja curioso.
Número: Apesar da
larga percentagem de
portugueses com créditos
à habitação, apenas 9%
dos entrevistados no
inquérito do Banco de
Portugal de 2010 sabiam
o que é a Euribor e só 17%
o que é o spread.
09
Pense já
na reforma
Poupar para a reforma não
é para os mais velhos.
O futuro depende muito
do que faz no presente,
por isso não perca tempo
se quer começar hoje a
preparar o seu descanso.
Segundo os dados do
Instituto Nacional de
Estatística, em média a
esperança de vida de um
português aos 65 anos
é de viver ainda mais
18 anos, período que vale
a pena saborear com o
conforto das poupanças.
Se está longe da idade
da reforma procure
maximizar as suas
poupanças. As ações
são um ativo com risco
elevado, mas a distância
do caminho permite
aliviar um pouco a elevada
volatilidade dos mercados.
Dica: Nunca esqueça
a inflação, os impostos
e as comissões dos
seus investimentos.
Estas variáveis podem
determinar se tem ganhos
reais ou se perde dinheiro
durante os anos de aforro.
Além disso, ajuste
os objetivos de poupança:
50 mil euros hoje não
valem o mesmo daqui
a 30 anos.
Número: Segundo o
estudo sobre reformas
Pensions at a Glance
2011, da Organização
para a Cooperação
e Desenvolvimento
Económico (OCDE), a taxa
de substituição de um
trabalhador português
com salário médio ronda
os 65,5%. Isto é, a primeira
pensão que recebe
representará 65,5% do
último salário.
10
Seja feliz
Se todos os pontos
anteriores contribuírem
para andar menos
preocupado, certamente
ficará também mais feliz e
terá tempo para fazer o que
mais aprecia com quem
mais gosta.
Ponha em prática a sua
estratégia de ouro para
um caminho financeiro
regrado e mais confortável.
Segundo alguns trabalhos
académicos, a felicidade
parece estar relacionada
com uma situação
financeira desafogada,
com a partilha com os
outros, em caridade, com a
vivência de experiências
em detrimento dos
bens materiais e com a
existência de fortes laços
sociais.
55
11 467 €
11 467 €
2 653 €
2 000
2 000
€ €2 653 €
anos
20 20
anos
3 500
3 500
€ €
50 anos
50 anos
montepio primavera 2012
3
a minha economia
opinião
João Caraça
Professor do ISEG
Podem as ideias perigosas
ser uma saída para o País?
As ideias perigosas alteram a ordem
existente, antecipam o futuro e originam
uma nova forma de estar na vida
56
Foram as ideias que tivemos ao longo da nossa evolução histórica
que nos trouxeram ao nível de organização social e tecnológica que
vivemos hoje. Naturalmente, muitas e muitas mais ideias houve sobre como conseguir melhorar condições, defender-nos dos perigos,
proteger-nos das intempéries ou, simplesmente, sentirmo-nos melhor e mais seguros no convívio com os outros. Mas houve ideias
fundadoras que tiveram uma qualidade diferente: foram postas
em circulação e, bem ou mal, adotadas por cada vez maiores frações das comunidades a ponto de tornarem dominante a sua prática. Foram ideias perigosas porque alteraram a ordem existente e
criaram uma nova.
Esta ordem social tem que ver com o espaço e com o tempo, com
a dimensão das populações, com a distância, com os meios de comunicação e as circunstâncias do ambiente, bem como com o próprio percurso histórico. Normalmente, esta ordem social é garantida
por um poder, ou poderes, cuja função
é impedir a sua alteração. Por este motivo, uma ideia é tanto mais perigosa
quanto mais poderosa é a organização
que afronta. Sabemos como as navegações oceânicas e a circum-navegação do
globo, a emergência da ciência moderna e a revolução industrial, foram geradas por ideias muito perigosas: é que
a sua circulação e aceitação pelos cidadãos mudou a própria visão do mundo
e a maneira como orientamos a nossa
produção de conhecimento para continuarmos a viver à superfície da Terra.
Numa situação de crise prolongada
e estrutural como nos encontramos é
f Houve ideias fundadoras que
tiveram uma qualidade diferente:
foram postas em circulação e (...)
adotadas por cada vez maiores
frações das comunidades a ponto de
tornarem dominante a sua
prática. Foram ideias perigosas
porque alteraram a ordem existente.
montepio primavera 2012
natural que apareçam “receitas” recicladas que pretendem que a sua aplicação
nos fará voltar à situação
em que estávamos (isto é,
sob o domínio dos poderosos do momento). Mas esta é uma perigosa falácia.
Se alguma coisa aprendemos com os nossos antepassados é que tudo está
sempre a mudar. E que há que forjar novas iniciativas, organizar as pessoas de novos modos,
para tirar partido das novas condições. A História não se repete. Quem imaginaria em 1970
que os computadores e as suas redes, bem como os satélites de comunicações, se iriam tornar na infraestrutura comunicacional que faz
funcionar o globo e os seus sete mil milhões de
habitantes? Há que entender o mundo para nele podermos vislumbrar oportunidades. Se não
anteciparmos o futuro não faremos parte dele.
Só um conjunto arrojado de ideias perigosas
nos permitirá antecipar e construir a nova forma de estar na vida.
Uma ideia
é tanto mais
perigosa quanto
mais poderosa
é a organização
que afronta
3
a minha economia
irs
guia do IRS
Faça
contas aos
seus
impostos
58
Conheça as deduções que
pode fazer no IRS e saiba
como declarar os seus
investimentos
por jorge pires
Anexo A
^Se os seus rendimentos
Os anexos a preencher
Quais os
anexos por
categorias de
rendimento
resultaram de trabalho
por conta de outrem ou de
pensões, então o anexo
a entregar, em papel ou
pelo portal das Finanças,
é o A. É neste que vai
identificar o valor do seu
rendimento anual, bem com
as retenções decorrentes do
seu trabalho.
Anexo B
^O anexo B é onde
montepio primavera 2012
deverão constar os
rendimentos profissionais
e empresariais dos
contribuintes. Por
exemplo, um trabalhador
prestador de serviços
(recibo verde), sem
contabilidade organizada,
deve preencher este anexo.
Além disso, é necessário
ter em conta que este
anexo é individual.
Ou seja, se os dois
cônjuges de um agregado
tiverem rendimentos desta
categoria têm de entregar
dois anexos.
Anexo C
^Se é trabalhador
independente, isto é,
tem rendimentos
profissionais e
empresariais e optou por,
ou está obrigado a ter,
contabilidade organizada,
deve preencher este anexo
que tem que ser assinado
por um Técnico Oficial de
Contas (TOC).
Março é sinónimo de faturas,
recibos, máquina de calcular
e de muitas contas.
Um mês que é sinónimo de
impostos para a grande maioria
dos portugueses, com a abertura do
período de entrega da declaração
do Imposto sobre o Rendimento de
Pessoas Singulares (IRS) referente
aos rendimentos do ano anterior.
Se, na década de 1980, altura da introdução deste imposto direto, os contribuintes mantinham uma relação
com o fisco em papel, agora a tecnologia alterou o padrão declarativo, com
a Internet a ser o veículo de relação
com o Estado, evitando assim a ida
às repartições de Finanças, onde as
filas poderiam durar várias horas.
Em 2011 foram submetidas mais de
4,3 milhões de declarações de IRS
em Portugal, a maioria respeitante
a rendimentos de pensões e trabalho
por conta de outrem.
Um bom conhecimento das questões relacionadas com o IRS, mas sobretudo um bom preenchimento, a
tempo e horas, do Modelo 3 e dos seus
anexos, pode evitar alguns dissabores e fazer com que consiga otimizar
a sua carteira. Claro que o que vai fazer agora é o culminar de um processo que deveria ter começado no início
de 2011, com a organização e recolha
de toda a sua documentação elegível para abater o peso do imposto.
Agora é tempo de fazer contas, preencher a declaração e saber se vai pagar ou receber nesta sua relação com
o fisco. Saber mais sobre o IRS pode ser o caminho para uma declara-
Anexo E
^Os rendimentos
de capitais devem ser
incluídos no anexo E.
É neste que, caso opte
pelo englobamento,
que é facultativo, deve
incluir os rendimentos
de aplicações de capitais
(juros de depósitos ou
dividendos).
Anexo F
^Se tem rendimentos de
rendas de imóveis, então
Exemplo prático
Como se calcula o IRS
O cálculo do IRS parece complexo mas a Montepio tenta torná-lo mais simples.
Pedro e Maria não têm
filhos. Trabalham por
conta de outrem e cada
um recebe 1 000 euros
brutos por mês. O Pedro
gastou 4 000 euros em
educação e a Maria
1 000 euros em saúde.
No crédito à habitação
gastaram 3 000 euros.
Como é feito o cálculo
do IRS desta família?
Os rendimentos
ascenderam a 28 mil
euros e a retenção
na fonte foi de 9% para
cada um – 2 520 euros
no total. As deduções
específicas traduzem-se em 72% de 12 vezes
o salário mínimo
(em 2011 este valor foi
4 104 euros, o que
dá uma dedução de
8 208 euros). A taxa
de imposto sobre o
rendimento coletável
corrigido às taxas em
vigor, será de 24,5%,
sendo a parcela a abater
de 900,5 euros.
Nas deduções à coleta
o casal tem direito a
deduzir 261,25 euros
ção de rendimentos bem preparada,
especialmente se isso puder significar uma otimização das suas despesas anuais para conseguir diminuir o
peso do IRS. Saúde, educação, habitação, energias renováveis, lares e algumas aplicações são classes de despe-
tem que os declarar
através do anexo F,
o documento referente
aos rendimentos prediais.
Anexo G
^Se obteve mais ou
menos-valias patrimoniais,
estas devem ser declaradas
no anexo G. É neste que deve
inscrever o que ganhou ou
perdeu na bolsa de valores
ou com a venda de imóveis,
por exemplo, desde que
não tenham qualquer tipo
por cada um e ainda
despesas de educação,
saúde e habitação.
Na saúde não há limite,
mas só podem
ser deduzidos
30% dos gastos.
Já as despesas de
educação e habitação
são deduzidas em 30%,
com tetos máximos
de 760 euros e
591 euros,
respetivamente.
No final, esta família
conseguiria recuperar
1 645,46 euros.
sas que dão direito a dedução à coleta,
podendo baixar o pagamento de imposto ou aumentar o reembolso por
parte do Estado. Junte as suas faturas de 2011, esteja atento às datas das
suas obrigações e perceba como funciona o IRS.
de isenção. Essas isenções
não implicam que não tenha
que declarar o que ganhou
ou perdeu. As mais-valias
não tributadas devem ser
declaradas no anexo G1.
Anexo H
^Depois de apresentar
os seus rendimentos,
é hora de apresentar
as deduções à coleta
e os benefícios fiscais
através do anexo H.
As deduções à coleta
podem ser, por exemplo,
as despesas com saúde,
educação ou habitação,
enquanto os benefícios
fiscais advêm
do investimento em
planos poupança-reforma
(PPR) ou das ações
dos contribuintes
em relação ao ambiente,
como é o caso
da aquisição
de painéis solares.
montepio primavera 2012
59
3
a minha economia
Deduções à Coleta
e Benefícios Fiscais
irs
entrega da declaração
Como o IRS afeta os
seus investimentos
Os investimentos, a par dos
rendimentos, são uma fatia
importante do seu património.
Assim, impõe-se saber como os
investimentos funcionam na hora
de os declarar
60
Depósitos
A declaração dos juros dos depósitos a prazo ou à ordem não é de caráter obrigatório, já que os juros que
o depositante recebe incluem os impostos retidos (a taxa liberatória foi
de 21,5% até 31 de dezembro de 2011).
Ainda assim, pode recuperar parte do
imposto retido nos juros das suas aplicações financeiras se o rendimento
coletável do seu agregado ficar num
escalão com taxa de imposto inferior
à já paga no momento do recebimento
dos juros (21,5%).
pExemplo: Pedro, residente em Portugal Continental, teve um rendimento coletável de 6 500 euros em 2011
e fez um depósito de 2 000 euros a
um ano com uma taxa anual nominal bruta (TANB) de 3,5%. Esse depósito gerou juros líquidos de 54,95 euros, depois de terem sido descontados
15,05 euros em sede de IRS (o total
dos juros seria de 70 euros). Como os
rendimentos do Pedro estão incluídos no segundo escalão do IRS, pode recuperar parte do imposto pago
com os juros do depósito. Neste exemplo, Pedro recuperaria 5,25 euros:
[(70 € x 21,5%) – (70 € x 14%) = 5,25 €]
Ações
As bolsas de valores apresentam dois
tipos de rendimentos: os dividendos e
as mais-valias.
Em relação aos dividendos, foram
taxados a 21,5% até ao final de 2011 e
não tem que os declarar porque a taxa de imposto é retida pela entidade
pagadora do dividendo. Mas, se optar
pelo englobamento, terá que declarar
apenas 50% dos dividendos através do
anexo E do Modelo 3. As mais-valias
ou menos-valias bolsistas são de ca-
montepio primavera 2012
ráter obrigatório na sua declaração e
são calculadas na diferença entre o
preço de compra e de venda, englobando as comissões. As mais-valias
até 500 euros não são taxadas e acima desse montante a taxa é de 20%.
Obrigações
Tal como nas ações, as mais-valias realizadas com obrigações são de declaração obrigatória. Os juros dos cupões
das obrigações podem ou não ser englobados no seu rendimento. Se optar
pelo englobamento terá que incluir,
também, os juros dos depósitos a prazo e demais investimentos.
Fundos de investimento
As mais-valias realizadas através da
venda de unidades de participação em
fundos de investimento já vêm de forma líquida para o subscritor e a sua
declaração não é obrigatória. Mas, se
decidir englobar esses rendimentos,
tem que registar todos os juros de obrigações e depósitos realizados.
Agenda
Datas a reter
^Março
Entrega da
declaração de
rendimentos
Modelo 3, em suporte de papel, se
teve rendimentos
das categorias
A (trabalho
dependente) e/ou
H (pensões).
^Abril
Entrega da
declaração de
rendimentos
Modelo 3, pela
Internet, se declarar rendimentos
das categorias
A (trabalho
dependente) e/ou
H (pensões).
Entrega em papel
do Modelo 3 para
os contribuintes
com rendimentos
de outras
categorias que
não apenas A e H.
^Maio
Entrega da
declaração de
rendimentos
Modelo 3, pela Internet, se declarar
rendimentos de
categorias que
não a A
e/ou H, como B
(empresariais e
profissionais),
E (capitais), F
(prediais) e G
(mais-valias).
Nos últimos anos houve algumas
mudanças nas deduções à coleta
e nos benefícios fiscais
Os limites foram impostos pelo Executivo, através do Orçamento de Estado, e, assim, os contribuintes vão ter
menos benefícios ou deduções em relação a anos anteriores. No entanto,
é nos benefícios fiscais que os contribuintes vão sentir a maior quebra, já
que a dedução até ao limite máximo
será permitida apenas nos dois primeiros escalões de rendimento e, nos
restantes escalões, as deduções variam entre os 100 e os zero euros.
Habitação
PDedução possível:
De 591 € até 886,5 €
Em relação às deduções à coleta, a
habitação, a saúde e a educação continuam a ter um papel essencial no seu
IRS. Quanto à habitação, na declaração de IRS de 2011 pode deduzir 30%
dos juros e amortizações em habitação própria permanente do próprio
ou arrendatário, com um limite máximo de 591 euros. Gozam da mesma
dedução as prestações para cooperativas de habitação. Este limite sobe até
aos 886,5 euros, decorrendo do escalão de rendimentos do agregado, e aos
650,1 euros se a habitação tiver uma
classificação energética de A ou A+.
Os arrendatários ao abrigo do Regime de Arrendamento Urbano e do
Novo Regime de Arrendamento Urbano podem deduzir 30% do valor das
rendas, com um limite de 591 euros.
Saúde
PDedução possível:
Sem limite nos bens
e serviços isentos ou com
taxa de IVA de 6%
Na saúde pode deduzir 30% das despesas com bens e serviços isentos de
IVA ou com taxa de 6% e juros contraídos para pagamento das mesmas, sem
qualquer limite. A aquisição de outros
bens e serviços com taxa superior só
será aceite mediante receita médica e
as deduções chegarão, no máximo, a 65
euros ou 2,5% das restantes despesas.
futuro
Produtos
de reforma
O
s PPR
mantêm
uma
dedução máxima
possível de 400
euros, enquanto
os certificados de
reforma, emitidos
pelo Estado, continuam a apresentar
um potencial de
dedução de 350
euros. O problema
é que só os dois
primeiros escalões
de rendimentos conseguirão obter este
valor de dedução.
Educação
PDedução possível:
Energia
PDedução possível:
Seguros
PDedução possível:
As deduções ascendem a 30% das despesas de educação e formação profissional. Apenas as despesas dos titulares de rendimentos e dos dependentes
a frequentar instituições de ensino
reconhecidas oficialmente podem ser
incluídas nas deduções, com um limite máximo de 760 euros. Por cada
dependente, em agregados com três
ou mais dependentes, existe a possibilidade de deduzir mais 142,5 euros.
Melhoramentos térmicos, equipamentos novos de energias renováveis e aquisição de veículos
exclusivamente elétricos também
podem valer uma dedução de 30%
do valor gasto, com um limite
máximo de 803 euros. Contudo,
tenha em atenção que qualquer
uma destas despesas só pode ser
deduzida uma vez num período
de quatro anos.
Os prémios de seguros que
cubram exclusivamente saúde
são passíveis de dedução em 30%,
com o limite de 85 euros por sujeito passivo/170 euros por casal.
Os prémios de seguros de acidentes pessoais e de vida continuam a
poder ser deduzidos em 25% pelos
portadores de deficiência ou trabalhadores em profissões de desgaste rápido.
760 €
Lares
PDedução possível:
403,75 €
Além das deduções mais comuns,
existem outras que podem ser bastante importantes para reduzir a fatura do seu IRS.
Por exemplo, o contribuinte pode
deduzir 25% dos encargos com lares
dos titulares, bem como dos encargos com lares e residências autónomas para pessoas com deficiência,
seus ascendentes e colaterais, até
ao 3º grau, com um limite de 403,75
euros (desde que os ascendentes não
aufiram um rendimento mensal superior à retribuição mensal mínima
– 485 euros).
803 €
85 €/170 €
Benefícios fiscais
O
s benefícios fiscais sofreram alterações. Nos PPR, apesar de
continuarem a gerar um benefício fiscal máximo de 400 euros,
existem limites de dedução para rendimentos coletáveis acima
do segundo escalão. Veja quais os limites de deduções e faça as contas.
Rendimento coletável
Dedução à coleta
Benefício Fiscal
Até 4 898 euros
Sem limite
Sem limite
Entre 4 898 e 7 410 euros
Sem limite
Sem limite
Entre 7 410 e 18 375 euros
Sem limite
100 euros
Entre 18 375 e 42 259 euros
Sem limite
80 euros
Entre 42 259 e 61 244 euros
Sem limite
60 euros
Entre 61 244 e 66 045 euros
Sem limite
50 euros
Entre 66 045
e 153 300 euros
1,666% do rendimento
coletável. Limite de 1 100 euros
50 euros
Acima de 153 300 euros
Limite de 1 100 euros
0 euros
montepio primavera 2012
61
3
a minha economia
finanças pessoais
Dinheiro
62
Como fazer
um orçamento
familiar
por rute marques
Seguir o rasto aos seus rendimentos
e despesas mensais pode não ser
apelativo mas é essencial para evitar
desperdícios de dinheiro. Saiba como
fazer um mapa de receitas e despesas
para controlar as suas finanças
montepio primavera 2012
Nem sempre é fácil cumprir
as obrigações financeiras
mensais e quase todos os dias
é necessário tomar decisões
que influenciam o cash-flow da
família, quer sejam as compras
na mercearia ou as despesas
com a eletricidade.
Se chega ao final do mês com
a conta a descoberto ou a contar
os cêntimos que lhe restam
é urgente começar a fazer um
orçamento familiar, uma peça
fundamental na boa gestão
das suas finanças. Segundo o
Inquérito à Literacia Financeira
da População Portuguesa,
realizado pelo Banco de
Portugal em 2010, 89% dos 2 000
entrevistados consideraram
“importante” ou “muito
importante” o planeamento
do orçamento familiar. Por isso,
está na altura de pensar no que
é importante: o seu futuro.
Um orçamento familiar implica
tomar decisões e fazer escolhas
nos consumos para manter as finanças na linha. Para muitas pessoas pode ser a chamada à realidade que tanto procuram evitar
mas que marca o começo de uma
nova vida financeira, alicerçada
numa gestão pessoal rigorosa e
realista. O objetivo? Libertar poupança para o futuro.
Se as palavras “orçamento caseiro” lhe provocam a mesma reação
que a matemática a muitos portugueses, este artigo mostrar-lhe-á
a importância que os números e
as contas podem ter na sua vida.
Anotar todos os cêntimos que gasta, saber ao pormenor o dinheiro
que entra e sai da sua conta bancária e tomar decisões com base
nos recursos que possui são as armas que tem ao alcance para criar
um orçamento “blindado” a crises
económicas.
Chega de desculpas
Quando pensa em fazer um orçamento familiar a primeira ideia que
lhe ocorre é que terá que privar-se
de fazer o que mais gosta, começar a
cortar nos seus hobbies preferidos, na
ida mensal ao cinema ou no jantar fora uma vez por semana. Nada mais
errado; aliás, é exatamente o oposto.
Na realidade, criar e gerir um bom
orçamento caseiro permite-lhe libertar dinheiro “mal gasto” das suas despesas mensais que poderá ser utilizado para gastar mais tarde no que quiser, seja na viagem às Maldivas que
sempre idealizou ou na entrada para
a casa dos seus sonhos.
Outra das desculpas mais comuns
entre os avessos ao orçamento familiar é que têm que gastar todo o dinheiro que ganham para conseguir
viver no dia a dia, portanto o orçamento não terá qualquer utilidade e
é apenas uma perda de tempo. Mais
uma vez, esta linha de pensamento
está errada. A principal vantagem de
aprender a administrar o seu dinheiro e criar o seu orçamento familiar
é que este ato vai proporcionar-lhe a
experiência de viver dentro das suas
reais condições financeiras. Esta é a
melhor arma com que pode equipar-se para combater a crise económica
e não gastar mais do que ganha.
Em resumo, o orçamento familiar
força-o a examinar onde e como é que
realmente gasta o seu dinheiro. Pode
parecer-lhe penoso, mas será, de certeza, compensatório.
Como faço?
Seguir o rasto às despesas não é difícil. Alguns gostam de utilizar
software específico, outros preferem o Excel e há ainda os que optam por utilizar caderno e caneta.
orçamento familiar
Regras
de ouro de um
orçamento
Rendimentos (+)
^O primeiro conceito a reter
dica
Como detetar
erros no
orçamento
familiar
A
forma
mais
fácil
de encontrar as
fugas no orçamento familiar
é observar as
despesas variáveis e descobrir
onde pode poupar.
Adicionalmente,
pode ajustar as
despesas fixas
ao reduzir os serviços que utiliza
mensalmente
– por exemplo,
reduzir a conta
do serviço triple
play (Internet,
televisão e telefone) subscrevendo
menos canais
televisivos.
89%
89
%
dos 2 000 entrevistados
consideraram “importante” ou “muito
importante” o planeamento do orçamento
familiar. Destes 89%, um total de 82%
afirmam fazer este planeamento com
uma periodicidade, pelo menos, mensal.
fonte: BANCO DE PORTUGAL, RELATÓRIO DO INQUÉRITO
À LITERACIA FINANCEIRA DA POPULAÇÃO PORTUGUESA 2010
quando está a fazer o orçamento
familiar é saber todas as suas
fontes de rendimento e quanto é
que cada uma vale todos os meses.
Nesta secção deve colocar todos
os rendimentos provenientes de
salários, pensões, rendimentos de
propriedade como rendas, mais-valias e juros de investimentos,
apoios sociais e subsídios, entre
outros. Qualquer entrada de
rendimento deve estar no seu
orçamento.
Uma vez apurados os rendimentos,
é altura de somar tudo e decidir
quanto gostaria de poupar por mês.
Escreva esse número para não
o esquecer.
Despesas fixas (-)
^Depois de apurados os
rendimentos é hora de olhar para
as despesas fixas. Nesta secção
escreva todas as despesas fixas
como a mensalidade do crédito
à habitação ou a renda. Para as
despesas fixas variáveis, como
a conta da água ou luz, tem duas
opções: utilizar uma estimativa
dos gastos ou os valores do mesmo
mês no ano anterior. Se optar pela
estimativa, assegure-se de que os
números que está a utilizar são um
pouco acima do normal, em vez
de abaixo da média, para não ficar
exposto a surpresas.
Despesas variáveis (-)
^Uma vez determinados os
rendimentos que todos os meses
chegam à conta do agregado familiar
e quais as despesas fixas
(ou seja, que o valor não muda
consoante o consumo), é altura de
analisar as despesas variáveis:
aquelas que, não sendo essenciais
à existência da família, são
importantes para haver qualidade
de vida. Exemplos destas despesas
são os combustíveis, o vestuário
ou as refeições fora de casa.
montepio primavera 2012
63
3
a minha economia
Faça como lhe der mais jeito, mas comece hoje mesmo a seguir o rasto das
suas despesas.
Crie, todos os meses, um mapa de
despesas e receitas novo que lhe permita estimar a repartição dos consumos nos meses seguintes e ter uma
noção real dos rendimentos disponíveis. O orçamento familiar será o seu
mapa de consumo, por isso tem que
criar um para cada mês do ano, como se de um calendário se tratasse.
Além das despesas fixas mensais deve colocar despesas variáveis (água e
luz, por exemplo) e aquelas pontuais
mas que vão pesar no seu bolso (combustível, pequeno-almoço no café e
calçado, por exemplo).
64
Da teoria à prática
Um exemplo prático da importância
das despesas pontuais no orçamento
caseiro são os seguros. Quase todas
as famílias têm, pelo menos, um seguro automóvel e um seguro de habitação, sendo que a maior parte dos
agregados familiares optam por fracionar o pagamento destas despesas.
Ou seja, preferem desembolsar os valores dos seguros do carro e habitação duas ou mais vezes por ano em
vez de pagarem a quantia de uma
só vez, para que não seja tão penoso. Neste caso, o ideal é dividir o valor anual por 12 para ter um número
mensal como referência na estimativa das suas despesas.
pExemplo: Se o seguro do seu automóvel lhe custa 120 euros por ano,
deve colocar uma entrada mensal
de 10 euros no seu orçamento familiar.
Em resumo, deve: apontar todos
os seus gastos (incluindo os que considere menores) durante um período
de tempo, que pode ser um mês, fazer contas a quanto pesa cada área
da sua vida financeira, detetar as
despesas que estão a mais e cruzar,
no mês seguinte, os seus rendimentos com as estimativas de despesa.
Quando este processo se fizer sem
reparar, estará no caminho certo e
a poupar.
montepio primavera 2012
Defina o que quer
na vida
Não existem dois orçamentos iguais
pois as despesas variam consoante
o agregado e os objetivos. No entanto,
há indicações genéricas quanto à
percentagem que cada família deve
gastar. Por exemplo, os créditos do
agregado não devem exceder 40%
dos rendimentos familiares.
Os pequenos ajustes são feitos por si, a
decisão é sua. Se não dá para usufruir
de todos os prazeres da vida, terá que
escolher. Cumprir objetivos requer
algum espírito de sacrifício, pois tem
que reservar dinheiro para os alcançar,
diminuindo as quantias que gasta
noutras áreas da sua vida.
)2
Finanças pessoais
como gerir o orçamento
6 dicas
indispensáveis
no orçamento
familiar
Defina objetivos, calcule despesas
e mantenha o controlo.
Os resultados não tardarão a surgir
Por onde começar?
Quer seja adolescente com
mesada, trabalhador com um
salário reduzido ou assalariado
com vencimento generoso,
o mais importante para levar
o orçamento familiar a bom porto
é saber exatamente qual o objetivo
e distinguir as reais necessidades
dos caprichos. Comece por avaliar
a sua situação financeira e depois
faça duas listas: uma para
as necessidades e outra que inclua
tudo o que quer (férias ou automóvel,
por exemplo).
)1
Sugestão
Analisar o orçamento
O
orçamento
caseiro
é um meio para
atingir um fim:
gastar menos do
que recebe. Por
isso, a análise
ao orçamento é
um passo que
não pode ser
dispensado.
Uma vez
apuradas as
estimativas
de receitas e
despesas é altura
de determinar
as áreas em que
gostaria de gastar
menos e aquelas
em que deve
apostar, como
por exemplo a
poupança. Será
que anda a tomar
muitos pequenos-almoços no
café? Compra
mais sapatos do
que precisa?
A título de exemplo, se descobrir
que está a gastar
150 euros em
refeições fora
de casa talvez
queira baixar
esse valor para
100 euros e
colocar os restantes 50 euros
num produto de
poupança.
Quanto dinheiro recebe?
Para fazer um orçamento tem
que saber quanto dinheiro recebe
mensalmente. Inclua todas as
eventuais fontes de rendimento
como o seu salário, juros que possa
receber, atividade intelectual,
artesanal ou pensões.
)3
Calcule as despesas
Há despesas, como luz,
telefone ou água, que podem variar
todos os meses, por isso é conveniente
saber, em média, quanto gasta por
mês e manter as despesas em baixo.
Esta é uma tarefa que deve juntar
todos os membros da família já que
será um bom ensinamento para
os seus filhos – poupança na
utilização dos serviços (fechar as
torneiras, apagar as luzes, não deixar
a porta do frigorífico aberta...).
)4
Habitue-se a manter
o controlo
A partir do momento em que tiver o
orçamento preenchido, habitue-se a
manter registos das receitas e despesas.
Assim é mais fácil perceber a diferença
entre o seu orçamento e o dinheiro que
realmente gasta.
)5
Tem dificuldades
em poupar?
A Montepio dá-lhe duas sugestões:
fixe um limite para os gastos ao longo
da semana, levante essa quantia
logo na segunda-feira e faça-a durar
até domingo. Abra uma outra conta
poupança onde vai depositando o
dinheiro que deseja reservar para
concretizar o seu objetivo.
)6
colecio ne as fichas do Programa de educação fi nanceira e ajude as suas crianças a fazerem mais pelo seu dinheiro
j
Poupar
o que é?
á deves ter
ouvido falar
muitas vezes
em poupança.
Na televisão,
na escola, nos
passeios com os teus pais e
nas reuniões de família, não
é difícil que tenhas ouvido
falar da palavra que faz andar
a economia. Como? É isso
que te vamos contar, porque
o dinheiro que algumas
pessoas guardam para terem
um futuro melhor pode fazer
o presente mais risonho para
outras pessoas e empresas.
A poupança é todo o dinheiro que ganhamos e não vai
para impostos, contribuições sociais ou consumo.
É, por exemplo, o dinheiro que os teus pais ganham
e não é gasto nas despesas normais, sendo guardado
para o futuro.
Poupar
para quê?
Quem constitui poupança tem um objetivo para o seu
dinheiro no futuro. Pode querer fazer uma grande viagem,
comprar uma casa ou estar a pensar na reforma. Mas não
pode esquecer o presente. Convém constituir um fundo
de emergência com uma poupança que proteja a família
de situações inesperadas. As primeiras poupanças devem
ir para esta almofada financeira, que garante a confiança
para alcançar objetivos maiores.
Dinheiro,
economia
e a tua
carteira
De pequenino é que se
marca a diferença. Aprende
como se ganha o dinheiro,
onde deves guardá-lo e
como podes multiplicá-lo.
9,8%
Em Portugal, a taxa
de poupança dos
particulares era de
9,8%, em 2010. Isto é, os
portugueses pouparam,
em média, quase 10%
dos rendimentos que
receberam.
Próxima
edição
A Montepio
explica-te como
funciona o dinheiro
no mundo.
Nós temos o euro,
e os outros?
Poupar
como ajuda a economia?
Se já sabes o que
é a poupança, há outra
palavra no motor que
puxa a economia:
o investimento.
No fundo, é o processo
de utilizar o dinheiro
das poupanças
colocando-o
à disposição de outras
pessoas que dele
precisam. Como?
Através dos bancos,
que não só recebem
as poupanças
como emprestam a
outras pessoas que
dependem destas
para alcançarem os
seus objetivos. Quem
empresta recebe, no
final, o seu dinheiro
e mais os juros
(revista número
2), quem pede
emprestado repõe
as poupanças de
quem emprestou e
paga os juros por ter
usado o dinheiro.
Já imaginaste que
é a poupança que
leva ao investimento
e o investimento
que faz mexer a
economia? O dinheiro
das poupanças das
famílias é canalizado
para quem mais
precisa dele,
as empresas.
Em troca, as empresas
geram capital que
distribuem pelos seus
trabalhadores, que
podem renovar
o ciclo de poupança
aforrando e
reinvestindo para que a
economia não páre
e o seu dinheiro cresça.
Agora que já ficaste
a saber mais sobre
poupança, pensa na
tua. O País agradece.
montepio primavera 2012
a
b
c
f
i
n
a
n
c
e
i
r
o
65
FROTA
SOLIDÁRIA
MONTEPIO
Inscreva uma decisão
solidária na sua
Declaração de IRS.
A Frota Solidária
é um projeto criado pela Fundação Montepio com o objetivo de apoiar instituições de solidariedade social. A ideia nasceu
da decisão de devolver à sociedade civil os montantes que os contribuintes atribuem à Fundação Montepio quando, ao
preencherem a Declaração de IRS, inscrevem o NIPC 503 802 808 no campo destinado à Consignação Fiscal e concretiza-se na aquisição de uma frota de viaturas que, depois de transformadas e adaptadas, solucionam problemas de mobilidade
de quem mais necessita.Desde o início deste projeto, apoiámos 62 instituições, mas queremos ir ainda mais longe.
Contamos com a sua ajuda
para fazer crescer este projeto e fortalecer a cadeia de solidariedade que inspira a Frota Solidária.
Saiba mais em www.montepio.org
A MINHA VIDA
ideias e descobertas em
lazer, família,
saúde, cultura
página 68
gastronomia
Uma viagem pelos sabores
nacionais, reinterpretados
por alguns dos mais
conceituados chefs
portugueses e estrangeiros
página 72
Cidade
à lupa
Descubra Guimarães,
Capital Europeia da
Cultura 2012, e veja como
história e modernidade se
complementam
página 76
rotas de
caminhada
Um Portugal diferente
revelado enquanto caminha
por paisagens mais ou menos
desconhecidas. De norte a
sul, o difícil é escolher
página 78
férias
Viaje e descubra
novas paragens sempre
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4
a minha vida
ALIMENTAÇÃO
gastronomia
viagem Pelos
sabores
da minha vida
Desafiámos vários chefs
portugueses e estrangeiros
a embarcarem numa viagem
gastronómica, no tempo e no espaço,
e a descobrirem de que forma a
cozinha tradicional está a ser
recriada em Portugal e no mundo
por bárbara silva
68
Massimo Bottura passou
quase toda a sua infância na cozinha da avó, escondido debaixo da mesa,
a observar atentamente a
Nona Ancella a fazer pasta
fresca e a dobrar tortellini
para a família numerosa.
Consigo guarda os cheiros
e os sabores desses tempos,
que hoje procura recriar
no seu restaurante Osteria
Francescana, em Modena.
É nesta cidade, na região
da Emilia-Romagna, onde nasceu e trabalha, que
Massimo Bottura, um dos
mais aclamados chefs mundiais, com três estrelas Michelin, dá nova vida às receitas da avó, como os tortellini fervidos em caldo de
galo capão com molho de
queijo Parmigiano Reggiano, ou a versão mais leve
de cotechino (salsicha fresca) com lentilhas.
montepio PRIMAVERA 2012
Ingredientes de eleição
As receitas são diferentes e há quem questione se um pastel de nata servido
na versão mil-folhas tem o mesmo encanto. Mas há ingredientes que se mantêm, não importa
a abordagem gastronómica.
Bacalhau
azeite
pão
canela
À Conde da
Guarda ou, numa
nova versão,
"à Brás"
Eterno, continua
a acompanhar
pão, bacalhau ou
pratos de peixe
José Cordeiro usa
o de Bragança
numa versão
pessoal de açorda
Em gelado, para
acompanhar um
pastel de nata mil-folhas
O peso da memória
“As receitas mais difíceis
de modernizar são aquelas com que temos relação
afetiva. Sirvo os tortellini da
minha avó com um molho
diferente. Nunca mudaria
o recheio”, conta. Em Portugal, onde esteve para participar na sexta edição do International
Gourmet Festival – Tribute to Claudia, que reuniu
33 chefs internacionais no
Hotel Vila Joya, em Albufeira, o italiano apresentou
alguns clássicos de reinvenção gastronómica.
“Repensar uma receita
da gastronomia tradicional exige distância. Pensar nos sabores e texturas, como foi criada, como
sobreviveu aos séculos.
P&R
Ljubomir Stanisic
Chef do Restaurante
100 Maneiras
jj
Ljubomir Stanisic
é amante das chamadas
“cozinhas pobres” e
considera a gastronomia
portuguesa uma das
melhores do mundo
Às vezes são adicionados
novos ingredientes, outras
vezes a forma é alterada.
O importante é aliar uma
nova maneira de pensar a
uma velha ideia, sem perder o respeito pelas tradições”, diz o italiano.
Apaixonado pelos produtos tradicionais e pela
gastronomia da sua região,
Massimo Bottura reinterpretou a sopa camponesa
pasta fagioli, servindo-a num
copo de shot, em camadas
que representam os 26 anos
de carreira: da experiência
em França, no Hotel de Paris, à passagem pelo El Bulli,
com o chef Ferran Adrià.
Dieter Koschina, que
chegou ao Algarve há 20
anos, guarda, tal como
Bottura, os sabores da infância na memória. Natural da cidade de Dornbirn,
no vale do Reno, identifica-se com as massas, batatas recheadas com queijo fresco e ervas do monte.
Numa entrevista à revista
Notícias Magazine, Koschina elogiou a gastronomia
portuguesa: “A cozinha do
Norte de Portugal é mais
rica, a do Sul é mais criativa”, diz o chef que já criou a
sua própria versão de carne de porco à alentejana e
de caldeirada de peixe.
livro
O Papa
Quilómetros
Apaixonado pela nossa
gastronomia, o chef Ljubomir
Stanisic lançou-se à estrada
e percorreu quase seis mil
quilómetros. O resultado
foi Papa Quilómetros
– Uma Caminhada Pela
Gastronomia Portuguesa.
“Uma homenagem às coisas
boas da vida, a Portugal,
aos produtos portugueses,
aos amigos, às viagens
e à cozinha”, afirma.
Reinventar o passado
Para Massimo Bottura “recriar a gastronomia tradicional é uma necessidade”. José Avillez é mais
cauteloso: “Tenho enorme
respeito pela cozinha portuguesa e procuro aperfeiçoá-la através dos conhecimentos e das técnicas.
Não gosto muito de usar o
termo recriar. A cozinha
tradicional tem a sua essência e aí não podemos mexer, caso contrário deixam
de ser pratos tradicionais.”
É esse o caso das interpretações muito próprias
que faz do seu prato favorito, o lisboeta Bacalhau à
Brás, e do tradicional Pastel de Nata, no restaurante Belcanto, em Lisboa.
“O Bacalhau à Brás que
costumo preparar tem
mais sabor a bacalhau, pelo tipo de peixe que utilizo,
tem uma textura mais cremosa e o sabor das azeitonas é mais intenso porque
utilizo azeitonas ‘explosivas’ (esferificadas). Há também outro exemplo de um
novo prato inspirado na cozinha tradicional: o Pastel
de Nata em mil-folhas com
gelado de canela”, conta
José Avillez, que em 2009
conquistou uma estrela
Michelin para o restaurante Tavares. O que mais o apaixona na
gastronomia portuguesa?
Os sabores. A criatividade
das cozinhas antigas
e pobres, a capacidade que
tiveram de reinventar
e produzir receitas ricas
com produtos supostamente
pobres.
O que o levou a fazer este
livro?
A curiosidade por Portugal,
por tudo o que nasce neste
grande pequeno país.
Que outros livros sobre
cozinha portuguesa
recomenda?
A minha referência de
gastronomia portuguesa,
a bíblia nesse campo,
é o livro de sempre da Maria
de Lurdes Modesto, Cozinha
Tradicional Portuguesa.
Que imagem tem a
gastronomia portuguesa
lá fora?
A imagem de Portugal devia
ser melhorada interna e
externamente. Somos maus
a promover-nos. Considero
a cozinha portuguesa uma
das melhores do mundo.
Os chefs estrangeiros
que trabalham em
Portugal poderão ter mais
distanciamento para
fazer a modernização da
gastronomia portuguesa?
Essa modernização pode
e está a ser feita por
muitos chefs da atualidade
independentemente da
nacionalidade.
montepio Primavera 2012
69
4
a minha vida
ALIMENTAÇÃO
viagem gastronómica
jj
josé Avillez
defende que os pratos
tradicionais devem
manter a sua essência
formar qualquer prato típico. É necessário conhecer
bem a receita, o sabor, a
origem, e, com criatividade, consegue-se adaptar às
exigências da atualidade”.
70
E são cada vez mais os
chefs portugueses a exibirem as tão ambicionadas estrelas, como é o caso
de José Cordeiro (1 estrela Michelin, restaurante
Feitoria, Hotel Altis Belém, em Lisboa), Ricardo
Costa (1 estrela Michelin,
restaurante do Hotel The
Yeatman, em Vila Nova
de Gaia) e Albano Lourenço (1 estrela Michelin, restaurante Arcadas da Capela, Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra). Natural
de Aveiro, Ricardo Costa
não esquece a caldeirada
de enguias, o Leitão à Bairrada ou a Chanfana. “São
exemplos de pratos que
consegui adaptar à cozinha
que pratico atualmente.”
Sobre o tema da modernização gastronómica, acredita que “é possível trans-
Fusão de sabores
José Cordeiro vai mais longe e gosta de “fundir o melhor de cada região” de Portugal, como a versão do Ensopado de Borrego, em que
utiliza o pão de Bragança
aliado à técnica alentejana
da açorda, com uma torrada de alho. Com origens
transmontanas, o chef tem
um apreço especial pela
gastronomia da região, não
resistindo ao Arroz de Cabidela ou às Farófias.
“Sou português e, acima de tudo, inspira-me o
trabalho com produtos do
meu país. Os nossos pratos
tradicionais são excelentes
e reinventar um clássico
exige criatividade e respeito. No entanto, a tendência
de modernização responde
à evolução natural das coisas. Temos um património
gastronómico muito rico e
é natural que se aproveite o
que existe de bom e que se
lhe dê um toque mais contemporâneo”, defende.
No seu trabalho em
Coimbra, como chef no restaurante Arcadas da Capela, Albano Lourenço tenta
recriar a gastronomia tradicional “mantendo a salvaguarda dos seus sabores
naturais e únicos, transmitidos de forma familiar”.
O processo de reinvenção passa por uma “aceitação das novas tendências”.
Já Vítor Sobral, responsável
pelo restaurante Tasca da
Esquina, fala em “recriar
uma matriz da cozinha portuguesa”. “Como cozinheiro
sempre tive a preocupação
de respeitar a essência dos
nossos sabores, essa é a base
da recriação mas há sempre
espaço para a renovação.
As viagens, a evolução do
nosso paladar e os novos produtos permitem-nos estar
em constante renovação.”
Luís Baena, chef do restaurante Manifesto, dá
um exemplo: o Bacalhau
à Conde da Guarda. “Trata-se, de facto, de uma brandade, um clássico francês.
Posso reinventá-lo? Comcerteza. Posso até exagerar no chauvinismo francês e substituir o azeite pela
gordura do foie gras marinado em vinho Madeira.
Ou posso aproximá-lo mais
da matriz portuguesa e usar
a azeitona preta desidratada
para emulsionar com azeite e fazer um prato completamente diferente”, afirma.
Baena tem uma certeza:
“A comida é muito mais do
que receitas. São momentos
em que as emoções e as memórias se confundem.”
Caldo verde
de batata doce,
salada de bacalhau
e hortelã
(10 pessoas)
Creme
4 dentes de alho laminado
250 g de cebola em cubos
600 g de batata doce
em cubos
1,5 l de caldo de galinha
0,5 dl de azeite virgem
extra
Sal marinho tradicional
(qb)
Pimenta de moinho (qb)
Faça um fundo com
o azeite, a cebola
em cubos e o alho,
coloque as batatas,
deixe suar um pouco,
adicione o caldo e deixe
cozer. Triture e retifique
os temperos.
dica
Guarnição
200 g de couve galega
escaldada
250 g de bacalhau lascado
2 c de sopa de hortelã
em juliana
0,5 dl de azeite virgem
extra
0,2 dl de vinagre de vinho
branco
Pimenta de moinho
(qb)
Cozinhar legumes é uma tarefa aparentemente fácil mas que
muitas vezes corre mal. Quantas vezes nos chegam ao prato
grelos acastanhados, demasiado cozidos.... Porque para tudo
há solução, aqui fica a dica do chef Cordeiro:
“Na cozedura de grelos frescos ou de outro legume verde,
adicione uma garrafa de Água das Pedras, das pequenas, logo
a seguir a levantar fervura. Ficam mais verdes.”
Antes de servir, adicione
a couve ao preparado
e deixe ferver um minuto.
À parte, tempere
o bacalhau com o azeite,
vinagre, pimenta
de moinho e perfume
com hortelã.
Palavra de chef!
montepio PRIMAVERA 2012
RECEITA
DO CHEF VITOR SOBRAL
4
a minha vida
^ Rua de Santa Maria
Foi uma das primeiras ruas
a ser aberta em Guimarães
destinando-se, na altura,
a ser um elo de ligação
entre o convento, fundado
por Mumadona, e o castelo
situado na parte alta
da vila. Ao longo do seu
percurso encontramos
importantes testemunhos
arquitetónicos como
o Convento de Santa Clara
ou a Casa do Arco.
cidade à lupa
Guimarães
No berço da nação
portuguesa
^ Capela de S. Miguel
Monumento nacional construído
no início do século XII, muito
provavelmente a mando do conde
D. Henrique, de estilo românico,
pequenas dimensões e grande
simplicidade arquitetónica. Tem
um forte simbolismo já que se
encontra historicamente ligada
à fundação da nacionalidade e à
tradição de ter recebido o batizado
de D. Afonso Henriques.
Cidade histórica com um papel
crucial na formação da nacionalidade,
Guimarães vai muito além do seu
passado, associado ao castelo e ao
primeiro rei de Portugal, D. Afonso
Henriques. aqui as tradições e os
costumes convivem com a vanguarda
e a modernidade, dando aos visitantes
infinitas escolhas de lazer
por cláudia marina
fotografia artur
72
^ Convento
de Santa Clara
Um dos mais ricos conventos
da cidade alberga, atualmente,
a Câmara Municipal de
Guimarães.
^ Paço dos Duques
Majestosa casa senhorial do
século XV, mandada edificar
por D. Afonso – futuro duque de
Bragança – revela um palácio
de vastas dimensões que hoje
assume as funções de museu e
Residência Oficial do Presidente
da República no Norte do País.
montepio Primavera 2012
^
^ Museu Alberto
Sampaio
Criado em 1928, alberga
as coleções da extinta
Colegiada de Nossa Senhora
da Oliveira e de outras igrejas
e conventos da cidade.
Situado em pleno centro
histórico, aí podem ainda
apreciar-se importantes
coleções de escultura
e ourivesaria.
^ Largo do Toural
Considerado o coração
da cidade de Guimarães,
no século XVII era
um largo extramuros, junto
à principal porta da vila.
Com a Capital Europeia da
Cultura como pano de fundo,
esta verdadeira sala de
visitas da cidade foi alvo
de uma intervenção profunda
que teve a assinatura da
arquiteta Maria Manuel.
^Praça de S. Tiago
Uma das praças mais
antigas da cidade,
conserva a traça
medieval original.
^ Vista do Castelo
de Guimarães
No século X, a condessa
Mumadona Dias mandou
construir um mosteiro na
sua herdade de Vimaranes –
hoje Guimarães. Mas foram
os constantes ataques por
parte de mouros e normandos
que levaram à construção de
uma fortaleza para guarda
e defesa dos monges e da
comunidade cristã que vivia
em seu redor. Assim nasceu
o castelo de Guimarães.
A saber
O centro
histórico de
Guimarães
Foi reconhecido
pela UNESCO,
em 2001, como
Património
Cultural da
Humanidade.
guimarães
Capital Europeia
da Cultura 2012,
Guimarães juntou
às muitas opções
de aventura, bem-estar, artes
e espetáculos, toda
a programação
preparada
especialmente
para o evento.
Localizada na
região do vale
do Ave, a cidade
associa, com
equilíbrio, o peso
da História ao
dinamismo dos
seus habitantes.
Para o prestigiado
jornal New York
Times Guimarães
é, sem margem
para dúvidas, uma
das 10 cidades
do planeta que
se devem conhecer
e descobrir durante
o ano de 2012.
Aproveite as
sugestões que
se seguem e
descubra connosco
alguns dos
segredos mais
bem guardados
desta cidade
minhota.
montepio primavera 2012
73
4
a minha vida
Cidade à lupa
Guimarães
guia
Capital
Europeia da
Cultura 2012
guia
junho
Dia 10
Os Lusíadas
são o tema de uma
conferência internacional
sobre Camões e os tempos
de crise
julho
Dia 1
Estreia do filme
que levou Jean-Luc Godard
de volta a Sarajevo
Dia 27
Concerto
ao longo de praticamente um ano, Guimarães
assume o papel de Capital Europeia da Cultura.
Para não perder pitada do que a cidade
tem para oferecer, deixamos-lhe um guia com
as informações essenciais
pela Orquestra Chinesa
de Macau
setembro
Dia 16
Ciclo de cinema
dedicado ao realizador
brasileiro Glauber Rocha
Dia 22
Concerto
com The Legendary Tiger
Man e Rita Redshoes, a partir
de um filme mudo realizado
em 1920
Vai de carro?
74
^ Então saiba que Guimarães fica a
350 km de Lisboa, 50 km do Porto e a
600 km de Faro
Dia 29
Concerto
pela Orquestra Sinfónica do
Porto, Casa da Música
outubro
Dia 21
Congresso Histórico
de Guimarães
novembro
Quer dormir
na cidade?
^ Aproveite este ano,
já que Guimarães
promove o alojamento
local de artistas e
visitantes. Com o lema
“Entra aqui na Tua
Casa em Guimarães
2012”, o projeto
pretende transformar
os visitantes e
agentes artísticos em
vizinhos e munícipes
temporários, instando
os vimaranenses a
abrirem-lhes as portas
de sua casa.
montepio PRIMAVERA 2012
Dia 8
Guimarães Jazz
dezembro
Dia 15
Mumadona
estreia da ópera
de Carlos Tê e Carlos
Azevedo
Dia 31
Anda perdido?
^Para quem necessita
de informações foi
criado um espaço de
encontro no centro da
cidade, situado na Rua
de Camões (artéria que
conflui com o Largo do
Toural).
Festa de Encerramento
Para mais
informações
consulte:
www.guimaraes2012.pt
4
a minha vida
crónica
Baptista-Bastos
ELA
DANÇAVA
COMO
NENHUMA
OUTRA
Quando Marta Arvelos voltou à rua, após quase quarenta anos
de ausência, ninguém manifestou surpresa. O mundo mudara
e ela mudara com o mundo. Da rapariga de seios míticos, ancas
parideiras e pernas lendárias restava uma mulher de cor terrosa,
osso susto e dor. Mas mantinha a altanaria. E olhava as pessoas de
frente, como sempre fizera. Naqueles antigos tempos, ela avançara
sobre a morosidade, a circunspecção e o temor reverencial com
a alegria, o desprendimento e desenvoltura de quem sabia não
querer aquilo e ambicionar muitas outras coisas diferentes.
Eram épocas sujas, desprovidas de sonhos e de
esperança. Ela ia ver filmes nos cinemas da Baixa, e falava das suas idas às esplanadas do Parque Mayer, beber pirolitos com outras raparigas.
As mulheres velhas observavam-na com despeito, inveja e ressentimento. E diziam que não iria
longe com a vida que levava. Não ir longe, no sentir daquela expressão recriminatória, era levar
uma existência de valdevina, sem regras nem
normas.
Marta tinha muitos namorados e deslocava-se a outros bairros, pelas festas populares, para
dançar nos bailes e rir, rir, rir. Um dia, sem mais
nem menos, desapareceu. Fugira com o senhor
Nazaré, homem casado, com dois filhos, grave e
soturno, com emprego importante na Alfândega. Houve notícias vagas e imprecisas. Que fora
para África; que vivia na Alemanha; que estava
gravemente doente e morrera. A seguir, nada
de nada: deixou de se falar na Marta.
Na rua onde vivera, mesmo lá ao fundo, havia um armazém de retém, transformado, por
um grupo de rapazes, em local de ensaio de uma
banda que tocava músicas modernas. Ao contrário do que seria de presumir, os moradores
adoravam os rapazes e apreciavam com aquies-
ilustração gettyimages
cência as músicas que tocavam, alto e bom som.
Até houve uma ocasião, pelo Santo António,
que fizeram um baile, como noutros tempos, e
as pessoas reviveram a nostalgia. Acaso lembraram-se, um pouco e levemente, da Marta Arvelos, que dançava como nenhuma outra rapariga, e suscitava nos homens desejos e anseios.
Foi-se sabendo que o senhor Nazaré se cansara dela, ou ela se cansara do senhor Nazaré.
Deixaram-se, não se conhecia o sítio ou o país
onde o acontecimento ocorrera. Era bom de ver
que as coisas teriam de ser assim. Marta namorara outros homens, mas não vivera com mais
nenhum. A sua natureza era a de ser livre, o que
quer que a palavra significasse, naquelas circunstâncias e naquele tempo antigo.
“Desgraçou a vida dela e a vida do senhor Nazaré”, era o que as mulheres diziam, na roda da
coscuvilhice desbragada. Os homens sentiam
certo ciúme pelo senhor Nazaré, que tomara o lugar por eles tantas vezes ardentemente desejado.
E foi quando ela regressou ao bairro, tantos
e tantos anos depois de ter partido, uma sombra fúnebre do que fora, mirrada e desamparada. Durante uns tempos não saiu de casa, a
não ser para as compras de mercearia, um ou
outro passeio curto até à calçada. Sempre fugidia, mas com o porte de alguém que nada tem
a dizer nem a temer. Pouco a pouco, as mulheres aproximaram-se-lhe, falavam-lhe, sorriam-lhe. Afinal, a Marta Arvelos já não constituía
a ameaça que elas presumiam representar para
os seus namorados e para os seus maridos.
A verdade, porém, é que todos se lembravam
do que ela fora, e essa lembrança não se apagava, como a mancha de um remorso e de um rancor apenas adormecido.
NOTA: O autor é totalmente contrário ao assim
denominado Novo Acordo Ortográfico, pelo que
continua a escrever segundo a chamada norma
antiga.
montepio PRIMAVERA 2012
75
4
a minha vida
ROteiro
Rotas de
Caminhada
5 000
quilómetros
de costa
atlântica
76
1
integra uma das 12 rotas
europeias de caminhada
mas tem centenas de
quilómetros a descobrir
sem sair de Portugal:
de Valença do Minho
ao Cabo de São Vicente,
no Algarve
por marta reis
“Ó mar salgado, quanto do
teu sal são lágrimas de Portugal!” Fernando Pessoa
lembrou o legado dos navegadores na Mensagem,
cantando o Atlântico como mar português. Inspire-se neste embalo nostálgico e aventure-se, agora a
pé, pelo Caminho Atlântico. É um dos 12 percursos
europeus certificados pela
Federação Europeia de Percursos Pedestres e, ao todo,
são 5 000 quilómetros que,
ao ritmo de um caminhante
treinado e com poucos dias
de descanso, levariam um
montepio PRIMAVERA 2012
ano a percorrer. Se o tempo
ou as pernas não derem para descer ao Algarve desde
São Petersburgo, o primeiro ponto desta rota, não desanime: tire uns fins-de-semana para fazer os trilhos
marcados em território nacional. Mais ou menos intensos, oferecem cenários
tão diversificados como a
fresca serra de Sintra ou o
quente Alentejo.
Além do calçado confortável, dos frutos secos
para repor energia, do protetor solar e da água, importa apreender as noções
Douro
Litoral
Início
do trilho
Porto
Final do trilho
Valença
No extremo norte
do País, o traçado
do Caminho
do Atlântico
coincide com o
Caminho de Santiago. Por serras
e vales, umas
vezes mais junto
à costa outras
avançando um
pouco pelo interior e por veredas
serranas, este
troço desenvolve-se em quatro
etapas entre o
Porto e Valença.
A partir daí penetra na Galiza,
rumo a Santiago
de Compostela.
2
Região Oeste
Início do trilho:
Cabo da Roca (Azóia)
Final do trilho
Odrinhas
A partir do cabo
da Roca, onde
se encontra
um painel
explicativo,
o trilho
desenvolve-se ao
longo da costa,
ora por cima
das falésias ora
descendo até às
praias da Adraga
ou da Aguda.
A chegada ao
Magoito faz-se
pela praia e,
a partir deste
ponto, o caminho
inflete para o
interior, rumo
a Odrinhas. Aí
pode aproveitar
para visitar
as ruínas
romanas do sítio
arqueológico de
São Miguel de
Odrinhas.
3
4
1 Barcelos, parte
histórica da cidade
2 Santiago do Cacém,
ruínas romanas de
Miróbriga
34Cabo da Roca
básicas da arte de caminhar.
Em Portugal, os caminhos são
propostos por autarquias ou
associações e homologados pela Federação de Campismo e
Montanhismo de Portugal.
Litoral
Alentejano
Em rota
Em Portugal, o Caminho do
Atlântico tem rotas homologadas desde Valença do Minho
até à via algarviana, culminando na vista escancarada do cabo de São Vicente. Para partir à aventura deve procurar
na Internet ou nos postos de
turismo as indicações para o
percurso GR associado ao E9:
GR11 – E9. Na região de Lisboa tem um trilho de 27 quilómetros, no concelho de Sintra,
que começa junto ao cabo da
Início do trilho:
Santiago do
Cacém
Final do trilho
Grândola
Outra das regiões
onde o Caminho do
Atlântico já tem os
trilhos devidamente
marcados e
homologados é o
litoral alentejano.
Além do trilho que o
conduz de Santiago
de Cacém até
Grândola, existem
variantes pela lagoa
de Santo André.
Com a chegada
do Alfa Pendular
(em período
experimental) a
Grândola, torna-se
ainda mais fácil
alcançar o início
do trilho.
sites úteis
www.fcmportugal.com
www.era-ewv-ferp.com
Roca, na Azóia. Daí parte em
direção a praias como a Adraga e o Magoito. O destino final
é Odrinhas, onde pode visitar
as ruínas romanas e o museu.
Mais a sul, no concelho de Santiago do Cacém, inicia-se um
percurso de dificuldade média
que vai até Grândola.
Via algarviana
Continuando a descer, tem
ao seu dispor a bem sinalizada via algarviana, que liga ao
E9 e ao caminho europeu E4,
que culmina no Chipre. Aqui
dispõe de pistas para 300 km
de caminhada, 15 dias a uma
média confortável de 20 km
diários, que atravessam 11 concelhos, de uma ponta à outra
do Algarve, em troços de 30
km – mapas e indicações em
www.viaalgarviana.org. O percurso atlântico culmina no cabo de São Vicente, mas pode
sempre ir até Alcoutim. E volte a recordar Pessoa: “Deus ao
mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
Sul
Onde dormir
a
lém da
rede
nacional
de parques de
campismo, experimente as Pousadas
de Portugal ou as
Pousadas da
Juventude, nas quais
terá que apresentar
o Cartão Jovem ou
de Alberguista.
Para uma experiência
especial, e se optou
por rumar
a sul, procure
o Eco Campo Resort
& Spa Zmar, um
conceito inovador
de campismo
ou alojamento em
chalé, no concelho
de Odemira,
a 13 quilómetros
da Zambujeira
do Mar.
sinalética
Saiba orientar-se
As rotas de caminhadas estão organizadas em Grandes Rotas (GR), com mais de 30 quilómetros, Pequenas Rotas (PR) com menos de 30 quilómetros e Pedestres Locais (PL) que
incluem percursos em centro urbano. Distinguem-se, também, pela cor da sinalização.
Virar à direita
Virar à esquerda
Caminho errado
^ GR (GRANDE ROTA)
^ PR (PEQUENA ROTA)
^ PL (PEDESTRE LOCAL)
montepio Primavera 2012
77
4
a minha vida
tempos livres
férias
low cost
Deixar de ter subsídio de férias
ou dispor de um orçamento
limitado não são sinónimos
de não ter férias. Há várias
hipóteses para continuar
a viajar e a divertir-se.
Não acredita? Veja as nossas
sugestões
por susana torrão
78
Férias são descanso, diversão
e descoberta de novos lugares,
mas quando o orçamento
sofre cortes torna-se imperativo
poupar. O que não tem de
significar partir rumo à casa
de família, na aldeia que se
conhece desde a infância, ou
ficar aborrecido em casa.
Ir para fora pode sair mais
barato do que se imagina
e para quem fica em casa
existem várias possibilidades
de gozar umas férias diferentes.
1
2
Troque de casa
1 Ficar num apartamento
equipado a um custo de 0
euros, em Paris, é possível!
No site www.trocacasa.com
encontra todas as
explicações. A inscrição
e uma mensalidade de
2,95 euros dão direito
a um número de trocas
ilimitado. Escolha o
destino, veja as ofertas
disponíveis e reserve.
O apartamento parisiense
ou a cottage em Inglaterra
são seus.
montepio PRIMAVERA 2012
Arrendamento
a preços competitivos
2 Redes como a Air BnB
(www.airbnb.com), que
propõe arrendamento de
todo o tipo de tipologias
(apartamentos, castelos,
barcos, quartos), são
uma boa opção.
Funcionam de modo
similar à troca de casa
e os preços, a dimensão
e o tipo de alojamento
são variados.
Campismo
e ecoturismo
3A Quinta do Pomarinho
(www.pomarinho.com/pt/),
em Castelo de Vide, ou
o Zmar – Eco Camping
Resort (www.zmar.eu),
na Zambujeira do Mar,
são boas opções.
Junto à barragem de
Odivelas, no complexo
turístico Markádia,
o campismo está inserido
num parque natural
privado onde pode
aproveitar a barragem.
B&B
4O site www.
pureportugalholidays.com
sugere várias hipóteses,
de norte a sul, entre
turismo rural, campismo,
B&B, low cost, ecológico,
numa escolha que
abrange todas as bolsas.
Um exemplo é o Domínio
Vale do Mondego, cujas
ofertas vão do alojamento
nas casas recuperadas
de quinta a cabanas e
campismo no parque
natural da serra da Estrela.
“Voar baixinho”
^ Viajar de avião não
tem que sair caro. As
companhias low cost
voam para cada vez mais
destinos e, por vezes,
permitem combinar
marcação de alojamento.
Tenha em conta
os sites rumbo
(www.rumbo.pt) e edreams
(www.edreams.pt).
dica
Marque as viagens
com antecedência
e tenha em conta o
destino final. Se tiver
que pagar uma viagem
de comboio de longo
curso pode compensar
escolher um voo
regular no qual não tem
que pagar bagagem!
3
redescubra
4
5
Seja um
eterno jovem
5As Pousadas da
Juventude (www.
pousadasjuventude.pt)
estão abertas a todas
as idades e dispõem de
quartos duplos (com e
sem wc), familiares e
apartamentos, e camaratas
de quatro a seis camas.
Único requisito: ser titular
do Cartão de Alberguista,
que pode ser adquirido
no local. A estada inclui
pequeno-almoço.
Locais que já conhece
S
e está em Lisboa parta à
aventura pelas ruas que vê
todos os dias. A Lisbon Walker
(www.lisbonwalker.com) propõe
passeios temáticos dos quais o mais
original é o “Lisboa Sensorial”, pelo qual
a visita a Alfama é feita de olhos vendados. Para participar basta consultar
o site e aparecer no ponto de encontro
à hora marcada.
Aproveite para passear no Tejo.
A Transtejo tem passeios diários que
incluem acompanhamento por guia e
bebidas frescas. Já a Marlin Boat Tours
(www.marlinboattours.com)
oferece propostas para grupos até nove
pessoas a partir de 15 euros.
Na serra do Buçaco, a Fundação Mata
do Buçaco promove passeios guiados e
oficinas para grupos e famílias todos os
primeiros e terceiros domingos do mês.
Os preços vão dos três aos cinco euros
e as inscrições são feitas por telefone
(Tel. 231 937 004 ou 963 007 857).
4
a minha vida
passeios com história
Castelos,
Fortalezas e outros
Monumentos
Viajar no tempo
A Associação Portuguesa dos Amigos
dos Castelos convida-nos a conhecer
três castelos: Guimarães, Palmela
e Almourol. Três viagens no tempo
desde a formação da nacionalidade
portuguesa até aos anos de exaltação
nacionalista do Estado Novo
por raquel amaral
fotografia artur
80
Entramos em cada um dos
castelos com um guião diferente.
Pela mão de Francisco Sousa Lobo,
presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, é
possível ficar a conhecer a história
e aprender a interpretar a estrutura
fortificada. “É um pouco o que se
ensina nas aulas de arquitetura
militar e nas aulas de restauro de
fortificação”, explica-nos.
montepio PRIMAVERA 2012
Com um olhar alargado e aprofundado sobre as fortificações e suas envolventes, conseguimos ver para além
das muralhas recortadas no céu azul.
É quase possível ouvir a azáfama de
outros tempos e sentir a vida das populações dentro das muralhas.
As terras à volta do castelo eram da
responsabilidade da guarnição. Assim,
os habitantes das aldeias e pequenas
povoações situadas dentro das fortificações aí trabalhavam e tinham a sua
atividade diária. “Essa atividade deixou-nos um património que vale a pena conhecer e ser visitado. Nas terras
em redor do castelo foram aparecendo
igrejas e diversas capelinhas, por isso
criámos visitas de estudo globais que
abrangem tudo isto”, afirma Francisco Sousa Lobo.
Saiba mais
Associação Portuguesa
dos Amigos dos Castelos
Rua Barros Queirós, nº 20, 2º
1100-077 Lisboa
Tel. 218 885 381
Fax. 218 885 342
www.amigosdoscastelos.org.pt
[email protected]
jj
almourol
Há ligações diárias que conduzem
o visitante da margem até à ilha onde
se ergue o antigo castelo templário.
A viagem é curta mas permite uma
vista global do edifício e da envolvente
natural
2
1 Santarém, castelo
de Almourol
2 3 Castelo de Palmela
4 Igreja de Santiago,
castelo de Palmela
1
3
Castelo de Guimarães
O castelo de Guimarães teve, na segunda metade do século X, uma primeira estrutura mandada construir
pela condessa Mumadona Dias.
À época, os cristãos consolidavam a
zona a norte do rio Douro conquistada, há cem anos, por Vímara Peres.
O castelo manteve-se nas mãos da família até à morte do conde D. Nuno
Mendes, em 1071, na Batalha de Pedroso. No final do século XI o castelo
foi remodelado e ampliado para residência de D. Henrique da Borgonha.
D. Dinis mandou remodelar o conjunto fortificado, que chegou arruinado ao século XIX. Assim, em 1940,
aquando da comemoração dos centenários da nacionalidade, foi inaugurado o restauro num contexto de
exaltação nacionalista.
O castelo de Guimarães tem
planta em forma de escudo e oito
torres defensivas. No centro está a
torre de menagem, com vinte e cinco metros.
81
jj
escolha
o seu castelo
As visitas orientadas por guias da
Associação Portuguesa dos Castelos
– exclusivas
para associados –
começam a 15 de
abril. Localizados
em três pontos distintos do território,
oferecem histórias
e paisagens únicas. A meio de um
rio, em pleno centro
histórico ou sobre
vistas espraiadas
sobre o vale
e estuário do Sado
“Ninguém protege o que não conhece e o nosso papel é dizer às pessoas que vivem perto dos castelos
que aquelas pedras têm muito valor.
É sensibilizá-las para a história da
4
sua região. Conhecer os castelos é
descobrir a história do País”, diz
Francisco Sousa Lobo.
Castelo de Almourol
Em torno do castelo de Almourol paira a dúvida quanto à sua origem: islâmica ou cristã? Podemos ver que a
construção é em cantaria de granito
e alvenaria argamassada e a planta
é irregular, reflexo da irregularidade do terreno. Ergue-se num afloramento de granito 18 metros acima do
nível das águas, numa pequena ilha
com 310 metros de comprimento por
montepio Primavera 2012
4
a minha vida
passeios com história
rota dos castelos
75 de largura. D. Afonso Henriques deu
a ilha à Ordem dos Templários, ajudando à mística do local.
No século XIX as obras de restauro
alteraram a fisionomia do castelo, com
um coroamento das muralhas com
merlões e ameias. Por toda a ilha existem pequenos caminhos que nos permitem passear por entre a vegetação e
em torno do castelo, monumento nacional desde 16 de junho de 1910.
Castelo de Palmela
De origem islâmica, o castelo de Palmela foi tomado pelas forças cristãs
em 1147, para ser novamente perdido
ao fim de poucos anos. Só foi reconquistado em 1165, quando D. Afonso Henriques o doou aos cavaleiros da Ordem
de Santiago da Espada.
Em 1191 a fortificação é arrasada pelas tropas muçulmanas e só em 1205,
no reinado de D. Sancho I, se inicia a
SAIBA MAIS
Associação
Portuguesa
dos Amigos
dos Castelos
F
Visitas
a não perder
^ 15 de abril
Castelo
de Guimarães
10h00
^ 6 de Maio
Castelo
de Almourol
10h00
^ 17 de junho
Castelo
de Palmela
10h00
oi
fundada
em 1983
e a sua ação tem
como estratégia
aproximar as
populações
dos castelos,
sensibilizá-las
para a importância do seu valor
cultural e estimular o estudo,
a investigação e
o interesse pelos
castelos
e fortalezas.
reconstrução e se retoma a ocupação
do castelo pelos cristãos. Sob os governos de D. Dinis e de D. Afonso IV, os cavaleiros da Ordem Militar de Santiago
começam a construção da torre de menagem, concluída entre os reinados de
D. João I e D. João II.
Dentro da cerca primitiva do castelo podemos visitar a Igreja de Santiago, da segunda metade do século XV,
reservada atualmente para exposições
de artes plásticas, espetáculos musicais
e palestras.
Os castelos de Guimarães, Almourol e Palmela são os primeiros a ser
visitados com o acompanhamento de
um guia da Associação dos Amigos dos
Castelos pelos associados do Montepio
que quiserem juntar-se a esta iniciativa.
“Penso que esta parceria entre Os
Amigos dos Castelos e o Montepio vai
ser muito interessante e proveitosa para todos. Permite-nos ir mais além e fazer visitas exclusivas para o Montepio.
Mais tarde sonhamos, também, em fazer parcerias com os concelhos e câmaras municipais para podermos chegar a
toda a gente”, confessa o presidente da
Associação dos Amigos dos Castelos.
atividades para associados montepio abril/maio/junho
ABRIL
82
f MULTIATIVIDADES
• Micro Raid Aventura
Serra da Lousã,
Dia 28, sáb., 8h30
23,75€
f ATIVIDADES DE
AR LIVRE
• Passeio Pedestre
“Fojo-Entre a Arrábida
e o Risco”
Parque Natural
da Arrábida, Dia 15
dom., 9h30, 7€
• “As escarpas
do Douro
Internacional”
Parque Natural
do Douro
Internacional
Dia 21, sáb., 10h00, 7€
f PASSEIOS COM
HISTÓRIA
• Braga Romana
- visita às termas
romanas e Museu
Arqueológico
D. Diogo de Sousa
Braga, Dia 14, sáb.
10h00, 15€
• Casa Museu Marta
Ortigão Sampaio
Porto, Dia 14, sáb.
15h00, Gratuito
• Jardins e Palácio
da Fronteira, Lisboa
Dia 21, sáb., 9h30, 7,5€
f CURSOS
• Iniciação à Internet
Seniores, Viseu, Dias
19/20, 9h00, Gratuito
f WORKSHOPS
• Iniciação
à Fotografia l
Lisboa, Dias 28/29
9h30
Associados: 50€
Não associados: 70€
• Diários Gráficos
sobre "Bichos"
com Richard Câmara
Lisboa, Dias 28/29
10h30
Associados: 35€
Não Associados: 40€
f VISITAS
ORIENTADAS
Castelo
de Guimarães
Dia 15, dom., 10h00
5€
• Fundação Calouste
Gulbenkian
“Fernando Pessoa:
Plural como
o Universo”
Lisboa, Dia 28, sáb.
10h10, 5€
MAIO
f MULTIATIVIDADES
Parque Natural
da Arrábida, Dia 1
ter., 9h30, 28€
f PASSEIOS
COM HISTÓRIA
• Museu
da Marioneta
Lisboa, Dia 5, sáb.
10h00, 3€
• Porto Romântico
Porto, Dia 19, sáb.
10h00, 8€
• Casa do Infante
Porto, Dia 20, dom.
10h30, Gratuito
f ATIVIDADES
DE AR LIVRE
• Canoagem
Parque Natural
da Ria Formosa
Dia 6, dom., 9h30, 3€
f CURSOS
• Iniciação à Internet
Seniores, Castelo
Branco, Dias 17/18
9h00, Gratuito
• Farol do Cabo
Carvoeiro, Peniche
Dia 26, sáb., 11h00
Gratuito
f WORKSHOPS
• Iniciação
à Fotografia ll
Lisboa, Dias 12/13
9h30
Associados: 50€
Não associados: 70€
f ATIVIDADES
DE AR LIVRE
f WORKSHOPS
• Fotografia
de Viagem, Lisboa
Dias 2/3, 9h30
Associados: 50€
Não associados: 70€
• Passeio Barco
– Costa a Costa
Sesimbra, Dia 30 sáb.
9h30, 32€
• Diários Gráficos
sobre "Feiras
e Mercados”
com Richard Câmara
Lisboa, Dias 2/3
10h30
Associados: 35€
Não associados: 40€
• Diários Gráficos
sobre "Pátios e Vilas”
com Richard Câmara
Lisboa, Dias 12/13
10h30
Associados: 35€
Não associados: 40€
• Passeio Fotográfico
Óbidos, Dias 26/27
10h00
Associados: 40€
Não associados: 60€
f VISITAS
ORIENTADAS
• Farol de Alfanzina
Algarve, Dia 5, sáb.
17h00, Gratuito
• Castelo de Almourol
Santarém, Dia 6
dom., 10h00, 5€
JUNHO
• “Caminhada
e Iniciação ao Rapel”
Serra de Valongo
Dia 3, dom., 9h15, 6€
f PASSEIOS
COM HISTÓRIA
• Porto Medieval
Porto, Dia 2, sáb.
10h00, 8€
• Museu da Farmácia
Porto, Dia 2, sáb.
15h00, 7,5€
• Museu da Farmácia
Lisboa, Dia 16, sáb.
10h00, 7,5€
• Visita aos
Chafarizes, Lisboa
Dia 30, sáb., 10h00, 5€
f CURSOS
• Iniciação à Internet
Seniores, Beja
Dias 14/15, 9h00
Gratuito
• Passeio Fotográfico
Sintra, Dias 23/24
10h00
Associados: 40€
Não associados: 60€
f VISITAS
ORIENTADAS
• Castelo de Palmela
Palmela, Dia 17, dom.
10h00, 5€
SAIBA MAIS | www.montepio.pt | Informações e inscrições f Gabinete de Dinamização Associativa/[email protected]/ T. 213 249 238/7
montepio PRIMAVERA 2012
O MEU montepio
notícias institucionais,
iniciativas,
projetos e comunicados
página 84
página 85
Voltámos a apoiar IPSS
de todo o País, ajudando
crianças e idosos
Da abertura da StartUp
Lisboa aos próximos
workshops, notícias
e sugestões sobre
o universo Montepio
donativos
breves
página 86
Prémio
escolar
Fundação Montepio
distinguiu e premiou o
esforço de várias escolas
na melhoria dos resultados
de aprendizagem
página 90
Benefícios
Em destaque os novos
acordos celebrados
para benefício dos
associados Montepio
5
o meu montepio
jj
Os
padrinhos
Donativos Montepio
em dia de
atribuição de
donativos
Oferecer
um presente
garantir
o futuro
O Montepio voltou
a transformar em
donativos o montante
que destinaria a
presentes de Natal e
apoiou 10 instituições
de solidariedade
por susana torrão
fotografia luís viegas
84
“Quero agradecer às instituições. Sem
elas e sem o trabalho que realizam não
estaríamos aqui.” Foi desta forma que,
a 14 de dezembro, António Tomás Correia, presidente do Montepio, deu as
boas-vindas às 10 instituições de solidariedade social que beneficiaram dos
donativos de Natal, acrescentando que
“vivemos no limiar de um novo paradigma social, pelo que se o exemplo do
Montepio funcionar como mancha de
azeite que vá alastrando a outras instituições, será muito bom.”
A iniciativa – inserida na política de
responsabilidade social do Montepio –
complementa os inúmeros projetos solidários assegurados pela Associação
Mutualista, pela Caixa Económica, pela Fundação e pelos mais de 800 colaboradores-voluntários, mas também os
apoios destinados a promover a melhoria da qualidade de vida de crianças, jovens, idosos e cidadãos portadores de
deficiência.
Em 2011 foram entregues 200 mil
euros a 10 instituições e a cerimónia de
entrega dos apoios contou com a participação de 10 conhecidos músicos que se
assumiram padrinhos de cada projeto
social. Paulo de Carvalho apadrinhou
montepio primavera 2012
Agir junto de quem precisa
Instituições apoiadas em 2011
^ Associação de
Aldeias SOS
Acolhe crianças órfãs,
abandonadas ou
provenientes de famílias
de risco. Dispõe do
Centro Social “Arco Íris”
e do Centro Juvenil de
Rio Maior.
^ ADDIM
Apoia mulheres vítimas
de violência doméstica
através de uma Casa
Abrigo e do Centro de
Atendimento à Vítima.
^ Associação
Portuguesa
de Crianças
Desaparecidas
Presta apoio jurídico
e psicológico às
famílias de crianças
desaparecidas.
Desenvolve, ainda,
ações de formação e
prevenção destinadas
a adultos e a crianças.
^ Associação de
Proteção à Infância
Bispo D. António
Barroso
Acolhe, no Lar de
Infância e Juventude,
crianças e jovens do
sexo feminino. Funciona
como uma casa onde
as jovens podem
permanecer até aos
21 anos.
^ Casa Nossa
Senhora
da Conceição
Dispõe de uma creche,
com capacidade para
44 crianças, destinada
a acolher meninas
desprotegidas dos 3
aos 10 anos.
^ Chapitô
Tem por objetivo a
integração, pelas artes,
de jovens em risco.
Além de projetos como
a “Animação em Ação”,
o Chapitô conta com
a residência “Casa
do Castelo”, serviços
de ATL e o Centro de
Acolhimento Infantil
João dos Santos.
^ Centro Social
e Paroquial
de Nossa Senhora
da Vitória
Apoia crianças e jovens
na creche, jardim-de-infância, centro de ATL
e Casa do Jovem, mas
a Associação de Aldeias SOS, João Gil
a Obra de Santa Zita, António Chainho
foi patrono da Santa Casa da Misericórdia da Pampilhosa da Serra, Rui Veloso
apadrinhou o Chapitô, Vitorino a Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas, Yolanda Santos a Santa Casa da
Misericórdia de Viseu, Mário Laginha o
também pessoas sem
abrigo ou em situação
de exclusão.
^ Obra
de Santa Zita
Acompanha crianças,
jovens e idosos através
de creches, jardins-de-infância, lares,
centros de dia e apoio
domiciliário. O apoio
do Montepio garantiu
a continuação do
Centro de Acolhimento
Temporário em Castelo
Branco.
^ Santa Casa da
Misericórdia de
Pampilhosa da
Serra
Apoia 120 pessoas
através do lar e centro
de dia. Tem ainda
creches e serviço
de enfermagem e
fisioterapia.
^ Santa Casa da
Misericórdia de
Viseu
Apoia crianças e idosos
através de lares, da
creche e do Centro de
Acolhimento.
Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Vitória, Susana Félix a Casa
Nossa Senhora da Conceição, Adriana a Associação e Proteção à Infância
Bispo D. António Barroso, cabendo a
Miguel Brito Rebelo a Associação Democrática da Defesa dos Interesses e
da Igualdade das Mulheres.
Workshops de fotograf ia
com Alexandre Kühl de Oliveira
como participar
O fotógrafo Alexandre Kühl de Oliveira orienta dois workshops e dois
passeios fotográficos nos próximos meses
Workshops
Profundidade de campo e congelamento
ou arrastamento de imagem são conceitos que nem todos os fotógrafos amadores
dominam. Para os associados amantes da
fotografia, Alexandre Kühl de Oliveira, fotógrafo freelancer, preparou dois workshops,
em Lisboa, a 28 e 29 de abril e a 12 e 13 de
maio. No final, os participantes conhecerão ao pormenor as potencialidades das
suas máquinas, saberão trabalhar com diferentes tipos de luz e usar, de forma eficiente, várias objetivas.
Com uma carga horária de sete horas
diárias (das 9h30 às 18h), os workshops
têm uma vertente essencialmente prática.
A manhã do primeiro dia é destinada à
teoria, sendo a tarde de sábado e a manhã
28 e 29 de abril
e 12 e 13 de maio
Eugénia
Dobrões
Associada
do Montepio,
editou
o seu
primeiro
livro
de domingo dedicadas a um passeio por
Lisboa onde serão colocados em prática os
novos conhecimentos. Na tarde de domingo é feita a análise dos trabalhos.
Para participar é necessário máquina fotográfica digital, de preferência SLR
(com possibilidade de troca de lentes) e
flash, se possível exterior. As inscrições
têm como prazo limite os dias 24 de abril
e 8 de maio.
Alexandre Kühl de Oliveira orientará
também dois passeios fotográficos. O primeiro em Óbidos, a 26 de maio, com ponto de encontro nas portas da vila, às 9h30.
Na manhã do dia seguinte, em Lisboa, será feita a discussão dos trabalhos. A 23 de
junho há novo passeio em Sintra.
Escrita de emoções
A
o longo de dois anos Eugénia Dobrões dedicou
os seus tempos livres a uma paixão que a
acompanha desde sempre: a escrita. O resultado
foi Água de Amor, a sua primeira obra de ficção, publicada
em novembro de 2011. A narrativa de emoções criada por
esta Associada do Montepio tem por base dois elementos
fundamentais à existência humana: água e amor.
data
valor da inscrição
50 euros por pessoa
data limite de
inscrição
24 de abril e 8 de maio
Número de
participantes
Mínimo 6, máximo 12
Passeios
data
26 de maio e 23
de junho
valor da inscrição
40 euros por pessoa
data limite de
inscrição
22 de maio e 19 de
junho
Número de
participantes
Mínimo 7, máximo 12.
Saiba mais em
www.montepio.org
Nascem novas empresas em Lisboa
Resultado de uma iniciativa
conjunta da Câmara
Municipal de Lisboa
(CML), do Montepio
e do IAPMEI, foi inaugurada,
a 2 de fevereiro, a Startup
Lisboa, incubadora
de empresas.
À data da inauguração
o nº 80 da Rua da Prata já
acolhia 15 projetos.
A ideia foi lançada por um
munícipe lisboeta, aquando
do Orçamento Participativo
de Lisboa, e inspirou-se em
três exemplos de sucesso:
a Y Combinator, a Plug and
Play, de Silicon Valley,
e o Le Camping, em Paris.
O Montepio cedeu o edifício
e suportou as obras
de recuperação, no valor
de 500 mil euros, e a CML
realizou um investimento
de 450 mil euros.
Em conjunto, as três
entidades fundadoras
criaram um fundo
de 500 mil euros
destinado ao apoio
ao empreendedorismo
na cidade de Lisboa.
“Este projeto é gratificante
para nós, para a cidade
de Lisboa e para o País.
O País precisa de exemplos
destes para crescer”, afirmou
Tomás Correia, presidente
do Montepio. Por sua vez,
António Costa, presidente
da Autarquia, sublinhou
a total disponibilidade
mostrada pelo Montepio
e pelo IAPMEI para a criação
da Startup. “Nesta época
temos que multiplicar
os esforços”, afirmou.
À incubadora de empresas
podem candidatar-se pessoas
individuais e empresas
já existentes (com um limite
de três anos de atividade),
que podem permanecer
na Startup por um período
de seis meses a três anos.
Além do espaço físico,
a preço competitivo,
as empresas dispõem
de condições privilegiadas
de acesso a entidades
especializadas, serviços
públicos, investidores
e financiadores.
85
“Este projeto
é gratificante para nós,
para a cidade de Lisboa e
para o País. O País precisa
de exemplos destes para
crescer.”
António Tomás
Correia
Presidente do Montepio
montepio primavera 2012
5
o meu montepio
Prémio Escolar
Prémio Escolar 2011
Reconhecer
o trabalho,
a exigência
e o engenho
Com o objetivo de Distinguir
o bom desempenho escolar, o
Prémio Escolar Montepio apoia
os estabelecimentos de ensino
público em projetos educativos
inovadores
1
por raquel amaral
86
Todos os anos, a Fundação Montepio
convida 50 estabelecimentos de ensino que, nos últimos três anos, tenham
promovido melhorias mais acentuadas nos resultados dos exames do
9º ano de escolaridade, a concorrer
ao Prémio Escolar. Em 2011 o Projeto contou a sua 3ª edição e foi quando
recebeu mais participações.
Depois das candidaturas recebidas, as escolas selecionadas receberam a visita do júri, constituído por
Manuela Silva, David Justino, Isabel
Alçada, Guilherme Valente, Henrique Monteiro e José da Silva Lopes,
que promoveram conversas com a
direção das escolas e com os autores
dos projetos e avaliaram a qualidade,
inovação e impacto esperado dos projetos apresentados.
Os projetos vencedores receberam
um apoio no valor de 25 mil euros,
destinados a concretizar os objetivos.
“Acreditamos que os projetos a que
montepio primavera 2012
as escolas se propuseram vão ser
conseguidos, por isso consideramos
que este contributo é muito interessante”, afirmou António Tomás
Correia, presidente do Montepio.
A iniciativa da Fundação Montepio, que conta com o alto patrocínio
de Sua Excelência o Presidente da
República, é, nas palavras do Ministro da Educação e Ciência, Nuno
Crato, “uma celebração, uma ocasião festiva que traduz o reconhecimento público do extraordinário
trabalho da comunidade educativa”.
“São inúmeras as escolas cujo
projeto coletivo promove um espírito e cultura de qualidade, por isso a Fundação Montepio ao promover este prémio está a promover a
dignificação do papel da comunidade educativa. É um prémio que
contribui para o sucesso do ensino”, afirma o Ministro da Educação e Ciência.
Uma aposta no futuro
António Tomás Correia, presidente
do Montepio, acredita que diligências
como esta podem fazer a diferença no
ensino escolar e confessa que gostaria
que “a iniciativa do Montepio se alastrasse a todo o tecido escolar de modo a poder constituir um incentivo à
melhoria do ensino das nossas escolas, o que quer dizer uma melhoria
da aprendizagem dos nossos alunos,
à melhoria da formação dos nossos jovens e à melhoria do País.”
Os projetos vencedores
E
ste ano, os estabelecimentos de ensino distinguidos foram a
Escola Básica 2,3 do Caramulo, a Escola Básica e Secundária de
Oliveira de Frades, a Escola Básica Integrada com Jardim-de-Infância da Torreira, a Escola Básica com 3º Ciclo Dr. Mário Sacramento e a Escola Básica 2,3 Professor João de Meira. Todos promovem boas
práticas, orientadas para a melhoria das condições de ensino.
2
1 Os representantes
das cinco escolas vencedoras
do Prémio
2 O Ministro da Educação
e Ciência, Nuno Crato, que
salientou a importância do
Prémio no reconhecimento
da comunidade educativa e
do seu trabalho
^ Escola Básica
2,3 do Caramulo
Caramulo
O projeto “Conhecer
o que é nosso, para
preservar e valorizar” visa a formação
de docentes, alunos
e pais e o lançamento de um Centro de
Estudos e Interpretação da Serra do
Caramulo.
“O nosso objetivo
final é evitar
o abandono escolar
e potenciar
o interesse pela
fixação na região”,
explica Luís Filipe
Rodrigues da Costa,
da direção da escola.
^ Escola Básica
e Secundária
de Oliveira
de Frades
Oliveira de Frades
"Escola Sustentável,
dois (es)passos em
frente” é um projeto
que pretende apoiar
uma experiência
de escola sustentável com duas
componentes de
sustentabilidade:
ambiental e social.
Francisco José de
Matos, coordenador
do projeto, acredita
que “daqui a um ano
teremos, graças ao
prémio do Montepio,
uma escola inovadora do ponto de vista
do abastecimento de
energia, pois vamos
satisfazer grande
parte das necessidades energéticas
da escola através de
painéis fotovoltaicos
que o Montepio
ajudou a instalar.”
Este projeto visa
igualmente
a sustentabilidade
das relações humanas, “queremos que
as relações entre as
pessoas sejam cada
vez melhores dentro
da escola, pois
também isso dita
o sucesso
do ensino.”
^ Escola Básica
Integrada
com Jardim-de-Infância
da Torreira
Torreira
O projeto “Nas ondas
da nossa identidade”
quer criar uma maior
ligação e compreensão dos alunos para
com as suas raízes,
procurando a fixação
dos mesmos no
território e o combate
ao abandono escolar.
“Com este prémio
vamos fazer mais
e melhor”, garante
a coordenadora
do projeto Angelina
Figueiredo.
“Acreditamos que
o conhecimento
vem dos livros
mas também de
outros saberes, como
a tradição e tudo o
que faz parte de uma
região e de um povo.
Queremos trazer
as famílias
à escola e lutar
contra o abandono
escolar envolvendo
toda a comunidade.”
^ Escola
Secundária
c/ 3º C E B
Dr. Mário
Sacramento
Aveiro
O projeto “Espiral”
tem como base o reconhecimento de que a
língua portuguesa tem
um papel fundamental
no desenvolvimento
das competências
gerais de transversalidade disciplinar,
designadamente
na matemática
e nas ciências.
“A nossa escola
empenhou-se muito
no seu melhoramento
e, com o esforço de
alunos, pais e professores, conseguiu-se
melhorar os resultados
escolares”, recorda
a diretora do projeto
Teresa Soares Correia.
“A participação gera
responsabilidade
e nós respondemos
presente em relação
ao compromisso
assumido com este
prémio”, garante.
^ Escola EB 2,3
João de Meira
Guimarães
O projeto “Genius”
consiste na criação
de duas sala de aula
para ações nas áreas
de Saúde, Sustentabilidade, Relações
Pessoais e Comunidade. “Apostamos
na diversificação da
prática das salas de
aula”, diz Manuela
Carreira, coordenadora do projeto.
montepio primavera 2012
87
5
o meu montepio
resultados
GRUPO MONTEPIO
Síntese do Desempenho de 2011
Na sequência da aquisição do Grupo Finibanco Holding, SGPS, em dezembro de
2010 pelo Montepio Geral – Associação
Mutualista (MGAM), o Grupo Montepio foi
reforçado com sete instituições (Finibanco
Vida, Finimóveis, Finisegur, Finibanco
SA, Finicrédito, SA, Finivalor e Finibanco Angola), tendo observado, em 2011, um
significativo alargamento e diversificação
das atividades e mercados.
Pese embora o contexto desfavorável e
muito exigente, o desempenho de 2011 veio
comprovar a resiliência e capacidade de
adaptação do Montepio, que ultrapassou
os desafios colocados e cumpriu as condições e os requisitos extraordinários que
lhe foram impostos.
Os principais destaques da evolução da
Associação Mutualista, em 2011, são:
Dimensão
Aumento do Ativo Líquido em 4%, atingindo 2 869 milhões de euros. O Capital
Próprio evidenciou uma evolução positiva
de 5 milhões de euros, devido aos Fundos
Próprios e às Reservas Legais;
Aumento em 7,3% da base de associados,
que ascendeu a 497 420.
Resultados
88
Assinala-se a significativa expressão dos
Resultados do Exercício, de 58,2 milhões
de euros, que possibilitaram o aumento
do nível de rendibilidade do ativo (Resultados do Exercício sobre Ativo Líquido)
para 2,06%.
Solidez
Verificou-se a preservação do nível de
cobertura das responsabilidades pelos
fundos, reservas e provisões matemáticas em 1,15.
Finibanco, SA, possibilitou o aumento
do seu património comercial e financeiro, traduzido no acréscimo de clientes, na
maior dimensão do balanço e na diversidade de segmentos e operações.
Os trabalhos de integração, iniciados em
abril e concluídos em novembro, envolveram a generalidade das áreas da instituição, num esforço coletivo exemplar, de
grande escala, complexidade e exigência.
Além da integração do Finibanco, SA,
a CEMG desenvolveu outros trabalhos
de natureza extraordinária, no quadro
dos requisitos impostos, aos oito maiores grupos bancários, pelo Programa
de Assistência Financeira (PAF) a Portugal. Tais trabalhos culminaram, em
2011, na avaliação, por entidades externas independentes e sob orientação do
Banco de Portugal, da qualidade da carteira de crédito e adequação do nível de
imparidades e do cálculo dos requisitos
de capital, e, já em 2012, com a validação
dos parâmetros e métodos de elaboração
dos exercícios de stress test, no quadro do
Programa Especial de Inspeções (Special
Inspections Program).
Os resultados dessas avaliações foram satisfatórios para a CEMG, na medida em
que as imparidades globalmente constituídas são adequadas e o nível de solvabilidade está corretamente apurado e
acima do exigido.
Ainda no quadro das medidas extraordinárias decorrentes do PAF, é de referir a transferência do Fundo de Pensões
para a Segurança Social, no respeitante
às responsabilidades com pensões já em
pagamento, ocorrida a 30 de dezembro
de 2011, que teve um impacto nos Resultados de -14,1 milhões de euros.
Com a aquisição, pela Caixa Económica
Montepio Geral (CEMG), ao MGAM, em 31
de março de 2011, da totalidade do capital
da Finibanco Holding, SGPS, englobando
o Finibanco, SA, a Finicrédito, SA, a Finivalor e o Finibanco Angola, verificou-se
uma assinalável extensão do perímetro
de consolidação contabilística da CEMG,
da sua esfera de atuação e presença internacional.
Outro facto relevante foi a alteração do
estatuto fiscal da CEMG em sede de
IRC, na sequência da publicação da Lei
nº 64-B/2011 do Orçamento do Estado
para 2012, que determinou a perda de
isenção de IRC na qualidade de entidade anexa de IPSS.
A integração na CEMG dos 174 balcões
e dos ativos (2 625,2 milhões de euros de
crédito a clientes) e passivos (2 315,2 milhões de euros de depósitos de clientes) do
Ativo líquido
montepio primavera 2012
Do desempenho consolidado obtido pela
CEMG, assinalam-se:
Atingiu 21 495 milhões de euros, com destaque para a carteira de crédito de 17 410
milhões de euros, para a qual concor­reram
os valores integrados do Finibanco, SA e
os consolidados da Finibanco Holding,
SGPS.
Depósitos totais
Ascenderam a 13 609 milhões de euros, o
que, expurgando o contributo da carteira
transferida do Finibanco, se traduz num
crescimento de 12,7%.
Liquidez
Reforçou-se a nível estrutural, por via da
evolução do rácio de alavancagem – proporção do crédito face aos depósitos –, que
melhorou significativamente, de 148,12%
para 124,05%, em rápida aproximação à
meta de 120% imposta no PAF para 2014.
Recursos próprios
Aumentaram, refletindo o incremento do
capital institucional, nomeadamente em
100 milhões de euros, no final do ano, perfazendo 1 259 milhões de euros.
Rácios de crédito vencido
Evidenciaram as dificuldades resultantes
da crise, tendo o rácio de crédito vencido a
mais de 90 dias atingido 3,99%. Salienta-se, contudo, a maior cobertura do crédito
vencido por provisões para 111,04%.
Eficiência
O rácio de eficiência situou-se em 56,8%,
excluindo os custos extraordinários com
a integração do Finibanco, Fundo de Pensões e reformas antecipadas, num total de
48,4 milhões de euros.
Margem Financeira
Aumentou 17,6%, alcançando 319 milhões
de euros.
Produto bancário
Ascendeu a 565 milhões de euros, +33,7%
que em 2010.
Resultado Líquido
Atingiu 45 milhões de euros (em base consolidada), apenas menos 6,4 milhões de euros que em 2010 (-12,4%).
Solidez
Foi reforçada, em linha com as exigências
deste período de agravamento dos riscos e
das dificuldades. O rácio de solvabilidade
passou de 12,9% para 13,5% e o rácio Core
Tier 1 atingiu 10,2%, valor acima do exigido
pelas autoridades para dezembro de 2011 e
ao nível das exigências futuras.
5
o meu montepio
resultados
INDICADOREs
ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA
DIMENSÃO / ATIVIDADE (milhares de euros)
Ativo Líquido
2009
2010
2011
2 609 777
2 759 348
2 868 652
Capital Próprio (Fundos Próprios, Reservas e Resultados)
403 105
410 645
415 631
Associados (Unidades)
442 091
463 390
497 420
7 039
7 287
7 627
42 533
54 393
58 157
1,63%
2,04%
2,06%
1,16
1,15
1,15
86
87
86
Pensionistas (Unidades)
RENDIBILIDADE
Resultado do Exercício (milhares de euros)
Resultado do Exercício / Ativo Líquido Médio
COBERTURA DAS RESPONSABILIDADES
Fundos, Reservas e Provisões Matemáticas / Provisões para Riscos e Encargos
COLABORADORES (Unidades)
CAIXA ECONÓMICA (a)
DIMENSÃO / ATIVIDADE (milhares de euros)
Ativo Líquido
Recursos Próprios (Capital, Reservas e Resultados)
2009
2010
2011
17 244 767
18 249 290
21 495 390
986 214
995 478
1 259 488
15 143 916
15 040 645
17 410 344
9 175 941
10 021 794
13 608 555
44 476
51 407
45 029
Resultado do Exercício / Ativo Líquido Médio (ROA)
0,26%
0,29%
0,21%
Resultado do Exercício / Capitais Próprios Médios (ROE)
4,72%
5,18%
3,87%
Total do Crédito a Clientes
Depósitos Totais
RENDIBILIDADE
Resultado do Exercício (milhares de euros)
QUALIDADE DO CRÉDITO
Rácio de Crédito Vencido a mais de 3 meses
Imparidade de Crédito Total / Crédito e Juros Vencidos a mais de 3 meses
3,36%
3,24%
3,99%
97,20%
107,20%
111,04%
EFICIÊNCIA
Gastos Operacionais / Ativo Líquido Médio
Gastos Operacionais / Produto Bancário (cost to income)
Gastos Operacionais / Produto Bancário (cost to income) (b)
1,46%
1,38%
1,73%
55,02%
58,68%
65,35%
-
-
56,77%
LIQUIDEZ
Rácio de Alavancagem (c)
Ativos Elegíveis para Refinanciamento jundo do BCE (milhares de euros)
162,20%
148,12%
124,05%
1 626 265
3 433 820
2 991 055
SOLVABILIDADE
Rácio de Solvabilidade
12,8%
12,9%
13,5%
Tier 1
9,1%
9,1%
10,2%
Core Tier 1
9,2%
9,3%
10,2%
499
REDE DE DISTRIBUIÇÃO E COLABORADORES (Unidades)
Balcões - Rede Doméstica
326
329
Balcões Rede Internacional - Angola
-
-
8
Escritórios de Representação
6
6
6
2 942
2 896
3 910
Colaboradores Atividade Doméstica
(a) Os dados de 2011 incluem a Finibanco Holding SGPS, SA facto que deverá ser considerado para efeitos de comparabilidade.
(b) Sem considerar gastos não recorrentes (transferência do Fundo de Pensões, reformas antecipadas, integração do Finibanco e SIP).
(c) Rácio calculado de acordo com a definição para efeito do objetivo fixado pelo Banco de Portugal.
montepio primavera 2012
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o meu montepio
Esta informação não dispensa a leitura das condições
BENEFÍCIOS e descontos para ASSOCIADOs
gerais de acesso e utilização destes benefícios, bem como das
condições gerais e/ou particulares em vigor, definidas pelas
instituições mencionadas para efeitos da comercialização dos
seus produtos e/ou disponibilização dos seus serviços.
Mais informação: www.montepio.org
Novos acordos celebrados
AUTOMÓVEL / MOTO
COBERTURA NACIONAL
SOREL COMERCIAL
- AUTOMÓVEIS
DISTRITO DE LISBOA
BOSCH CAR SERVICE
BEM-ESTAR
COBERTURA NACIONAL
PÊLO & PESO
CONSUMO
Casa
COBERTURA NACIONAL
@MESA.COM
CONSUMO
Outros
COBERTURA NACIONAL
MARIA JOÃO DE ALMEIDA.
COM
CONSUMO
Moda / Acessórios
DISTRITO DE LISBOA
ONIX – MODA / ACESSÓRIOS
TORRES VEDRAS
90
CULTURA E LAZER
Atividades / Ocupação
de Tempos Livres
DISTRITO DE LEIRIA
COOLPARK
LEIRIA
DESPORTO
REGIÃO AUTÓNOMA
DOS AÇORES
HEALTH CLUB SCM
MADALENA
PICO - MADALENA
FORMAÇÃO
Escolas / Centros
de Estudo
COBERTURA NACIONAL
CAMBRIDGE SCHOOL
DISTRITO DE COIMBRA
EVOLUI.COM
FIGUEIRA DA FOZ
DISTRITO DE LISBOA
COLÉGIO CESÁRIO VERDE
LISBOA
montepio primavera 2012
ÓTICAS
DISTRITO DE LISBOA
DISTRITO DE AVEIRO
CLÍNICA DENTÁRIA
INFANTE SAGRES
LISBOA
DISTRITO DE ÉVORA
CLÍNICA DO CAMPO GRANDE
LISBOA
OCULISTA VIEIRA
AVEIRO
ÓTICA FRADINHO
MONTEMOR-O-NOVO
PROTEÇÃO SOCIAL
Funerárias
DISTRITO DE LISBOA
AGÊNCIA FUNERÁRIA
AUGUSTO DE OLIVEIRA
LISBOA
SAÚDE
Centro de Diagnóstico /
Laboratórios
DISTRITO DE
COIMBRA E LEIRIA
LABORATÓRIO DE
ANÁLISES CLÍNICAS
DR. JOAQUIM RODRIGUES
COIMBRA, PENELA,
MIRANDA DO CORVO,
PAMPILHOSA DA SERRA,
PEDRÓGÃO GRANDE,
POMBAL, CASTANHEIRA
DA SERRA
SAÚDE
Centro de Enfermagem /
Reabilitação Física
DISTRITO DE FARO
ANA ROSALINO –
FISIOTERAPIA AO DOMICÍLIO
FARO
SAÚDE
Clínicas / Consultórios
DISTRITO DE AVEIRO
CONSULTÓRIO DR. AMADEU
SANTOS – MEDICINA GERAL
SANTA MARIA DA FEIRA
– S. JOÃO DE VER
CONSULTÓRIO DR. BRUNO
SANTOS – MEDICINA
DENTÁRIA
SANTA MARIA DA FEIRA
– S. JOÃO DE VER
DISTRITO DE
CASTELO BRANCO
CLÍNICA SANTA APOLÓNIA
ALCAINS
CLÍNICA MÉDICA CENTRAL
LOURES, MOSCAVIDE
FLOWCARE – CENTRO
CLÍNICO
LOURES, MOSCAVIDE
IMED - INSTITUTO MÉDICO
DENTÁRIO VASCO DA GAMA
LISBOA
NOVA CLÍNICA DO LAMBERT
LISBOA
DISTRITO DO PORTO
CENTRO ORTOPÉDICO
DO PORTO
PORTO
CLÍNICA DE MEDICINA
DENTÁRIA DOS CARVALHOS
VILA NOVA DE GAIA
CARVALHOS
CLÍNICA MÉDICA DO PADRÃO
VALONGO
DISTRITO DE SETÚBAL
CLíNICA MÉDICA CRUZ
E MEDEIROS
ALMADA, PRAGAL
CLÍNISUL – CENTRO MÉDICO
ECOGRÁFICO
ALMADA
SAÚDE
Farmácias
DISTRITO DE BRAGA
FARMÁCIA DA
MISERICÓRDIA DE VILA
VERDE
VILA VERDE
DISTRITO DE LISBOA
FARMÁCIA INTERNACIONAL
LISBOA
DISTRITO DE PORTALEGRE
FARMÁCIA DA
MISERICÓRDIA DO CRATO
CRATO
DISTRITO DO PORTO
FARMÁCIA DA
MISERICÓRDIA DE GAIA
VILA NOVA DE GAIA
SAÚDE
Hospitais / Casas de Saúde
DISTRITO DE LISBOA
HOSPITAL S. LOUIS
LISBOA
DISTRITO DO PORTO
HOSPITAL DA PRELADA
PORTO
TURISMO
Agências de Viagem
COBERTURA NACIONAL
BEST TRAVEL
TURISMO
Unidades Hoteleiras
DISTRITO DE FARO
BALAIA GOLF VILLAGE
ALBUFEIRA
Acordos
anulados
IAFIT – INSTITUTO
DE ATIVIDADE FÍSICA
BRAGA
AMARANTE HEALTH CLUB
AMARANTE
CLÍNICA MÉDICA ALMEIDA
E SOUSA
LISBOA
HEALTH CLUB MULTIACTION
AVEIRO
KEEP FIT
ÉVORA
CONFIANÇA OCULISTA
PORTO
CLÍNICA MÉDICA URGEAZUL
LISBOA
CLÍNICA MÉDICA
DR. SOARES PINTO
PORTO / LOUSADA
HOTEL DOM JOÃO III
LEIRIA
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