Primavera 2012 Trimestral €1 montepio cinema a sétima arte é cada vez mais global Um universo mágico no qual os portugueses também dão cartas Paulo Branco, Produtor de cinema Maria João Bastos, Atriz número 05 série ii #05 sumário primavera 2012 !4 Reportagem 18 da So ci al , Ec on om ia Re po rt ag em ade ha in m o meu m ont ep io 85 84 Cultu ra Cin e Poupar é possível, faça um orçam ento Finanças pessoais 90 86 88 Cu ltu ra 20 Edu ab V 12 ore iag caç em sp ão f o i na rtu pe nce gu los ira ese cria s nça s ro ou de as gr re Ga str on no om vo ia ss 0 65 2 e rn By 7 Ca pi ta lE ur op ei a inha ec a mi o on p Am 62 75 a a araç ão C 68 76 à vela A 58 80 Conhecimento e centros Ciência Viva Despor to Lisbo a 52 id Jo nião Opi do IRS tos Guia Impos de da i C à pa lu 4 32 Ciência Pavilhão do 1 o al do nç un iro Go e f nhe o d u di tig se Arara o C v ri tó va r se Ob o iã in Op low ias a Fér ad s e r nh tos i v i l m ca -Bas pos de a s Tem a ist s, ot pt R a ãe o r B r a ca tei im ni Ro ró Gu 56 Rot 32 ria histó s com castelost o i e s os Pas cos as d 1 ra pa ar c du oE cia iên c a 40 a nh A mi 5 m eu m u de ro tu fu do social Donativos Mo ntepio O a tiv a rn te al n 2011 a ogi nol tec a, lic s eó ero a gi m er nú En os al m oc lti Gl os ú Be ne fíc ios e 26 50 06 de sc o R esu ntos Res lta pon soci dos sab al Pr ilid émi o Es a de cola r 78 s em rso Ime Rosalia Vargas fala sobre a importância da educação científica ci d m age ort Rep Entrevista Breve s Responsa bilidade ma, in dústria mund ial 10 #4 Islândia: O longo degelo económico já começou $6 Reportagem Design, Marca Portugal iPad rumo ao futuro revista montepio em Ipad Há cerca de um ano, quando apresentámos a nova revista Montepio, dissemo-nos confiantes no projeto de comunicação associativa que tínhamos desenvolvido, na qualidade e pertinência dos conteúdos e na inovação e dinamismo do design. Agora, já depois de termos acolhido inúmeros comentários dos nossos leitores felicitando-nos pelo trabalho realizado, recebemos a notícia de que a revista Montepio figura entre os candidatos finalistas aos prémios de design editorial mais reconhecidos do mundo – os SPD, Society of Publication Designers –, sendo a única publicação portuguesa nomeada entre mais de 7 mil títulos. O prémio a que concorremos, na categoria de redesign, coloca-nos em competição com revistas como The New York Times Magazine ou Wired Italia, e ainda que a decisão relativa ao título que merecerá o galardão de trabalho excecional do ano só seja anunciada em maio, em Nova Iorque, entendemos a novidade como um reconhecimento da competência das equipas e dos projetos portugueses e como uma confirmação do nosso alinhamento pelas melhores práticas na área da comunicação. Determinados a promover a proximidade e a ampliar a rede de comunicação com os mais de 500 mil associados do Montepio, trazemos-lhe mais uma boa notícia: a da publicação da sua revista Montepio também em formato iPad, o que lhe permitirá complementar a leitura em suporte impresso com uma experiência multissensorial suportada no mundo digital. A decisão de publicar a revista em suporte iPad – disponível no Quiosque Montepio – resulta da vontade que sentimos de acompanhar as mais recentes inovações tecnológicas, mas também da importância que atribuímos a uma comunicação gratuita, próxima e inovadora, que fomente a proximidade com os membros da maior associação do País: o Montepio. Acompanhe-nos, pois, rumo ao futuro. mais perto de si! p r o p r i e d a d e c o l a b o r a ç õ e s Montepio Geral – Associação Mutualista, Rua do Ouro, 219-241, 1100-062 Lisboa Tel. 213 249 828 Esta revista foi redigida ao abrigo do novo Acordo Ortográfico #05 d i r e t o r António Tomás Correia série primavera 2012 ii -adj Ana Rita Branco d i r e t o r u n t o c o o r d e n a ç ã o Gabinete de Relações Públicas Institucionais Baptista-Bastos, Bárbara Silva, Bruno Lopes, Cláudia Marina, Fátima Ferrão, Gonçalo Byrne, Helena C. Peralta, Helena Viegas, João Caraça, Jorge Pires, Luísa de Carvalho Pereira, Marta Reis, Nuno Silva, Pedro Faro, Raquel Amaral, Rute Marques, Susana Torrão (texto), Artur, Luís Viegas, Paul Todd /Volvo Ocean Race, Carlos Monteiro (ilustração), Luís Grañena (ilustração capa) p u b l i c i d a d e Maria João Siqueira Tel. 213 804 010 | Fax 213 804 011 i m p r e s s ã o Envie-nos as suas sugestões e comentários para revistamontepio@ montepio.pt ou, se preferir, para Revista Montepio, Gabinete de Relações Públicas Institucionais, Rua de Santa Justa, 109, 5º, 1100-484 Lisboa LiderGraf - Artes Gráficas, SA Rua do Galhano, 15 (E.N. 13), Árvore 4480-089 Vila do Conde e d i t o r Plot - Content Agency Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 19, 6º, 1070-072 Lisboa Tel. 213 804 010 e d i t o r Ana Ferreira d i r e t o r Inês Reis montepio primavera 2012 d e a r t e | Revista trimestral | Depósito Legal nº 5673/84 | Publicação periódica | registada sob o nº 120133 t i r a g e m Certificado PEFC 330 300 exemplares O Montepio é alheio ao conteúdo da publicidade externa. A sua exatidão e/ou veracidade é da responsabilidade exclusiva dos anunciantes e empresas publicitárias. Este produto tem origem em florestas com gestão florestal sustentável e fontes controladas PEFC/13-31-011 www.pefc.org funcionalidades v í deo Complemente a sua experiência de leitura com a consulta de vídeos, videografias ou entrevistas que fornecem ainda mais informação. ÁU DI O Através de uma interface simples e intuitiva, os temas publicados na edição impressa são complementados com imagens, comentários e sons. I NTERATI VI DA DE … com criatividade. O toque e a dinâmica de navegação transformam a leitura numa experiência única. GA LERI A DE I MAGENS Os artigos da revista impressa surgem enriquecidos com novas fotografias, caixas de texto interativas e animações gráficas criadas especificamente para iPad. I NFO O índice está sempre visível, o que permite “percorrer” a revista e desfrutar de uma navegação rica, amigável e futurista. A EDIÇÃO EM IPAD CHEGA COM A REVISTA Nº 5, MAS TODAS AS REVISTAS DA NOVA SÉRIE PASSAM A ESTAR DISPONÍVEIS NESTE FORMATO. montepio primavera 2012 Glocal G LOCAL 2012 foi declarado o Ano Internacional da Energia Sustentável para todos. de entre as renováveis, a energia eólica é a menos poluente e uma das que Registou maior crescimento nos últimos anos Eólica no mundo Como funciona um parque eólico: Os atuais aerogeradores são constituídos por uma torre, em cima da qual está um rotor com três pás e a nacelle, que abriga o gerador. Quando o vento coloca as pás em movimento, o gerador transforma a energia mecânica contida neste movimento em energia elétrica. As pás ajustam automaticamente a inclinação, de modo a maximizar a energia captada, e um controlo automatizado permite que a nacelle gire de forma a estar sempre orientada face ao vento. Pá Capacidade instalada (MW) por região do mundo, em 2010 22 km/h Pode ter entre 25 e 45 metros 1 079 África e Médio Oriente Eixo de baixa v velocidade 61 087 Ásia Velocidade média do vento mínima exigida para a instalação de um parque eólico Eix Eixo de alta velocida ade velocidade Rotor 86 274 Europa Caixa de velocidades 2 008 América Latina e Caraíbas 44 189 América do Norte Travão 2 397 Região do Pacífico Rotor Permite que a nacelle gire de forma a estar sempre orientada face ao vento Motor do rotor Nacelle Caixa exterior do aerogerador Gerador Um aerogerador com uma potência entre 2 a 3 MW pode responder às necessidades de 2 000 a 3 000 lares Evolução da energia eólica no mundo Capacidade total instalada (MW) 197 000 200 Torre A altura das torres dos aerogeradores varia entre os 50 e os 120 metros 150 100 50 24 322 0 2001 2002 2003 montepio primavera 2012 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Energia eólica no total consumido (%) Top 10 UE 24 14,8 14,4 Portugal Dinamarca Espanha Produção de CO2* gCO2/kWh por tipo de energia *Ao longo do ciclo de vida de uma central elétrica 10,1 9,4 Irlanda 4,1 Alemanha Holanda MW Chipre Itália 3,2 Reino Unido Energia eólica na UE % do total instalados onshore 18 Petróleo Espanha Itália 722 9 616 MW instalados em 2011 13 11 866 MW 950 10 Gás Natural França Suécia 9 1 293 1 050 Biomassa 22 2 086 Reino Unido 27 Hídrica Grécia 3,4 8 750 MW 167 9 3,4 Capacidade instalada em 2011 Alemanha Fotovoltaica 3,7 830 instalados offshore 9 Energia eólica em Portugal 763 8 Roménia Eólica 520 5 75 1 hora de consumo de eletricidade em Portugal (2011) Polónia 436 5 Geotérmica Portugal 377 4 955 Carvão Grécia 311 3 11 minutos foram produzidos através de meios eólicos Capacidade acumulada em Portugal MW por distrito Capacidade instalada 173 Em construção 719 24 514 66 20 440 434 339 110 254 139 180 148 80 74 Viana do Bragança Braga Castelo 6 335 16 Vila Real Porto 104 42 Aveiro Viseu Guarda Coimbra Castelo Branco Leiria Santarém Lisboa 19 26 Setúbal Beja Faro montepio primavera 2012 O MEU MUNDO tendências na economia, sociedade, vida E cultura página 14 página 18 página 26 página 34 Fomos a Reiquiavique perceber como os islandeses saíram da crise e retomaram o crescimento económico A revolução tecnológica do cinema e os portugueses que marcam o mundo da sétima arte A economia social está a crescer por todo o mundo. Para muitos é a melhor alternativa ao atual sistema capitalista É possível educar para a ciência? Rosalia Vargas, presidente da Associação Ciência Viva e do Pavilhão do Conhecimento, garante que sim reportagem cultura futuro ciência 1 o meu mundo REPORTAGEM 10 tecnologia ao seu serviço Imersos em tecnologia Smartphones, tablets, internet, Facebook, mobile banking, compras online e uma imensidão de outros termos semelhantes invadiram o dia a dia de muitos de nós e constituem uma extensão das nossas vidas. seja Bem-vindo à tecnologia ao serviço de todos por fátima ferrão montepio primavera 2012 Quando, em fevereiro de 2004, o estudante universitário Mark Zuckerberg criou “The Facebook” para uma utilização exclusiva pelos alunos de Harvard, não podia imaginar que em menos de um ano a sua plataforma social teria mais de um milhão de utilizadores, nem tampouco que, volvidos sete anos, contaria com cerca de 850 milhões de pessoas ligadas por esta via (dados de agosto de 2011). Certo é que, desde então, o mundo da Internet como o conhecíamos mudou. Hoje é possível encontrar amigos e colegas de quem há muito perdemos o rasto, organizar eventos e divulgar marcas, entre muitas outras coisas, sem sair das redes sociais. é o peso do setor das Tecnologias da Informação e Comunicação no PIB português. a sua informação e estado em várias redes sociais ao mesmo tempo, ligue o perfil no LinkedIn a outros sites de redes sociais e veja facilitada, em simultâneo, a condução de negócios e a comunicação pessoal. O Facebook tornou-se “a plataforma” social por excelência e concorrentes como o Twitter, Hi5, Orkut e muitos outros que entretanto surgiram, um pouco por todo o mundo, não conseguem impor-se à “criação” de Zuckerberg. Não será fácil atingir números como os que impressionam quando se fala no Facebook. Aqui, os utilizadores têm, em média, 135 amigos, estão online cerca de 750 minutos por mês, fazem mais de 900 milhões de pesquisas mensais e são já cerca de 180 milhões os que acedem via dispositivos móveis. Estados Unidos, Reino Unido e Índia lideram em número de utilização. Em Portugal, são mais de quatro milhões os utilizadores do Facebook, o que representa cerca de 81% da população com acesso à Internet. O uso crescente de smartphones e tablets é outra tendência que potencia a utilização das redes sociais. O iPhone deu o mote para este tipo de utilização no telefone e, hoje, são milhares os sites de widgets onde podemos descarregar todo o tipo de aplicações, configurar as redes sociais... Estas aplicações permitem, entre outras coisas, que o utilizador atualize Tecnologia made in Portugal Não faltam exemplos para ilustrar a importância das tecnologias na vida diária das pessoas. O que por vezes não sabemos é que muitas destas tecnologias são de origem nacional. Os mais mediáticos talvez sejam a Via Verde ou a rede multibanco, mas existem muitos outros, desenvolvidos em Portugal, nos mais diversos setores, e aplicados noutros países. É o caso do recém-lançado jogo Energy for Life, resultado de uma parceria entre a portuguesa Inovaworks e a ONG OIKOS, que procura ensinar a gerir os recursos energéticos que estão ao nosso dispor e se prepara para ser adotado nas salas de aulas de Portugal, Espanha, Itália, Malta e Alemanha. A nível institucional, a Voice Interaction, uma empresa que nasceu no seio do ISCTE, desenvolveu um sistema de reconhecimento de voz que é diariamente aplicado em tribunais, para a transcrição de julgamentos, ou em hospitais, para a elaboração de relatórios médicos. A mesma aplicação é usada no Panteão Nacional, onde o quiosque eletrónico “Ask Maria” fala literalmente com os visitantes. O desenvolvimento destas aplicações está cada vez mais condicionado 1,16% Francisco Fernandes Maria Nazaré Ferreira Estudante 17 anos Reformada 81 anos Para mim a tecnologia é o dia a dia. Faço tudo o que posso no PC e através do telemóvel. A Net é uma ferramenta ótima para estudar e pesquisar. Das redes sociais não gosto muito, mas podem ser úteis para algumas coisas. No futuro próximo, telefones, PC, tablets e outros dispositivos estarão ainda mais interligados, pelo que a tecnologia estará mesmo connosco em todo o lado. Não uso muita tecnologia, só telemóvel para telefonar e enviar sms. Às vezes falo com a família pelo computador, vejo-os na câmara, porque os meus netos fazem a ligação. Também trato de questões como as Finanças pelo computador, com a ajuda da minha filha, e faço operações bancárias quando é necessário. Para estas coisas acho a tecnologia muito importante porque facilita a vida das pessoas. Perde-se menos tempo. "Tentar vender alguma coisa no Facebook é como tentar fazê-lo no café, rodeado de amigos" opinião Frank Feather Business futurist who lives online O Facebook é a rede social mais popular do momento. As pessoas gostam porque podem “ligar-se” a amigos, familiares e pessoas com os mesmos interesses. Muitas empresas tentaram, sem sucesso, usar o Facebook para marketing. Tentar vender alguma coisa ali é como tentar fazê-lo num café, rodeado de amigos. Os utilizadores não gostam. O Facebook deve ser usado para direcionar tráfego para os sites e para gerar o tão famoso “passa palavra”. Já o Twitter é uma plataforma de notícias. As novas histórias são “twitadas” antes de serem divulgadas pelas agências. O LinkedIn, por outro lado, destina-se a profissionais, executivos e facilita ligações business to business (B2B). Está também a tornar-se um bom recurso para recrutar pessoas e pode vir a tornar as agências de recrutamento obsoletas. O Google+ está a crescer muito rapidamente e pode vir a ultrapassar ou até a substituir o Facebook. Nos EUA, a plataforma mais hot é o Pinterest. Com um nível de crescimento muito rápido, é usada para colecionar e apresentar coisas e as mulheres são os principais membros (cerca de 80%). montepio primavera 2012 11 1 o meu mundo reportagem tecnologia opinião 69 % iOS versus Android é a percentagem de utilizadores de smartphones em todo o mundo, segundo um estudo realizado pela Oracle Corporation. 12 pela vontade e necessidade dos utilizadores. A prová-lo está a quantidade de pequenas aplicações e utilitários que podemos descarregar para os telefones móveis. Imagine, por exemplo, uma carteira universal móvel… no seu telemóvel. Ou seja, a oportunidade de pôr de lado todos os cartões que lhe enchem a carteira e tê-los à sua disposição numa versão virtual. Esta é a proposta da empresa CardMobili, também ela cem por cento nacional. Basta registar-se no site, descarregar uma aplicação e escolher os cartões que deseja tornar virtuais. Estão disponíveis cartões tão diversos como o do cidadão, de eleitor, cartões de milhas ou de pontos. Basta uma pequena visita a uma qualquer loja de aplicações online, disponíveis em operadores de telecomunicações e algumas marcas de telemóveis, para constatar que estes dispositivos abriram portas a um admirável mundo novo. Receitas elaboradas por reconhecidos chefes de cozinha, guias de restauração e agendas culturais são apenas algumas das aplicações que pode descarregar para o telefone. O limite será sempre a imaginação e esta estará pronta a dar resposta às necessidades dos consumidores. ? o que significa X Primeiro a chegar ao mercado X Design de fazer inveja X Ecrã multitoque para quem privilegia uma navegação rápida Z Aplicações pagas Z Sistema operativo fechado* X Plataforma de desenvolvimento livre X Mais aplicações em menos tempo X Aplicações gratuitas X Compatibilidade Z Chegou após o iPhone Z A maioria das versões não suporta multitoque Em todo o mundo, a tecnologia tornou-se indispensável. Por vezes com assinatura portuguesa. * As definições da Apple não podem ser customizadas pelas operadoras móveis montepio primavera 2012 Miguel Albuquerque e Castro Executive producer MSN Portugal "O móvel será parte integrante do dia a dia" A tendência da tecnologia ao serviço das pessoas vai evoluir a partir de cinco vetores confluentes e com o objetivo de permitir melhor acesso à informação de forma organizada, intuitiva ou até inesperada. Os cinco vetores são: pesquisa, social, móvel, curação de conteúdo e especialização. Os projetos tecnológicos terão em conta estes vetores para criarem experiências únicas de navegação e descoberta. Vamos, ainda, assistir a uma maior integração entre empresas de software, hardware, projetos comerciais e produção de conteúdos para criar experiências ricas em texto, imagem, vídeo e (tendencialmente) também voz, evoluindo para experiências tridimensionais sem suporte físico. O que hoje chamamos de PC, portátil, smartphone ou tablet evoluirá para experiências de projeção em qualquer plataforma. A pesquisa vai sofrer uma evolução natural dos blue links atuais para resultados mais alinhados com as preferências, hábitos de consumo e localização do utilizador. O social vai fazer parte de toda a oferta web para que o utilizador, além de conseguir saber o que é mais visto, comprado, partilhado pelos utilizadores, consiga ter uma visão do que os seus contactos das redes sociais veem, compram, partilham, comentam, dependendo da sua localização. O móvel vai tornar-se parte integrante do dia a dia e a localização uma chave da experiência de utilização. Mas o indivíduo (ainda) é sedentário e manterá a vontade de tirar partido do potencial do equipamento. A curação de conteúdo vai ser importante, no sentido dos portais e sites generalistas serem aqueles que filtram, editam, programam e apresentam o conteúdo, tendo em conta a sua localização, redes sociais e hábitos de navegação. A especialização pretende destacar a abertura dos utilizadores a nichos especializados, havendo espaço para uma especialização clara de produção, curação e integração tecnológica de conteúdos em áreas específicas. 1 o meu mundo reportagem Islândia O longo degelo económico já começou 14 Foi o segundo país que mais Range Rovers importou em 2006 em toda a Europa – antes da bolha bancária rebentar, a Islândia nadava em dinheiro fácil. Depois veio o crash, o FMI, a recusa em assumir a dívida dos bancos e a ressaca. Três anos depois o país começa, lentamente, a sair da crise, mas as cicatrizes na sociedade ainda são profundas por bruno lopes montepio primavera 2012 Oito e meia da manhã, lóbi de um elegante hotel no centro de Reiquiavique. Gunnar Tómasson faz deslizar os dedos robustos pelo seu iPad e mostra-me um mapa com sete pontos em movimento. O “rato” cai sobre um ponto minúsculo, na costa norte da Noruega, e a partir do conforto do hotel, na capital islandesa, ficamos a saber o que andou a fazer a traineira de 50 metros nos quatro dias que passou no gélido mar de Barents. “Apanharam 60 toneladas, 50 de bacalhau, o que é bom, e sete de arinca [um primo do bacalhau]”, diz Gunnar, com o ar satisfeito de quem tem um negócio a crescer quase 10% ao ano. Para o copresidente da empresa familiar que fatura 50 milhões de euros por ano, o grande crash islandês foi uma ajuda. Primeiro porque o colapso da coroa islandesa tornou o peixe que exporta mais competitivo. Depois, porque recuperou pescadores: “Antes do crash tínhamos dificuldade em arranjar tripulação para os barcos porque perdemos muitos pescadores para os bancos e para a construção – agora estão todos de volta à pesca”, explica. Em 2008, a Islândia, um país com 320 mil habitantes – menos que o distrito de Viseu –, foi a primeira vítima soberana da crise financeira. As elites da ilha, que sempre viveu de negócios tradicionais como a pesca, acreditaram, no início da década passada, que podiam transformar o país num grande centro financeiro. Muitas pessoas, incluindo pescadores e recém-licenciados, vestiram, de repente, a pele de gestores de ativos. Mal regulados e geridos sem experiência, os bancos puderam crescer até serem dez vezes maiores que a economia do país. Quando Wall Street começou a ruir, em meados de 2008, já os banqueiros islandeses cheiravam a desgraça. O crash, ou kreppa como lhe chamam na Islândia, aniquilou, em outubro de 2008, o sistema bancário, derrubou o governo depois de manifestações invulgarmente violentas e atirou o país para os braços do FMI. Depois do kreppa a Islândia embarcou num caminho original de resolução da crise – os islandeses não salvaram a totalidade do sistema bancário, tendo deixado cair bancos e credores. A coroa islandesa caiu cerca de 50% e está a ser mantida baixa para aumentar a competitividade externa. O anterior primeiro-ministro enfrenta um processo judicial por má governação. O governo islandês que saiu da crise – uma aliança exótica entre sociais-democratas e esquerda – conseguiu preservar o Estado Social do país e até expandiu a rede de proteção para os cidadãos mais expostos, cobrando mais aos mais ricos. Três anos depois, quem chega às ruas cobertas de neve de Reiquiavique não vê sinais da ressaca da maior bolha bancária da história. Os cafés da moda, ao longo da avenida central Laugavegur, estão cheios de islandeses e de turistas atraídos pela coroa baixa (ao meu lado viajaram duas chinesas de Pequim para “ver a natureza da ilha”). A noite selvagem da capital – a “runtur” (algo como “raid pelos bares”) – ferve com juventude no frio de fevereiro. Não há pedintes nas ruas. No porto, o centro cultural montepio primavera 2012 15 1 o meu mundo reportagem islândia beleza agreste O gelo e o fogo moldaram a paisagem islandesa 16 da cidade, inaugurado no ano passado, brilha frente às montanhas nevadas do outro lado da baía. Nos mercados financeiros a imagem também parece boa. O país conseguiu pedir emprestado pela primeira vez no mercado de dívida desde 2008 e a agência de rating Fitch tirou a dívida islandesa do nível “lixo”, onde está Portugal. O programa do FMI está a chegar ao fim e os oficiais do Fundo falam das “lições” que aprenderam na Islândia. “Para um país cujo sistema financeiro colapsou, a Islândia está a sair-se muito bem”, reconhece Julie Kozack, chefe de missão do FMI. Depois do duro ajustamento o país mantém uma das taxas de pobreza mais baixas da Europa e a economia começou a crescer (2,5% é a previsão este ano). O retrato sumário da recuperação islandesa e os sinais à superfície tentam-nos a concluir que a Islândia oferece um manual eficaz para resolução de crises financeiras. Falando com islandeses percebe-se que a realidade é muito mais complexa. Sob a superfície “O que está a ferver sob a superfície é a dificuldade das famílias, sobrecarregadas com os empréstimos que fizeram e a redução no poder de compra de cerca de 20%”, explica Karl Blöntal, editor do Morgunbladid, o principal diário islandês. “Há muito ressentimento face ao governo e às exceções dadas a outros devedores.” Logo a seguir ao colapso da banca a moeda islandesa pulverizou mais de 50%. Como a ilha importa grande parte daquilo que produz, a inflação disparou para cerca de 20% e, além da perda de poder de compra direta, houve outro impacto: 80% dos empréstimos para habitação estão indexados à inflação. Gudrun Ingvarsdóttir, arquiteta de 39 anos, casada e com dois filhos, conta como esta subida afetou as contas da família. Em dezembro montepio primavera 2012 Pagar a dívida O caso Icesave A de 2005 – quando era sócia de um gabinete de arquitetura sólido e o marido consultor – compraram uma casa de dois quartos por 30 milhões de coroas (400 mil euros na altura e 180 mil euros no valor atual da coroa). Deram como entrada 40% do valor da casa e pediram os restantes 18 milhões emprestados, a uma taxa de 4,5% indexada à inflação. “A melhor taxa na altura e uma entrada muito boa para a nossa idade”, diz. Com o salto na inflação, a prestação, de 97 mil coroas, saltou para 137 mil por mês – os 18 milhões que deviam passaram a 27,7 milhões, “comendo” praticamente todo o capital próprio que tinham investido na casa. “São famílias de classe média, jovens, que estão a pagar esta crise”, sublinha Gudrun. Na véspera da nossa conversa o Supremo Tribunal da Islân- Islândia recusou assumir a dívida dos bancos privados – mas teria opção? “Não, foi mais fruto das circunstâncias do que uma opção: a banca valia dez vezes mais que a economia, era demasiado grande para salvar”, explica Thórólfur Mathíasson, professor de Economia da Universidade da Islândia. Entre os credores que o governo deixou cair estão 400 mil depositantes britânicos e holandeses, que abriram contas muito rentáveis nas filiais estrangeiras do Landsbanki. Os governos do Reino Unido e da Holanda, que pagaram o fundo de garantia de depósitos aos seus cidadãos, reclamam desde 2008 a devolução do dinheiro, com juros. O governo apresentou, por duas vezes, um plano de repagamento aos islandeses que, em referendo, chumbaram a hipótese duas vezes.” Os islandeses preferiram arriscar ir para tribunal”, diz o ministro da Segurança Social, Gudbjartur Hannesson. A Islândia pagará na mesma o fundo de garantia de depósitos (20 mil euros por depositante), avaliado em cerca de 3,8 mil milhões de euros – a liquidação de ativos do Landsbanki chega para tal e o pagamento já começou. dia baixara drasticamente os juros nos cerca de 20% de contratos de empréstimo para habitação indexados a moeda estrangeira (que em alguns casos mais do que triplicaram de custo), uma decisão que causa mal-estar. “É uma má lição que estamos a dar, recompensando os que correram mais riscos e penalizando os mais prudentes”, critica Gudrun. O ressentimento aumentou com a publicação, em 2010, de uma auditoria sobre o que se passou no sistema financeiro, vendida nas livrarias por menos de um euro. No país que mais livros edita por habitante a auditoria foi um best seller. “Foi como ler um mau romance de ficção para perceber quão corrupto é este país”, conta Gudrun. Numa sociedade tão pequena toda a gente se conhece e as ligações cruzadas entre política e empresas são constantes, as pessoas rodam entre cargos. O diretor do Morgunbladid (que num país de 318 mil pessoas tira cerca de 45 mil exemplares) já foi autor de peças para teatro, primeiro-ministro e governador do banco central. O círculo social é muito pequeno. “Estou cá há dois anos e já fui a casa da Björk duas vezes”, graceja Anna Andersen, editora do jornal The Grapevine. Afinal, um (pequeno) estado nórdico As pessoas queixam-se, mas os sinais exteriores revelam uma sociedade ainda próspera. Qual o segredo? “Tem que olhar para de onde estamos a vir: um estado social nórdico”, lembrou o ministro Gudbjartur Hannesson. “Ainda somos um estado social nórdico. O ponto de partida foi bom e a ênfase do governo foi posta no Estado Social”, diz. Anna Baldursdóttir, conselheira do ministro, acrescenta: “Também foi possível porque somos uma nação muito pequena.” Pequena e rica. O nível salarial médio para os trabalhadores não qualificados ronda 1 500 euros e o subsídio de desemprego mínimo começa em 1 800 coroas (1 100 euros). Confrontado com a necessidade de reduzir um défice superior a 10% em três anos, o governo cortou o mínimo possível nos gastos sociais: 5% em saúde e 7% em educação (e um mínimo de 15% em todas as restantes áreas). Subiu os impostos sobre os mais ricos e expandiu a rede social para os mais pobres: o subsídio de desemprego foi alargado de três para quatro anos. “O FMI foi muito flexível e houve sempre uma grande relação de confiança”, explica o ministro. O lado bom da força: há vida além dos bancos Dificuldades à parte, a verdade é que a crise islandesa – com uma resolução dolorosa mas mais flexível por estar fora do euro – abriu muito potencial abafado pelo domínio anterior de uma banca insustentável. Parte dos islandeses voltaram a um dos setores que mais dinheiro faz agora – a pesca, pilar da economia do país – mas há sementes a crescer por todo o lado. “Antes de 2008 as pessoas não pensavam que a criatividade fazia parte dos negócios. Depois de 2008 começaram a pensar que este tipo de indústrias e de ideias pode ser alguma coisa”, conta Hugrún Árnadóttir. Encontrei Húgrun e o marido Magni numa conferência no hotel Hilton que reuniu a nata empresarial islandesa. Foi fácil ver a barba ruiva de Magni e a túnica colorida de Húgrun. Os dois fundaram, em 2000, a Kron Kron, cadeia de lojas de moda e de sapatos. “Lançámos a nossa própria linha em outubro de 2008, precisamente no mês do crash”, conta Húgrun, rindo-se da coincidência. “Foi o momento perfeito: houve um grande ressurgimento na apetência por produtos islandeses e design local e foi um sucesso”, explica. A KronKron vende sapatos em Nova Iorque a 500 dólares, peças de design elaborado feitas em Espanha – e a presença dos dois criadores num fórum de empresários é um sinal de mudança na economia islandesa. “É a oportunidade para aproveitar o potencial criativo desta nação meio louca”, diz Húgrun (o facto da empresa ser islandesa faz com que tenham que adiantar o pagamento de 100% aos fornecedores, mercê da desconfiança que ainda existe face ao país). O ressurgimento do design islandês e o foco em áreas criativas nasce do incentivo dado pela desvalorização da coroa – o aumento brutal do preço das importações e a maior facilidade em exportar fez os islandeses optarem pela produção local. Os novos negócios são uma resposta ao que muitos islandeses mais jovens consideram a preguiça intelectual nascida de um período de dinheiro fácil. O Toppstódin é um lugar onde se encontram pessoas assim. A incubadora de ideias funciona numa antiga central elétrica, num cenário evocativo de antigas fábricas soviéticas. Vala Helga, gestora, levou-me pelas salas mostrando diferentes projetos, desde o desenvolvimento de um carro de corrida elétrico a um salão caótico, onde uma dupla de jovens desenvolve a marca de moda Shadow Creatures, que já colocou peças em Nova Iorque. O futuro é incerto? Sim, mas mais sólido. ? o que significa A Islândia não deixou cair o Estado Social. Ao fim de três anos a economia cresce 2,5%. Portugal vs Islândia Portugal 10 561 000 17 416 485 14% -3,30% -7,3 107% Indicador População (2011) PIB por habitante (2011) Salário mínimo* Desemprego Evolução do PIB no pior ano da crise** Diminuição do consumo privado entre 2008 e 2012 Dívida Pública Islândia 318 200 28 500 1 500 7,2% -9% -18,1 130% * salário indicativo para a Islândia; a definição salarial faz-se por área // **previsão para Portugal em 2012, pela Comissão Europeia; valor para a Islândia, em 2009 montepio primavera 2012 17 1 o meu mundo tema de capa 18 montepio primavera 2012 cinema indústria mundial Há pouco mais de uma década, filmes como Avatar foram adiados por falta de tecnologia. Hoje, com as novas câmaras 3D, a imaginação dos realizadores é o único limite por pedro faro e susana torrão Na era do cinema digital e do 3D, o grande vencedor dos BAFTA e dos Oscars foi O Artista, filme mudo, a preto e branco, realizado por Michel Hazanovicius. Na noite de 12 de fevereiro último, em Londres, a equipa de O Artista subiu ao palco para receber sete dos 12 BAFTA para que estava nomeado: melhor ator para Jean Dujardin, melhor realizador para Hazanovicius, melhor filme, melhor argumento, melhor fotografia, melhor guarda-roupa e melhor banda sonora original. A Los Angeles, à cerimónia da 84ª edição dos Oscars da Academia, o filme chegou com 10 nomeações, logo a seguir a A Invenção de Hugo, de Martin Scorsese. Num ano marcado por produções carregadas de efeitos especiais como Piratas das Caraíbas, Harry Potter (Harry Potter e os Talismãs da Morte: parte 2 foi o filme mais visto em Portugal, com 494 milhões de espectadores e 2,9 milhões de euros de bilheteira), Missão Impossível ou X-Men, o triunfo de um filme que remete para os primórdios do cinema faz a diferença. O Artista é a vitória da nostalgia e uma homenagem à história do cinema. E não foi o único. A Invenção de Hugo, o filme com mais nomeações para os Oscars, é também uma homenagem aos primeiros anos do cinema. montepio primavera 2012 19 1 o meu mundo tema de capa cinema internacional Êxito Raúl Ruiz conseguiu a aclamação mundial com Mistérios de Lisboa 20 Filmes Arte com peso económico Os êxitos de 2011 são a prova da diversidade de uma indústria mundial cujo peso económico é cada vez maior. De acordo com os números da Motion Picture Association of America, em 2009 a indústria do cinema era responsável, apenas nos Estados Unidos (EUA), por 2,2 milhões de postos de trabalho, que contribuíram com 175 mil milhões de dólares para a economia americana e 15 mil milhões de dólares Brasil Vermelho, de impostos. O caráter universal atingiLeonel Vieira do pelo cinema made in USA garante-lhe o estatuto de produto de exportação, com receitas que, em 2009, atingiram os 13,8 mil milhões de dólares. Se a isto se juntar um custo médio por filme que, nos EUA, atinge os 100,3 milhões de dólares (34,5 milhões só para marketing), é fácil enMistérios de Lisboa, tender a preocupação dos grandes estúdios em recuperar o investimento. Paulo Branco Hoje, mais do que uma história, um filme é sinónimo de banda sonora, séries de brinquedos e vestuário, videojogos e, mais importante, um elemento da programação televisiva à escala mundial. Produção 2011/2012 Rafa, Filmes do Tejo Revolução tecnológica O cinema digital levou os efeitos especiais e a manipulação da imagem a resultados nunca imaginados, ao mesmo tempo que tornou a produção muito mais simples e barata. Há filmes que só puderam existir graças à tecnologia digital. Quando montepio primavera 2012 terminou Titanic, o realizador James Cameron sabia qual o próximo projeto com que queria avançar. O argumento de Avatar já estava esboçado mas faltava a tecnologia. Foram necessários dez anos para que o filme estreasse, em dezembro de 2009. Com câmaras especialmente desenhadas para a produção e exibição em 3D, Avatar entrou de imediato para a história da tecnologia na sétima arte. Uma semana após a estreia as receitas de bilheteira atingiam os 232 milhões de dólares e foi o primeiro filme a ultrapassar os dois mil milhões de dólares de bilheteira. Os avanços tecnológicos chegaram também à sala de estar. Com os modernos aparelhos de televisão e a universalidade da Internet, as viagens ao clube de vídeo da esquina tornaram-se obsoletas e preocupações como a qualidade do som e imagem deixaram de fazer sentido. Para Eduardo Cintra Torres, crítico de televisão, esta realidade reflete-se na indústria do cinema. “Há uma cada vez maior aposta nos blockbusters, com direito a sequelas, ou uma tendência para filmes destinados a adolescentes. É para aí que se tem direcionado o empenho da produção, para garantir gente em sala.” Os adolescentes são, na opinião de Cintra Torres, a faixa de público com mais apetência para assistir a filmes em sala, sendo as comédias românticas e os filmes de ação e aventuras os géneros mais procurados. Saiba mais Conhece Nollywood? N as últimas duas décadas, a indústria cinematográfica nigeriana cresceu até se tornar no segundo produtor mundial de cinema, ultrapassando os EUA. Nollywood – alcunha que ganhou a partir das suas congéneres Hollywood e Bollywood – produz uma média de 200 filmes mensais que se destinam, sobretudo, ao mercado de homevideo. P&R Paulo Branco Produtor de Cinema Para o realizador e produtor Leonel Vieira, a relação de causa-efeito entre as mudanças tecnológicas e o tipo de filmes produzidos não é tão clara. “O cinema não pára de evoluir mas os princípios estão nos grandes clássicos. A técnica sempre influenciou as mudanças: quando os russos criaram a montagem passou a contar-se a história de uma forma diferente, o mesmo aconteceu quando, no pós-guerra, se descobriram as câmaras leves, que fizeram nascer as novas cinematografias europeias, como a Nouvelle Vague”, exemplifica. “As janelas de exibição estão a alterar-se e a um ritmo alucinante. Com o aparecimento de câmaras de 4k e 8k, o cinema eletrónico chegou a um nível muito grande. Entre isso e a necessidade de poupar nos custos, com um novo acesso às truncagens digitais nos projetos, vai nascer uma diferença de produção”, afirma o realizador. Contaminações Na era da globalização torna-se cada vez mais difícil definir cinematografias nacionais. Não só a contaminação entre os vários tipos de cinema é cada vez maior, como muitos dos filmes com “formato americano” são, na sua maioria, produzidos fora dos EUA. A Europa é hoje um importante produtor de cinema, com grandes estúdios e produtoras. França lidera a produção e empresas como a Pathé – empresa centenária nn Perfil Paulo Branco iniciou o seu percurso nos anos 70 e, desde então, produziu mais de 200 filmes de realizadores como Manoel de Oliveira, João César Monteiro, João Canijo, Teresa Villaverde, Pedro Costa, Wim Wenders, Raoul Ruíz, ou Paul Auster. Reconhecido defensor do cinema europeu, em 1999 foi distinguido pelo Parlamento Europeu como Melhor Produtor da Europa. Já em 2005 Jacques Chirac o tinha condecorado com a medalha de Officier de L’Ordre des Arts et Des Lettres da República Francesa. A juntar ao palmarés tem o Lisbon & Estoril Film Festival, também obra sua. Quando é que o cinema português começou a ter maior projeção internacional? Nos anos 70 e 80, com o reconhecimento internacional de cineastas como Manoel de Oliveira. Atrás disso, outros realizadores começaram a ter acesso às vitrines internacionais, como João César Monteiro e, depois, João Botelho ou Pedro Costa. Houve uma abertura dos mercados que não se mede só no número de espectadores mas também na capacidade de encontrar financiamentos internacionais. Como é que o cinema português é visto no estrangeiro? O cinema português esteve na moda e, como qualquer moda, passa. Há um reconhecimento dos grandes vultos mas as novas gerações não aproveitaram isso. Fecharam-se no reconhecimento dado por alguns pequenos lobbies e não perceberam que o reconhecimento mundial abre mercados. Qual a importância de um prémio internacional para um produtor? Há prémios e prémios. Muitos não têm sentido. Quando o filme Mistérios de Lisboa ganhou os prémios que ganhou, a repercussão foi uma difusão internacional, em termos comerciais, maior que a de qualquer outro filme português. Estar em Cannes numa seleção competitiva é diferente de estar numa pequena secção. É importante ver onde e como os filmes são difundidos. Que aspetos devem ser realçados na produção nos últimos 10 anos? Nos anos 80 e 90 vivemos uma época eufórica do cinema português, depois houve um “endeusamento” e os últimos 12 anos foram de retrocesso. Não houve estratégia política no sentido de consolidar os instrumentos necessários a uma produção contínua. Os critérios de atribuição de financiamentos falharam e surgiram capelinhas que fecharam a autocrítica que todos deveríamos ter feito. Qual é o papel do Estado na internacionalização do cinema? O cinema não vive do Orçamento Geral do Estado, depende 4% do valor da publicidade. No Brasil as empresas podem investir deduzindo os seus lucros, em Inglaterra parte do dinheiro do jogo vai para o cinema... Portugal nunca teve a noção da importância do investimento nas artes criativas. montepio primavera 2012 21 P&R João Salaviza Lá fora: Ação! Realizador 22 Qual a importância de um prémio internacional? Ter visibilidade internacional permite obter apoios noutros países. É muito triste que ninguém repare que há meia dúzia de tipos a tentar fazer filmes com imensa dificuldade. Considerando os espectadores que fazem nos festivais, concluímos que não são tão underground como se pinta. Quais as diferenças entre trabalhar em Portugal e no estrangeiro? A grande vantagem de fazer filmes em Portugal tem sido, até ao momento, a liberdade. A grande desvantagem é que em Portugal se vive num contexto onde não há uma visão da cultura há anos. Quais os problemas da distribuição do cinema português? É muito difícil ter um filme português ao lado de um filme que gasta em promoção aquilo que um filme português gasta em produção. Mas estamos a viver um tempo de viragem. Há o exemplo do João Botelho, com O Filme do Desassossego, que organizou uma espécie de tournée pelos cineteatros. Temos que encontrar formas alternativas de mostrar os filmes. montepio primavera 2012 Entre o êxito em festivais internacionais e o divórcio do público no mercado interno, o cinema português continua a dar cartas OURO EM BERLIM, Rafa, de nn João Salaviza, ganhou o Urso de Ouro para melhor curta-metragem no Festival de Berlim, realizado no último mês de fevereiro por trás de filmes como Quem Quer Ser Milionário ou A Fuga das Galinhas − ou a Europacorp, de Luc Besson, dão cartas a nível mundial. E é nos arredores de Paris, em Saint Denis, que está a nascer a “Cidade do Cinema”, que acolherá os maiores estúdios da Europa. No Extremo Oriente, os filmes de ação produzidos em Hong Kong há muito deixaram de ser um fenómeno local. De Bruce Lee a Jackie Chan, os seus atores ganharam projeção e o género acabou por influenciar filmes como Reservoir Dogs, Kill Bill (ambos de Quentin Tarantino) ou The Matrix, dos irmãos Wachowski. Títulos como Moulin Rouge, de Baz Luhrman, podem ser vistos como um regresso ao musical mas vão beber aos filmes de Bollywood. Nos últimos anos o cinema indiano ganhou projeção, nomeadamente com a nomeação de Lagaan para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Curiosamente, muitos destes filmes têm os seus exteriores rodados nos Alpes suíços. O cinema português começou bem o ano, com dois filmes premiados no Festival de Cinema de Berlim. Rafa, de João Salaviza, ganhou o Urso de Ouro para melhor curta-metragem, Tabu, de Miguel Gomes, recebeu o Prémio Alfred Bauer, destinado a distinguir a inovação, e, à margem do Festival, foi considerado o melhor filme do certame pela Federação Internacional de Críticos Cinematográficos. Os críticos do jornal Público elegeram os filmes Sangue do meu Sangue, de João Canijo, e 48, de Susana de Sousa Dias, como as obras portuguesas mais relevantes de 2011. Sangue do Meu Sangue foi, aliás, o filme português que mais espectadores levou às salas. Diversidade Os dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) confirmam o reconhecimento internacional. Em 2011 foram premiados 44 filmes portugueses no estrangeiro, entre longas e curtas-metragens, documentários e cinema de animação. Entre os galardoados estiveram Sangue do meu Sangue, de João Canijo, Mistérios de Lisboa, de Raúl Ruiz, e os documentários Angst, de Graça Castanheira, e 48, de Susana de Sousa Dias. Nova lei, nova vida O projeto da nova Lei do Cinema pode vir a reunir anualmente 50 milhões de euros para o setor. O aumento da verba disponível é conseguido graças ao alargamento das fontes de financiamento que, além dos canais de televisão generalistas, passa a incluir outros operadores de televisão e, a pedido, os serviços audiovisuais. A isto junta-se o aumento das contribuições atuais. A Plataforma do Cinema, associação que representa cineastas e produtores, veio a público apoiar o projeto. Mistérios de Lisboa, do cineasta chileno Raúl Ruiz, falecido em 2011, com produção portuguesa, foi outro dos filmes em destaque, recebendo, a título póstumo, entre outros, o Special Award, da Associação de Críticos de Nova Iorque, e o galardão de Melhor Filme Estrangeiro, da Associação de Críticos de Cinema de Toronto. Pelos EUA há apelidos portugueses bem conhecidos na indústria. É o caso de Eduardo Serra, diretor de fotografia nomeado para os Oscars com The Wings of the Dove e Rapariga com Brinco de Pérola. Yuri Alves é outro nome a reter. O luso-descendente realizou mais de 12 filmes desde 2001, quando, ainda aluno do Secundário, assinou The Day the World Changed, sobre o 11 de setembro. No campo da representação a pioneira foi Maria de Medeiros que, no início dos anos 90, participou em Henry & June, de Philip Kaufman, e Pulp Fiction, de Quentin Tarantino. Mais recentemente, Maria João Bastos alcançou destaque ao protagonizar Mistérios de Lisboa. Apesar do sucesso, a atriz admite que em Portugal é difícil viver apenas do cinema. “A televisão é o nosso porto seguro, que nos permite seguir o sonho de viver da paixão que é representar. Além disso não gosto de desvalorizar a televisão. Tenho tido oportunidade de fazer projetos muito bons, como foi o caso de Equador.” Relação com o público Apesar do êxito internacional, o público nacional permanece distanciado do cinema português. No início do ano, O que Há de Novo no Amor e Paixão tinham, de acordo com o ICA, uma média de 10 espectadores por sessão. Leonel Vieira, realizador de títulos como A Sombra dos Abutres, Zona J ou A Arte de Roubar, e produtor de Budapeste, de Walter Carvalho, recusa-se a acreditar que tudo está bem. “Quando um país proporciona que se faça cinema sem obrigação de mercado, temos que ter respeito pelo público. Algo está errado quando a nossa cinematografia mantém 0,5% de quota de mercado. Em Espanha a produção nacional chega aos 23%, a média da Europa é 20%. Eu só pedia que Portugal tivesse 5%”, afirma. Nos últimos anos Leonel Vieira concentrou-se na produção. Neste 1 o meu mundo tema de capa cinema português momento termina Brasil Vermelho, filme para televisão feito em coprodução entre Portugal, Canadá, França e Brasil, que narra a história de João da Silva que, em 1564, combateu os franceses no Brasil. Em março, El sexo de los ángeles, do espanhol Xavier Villaverde, também produzido por Vieira, estreou no Festival de Cinema Ibero-Americano de Miami. Festivais Para Catarina Mourão – autora dos documentários A Dama de Chandor e Pelas Sombras −, a internacionalização do cinema português deu-se “quando surgiu um maior apoio estatal ao cinema de autor e à divulgação no estrangeiro, através do apoio à ida a festivais, cópias legendadas, mostras e conferências”. Já o realizador Gabriel Abrantes julga ser “necessário perguntar se o circuito de galerias e festivais é a melhor opção”. montepio primavera 2012 23 1 o meu mundo tema de capa cinema português P&R Maria João Bastos Três visões sobre o cinema português Leonel Vieira Realizador 24 Em França e Espanha estreiam, semanalmente, filmes de produção local. O que impede Portugal de fazer o mesmo, dinheiro? Não se pode reduzir isso a uma questão. Se a pudesse resumir numa, seria o interesse político. Se houver vontade política as coisas acontecem. Nunca houve vontade política em Portugal. Podíamos não ser como Espanha, porque não temos dimensão, mas podíamos ser uma Bélgica! Passamos o tempo a evocar os exemplos de Espanha e França mas não imitamos as suas leis. Tendo uma produtora com a dimensão da Stopline, desde o início sabíamos que não podíamos dedicar-nos só aos filmes. Produzimos Porquê? cinema, televisão e Porque isso toca no publicidade. Foi uma interesse de pessoas decisão estratégica. que viveram Uso a televisão para disto 30 anos, produzir coisas sem apresentar de que gosto. resultados. Há projetos muito bons, como Conexão O cinema é a sua ou Tempo Final. paixão. A televisão Assim, fico feliz por é uma necessidade? produzir televisão. Se fosse só Em breve começo, realizador podia no Brasil, um projeto escolher só um baseado numa obra caminho. de Jorge Amado. Qual o principal problema do cinema português? Não há dinheiro. E quando não há dinheiro é impossível apostar no cinema em larga escala. Daí que o cinema em Portugal seja sempre alternativo, não consensual, com uma linguagem diferente. Sem dinheiro, os únicos que se arriscam a fazer cinema são os que o fazem por paixão e amor à camisola. Para se criar uma indústria ou para se produzirem filmes mais consensuais é necessário dinheiro. A aposta em telefilmes pode ser uma saída? Atualmente, entre a RTP e a TVI, estão na calha duas ou três dezenas de telefilmes. Mas não sei se é este o caminho ou se leva a algum lado. Depende se as pessoas os veem, o que depende do tema, atores, horários e programação da concorrência. "Se houver vontade política as coisas acontecem. Nunca houve essa vontade" Leonel Vieira montepio primavera 2012 Atriz "Quero acreditar que conseguiremos atravessar esta fase" Maria João Bastos Eduardo Cintra Torres Crítico "Sem dinheiro, os únicos que se arriscam a fazer cinema são os que o fazem por paixão" Eduardo Cintra Torres Estava à espera do sucesso alcançado por Mistérios de Lisboa? De certa forma já sabíamos que ia ser um bom projeto. O Raúl Ruiz era um realizador muito considerado a nível mundial e a sua genialidade ia fazer deste filme um projeto especial. Mas nunca pensámos que o filme tivesse tanto sucesso. Fico muito feliz com isso pois não só é merecido como é muito bom ver o trabalho de todos reconhecido. Como correram as filmagens de As linhas de Torres? O filme correu muito bem. Este era um projeto que ia ser realizado pelo Raúl. Quando o Raúl faleceu o Paulo Branco, em homenagem, decidiu seguir com o projeto, com a realização de Valeria Sarmento, viúva do Raúl Ruiz. Foi bonito poder fazer-lhe esta homenagem. Para crescer profissionalmente a única opção era ir para o estrangeiro? O crescimento mais importante é a nossa própria evolução enquanto atores e isso vai-se ganhando com as nossas personagens e com quem trabalhamos. Mas, neste momento de crise em que o cinema está a ser tão crucificado, recorrer ao estrangeiro é uma opção. 1 o meu mundo reportagem Economia Social Mais próxima, mais integrada, mais estável 26 É apontada por muitos como a alternativa de futuro ao sistema capitalista. A economia social ganha terreno em tempos de crise financeira por susana torrão Um pouco por todo o mundo a Economia Social ganha protagonismo. O trabalho, sempre importante, de ONG, mutualidades, cooperativas e associações assume novo destaque em momentos de crise económica. Mas há quem vá mais longe e aponte o setor da Economia Social como a alternativa de futuro para resolver os problemas económicos à escala global. É o caso de Muhammad Yunus, Nobel da Paz em 2006 e criador do conceito do microcrédito, para quem só uma economia baseada em empresas sociais pode resolver o problema da pobreza mundial. Um ideal partilhado pela OCDE para a qual “sem empreendedorismo social as sociedades não alcançarão novos patamares de inovação e competitividade.” montepio primavera 2012 A definição e forma de desenvolvimento do setor varia consoante as latitudes. No mundo anglo-saxónico inclui apenas as organizações sem fins lucrativos, ao passo que na Europa integra áreas de mercado (mutualidades e cooperativas, por exemplo) e de não mercado (caso das IPSS e de algumas associações e ONG). E se nos países do Sul surge associado à falência dos sistemas nacionais de saúde, que leva a que a sociedade civil crie projetos financiados pela comunidade destinados a assegurar esses serviços, no Norte foi a falência do modelo capitalista que levou os cidadãos a redescobrirem a importância da Economia Social. Independentemente do motivo, os exemplos multiplicam-se à escala mundial. Mãos à obra Nos países do Norte da Europa como a Suécia e Finlândia, onde a sociedade civil é bastante ativa, as funções sociais não são cobertas apenas pelo Estado-Providência mas também pela sociedade civil. Mais a Sul, na Suíça, o setor da Economia Social assume um peso significativo. Não só ao nível do setor cooperativo − duas maiores cooperativas de consumo, Migros e Coop, são responsáveis por 8% do PIB – mas ao nível associativo, com várias creches, centros de apoio e equipamentos sociais de bairro criados e geridos pelos cidadãos. No Reino Unido, a crescente importância do setor levou ao aparecimento de entidades como a ClearlySo, agência britânica que faz a ligação das empresas sociais com investidores e o mundo empresarial. O objetivo é ligar negócios sociais, empresas, comércio e investimento, ajudando os empreendedores sociais a conseguirem capital e a melhorarem as suas capacidades. Em Moçambique, na província do Chibuto, Binaisa acalentava três sonhos enquanto trabalhava na rádio local: entrar para a faculdade para estudar Língua Portuguesa, criar um cen- P&R Eduardo Graça Presidente da CASES Que papel assume hoje a Economia Social? A crise tornou os modelos e princípios da Economia Social mais atuais. Tornam-se quase um imperativo da prática social, o que faz com que um setor que muitos decisores encaravam como residual passe a estar, em alguns aspetos, na vanguarda das respostas à crise. tro cultural e contribuir para melhorar a alimentação de crianças e jovens do distrito. Foi o último destes sonhos que o jovem empreendedor realizou primeiro. No distrito do Chibuto as escolas lecionam a disciplina de Agropecuária mas não há condições para explorar ao máximo as potencialidades das aulas. Binaisa criou o “Projeto Porcos” no qual uma escola receberia um casal de leitões com o compromisso de dar outro casal a outra escola quando os porcos se reproduzissem. Quando a criação tivesse escala para criar um pequeno talho a carne seria vendida, melhorando a alimentação de crianças e jovens. Com o apoio da associação portuguesa Primeiro Passo − que apoia iniciativas autossustentáveis com um financiamento até 500 euros – Binaisa levou o projeto a bom porto. Os 200 euros iniciais chegaram para adquirir os primeiros animais, vacinas, ração e medicamentos. Hoje o projeto ainda não tem dimensão para o talho mas já são várias as escolas envolvidas. A associação Primeiro Passo foi criada por Clara Piçarra depois de uma experiência de voluntariado em Moçambique, entre janeiro e abril de 2010, ao serviço da ONG AID-Global. “Estava na cidade do Chibuto e trabalhava no centro comunitário da aldeia do Chimundo, para onde ia de bicicleta”, recorda. Pouco depois, todos já conheciam a “mana Clara”, a portuguesa do centro. No regresso a Lisboa criou a Primeiro Passo para dar continuidade ao trabalho iniciado em Moçambique, trabalhando em conjunto com o Corpo da Paz, uma ONG laica norte-americana que faz a ponte entre o terreno e a associação portuguesa. “É importante ter alguém que receba as propostas, veja a sua viabilidade e ajude na parte das candidaturas”, assume Clara. Muitos projetos são recusados porque não cumprem o critério principal: a autossustentabilidade. A vários milhares de quilómetros de distância, o Social Economy Centre da Universidade de Toronto, no De que modo isto é observável? Parece ser evidente por parte de empresários, governos e do próprio setor associativo a consciência de que é necessário adotar princípios da Economia Social. As sociedades não podem continuar a pensar segundo o modelo que vingou durante os últimos 20 a 30 anos. Têm que se encontrar formas de cooperação entre os cidadãos de modo a que, consumindo menos, se possa manter uma boa qualidade de vida. Só com os princípios da Economia Social isto é possível. A Economia Social é o sistema económico do futuro? Julgo que no fim continuará a existir a empresa capitalista e a organização de Economia Social. O que acontecerá são profundas alterações no modelo da empresa capitalista – que corresponde a uma necessidade de adaptação aos novos tempos – e, simultaneamente, de todas as organizações de Economia Social para poderem dar respostas no âmbito da sua intervenção. montepio primavera 2012 27 1 o meu mundo reportagem economia social Projetos com futuro A Economia Social ganha protagonismo. Conheça quatro projetos que fazem a diferença junto das comunidades em que se inserem Associação de Socorros Mútuos de Ponta Delgada Esta IPSS açoriana desenvolve atuação na área da saúde, disponibilizando aos 4 500 sócios um centro médico, uma farmácia e uma parafarmácia. )1 28 Instituto de Apoio à Criança Criado em 1983, o IAC foi a primeira instituição a desenvolver ações junto de crianças que dormiam na rua, através do Projeto Rua. Hoje atua no combate à delinquência, junto de crianças e jovens ligados ao universo da droga e da prostituição. O IAC também presta apoio a nível legislativo, através de serviços de esclarecimento e da recolha e tratamento da legislação. )2 Caritas A Caritas atua em várias vertentes, da ação social paroquial à formação para entidades da Economia Social, passando pela intervenção em favor da promoção da igualdade de género. )3 Liga dos Bombeiros Portugueses Agrega todas as associações e corpos de bombeiros nacionais e tem por objetivo a obtenção de benefícios e de melhores equipamentos para os bombeiros, de forma a garantir uma melhor atuação junto da comunidade. )4 montepio primavera 2012 Canadá, cria pontes entre a universidade e as organizações da comunidade, preferencialmente com cooperativas ou organizações sem fins lucrativos, ao mesmo tempo que promove a pesquisa multidisciplinar em temas relacionados com a Economia Social. A capital do estado de Ontário é pródiga em projetos. É o caso da Inspirations Studio e da Foodshare Toronto. A empresa social Todas as organizações citadas integram a Economia Social mas nenhuma delas é, por definição, uma empresa social, o conceito defendido por Muhammad Yunus como a solução de futuro para a economia mundial. Autor de obras como A Empresa Social e Criar um Mundo sem Pobreza, Yunus defende que a empresa social, ao contrário da empresa capitalista, tem por objetivo atingir ganhos sociais específicos. Mas não pode ser confundida com uma associação de caridade, já que tem que recuperar os custos enquanto atinge os objeti- economia social O caso das cooperativas A s Nações Unidas declararam 2012 como Ano Internacional das Cooperativas, sob o lema “empresas cooperativas constroem um mundo melhor”. Hoje, mais de mil milhões de pessoas, à escala mundial, são membros de cooperativas, que criam mais de 100 milhões de empregos. Na Bélgica, em cada 200 sociedades 29,9 são cooperativas. Em França, 23 milhões de pessoas são membros de uma ou mais cooperativas (cerca de 38% da população). Na Noruega, as cooperativas detêm 96% do mercado de produção de leite e 55% do mercado de queijo, mais de 70% das vendas de ovos e peles e 52% do mercado de sementes. Já na Suíça, as duas maiores cooperativas de consumo – Migros e Coop – são responsáveis por 8% do PIB do país. vos sociais – para Yunus, um dos defeitos das ONG é o facto de não funcionarem como uma empresa e, por isso, serem obrigadas a passar grande parte do tempo a angariar fundos. Uma empresa social, que cobra pelos produtos ou serviços que produz, não tem ganhos nem perdas e, quando produz dividendos, estes são reinvestidos nos negócios. Para Muhammad Yunus existem dois tipos de empresas sociais: as que têm como objetivo criar um benefício social e as que visam o lucro e são detidas por indivíduos carenciados. No livro A Empresa Social Yunus alerta para o facto de, durante a atual crise financeira e económica, ter-se criado a perspetiva de que, uma vez ultrapassados os problemas, tudo voltará a ser como era. Para Yunus, só alterando o paradigma base da sociedade poderá ser alcançada uma solução duradoura. “Numa sociedade em que a empresa social seja uma força económica dinâmica as pessoas não terão que esperar pelo Governo para abordar problemas como os da pobreza, da fome, da falta de habitação e das doenças, porque elas próprias poderão descobrir formas de as resolver”, advoga. Através da Fundação Grameen e da parceria com multinacionais, Yunus esteve na origem de várias empresas sociais no Bangladesh, como a Grameen Danone, que produz iogurtes destinados ao público infantil, ou a Grameen Adidas, destinada à produção de calçado. Nos dois casos, foram necessários ajustes à realidade local tendo em conta a cultura gastronómica e as relações familiares. Aposta na proximidade Clara Piçarra destaca o envolvimento com a comunidade como um elemento-chave para o sucesso dos projetos apoiados em Moçambique. “Só resulta se forem pensados e criados pelas pessoas locais, que conhecem as necessidades da comunidade”, afirma. Eduardo Graça, presidente da CASES – Cooperativa António Sérgio para o Estudo da Economia Social, concorda: “A intervenção local é uma das vantagens da Economia Social. É uma realidade que não funciona ao sabor dos ciclos das crises de mercado. Está sempre presente no terreno, ligada às comunidades.” 2 milhões de empregos na Europa são criados por entidades que pertencem à Economia Social. 10% das empresas europeias pertencem ao Terceiro Setor, com um peso considerável na economia da UE. Eduardo Graça dá como exemplo as mutualidades: “É um subsetor da Economia Social que é muito importante porque produz bens e serviços transacionáveis, está no mercado, não persegue o lucro, gera emprego e não se deslocaliza”, afirma. Para o presidente da CASES, entidades como o Montepio – a maior associação e a maior mutualidade portuguesa – “têm a grande virtude de cobrir todo o território nos espaços em que não existem outros serviços, incluindo zonas menos prósperas do interior.” Um aspeto determinante, uma vez que, à medida que a globalização cresce, com os seus efeitos de vulnerabilidade e dependência acrescida, é importante reforçar o desenvolvimento local. É a proximidade das comunidades que torna mais fácil identificar necessidades de emprego, formação, e incentivar o empreendedorismo. A Economia Social combina a eficiência económica e o empreendedorismo social, equilibrando crescimento económico e solidariedade social. O Parlamento Europeu, num relatório divulgado no início de 2009, é claro quanto aos benefícios do setor: “A Economia Social contribui para a concretização dos quatro principais objetivos da política de emprego da UE: melhorar o espírito empresarial da população ativa, promover o espírito de empresa, reforçar a capacidade de adaptação das empresas e dos seus trabalhadores, através da modernização da organização do trabalho, e reforçar a política de igualdade de oportunidades.” O setor representa hoje 10% das empresas europeias, totalizando dois milhões de empregos. Embora o peso da Economia Social em Portugal seja inegável, de momento é difícil ter uma perceção clara das empresas que a integram, já que muitas não são discriminadas nas estatísticas. A CASES está atual mente num processo de criação de estatísticas para o setor. O trabalho, realizado em conjunto com o INE, deverá estar concluído no final de 2012. “Sem correr o risco de cometer erros grosseiros, pode dizer-se que o setor é uma realidade significativa do ponto de vista da economia, contribuindo para a criação de emprego, para o PIB e para o VAB”, afirma Eduardo Graça, que estima que centenas de milhar de portugueses trabalhem no setor. Do trabalho efetuado até agora estima-se que a Economia Social em Portugal integre entre cerca 43 600 a 48 400 pessoas, sendo estes valores aproximados. ? o que significa Mais próxima da comunidade, menos volátil e mais resistente às crises, a Economia Social é uma alternativa de futuro. 29 1 o meu mundo OBSERVATÓRIO ciência pôr a mão na massa 32 Educar as populações para a importância da ciência e para a apetência para o pensamento científico é o papel principal dos museus interativos de ciência e tecnologia. Afinal, as ciências são o motor da economia por helena c. peralta Jean Piaget influenciou profundamente o ensino do século xx ao impôr-se à escola tradicional, na qual o professor se limitava a debitar conhecimento e o aluno a tentar adquiri-lo. Para o cientista suíço, o conhecimento na criança é resultado das descobertas que faz e da capacidade de apreensão desse conhecimento. Logo, educar, para Piaget, é provocar a atividade, ou seja, estimular a procura do conhecimento. Hoje ninguém parece ter dúvidas quanto à importância da pesquisa e da experimentação para o desenvolvimento cognitivo da criança. Mas foi sobretudo a partir dos anos 50 do século xx que vários países criaram novos espaços, influenciados pelas novas teorias educacionais, que enfatizavam processos de aprendizagem inspirados na experimentação, e surgiram os primeiros museus de ciência interativa. Os atuais centros inspiraram-se no primeiro museu interativo: o Deuts- montepio primavera 2012 nn Pavilhão do conhecimento Com várias exposições, regista mais de 800 visitas diárias, potenciando descobertas nas áreas da física, matemática e tecnologia Ciência viva 3 objetivos ^ apoiar o ensino experimental das ciências e a educação científica nas escolas do País ^ Desenvolver a Rede Nacional de Centros de Ciência Viva como espaços de divulgação interativa para a população ^ PROMOVER campanhas nacionais de divulgação científica ches Museum, fundado em 1903, em Munique, na Alemanha, e onde os visitantes interagiam com os objetos da exposição. Já no final da década de 60 nasceu, em S. Francisco, nos EUA, um projeto pioneiro no campo da ciência, o famoso Exploratorium, fundado por Frank Oppenheimer, físico que estimulava a curiosidade dos alunos pela experimentação na sala de aula. Existe hoje uma alargada rede pelo mundo, de que são exemplo o Cittá della Scienza, em Nápoles, o Exploradôme, em Paris, o Technopolis, em Copenhaga e o Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Liga-os o papel fundamental que têm na sociedade: demonstrar, de forma simples e acessível, que a ciência, além de fundamental, não é exclusiva de alguns “iluminados.” Ensino formal é insuficiente As ciências são o motor da economia e só criando apetência para as áreas científicas se pode desenhar o futuro das civilizações. “Se, há um século, o problema das sociedades menos desenvolvidas era o analfabetismo, hoje o problema grave é o analfabetismo científico”, escreve Carlos Fiolhais, investigador e professor de Física na Universidade de Coimbra, na sua obra A Ciência em Portugal. Apesar da evolução positiva que Portugal registou nesta área nos últimos anos há ainda muito trabalho por fazer. Existe no País um grande défice de cultura científica que os museus e centros de ciência e tecnologia ajudam a colmatar. Segundo o PISA (Programme for International Students Assessement), estudo da OCDE que testa os conhecimentos dos estudantes de 15 anos em diversos países, os portugueses ficaram nos últimos lugares no que diz respeito às questões científicas. Países como a Coreia do Sul e a Finlândia conquistaram os primeiros lugares. “Como não há nenhum defeito no cérebro dos alunos portugueses, penso que o problema está na escola e na cultura”, explica Carlos Fiolhais à Montepio. “O ensino em Portugal, infelizmente, não estimula o interesse dos alunos pela ciência, em especial o dos mais jovens. Esta é uma das grandes mudanças que é necessário fazer: introduzir mais experimentação no jardim-de-infância e no primeiro ciclo do ensino básico. É pelas próprias mãos que as crianças, que nascem curiosas, podem e devem ganhar uma primeira ideia da ciência na chamada idade dos porquês”, remata o investigador. Com ele concorda Alexandre Quintanilha, investigador, professor e diretor do Centro de Citologia Experimental da Universidade do Porto. Para Quintanilha o ensino formal “deveria caminhar no sentido da experimentação e afastar-se do ensino puramente teórico. Pensar que o que aprendemos hoje nos garantirá emprego amanhã é infantil. Infelizmente, a curiosidade não é fácil de ensinar, tem que ser por infeção saudável.” A importância dos centros de ciência interativa E foi precisamente para motivar esta infeção saudável que se criaram redes de partilha de informação científica e centros de ciência interativa. As instituições representadas na ECSITE*, à qual pertence a Rede Nacional de Centros Ciência Viva, recebem cerca de 30 milhões de visitantes por ano, sendo que cerca de 60% destes participantes têm menos de 25 anos. O Programa Ciência Viva surgiu em 1996, pela mão do Ministério da Ciência e Tecnologia, com o objetivo de contrariar o divórcio entre os portugueses e a ciência. É gerido atualmente pela Associação Ciência Viva − Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, onde participam diversas entidades nacionais, nomeadamente universidades, e liderado por Rosalia Vargas. Este programa atua em três eixos: apoio ao ensino experimental das ciências e promoção da educação científica nas escolas; desenvolvimento da Rede Nacional de Centros de Ciência Viva, espaços de divulgação interativa para a população; e campanhas nacionais de divulgação científica. O trabalho junto dos professores também é essencial para que se sintam atraídos pela educação científica. Centros da Rede Ciência Viva, como o Exploratório de Coimbra, fazem esse trabalho, dando formação específica para o ensino científico. Mas há outras formas de beber este conhecimento. Por exemplo, a Net-Eu (Network to Improve Non-Formal Science Teaching), uma rede social onde se trocam experiências sobre métodos e abordagens diferentes da ciência. “Penso que estamos no caminho certo. Dar às pessoas autoconfiança para questionarem a sociedade que querem construir, e quem querem ser, é provavelmente o que de melhor temos para dar aos outros”, finaliza Alexandre Quintanilha. science4you Ciência para todos q uando Miguel Pina Martins acabou os seus estudos universitários fora já mordido pelo bichinho do empreendedorismo. Ligado ao Audax, centro de formação de empreendedores do ISCTE e da Fundação Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, não se assustou com a pouca experiência e começou logo a trabalhar na ideia de produzir brinquedos científicos. Assim, em 2008, fundou a Science4you, empresa que começou por desenvolver, produzir e comercializar brinquedos científicos e que, atualmente, se dedica também à formação e animação científica. Esta última já tem um peso de 30% no volume de negócios que, em 2011, se situou nos 600 mil euros. Com 14 funcionários, a Science4you já está presente em Espanha, Moçambique, Angola e Brasil. * EcsITE - The EuropEan Network of Science Centres and Museums montepio primavera 2012 33 1 o meu mundo entrevista presidente do Pavilhão do Conhecimento e da Associação Ciência Viva "Ciência viva é case study" 34 O modelo seguido em Portugal para a construção da rede de museus de ciência interativa, descentralizado, em parceria com universidades e autarquias, é destacado a nível internacional como fonte de inspiração por helena c. peralta fotografia artur Rosalia Vargas é presidente do Pavilhão do Conhecimento e da Associação Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica. Como responsável pela Rede de Centros de Ciência Viva, revela-nos que a opção seguida para a sua implementação foi bem-sucedida e é, inclusive, alvo de destaque por países como a Noruega. Como é que locais de partilha de conhecimento, como o Pavilhão do Conhecimento e os centros da Rede Ciência Viva, contribuem para a melhor educação científica de crianças e jovens? Sabemos hoje que o contacto entre as pessoas e a ciência se faz principalmente em três espaços: a escola, os museus e centros de ciência e os media. Os centros de ciência são, talvez, aqueles onde o contacto é mais físico, mais emocional. Aprendemos melhor aquilo de que gostamos. Einstein conta-nos que o seu amor pela Física foi desencadeado por uma bússola que o pai lhe ofereceu na infância. Os centros de ciência respondem à curiosidade e ao desejo de saber mais, estimulam e entusiasmam, são catalisadores de uma melhor educação científica. Oppenheimer, o fundador do Exploratorium de S. Francisco, dizia que nenhuma criança “chumba” num centro de ciência porque são espaços de grande motivação, de grande curiosidade. Como se compara Portugal com outros países neste tipo de ensino? A Ciência Viva e o Pavilhão do Conhecimento são membros ativos do ASTC* e do ECSITE**. Ocupamos um patamar de prestígio e inovação entre os museus e centros de ciência de todo o mundo, sobretudo pela forma como criámos a nossa rede de centros e pelos resultados alcançados. Somos procurados por consórcios internacionais de produção de exposições e por parcerias de projetos de educação científica, para os quais a forte interação com a comunidade científica é muito relevante. Participámos num seminário, que se realizou na Noruega, em 2005, totalmente dedicado à Rede Ciência Viva como fonte de inspiração, onde a experiência portuguesa foi amplamente discutida. Mas há ainda um longo caminho a percorrer. Não podemos ocultar que a educação científica sofre ainda de um atraso estrutural, que decorre de décadas de ensino retórico e pouco experimental. Mas estamos no caminho certo. Portu- gal está entre os países da OCDE onde a apetência dos jovens por cursos de engenharia e tecnologia mais cresceu. O que foi que a Noruega destacou de positivo na rede portuguesa? A forte ligação com a comunidade científica, com reflexos no trabalho com escolas, alunos e professores. O modelo de criação dos centros também é apreciado pela sua natureza descentralizada e pelo papel dinamizador do desenvolvimento local. Este tipo de estrutura, tal como está montada, é pioneira ou segue algum modelo internacional? O pioneirismo reside no enraizamento da estrutura na sociedade portuguesa. Poder-se-ia ter optado por um * ASTC - Association of Science - Technology Centers // * * EcsITE - The EuropEan Network of Science Centres and Museums montepio primavera 2012 modelo, a partir do topo, e depois replicá-lo aqui e ali de forma centralizada, com um franchising. Escolheu-se outra via, a do envolvimento das autarquias, a partir das suas realidades regionais e locais, numa forte ligação e comprometimento com a comunidade científica. Os municípios têm Somos procurados por consórcios internacionais de produção de exposições e por parcerias de projetos de educação científica, para os quais a forte interação com a comunidade científica é muito relevante. um papel marcante na manutenção e gestão desses equipamentos. É esta proximidade que deverá tornar viável e sustentável o crescimento da Rede de Centros de Ciência em todo o País. Quantos centros já tem a Rede e qual o número acumulado de visitantes? A Rede conta com 19 centros em todo o País e já tem novos projetos em desenvolvimento, respondendo ao interesse de universidades, instituições de investigação e autarquias. Naturalmente, o Pavilhão do Conhecimento, pela sua localização e dimensão, é o que tem atraído maior número de visitantes. Em 2010 tínhamos um número global de seis milhões de visitas acumuladas. A média anual de cada Centro Ciên- cia Viva varia entre as 15 e as 50 mil visitas. O Pavilhão do Conhecimento é uma realidade diferente, com uma média anual de 230 mil. Quais são os projetos mais recentes no Pavilhão do Conhecimento? Um projeto aliciante é a produção de grandes exposições para o mercado nacional e internacional: é um desafio que só os maiores centros mundiais são capazes de encarar, já que exige muita experiência e capacidade de realização. A tendência atual é fazer projetos de colaboração internacional e a Ciência Viva já faz parte desse núcleo. Mas há um outro projeto que nos merece grande atenção, trata-se de uma escola no próprio Centro de Ciência. A Escola Ciência Viva está a funcionar no Pavilhão do Conhecimento, como resultado de uma parceria com o Agrupamento de Escolas Fernando Pessoa: cada uma das 33 turmas do 1º ciclo passa uma semana inteira neste Centro, acompanhada por professores, cientistas e educadores, num trabalho organizado que depois continua nas próprias escolas de origem. Tratando-se de um projeto sem paralelo, em Portugal e na Europa, está a ser acompanhado por avaliação independente. O objetivo é acumular experiência para lançar as bases de um diálogo ainda mais sólido entre os Centros Ciência Viva e as escolas de todo o País. O que acontece durante essa semana aqui no Pavilhão do Conhecimento? O Pavilhão do Conhecimento é a sala de aula com que qualquer criança sonha. Espaçosa, luminosa, plena de desafios e aventura. É altura de vestir a pele de um cientista, que é como quem diz a sua bata, usar equipamentos científicos, fazer experiências no laboratório, falar com cientistas, falar de ciência. A batalha pela educação científica, e contra os estereótipos, começa cedo, de preferência no primeiro dia de escola, que é o primeiro de uma aprendizagem que se espera longa, como a vida. montepio primavera 2012 35 1 o meu mundo OBSERVATÓRIO pavilhão do conhecimento 2 1 Todos os sentidos são postos alerta à chegada ao Pavilhão do Conhecimento 2 Num mundo colorido aprender é mais fácil 1 36 Uma viagem pelo saber Com 800 visitantes por dia, o Pavilhão do Conhecimento é um fenómeno nacional na educação da ciência de forma lúdica. Conheça as atuais exposições deste museu interativo Famoso no mundo, o Pavilhão do Conhecimento já recebeu a visita de ilustres personalidades como Bill Gates. Em 2006 o fundador da Microsoft esteve em Portugal e acabou a dar uma aula, naquele espaço, a mais de uma centena de jovens alunos de escolas dos arredores de Lisboa, que colocaram inúmeras questões ligadas à tecnologia. Inaugurado em 1998, aquando da Exposição Internacional de Lisboa, no Parque das Nações, em Lisboa, o edifício foi desenhado pelo arquiteto Carrilho da Graça. Abriu ao público com uma exposição sobre o Conhecimento dos Mares, tendo sido um dos mais visitados do certame, com cerca de 2,5 milhões de entradas. Reabriu em 1999, já como Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva, com diversas exposições, permanentes e temporárias, e centenas de módulos ligados ao conhecimento científico, com os quais os participantes podem interagir de forma ativa e lúdica. montepio primavera 2012 VISITA GUIADA Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva S ão cerca de 800 as visitas diárias de participantes que entram num mundo de descoberta da física, matemática e tecnologia, entre outras. Siga-nos agora numa visita guiada pelo Centro: ^ O Mar é Fixe mas não é só peixe A exposição temporária dedicada ao mar está patente até agosto. A ideia é mostrar a importância do mar na evolução da humanidade. Os módulos convidam a uma viagem entre embarcações, contentores, boias e farois, num total de 30 experiências interativas. A mostra foi desenhada pela Heureka Science Center, na Finlândia, e chegou a Portugal adaptada à nossa realidade. Aqui pode sentar-se aos comandos de um reach stacker e testar a perícia a empilhar contentores. ^ A Física no Dia a dia Exibição interativa inspirada na obra A Física no Dia a Dia, de Rómulo de Carvalho. Sabia que tem um centro de física em casa? É esta a questão que se levanta no início da viagem, distribuída pelas divisões de uma casa, com 73 atividades, realizadas com materiais simples e acessíveis. ^ Explora A sala Explora concentra um conjunto de fe- nómenos naturais, divididos em cinco áreas: Luz, Visão, Ondas, Perceção e Sistemas (Bué) Complexos. A exposição foi concebida para o Exploratorium de S. Francisco, tornando-se num clássico nos centros de ciência em todo o mundo. ^ Algoritmos Criativos É a mais recente exposição do Pavilhão e resulta da colaboração com o Espaço do Tempo – Convento da Saudação, de Montemor-o-Novo. É uma mostra de 12 trabalhos artísticos, em áreas como o design de interação, computação científica, robótica, inteligência artificial e engenharia de sistemas. ^ Brincar Ciência Este é, por excelência, o espaço dos mais novos. Pequenos exploradores, dos 3 aos 6 anos, vestem um fato de astronauta, entram dentro de um foguetão ou constroem a Casa Inacabada. ^ Exposição em Fuga Alguns dos módulos interativos saíram das salas de exposição e estão espalhados um pouco por todo o Pavilhão. Procure-os antes que fujam de vez. Serviço "CHAVE na MÃO" D Traga-nos a sua ideia D Projetos completos com Estudo de Ambientes exterior e interior em 3D (incluído) A sua casa A sua escolha D Orçamentação e todo o percurso burocrático por nossa conta D Pagamento de licença de construção incluído D Levantamento Topográfico, condução de obra, Fiscalização e Coordenação de Segurança incluídos D Construímos (durante o processo acompanhe e personalize o seu espaço) ...Connosco cada Casa é um caso... D Certificações e Licenciamentos de Habitabilidade D Entregamos a sua casa pronta 966 012 011 – 249 241 142/28 fax 249 323 446 [email protected] www.morbuilding.com Tudo desde 145.000,00 € 1 o meu mundo OBSERVATÓRIO centros ciência viva É proibido não mexer Estes espaços não se compadecem com quem fica de mãos nos bolsos. Quem passa a porta tem que ter espírito aberto para deixar o conhecimento entrar. E mexer é obrigatório > PARQUE DE ASTRONOMIA CENTRO CIÊNCIA VIVA DE CONSTÂNCIA Data de fundação: 1992 38 O centro de Constância surgiu pela mão do atual diretor, Máximo Ferreira, que, desafiado a criar um museu de astronomia na Universidade de Ciência de Lisboa, levou algumas atividades para fora do museu. Os programas Astronomia na Praia e Astrofestas deram origem a pólos de astronomia, entre eles o Observatório de Constância. Inaugurado em 2000, integrou a Rede de Centros Ciência Viva em 2004. “Todos os equipamentos estão relacionados com a astronomia mas envolvem conceitos de física, matemática e geografia”, diz Máximo. > EXPLORATÓRIO CENTRO CIÊNCIA VIVA DE COIMBRA Data de fundação: 1995 Número de exposições: 4 O Exploratório foi inaugurado em 1995, por iniciativa do Centro de Iniciação Científica da Universidade de montepio primavera 2012 O centro é composto por vários módulos e plataformas. A Esfera Celeste, constituída por aros de 7,5 metros de diâmetro, representa o meridiano do local, o equador celeste, os trópicos e os círculos polares e permite ao visitante observar a Estrela Polar através de um orifício situado no eixo de rotação da terra. O Relógio Analemático permite ver as horas através do sol de forma muito precisa e a Galáxia, uma estrutura móvel em inox, representa as características da Via Láctea. Os equipamentos mais apreciados pelas crianças são os carrosséis, o do Sol/Terra/Lua, o de Júpiter e o de Saturno, módulo onde os mais novos podem sentar-se, girar e perceber os movimentos dos astros. Coimbra, com os temas “O acaso em Ciência” e “A Ciência pode ser divertida”. No edifício, junto ao rio, até a cafetaria tem alusões à ciência. Nas paredes explica-se o que são hidratos de carbono, lípidos e glícidos. Mas é na oficina que se constroi a magia. É lá que três colaboradores desenvolvem material científico para novas exposições. Atualmente o Exploratório tem quatro exposições a funcionar: “Em Boa Forma com a Ciência”, “Sentir.com”, “Viajar com a Ciência” e “Ciência no Parque”, num total de 112 módulos no interior e 47 no jardim. Também no jardim se “estuda” ciência através de um xilofone em madeira, torneiras suspensas, um simulador lunar ou um parafuso de Arquimedes para regar a horta. > mina de ciência CENTRO CIÊNCIA VIVA DO LOUSAL Data de fundação: 1988 Número de exposições: 6 Explorar ciência, extrair conhecimento é o lema deste centro que surgiu numa antiga mina de pirites, perto de Grândola. A mina, explorada pela SAPEC, funcionou até 1988 e chegou a ter 1 200 trabalhadores. Quando encerrou criou-se um problema social. “Foi então que a SAPEC se uniu à Fundação Frederic Velge para um projeto de revitalização local”, conta Jorge Relva, professor na Faculdade de Ciências de Lisboa e atual presidente da Associação Ciência Viva do Lousal. O Centro do Lousal foi inaugurado em Junho de 2010, com 11 mil visitantes até ao final do ano. São seis as atuais exposições, como o “Sem Terra Não Há Carochas” ou o “Gruta Virtual” onde, através de uns óculos 3D, poderá visitar um mundo virtual. “O Banho de Ciência”, “Ciências do Virtual”, “Darwin Now” e “Mina P’ra Gente Pequena” são as restantes atividades. Este último módulo faz as delícias da pequenada, que se diverte a fazer o árduo trabalho de um mineiro. A MINHA CIDADE caminhos a percorrer em mobilidade, urbanismo, solidariedade página 40 página 46 página 49 página 50 Lisboa é, uma vez mais, capital da vela. Saiba tudo sobre a Volvo Ocean Race e a regata Tall Ships Conheça projetos nacionais que dão cartas lá fora Como o grupo Visabeira recuperou a Vista Alegre Atlantis e a Cerâmica Bordallo Pinheiro O arquiteto Gonçalo Byrne revela a sua visão da cidade que o acolheu há 60 anos: Lisboa VELA design inovação Opinião regata Lisboa à vela Nos próximos meses Lisboa afirmaRÁ, uma vez mais, a sua condição de capital atlântica da Europa. A Volvo Ocean Race chega À capital portuguesa a 31 de maio e julho marca o regresso da regata Tall Ships por luísa de carvalho pereira fotografia ©paul todd/volvo ocean race 40 Aquela que é considerada a Volta ao Mundo à Vela terá como paragem a doca de Pedrouços, em Lisboa. Entre 31 de maio e 10 de junho, a cidade acolhe a final da etapa transatlântica da Volvo Ocean Race (VOR) 2011-2012, que resultará num impacto económico acima dos 50 milhões de euros. “Portugal é um país de navegantes, que deu novos mundos ao mundo, e a sua capital, Lisboa, foi ponto de partida para a fabulosa saga dos Descobrimentos”, afirmou António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, no anúncio da vitória da candidatura portuguesa. Para António Costa, uma cidade de vocação histórica tão transatlântica só poderia estar associada à maior aventura oceânica dos tempos modernos. Tendo em conta que se trata de um dos cinco maiores eventos desportivos mundiais – a par dos Campeonatos do Mundo e Europa de Futebol, Jogos Olímpicos e Ryder Cup (em golfe) –, são inegáveis as mais-valias que a VOR trará a Portugal. “Uma vez mais, pela via do desporto ao mais alto ní- montepio primavera 2012 vel, a marca Portugal será comunicada pelos quatro cantos do mundo, dando a conhecer um país de excelência, com uma oferta turística de altíssima qualidade e capacidade para acolher grandes organizações, como é o caso da Volvo Ocean Race”, comenta a Lagos Sports, responsável pela candidatura de Lisboa a receber o evento. Os momentos altos da etapa portuguesa da VOR – a In-Port Race e a Partida de Lisboa, rumo a Lorient (França), nos dias 9 e 10 de junho, respetivamente – serão transmitidos em direto para mais de 100 países. Uma aventura épica No início dos anos 70 alguns velejadores da Royal Navy Sailing Association começaram a discutir a possibilidade de competirem numa volta ao mundo à vela. Das palavras passaram aos atos e organizaram uma prova mítica: a Whitbread, hoje conhecida por Volvo Ocean Race. Realizada todos os quatro anos, mais do que uma prova de vela é uma incrível volta ao mundo cumprida em nove meses. São seis equipas, cada uma com 11 tripulantes, que, depois de partirem, estão BASTIDORES Um dia na VOR U m dia na VOR garante a possibilidade de conhecer de perto as mais avançadas embarcações do mundo e contactar com alguns dos mais conceituados desportistas do planeta. Um dia típico incluirá, também, a visita às estruturas de animação do Race Village – cinema, simuladores ou cinema 3D –, assistir à manutenção dos barcos de competição na zona das equipas ou às regatas com a linha de largada bem perto de terra firme, mesmo em frente ao Race Village. Também pode optar pelo batismo em experiências náuticas ou por assistir a concertos e espetáculos enquanto almoça ou janta nos diversos restaurantes, cafés e bares. A entrada é livre. 2 a minha cidade reportagem 41 galway lorient lisboa Alicante miami Sanya 1 Abu Dhabi n w e Itajai s Cape Town Auckland 2 O percurso As seis equipas percorrem o globo ao longo de nove meses, enfrentando toda a espécie de desafios. cidade anfitriã chegada in-port race leg start destino distância Alicante Cape Town Abu Dhabi Sanya Auckland Itajai Miami Lisboa Lorient Galway – 25/11/2011 1/1/2012 4/2/2012 8/3/2012 4/4/2012 6/5/2012 31/5/2012 17/6/2012 3/7/2012 30/10/2011 10/12/2011 13/1/2012 18/2/2012 17/3/2012 21/4/2012 19/5/2012 9/6/2012 30/6/2012 7/7/2012 5/11/2011 11/12/2011 14/1/2012 19/2/2012 18/3/2012 22/4/2012 20/5/2012 10/6/2012 1/7/2012 – Cape Town Abu Dhabi Sanya Auckland Itajai Miami Lisboa Lorient Galway – 6 500 mn 5 430 mn 4 600 mn 5 220 mn 6 705 mn 4 800 mn 3 590 mn 940 mn 485 mn – 1 A viagem pode ser acompanhada, diariamente, no site do evento 2 Em cada paragem as equipas reparam os veleiros e promovem a vela a nível mundial montepio primavera 2012 2 a minha cidade reportagem volvo ocean race 1 A VOR testa os velejadores ao limite 2 Em nove meses a regata percorre todos os mares 42 1 completamente sós. “Esta corrida é a derradeira aventura humana, visitando todos os continentes, atravessando todos os oceanos e desafiando a natureza como nenhum desporto. Quando as equipas partem despedimo-nos, esperando vê-los na meta final. É uma corrida onde colocam a sua vida em risco para ganhar um dos mais prestigiantes troféus do desporto”, afirmou Knut Frostrad, CEO da VOR. O lema Life at the Extreme (a vida no limite) é adequado a uma competição que passa por cinco oceanos e quatro continentes, em condições de extrema dureza, muitas vezes no limite da resistência física e psicológica. Uma candidatura de peso A escolha de Lisboa como cidade porto da Volvo Ocean Race 2011-2012 resulta de uma candidatura complexa, liderada pela Lagos Sports, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, que contou com a participação de 34 cidades europeias. Durante mais de um ano foi feito um trabalho rigoroso de preparação de todo o projeto que, aliando a história marítima de Portugal, as extraordinárias condições para a prática da vela e provas dadas na organização de grandes eventos, logrou bater as restantes candidaturas. Ficou assim garantido o estatuto de stopover (paragem) recebendo a prova na chegada ao continente europeu, vinda dos Estados Unidos. “Portugal tem uma tradição única na história da navegação e a sua capital é perfeita para receber um evento de vela offshore desta envergadura”, comenta Jon Bramley, diretor de Comunicação da VOR, que realça a importância económica do evento. montepio primavera 2012 2 Para fazer a previsão do impacto em Portugal, a Lagos Sports usa como referência o estudo levado a cabo pela Deloitte na Volvo Ocean Race 2008-2009. “Segundo os dados disponibilizados pela organização da prova, as cidades de Galway (Irlanda) e Estocolmo (Suécia), que acolheram a prova nas mesmas datas em que a regata estará em Lisboa, beneficiaram de impactos económicos na ordem dos 60 e 80 milhões de euros”, explica. Em termos de impacto turístico, só a paragem da prova em Galway acolheu perto de 500 mil visitantes. Dadas as características da capital portuguesa a Lagos Sports pretende superar estes valores, lembrando que este é um evento que promove a marca Portugal durante nove meses. “São valores quase inqualificáveis de promoção do País”, conclui. Race village É na Race Village, na doca de Pedrouços, que poderão ser encontradas zonas de interesse para o público, convidados e patrocinadores. A área de exposições será o espaço onde se concentrarão todas as entidades que apoiam o evento, com tendas promocionais, stands e zonas de hospitalidade. Em simultâneo, os visitantes terão à disposição uma vasta área de restauração. “Pretende-se criar um conjunto de animações e espetáculos, desde concertos a sessões de cinema, que permitam atrair público, criando um evento único, capaz de desafiar, cativar, absorver e acolher todos os públicos, de forma cómoda e atraente”, avança a organização. Na área de equipas, estarão localizadas as bases de terra para as equipas em competição, com zonas de atracagem, estalei- jj paragem em Lisboa A capital portuguesa acolhe a prova na sua chegada à Europa após a travessia atlântica ros em seco, onde poderão ser feitas reparações, velarias e locais para os barcos de apoio. Prevê-se uma visita massiva por parte dos espectadores, que podem tomar contacto com o espetáculo paralelo que consiste na preparação de uma regata oceânica. Apesar de muitas ações para a etapa de Lisboa ainda estarem em fase de projeto, a VOR conta com iniciativas dedicadas aos mais jovens, como a Volvo Ocean Race Academy – que se traduz numa competição por equipas na Classe Optimist, cujos participantes são apurados depois de fases de qualificação locais (mais informações em www.volvooceanrace.com). A Lagos Sports avança que todos os dias haverá concertos e animações. Garantida está já, na noite da In-Port Race, a exibição, em grande ecrã, do Portugal-Alemanha, o primeiro jogo da nossa seleção no Europeu de Futebol. 2 a minha cidade reportagem tall ships “5 Portos, 5 Culturas, 1 Regata” Desde 1956 que a Tall Ships Race promove os grandes veleiros e celebra o convívio entre jovens de todo o mundo 44 De 19 a 22 de julho Lisboa recebe a segunda etapa da corrida que começa em Saint-Malô, França. É o regresso da Tall Ships a Portugal, depois da última passagem, em 2006. De Lisboa, a prova segue para Cádiz, Corunha e Dublin, onde terminará a última etapa, entre 23 e 26 agosto. O Montepio é um dos patrocinadores da Tall Ships. Depois de ações em Lisboa, o veleiro Montepio acompanhará a regata até Vila Real de Santo António, de onde seguirá para o Triângulo Atlântico. A regata Tall Ships foi criada em 1956. Hoje, as The Tall Ships Race são regatas anuais organizadas pela Sail Training International, que visa promover e formar o treino de mar e a convivência intercultural de jovens de todo o mundo. Mais de 60 grandes veleiros e 5 000 tripulantes de 49 países são esperados nesta edição. Os visitantes poderão conhecer o recinto, onde haverá uma zona lounge com pontos de restauração e música ambiente, zona com atividades para crianças, exposições de fotografia, conferências e workshops sobre o mar e a cidade de Lisboa. circum-navegação Sozinho à vela Objetivo: Triângulo Atlântico A viagem do veleiro Montepio é acompanhada de histórias e História objetivo Rio 2016 J oão Villas Boas e João Duarte são outra dupla de velejadores apoiados pelo Montepio. Em 2012, na classe 470, tem início a caminhada para os Jogos Olímpicos. Em abril, a dupla competirá no ISAF Sailing World Cup, em Espanha, com o objetivo de se classificar na “frota de ouro”. montepio primavera 2012 Mas a meta não são os Jogos Olímpicos de Londres. “Acabo o curso em 2012 e o meu grande objetivo são os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016”, assume João Villas Boas. P&R Ricardo Diniz Navegador solitário O que o leva a ser um navegador solitário? O que me leva a ir para o mar tem mais a ver com a educação. É possível ensinar história, matemática, geografia, seguindo a viagem de um veleiro. Tento desenvolver projetos que contem uma história e que ajudem a honrar a nossa História como país. Faço isto desde 1996, mas também desenvolvo projetos de empreendedorismo, palestras. Só sobre a vela? Especialmente sobre gestão pessoal e financeira. Faço isto como um accidental coach. Tentei sempre ter parceiros que gerassem parcerias e acreditassem na importância de valorizar Portugal, reforçando a nossa História e projetando-a no futuro. No ano passado contactei o Montepio, que me acolheu com entusiasmo e "comprou", com os objetivos certos, o meu maior projeto de sempre. Foi assim que surgiu o Triângulo Atlântico? Sim, o meu segredo mais bem guardado desde 2004. Sair de Lisboa, capital atlântica da Europa, ir até Vila Real de Santo António e circum-navegar a zona económica exclusiva portuguesa. Temos 20 vezes mais mar do que terra, o “petróleo” de Portugal. É um projeto político, artístico, educativo. Um desafio brutal. Quando é a partida? Vou partir em julho, agosto. Mas antes vamos fazer a Tall Ships Race. Durante a Tall Ships vamos mostrar o barco e fazer ações e quando a regata arrancar para Cádiz saíremos com aquelas centenas de veleiros. Acompanho a Tall Ships e, em Vila Real de Santo António, viro à direita e sigo para o Triângulo Atlântico. Um historiador contará diariamente uma história no nosso site. É muito importante falar de Portugal, saber que Vasco da Gama tinha 24 anos. Quero que o protagonismo seja de Portugal. Como é estar no mar sozinho? Há momentos muito profundos. Planeio os meus projetos com muito cuidado, o máximo de pormenor, depois há uma fatia de risco calculado e uma fatia de fé brutal. É assim que atinjo os meus projetos. O Ricardo enjoa? Enjoo que nem uma pescada! Mas depois passa. Em média, quanto tempo por ano vive num barco? Varia muito. Entre 1998 e 2000 vivi sempre num barco. No ano passado fui para o mar e não ia há quatro anos. Coincidiu com o nascimento dos meus filhos. Não tenho pressa... S.T. 2 a minha cidadeade reportagem Design Marca Portugal 46 Arriscam novos materiais ou reinterpretam valores antigos, como o da cortiça, da madeira ou do vidro. Vários nomes do design português apostam tudo na inovação. Resultado? Peças icónicas que atravessam fronteiras por helena viegas fotografia artur Pilar del Rio, a presidente da Fundação José Saramago, “vestiu” uma mala La.Ga no dia de estreia do documentário José e Pilar, em Nova Iorque. Não um modelo comum, mas uma edição especial, estampada com imagens do próprio filme. Dez anos depois da sua criação, a mala assinada pelos designers Jorge Moita e Daniela Pais, que usa tecido hospitalar e é cosida na prisão de Tires, continua a reinventar-se. Depois de nomes como Marcel Wanders, Joana Vasconcelos e Paula Rêgo terem desenhado ou autorizado padrões especiais para a La.Ga, é a vez da literatura. Em março surgirá um modelo com imagens de Fernando Pessoa. montepio primavera 2012 design Destino Nova Iorque Ao longo de vários meses, vários designers integraram o projeto Destination: Portugal, que os levou até ao MO.Ma, em Nova Iorque, o mais importante museu de arte contemporânea à escala mundial. 2 1 3 “A La.Ga ganhou vida própria”, explica Jorge Moita, do ateliê Krv Kurva Design. Daniela Pais seguiu uma carreira individual e ele próprio está empenhado no desenvolvimento de projetos de design sustentável na empresa digital em grande formato Pictorial. Mas a mala com o nome inspirado em Gala Fernandez, a project manager da Fabrica Features da Benetton que impulsionou a sua produção, em 2003, continua o seu percurso, com novos padrões, edições limitadas e a diferença que lhe deu notoriedade: o material. O efeito “folha de papel” é ilusório. Na verdade, a mala diversas vezes premiada, confecionada por mulheres detidas − o cariz sustentável do projeto, com a etiqueta Made In Tires, é parte integrante da sua identidade −, é feita num tecido hospitalar, também usado pela NASA. O Tyvek, resistente a partículas radioativas, pode ser lavado na máquina e tem uma resistência notável: a mala pesa 55 gramas e suporta 55 quilos. Até a chanceler alemã, Angela Merkel, tem uma La.Ga, que lhe foi oferecida pelo Presidente da República português. Quando, em 2010, o MO.Ma − Museu de Arte Moderna de Nova Iorque decidiu lançar na loja do museu o projeto Destination: Portugal, com uma seleção de peças portuguesas, a mala La.Ga foi um dos objetos escolhidos. Integrado na série Destination: Design Series, o projeto levou aos Estados Unidos inúmeras peças que pretendiam mostrar as novas tendências do design português. Lá estava também outro clássico de usar ao ombro, a célebre mala desenhada por João Sabino, feita com teclas de computador, bem como outras inovações mais ou menos ambiciosas. Entre os pins feitos com peças de Lego, de António Azevedo; os acessórios de moda em cortiça, da Pelcor; as jóias contemporâneas de filigrana, desenhadas por Liliana Guerreiro, e a Tavares Chair, 1 Chapéu de chuva feito de cortiça, da Pelcor 2 PUF-FUP e Lagarta, da designer Ana Mestre, da Corque Design 3 Caixa de lápis de aguarela para a Viarco de Marco Sousa Santos, mais de cem peças estiveram em montra durante três meses no mais famoso museu de arte contemporânea do mundo. Encontrar traços comuns entre elas não é fácil. “Não diria, de facto, que existe uma escola ou uma identidade de design português”, diz Bárbara Coutinho, diretora do MUDE – Museu da História e do Design, em entrevista. Há, contudo, traços comuns a alguns dos caminhos escolhidos por estes designers das gerações mais recentes. “Assiste-se, em Portugal, a uma reinterpretação de algumas referências culturais e de materiais tradicionais como a cortiça, a madeira, o têxtil, a cerâmica ou o vidro”, acrescenta Bárbara Coutinho. “Temos assistido a uma investigação sobre estas matérias, desafiando por vezes os limites técnicos ou reformulando diferentes tipologias de objeto. Deteta-se, também, a permanência de técnicas tradicionais que permitem conservar a delicadeza específica da Importância da sustentabilidade o novo projeto de Jorge Moita resulta das parcerias com empresas. O designer estudou formas de potenciar os desperdícios de material impresso e desse trabalho estão a surgir candeeiros e vários tipos de peças que vão ao encontro da utilização do design ao serviço da sustentabilidade. Uma das ideias, já em prática, é a reabilitação de móveis antigos, forrados com desperdícios. Para Jorge Moita, esse é o desafio do momento. Bárbara Coutinho sublinha, também, a questão da sustentabilidade: “Encontramos em Portugal, como no contexto internacional, uma diversidade de atitudes e áreas de investigação, desde um design mais formalista a um design com maiores responsabilidades sociais que tem a sustentabilidade e a pegada ecológica como preocupações dominantes. Importante é a marca de excelência, inovação e atualidade.” montepio primavera 2012 47 2 a minha cidade reportagem design nacional filigrana A reabilitação da tradição 48 nn liliana guerreiro A designer portuguesa partiu da arte tradicional da filigrana para criar joias de caráter contemporâneo produção artesanal ou a exploração de modelos de fabrico alternativos.” Ana Mestre e o projeto Corque Design são um bom exemplo de dedicação à investigação de uma matéria-prima nobre e sustentável: a cortiça. “É um material que, a meu ver, expressa em pleno uma possível identidade nacional. Não só pelo material e grande disponibilidade industrial, mas também pela presença das tradições socioculturais e ambientais relacionadas com a exploração da cortiça na floresta de Sobro e ecossistema envolvente”, explica a designer portuguesa. Ana Mestre assinou, em 2004, o PUF-FUP, um assento desenvolvido a partir de uma linha de algodão contínua composta por 2 500 esferas de cortiça. O ateliê Corque Design foi um dos convidados a estar presente no MO.Ma. “Para a Corque, foi uma porta de entrada para o mercado dos Estados Unidos, pois a partir daí estabelecemos novos contactos que ajudaram a divulgar e a implementar a marca nos EUA e a promovê-la em termos internacionais”, elogia Ana Mestre. Além das peças já referidas e outras, como o banco Handle − peça de madeira e feltro com uma pega que permite pendurá-lo na parede, assinada por Fernando Brízio −, também estiveram presentes na seleção do MO.Ma faianças da Bordallo Pinheiro e outros exemplos de um Portugal dos anos 40 e 50. A peça mais vendida foi um exemplar do que hoje muitos chamam retrodesign: uma caixa de lápis Viarco, em cartão serigrafado. Mais de 300 foram compradas pelos visitantes do museu, segundo informação de José Vieira, administrador com funções na área de desenvolvimento de produto. Regresso ao passado A reabilitação de marcas como a Bordallo Pinheiro, a Vista Alegre e a Claus Porto, entre outras, procura dar resposta à procura interna de uma imagética de infância mas também atingir o mercado externo. Na opinião de Jorge Moita, são resquícios de uma autenticidade perdida mas muito procurada no estrangeiro. “A Europa tem uma tecnologia diferente, deu um salto que nós não demos, e produtos co- mo esses são muito valorizados lá fora”, garante. Mas a subsistência das empresas não depende só do respeito pela origem da marca e de toda a história passada – a capacidade de atualização é importante. Não terá sido sem motivo que Sandra Correia, a empresária que decidiu que a fábrica da família, em São Brás de Alportel, também poderia produzir guarda-chuvas de cortiça, foi eleita a “melhor empresária da Europa” em 2011. E é, com certeza, com visão estratégica que a Viarco, além dos lápis com a tabuada, usados nas escolas do Antigo Regime, se dedica à inovação através de parcerias com designers e artistas. Foi uma dica de um escultor que deu origem ao bastão de grafite, de 250 gramas, aguarelável, lançado pela Viarco. Sucesso internacional e sustentabilidade Bárbara Coutinho tem uma perspetiva mais otimista: “Atualmente, são múltiplas as iniciativas que vão dando a conhecer a criatividade nacional além-fronteiras. Quer seja através de eventos organizados por instituições como a ExperimentaDesign ou a Trienal de Arquitetura, quer seja a título individual, é progressivamente maior o conhecimento de Portugal no exterior”, diz. O próprio museu, além do seu papel no estudo, investigação, conservação, divulgação e apresentação do design nacional, contribui no apoio ao trabalho de designers nacionais através do programa Creative Lab, e propõe-se, com o tecido empresarial, trabalhar para a promoção e desenvolvimento de projetos nacionais específicos. “Assim poderemos contribuir para o estreitamento das relações entre o setor criativo e o setor empresarial ou industrial”, conclui Bárbara Coutinho. As novas faces da tradição É ao designer Miguel Neiva que se deve um dos produtos que mais deu que falar nos últimos tempos: os lápis com código de identificação de cor, para daltónicos, da Viarco. “Temos designers em Portugal ao nível dos melhores no Mundo. Falta-nos é capacidade de investimento para ter acesso às montras que permitem abrir novos mercados”, afirma José Vieira, administrador da Viarco. No caso da Viarco, a aposta está num crescimento sustentado, lento e prudente, mas as perspetivas são animadoras: os lápis com que tantas gerações aprenderam a escrever e a desenhar podem ser encontrados nos EUA, França, Itália, Alemanha e Chipre e, muito em breve, também no Brasil. montepio primavera 2012 2 a minha cidade entrevista comunidade Aposta no exterior A Vista Alegre e a cerâmica Bordallo Pinheiro contam hoje histórias de sucesso por helena viegas fotografia artur 49 Álvaro Tavares Administrador Vista Alegre em destaque vista alegre Além da internacionalização, aposta no poder criativo dos designers contemporâneos. Raphael bordallo-pinheiro Ao mesmo tempo que recupera moldes antigos e aposta no mercado vintage, a empresa convida artistas contemporâneos a reinterpretarem o legado de Raphael Bordallo-Pinheiro. “É impossível encontrar um defeito num produto da marca Vista Alegre Atlantis (VAA).” Álvaro Tavares, administrador da empresa, é perentório quando defende a excelência como imagem de marca da Vista Alegre, a que se junta uma preocupação com o design. “Somos das poucas fábricas no mundo com uma equipa de pintores que pintam manualmente peças magníficas como as aves, que são características da marca”, afirma. A preocupação para que cada peça conte uma história é outra das características que distingue a VAA. Desde sempre, a Vista Alegre – que pode ser encontrada nas mesas da Casa Branca ou da rainha Isabel II – procurou o equilíbrio entre as linhas clássicas e contemporâneas. A isto junta, atualmente, a aposta na inovação. O ID.Pool (International Design Pool) foi o programa de residências criado pela VAA, em Ílhavo, “que recebe jovens talentos internacionais nas áreas do design industrial, design gráfico e fotografia.” Recentemente foram lançadas linhas de artistas contemporâneos como Joana Vasconcelos, Nadir Afonso, Malangatana ou Eduardo Nery. Uma estratégia que se revelou acertada, deixando para trás os 18,4 milhões de euros de prejuízo registados em 2008, antes da OPA pelo grupo Visabeira. Tendo os mercados externos como motor da empresa – com destaque para o Brasil, Espanha e Inglaterra −, as exportações da VAA têm um peso crescente na faturação da empresa: 60% em 2011. Nuno Barra Diretor de Marketing VAA e Bordallo Pinheiro Quando, em 2009, o grupo Visabeira chegou à cerâmica Bordallo Pinheiro, a empresa estava prestes a fechar. Três anos depois o dinamismo voltou, com crescimentos de faturação na ordem dos 40%. O segredo está no reforço da internacionalização, reposicionamento da marca e novos produtos. Da estratégia fez ainda parte a recuperação dos moldes antigos. “É uma prioridade para manter vivo o legado de Raphael Bordallo-Pinheiro. É um processo moroso, que exige técnica e uma investigação aprofundada. Nem sempre é fácil mas é muito recompensador”, afirma Nuno Barra, responsável pelo marketing da empresa. Entretanto a Bordallo Pinheiro esteve presente na exposição Destination Portugal, no MO.Ma, em Nova Iorque, e as suas peças estão à venda em várias lojas de design. Para Nuno Barra, são as peças que fazem parte do ADN da empresa, como as andorinhas ou o serviço de couves, “um best seller em vários mercados”, aquelas que têm maior sucesso. Mas nem só de peças antigas se faz esta dinamização. O projeto BB − Bordalianos do Brasil, que sustentará a internacionalização naquele mercado, tem como objetivo o desenvolvimento de peças por 19 artistas plásticos brasileiros que reinterpretarão a obra de Raphael Bordallo-Pinheiro. montepio primavera 2012 2 a minha cidade opinião Gonçalo Byrne Arquiteto As muitas “Lisboas” da cidade Cidade em constante transformação, lisboa contém em si várias outras "cidades" com diferentes vivências e modos de ocupar o espaço público 50 Sou lisboeta desde o final dos anos 50 e Lisboa é, sem dúvida, a minha cidade. Como insinua Italo Calvino nas Cidades Invisíveis, a cidade donde se parte é a referência à qual sempre se acaba por voltar. Tenho uma relação de carinho com a cidade, um pouco influenciada, diria mesmo contaminada, pela minha vida de arquiteto. O que sempre me fascinou na cidade de Lisboa é o modo como expõe a sua permanente transformação ao longo de mais de dois mil anos. É um mostruário de cidades onde há um pouco de tudo. Desde logo, um padrão muito forte de cidade árabe espraia-se pelas encostas da primitiva alcáçova, a medina que se sobrepõe aos fragmentos da cidade romana que, em Lisboa, encontra na forte topografia uma grande resistência ao seu modelo hipodâmico. O terreno acidentado resiste à cidade em quadrícula e é mais propício à implantação de núcleos conventuais que se vão apropriando dos terrenos extramuros e no tempo, gerando à sua volta núcleos de urbanização mais ou menos espontâneos tortuosamente intercomunicáveis. As vias de maior continuidade desenvolvem-se “naturalmente” ao longo da margem do rio e dos vales que aí vão desaguar. Só na reconstrução da Lisboa moderna do Marquês de Pombal – com ilustres antecedentes como o Bairro Alto – é implementada a quadrícula iluminista. É fascinante a forma como a cidade se constroi ao longo do tempo. São pedaços que se articulam entre si, continuam vivos e adaptam-se à evolução dos modelos de vida, eles próprios em contínua mutação. As cidades são feitas por edifícios – palácios, igrejas, edifícios anónimos de rendimento – mas, mais marcante do que os edifícios é o local onde se desenrola a vida comum: o espaço público. Em Lisboa a experiência do espaço público é totalmente diferente quando se passa de Alfama para a Baixa, do Bairro Alto para a montepio primavera 2012 frente ribeirinha, de Campo de Ourique para os bairros novos de Alvalade. É uma diversidade espacial fascinante que enquadra a vida coletiva em toda a sua riqueza e complexidade. Contudo, as cidades são vulneráveis. Catástrofes como o Terramoto de 1755 – seguido de tsunami e de um longo incêndio – ou ações programadas, como a guerra, podem destruí-las. Mas a destruição mais eficaz é o abandono puro e simples. Quando se desliga a vida das estruturas construídas das cidades, estas entram em ruína. Isso é muito visível em determinados setores históricos da cidade de Lisboa, como a Baixa e, hoje, contagia praticamente quase todos os velhos centros urbanos deste país. Nos últimos anos assistimos ao fenómeno do centro da cidade em clara perda e ao aparecimento de uma nova Lisboa pujante, na zona da Expo. Ali a cidade tem todas as condições para ser uma cidade vivida, competitiva, muito classe média, beneficiando da Gare do Oriente, que é o centro de maior acessibilidade de todo o país. Contudo, a Lisboa com que mais me identifico é a dos Olivais, onde habito desde o início dos anos 70 e de onde dificilmente sairia. É um modelo de cidade que segue os princípios largamente expandidos após a Segunda Guerra Mundial que hoje se estabilizou numa população interclassista e num quadro ambiental bastante qualificado apesar das críticas possíveis. Mas Lisboa tem que ser vista em conjunto: Olivais é o que é porque também existe um Bairro do Castelo, da Lapa ou de Campo de Ourique. A sua identidade global deriva dum arquipélago de áreas que se complementam e a sua construção faz-se, sobretudo, a partir da convergência de vontades e de esforços. O processo de divergências desfaz a cidade, não a faz. Hoje geram-se dois fenómenos opostos – por um lado o abandono e a expressão destruidora, e por outro a reação da extrema conservação, como se a cidade construída se pudesse conservar intacta imersa em formol. E essa visão é brutal para a cidade. As cidades são coisas vivas. A identidade ou se recria e reinventa e segue vivendo, ou se vai extinguindo e transformando em arqueologia. A identidade ou se recria e reinventa e segue vivendo, ou se transforma em arqueologia A MINHA economia Produtos financeiros, sugestões e empreendedorismo página 52 página 56 página 58 página 62 Em ano de crise conheça 10 regras de ouro que ajudarão a gerir o seu dinheiro O Professor João Caraça revela-lhe os benefícios de algumas ideias perigosas Um Guia para preencher corretamente a declaração de impostos, potenciando ganhos Faça um orçamento, pense no futuro e aprenda a amealhar finanças OPINIÃO IRS poupança 3 a minha economia Finanças pessoais estratégias para a vida 10 regras de ouro para o seu dinheiro 52 Alcançar sucesso financeiro não é uma ciência, mas algumas regras são fundamentais para uma tese ganhadora Na gestão dos seus recursos. Saiba o que FAZER PARA dar um destino promissor às suas finanças por nuno silva montepio primavera 2012 “Estar preparado é metade da vitória.” Para a maioria dos portugueses não é necessário recorrer à célebre frase de Miguel de Cervantes para saber que, assim como poucas coisas na vida se alcançam sem preparação e esforço, também nas finanças a história não é diferente. Quantos não sonharão com a desejada independência financeira, vivendo anos de descanso à sombra dos rendimentos. Sonhos que passam por seis zeros depois de um simples 1 ou por um prémio de uma qualquer totolotaria que transforme um mero trabalhador num milionário. Se quer vencer a batalha com as suas finanças e alcançar sucesso financeiro, prepare-se para tornar os seus sonhos mais reais. As 10 regras que se seguem não são mandamentos mas ajudam na hora de decidir o amanhã. 01 Faça um orçamento Imagine que estava a gerir um qualquer negócio sem ferramentas de gestão, navegando à vista. Será que saberia quais as suas despesas ou receitas futuras e se este modelo resistiria durante muito tempo? Não é por acaso que as empresas possuem, por exemplo, um orçamento. Fazer previsões ajuda a perceber e a enfrentar melhor os cenários traçados. Por isso, pense na sua família como uma microempresa, que tem receitas (os salários, pensões ou juros de investimentos) e despesas (prestações de créditos, rendas ou contas de serviços) e maximize o que pode tirar dela. O objetivo? Libertar dinheiro para poupar, isto é, reduzir a despesa desnecessária e aumentar os seus lucros caseiros. Dica: Antes de fazer o orçamento, aponte todas as despesas durante alguns meses para conhecer bem o seu padrão de gastos e rendimentos. Além disso, controle com frequência a conta bancária para saber se está a cumprir com o planeado. Número: Os indivíduos entre os 25 e os 39 anos são os que consideram mais importante a execução de um orçamento, segundo um inquérito do Banco de Portugal (ver artigo p. 62). 02 Poupe sempre Poupar, poupar, poupar. Não é novidade, mas podia ser o slogan de uma vida financeira equilibrada. A maioria dos manuais de finanças aponta para uma poupança de 10% do rendimento mensal como a poupança ideal, mas não é uma regra que muitos possam seguir. “Claro que, se apenas conseguirmos poupar, numa fase inicial, cinco por cento do que ganhamos, também é bom – é um começo”, pode ler-se no livro Tempos Complicados, Soluções Simples, da jornalista Bárbara Barroso. Dica: Comece por transferir para os seus investimentos (conta poupança, depósito, reforço de um fundo de investimento) uma fatia do seu salário antes de começar a pagar as suas contas. Número: 48% dos portugueses dizem não fazer poupança. O principal motivo está na falta de rendimento que o permita. 03 Tenha um plano Se folhear as páginas de um dos muitos manuais de finanças pessoais à venda em Portugal vai certamente encontrar um capítulo, um separador ou algumas páginas sobre o planeamento dos seus investimentos. E a razão é simples: para conseguir ter sucesso financeiro tem que ter objetivos. Aqui vai precisar de conhecer-se, saber que produtos financeiros há no mercado à sua disposição e constituir uma carteira equilibrada para atingir as suas metas. Comprar casa, preparar a reforma ou pagar os estudos de um filho são objetivos possíveis numa família. Dica: Comece o seu plano fazendo as perguntas: Onde? Como? Quando? Se souber para onde quer ir com o seu dinheiro, como pode fazer para lá chegar e quanto tempo tem para alcançar o destino, será mais fácil realizar os seus desejos. Junte a isto produtos que se ajustam ao seu prazo de investimento e à sua situação financeira e terá uma possível receita para um plano saudável. Número: 58% dos portugueses constituem poupanças para cobrir uma situação de despesa imprevista. 04 Conheça o seu perfil Há investidores para todos os gostos: aspirantes a acionistas, quando conhecem histórias de lucros fabulosos dos seus amigos, sem coragem para enfrentar as bolsas; os que gostam de correr riscos e aumentar o potencial ganho com o seu investimento até aos que procuram jogar com o melhor dos dois mundos: risco pela metade, retornos potenciais equivalentes. Normalmente os investidores separam-se em categorias como conservador (prefere investimentos de menor risco), moderado (mistura investimentos de risco médio – dívida – com pequenas parcelas de risco baixo e elevado) e agressivo (está disposto a tomar risco elevado na sua carteira em instrumentos com maior potencial de valorização, como as ações). Dica: Procure sempre investir em produtos que, pelo menos, cubram a taxa de inflação correspondente ao seu período de investimento. Se cobrir a subida dos preços vai aumentar o seu poder de compra. Para conhecer o retorno líquido dos seus investimentos deve retirar aos ganhos o valor de impostos e das comissões. Número: No momento de escolher os produtos financeiros, 26% dos portugueses dão maior importância ao risco e 27% consideram mais importante a rendibilidade. 05 Diversifique os investimentos Para não estar exposto aos humores de um "cavalo de corrida" o melhor é equilibrar a sua carteira de investimentos. Tenha uma base de liquidez para fazer face a imprevistos e depois expanda a carteira conforme o seu perfil de risco. Mais ações permitem sonhar com maiores retornos mas têm maior risco. Menos mercados bolsistas potenciam menores ganhos mas traduzem-se em menor volatilidade. Se gosta de ações e tem pouco capital para investir, a solução pode ser um fundo de investimento. Dica: “Uma diversificação ampla só é necessária quando os investidores não percebem o que estão a fazer”, afirma Warren Buffett, um dos mais famosos investidores do mundo. Número: Segundo o Inquérito à Literacia Financeira do Banco de Portugal, 1% dos portugueses detém obrigações, 3% fundos de investimento, 4% ações e 31% depósitos a prazo. ações títulos montepio primavera 2012 53 3 a minha economia finanças pessoais regras para o seu dinheiro Quanto menor a idade, maiores as possibilidades de manter em carteira ativos com risco elevado como ações 25 aos 40 anos 5 % 30 % 65 % 54 40 aos 65 anos { Liquidez { Obrigações { Ações 10 % 20 % 70 % Toda a proteção é útil na hora de falar de dinheiro. Se não tem uma poupança para enfrentar um imprevisto, comece por procurar constituir um produto financeiro de baixo risco (depósito, conta poupança) que albergue poupanças que mantenham as suas despesas correntes por um período entre 3 e 6 meses. Além disso, mantenha o seu património bem seguro. A casa, o carro e a família devem estar bem protegidos. Se o seu rendimento é fundamental para a sua casa, equacione a realização de um seguro de vida que proteja a família em caso de infortúnio. Dica: Não dobre as coberturas dos seguros e leia bem os contratos que efetua. Além disso, não atrase a ida ao banco para fazer o seguro porque poderá ser tarde. Número: Os seguros são os produtos financeiros que mais portugueses têm depois da conta bancária. 37% dizem ter algum tipo de seguro, o que mostra a importância destes. Juros com mais juros. É isto que poderá fazer com a capitalização dos rendimentos dos seus investimentos através dos juros compostos. Por exemplo, se constituir um depósito que pague regularmente juros e os reinvestir vai estar a criar dinheiro do dinheiro ganho no banco. Não é por acaso que Albert Einstein se referia à capitalização como “a força mais poderosa do universo”. Se conseguir ganhar dinheiro nas suas aplicações e voltar a receber algum rendimento pelo investimento desse acréscimo ao seu património, estará no bom caminho. Dica: Procure produtos de poupança que possibilitem a capitalização dos juros ou faça você o trabalho de casa, reinvestindo o dinheiro que ganha nos seus investimentos. Número: Se fizer duas aplicações, uma com juros simples e outra com juros compostos, de 1 000 euros a 10 anos, com juros de 5%, terá, no final, 1 500 euros com os juros simples e 1 628,9 euros capitalizando. Capitalize O “milagre” da capitalização O “milagre” da capitalização 65 anos em diante { Liquidez { Obrigações { Ações 07 Proteja a sua família Carteiras possíveis para diferentes idades { Liquidez { Obrigações { Ações 06 Como Como crescem 1000 euros euros taxa com de taxa jurode dejuro 5% por 5% ano por ano crescem 11000 000com euros com uma taxa dede juro de 5% por ano 5 % 25 % Juros Simples Juros Simples Juros Compostos Juros Compostos 1 2761€276 € 1 2501€250 € 70 % montepio primavera 2012 5 anos5 anos 1 5001€5001€6291€629 € 10 anos 10 anos 08 Procure educação financeira “A formação financeira tem um papel importante, quer no apoio às decisões do quotidiano, quer na tomada de decisões financeiras complexas, como a escolha de aplicações de poupança ou de crédito de longo prazo para financiamento de habitação.” A importância de saber mais sobre as questões relacionadas com o seu dinheiro está assim descrita no Plano Nacional de Formação Financeira, uma iniciativa dos reguladores nacionais como o Banco de Portugal, o Instituto de Seguros de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Procure informar-se antes de subscrever um produto financeiro e conhecer melhor os mecanismos que podem ajudar a decisões acertadas nas suas finanças. Dica: Pela Internet, através de manuais de finanças pessoais, ou lendo informação diária económica, pode ficar com uma ideia melhor do mundo que rodeia a sua vida financeira. Para seu bem, seja curioso. Número: Apesar da larga percentagem de portugueses com créditos à habitação, apenas 9% dos entrevistados no inquérito do Banco de Portugal de 2010 sabiam o que é a Euribor e só 17% o que é o spread. 09 Pense já na reforma Poupar para a reforma não é para os mais velhos. O futuro depende muito do que faz no presente, por isso não perca tempo se quer começar hoje a preparar o seu descanso. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, em média a esperança de vida de um português aos 65 anos é de viver ainda mais 18 anos, período que vale a pena saborear com o conforto das poupanças. Se está longe da idade da reforma procure maximizar as suas poupanças. As ações são um ativo com risco elevado, mas a distância do caminho permite aliviar um pouco a elevada volatilidade dos mercados. Dica: Nunca esqueça a inflação, os impostos e as comissões dos seus investimentos. Estas variáveis podem determinar se tem ganhos reais ou se perde dinheiro durante os anos de aforro. Além disso, ajuste os objetivos de poupança: 50 mil euros hoje não valem o mesmo daqui a 30 anos. Número: Segundo o estudo sobre reformas Pensions at a Glance 2011, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a taxa de substituição de um trabalhador português com salário médio ronda os 65,5%. Isto é, a primeira pensão que recebe representará 65,5% do último salário. 10 Seja feliz Se todos os pontos anteriores contribuírem para andar menos preocupado, certamente ficará também mais feliz e terá tempo para fazer o que mais aprecia com quem mais gosta. Ponha em prática a sua estratégia de ouro para um caminho financeiro regrado e mais confortável. Segundo alguns trabalhos académicos, a felicidade parece estar relacionada com uma situação financeira desafogada, com a partilha com os outros, em caridade, com a vivência de experiências em detrimento dos bens materiais e com a existência de fortes laços sociais. 55 11 467 € 11 467 € 2 653 € 2 000 2 000 € €2 653 € anos 20 20 anos 3 500 3 500 € € 50 anos 50 anos montepio primavera 2012 3 a minha economia opinião João Caraça Professor do ISEG Podem as ideias perigosas ser uma saída para o País? As ideias perigosas alteram a ordem existente, antecipam o futuro e originam uma nova forma de estar na vida 56 Foram as ideias que tivemos ao longo da nossa evolução histórica que nos trouxeram ao nível de organização social e tecnológica que vivemos hoje. Naturalmente, muitas e muitas mais ideias houve sobre como conseguir melhorar condições, defender-nos dos perigos, proteger-nos das intempéries ou, simplesmente, sentirmo-nos melhor e mais seguros no convívio com os outros. Mas houve ideias fundadoras que tiveram uma qualidade diferente: foram postas em circulação e, bem ou mal, adotadas por cada vez maiores frações das comunidades a ponto de tornarem dominante a sua prática. Foram ideias perigosas porque alteraram a ordem existente e criaram uma nova. Esta ordem social tem que ver com o espaço e com o tempo, com a dimensão das populações, com a distância, com os meios de comunicação e as circunstâncias do ambiente, bem como com o próprio percurso histórico. Normalmente, esta ordem social é garantida por um poder, ou poderes, cuja função é impedir a sua alteração. Por este motivo, uma ideia é tanto mais perigosa quanto mais poderosa é a organização que afronta. Sabemos como as navegações oceânicas e a circum-navegação do globo, a emergência da ciência moderna e a revolução industrial, foram geradas por ideias muito perigosas: é que a sua circulação e aceitação pelos cidadãos mudou a própria visão do mundo e a maneira como orientamos a nossa produção de conhecimento para continuarmos a viver à superfície da Terra. Numa situação de crise prolongada e estrutural como nos encontramos é f Houve ideias fundadoras que tiveram uma qualidade diferente: foram postas em circulação e (...) adotadas por cada vez maiores frações das comunidades a ponto de tornarem dominante a sua prática. Foram ideias perigosas porque alteraram a ordem existente. montepio primavera 2012 natural que apareçam “receitas” recicladas que pretendem que a sua aplicação nos fará voltar à situação em que estávamos (isto é, sob o domínio dos poderosos do momento). Mas esta é uma perigosa falácia. Se alguma coisa aprendemos com os nossos antepassados é que tudo está sempre a mudar. E que há que forjar novas iniciativas, organizar as pessoas de novos modos, para tirar partido das novas condições. A História não se repete. Quem imaginaria em 1970 que os computadores e as suas redes, bem como os satélites de comunicações, se iriam tornar na infraestrutura comunicacional que faz funcionar o globo e os seus sete mil milhões de habitantes? Há que entender o mundo para nele podermos vislumbrar oportunidades. Se não anteciparmos o futuro não faremos parte dele. Só um conjunto arrojado de ideias perigosas nos permitirá antecipar e construir a nova forma de estar na vida. Uma ideia é tanto mais perigosa quanto mais poderosa é a organização que afronta 3 a minha economia irs guia do IRS Faça contas aos seus impostos 58 Conheça as deduções que pode fazer no IRS e saiba como declarar os seus investimentos por jorge pires Anexo A ^Se os seus rendimentos Os anexos a preencher Quais os anexos por categorias de rendimento resultaram de trabalho por conta de outrem ou de pensões, então o anexo a entregar, em papel ou pelo portal das Finanças, é o A. É neste que vai identificar o valor do seu rendimento anual, bem com as retenções decorrentes do seu trabalho. Anexo B ^O anexo B é onde montepio primavera 2012 deverão constar os rendimentos profissionais e empresariais dos contribuintes. Por exemplo, um trabalhador prestador de serviços (recibo verde), sem contabilidade organizada, deve preencher este anexo. Além disso, é necessário ter em conta que este anexo é individual. Ou seja, se os dois cônjuges de um agregado tiverem rendimentos desta categoria têm de entregar dois anexos. Anexo C ^Se é trabalhador independente, isto é, tem rendimentos profissionais e empresariais e optou por, ou está obrigado a ter, contabilidade organizada, deve preencher este anexo que tem que ser assinado por um Técnico Oficial de Contas (TOC). Março é sinónimo de faturas, recibos, máquina de calcular e de muitas contas. Um mês que é sinónimo de impostos para a grande maioria dos portugueses, com a abertura do período de entrega da declaração do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (IRS) referente aos rendimentos do ano anterior. Se, na década de 1980, altura da introdução deste imposto direto, os contribuintes mantinham uma relação com o fisco em papel, agora a tecnologia alterou o padrão declarativo, com a Internet a ser o veículo de relação com o Estado, evitando assim a ida às repartições de Finanças, onde as filas poderiam durar várias horas. Em 2011 foram submetidas mais de 4,3 milhões de declarações de IRS em Portugal, a maioria respeitante a rendimentos de pensões e trabalho por conta de outrem. Um bom conhecimento das questões relacionadas com o IRS, mas sobretudo um bom preenchimento, a tempo e horas, do Modelo 3 e dos seus anexos, pode evitar alguns dissabores e fazer com que consiga otimizar a sua carteira. Claro que o que vai fazer agora é o culminar de um processo que deveria ter começado no início de 2011, com a organização e recolha de toda a sua documentação elegível para abater o peso do imposto. Agora é tempo de fazer contas, preencher a declaração e saber se vai pagar ou receber nesta sua relação com o fisco. Saber mais sobre o IRS pode ser o caminho para uma declara- Anexo E ^Os rendimentos de capitais devem ser incluídos no anexo E. É neste que, caso opte pelo englobamento, que é facultativo, deve incluir os rendimentos de aplicações de capitais (juros de depósitos ou dividendos). Anexo F ^Se tem rendimentos de rendas de imóveis, então Exemplo prático Como se calcula o IRS O cálculo do IRS parece complexo mas a Montepio tenta torná-lo mais simples. Pedro e Maria não têm filhos. Trabalham por conta de outrem e cada um recebe 1 000 euros brutos por mês. O Pedro gastou 4 000 euros em educação e a Maria 1 000 euros em saúde. No crédito à habitação gastaram 3 000 euros. Como é feito o cálculo do IRS desta família? Os rendimentos ascenderam a 28 mil euros e a retenção na fonte foi de 9% para cada um – 2 520 euros no total. As deduções específicas traduzem-se em 72% de 12 vezes o salário mínimo (em 2011 este valor foi 4 104 euros, o que dá uma dedução de 8 208 euros). A taxa de imposto sobre o rendimento coletável corrigido às taxas em vigor, será de 24,5%, sendo a parcela a abater de 900,5 euros. Nas deduções à coleta o casal tem direito a deduzir 261,25 euros ção de rendimentos bem preparada, especialmente se isso puder significar uma otimização das suas despesas anuais para conseguir diminuir o peso do IRS. Saúde, educação, habitação, energias renováveis, lares e algumas aplicações são classes de despe- tem que os declarar através do anexo F, o documento referente aos rendimentos prediais. Anexo G ^Se obteve mais ou menos-valias patrimoniais, estas devem ser declaradas no anexo G. É neste que deve inscrever o que ganhou ou perdeu na bolsa de valores ou com a venda de imóveis, por exemplo, desde que não tenham qualquer tipo por cada um e ainda despesas de educação, saúde e habitação. Na saúde não há limite, mas só podem ser deduzidos 30% dos gastos. Já as despesas de educação e habitação são deduzidas em 30%, com tetos máximos de 760 euros e 591 euros, respetivamente. No final, esta família conseguiria recuperar 1 645,46 euros. sas que dão direito a dedução à coleta, podendo baixar o pagamento de imposto ou aumentar o reembolso por parte do Estado. Junte as suas faturas de 2011, esteja atento às datas das suas obrigações e perceba como funciona o IRS. de isenção. Essas isenções não implicam que não tenha que declarar o que ganhou ou perdeu. As mais-valias não tributadas devem ser declaradas no anexo G1. Anexo H ^Depois de apresentar os seus rendimentos, é hora de apresentar as deduções à coleta e os benefícios fiscais através do anexo H. As deduções à coleta podem ser, por exemplo, as despesas com saúde, educação ou habitação, enquanto os benefícios fiscais advêm do investimento em planos poupança-reforma (PPR) ou das ações dos contribuintes em relação ao ambiente, como é o caso da aquisição de painéis solares. montepio primavera 2012 59 3 a minha economia Deduções à Coleta e Benefícios Fiscais irs entrega da declaração Como o IRS afeta os seus investimentos Os investimentos, a par dos rendimentos, são uma fatia importante do seu património. Assim, impõe-se saber como os investimentos funcionam na hora de os declarar 60 Depósitos A declaração dos juros dos depósitos a prazo ou à ordem não é de caráter obrigatório, já que os juros que o depositante recebe incluem os impostos retidos (a taxa liberatória foi de 21,5% até 31 de dezembro de 2011). Ainda assim, pode recuperar parte do imposto retido nos juros das suas aplicações financeiras se o rendimento coletável do seu agregado ficar num escalão com taxa de imposto inferior à já paga no momento do recebimento dos juros (21,5%). pExemplo: Pedro, residente em Portugal Continental, teve um rendimento coletável de 6 500 euros em 2011 e fez um depósito de 2 000 euros a um ano com uma taxa anual nominal bruta (TANB) de 3,5%. Esse depósito gerou juros líquidos de 54,95 euros, depois de terem sido descontados 15,05 euros em sede de IRS (o total dos juros seria de 70 euros). Como os rendimentos do Pedro estão incluídos no segundo escalão do IRS, pode recuperar parte do imposto pago com os juros do depósito. Neste exemplo, Pedro recuperaria 5,25 euros: [(70 € x 21,5%) – (70 € x 14%) = 5,25 €] Ações As bolsas de valores apresentam dois tipos de rendimentos: os dividendos e as mais-valias. Em relação aos dividendos, foram taxados a 21,5% até ao final de 2011 e não tem que os declarar porque a taxa de imposto é retida pela entidade pagadora do dividendo. Mas, se optar pelo englobamento, terá que declarar apenas 50% dos dividendos através do anexo E do Modelo 3. As mais-valias ou menos-valias bolsistas são de ca- montepio primavera 2012 ráter obrigatório na sua declaração e são calculadas na diferença entre o preço de compra e de venda, englobando as comissões. As mais-valias até 500 euros não são taxadas e acima desse montante a taxa é de 20%. Obrigações Tal como nas ações, as mais-valias realizadas com obrigações são de declaração obrigatória. Os juros dos cupões das obrigações podem ou não ser englobados no seu rendimento. Se optar pelo englobamento terá que incluir, também, os juros dos depósitos a prazo e demais investimentos. Fundos de investimento As mais-valias realizadas através da venda de unidades de participação em fundos de investimento já vêm de forma líquida para o subscritor e a sua declaração não é obrigatória. Mas, se decidir englobar esses rendimentos, tem que registar todos os juros de obrigações e depósitos realizados. Agenda Datas a reter ^Março Entrega da declaração de rendimentos Modelo 3, em suporte de papel, se teve rendimentos das categorias A (trabalho dependente) e/ou H (pensões). ^Abril Entrega da declaração de rendimentos Modelo 3, pela Internet, se declarar rendimentos das categorias A (trabalho dependente) e/ou H (pensões). Entrega em papel do Modelo 3 para os contribuintes com rendimentos de outras categorias que não apenas A e H. ^Maio Entrega da declaração de rendimentos Modelo 3, pela Internet, se declarar rendimentos de categorias que não a A e/ou H, como B (empresariais e profissionais), E (capitais), F (prediais) e G (mais-valias). Nos últimos anos houve algumas mudanças nas deduções à coleta e nos benefícios fiscais Os limites foram impostos pelo Executivo, através do Orçamento de Estado, e, assim, os contribuintes vão ter menos benefícios ou deduções em relação a anos anteriores. No entanto, é nos benefícios fiscais que os contribuintes vão sentir a maior quebra, já que a dedução até ao limite máximo será permitida apenas nos dois primeiros escalões de rendimento e, nos restantes escalões, as deduções variam entre os 100 e os zero euros. Habitação PDedução possível: De 591 € até 886,5 € Em relação às deduções à coleta, a habitação, a saúde e a educação continuam a ter um papel essencial no seu IRS. Quanto à habitação, na declaração de IRS de 2011 pode deduzir 30% dos juros e amortizações em habitação própria permanente do próprio ou arrendatário, com um limite máximo de 591 euros. Gozam da mesma dedução as prestações para cooperativas de habitação. Este limite sobe até aos 886,5 euros, decorrendo do escalão de rendimentos do agregado, e aos 650,1 euros se a habitação tiver uma classificação energética de A ou A+. Os arrendatários ao abrigo do Regime de Arrendamento Urbano e do Novo Regime de Arrendamento Urbano podem deduzir 30% do valor das rendas, com um limite de 591 euros. Saúde PDedução possível: Sem limite nos bens e serviços isentos ou com taxa de IVA de 6% Na saúde pode deduzir 30% das despesas com bens e serviços isentos de IVA ou com taxa de 6% e juros contraídos para pagamento das mesmas, sem qualquer limite. A aquisição de outros bens e serviços com taxa superior só será aceite mediante receita médica e as deduções chegarão, no máximo, a 65 euros ou 2,5% das restantes despesas. futuro Produtos de reforma O s PPR mantêm uma dedução máxima possível de 400 euros, enquanto os certificados de reforma, emitidos pelo Estado, continuam a apresentar um potencial de dedução de 350 euros. O problema é que só os dois primeiros escalões de rendimentos conseguirão obter este valor de dedução. Educação PDedução possível: Energia PDedução possível: Seguros PDedução possível: As deduções ascendem a 30% das despesas de educação e formação profissional. Apenas as despesas dos titulares de rendimentos e dos dependentes a frequentar instituições de ensino reconhecidas oficialmente podem ser incluídas nas deduções, com um limite máximo de 760 euros. Por cada dependente, em agregados com três ou mais dependentes, existe a possibilidade de deduzir mais 142,5 euros. Melhoramentos térmicos, equipamentos novos de energias renováveis e aquisição de veículos exclusivamente elétricos também podem valer uma dedução de 30% do valor gasto, com um limite máximo de 803 euros. Contudo, tenha em atenção que qualquer uma destas despesas só pode ser deduzida uma vez num período de quatro anos. Os prémios de seguros que cubram exclusivamente saúde são passíveis de dedução em 30%, com o limite de 85 euros por sujeito passivo/170 euros por casal. Os prémios de seguros de acidentes pessoais e de vida continuam a poder ser deduzidos em 25% pelos portadores de deficiência ou trabalhadores em profissões de desgaste rápido. 760 € Lares PDedução possível: 403,75 € Além das deduções mais comuns, existem outras que podem ser bastante importantes para reduzir a fatura do seu IRS. Por exemplo, o contribuinte pode deduzir 25% dos encargos com lares dos titulares, bem como dos encargos com lares e residências autónomas para pessoas com deficiência, seus ascendentes e colaterais, até ao 3º grau, com um limite de 403,75 euros (desde que os ascendentes não aufiram um rendimento mensal superior à retribuição mensal mínima – 485 euros). 803 € 85 €/170 € Benefícios fiscais O s benefícios fiscais sofreram alterações. Nos PPR, apesar de continuarem a gerar um benefício fiscal máximo de 400 euros, existem limites de dedução para rendimentos coletáveis acima do segundo escalão. Veja quais os limites de deduções e faça as contas. Rendimento coletável Dedução à coleta Benefício Fiscal Até 4 898 euros Sem limite Sem limite Entre 4 898 e 7 410 euros Sem limite Sem limite Entre 7 410 e 18 375 euros Sem limite 100 euros Entre 18 375 e 42 259 euros Sem limite 80 euros Entre 42 259 e 61 244 euros Sem limite 60 euros Entre 61 244 e 66 045 euros Sem limite 50 euros Entre 66 045 e 153 300 euros 1,666% do rendimento coletável. Limite de 1 100 euros 50 euros Acima de 153 300 euros Limite de 1 100 euros 0 euros montepio primavera 2012 61 3 a minha economia finanças pessoais Dinheiro 62 Como fazer um orçamento familiar por rute marques Seguir o rasto aos seus rendimentos e despesas mensais pode não ser apelativo mas é essencial para evitar desperdícios de dinheiro. Saiba como fazer um mapa de receitas e despesas para controlar as suas finanças montepio primavera 2012 Nem sempre é fácil cumprir as obrigações financeiras mensais e quase todos os dias é necessário tomar decisões que influenciam o cash-flow da família, quer sejam as compras na mercearia ou as despesas com a eletricidade. Se chega ao final do mês com a conta a descoberto ou a contar os cêntimos que lhe restam é urgente começar a fazer um orçamento familiar, uma peça fundamental na boa gestão das suas finanças. Segundo o Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa, realizado pelo Banco de Portugal em 2010, 89% dos 2 000 entrevistados consideraram “importante” ou “muito importante” o planeamento do orçamento familiar. Por isso, está na altura de pensar no que é importante: o seu futuro. Um orçamento familiar implica tomar decisões e fazer escolhas nos consumos para manter as finanças na linha. Para muitas pessoas pode ser a chamada à realidade que tanto procuram evitar mas que marca o começo de uma nova vida financeira, alicerçada numa gestão pessoal rigorosa e realista. O objetivo? Libertar poupança para o futuro. Se as palavras “orçamento caseiro” lhe provocam a mesma reação que a matemática a muitos portugueses, este artigo mostrar-lhe-á a importância que os números e as contas podem ter na sua vida. Anotar todos os cêntimos que gasta, saber ao pormenor o dinheiro que entra e sai da sua conta bancária e tomar decisões com base nos recursos que possui são as armas que tem ao alcance para criar um orçamento “blindado” a crises económicas. Chega de desculpas Quando pensa em fazer um orçamento familiar a primeira ideia que lhe ocorre é que terá que privar-se de fazer o que mais gosta, começar a cortar nos seus hobbies preferidos, na ida mensal ao cinema ou no jantar fora uma vez por semana. Nada mais errado; aliás, é exatamente o oposto. Na realidade, criar e gerir um bom orçamento caseiro permite-lhe libertar dinheiro “mal gasto” das suas despesas mensais que poderá ser utilizado para gastar mais tarde no que quiser, seja na viagem às Maldivas que sempre idealizou ou na entrada para a casa dos seus sonhos. Outra das desculpas mais comuns entre os avessos ao orçamento familiar é que têm que gastar todo o dinheiro que ganham para conseguir viver no dia a dia, portanto o orçamento não terá qualquer utilidade e é apenas uma perda de tempo. Mais uma vez, esta linha de pensamento está errada. A principal vantagem de aprender a administrar o seu dinheiro e criar o seu orçamento familiar é que este ato vai proporcionar-lhe a experiência de viver dentro das suas reais condições financeiras. Esta é a melhor arma com que pode equipar-se para combater a crise económica e não gastar mais do que ganha. Em resumo, o orçamento familiar força-o a examinar onde e como é que realmente gasta o seu dinheiro. Pode parecer-lhe penoso, mas será, de certeza, compensatório. Como faço? Seguir o rasto às despesas não é difícil. Alguns gostam de utilizar software específico, outros preferem o Excel e há ainda os que optam por utilizar caderno e caneta. orçamento familiar Regras de ouro de um orçamento Rendimentos (+) ^O primeiro conceito a reter dica Como detetar erros no orçamento familiar A forma mais fácil de encontrar as fugas no orçamento familiar é observar as despesas variáveis e descobrir onde pode poupar. Adicionalmente, pode ajustar as despesas fixas ao reduzir os serviços que utiliza mensalmente – por exemplo, reduzir a conta do serviço triple play (Internet, televisão e telefone) subscrevendo menos canais televisivos. 89% 89 % dos 2 000 entrevistados consideraram “importante” ou “muito importante” o planeamento do orçamento familiar. Destes 89%, um total de 82% afirmam fazer este planeamento com uma periodicidade, pelo menos, mensal. fonte: BANCO DE PORTUGAL, RELATÓRIO DO INQUÉRITO À LITERACIA FINANCEIRA DA POPULAÇÃO PORTUGUESA 2010 quando está a fazer o orçamento familiar é saber todas as suas fontes de rendimento e quanto é que cada uma vale todos os meses. Nesta secção deve colocar todos os rendimentos provenientes de salários, pensões, rendimentos de propriedade como rendas, mais-valias e juros de investimentos, apoios sociais e subsídios, entre outros. Qualquer entrada de rendimento deve estar no seu orçamento. Uma vez apurados os rendimentos, é altura de somar tudo e decidir quanto gostaria de poupar por mês. Escreva esse número para não o esquecer. Despesas fixas (-) ^Depois de apurados os rendimentos é hora de olhar para as despesas fixas. Nesta secção escreva todas as despesas fixas como a mensalidade do crédito à habitação ou a renda. Para as despesas fixas variáveis, como a conta da água ou luz, tem duas opções: utilizar uma estimativa dos gastos ou os valores do mesmo mês no ano anterior. Se optar pela estimativa, assegure-se de que os números que está a utilizar são um pouco acima do normal, em vez de abaixo da média, para não ficar exposto a surpresas. Despesas variáveis (-) ^Uma vez determinados os rendimentos que todos os meses chegam à conta do agregado familiar e quais as despesas fixas (ou seja, que o valor não muda consoante o consumo), é altura de analisar as despesas variáveis: aquelas que, não sendo essenciais à existência da família, são importantes para haver qualidade de vida. Exemplos destas despesas são os combustíveis, o vestuário ou as refeições fora de casa. montepio primavera 2012 63 3 a minha economia Faça como lhe der mais jeito, mas comece hoje mesmo a seguir o rasto das suas despesas. Crie, todos os meses, um mapa de despesas e receitas novo que lhe permita estimar a repartição dos consumos nos meses seguintes e ter uma noção real dos rendimentos disponíveis. O orçamento familiar será o seu mapa de consumo, por isso tem que criar um para cada mês do ano, como se de um calendário se tratasse. Além das despesas fixas mensais deve colocar despesas variáveis (água e luz, por exemplo) e aquelas pontuais mas que vão pesar no seu bolso (combustível, pequeno-almoço no café e calçado, por exemplo). 64 Da teoria à prática Um exemplo prático da importância das despesas pontuais no orçamento caseiro são os seguros. Quase todas as famílias têm, pelo menos, um seguro automóvel e um seguro de habitação, sendo que a maior parte dos agregados familiares optam por fracionar o pagamento destas despesas. Ou seja, preferem desembolsar os valores dos seguros do carro e habitação duas ou mais vezes por ano em vez de pagarem a quantia de uma só vez, para que não seja tão penoso. Neste caso, o ideal é dividir o valor anual por 12 para ter um número mensal como referência na estimativa das suas despesas. pExemplo: Se o seguro do seu automóvel lhe custa 120 euros por ano, deve colocar uma entrada mensal de 10 euros no seu orçamento familiar. Em resumo, deve: apontar todos os seus gastos (incluindo os que considere menores) durante um período de tempo, que pode ser um mês, fazer contas a quanto pesa cada área da sua vida financeira, detetar as despesas que estão a mais e cruzar, no mês seguinte, os seus rendimentos com as estimativas de despesa. Quando este processo se fizer sem reparar, estará no caminho certo e a poupar. montepio primavera 2012 Defina o que quer na vida Não existem dois orçamentos iguais pois as despesas variam consoante o agregado e os objetivos. No entanto, há indicações genéricas quanto à percentagem que cada família deve gastar. Por exemplo, os créditos do agregado não devem exceder 40% dos rendimentos familiares. Os pequenos ajustes são feitos por si, a decisão é sua. Se não dá para usufruir de todos os prazeres da vida, terá que escolher. Cumprir objetivos requer algum espírito de sacrifício, pois tem que reservar dinheiro para os alcançar, diminuindo as quantias que gasta noutras áreas da sua vida. )2 Finanças pessoais como gerir o orçamento 6 dicas indispensáveis no orçamento familiar Defina objetivos, calcule despesas e mantenha o controlo. Os resultados não tardarão a surgir Por onde começar? Quer seja adolescente com mesada, trabalhador com um salário reduzido ou assalariado com vencimento generoso, o mais importante para levar o orçamento familiar a bom porto é saber exatamente qual o objetivo e distinguir as reais necessidades dos caprichos. Comece por avaliar a sua situação financeira e depois faça duas listas: uma para as necessidades e outra que inclua tudo o que quer (férias ou automóvel, por exemplo). )1 Sugestão Analisar o orçamento O orçamento caseiro é um meio para atingir um fim: gastar menos do que recebe. Por isso, a análise ao orçamento é um passo que não pode ser dispensado. Uma vez apuradas as estimativas de receitas e despesas é altura de determinar as áreas em que gostaria de gastar menos e aquelas em que deve apostar, como por exemplo a poupança. Será que anda a tomar muitos pequenos-almoços no café? Compra mais sapatos do que precisa? A título de exemplo, se descobrir que está a gastar 150 euros em refeições fora de casa talvez queira baixar esse valor para 100 euros e colocar os restantes 50 euros num produto de poupança. Quanto dinheiro recebe? Para fazer um orçamento tem que saber quanto dinheiro recebe mensalmente. Inclua todas as eventuais fontes de rendimento como o seu salário, juros que possa receber, atividade intelectual, artesanal ou pensões. )3 Calcule as despesas Há despesas, como luz, telefone ou água, que podem variar todos os meses, por isso é conveniente saber, em média, quanto gasta por mês e manter as despesas em baixo. Esta é uma tarefa que deve juntar todos os membros da família já que será um bom ensinamento para os seus filhos – poupança na utilização dos serviços (fechar as torneiras, apagar as luzes, não deixar a porta do frigorífico aberta...). )4 Habitue-se a manter o controlo A partir do momento em que tiver o orçamento preenchido, habitue-se a manter registos das receitas e despesas. Assim é mais fácil perceber a diferença entre o seu orçamento e o dinheiro que realmente gasta. )5 Tem dificuldades em poupar? A Montepio dá-lhe duas sugestões: fixe um limite para os gastos ao longo da semana, levante essa quantia logo na segunda-feira e faça-a durar até domingo. Abra uma outra conta poupança onde vai depositando o dinheiro que deseja reservar para concretizar o seu objetivo. )6 colecio ne as fichas do Programa de educação fi nanceira e ajude as suas crianças a fazerem mais pelo seu dinheiro j Poupar o que é? á deves ter ouvido falar muitas vezes em poupança. Na televisão, na escola, nos passeios com os teus pais e nas reuniões de família, não é difícil que tenhas ouvido falar da palavra que faz andar a economia. Como? É isso que te vamos contar, porque o dinheiro que algumas pessoas guardam para terem um futuro melhor pode fazer o presente mais risonho para outras pessoas e empresas. A poupança é todo o dinheiro que ganhamos e não vai para impostos, contribuições sociais ou consumo. É, por exemplo, o dinheiro que os teus pais ganham e não é gasto nas despesas normais, sendo guardado para o futuro. Poupar para quê? Quem constitui poupança tem um objetivo para o seu dinheiro no futuro. Pode querer fazer uma grande viagem, comprar uma casa ou estar a pensar na reforma. Mas não pode esquecer o presente. Convém constituir um fundo de emergência com uma poupança que proteja a família de situações inesperadas. As primeiras poupanças devem ir para esta almofada financeira, que garante a confiança para alcançar objetivos maiores. Dinheiro, economia e a tua carteira De pequenino é que se marca a diferença. Aprende como se ganha o dinheiro, onde deves guardá-lo e como podes multiplicá-lo. 9,8% Em Portugal, a taxa de poupança dos particulares era de 9,8%, em 2010. Isto é, os portugueses pouparam, em média, quase 10% dos rendimentos que receberam. Próxima edição A Montepio explica-te como funciona o dinheiro no mundo. Nós temos o euro, e os outros? Poupar como ajuda a economia? Se já sabes o que é a poupança, há outra palavra no motor que puxa a economia: o investimento. No fundo, é o processo de utilizar o dinheiro das poupanças colocando-o à disposição de outras pessoas que dele precisam. Como? Através dos bancos, que não só recebem as poupanças como emprestam a outras pessoas que dependem destas para alcançarem os seus objetivos. Quem empresta recebe, no final, o seu dinheiro e mais os juros (revista número 2), quem pede emprestado repõe as poupanças de quem emprestou e paga os juros por ter usado o dinheiro. Já imaginaste que é a poupança que leva ao investimento e o investimento que faz mexer a economia? O dinheiro das poupanças das famílias é canalizado para quem mais precisa dele, as empresas. Em troca, as empresas geram capital que distribuem pelos seus trabalhadores, que podem renovar o ciclo de poupança aforrando e reinvestindo para que a economia não páre e o seu dinheiro cresça. Agora que já ficaste a saber mais sobre poupança, pensa na tua. O País agradece. montepio primavera 2012 a b c f i n a n c e i r o 65 FROTA SOLIDÁRIA MONTEPIO Inscreva uma decisão solidária na sua Declaração de IRS. A Frota Solidária é um projeto criado pela Fundação Montepio com o objetivo de apoiar instituições de solidariedade social. A ideia nasceu da decisão de devolver à sociedade civil os montantes que os contribuintes atribuem à Fundação Montepio quando, ao preencherem a Declaração de IRS, inscrevem o NIPC 503 802 808 no campo destinado à Consignação Fiscal e concretiza-se na aquisição de uma frota de viaturas que, depois de transformadas e adaptadas, solucionam problemas de mobilidade de quem mais necessita.Desde o início deste projeto, apoiámos 62 instituições, mas queremos ir ainda mais longe. Contamos com a sua ajuda para fazer crescer este projeto e fortalecer a cadeia de solidariedade que inspira a Frota Solidária. Saiba mais em www.montepio.org A MINHA VIDA ideias e descobertas em lazer, família, saúde, cultura página 68 gastronomia Uma viagem pelos sabores nacionais, reinterpretados por alguns dos mais conceituados chefs portugueses e estrangeiros página 72 Cidade à lupa Descubra Guimarães, Capital Europeia da Cultura 2012, e veja como história e modernidade se complementam página 76 rotas de caminhada Um Portugal diferente revelado enquanto caminha por paisagens mais ou menos desconhecidas. De norte a sul, o difícil é escolher página 78 férias Viaje e descubra novas paragens sempre a preços controlados. Consulte as nossas sugestões low cost 4 a minha vida ALIMENTAÇÃO gastronomia viagem Pelos sabores da minha vida Desafiámos vários chefs portugueses e estrangeiros a embarcarem numa viagem gastronómica, no tempo e no espaço, e a descobrirem de que forma a cozinha tradicional está a ser recriada em Portugal e no mundo por bárbara silva 68 Massimo Bottura passou quase toda a sua infância na cozinha da avó, escondido debaixo da mesa, a observar atentamente a Nona Ancella a fazer pasta fresca e a dobrar tortellini para a família numerosa. Consigo guarda os cheiros e os sabores desses tempos, que hoje procura recriar no seu restaurante Osteria Francescana, em Modena. É nesta cidade, na região da Emilia-Romagna, onde nasceu e trabalha, que Massimo Bottura, um dos mais aclamados chefs mundiais, com três estrelas Michelin, dá nova vida às receitas da avó, como os tortellini fervidos em caldo de galo capão com molho de queijo Parmigiano Reggiano, ou a versão mais leve de cotechino (salsicha fresca) com lentilhas. montepio PRIMAVERA 2012 Ingredientes de eleição As receitas são diferentes e há quem questione se um pastel de nata servido na versão mil-folhas tem o mesmo encanto. Mas há ingredientes que se mantêm, não importa a abordagem gastronómica. Bacalhau azeite pão canela À Conde da Guarda ou, numa nova versão, "à Brás" Eterno, continua a acompanhar pão, bacalhau ou pratos de peixe José Cordeiro usa o de Bragança numa versão pessoal de açorda Em gelado, para acompanhar um pastel de nata mil-folhas O peso da memória “As receitas mais difíceis de modernizar são aquelas com que temos relação afetiva. Sirvo os tortellini da minha avó com um molho diferente. Nunca mudaria o recheio”, conta. Em Portugal, onde esteve para participar na sexta edição do International Gourmet Festival – Tribute to Claudia, que reuniu 33 chefs internacionais no Hotel Vila Joya, em Albufeira, o italiano apresentou alguns clássicos de reinvenção gastronómica. “Repensar uma receita da gastronomia tradicional exige distância. Pensar nos sabores e texturas, como foi criada, como sobreviveu aos séculos. P&R Ljubomir Stanisic Chef do Restaurante 100 Maneiras jj Ljubomir Stanisic é amante das chamadas “cozinhas pobres” e considera a gastronomia portuguesa uma das melhores do mundo Às vezes são adicionados novos ingredientes, outras vezes a forma é alterada. O importante é aliar uma nova maneira de pensar a uma velha ideia, sem perder o respeito pelas tradições”, diz o italiano. Apaixonado pelos produtos tradicionais e pela gastronomia da sua região, Massimo Bottura reinterpretou a sopa camponesa pasta fagioli, servindo-a num copo de shot, em camadas que representam os 26 anos de carreira: da experiência em França, no Hotel de Paris, à passagem pelo El Bulli, com o chef Ferran Adrià. Dieter Koschina, que chegou ao Algarve há 20 anos, guarda, tal como Bottura, os sabores da infância na memória. Natural da cidade de Dornbirn, no vale do Reno, identifica-se com as massas, batatas recheadas com queijo fresco e ervas do monte. Numa entrevista à revista Notícias Magazine, Koschina elogiou a gastronomia portuguesa: “A cozinha do Norte de Portugal é mais rica, a do Sul é mais criativa”, diz o chef que já criou a sua própria versão de carne de porco à alentejana e de caldeirada de peixe. livro O Papa Quilómetros Apaixonado pela nossa gastronomia, o chef Ljubomir Stanisic lançou-se à estrada e percorreu quase seis mil quilómetros. O resultado foi Papa Quilómetros – Uma Caminhada Pela Gastronomia Portuguesa. “Uma homenagem às coisas boas da vida, a Portugal, aos produtos portugueses, aos amigos, às viagens e à cozinha”, afirma. Reinventar o passado Para Massimo Bottura “recriar a gastronomia tradicional é uma necessidade”. José Avillez é mais cauteloso: “Tenho enorme respeito pela cozinha portuguesa e procuro aperfeiçoá-la através dos conhecimentos e das técnicas. Não gosto muito de usar o termo recriar. A cozinha tradicional tem a sua essência e aí não podemos mexer, caso contrário deixam de ser pratos tradicionais.” É esse o caso das interpretações muito próprias que faz do seu prato favorito, o lisboeta Bacalhau à Brás, e do tradicional Pastel de Nata, no restaurante Belcanto, em Lisboa. “O Bacalhau à Brás que costumo preparar tem mais sabor a bacalhau, pelo tipo de peixe que utilizo, tem uma textura mais cremosa e o sabor das azeitonas é mais intenso porque utilizo azeitonas ‘explosivas’ (esferificadas). Há também outro exemplo de um novo prato inspirado na cozinha tradicional: o Pastel de Nata em mil-folhas com gelado de canela”, conta José Avillez, que em 2009 conquistou uma estrela Michelin para o restaurante Tavares. O que mais o apaixona na gastronomia portuguesa? Os sabores. A criatividade das cozinhas antigas e pobres, a capacidade que tiveram de reinventar e produzir receitas ricas com produtos supostamente pobres. O que o levou a fazer este livro? A curiosidade por Portugal, por tudo o que nasce neste grande pequeno país. Que outros livros sobre cozinha portuguesa recomenda? A minha referência de gastronomia portuguesa, a bíblia nesse campo, é o livro de sempre da Maria de Lurdes Modesto, Cozinha Tradicional Portuguesa. Que imagem tem a gastronomia portuguesa lá fora? A imagem de Portugal devia ser melhorada interna e externamente. Somos maus a promover-nos. Considero a cozinha portuguesa uma das melhores do mundo. Os chefs estrangeiros que trabalham em Portugal poderão ter mais distanciamento para fazer a modernização da gastronomia portuguesa? Essa modernização pode e está a ser feita por muitos chefs da atualidade independentemente da nacionalidade. montepio Primavera 2012 69 4 a minha vida ALIMENTAÇÃO viagem gastronómica jj josé Avillez defende que os pratos tradicionais devem manter a sua essência formar qualquer prato típico. É necessário conhecer bem a receita, o sabor, a origem, e, com criatividade, consegue-se adaptar às exigências da atualidade”. 70 E são cada vez mais os chefs portugueses a exibirem as tão ambicionadas estrelas, como é o caso de José Cordeiro (1 estrela Michelin, restaurante Feitoria, Hotel Altis Belém, em Lisboa), Ricardo Costa (1 estrela Michelin, restaurante do Hotel The Yeatman, em Vila Nova de Gaia) e Albano Lourenço (1 estrela Michelin, restaurante Arcadas da Capela, Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra). Natural de Aveiro, Ricardo Costa não esquece a caldeirada de enguias, o Leitão à Bairrada ou a Chanfana. “São exemplos de pratos que consegui adaptar à cozinha que pratico atualmente.” Sobre o tema da modernização gastronómica, acredita que “é possível trans- Fusão de sabores José Cordeiro vai mais longe e gosta de “fundir o melhor de cada região” de Portugal, como a versão do Ensopado de Borrego, em que utiliza o pão de Bragança aliado à técnica alentejana da açorda, com uma torrada de alho. Com origens transmontanas, o chef tem um apreço especial pela gastronomia da região, não resistindo ao Arroz de Cabidela ou às Farófias. “Sou português e, acima de tudo, inspira-me o trabalho com produtos do meu país. Os nossos pratos tradicionais são excelentes e reinventar um clássico exige criatividade e respeito. No entanto, a tendência de modernização responde à evolução natural das coisas. Temos um património gastronómico muito rico e é natural que se aproveite o que existe de bom e que se lhe dê um toque mais contemporâneo”, defende. No seu trabalho em Coimbra, como chef no restaurante Arcadas da Capela, Albano Lourenço tenta recriar a gastronomia tradicional “mantendo a salvaguarda dos seus sabores naturais e únicos, transmitidos de forma familiar”. O processo de reinvenção passa por uma “aceitação das novas tendências”. Já Vítor Sobral, responsável pelo restaurante Tasca da Esquina, fala em “recriar uma matriz da cozinha portuguesa”. “Como cozinheiro sempre tive a preocupação de respeitar a essência dos nossos sabores, essa é a base da recriação mas há sempre espaço para a renovação. As viagens, a evolução do nosso paladar e os novos produtos permitem-nos estar em constante renovação.” Luís Baena, chef do restaurante Manifesto, dá um exemplo: o Bacalhau à Conde da Guarda. “Trata-se, de facto, de uma brandade, um clássico francês. Posso reinventá-lo? Comcerteza. Posso até exagerar no chauvinismo francês e substituir o azeite pela gordura do foie gras marinado em vinho Madeira. Ou posso aproximá-lo mais da matriz portuguesa e usar a azeitona preta desidratada para emulsionar com azeite e fazer um prato completamente diferente”, afirma. Baena tem uma certeza: “A comida é muito mais do que receitas. São momentos em que as emoções e as memórias se confundem.” Caldo verde de batata doce, salada de bacalhau e hortelã (10 pessoas) Creme 4 dentes de alho laminado 250 g de cebola em cubos 600 g de batata doce em cubos 1,5 l de caldo de galinha 0,5 dl de azeite virgem extra Sal marinho tradicional (qb) Pimenta de moinho (qb) Faça um fundo com o azeite, a cebola em cubos e o alho, coloque as batatas, deixe suar um pouco, adicione o caldo e deixe cozer. Triture e retifique os temperos. dica Guarnição 200 g de couve galega escaldada 250 g de bacalhau lascado 2 c de sopa de hortelã em juliana 0,5 dl de azeite virgem extra 0,2 dl de vinagre de vinho branco Pimenta de moinho (qb) Cozinhar legumes é uma tarefa aparentemente fácil mas que muitas vezes corre mal. Quantas vezes nos chegam ao prato grelos acastanhados, demasiado cozidos.... Porque para tudo há solução, aqui fica a dica do chef Cordeiro: “Na cozedura de grelos frescos ou de outro legume verde, adicione uma garrafa de Água das Pedras, das pequenas, logo a seguir a levantar fervura. Ficam mais verdes.” Antes de servir, adicione a couve ao preparado e deixe ferver um minuto. À parte, tempere o bacalhau com o azeite, vinagre, pimenta de moinho e perfume com hortelã. Palavra de chef! montepio PRIMAVERA 2012 RECEITA DO CHEF VITOR SOBRAL 4 a minha vida ^ Rua de Santa Maria Foi uma das primeiras ruas a ser aberta em Guimarães destinando-se, na altura, a ser um elo de ligação entre o convento, fundado por Mumadona, e o castelo situado na parte alta da vila. Ao longo do seu percurso encontramos importantes testemunhos arquitetónicos como o Convento de Santa Clara ou a Casa do Arco. cidade à lupa Guimarães No berço da nação portuguesa ^ Capela de S. Miguel Monumento nacional construído no início do século XII, muito provavelmente a mando do conde D. Henrique, de estilo românico, pequenas dimensões e grande simplicidade arquitetónica. Tem um forte simbolismo já que se encontra historicamente ligada à fundação da nacionalidade e à tradição de ter recebido o batizado de D. Afonso Henriques. Cidade histórica com um papel crucial na formação da nacionalidade, Guimarães vai muito além do seu passado, associado ao castelo e ao primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques. aqui as tradições e os costumes convivem com a vanguarda e a modernidade, dando aos visitantes infinitas escolhas de lazer por cláudia marina fotografia artur 72 ^ Convento de Santa Clara Um dos mais ricos conventos da cidade alberga, atualmente, a Câmara Municipal de Guimarães. ^ Paço dos Duques Majestosa casa senhorial do século XV, mandada edificar por D. Afonso – futuro duque de Bragança – revela um palácio de vastas dimensões que hoje assume as funções de museu e Residência Oficial do Presidente da República no Norte do País. montepio Primavera 2012 ^ ^ Museu Alberto Sampaio Criado em 1928, alberga as coleções da extinta Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira e de outras igrejas e conventos da cidade. Situado em pleno centro histórico, aí podem ainda apreciar-se importantes coleções de escultura e ourivesaria. ^ Largo do Toural Considerado o coração da cidade de Guimarães, no século XVII era um largo extramuros, junto à principal porta da vila. Com a Capital Europeia da Cultura como pano de fundo, esta verdadeira sala de visitas da cidade foi alvo de uma intervenção profunda que teve a assinatura da arquiteta Maria Manuel. ^Praça de S. Tiago Uma das praças mais antigas da cidade, conserva a traça medieval original. ^ Vista do Castelo de Guimarães No século X, a condessa Mumadona Dias mandou construir um mosteiro na sua herdade de Vimaranes – hoje Guimarães. Mas foram os constantes ataques por parte de mouros e normandos que levaram à construção de uma fortaleza para guarda e defesa dos monges e da comunidade cristã que vivia em seu redor. Assim nasceu o castelo de Guimarães. A saber O centro histórico de Guimarães Foi reconhecido pela UNESCO, em 2001, como Património Cultural da Humanidade. guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, Guimarães juntou às muitas opções de aventura, bem-estar, artes e espetáculos, toda a programação preparada especialmente para o evento. Localizada na região do vale do Ave, a cidade associa, com equilíbrio, o peso da História ao dinamismo dos seus habitantes. Para o prestigiado jornal New York Times Guimarães é, sem margem para dúvidas, uma das 10 cidades do planeta que se devem conhecer e descobrir durante o ano de 2012. Aproveite as sugestões que se seguem e descubra connosco alguns dos segredos mais bem guardados desta cidade minhota. montepio primavera 2012 73 4 a minha vida Cidade à lupa Guimarães guia Capital Europeia da Cultura 2012 guia junho Dia 10 Os Lusíadas são o tema de uma conferência internacional sobre Camões e os tempos de crise julho Dia 1 Estreia do filme que levou Jean-Luc Godard de volta a Sarajevo Dia 27 Concerto ao longo de praticamente um ano, Guimarães assume o papel de Capital Europeia da Cultura. Para não perder pitada do que a cidade tem para oferecer, deixamos-lhe um guia com as informações essenciais pela Orquestra Chinesa de Macau setembro Dia 16 Ciclo de cinema dedicado ao realizador brasileiro Glauber Rocha Dia 22 Concerto com The Legendary Tiger Man e Rita Redshoes, a partir de um filme mudo realizado em 1920 Vai de carro? 74 ^ Então saiba que Guimarães fica a 350 km de Lisboa, 50 km do Porto e a 600 km de Faro Dia 29 Concerto pela Orquestra Sinfónica do Porto, Casa da Música outubro Dia 21 Congresso Histórico de Guimarães novembro Quer dormir na cidade? ^ Aproveite este ano, já que Guimarães promove o alojamento local de artistas e visitantes. Com o lema “Entra aqui na Tua Casa em Guimarães 2012”, o projeto pretende transformar os visitantes e agentes artísticos em vizinhos e munícipes temporários, instando os vimaranenses a abrirem-lhes as portas de sua casa. montepio PRIMAVERA 2012 Dia 8 Guimarães Jazz dezembro Dia 15 Mumadona estreia da ópera de Carlos Tê e Carlos Azevedo Dia 31 Anda perdido? ^Para quem necessita de informações foi criado um espaço de encontro no centro da cidade, situado na Rua de Camões (artéria que conflui com o Largo do Toural). Festa de Encerramento Para mais informações consulte: www.guimaraes2012.pt 4 a minha vida crónica Baptista-Bastos ELA DANÇAVA COMO NENHUMA OUTRA Quando Marta Arvelos voltou à rua, após quase quarenta anos de ausência, ninguém manifestou surpresa. O mundo mudara e ela mudara com o mundo. Da rapariga de seios míticos, ancas parideiras e pernas lendárias restava uma mulher de cor terrosa, osso susto e dor. Mas mantinha a altanaria. E olhava as pessoas de frente, como sempre fizera. Naqueles antigos tempos, ela avançara sobre a morosidade, a circunspecção e o temor reverencial com a alegria, o desprendimento e desenvoltura de quem sabia não querer aquilo e ambicionar muitas outras coisas diferentes. Eram épocas sujas, desprovidas de sonhos e de esperança. Ela ia ver filmes nos cinemas da Baixa, e falava das suas idas às esplanadas do Parque Mayer, beber pirolitos com outras raparigas. As mulheres velhas observavam-na com despeito, inveja e ressentimento. E diziam que não iria longe com a vida que levava. Não ir longe, no sentir daquela expressão recriminatória, era levar uma existência de valdevina, sem regras nem normas. Marta tinha muitos namorados e deslocava-se a outros bairros, pelas festas populares, para dançar nos bailes e rir, rir, rir. Um dia, sem mais nem menos, desapareceu. Fugira com o senhor Nazaré, homem casado, com dois filhos, grave e soturno, com emprego importante na Alfândega. Houve notícias vagas e imprecisas. Que fora para África; que vivia na Alemanha; que estava gravemente doente e morrera. A seguir, nada de nada: deixou de se falar na Marta. Na rua onde vivera, mesmo lá ao fundo, havia um armazém de retém, transformado, por um grupo de rapazes, em local de ensaio de uma banda que tocava músicas modernas. Ao contrário do que seria de presumir, os moradores adoravam os rapazes e apreciavam com aquies- ilustração gettyimages cência as músicas que tocavam, alto e bom som. Até houve uma ocasião, pelo Santo António, que fizeram um baile, como noutros tempos, e as pessoas reviveram a nostalgia. Acaso lembraram-se, um pouco e levemente, da Marta Arvelos, que dançava como nenhuma outra rapariga, e suscitava nos homens desejos e anseios. Foi-se sabendo que o senhor Nazaré se cansara dela, ou ela se cansara do senhor Nazaré. Deixaram-se, não se conhecia o sítio ou o país onde o acontecimento ocorrera. Era bom de ver que as coisas teriam de ser assim. Marta namorara outros homens, mas não vivera com mais nenhum. A sua natureza era a de ser livre, o que quer que a palavra significasse, naquelas circunstâncias e naquele tempo antigo. “Desgraçou a vida dela e a vida do senhor Nazaré”, era o que as mulheres diziam, na roda da coscuvilhice desbragada. Os homens sentiam certo ciúme pelo senhor Nazaré, que tomara o lugar por eles tantas vezes ardentemente desejado. E foi quando ela regressou ao bairro, tantos e tantos anos depois de ter partido, uma sombra fúnebre do que fora, mirrada e desamparada. Durante uns tempos não saiu de casa, a não ser para as compras de mercearia, um ou outro passeio curto até à calçada. Sempre fugidia, mas com o porte de alguém que nada tem a dizer nem a temer. Pouco a pouco, as mulheres aproximaram-se-lhe, falavam-lhe, sorriam-lhe. Afinal, a Marta Arvelos já não constituía a ameaça que elas presumiam representar para os seus namorados e para os seus maridos. A verdade, porém, é que todos se lembravam do que ela fora, e essa lembrança não se apagava, como a mancha de um remorso e de um rancor apenas adormecido. NOTA: O autor é totalmente contrário ao assim denominado Novo Acordo Ortográfico, pelo que continua a escrever segundo a chamada norma antiga. montepio PRIMAVERA 2012 75 4 a minha vida ROteiro Rotas de Caminhada 5 000 quilómetros de costa atlântica 76 1 integra uma das 12 rotas europeias de caminhada mas tem centenas de quilómetros a descobrir sem sair de Portugal: de Valença do Minho ao Cabo de São Vicente, no Algarve por marta reis “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!” Fernando Pessoa lembrou o legado dos navegadores na Mensagem, cantando o Atlântico como mar português. Inspire-se neste embalo nostálgico e aventure-se, agora a pé, pelo Caminho Atlântico. É um dos 12 percursos europeus certificados pela Federação Europeia de Percursos Pedestres e, ao todo, são 5 000 quilómetros que, ao ritmo de um caminhante treinado e com poucos dias de descanso, levariam um montepio PRIMAVERA 2012 ano a percorrer. Se o tempo ou as pernas não derem para descer ao Algarve desde São Petersburgo, o primeiro ponto desta rota, não desanime: tire uns fins-de-semana para fazer os trilhos marcados em território nacional. Mais ou menos intensos, oferecem cenários tão diversificados como a fresca serra de Sintra ou o quente Alentejo. Além do calçado confortável, dos frutos secos para repor energia, do protetor solar e da água, importa apreender as noções Douro Litoral Início do trilho Porto Final do trilho Valença No extremo norte do País, o traçado do Caminho do Atlântico coincide com o Caminho de Santiago. Por serras e vales, umas vezes mais junto à costa outras avançando um pouco pelo interior e por veredas serranas, este troço desenvolve-se em quatro etapas entre o Porto e Valença. A partir daí penetra na Galiza, rumo a Santiago de Compostela. 2 Região Oeste Início do trilho: Cabo da Roca (Azóia) Final do trilho Odrinhas A partir do cabo da Roca, onde se encontra um painel explicativo, o trilho desenvolve-se ao longo da costa, ora por cima das falésias ora descendo até às praias da Adraga ou da Aguda. A chegada ao Magoito faz-se pela praia e, a partir deste ponto, o caminho inflete para o interior, rumo a Odrinhas. Aí pode aproveitar para visitar as ruínas romanas do sítio arqueológico de São Miguel de Odrinhas. 3 4 1 Barcelos, parte histórica da cidade 2 Santiago do Cacém, ruínas romanas de Miróbriga 34Cabo da Roca básicas da arte de caminhar. Em Portugal, os caminhos são propostos por autarquias ou associações e homologados pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal. Litoral Alentejano Em rota Em Portugal, o Caminho do Atlântico tem rotas homologadas desde Valença do Minho até à via algarviana, culminando na vista escancarada do cabo de São Vicente. Para partir à aventura deve procurar na Internet ou nos postos de turismo as indicações para o percurso GR associado ao E9: GR11 – E9. Na região de Lisboa tem um trilho de 27 quilómetros, no concelho de Sintra, que começa junto ao cabo da Início do trilho: Santiago do Cacém Final do trilho Grândola Outra das regiões onde o Caminho do Atlântico já tem os trilhos devidamente marcados e homologados é o litoral alentejano. Além do trilho que o conduz de Santiago de Cacém até Grândola, existem variantes pela lagoa de Santo André. Com a chegada do Alfa Pendular (em período experimental) a Grândola, torna-se ainda mais fácil alcançar o início do trilho. sites úteis www.fcmportugal.com www.era-ewv-ferp.com Roca, na Azóia. Daí parte em direção a praias como a Adraga e o Magoito. O destino final é Odrinhas, onde pode visitar as ruínas romanas e o museu. Mais a sul, no concelho de Santiago do Cacém, inicia-se um percurso de dificuldade média que vai até Grândola. Via algarviana Continuando a descer, tem ao seu dispor a bem sinalizada via algarviana, que liga ao E9 e ao caminho europeu E4, que culmina no Chipre. Aqui dispõe de pistas para 300 km de caminhada, 15 dias a uma média confortável de 20 km diários, que atravessam 11 concelhos, de uma ponta à outra do Algarve, em troços de 30 km – mapas e indicações em www.viaalgarviana.org. O percurso atlântico culmina no cabo de São Vicente, mas pode sempre ir até Alcoutim. E volte a recordar Pessoa: “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.” Sul Onde dormir a lém da rede nacional de parques de campismo, experimente as Pousadas de Portugal ou as Pousadas da Juventude, nas quais terá que apresentar o Cartão Jovem ou de Alberguista. Para uma experiência especial, e se optou por rumar a sul, procure o Eco Campo Resort & Spa Zmar, um conceito inovador de campismo ou alojamento em chalé, no concelho de Odemira, a 13 quilómetros da Zambujeira do Mar. sinalética Saiba orientar-se As rotas de caminhadas estão organizadas em Grandes Rotas (GR), com mais de 30 quilómetros, Pequenas Rotas (PR) com menos de 30 quilómetros e Pedestres Locais (PL) que incluem percursos em centro urbano. Distinguem-se, também, pela cor da sinalização. Virar à direita Virar à esquerda Caminho errado ^ GR (GRANDE ROTA) ^ PR (PEQUENA ROTA) ^ PL (PEDESTRE LOCAL) montepio Primavera 2012 77 4 a minha vida tempos livres férias low cost Deixar de ter subsídio de férias ou dispor de um orçamento limitado não são sinónimos de não ter férias. Há várias hipóteses para continuar a viajar e a divertir-se. Não acredita? Veja as nossas sugestões por susana torrão 78 Férias são descanso, diversão e descoberta de novos lugares, mas quando o orçamento sofre cortes torna-se imperativo poupar. O que não tem de significar partir rumo à casa de família, na aldeia que se conhece desde a infância, ou ficar aborrecido em casa. Ir para fora pode sair mais barato do que se imagina e para quem fica em casa existem várias possibilidades de gozar umas férias diferentes. 1 2 Troque de casa 1 Ficar num apartamento equipado a um custo de 0 euros, em Paris, é possível! No site www.trocacasa.com encontra todas as explicações. A inscrição e uma mensalidade de 2,95 euros dão direito a um número de trocas ilimitado. Escolha o destino, veja as ofertas disponíveis e reserve. O apartamento parisiense ou a cottage em Inglaterra são seus. montepio PRIMAVERA 2012 Arrendamento a preços competitivos 2 Redes como a Air BnB (www.airbnb.com), que propõe arrendamento de todo o tipo de tipologias (apartamentos, castelos, barcos, quartos), são uma boa opção. Funcionam de modo similar à troca de casa e os preços, a dimensão e o tipo de alojamento são variados. Campismo e ecoturismo 3A Quinta do Pomarinho (www.pomarinho.com/pt/), em Castelo de Vide, ou o Zmar – Eco Camping Resort (www.zmar.eu), na Zambujeira do Mar, são boas opções. Junto à barragem de Odivelas, no complexo turístico Markádia, o campismo está inserido num parque natural privado onde pode aproveitar a barragem. B&B 4O site www. pureportugalholidays.com sugere várias hipóteses, de norte a sul, entre turismo rural, campismo, B&B, low cost, ecológico, numa escolha que abrange todas as bolsas. Um exemplo é o Domínio Vale do Mondego, cujas ofertas vão do alojamento nas casas recuperadas de quinta a cabanas e campismo no parque natural da serra da Estrela. “Voar baixinho” ^ Viajar de avião não tem que sair caro. As companhias low cost voam para cada vez mais destinos e, por vezes, permitem combinar marcação de alojamento. Tenha em conta os sites rumbo (www.rumbo.pt) e edreams (www.edreams.pt). dica Marque as viagens com antecedência e tenha em conta o destino final. Se tiver que pagar uma viagem de comboio de longo curso pode compensar escolher um voo regular no qual não tem que pagar bagagem! 3 redescubra 4 5 Seja um eterno jovem 5As Pousadas da Juventude (www. pousadasjuventude.pt) estão abertas a todas as idades e dispõem de quartos duplos (com e sem wc), familiares e apartamentos, e camaratas de quatro a seis camas. Único requisito: ser titular do Cartão de Alberguista, que pode ser adquirido no local. A estada inclui pequeno-almoço. Locais que já conhece S e está em Lisboa parta à aventura pelas ruas que vê todos os dias. A Lisbon Walker (www.lisbonwalker.com) propõe passeios temáticos dos quais o mais original é o “Lisboa Sensorial”, pelo qual a visita a Alfama é feita de olhos vendados. Para participar basta consultar o site e aparecer no ponto de encontro à hora marcada. Aproveite para passear no Tejo. A Transtejo tem passeios diários que incluem acompanhamento por guia e bebidas frescas. Já a Marlin Boat Tours (www.marlinboattours.com) oferece propostas para grupos até nove pessoas a partir de 15 euros. Na serra do Buçaco, a Fundação Mata do Buçaco promove passeios guiados e oficinas para grupos e famílias todos os primeiros e terceiros domingos do mês. Os preços vão dos três aos cinco euros e as inscrições são feitas por telefone (Tel. 231 937 004 ou 963 007 857). 4 a minha vida passeios com história Castelos, Fortalezas e outros Monumentos Viajar no tempo A Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos convida-nos a conhecer três castelos: Guimarães, Palmela e Almourol. Três viagens no tempo desde a formação da nacionalidade portuguesa até aos anos de exaltação nacionalista do Estado Novo por raquel amaral fotografia artur 80 Entramos em cada um dos castelos com um guião diferente. Pela mão de Francisco Sousa Lobo, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, é possível ficar a conhecer a história e aprender a interpretar a estrutura fortificada. “É um pouco o que se ensina nas aulas de arquitetura militar e nas aulas de restauro de fortificação”, explica-nos. montepio PRIMAVERA 2012 Com um olhar alargado e aprofundado sobre as fortificações e suas envolventes, conseguimos ver para além das muralhas recortadas no céu azul. É quase possível ouvir a azáfama de outros tempos e sentir a vida das populações dentro das muralhas. As terras à volta do castelo eram da responsabilidade da guarnição. Assim, os habitantes das aldeias e pequenas povoações situadas dentro das fortificações aí trabalhavam e tinham a sua atividade diária. “Essa atividade deixou-nos um património que vale a pena conhecer e ser visitado. Nas terras em redor do castelo foram aparecendo igrejas e diversas capelinhas, por isso criámos visitas de estudo globais que abrangem tudo isto”, afirma Francisco Sousa Lobo. Saiba mais Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos Rua Barros Queirós, nº 20, 2º 1100-077 Lisboa Tel. 218 885 381 Fax. 218 885 342 www.amigosdoscastelos.org.pt [email protected] jj almourol Há ligações diárias que conduzem o visitante da margem até à ilha onde se ergue o antigo castelo templário. A viagem é curta mas permite uma vista global do edifício e da envolvente natural 2 1 Santarém, castelo de Almourol 2 3 Castelo de Palmela 4 Igreja de Santiago, castelo de Palmela 1 3 Castelo de Guimarães O castelo de Guimarães teve, na segunda metade do século X, uma primeira estrutura mandada construir pela condessa Mumadona Dias. À época, os cristãos consolidavam a zona a norte do rio Douro conquistada, há cem anos, por Vímara Peres. O castelo manteve-se nas mãos da família até à morte do conde D. Nuno Mendes, em 1071, na Batalha de Pedroso. No final do século XI o castelo foi remodelado e ampliado para residência de D. Henrique da Borgonha. D. Dinis mandou remodelar o conjunto fortificado, que chegou arruinado ao século XIX. Assim, em 1940, aquando da comemoração dos centenários da nacionalidade, foi inaugurado o restauro num contexto de exaltação nacionalista. O castelo de Guimarães tem planta em forma de escudo e oito torres defensivas. No centro está a torre de menagem, com vinte e cinco metros. 81 jj escolha o seu castelo As visitas orientadas por guias da Associação Portuguesa dos Castelos – exclusivas para associados – começam a 15 de abril. Localizados em três pontos distintos do território, oferecem histórias e paisagens únicas. A meio de um rio, em pleno centro histórico ou sobre vistas espraiadas sobre o vale e estuário do Sado “Ninguém protege o que não conhece e o nosso papel é dizer às pessoas que vivem perto dos castelos que aquelas pedras têm muito valor. É sensibilizá-las para a história da 4 sua região. Conhecer os castelos é descobrir a história do País”, diz Francisco Sousa Lobo. Castelo de Almourol Em torno do castelo de Almourol paira a dúvida quanto à sua origem: islâmica ou cristã? Podemos ver que a construção é em cantaria de granito e alvenaria argamassada e a planta é irregular, reflexo da irregularidade do terreno. Ergue-se num afloramento de granito 18 metros acima do nível das águas, numa pequena ilha com 310 metros de comprimento por montepio Primavera 2012 4 a minha vida passeios com história rota dos castelos 75 de largura. D. Afonso Henriques deu a ilha à Ordem dos Templários, ajudando à mística do local. No século XIX as obras de restauro alteraram a fisionomia do castelo, com um coroamento das muralhas com merlões e ameias. Por toda a ilha existem pequenos caminhos que nos permitem passear por entre a vegetação e em torno do castelo, monumento nacional desde 16 de junho de 1910. Castelo de Palmela De origem islâmica, o castelo de Palmela foi tomado pelas forças cristãs em 1147, para ser novamente perdido ao fim de poucos anos. Só foi reconquistado em 1165, quando D. Afonso Henriques o doou aos cavaleiros da Ordem de Santiago da Espada. Em 1191 a fortificação é arrasada pelas tropas muçulmanas e só em 1205, no reinado de D. Sancho I, se inicia a SAIBA MAIS Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos F Visitas a não perder ^ 15 de abril Castelo de Guimarães 10h00 ^ 6 de Maio Castelo de Almourol 10h00 ^ 17 de junho Castelo de Palmela 10h00 oi fundada em 1983 e a sua ação tem como estratégia aproximar as populações dos castelos, sensibilizá-las para a importância do seu valor cultural e estimular o estudo, a investigação e o interesse pelos castelos e fortalezas. reconstrução e se retoma a ocupação do castelo pelos cristãos. Sob os governos de D. Dinis e de D. Afonso IV, os cavaleiros da Ordem Militar de Santiago começam a construção da torre de menagem, concluída entre os reinados de D. João I e D. João II. Dentro da cerca primitiva do castelo podemos visitar a Igreja de Santiago, da segunda metade do século XV, reservada atualmente para exposições de artes plásticas, espetáculos musicais e palestras. Os castelos de Guimarães, Almourol e Palmela são os primeiros a ser visitados com o acompanhamento de um guia da Associação dos Amigos dos Castelos pelos associados do Montepio que quiserem juntar-se a esta iniciativa. “Penso que esta parceria entre Os Amigos dos Castelos e o Montepio vai ser muito interessante e proveitosa para todos. Permite-nos ir mais além e fazer visitas exclusivas para o Montepio. Mais tarde sonhamos, também, em fazer parcerias com os concelhos e câmaras municipais para podermos chegar a toda a gente”, confessa o presidente da Associação dos Amigos dos Castelos. atividades para associados montepio abril/maio/junho ABRIL 82 f MULTIATIVIDADES • Micro Raid Aventura Serra da Lousã, Dia 28, sáb., 8h30 23,75€ f ATIVIDADES DE AR LIVRE • Passeio Pedestre “Fojo-Entre a Arrábida e o Risco” Parque Natural da Arrábida, Dia 15 dom., 9h30, 7€ • “As escarpas do Douro Internacional” Parque Natural do Douro Internacional Dia 21, sáb., 10h00, 7€ f PASSEIOS COM HISTÓRIA • Braga Romana - visita às termas romanas e Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa Braga, Dia 14, sáb. 10h00, 15€ • Casa Museu Marta Ortigão Sampaio Porto, Dia 14, sáb. 15h00, Gratuito • Jardins e Palácio da Fronteira, Lisboa Dia 21, sáb., 9h30, 7,5€ f CURSOS • Iniciação à Internet Seniores, Viseu, Dias 19/20, 9h00, Gratuito f WORKSHOPS • Iniciação à Fotografia l Lisboa, Dias 28/29 9h30 Associados: 50€ Não associados: 70€ • Diários Gráficos sobre "Bichos" com Richard Câmara Lisboa, Dias 28/29 10h30 Associados: 35€ Não Associados: 40€ f VISITAS ORIENTADAS Castelo de Guimarães Dia 15, dom., 10h00 5€ • Fundação Calouste Gulbenkian “Fernando Pessoa: Plural como o Universo” Lisboa, Dia 28, sáb. 10h10, 5€ MAIO f MULTIATIVIDADES Parque Natural da Arrábida, Dia 1 ter., 9h30, 28€ f PASSEIOS COM HISTÓRIA • Museu da Marioneta Lisboa, Dia 5, sáb. 10h00, 3€ • Porto Romântico Porto, Dia 19, sáb. 10h00, 8€ • Casa do Infante Porto, Dia 20, dom. 10h30, Gratuito f ATIVIDADES DE AR LIVRE • Canoagem Parque Natural da Ria Formosa Dia 6, dom., 9h30, 3€ f CURSOS • Iniciação à Internet Seniores, Castelo Branco, Dias 17/18 9h00, Gratuito • Farol do Cabo Carvoeiro, Peniche Dia 26, sáb., 11h00 Gratuito f WORKSHOPS • Iniciação à Fotografia ll Lisboa, Dias 12/13 9h30 Associados: 50€ Não associados: 70€ f ATIVIDADES DE AR LIVRE f WORKSHOPS • Fotografia de Viagem, Lisboa Dias 2/3, 9h30 Associados: 50€ Não associados: 70€ • Passeio Barco – Costa a Costa Sesimbra, Dia 30 sáb. 9h30, 32€ • Diários Gráficos sobre "Feiras e Mercados” com Richard Câmara Lisboa, Dias 2/3 10h30 Associados: 35€ Não associados: 40€ • Diários Gráficos sobre "Pátios e Vilas” com Richard Câmara Lisboa, Dias 12/13 10h30 Associados: 35€ Não associados: 40€ • Passeio Fotográfico Óbidos, Dias 26/27 10h00 Associados: 40€ Não associados: 60€ f VISITAS ORIENTADAS • Farol de Alfanzina Algarve, Dia 5, sáb. 17h00, Gratuito • Castelo de Almourol Santarém, Dia 6 dom., 10h00, 5€ JUNHO • “Caminhada e Iniciação ao Rapel” Serra de Valongo Dia 3, dom., 9h15, 6€ f PASSEIOS COM HISTÓRIA • Porto Medieval Porto, Dia 2, sáb. 10h00, 8€ • Museu da Farmácia Porto, Dia 2, sáb. 15h00, 7,5€ • Museu da Farmácia Lisboa, Dia 16, sáb. 10h00, 7,5€ • Visita aos Chafarizes, Lisboa Dia 30, sáb., 10h00, 5€ f CURSOS • Iniciação à Internet Seniores, Beja Dias 14/15, 9h00 Gratuito • Passeio Fotográfico Sintra, Dias 23/24 10h00 Associados: 40€ Não associados: 60€ f VISITAS ORIENTADAS • Castelo de Palmela Palmela, Dia 17, dom. 10h00, 5€ SAIBA MAIS | www.montepio.pt | Informações e inscrições f Gabinete de Dinamização Associativa/[email protected]/ T. 213 249 238/7 montepio PRIMAVERA 2012 O MEU montepio notícias institucionais, iniciativas, projetos e comunicados página 84 página 85 Voltámos a apoiar IPSS de todo o País, ajudando crianças e idosos Da abertura da StartUp Lisboa aos próximos workshops, notícias e sugestões sobre o universo Montepio donativos breves página 86 Prémio escolar Fundação Montepio distinguiu e premiou o esforço de várias escolas na melhoria dos resultados de aprendizagem página 90 Benefícios Em destaque os novos acordos celebrados para benefício dos associados Montepio 5 o meu montepio jj Os padrinhos Donativos Montepio em dia de atribuição de donativos Oferecer um presente garantir o futuro O Montepio voltou a transformar em donativos o montante que destinaria a presentes de Natal e apoiou 10 instituições de solidariedade por susana torrão fotografia luís viegas 84 “Quero agradecer às instituições. Sem elas e sem o trabalho que realizam não estaríamos aqui.” Foi desta forma que, a 14 de dezembro, António Tomás Correia, presidente do Montepio, deu as boas-vindas às 10 instituições de solidariedade social que beneficiaram dos donativos de Natal, acrescentando que “vivemos no limiar de um novo paradigma social, pelo que se o exemplo do Montepio funcionar como mancha de azeite que vá alastrando a outras instituições, será muito bom.” A iniciativa – inserida na política de responsabilidade social do Montepio – complementa os inúmeros projetos solidários assegurados pela Associação Mutualista, pela Caixa Económica, pela Fundação e pelos mais de 800 colaboradores-voluntários, mas também os apoios destinados a promover a melhoria da qualidade de vida de crianças, jovens, idosos e cidadãos portadores de deficiência. Em 2011 foram entregues 200 mil euros a 10 instituições e a cerimónia de entrega dos apoios contou com a participação de 10 conhecidos músicos que se assumiram padrinhos de cada projeto social. Paulo de Carvalho apadrinhou montepio primavera 2012 Agir junto de quem precisa Instituições apoiadas em 2011 ^ Associação de Aldeias SOS Acolhe crianças órfãs, abandonadas ou provenientes de famílias de risco. Dispõe do Centro Social “Arco Íris” e do Centro Juvenil de Rio Maior. ^ ADDIM Apoia mulheres vítimas de violência doméstica através de uma Casa Abrigo e do Centro de Atendimento à Vítima. ^ Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas Presta apoio jurídico e psicológico às famílias de crianças desaparecidas. Desenvolve, ainda, ações de formação e prevenção destinadas a adultos e a crianças. ^ Associação de Proteção à Infância Bispo D. António Barroso Acolhe, no Lar de Infância e Juventude, crianças e jovens do sexo feminino. Funciona como uma casa onde as jovens podem permanecer até aos 21 anos. ^ Casa Nossa Senhora da Conceição Dispõe de uma creche, com capacidade para 44 crianças, destinada a acolher meninas desprotegidas dos 3 aos 10 anos. ^ Chapitô Tem por objetivo a integração, pelas artes, de jovens em risco. Além de projetos como a “Animação em Ação”, o Chapitô conta com a residência “Casa do Castelo”, serviços de ATL e o Centro de Acolhimento Infantil João dos Santos. ^ Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Vitória Apoia crianças e jovens na creche, jardim-de-infância, centro de ATL e Casa do Jovem, mas a Associação de Aldeias SOS, João Gil a Obra de Santa Zita, António Chainho foi patrono da Santa Casa da Misericórdia da Pampilhosa da Serra, Rui Veloso apadrinhou o Chapitô, Vitorino a Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas, Yolanda Santos a Santa Casa da Misericórdia de Viseu, Mário Laginha o também pessoas sem abrigo ou em situação de exclusão. ^ Obra de Santa Zita Acompanha crianças, jovens e idosos através de creches, jardins-de-infância, lares, centros de dia e apoio domiciliário. O apoio do Montepio garantiu a continuação do Centro de Acolhimento Temporário em Castelo Branco. ^ Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra Apoia 120 pessoas através do lar e centro de dia. Tem ainda creches e serviço de enfermagem e fisioterapia. ^ Santa Casa da Misericórdia de Viseu Apoia crianças e idosos através de lares, da creche e do Centro de Acolhimento. Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Vitória, Susana Félix a Casa Nossa Senhora da Conceição, Adriana a Associação e Proteção à Infância Bispo D. António Barroso, cabendo a Miguel Brito Rebelo a Associação Democrática da Defesa dos Interesses e da Igualdade das Mulheres. Workshops de fotograf ia com Alexandre Kühl de Oliveira como participar O fotógrafo Alexandre Kühl de Oliveira orienta dois workshops e dois passeios fotográficos nos próximos meses Workshops Profundidade de campo e congelamento ou arrastamento de imagem são conceitos que nem todos os fotógrafos amadores dominam. Para os associados amantes da fotografia, Alexandre Kühl de Oliveira, fotógrafo freelancer, preparou dois workshops, em Lisboa, a 28 e 29 de abril e a 12 e 13 de maio. No final, os participantes conhecerão ao pormenor as potencialidades das suas máquinas, saberão trabalhar com diferentes tipos de luz e usar, de forma eficiente, várias objetivas. Com uma carga horária de sete horas diárias (das 9h30 às 18h), os workshops têm uma vertente essencialmente prática. A manhã do primeiro dia é destinada à teoria, sendo a tarde de sábado e a manhã 28 e 29 de abril e 12 e 13 de maio Eugénia Dobrões Associada do Montepio, editou o seu primeiro livro de domingo dedicadas a um passeio por Lisboa onde serão colocados em prática os novos conhecimentos. Na tarde de domingo é feita a análise dos trabalhos. Para participar é necessário máquina fotográfica digital, de preferência SLR (com possibilidade de troca de lentes) e flash, se possível exterior. As inscrições têm como prazo limite os dias 24 de abril e 8 de maio. Alexandre Kühl de Oliveira orientará também dois passeios fotográficos. O primeiro em Óbidos, a 26 de maio, com ponto de encontro nas portas da vila, às 9h30. Na manhã do dia seguinte, em Lisboa, será feita a discussão dos trabalhos. A 23 de junho há novo passeio em Sintra. Escrita de emoções A o longo de dois anos Eugénia Dobrões dedicou os seus tempos livres a uma paixão que a acompanha desde sempre: a escrita. O resultado foi Água de Amor, a sua primeira obra de ficção, publicada em novembro de 2011. A narrativa de emoções criada por esta Associada do Montepio tem por base dois elementos fundamentais à existência humana: água e amor. data valor da inscrição 50 euros por pessoa data limite de inscrição 24 de abril e 8 de maio Número de participantes Mínimo 6, máximo 12 Passeios data 26 de maio e 23 de junho valor da inscrição 40 euros por pessoa data limite de inscrição 22 de maio e 19 de junho Número de participantes Mínimo 7, máximo 12. Saiba mais em www.montepio.org Nascem novas empresas em Lisboa Resultado de uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Lisboa (CML), do Montepio e do IAPMEI, foi inaugurada, a 2 de fevereiro, a Startup Lisboa, incubadora de empresas. À data da inauguração o nº 80 da Rua da Prata já acolhia 15 projetos. A ideia foi lançada por um munícipe lisboeta, aquando do Orçamento Participativo de Lisboa, e inspirou-se em três exemplos de sucesso: a Y Combinator, a Plug and Play, de Silicon Valley, e o Le Camping, em Paris. O Montepio cedeu o edifício e suportou as obras de recuperação, no valor de 500 mil euros, e a CML realizou um investimento de 450 mil euros. Em conjunto, as três entidades fundadoras criaram um fundo de 500 mil euros destinado ao apoio ao empreendedorismo na cidade de Lisboa. “Este projeto é gratificante para nós, para a cidade de Lisboa e para o País. O País precisa de exemplos destes para crescer”, afirmou Tomás Correia, presidente do Montepio. Por sua vez, António Costa, presidente da Autarquia, sublinhou a total disponibilidade mostrada pelo Montepio e pelo IAPMEI para a criação da Startup. “Nesta época temos que multiplicar os esforços”, afirmou. À incubadora de empresas podem candidatar-se pessoas individuais e empresas já existentes (com um limite de três anos de atividade), que podem permanecer na Startup por um período de seis meses a três anos. Além do espaço físico, a preço competitivo, as empresas dispõem de condições privilegiadas de acesso a entidades especializadas, serviços públicos, investidores e financiadores. 85 “Este projeto é gratificante para nós, para a cidade de Lisboa e para o País. O País precisa de exemplos destes para crescer.” António Tomás Correia Presidente do Montepio montepio primavera 2012 5 o meu montepio Prémio Escolar Prémio Escolar 2011 Reconhecer o trabalho, a exigência e o engenho Com o objetivo de Distinguir o bom desempenho escolar, o Prémio Escolar Montepio apoia os estabelecimentos de ensino público em projetos educativos inovadores 1 por raquel amaral 86 Todos os anos, a Fundação Montepio convida 50 estabelecimentos de ensino que, nos últimos três anos, tenham promovido melhorias mais acentuadas nos resultados dos exames do 9º ano de escolaridade, a concorrer ao Prémio Escolar. Em 2011 o Projeto contou a sua 3ª edição e foi quando recebeu mais participações. Depois das candidaturas recebidas, as escolas selecionadas receberam a visita do júri, constituído por Manuela Silva, David Justino, Isabel Alçada, Guilherme Valente, Henrique Monteiro e José da Silva Lopes, que promoveram conversas com a direção das escolas e com os autores dos projetos e avaliaram a qualidade, inovação e impacto esperado dos projetos apresentados. Os projetos vencedores receberam um apoio no valor de 25 mil euros, destinados a concretizar os objetivos. “Acreditamos que os projetos a que montepio primavera 2012 as escolas se propuseram vão ser conseguidos, por isso consideramos que este contributo é muito interessante”, afirmou António Tomás Correia, presidente do Montepio. A iniciativa da Fundação Montepio, que conta com o alto patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República, é, nas palavras do Ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, “uma celebração, uma ocasião festiva que traduz o reconhecimento público do extraordinário trabalho da comunidade educativa”. “São inúmeras as escolas cujo projeto coletivo promove um espírito e cultura de qualidade, por isso a Fundação Montepio ao promover este prémio está a promover a dignificação do papel da comunidade educativa. É um prémio que contribui para o sucesso do ensino”, afirma o Ministro da Educação e Ciência. Uma aposta no futuro António Tomás Correia, presidente do Montepio, acredita que diligências como esta podem fazer a diferença no ensino escolar e confessa que gostaria que “a iniciativa do Montepio se alastrasse a todo o tecido escolar de modo a poder constituir um incentivo à melhoria do ensino das nossas escolas, o que quer dizer uma melhoria da aprendizagem dos nossos alunos, à melhoria da formação dos nossos jovens e à melhoria do País.” Os projetos vencedores E ste ano, os estabelecimentos de ensino distinguidos foram a Escola Básica 2,3 do Caramulo, a Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades, a Escola Básica Integrada com Jardim-de-Infância da Torreira, a Escola Básica com 3º Ciclo Dr. Mário Sacramento e a Escola Básica 2,3 Professor João de Meira. Todos promovem boas práticas, orientadas para a melhoria das condições de ensino. 2 1 Os representantes das cinco escolas vencedoras do Prémio 2 O Ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, que salientou a importância do Prémio no reconhecimento da comunidade educativa e do seu trabalho ^ Escola Básica 2,3 do Caramulo Caramulo O projeto “Conhecer o que é nosso, para preservar e valorizar” visa a formação de docentes, alunos e pais e o lançamento de um Centro de Estudos e Interpretação da Serra do Caramulo. “O nosso objetivo final é evitar o abandono escolar e potenciar o interesse pela fixação na região”, explica Luís Filipe Rodrigues da Costa, da direção da escola. ^ Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades Oliveira de Frades "Escola Sustentável, dois (es)passos em frente” é um projeto que pretende apoiar uma experiência de escola sustentável com duas componentes de sustentabilidade: ambiental e social. Francisco José de Matos, coordenador do projeto, acredita que “daqui a um ano teremos, graças ao prémio do Montepio, uma escola inovadora do ponto de vista do abastecimento de energia, pois vamos satisfazer grande parte das necessidades energéticas da escola através de painéis fotovoltaicos que o Montepio ajudou a instalar.” Este projeto visa igualmente a sustentabilidade das relações humanas, “queremos que as relações entre as pessoas sejam cada vez melhores dentro da escola, pois também isso dita o sucesso do ensino.” ^ Escola Básica Integrada com Jardim-de-Infância da Torreira Torreira O projeto “Nas ondas da nossa identidade” quer criar uma maior ligação e compreensão dos alunos para com as suas raízes, procurando a fixação dos mesmos no território e o combate ao abandono escolar. “Com este prémio vamos fazer mais e melhor”, garante a coordenadora do projeto Angelina Figueiredo. “Acreditamos que o conhecimento vem dos livros mas também de outros saberes, como a tradição e tudo o que faz parte de uma região e de um povo. Queremos trazer as famílias à escola e lutar contra o abandono escolar envolvendo toda a comunidade.” ^ Escola Secundária c/ 3º C E B Dr. Mário Sacramento Aveiro O projeto “Espiral” tem como base o reconhecimento de que a língua portuguesa tem um papel fundamental no desenvolvimento das competências gerais de transversalidade disciplinar, designadamente na matemática e nas ciências. “A nossa escola empenhou-se muito no seu melhoramento e, com o esforço de alunos, pais e professores, conseguiu-se melhorar os resultados escolares”, recorda a diretora do projeto Teresa Soares Correia. “A participação gera responsabilidade e nós respondemos presente em relação ao compromisso assumido com este prémio”, garante. ^ Escola EB 2,3 João de Meira Guimarães O projeto “Genius” consiste na criação de duas sala de aula para ações nas áreas de Saúde, Sustentabilidade, Relações Pessoais e Comunidade. “Apostamos na diversificação da prática das salas de aula”, diz Manuela Carreira, coordenadora do projeto. montepio primavera 2012 87 5 o meu montepio resultados GRUPO MONTEPIO Síntese do Desempenho de 2011 Na sequência da aquisição do Grupo Finibanco Holding, SGPS, em dezembro de 2010 pelo Montepio Geral – Associação Mutualista (MGAM), o Grupo Montepio foi reforçado com sete instituições (Finibanco Vida, Finimóveis, Finisegur, Finibanco SA, Finicrédito, SA, Finivalor e Finibanco Angola), tendo observado, em 2011, um significativo alargamento e diversificação das atividades e mercados. Pese embora o contexto desfavorável e muito exigente, o desempenho de 2011 veio comprovar a resiliência e capacidade de adaptação do Montepio, que ultrapassou os desafios colocados e cumpriu as condições e os requisitos extraordinários que lhe foram impostos. Os principais destaques da evolução da Associação Mutualista, em 2011, são: Dimensão Aumento do Ativo Líquido em 4%, atingindo 2 869 milhões de euros. O Capital Próprio evidenciou uma evolução positiva de 5 milhões de euros, devido aos Fundos Próprios e às Reservas Legais; Aumento em 7,3% da base de associados, que ascendeu a 497 420. Resultados 88 Assinala-se a significativa expressão dos Resultados do Exercício, de 58,2 milhões de euros, que possibilitaram o aumento do nível de rendibilidade do ativo (Resultados do Exercício sobre Ativo Líquido) para 2,06%. Solidez Verificou-se a preservação do nível de cobertura das responsabilidades pelos fundos, reservas e provisões matemáticas em 1,15. Finibanco, SA, possibilitou o aumento do seu património comercial e financeiro, traduzido no acréscimo de clientes, na maior dimensão do balanço e na diversidade de segmentos e operações. Os trabalhos de integração, iniciados em abril e concluídos em novembro, envolveram a generalidade das áreas da instituição, num esforço coletivo exemplar, de grande escala, complexidade e exigência. Além da integração do Finibanco, SA, a CEMG desenvolveu outros trabalhos de natureza extraordinária, no quadro dos requisitos impostos, aos oito maiores grupos bancários, pelo Programa de Assistência Financeira (PAF) a Portugal. Tais trabalhos culminaram, em 2011, na avaliação, por entidades externas independentes e sob orientação do Banco de Portugal, da qualidade da carteira de crédito e adequação do nível de imparidades e do cálculo dos requisitos de capital, e, já em 2012, com a validação dos parâmetros e métodos de elaboração dos exercícios de stress test, no quadro do Programa Especial de Inspeções (Special Inspections Program). Os resultados dessas avaliações foram satisfatórios para a CEMG, na medida em que as imparidades globalmente constituídas são adequadas e o nível de solvabilidade está corretamente apurado e acima do exigido. Ainda no quadro das medidas extraordinárias decorrentes do PAF, é de referir a transferência do Fundo de Pensões para a Segurança Social, no respeitante às responsabilidades com pensões já em pagamento, ocorrida a 30 de dezembro de 2011, que teve um impacto nos Resultados de -14,1 milhões de euros. Com a aquisição, pela Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), ao MGAM, em 31 de março de 2011, da totalidade do capital da Finibanco Holding, SGPS, englobando o Finibanco, SA, a Finicrédito, SA, a Finivalor e o Finibanco Angola, verificou-se uma assinalável extensão do perímetro de consolidação contabilística da CEMG, da sua esfera de atuação e presença internacional. Outro facto relevante foi a alteração do estatuto fiscal da CEMG em sede de IRC, na sequência da publicação da Lei nº 64-B/2011 do Orçamento do Estado para 2012, que determinou a perda de isenção de IRC na qualidade de entidade anexa de IPSS. A integração na CEMG dos 174 balcões e dos ativos (2 625,2 milhões de euros de crédito a clientes) e passivos (2 315,2 milhões de euros de depósitos de clientes) do Ativo líquido montepio primavera 2012 Do desempenho consolidado obtido pela CEMG, assinalam-se: Atingiu 21 495 milhões de euros, com destaque para a carteira de crédito de 17 410 milhões de euros, para a qual concorreram os valores integrados do Finibanco, SA e os consolidados da Finibanco Holding, SGPS. Depósitos totais Ascenderam a 13 609 milhões de euros, o que, expurgando o contributo da carteira transferida do Finibanco, se traduz num crescimento de 12,7%. Liquidez Reforçou-se a nível estrutural, por via da evolução do rácio de alavancagem – proporção do crédito face aos depósitos –, que melhorou significativamente, de 148,12% para 124,05%, em rápida aproximação à meta de 120% imposta no PAF para 2014. Recursos próprios Aumentaram, refletindo o incremento do capital institucional, nomeadamente em 100 milhões de euros, no final do ano, perfazendo 1 259 milhões de euros. Rácios de crédito vencido Evidenciaram as dificuldades resultantes da crise, tendo o rácio de crédito vencido a mais de 90 dias atingido 3,99%. Salienta-se, contudo, a maior cobertura do crédito vencido por provisões para 111,04%. Eficiência O rácio de eficiência situou-se em 56,8%, excluindo os custos extraordinários com a integração do Finibanco, Fundo de Pensões e reformas antecipadas, num total de 48,4 milhões de euros. Margem Financeira Aumentou 17,6%, alcançando 319 milhões de euros. Produto bancário Ascendeu a 565 milhões de euros, +33,7% que em 2010. Resultado Líquido Atingiu 45 milhões de euros (em base consolidada), apenas menos 6,4 milhões de euros que em 2010 (-12,4%). Solidez Foi reforçada, em linha com as exigências deste período de agravamento dos riscos e das dificuldades. O rácio de solvabilidade passou de 12,9% para 13,5% e o rácio Core Tier 1 atingiu 10,2%, valor acima do exigido pelas autoridades para dezembro de 2011 e ao nível das exigências futuras. 5 o meu montepio resultados INDICADOREs ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA DIMENSÃO / ATIVIDADE (milhares de euros) Ativo Líquido 2009 2010 2011 2 609 777 2 759 348 2 868 652 Capital Próprio (Fundos Próprios, Reservas e Resultados) 403 105 410 645 415 631 Associados (Unidades) 442 091 463 390 497 420 7 039 7 287 7 627 42 533 54 393 58 157 1,63% 2,04% 2,06% 1,16 1,15 1,15 86 87 86 Pensionistas (Unidades) RENDIBILIDADE Resultado do Exercício (milhares de euros) Resultado do Exercício / Ativo Líquido Médio COBERTURA DAS RESPONSABILIDADES Fundos, Reservas e Provisões Matemáticas / Provisões para Riscos e Encargos COLABORADORES (Unidades) CAIXA ECONÓMICA (a) DIMENSÃO / ATIVIDADE (milhares de euros) Ativo Líquido Recursos Próprios (Capital, Reservas e Resultados) 2009 2010 2011 17 244 767 18 249 290 21 495 390 986 214 995 478 1 259 488 15 143 916 15 040 645 17 410 344 9 175 941 10 021 794 13 608 555 44 476 51 407 45 029 Resultado do Exercício / Ativo Líquido Médio (ROA) 0,26% 0,29% 0,21% Resultado do Exercício / Capitais Próprios Médios (ROE) 4,72% 5,18% 3,87% Total do Crédito a Clientes Depósitos Totais RENDIBILIDADE Resultado do Exercício (milhares de euros) QUALIDADE DO CRÉDITO Rácio de Crédito Vencido a mais de 3 meses Imparidade de Crédito Total / Crédito e Juros Vencidos a mais de 3 meses 3,36% 3,24% 3,99% 97,20% 107,20% 111,04% EFICIÊNCIA Gastos Operacionais / Ativo Líquido Médio Gastos Operacionais / Produto Bancário (cost to income) Gastos Operacionais / Produto Bancário (cost to income) (b) 1,46% 1,38% 1,73% 55,02% 58,68% 65,35% - - 56,77% LIQUIDEZ Rácio de Alavancagem (c) Ativos Elegíveis para Refinanciamento jundo do BCE (milhares de euros) 162,20% 148,12% 124,05% 1 626 265 3 433 820 2 991 055 SOLVABILIDADE Rácio de Solvabilidade 12,8% 12,9% 13,5% Tier 1 9,1% 9,1% 10,2% Core Tier 1 9,2% 9,3% 10,2% 499 REDE DE DISTRIBUIÇÃO E COLABORADORES (Unidades) Balcões - Rede Doméstica 326 329 Balcões Rede Internacional - Angola - - 8 Escritórios de Representação 6 6 6 2 942 2 896 3 910 Colaboradores Atividade Doméstica (a) Os dados de 2011 incluem a Finibanco Holding SGPS, SA facto que deverá ser considerado para efeitos de comparabilidade. (b) Sem considerar gastos não recorrentes (transferência do Fundo de Pensões, reformas antecipadas, integração do Finibanco e SIP). (c) Rácio calculado de acordo com a definição para efeito do objetivo fixado pelo Banco de Portugal. montepio primavera 2012 89 5 o meu montepio Esta informação não dispensa a leitura das condições BENEFÍCIOS e descontos para ASSOCIADOs gerais de acesso e utilização destes benefícios, bem como das condições gerais e/ou particulares em vigor, definidas pelas instituições mencionadas para efeitos da comercialização dos seus produtos e/ou disponibilização dos seus serviços. Mais informação: www.montepio.org Novos acordos celebrados AUTOMÓVEL / MOTO COBERTURA NACIONAL SOREL COMERCIAL - AUTOMÓVEIS DISTRITO DE LISBOA BOSCH CAR SERVICE BEM-ESTAR COBERTURA NACIONAL PÊLO & PESO CONSUMO Casa COBERTURA NACIONAL @MESA.COM CONSUMO Outros COBERTURA NACIONAL MARIA JOÃO DE ALMEIDA. COM CONSUMO Moda / Acessórios DISTRITO DE LISBOA ONIX – MODA / ACESSÓRIOS TORRES VEDRAS 90 CULTURA E LAZER Atividades / Ocupação de Tempos Livres DISTRITO DE LEIRIA COOLPARK LEIRIA DESPORTO REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES HEALTH CLUB SCM MADALENA PICO - MADALENA FORMAÇÃO Escolas / Centros de Estudo COBERTURA NACIONAL CAMBRIDGE SCHOOL DISTRITO DE COIMBRA EVOLUI.COM FIGUEIRA DA FOZ DISTRITO DE LISBOA COLÉGIO CESÁRIO VERDE LISBOA montepio primavera 2012 ÓTICAS DISTRITO DE LISBOA DISTRITO DE AVEIRO CLÍNICA DENTÁRIA INFANTE SAGRES LISBOA DISTRITO DE ÉVORA CLÍNICA DO CAMPO GRANDE LISBOA OCULISTA VIEIRA AVEIRO ÓTICA FRADINHO MONTEMOR-O-NOVO PROTEÇÃO SOCIAL Funerárias DISTRITO DE LISBOA AGÊNCIA FUNERÁRIA AUGUSTO DE OLIVEIRA LISBOA SAÚDE Centro de Diagnóstico / Laboratórios DISTRITO DE COIMBRA E LEIRIA LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS DR. JOAQUIM RODRIGUES COIMBRA, PENELA, MIRANDA DO CORVO, PAMPILHOSA DA SERRA, PEDRÓGÃO GRANDE, POMBAL, CASTANHEIRA DA SERRA SAÚDE Centro de Enfermagem / Reabilitação Física DISTRITO DE FARO ANA ROSALINO – FISIOTERAPIA AO DOMICÍLIO FARO SAÚDE Clínicas / Consultórios DISTRITO DE AVEIRO CONSULTÓRIO DR. AMADEU SANTOS – MEDICINA GERAL SANTA MARIA DA FEIRA – S. JOÃO DE VER CONSULTÓRIO DR. BRUNO SANTOS – MEDICINA DENTÁRIA SANTA MARIA DA FEIRA – S. 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