CARACTERIZAÇÃO E MISTURA DE MASSAS DE ÁGUA – ANÁLISE TERMOHALINA: A temperatura e a salinidade podem ser consideradas como propriedades conservativas abaixo dos ≈ 100m de profundidade. Até aí sofrem muito a interacção com a atmosfera. A precipitação e a evaporação, radiação solar e o vento não podem modificar muito a salinidade abaixo dos ≈ 100m. Æ Então o que é que aí vai fazer modificar a salinidade? É a mistura de massas de água. E é através das características T-S que se pode seguir uma massa de água. As características T-S das águas profundas são adquiridas à superfície em zonas delimitadas do oceano por interacção com a atmosfera. Perdido o contacto directo com esta, as águas só variam as suas características T-S por difusão (molecular ou turbulenta), variando portanto gradualmente. Podemos fazer perfis de T e de S com a profundidade, mas é difícil conjugar os 2. Para identificar a massa de água (ou massas de água) presentes num dado ponto do oceano, marcam-se num gráfico com a temperatura na coordenada vertical e a salinidade na horizontal, um conjunto de observações da temperatura e da salinidade a profundidades sucessivas num ponto do oceano, e unem-se os pontos. O resultado é um diagrama temperatura – salinidade T-S. Se a água for completamente homogénea, será representada por um único ponto no diagrama T-S e chamamos-lhe uma água tipo. Observações pouco dispersas em torno de um ponto, indicam a presença de uma água tipo. A mistura de 2 águas tipo forma uma massa de água, que será representada num diagrama T-S por um segmento de recta (ou muito aproximadamente). T T ← Água tipo B B ← massa de água ← Água tipo A A S S Vejamos agora algumas noções elementares sobre a mistura de águas tipo e a consequente formação de massas de água. Comecemos pela mistura de 2 águas tipo caracterizadas por (TA, SA) e (TB, SB) que se misturam nas proporções PA e PB (PA, PB são percentagens referidas à unidade). Por unidade de massa de mistura temos: P A + PB = 1 Desprezando as variações do calor específico da água (estamos a cometer um erro inferior a 1%), podemos escrever (convecção de calor): PA TA + PB TB = T Em que T é a temperatura de mistura. A conversão de sal traduz-se por: PA S A + P B S B = S Em que S é a salinidade da mistura. Podemos ainda escrever que: PA TA + PB TB = T (PA + PB) Logo como PA + PB = 1, irá ficar: PA (TA – T) = PB (T -TB ) Donde : T A – T = PB T – TB P A e T - TA = - PB T – TB PA Por raciocínio semelhante com a variável salinidade. Ficará: S - SA = - PB S – SB PA Então: S - SA = T - TA S – SB T – TB Logo, o ponto representativo de mistura, caracterizado por T e S, encontra-se sobre a recta que une os pontos representativos das 2 águas tipo no diagrama T-S. T B (TB, SB) ← M (T, S) A (TA, SA) S Além disso: AM = PB BM PA sendo AM e BM as distâncias de A a M e de B a M, respectivamente. E então: AM = BM = AB P B PA Logo: BM representa a proporção da água tipo A na mistura. AB AM representa a proporção da água tipo B na mistura. AB Graficamente iremos ter: T BM B (TB, SB) AM ← M (T, S) A (TA, SA) S Percentagem de A : BM x 100 AB EXEMPLO: Se a água tipo A, com uma temperatura de 5º C e uma salinidade 35, 5 s.p.u. se mistura com a água tipo B, com uma temperatura 2ºC e uma salinidade de 34,5 s.p.u. para dar uma mistura de características T e S de 3ºC e 34,85 s.p.u., quais são as proporções de água tipo A e tipo B na mistura? A figura seguinte mostra o exemplo com várias fases da mistura de 2 águas: 0 10 500 água 1 1000 Curva a Curva b Curva c 2000 água 2 3000 Prof (m) 20 Temp (ºC) salinidade salinidade salinidade Proporção de água 2 aos 1000m água 1 água 1 1000m (T1, S1) (0 – 1500m) 1500m temperatura Proporção da água 1 aos 1000m 1000m 1500m 2000m 2000m água 2 (T2, S2) (1500 – 3000m) água 2 água 2 Curva a Curva b Curva c Não há mistura Há pouca mistura Há bastante mistura Apesar dos diagramas T-S poderem ser utilizados para inferir a temperatura e a salinidade resultante da mistura de 2 águas, a aplicação habitual é para determinar as proporções das diferentes águas já conhecidas que contribuem para a água quer estamos interessados em estudar e da qual conhecemos a temperatura e a salinidade (através de observações. Notemos que nem todos os segmentos de recta nos diagramas T-S representam mistura entre águas tipo: podem indicar variações dentro da mesma água. Estas variações podem resultar de águas com características T-S ligeiramente diferentes formadas em diferentes épocas do ano e que, de acordo com as suas densidades, se afundam para profundidades diferentes. Ou, em alternativa, as condições à superfície podem variar na região de origem da água durante o período de formação da água (em geral o Inverno). A água que se vai misturando em profundidade ao longo das superfícies isopícnicas inclinadas torna-se eventualmente estratificado na vertical e esta água será representada por uma linha mais ou menos recta num diagrama T-S. O processo de mistura de massas de água torna-se mais complexo quando se misturam 3 tipos de água. Os vértices do triângulo representam as águas tipo e o ponto representativo da mistura tem que cair dentro do triângulo, achando-se as percentagens das diferentes componentes medindo as distâncias desse ponto aos lados do triângulo: B TB A1 M C1 TM TC TA água 1 C A B1 SA SM SB SC PA = MA1 AA1 PB = MB1 BB1 PC = MC1 CC1 Æ PA + PB + PC = 1 Vimos como é possível calcular as proporções relativas das diferentes águas tipo na mistura de água, utilizando o diagrama T-S. Vejamos agora como é que as distribuições de salinidade e temperatura variam à medida que as 3 águas se misturam no oceano e quais as consequentes modificações no diagrama T-S: Æ Ver o acetato Como representativos da situação em 3 localizações diferentes, apesar de que do ponto de vista de massas de água em movimento, eles correspondem a 3 diferentes momentos no tempo. Na fase 2, na camada intermédia, ainda há uma porção de água com a sua temperatura e salinidade originais. É chamado água núcleo – core water e é representado por um ângulo acentuado no diagrama T-S. Na fase 3, depois de mais mistura, esse ângulo é atenuado. Æ Utilização dos Diagramas T-S: estabilidade: A densidade da água do mar, ou a sua variante oceanográfica, sigma-T, é uma função da temperatura e da salinidade. É por isso possível desenhar linhas de igual densidade (isopícnicas) nos diagramas T-S, se assumirmos que a pressão é cte (em geral a pressão à superfície – pressão atmosférica). Os valores de sigma-T são por isso calculados a partir da temperatura in situ, salinidade in situ e pressão atmosférica. Contudo, ainda que pouco, a água sofra alguma compressão sobre o efeito da pressão. Assim, a temperatura da água profunda sobe devido à compressão adiabática e a temperatura in situ é maior que a temperatura que seria medida se a mesma água estivesse à superfície, à pressão atmosférica. Então a temperatura in situ não é propriamente uma propriedade conservativa, uma vez que varia com a pressão. Por outro lado, a temperatura potencial θ, (a temperatura in situ corrigida da compressão adiabática) é uma propriedade conservativa. Em consequência, a análise da curva T-S de uma dada estação oceanográfica pode dar indicações erradas sobre a estabilidade da coluna de água. Para que a coluna de água seja estável é necessário que a densidade aumente em profundidade, logo a curva T-S tem que ir cruzando as isopícnicas de forma crescente à medida que a profundidade vai aumentando. Se representarmos θ e S ( em vez de T e S) e as isopícnicas potenciais, sigma-θ em vez de sigma-T, a análise da estabilidade é mais perfeita, porque estamos a corrigir o resultado do efeito do aquecimento devido à compressão adiabática. Ainda assim estamos a cometer algum erro, porque sigma-θ corresponde à densidade à pressão atmosférica. No entanto o erro é consideravelmente menor e cada vez mais as temperaturas são registadas nas observações oceanográficas de profundidade em termos de temperatura potencial θ. Contudo, para muitas aplicações, a temperatura in situ é adequada, e ambos os diagramas, T-S e θ-S são amplamente utilizados. A estabilidade é tanto maior quanto maior for o ângulo entre a curva θ-S. Outra utilização dos diagramas T-S está no controlo de uma estação oceanográfica, pois qualquer ponto que esteja muito fora da curva T-S da região em estudo está provavelmente errado e deve ser rejeitado. Também se utilizam os diagramas T-S para obter valores interpolados a partir de dados observados. Æ Massas de Água do Oceano Mundial: Intermédias 100 – 900m 100 – 300m 600 – 800 até 1200m Profundas e de fundo Abaixo dos 1200m Centrais Atlântico Norte Pacífico Norte Mediterrâneo Atlântico: Funda→H.Sul Profunda→H.Norte Formam-se nas regiões de convergência subtropical (≈40ºN e S) Formam-se em latitudes elevadas de ambos hemisférios e depois circulam para o hemisfério oposto.