0 INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE/SOEBRAS ANELISA ANGELO DOS ANJOS AVALIAÇÃO DO ÂNGULO DE TORQUE DE BRAQUETES DE CANINOS SUPERIORES E INFERIORES DE DIFERENTES MARCAS Florianópolis - 2013 1 ANELISA ANGELO DOS ANJOS AVALIAÇÃO DO ÂNGULO DE TORQUE DE BRAQUETES DE CANINOS SUPERIORES E INFERIORES DE DIFERENTES MARCAS Monografia apresentada ao Programa de pós-graduação do Instituto de Ciências da Saúde – FUNORTE/ SOEBRAS Núcleo Florianópolis, SC como parte dos requisitos a obtenção do título de Especialista em Ortodontia. Orientadora: Me. Daniela Daufenback Pompeo Florianópolis – 2013 2 ANELISA ANGELO DOS ANJOS AVALIAÇÃO DO ÂNGULO DE TORQUE DE BRAQUETES DE CANINOS SUPERIORES E INFERIORES DE DIFERENTES MARCAS Monografia apresentada ao programa de pós-graduação do Instituto de Ciências da Saúde – FUNORTE/ SOEBRAS Núcleo Florianópolis, como parte dos requisitos a obtenção do título de Especialista em Ortodontia. Orientador: Me. Daniela Daufenback Pompeo DATA DA APROVAÇÃO: MEMBROS DA BANCA: PROFª. DANIELA DAUFENBACK POMPEO (MESTRE) – INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FUNORTE PROF. ALVARO FURTADO (DOUTOR) – INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FUNORTE PROF. RONALDO DE SOUSA RUELA (DOUTOR) – INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FUNORTE Florianópolis – 2013 3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha filha Luísa. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço aos professores: Ronaldo de Sousa Ruela, Alvaro Furtado, Gisela Crippa Furtado, Wilmar Campos, Ossam El Haje, Henrique Damian Rosário, Igor Salmória, Daniela Daufenback Pompeo e Gilson José Enriconi dos Anjos, pelos seus exemplos e ensinamentos. 5 Maravilhar-se é o primeiro passo para um descobrimento. Louis Pasteur. 6 RESUMO Objetivo: Medir os valores dos ângulos de torque de braquetes de caninos de diferentes marcas comerciais e comparar com os valores prescritos pelo autor da técnica. Metodologia: Foram selecionados 160 braquetes de caninos superiores e inferiores, da prescrição Roth, das seguintes marcas: Abzil, Eurodonto, Morelli e Ormco. Os braquetes foram fixados em cera e as imagens foram obtidas por meio de escaneamento, utilizando o Scanner Epson Stylus TX 220®. Foram determinados pontos de referência sobre estas imagens, onde foram traçadas linhas e feita a medição do ângulo de torque. Foi utilizado o teste “t” de Student e o teste não paramétrico de Wilcoxon a um intervalo de significância de 5%. Resultados: Nos braquetes de caninos superiores os valores médios do ângulo de torque foram: Abzil -0,93o (± 0,88o); Eurodonto 0,13o (± 0,34o); Morelli -2,56o (± 0,50o) e Ormco -1,16o (± 1,27o). Em relação aos braquetes de caninos inferiores os valores obtidos foram: Abzil -11,76o (± 0,40o); Eurodonto -10,40o (± 0,25o); Morelli -11,18o (± 0,56o) e Ormco -11,36o (±0,30o). Para braquetes de caninos superiores, as marcas Abzil, Morelli e Ormco obtiveram valores com diferença estatisticamente significante daqueles indicados para a prescrição. Para braquetes de caninos inferiores, as marcas Abzil, Eurodonto e Ormco apresentaram valores com diferença estatisticamente significante quando comparados aos valores prescritos. Conclusão: Pode-se concluir que algumas marcas apresentaram diferenças significativas entre o ângulo de torque presente nos braquetes e aquele preconizado na prescrição, entretanto, mais estudos clínicos são necessários .para verificar se estas discrepâncias acarretam em manifestações clínicas. Palavras-chave: Braquetes. Torque. Ortodontia. 7 ABSTRACT Objective: The present study aim to measure the torque brackets angle values of different brands of canine brackets and compare with the values prescribed by the author's technique. Methods: We selected 160 maxillary and mandibular canines brackets of the following brands: Abzil, Eurodonto, Morelli, Ormco. The brackets were positioned in wax and the images were obtained by Scanner Epson Stylus TX 220®. Reference points were determined and lines were obtained for measure the angle torque. The dates were analyzed with "t" test student and the nonparametric test Wilcoxon with of 5% significance. Results: In the upper canine brackets mean values of the angle of torque were Abzil 0.93o (± 0.88o); Eurodonto - 0.13o (± 0.34o ); Morelli -2.56o (± 0.50o) and Ormco -1.16o (± 1.27o). Regarding the brackets lower canines values were obtained: the Abzil -11.76o (± 0.40o); Eurodonto -10.40o (± 0.25o); Morelli -11.18o (± 0.56o) and Ormco - 11.36o (± 0.30o). For brackets of upper canines, brands Abzil, Morelli and Ormco values obtained with a statistically significant difference from those indicated for the prescription. For brackets of lower canines, brands Abzil, Eurodonto and values Ormco presented with a statistically significant difference when compared to the values prescribed. Conclusion: It can be concluded that brands showed significant differences between the torque angle brackets and the recommended prescription values, however, more clinical studies are needed to verify these discrepancies lead to clinical manifestations. Key-words: Braces. Torque. Orthodontics. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Figura 2. Figura 3. Figura 4. Posicionamento do braquete sobre a placa de vidro, sendo estabilizado no bloco de cera para posterior obtenção da imagem.................................................................................... 26 Pontos B1 e B2 na base do corpo do braquete. Pontos C1 e C2 delimitando o assoalho da canaleta do braquete ............. 28 Linhas de referência utilizadas para medida do ângulo de torque ..................................................................................... 29 Aplicação do Software MB Ruler® para medição do ângulo de torque................................................................ 29 Gráfico 1. Média, desvio padrão e valor da norma dos braquetes de caninos superiores.................................................................. 34 Gráfico 2. Média, desvio padrão e valor da norma dos braquetes de caninos inferiores. .................................................................. 35 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Tabela 2. Tabela 3. Tabela 4. Tabela 5. Média, desvio padrão das duas medições, teste “t” pareado e erro de Dahlberg para avaliar o erro sistemático e o erro casual ................................... Média, desvio padrão, mínimo, máximo e comparação com a norma dos braquetes de caninos superiores .......................................................... Média, desvio padrão, mínimo, máximo e comparação com a norma dos braquetes de caninos inferiores ........................................................... Comparação entre as quatro marcas da diferença entre os valores obtidos e a norma de cada fabricante, nos braquetes de caninos superiores ...... Comparação entre as quatro marcas da diferença entre os valores obtidos e a norma de cada fabricante, nos braquetes de caninos inferiores ....... 31 33 34 35 36 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................ 11 2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................... 13 3 PROPOSIÇÃO ........................................................ 24 4 MATERIAL E MÉTODOS .......................................... 25 4.1 Amostra ................................................................ 25 4.2 Posicionamento dos braquetes .............................. 25 4.3 Mensuração do torque ........................................... 27 4.4 Avaliação do erro de medição ................................ 30 4.5 Análise dos dados ................................................. 31 5 RESULTADOS ......................................................... 33 6 DISCUSSÃO ........................................................... 37 7 CONCLUSÃO .......................................................... 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................ 40 ANEXO - Imagens obtidas dos 160 braquetes da amostra .................................................................. 43 11 1 INTRODUÇÃO A Ortodontia envolveu muitos anos de experimentos, estudos e pesquisas, onde com muito esforço e dedicação foram desenvolvidos artifícios para posicionar adequadamente os dentes, devolvendo a função e a estética. Atualmente, o ortodontista dispõe de diversas opções mecânicas para a realização de movimentos dentais, e uma variada quantidade de prescrições de braquetes. O conceito do Arco de Canto foi idealizado por Edward Hartley Angle em 1925, onde um fio retangular preenchendo total ou parcialmente o interior também retangular de um braquete, passa aos dentes informações geométricas e espaciais, que definem sua posição no arco dental (BRITO JÚNIOR e URSI, 2006). Características presentes em oclusões naturais normais foram estudadas por Lawrence Andrews (1972), estabelecendo valores para angulação, inclinação e proeminência vestibular a serem incorporados nos braquetes para cada dente, a chamada técnica de Arco Reto ou Straight Wire. Tendo como ponto de partida a concepção de Angle, o Arco de Canto e as prescrições do aparelho do Arco Reto, proposto por Andrews, alguns autores alteraram os valores de determinadas características dos braquetes, com o objetivo de melhorar a resposta clínica. A escolha da prescrição depende da filosofia de diagnóstico, dos objetivos de tratamento e da mecânica a ser utilizada. É de suma importância que os valores das angulações e torques contidos nos preconizados ortodôntico braquetes pelo alcance autor seus estejam da de técnica, objetivos, acordo para com que resultando favoráveis de oclusão, função e estética dental. o em os valores tratamento condições 12 Por esse motivo, o presente trabalho visa avaliar se os valores dos ângulos de torque de braquetes metálicos de caninos superiores e inferiores da prescrição Roth, de quatro diferentes marcas comerciais estão de acordo com o preconizado nas prescrições. 13 2 REVISÃO DA LITERATURA Edward Hartley Angle, em 1899, desenvolveu o sistema de classificação das más oclusões, baseando-se no correto posicionamento que a cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior estabelecia no sulco mesiovestibular do primeiro molar inferior. Classificaram desta forma as más oclusões em classes I, II e III com divisões e subdivisões (ANGLE, 1912). Angle terapêutica desenvolveu ortodôntica. dispositivos Em 1925, que auxiliaram introduziu o a aparelho Edgewise ou a técnica do Arco de Canto; onde fios retangulares eram inseridos no interior dos braquetes com canaletas também retangulares, produzindo forças capazes de incorporar torções no arco retangular que posicionariam corretamente os dentes na arcada (BRITO JÚNIOR e URSI, 2006). Andrews, na década de 60, iniciou sua pesquisa estudando uma amostra de 120 pacientes com face harmoniosa e boa oclusão, não tratados ortodonticamente; analisou as características que se repetiam nessa amostra, descreveu uma oclusão normal e funcional (ANDREWS, 1972). A partir deste estudo, Andrews definiu onde seriam as posições mais adequadas para os dentes sob o ponto de vista anatômico (ANDREWS, 1989). Definiu as seis chaves da oclusão normal: relação molar; angulação ou tip da coroa; inclinação coronária ou torque; rotações; espaço e diastemas e plano oclusal (GREGORET et al., 2005). Azenha e Macluf (2008), Gregoret et al. (2005), Maltagliati et al. (2006) descrevem as características da oclusão normal conforme o Quadro 1. 14 Chave I: relação interarcadas A cúspide mesio vestibular do primeiro molar superior oclui no sulco mesio vestibular do primeiro molar inferior. A crista marginal distal do primeiro molar superior oclui na crista marginal mesial do segundo molar inferior. A cúspide mesio palatina do primeiro molar superior oclui na fossa central do primeiro molar inferior. As cúspides vestibulares dos pré-molares superiores ocluem nas ameias entre os pré-molares inferiores. As cúspides palatinas dos pré-molares superiores ocluem nas fossas distais dos homólogos inferiores. O canino superior oclui na ameia entre canino e primeiro pré-molar inferior. Os incisivos superiores sobrepõem-se aos incisivos inferiores, e a linha média das arcadas deve coincidir. Chave II: angulação mesiodistal das coroas A porção cervical do longo eixo de cada coroa encontra-se distalmente à sua porção oclusal; onde todas as coroas possuem angulação positiva. Chave III: inclinação vetíbulolingual das coroas (torque) Na maxila os incisivos apresentam inclinação positiva; os caninos, pré-molares e molares tem inclinações negativa. Na mandíbula a inclinação é progressivamente mais negativa dos incisivos em direção aos pré-molares. Chave IV: rotações Numa oclusão normal não devem existir rotações dentárias. Chave V: espaços ou diastemas Os dentes estão posicionados com seus pontos de contatos justos. Chave VI: Curva de Spee A profundidade da curva deve ser plana a ligeiramente côncava. Quadro 1 - As seis chaves de Oclusão de Andrews. 15 Na década de 70, Andrews introduziu o conceito de aparelho totalmente programado (CAPELOZZA FILHO et al., 1999), por meio da criação de um aparelho de natureza tridimensional, constituído de braquetes que possuíam no seu desenho as características angulares ideais de cada elemento dental para uma oclusão normal. Segundo ele, o braquete deveria ser posicionado no centro da coroa dental (EVCC) de onde transmitiria suas informações angulares aos dentes (BRITO JÚNIOR e URSI, 2006). Andrews determinou uma linha de referência na coroa dental que chamou de eixo vertical da coroa clínica (EVCC). Trata-se de uma linha que corta a coroa clínica verticalmente, paralela às faces proximais dos dentes. Definiu o plano de Andrews como uma reta que passa pelos pontos centrais (EVCC) de cada elemento dental, ligando todos em um plano (ANDREWS, 1989). As ângulos dos dentes foram medidos por meio da diferença em graus entre o eixo vertical da coroa clínica e a perpendicular plano de Andrews (GREGORET et al., 2005). Em 1971 um aparelho, que representou a extensão lógica do aparelho original de Angle (Arco de Canto), tornou-se comercialmente disponível. Neste aparelho, os braquetes poderiam movimentar os dentes nos três planos do espaço simultaneamente, de forma desejável e com poucos ajustes no fio. Em relação ao torque, as canaletas dos braquetes poderiam conter informações, apresentando determinados ângulos em relação às bases. A força resultante, se os braquetes fossem corretamente posicionados seriam transmitidas aos dentes e a correção do posicionamento dos dentes seria alcançada pelo aumento gradual da espessura do fio até o preenchimento total da canaleta do braquete. Assim completa a expressão dos ajustes embutidos nos braquetes e o posicionamento ideal dos dentes. Surgia o aparelho Straight Wire e as 11 prescrições de Andrews (BRITO JÚNIOR e URSI, 2006; MEYER e NELSON, 1978). 16 Roth considerava que uma oclusão ideal deveria apresentar: as “Seis chaves de Andrews”; os dentes anteriores deveriam ter uma posição estética que ocupe espaço suficiente a fornecer uma guia anterior adequada e confortável ao paciente; a forma do arco deveria ser compatível com os movimentos da mandíbula e a forma e largura do arco com a mandíbula em relação cêntrica (BRITO JÚNIOR e URSI, 2006). Roth acreditava que a dinâmica da oclusão estava relacionada à obtenção de resultados ortodônticos estáveis e saudáveis. Após muito tempo dedicando-se ao estudo de casos montados em articuladores, observou que em vários tratamentos ortodônticos bem finalizados que realizou, onde as guias de desoclusão eram adequadas, as posições dentárias encontravam-se semelhantes às que Andrews encontrou em casos não tratados ortodonticamente e que eram considerados normais (BRITO JÚNIOR e URSI, 2006). Em 1975 Ronald Roth modificou alguns valores da prescrição de braquetes do sistema Straight Wire original e produziu uma prescrição universal, sendo denominada de segunda geração dos aparelhos pré-ajustados (GRABER e VANARSDALL JÚNIOR, 1996). Para Roth (1987) a busca para a obtenção clínica da angulação axial mesiodistal correta envolve desde alterações no posicionamento dos braquetes até a sua incorporação nos acessórios. A prescrição de Roth elimina a necessidade de realizar dobras de finalização nos fios finais, para atingir uma leve sobrecorreção das posições dentais ao final do tratamento ortodôntico. Para os caninos superiores recomendou uma diminuição no torque lingual de coroa de -7° para -2°, para os caninos inferiores foi mantido -11° de torque lingual de coroa (ZANELATO et al., 2004). Além disso, incorporou 4° de rotação para mesial nos caninos superiores e 2° nos caninos inferiores. A idéia é compensar uma possível rotação do canino para distal nos casos de extração, porém o que acontece, muitas vezes, é 17 o desalinhamento dos caninos em relação aos incisivos laterais (AZENHA e MACLUF, 2008). Rauch (1959) definiu torque como uma torção do fio retangular, onde a coroa acompanha o movimento do fio e a raiz se desloca em sentido contrário. A aplicação do torque permite controlar as inclinações axiais dos dentes, posicionando-os adequadamente ao final do tratamento ortodôntico. Para Archambault et al. (2010) o torque pode ser definido sob o ponto de vista clínico e mecânico. No que se refere à mecânica, indica torção de uma estrutura no seu eixo longitudinal, resultando em um ângulo de torção. Clinicamente, em ortodontia, ele representa a inclinação vestíbulo-lingual da coroa/raiz de um dente. Na literatura são utilizados os termos momento, momento de torção, torque biomecânico e torque de terceira ordem para dizer a mesma coisa. Langlade (1995) definiu torção, como a manobra que consiste em torcer o arco sobre sí próprio enquanto torque seria o deslocamento do ápice radicular produzido pelo movimento de torção. No movimento de torque, o ponto de apoio ou centro de rotação situa-se no braquete, e pela força utilizada, a raiz se desloca e a coroa mantem-se fixa. O torque é o movimento de terceira ordem que possibilita obter corretas relações de oclusão. Vigorito (1986) relatou que as dobras de 3ª ordem, são produzidas pela torção do fio em direção vestibular ou lingual, onde torque vestibular se refere à inclinação vestibular da coroa do dente e simultaneamente torque lingual de raiz. Oliveira (2000) observou que o deslocamento do ápice da raiz produzido pelo movimento de torção no fio seria transmitido ao dente através do braquete. Proffit e Fields Júnior (2002) definiram torque como a inclinação relativa da raiz e da coroa perpendicular à linha de oclusão, podendo ser lingual ou bucal. Ferreira (2008) afirmou que a inclinação axial dos dentes está 18 intimamente relacionada ao movimento de torque, clinicamente representado por uma força de torção. É aceitável chamar o posicionamento de primeira ordem de inout, o posicionamento de segunda ordem, de tip, e o posicionamento de terceira ordem de torque ou inclinação. Além disso, offset e o posicionamento da altura da cúspide também são importantes (PROFFIT e FIELDS JÚNIOR, 2002). A inclinação vestibulolingual dos dentes obedece a um plano geral de resistência aos esforços funcionais que se manifestam sobre o aparelho mastigatório, buscando um equilíbrio entre suas partes (FERREIRA, 2008). No arco superior as raízes dos incisivos centrais inclinam-se fortemente para palatino. O torque presente nos incisivos centrais no sentido vestibulolingual decresce nos laterais e caninos atingindo valores próximos a zero nos pré-molares e molares. No arco inferior as raízes dos incisivos centrais e laterais têm inclinação lingual, sendo que esta diminui acentuadamente em nível dos caninos. O primeiro pré-molar se implanta verticalmente e a partir do segundo pré-molar o longo eixo radicular inclina-se vestibularmente, aumentando à medida que nos distalizamos no arco (FERREIRA, 2008). Segundo Archambault et al. (2010) os incisivos superiores são dentes que frequentemente, durante o tratamento ortodôntico necessitam de controle de torque, além disso há uma variação significativa com relação aos valores de torque das prescrições, podendo ser de 12o na prescrição Roth até 22o na prescrição Bioprogressiva. Os tratamentos ortodônticos têm como objetivo a obtenção de uma relação oclusal ideal, tanto estática como dinâmica, respeitando os aspectos funcionais e estéticos individuais preconizados por Roth e Andrews (CLARK e EVANS, 2001). Germane et al. (1990) relatam que os caninos ocupam um lugar de transição entre a oclusão dos dentes anteriores e 19 posteriores. A oclusão da borda incisal do canino demonstra a angulação e o torque do aparelho que foi utilizado. Além disso, o torque efetivo do braquete é influenciado pela morfologia da face vestibular, que pode ser descrito por um ângulo, formado pela tangente do ponto de instalação do braquete e o longo eixo da coroa clinica. Segundo o autor, a curvatura da face vestibular, relativa ao longo eixo da coroa clínica, é estatisticamente diferente entre os caninos superiores e inferiores. A individualização de torque para os caninos deve ser considerada, em razão da grande variabilidade das más oclusões e das diversas inclinações dentárias. Cabe ao ortodontista, quando necessário, realizar compensações de torque nos arcos retangulares (ZANELATO et al., 2004). Thiesen et al. (2003) relataram a importância da incorporação e do controle de torque no tratamento ortodôntico. Afirmaram que o fio retangular encontra na canaleta do braquete uma relação de superfície de tangência e não de pontos de tangência, como ocorre com os fios redondos. A utilização do fio retangular, bem como o torque incorporado ao braquete, seria primordial para uma adequada finalização ortodôntica, uma vez que a correta inclinação vestíbulolingual dos dentes seria essencial para a obtenção de uma intercuspidação adequada, estabilidade, estética e função. O ortodontista deve incorporar o torque no fio retangular, mesmo com a utilização de braquetes pré-ajustados (GREGORET et al., 2005 ; AZENHA e MACLUF, 2008). Os ortodontistas dispõem de diversas técnicas e filosofias para realizarem a mecânica ortodôntica, podendo utilizar diferentes tipos de braquetes. As prescrições de braquetes pré-ajustados diferem-se quanto às variações nos valores de angulação, inclinação e rotação dentária (BRITO JÚNIOR e URSI, 2006). Azenha e Macluf (2008) relatam que a escolha da prescrição tem muito a ver com aquilo que pretendemos realizar, relata ainda 20 que não existe um braquete que seja adequado a todos os tipos de pacientes. Estas variações nas prescrições estão ligadas à presença ou não de rotações, torques, angulações e in–out. As prescrições de todas estas técnicas, Andrews, Roth, M.B.T., Capelozza padrão I, II e III, derivam da técnica original do Arco de Canto Edgewise. Magness (1978) relatou que o dente deveria ser avaliado pelo ortodontista, com relação à anatomia e ao contorno da superfície vestibular, uma vez que estas características não são uniformes o suficiente para se padronizar os braquetes. Portanto, os profissionais que utilizassem os aparelhos pré-ajustados em seus pacientes, deveriam estar cientes que esta grande variação influenciaria no resultado final do tratamento, sendo necessária à confecção de dobras nos fios. Creekmore (1979) afirmou que a posição do braquete no dente teria importância para o torque, mas que não seria possível utilizar uma posição constante devido à grande variação do tamanho das coroas, de paciente para paciente. Relatou ainda que a folga existente entre o fio e a canaleta do braquete teria grande relevância. Utilizando-se um fio 0,018” X 0,025” numa canaleta 0,018” haveria 2° de folga devido à tolerância industrial. Nos braquetes maiores e mais largos diminui a folga, então a angulação é melhor estabelecida. Nos braquetes menores a folga seria maior. Archambault et al. (2010) realizaram uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de avaliar os efeitos quantitativos de vários tamanhos de slot e espessuras de fios ortodônticos sobre a expressão do torque. Para isso, selecionaram 11 artigos e analisaram os valores obtidos. Os autores observaram que em braquetes com slot de 0,018” ocorre um ângulo de folga de 31o para fios de 0,016” x 0,016” de secção e 4,6o para fios 0,018” x 0,025”. Para braquetes com slot de 0,022” o ângulo de folga variou de 18o para fios de 0,018” x 0,025” a 6o para fios com 0,021” x 0,025”. 21 Germane et al. (1989) relataram que discrepâncias tem sido percebidas na curvatura da superfície vestibular, em alturas diferentes e em um mesmo dente. Um braquete pré-ajustado posicionado em alturas diferentes produz torque variado. A morfologia dental influencia o torque efetivo do braquete. Balut et al. (1992) pesquisaram as variações na angulação dos braquetes pré-ajustados posicionados por meio de colagem direta. Dez professores de ortodontia fizeram a colagem dos braquetes em cinco modelos de pré-tratamento. Foram encontradas discrepâncias na angulação de 5,54°. As irregularidades das superfícies dos dentes e as variações anatômicas dos mesmos dificultaram o posicionamento dos braquetes. Creekmore e Kunik (1993) enumeraram as razões pelos quais os aparelhos pré-ajustados não alcançavam a posição ideal dos dentes: posicionamento inexato; variações da estrutura dental; irregularidades da superfície; angulações da coroa raiz; forma atípica das coroas; relações maxilo-mandibulares desproporcionais; resposta tecidual e tendência de recidiva; aplicação de forças fora do centro de resistência dos dentes; folga entre o fio e o braquete. Miethke (1997) relata que os aparelhos Straigth Wire corrigem as posições dentárias desde que os braquetes sejam bem posicionados pelo ortodontista e as coroas dentárias apresentem uma morfologia típica. Zanelato et al. (2004) estudaram a influência de algumas variáveis na individualização do torque para os caninos. Dentre essas variáveis destacaram a forma do arco dentário; a morfologia da face vestibular dos dentes; a posição vertical do braquete na face vestibular e a posição da irrupção dentária. Bóbbo (2006) comparou os valores de torque dos braquetes da técnica MBT de incisivos centrais e laterais superiores e incisivos 22 inferiores com os valores prescritos pelos autores da técnica. Foram avaliados 360 braquetes subdivididos em três grupos de 120 braquetes, sendo 20 braquetes de cada marca comercial: Abzil, American Orthodontics, Morelli, Ortho Organizers, TP Orthodontics e 3M Unitek. Os braquetes foram posicionados em um suporte e as imagens obtidas possibilitaram a mensuração do torque. Houve uma variação ampla, sendo que os incisivos centrais superiores da marca Morelli diferiram significantemente do valor prescrito pelo autor. Nos incisivos laterais superiores as marcas American Orthodontics, Morelli e TP Orthodontics apresentaram diferença estatisticamente significante. Nos incisivos inferiores, as marcas que diferiram com significância estatística foram American Orthodontics, Ortho Organizers e 3M Unitek. Streva (2005) objetivou aferir o torque presente em braquetes metálicos na técnica M.B.T. Foram selecionados 20 braquetes de caninos superiores com -7° de torque e 20 braquetes de caninos inferiores com -6° de torque, de seis marcas comerciais (3M Unitek, Abzil, American Orthodontics, TP Orthodontics, Morelli e Ortho Organizers); totalizando 240 braquetes. Os resultados mostraram que para os braquetes de caninos superiores, a marca Morelli apresentou diferença estatisticamente significante do valor prescrito (-3,33°), além de um elevado desvio padrão (2,33°). Para os braquetes de caninos inferiores, as marcas American Orthodontics (6,34°) e Ortho Organizers (6,25°) apresentaram diferenças estatísticas, embora com médias aceitáveis. Streva (2005) destacou que existem variações na precisão dos valores de torque dos braquetes, comprometendo a posição vestíbulolingual final dos dentes, observando que deveriam ser realizadas melhorias no segmento industrial e no controle de qualidade dos braquetes, visando à realização de tratamentos ortodônticos otimizados. 23 Cornejo (2005) realizou um estudo com o objetivo de avaliar o valor do torque dos braquetes de pré-molares na técnica M.B.T. de seis marcas comerciais. Foram avaliados através de microscopia óptica 120 braquetes de pré-molares superiores (20 de cada marca), 120 braquetes de 1º pré-molares inferiores e 120 braquetes de 2º pré-molares inferiores. As seis marcas avaliadas foram: 3M Unitek, Abzil, American Orthodontics, Morelli, Ortho Organizers e TP Orthodontics. Foram definidos pontos e linhas de referências para que fossem mensurados os ângulos de torque. O autor concluiu que em geral os valores médios para os pré-molares superiores e inferiores encontram-se dentro dos valores prescritos pela técnica MBT excetuando a marca American Orthodontics nos três dentes, Morelli nos pré-molares inferiores e TP Orthodontics nos 1°s pré- molares inferiores. 24 3 PROPOSIÇÃO Definir o valor do ângulo de torque de braquetes metálicos de caninos superiores e inferiores da prescrição Roth, das marcas comerciais Abzil, Eurodonto, Morelli e Ormco; por meio da medida angular formada entre a solda do corpo do braquete e o eixo oclusogengival da canaleta (slot). Analisar se os valores de torque dos braquetes da prescrição Roth das quatro marcas citadas, estão de acordo com os valores prescritos pelo autor. Comparar os valores médios e os desvios padrão do torque entre as quatro marcas comerciais. 25 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Amostra Este trabalho do tipo experimental utilizou um total de 160 braquetes ortodônticos metálicos de quatro marcas comerciais, com slot 0,022”x 0,028” da prescrição Roth. A amostra foi dividida em 4 grupos (n = 40) de acordo com as respectivas marcas comerciais de braquetes: Grupo 1: Braquetes da marca Abzil (São José do Rio Preto, SP, Brasil); modelo Kirium Line. Grupo 2: Braquetes da marca Eurodonto (Curitiba, PR, Brasil); modelo 280. Grupo 3: Braquetes da marca Morelli (Sorocaba, SP, Brasil); modelo Roth Max. Grupo 4: Braquetes da marca Ormco (Glendora, Califórnia, EUA); modelo mini-Damon. Cada grupo foi composto por 40 braquetes, sendo 20 de caninos superiores e 20 de caninos inferiores. 4.2 Posicionamento dos braquetes 26 Para a obtenção da imagem para a mensuração do torque com maior precisão, o braquete foi posicionado sobre uma placa de vidro, com a face mesial voltada baixo (em contato com a superfície da placa de vidro). Um esquadro (Esquadro de desenho profissional, Acrimet, São Paulo, SP, Brasil) foi utilizado para posicionar o braquete, permitindo que ao se deslizar o esquadro, o braquete ficasse aderido ao pedaço de cera utilidade (Wilson Polidental, Cotia, SP, Brasil), medindo 1,5 cm x 1,0 cm x 0,5 cm (Figura 1). A cera utilidade manteve o braquete em posição para ser transferido ao scanner e adquirido a imagem. Este processo foi repetido para cada braquete analisado, totalizando 160 imagens (ANEXO). Figura 1 – Posicionamento do braquete sobre a placa de vidro, sendo estabilizado no bloco de cera para posterior obtenção da imagem. 27 A identificação dos braquetes foi realizada no momento do escaneamento onde a primeira letra representava a marca comercial, os dois seguintes números indicavam o dente e os dois subsequentes indicavam a ordem de aquisição. Desse modo, o braquete recebia a seguinte nominação: M1301 (Morelli, dente 13, número 1), por exemplo. A numeração foi omitida durante a medição. De modo que o examinador não soubesse qual grupo estava sendo avaliado. Este procedimento tornou o experimento cego e evitou tendenciosidade por parte do avaliador. As imagens foram obtidas por meio do Scanner Epson Stylus TX 220 ® (Taiwan, China) e transferidas para um computador Notebook (Acer Ink Aspire ® 4740, I3, 3MB, 250GB, Taiwan, China). A resolução utilizada foi de 9600 pixels para uma área de 1,016 cm2, os braquetes foram escaneados um a um. 4.3 Mensuração do torque Para a mensuração do torque, foram demarcados alguns pontos e linhas de referência de acordo com Streva (2005) e são demonstrados na (Figura 2). Ponto B1: Ponto da extremidade cervical da base do corpo do braquete. Ponto B2: Ponto da extremidade oclusal da base do corpo do braquete. Ponto C1: Vértice do ângulo entre a base da canaleta do braquete e a aleta gengival. Ponto C2: Vértice do ângulo entre a base da canaleta do braquete e a aleta incisal. 28 Linha B: Formada pela união dos pontos B1 e B2, a qual definirá a base do corpo do braquete. Linha C: Resultante da união entre os pontos C1 e C2. Esta linha definirá a base da canaleta do braquete, e portanto, o torque do mesmo. Figura 2 - Pontos B1 (amarelo) e B2 (verde) na base do corpo do braquete. Pontos C1 (azul) e C2 (vermelho) delimitando o assoalho da canaleta do braquete. O ângulo do torque foi definido pelo ângulo formado entre a base do corpo do braquete (linha B) e o assoalho da canaleta (linha C), conforme ilustra a Figura 3. As medidas destes ângulos foram realizadas por um único operador em três dias consecutivos. Para a medição, as imagens foram visualizadas no visualizador Windows 7® e foi utilizado o 29 software MB-Ruler® (Figura 4). Os dados foram então tabulados em uma planilha. Figura 3 - Linhas de referência utilizadas para medida do ângulo de torque. Linha B (rosa) e linha C (laranja). 30 Figura 4 – Aplicação do Software MB Ruler® para medição do ângulo de torque. 4.4 Avaliação do erro de medição As imagens obtidas não receberam retoque ou correção digital. As imagens dos braquetes foram medidas três vezes. A medida mediana foi utilizada para a tabela de estudo. Foram selecionados aleatoriamente para a análise do erro do método, duas imagens de braquetes superiores e duas imagens de braquetes inferiores, de cada marca pesquisada, cada imagem foi medida três vezes pelo mesmo examinador, com um intervalo de tempo de 1 hora entre as medições. Para verificar o erro sistemático intra examinador das três repetições foi utilizado o teste “t” pareado. Na determinação do erro casual utilizou-se o cálculo de erro proposto por Dahlberg (HOUSTON, 1983). erro d 2n 2 onde, d = diferença entre 1a e 2a , 1ª e 3ª e 2ª e 3ª medições n = número de repetições Os resultados das avaliações do erro sistemático, avaliado pelo teste “t” pareado, e do erro casual medido pela fórmula de Dahlberg estão mostrados na tabela 1. Tabela 1 – Média, desvio padrão das duas medições, teste “t” pareado e erro de Dahlberg para avaliar o erro sistemático e o erro casual. 31 comparação Medição 1 Medição 2 T P Erro 5,48 0,432 0,672ns 0,18 -6,30 5,44 0,433 0,671ns 0,25 -6,30 5,44 0,110 0,914ns 0,25 Média Dp Média Dp 1a. x 2a. -6,26 5,38 -6,29 1a. x 3a. -6,26 5,38 2a. x 3a. -6,29 5,48 ns – diferença estatisticamente não significativa O resultado da estimativa do erro do método, calculado pela expressão de Dahlberg ficou entre 0,18º e 0,25º. 4.5 Análise dos dados Os dados foram descritos pelos parâmetros de média, desvio padrão, valor mínimo e valor máximo. Para verificar se os grupos possuíam distribuição normal foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk. Nos grupos 1, 2 e 4 os braquetes de caninos superiores não apresentaram distribuição normal. Os braquetes inferiores dos grupos 1, 2 e 4 apresentaram distribuição normal. No grupo 3 todos os braquetes (caninos superiores e inferiores) apresentaram distribuição normal. Para comparação dos valores obtidos com a norma, nos grupos que tinham distribuição normal foi utilizado o teste “t” de Student, nos grupos que não tinham distribuição normal foi utilizado o teste não paramétrico de Wilcoxon. Para comparação entre as marcas, a diferença entre os valores obtidos e a norma, nos grupos de braquetes de caninos inferiores foi 32 utilizada Análise de Variância a um critério e o teste Post-Hoc de Tukey. Nos grupos de braquetes de caninos superiores foi utilizado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis e o teste Post-Hoc de Miller. Em todos os testes foi adotado nível de significância de 5% (p<0,05). 33 5 RESULTADOS Os valores dos ângulos de torque médios, mínimos, máximos e desvios padrão dos braquetes de caninos superiores são descritos na Tabela 2 e demonstrados no Gráfico 1. Os valores de torques dos braquetes da marca Eurodonto apresentaram uma diferença estatisticamente não significante quando comparados com a norma preconizada. Tabela 2 – Média, desvio padrão, mínimo, máximo e comparação com a norma dos braquetes de caninos superiores. Marca Média Dp mín. máx. norma difer. P Abzil -0,93 0,88 -2,16 0,00 -2 1,07 0,001* Eurodonto -0,13 0,34 -1,39 0,14 0 -0,13 0,060ns Morelli -2,56 0,50 -3,40 -1,72 -2 -0,56 < 0,001* Ormco -1,16 1,27 -2,76 1,84 0 -1,16 0,008* * – diferença estatisticamente significativa (p<0,05) ns – diferença estatisticamente não significativa 34 -3,50 -3,00 -2,50 -2,00 -1,50 -1,00 -0,50 0,00 0,50 Abzil Eurodonto Morelli Ormco Gráfico 1 - Média, desvio padrão e valor da norma dos braquetes de caninos superiores. A Tabela 3 e o Gráfico 2 ilustram os resultados obtidos para braquetes de caninos inferiores. O braquetes inferiores da marca Morelli obtiveram valores de torque que não diferiram significativamente da norma, as demais marcas, como pode ser observado, apresentaram diferenças estatisticamente significantes. Tabela 3 – Média, desvio padrão, mínimo, máximo e comparação com a norma dos braquetes de caninos inferiores. Marca Média Dp mín. máx. Norma difer. P Abzil -11,76 0,40 -12,53 -11,09 -11 -0,76 <0,001* Eurodonto -10,40 0,25 -10,88 -10,04 -11 0,60 <0,001* Morelli -11,18 0,56 -12,29 -10,28 -11 -0,18 0,173ns Ormco -11,36 0,30 -11,90 -11,00 -11 -0,36 <0,001* * – diferença estatisticamente significativa (p<0,05) ns – diferença estatisticamente não significativa 35 -12,50 -12,00 -11,50 -11,00 -10,50 -10,00 -9,50 -9,00 Abzil Eurodonto Morelli Ormco Gráfico 2 - Média, desvio padrão e valor da norma dos braquetes de caninos inferiores. A comparação entre as quatro marcas da diferença entre os valores obtidos e a norma de cada fabricante, nos braquetes de caninos superiores e inferiores estão descritas nas Tabelas 4 e 5 respectivamente. Tabela 4 – Comparação entre as quatro marcas da diferença entre os valores obtidos e a norma de cada fabricante, nos braquetes de caninos superiores. marca Difer. Dp mín. máx. Abzil 1,07 0,88 -0,16 2,00 Eurodonto -0,13 0,34 -1,39 0,14 P A B <0,001* Morelli -0,56 0,50 -1,40 0,28 BC Ormco -1,16 1,27 -2,76 1,84 C * – diferença estatisticamente significativa (p<0,05) marcas com a mesma letra não possuem diferença estatisticamente significativas entre si 36 Tabela 5 – Comparação entre as quatro marcas da diferença entre os valores obtidos e a norma de cada fabricante, nos braquetes de caninos inferiores. marca Difer. dp mín. máx. Abzil -0,76 0,40 -1,53 -0,09 Eurodonto 0,60 0,25 0,12 0,96 p A B <0,001* Morelli -0,18 0,56 -1,29 0,72 Ab Ormco -0,36 0,30 -0,90 0,00 Ab * – diferença estatisticamente significativa (p<0,05) marcas com a mesma letra não possuem diferença estatisticamente significativas entre si. 37 6 DISCUSSÃO Streva (2005), Cornejo (2005) e Bóbbo (2006) pesquisaram os valores dos ângulos de torque dos braquetes e compararam com os valores preconizados braquetes em um para determinadas gabarito e obtiveram técnicas. Fixaram os através de imagens microscopia óptica. O presente estudo utilizou uma metodologia que permitiu posicionar corretamente o braquete, pois a utilização de um esquadro perpendicular ao braquete não possibilitou a rotação do mesmo, o que poderia interferir no registro da imagem e consequentemente na medição do ângulo de toque. A obtenção das imagens foi feita por meio de escaneamento. As imagens escaneadas não receberam tratamento antes das medições. Os pontos de referência utilizados para a medição foram os mesmos estabelecidos nos trabalhos de Streva (2005), Cornejo (2005) e Bóbbo (2006), os quais permitiram que os ângulos de torque fossem facilmente identificados. A utilização desses pontos permitiu também que os resultados tivessem um padrão de comparação com estes trabalhos. Streva (2005), Cornejo (2005) e Bóbbo (2006) observaram que inúmeras marcas obtiveram valores de ângulo de torque diferentes do preconizado pelos autores da técnica. Os resultados observados neste trabalho corroboram com os achados destes autores, demonstrando que em geral ocorrem variações na precisão dos valores de torque dos braquetes, tornando-se mais um fator que pode comprometer a posição vestíbulolingual final dos dentes. A importância do torque diz respeito à posição dental que se deseja obter ao final do tratamento e deve ser individualizado para a obtenção de uma intercuspidação correta, estética e função adequadas (ZANELATO et al., 2004; THIESEN et al., 1993; AZENHA 38 e MACLUF, 2008; BRITO JÚNIOR e URSI, 2006; GREGORET et al., 2005). O torque é influenciado por fatores como: anatomia da face vestibular do dente (MAGNESS, 1978; GERMANE et al., 1989; GERMANE et al., 1990; CREEKMORE e KUNIK, 1993; ZANELATO et al., 2004); tamanho do dente; posicionamento do braquete; tamanho do braquete (CREEKMORE, 1979; CREEKMORE e KUNIK, 1993); folga existente entre o fio e a canaleta do braquete (CREEKMORE, 1979; GERMANE et al.,1989; CREEKMORE e KUNIK, 1993; ARCHAMBAULT et al., 2010); diferenças na colagem direta (BALUT et al ., 1992); forma atípica das coroas e angulação coroa raiz; dentes sem morfologia típica (CREEKMORE e KUNIK, 1993; MIETHKE, 1997); aplicação de força fora do centro de resistência dos dentes (CREEKMORE e KUNIK, 1993) ; forma do arco dental; posição de irrupção dental (ZANELATO et al., 2004). Assim, as respostas clínicas que as variações encontradas nos ângulos de torque dos braquetes devem ser interpretadas com cautela. Creekmore (1979) e Archambault et al.(2010), relatam que existe uma folga entre o fio e a canaleta do braquete. Esta folga permite uma variação do torque. Os autores observaram que uma folga no fio mais calibroso 0,018” x 0,025” numa canaleta 0,018” e um fio 0,021” x 0,025” numa canaleta 0,022” geram respectivamente uma folga de 2° e 6°. A diferença encontrada nos valores dos ângulos de torque dos braquetes do estudo e a prescrição de Roth é menor do que os ângulos da folga do último fio da técnica. Por este motivo, não podemos afirmar que as diferenças estatísticas encontradas entre os braquetes de determinadas marcas e as normas preconizadas, poderão acarretar em modificações observadas clinicamente. Assim, são necessários mais estudos clínicos que comprovem a manifestação clínica das discrepâncias encontradas entre os ângulos de torque dos braquetes e as suas normas. 39 7 CONCLUSÃO Os valores do ângulo de torque de braquetes metálicos de caninos superiores da prescrição Roth obtidos, foram: Abzil -0,93o (± 0,88o); Eurodonto -0,13o (± 0,34o); -2,56o (± 0,50o) e Ormco Morelli -1,16o (± 1,27o). Em relação aos braquetes de caninos inferiores os valores médios obtidos foram: Abzil -11,76o (± 0,40o); Eurodonto -10,40o (± 0,25o); Morelli -11,18o (± 0,56o) e Ormco -11,36o (±0,30o). Os valores do ângulo de torque médio obtidos tiveram diferença estatisticamente significante para braquetes de caninos superiores das marcas Abzil, Morelli e Ormco. Para braquetes de caninos inferiores, as marcas Abzil, Eurodonto e Ormco apresentaram valores com diferença estatisticamente significante quando comparados aos valores prescritos, demonstrando uma ampla variação na fabricação dos braquetes. Quando comparadas, as marcas apresentaram diferença estatisticamente significante entre si, exceto quando comparadas as marcas Morelli com Eurodonto, e as marcas Morelli com Ormco, para caninos superiores. Para caninos inferiores, somente ocorreu diferença estatisticamente significante entre as marcas Abzil e Eurodonto. Apesar de o estudo ter demonstrado haver diferenças significativas entre o ângulo de torque presente nos braquetes e aquele preconizado na prescrição, mais estudos clínicos são necessários para verificar se estas discrepâncias acarretam em manifestações clínicas. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREWS, L. F. The Six Keys to Normal Occlusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop. Saint Louis, v.62, n.3, p.296-309, set. 1972. ANDREWS, L. F. Straight-wire: O conceito e o aparelho. San Diego: L.A. Well, 1989. 407 p. ANGLE, E. H.; Evolution of Orthodontics recent developments. Dental Cosmos. Philadelphia, v.54, n.8, p.853-867, 1912. 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