INSTITUTO DE ESTUDOS
VALEPARAIBANOS
38 ANOS
NESTA EDIÇÃO:
Nossa Opinião
Dr.Hugo
menico
Di
2
Do-
Convite
Vale do
Colonial
Paraíba 3
Cousas e Lousas
4
Dom Pedro, Gua- 6
ratinguetá
e
a
Independência
Minha Terra Mi- 6
nha Gente: A Viagem Continua
Lorena no Século 7
XIX: Esplendores
de Lorena
O
Santuário
São Benedito
de 8
EXPEDIENTE:
Jornalista Responsável:
Nelson Pesciotta
Mtb . 2032-DET-SP
Conselho Editorial:
Francisco Sodero Toledo
Edição:
Diego Amaro de Almeida
Impressão:
Gráfica Santa Teresa
Distribuição Gratuita
Os Artigos assinados são de exclusiva
responsabilidade de seus autores
Nº 221—JULHO/AGOSTO DE 2011
I N FOR MAT I VO - IE V
IEV—SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS
XXV Simpósio de História
O XXV Simpósio de História do
Vale do Paraíba esse ano foi realizado em parceria com o UNISAL,
tendo como Presidente o Prof.
Francisco Sodero Toledo. Sua
abertura ocorreu a 30 de junho
às 19h, com uma apresentação
musical do Prof. Davi Coura
Borges que desenvolve um
projeto de musicas com temas
do Vale do Paraíba; em seguida
tivemos a abertura solene,
quando o Prof. Sodero apresentou os Anais do Simpósio que
estão disponíveis no endereço
eletrônico:
http://
www.valedoparaiba.com/
simposio/anais/ , onde podemos encontrar todos os artigos
dos trabalhos apresentados neste
ano.
Em seguida foi apresentado um
vídeo contando a história do 24
primeiro simpósios, que pode ser
assistido através do endereço
eletrônico:
http://
www.youtube.com/user/
portalvpcom#p/u/8/_Ls7g_4i-yU
Na seqüência houve uma
mesa de debates onde Thereza Regina de Camargo Maia,
Tom Maia, Joaquim Roberto
Fagundes e Julio Soares Fidelis, debateram a importância
dos arquivos para a pesquisa
e educação no Vale.
de e encera na Casa onde viveu o
Conde Moreira Lima . Ainda neste dia
tivemos uma apresentação cultural
que contou com poetas e músicos de
Lorena.
Também foram premiados trabalhos que foram apresentado durante o dia 01, nas categorias Comunicação e Painel.
No último dia de Simpósio tivemos a
palestra do Prof. Dr. Renato Leite
Doutor em Economia pela FEA/USP
(1998). Atualmente é Professor Associado da FEA-RP/USP. Atua na área
de história econômica e demográfica,
principalmente nos seguintes temas:
desigualdade regional, acumulação
de riqueza, cafeicultura, posse de
escravos, crédito hipotecário, comércio e ciclo de vida. Sua palestra tra-
Como Grupo de pesquisa: Suele
França Costa com o tema: “A importância dos acervos escolares
como campo de pesquisa, espaço e
memória”.
Na categoria Painel os premiados
foram: Gilberto L.C. Barbosa com o
tema: “A outra História - Algumas
reflexões de Eric Hobsbawm”. E
também de Gilberto L.C. Barbosa,
“Variações sobre a técnica de gravador no registro da Informação viva”, e de Dilma
Falcão da Silva com tema:
“A importância da Pesquisa em Folkcomunicação e
a rede FolkCom”.
Como tema para o próximo Simpósio foi escolhido
através da votação aberta.
“O Vale do Paraíba e a
Memória do Trem”, a
sede ainda não foi definida.
E no encerramento do primeiro dia de trabalhos tivemos uma palestra sobre o
futuro da pesquisa, proferida
pelo Sr. Walter Olivas, do
Portal My Heritage.
No dia 1 de julho ocorram as comunicações dos trabalhos orais e
banners. Também neste dia houve
um passeio pelo, “ Quadrilátero
Sagrado de Lorena”, este roteiro,
saí da Basílica de São Benedito,
passa pela casa onde viveu o escritor Euclides da Cunha e segue
para o Palacete Veneziano, em
seguida vai para a Igreja do Rosário, passa pela Catedral da Pieda-
Na categoria comunicações:
Como graduação: Rafaela Molina de Paiva com o tema: “A
História como veículo de aproximação aluno, comunidade e
escola” e Amanda Vieira de
Oliveira Monteiro com o tema:
“Registros da história: as touradas de Taubaté”. Como pósgraduação:
Claúdia
Isabel
R.Santos com o tema: “O momento - Um arauto de Cruzeiro
em 1933”.
tou das diversas formas de pesquisas
relacionadas com o estudo a partir
da documentação. O Professor Renato também recebeu o Prêmio
Marcello de Ipanema, premio que é
concedido ao simposista que percorreu maior distância para participar
do Simpósio. E o pesquisador Roberto Guião apresentou o trabalho que
vem desenvolvendo com a documentação da Fazenda do Vale Fluminense
E ao final do evento aconteceu o
almoço de confraternização do IEV,
que também comemorou a realização do seu simpósio de prata.
O simpósio contou com 96 participantes inscritos.
Foto 1: Prof.Dr. Renato Leite Marcondes - Foto de Andréia Marcondes Foto 2: Comissão Organizadora
- Foto de Jenyfer Ramos
INFORMATIVO-IEV
Página 2
Nossa Opinião
No último dia 18 de agosto foi
realizado em Lorena um importante evento popular: a audiência pública para a apresentação
do projeto de uma usina termoelétrica em Canas, município
distante menos de 5 quilômetros
de Lorena, de quem já foi um
distrito antes de emancipar-se.
Esta assembléia já é, pelo simples fato de ter se realizado, um
feito auspicioso, mas foi muito
importante por ter reunido considerável número de pessoas –
cerca de 300 (de Lorena, principalmente, mas também de Canas
e outras cidades vizinhas), numa
época em que os assuntos de
interesse público não ganham
maior ressonância, senão quando já se tornaram fatos consuma-
dos..Ouvindo, discutindo e opinando, o povo pode exercer o
seu poder –aspecto essencial do
regime democrático, pois embora já lhe seja assegurada essa
força pela eleição dos seus representantes políticos, a vontade da
maioria da população, quando
esclarecida e livre,dá rumo ao
comportamento dos legislativos
e executivos.
No exercício desse poder, a população valeparaibana vem obtendo melhorias para sua vida;
um destaque é a preocupação
com a qualidade do ar e da água
– questão que está no âmago do
assunto que aqui foi discutido.
Se algum progresso na qualidade
da água do Rio Paraíba do Sul já
foi conseguida, como assegura a
Cetesb ao divulgar resultados de
suas análises, isto se deve em
grande parte à pressão popular
que já tornou possível a instalação do tratamento dos esgotos
(afinal lançados no Paraíba) em
muitas localidades.
Essa melhoria de qualidade deve
ser recebida com entusiasmo
mas também com reservas porque nos seus mais de mil quilômetros de trajeto, o Rio Paraíba
do Sul continua recebendo muitos afluentes que, por seu turno,
também merecem tratamento
especial.Nossa esperança é que o
povo continue alerta, aplicando
sua força no sentido da melhoria
da qualidade de vida em todo o
Vale do Paraíba.
Termelétrica de Cuiabá, exemplo da que buscam instalar no
Vale do Paraíba
Dr. Hugo Di Domenico
Filho de imigrantes italianos,
Hugo Di Domenico nasceu em 4
de agosto de 1914, em Lorena,
cidade em que residiu até 1930.
Aos 17 anos foi para o Rio de
Janeiro, onde se formou médico
na Faculdade de Medicina que, à
época, ficava na Praia Vermelha.
Já formado foi para Taubaté por
influencia do cunhado médico,
Dr. José Cembranelli, exercendo
por 40 anos a medicina clínica e
cirúrgica, atuando no antigo
Hospital Santa Isabel como diretor do Pronto Socorro, chefe da
enfermaria médica de mulheres
do departamento de Patologia.
Foi também um dos primeiros
professores da Faculdade de
Medicina de Taubaté e diretor do
Centro de Saúde de Taubaté, no
qual se aposentou há 20 anos. É
Casado há 70 anos com D. Maria
Henriette Baum Di Domenico,
com quem tem três filhos e cinco
netos. De seu grande interesse
pelos estudos de línguas, desenvolveu o domínio fluente de seis
idiomas e pesquisou profundamente a língua tupi-guarani, a
qual considera exercer influência
direta na nossa linguagem do
cotidiano, principalmente no
Vale do Paraíba. Essa pesquisa
deu
origem
aos
livros
“Toponímia e Nomenclatura
Indígena de Taubaté (1976) e
“Fitonímia e Zoonímia Indígenas
de Taubaté” (1981) e agora ao
“Léxico Tupi-Português”, em que,
além da etimologia dos vocábulos indígena, acrescenta suas
várias grafias de acordo com
diferente autores. Hoje aos 97
anos, ainda exerce parcialmente
a clínica médica.
Dr. Hugo é membro efetivo do
IEV
Dr. Hugo di Domenico e sua
mais recente obra. “Léxico
Tupi-Português”
Convite para elaboração de obra coletiva
Convido os pesquisadores, estudiosos e demais interessados
para participar e colaborar da
construção da Enciclopédia online. Uma obra coletiva, on-line,
de conteúdo aberto, publicada
em formato de verbetes disponível para reprodução.
Seguem algumas informações
básicas sobre o projeto:
Endereço
eletrônico:
www.valedoparaiba.com
e-mail para contato: enciclopé[email protected]
MISSÃO: transmitir a cultura
local e regional para o mundo,
valorizando a terra, o povo e as
tradições.
META : disponibilizar informações e conhecimentos sobre os
municípios que compõem a
região do Vale do Paraíba e áreas
limítrofes ligadas pelo mesmo
passado e raízes históricas, como
o litoral norte de São Paulo, o
litoral sul-fluminense e o sul de
Minas Gerais.
OBJETIVO DA PARTICIPAÇÃO DOS
AUTORES: colaborar na implantação do maior centro on-line de
informações e de conhecimentos
sobre a região do Vale do Paraíba
e áreas limítrofes.
META DA ENCICLOPÉDIA: produzir e disponibilizar 1.000 verbetes
até dezembro de 2011 e ampliar
o conteúdo sobre os municípios
da região.
PROJETO: autoria – portal valedoparaiba.com com apoio cultural do UNISAL-Lorena.
http://
disponível
em:
www.valedoparaiba.com/
Enciclopedia/home.aspx
ATIVIDADES PREVISTAS:
- revisão, correção e ampliação
dos conteúdos dos verbetes
publicados;
- preparação de conteúdo e de
imagens;
- produção de verbetes.
Sugestões de atividades:
Apresentação de conteúdos
relacionados com os 12 itens em
que está dividida a obra e sugestão de novos itens.
Sugiro que “naveguem” pela Enciclopédia, acessando pelo endereço indicado e os que se interessarem e puderem participar ou
precisarem de novos esclarecimentos escrevam para enciclopé[email protected] ou então
liguem para (12) 31522937. Toda
colaboração será muito importante. Será garantido o crédito de
autoria e o nome do autor passará
a figurar na home-page site do
projeto.
O projeto apresenta uma oportunidade única de mostrar a nós
mesmos e ao mundo interligado
por via eletrônica o que somos e
sabemos a respeito da nossa terra
e de nossa gente.
Ficarei feliz com a adesão dos
colegas.
Francisco Sodero
Vice-presidente do IEV
Seu “Léxico TupiPortuguês”,
editado pela
Universidade de
Taubaté (UNITAU)
tem 1.080 paginas,
com cerca de
70.000 verbetes.
Dr. Hugo é
membro efetivo
da Academia
Taubateana de
Letras, da
Academia de
Letras de Lorena e
é membro efetivo
do IEV.
Nº 221—JULHO/AGOSTO DE 2011
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Vale do Paraíba Colonial: uma rede mercantil em expansão com predomínio de mão de obra indígena
Regina Kátia Rico Santos de Mendonça
No mês de julho, aconteceu o “XXV Simpósio
de História do Vale do Paraíba em Lorena, cujo
tema escolhido foi “A importância dos arquivos
para a pesquisa e o ensino na perspectiva do
século XXI”. Durante a apresentação dos trabalhos houve uma troca de experiências riquíssimas, onde cada pesquisador utilizou de
fontes diversas para a montagem de seu trabalho.
Em particular o meu tema de pesquisa é
“Escravidão indígena no Vale do Paraíba:
exploração e conquista dos sertões da capitania de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, século XVII”, que nasceu de uma monografia (UNITAU) e se desenvolveu numa dissertação de mestrado (USP). Durante a apresentação no simpósio, procurei enfatizar os diversos documentos que utilizei durante 17 anos
de pesquisa. Mostrar que não só a documentação primária e secundária foram importantes para análise da pesquisa como documentos iconográficos, como mapas de época e
gravuras de viajantes fizeram com que refletíssemos sobre a questão da mão de obra utilizada na região do Vale do Paraíba nos finais dos
quinhentos, durante o seiscentos e por que
não dizer início dos setecentos.
Uma das dificuldades que encontrei durante a
pesquisa foi a necessidade de paleografar os
documentos da época além de analisá-los,
muitos dos quais se encontram em estado de
decomposição. Sugeri durante o simpósio que
os arquivos da região do Vale do Paraíba devessem preservar de forma mais eficaz esta
documentação. Existe na Universidade de São
Paulo, junto ao Instituto de Estudos Brasileiros, técnicas para conservação destes documentos, no qual poderá ser feita a reconstrução do material, digitalizá-lo, microfilmá-lo se
caso for necessário. Todo processo é acompanhado pelo responsável do arquivo que fica
incumbido em manter preservada a documentação e divulgá-la junto aos pesquisadores que
necessitam destes documentos para desenvolver seus trabalhos.
Voltando ao tema pesquisado, a dissertação
de mestrado teve por objetivo refletir, analisar
e apreender o sistema que envolveu o trabalho compulsório indígena na região do Vale do
Paraíba Paulista, época do surgimento de
novos povoados e vilas ligando a região de
São Paulo (inclusive o oeste paulista) – Vale
do Paraíba – Sul de Minas Gerais – Rio de
Janeiro (via Parati), Neste contexto através de
documentos de inventários, testamentos,
cartas de alforria, Atas da Câmara da vila de
São Paulo e da vila de São Francisco das Chagas de Taubaté, além de documentos diversos
como Alvarás, Requerimentos, Pareceres do
Conselho Ultramarino, Livro do Tombo ligado
ao Arquivo da Arquidiocese de São Sebastião
do Rio de Janeiro (fundação do Convento de
Santa Clara em Taubaté), foi possível verificar
que as entradas de apresamento indígenas e
de prospecção de minérios exterminaram e
escravizaram várias nações indígena. Com
certeza ainda há muitas lacunas sobre o cotidiano dos colonos valeparaibanos, religiosos e
indígenas, agentes históricos que deram início
à formação das vilas no Vale do Paraíba. Não
deixando de anotar a presença do negro africano que também participou desta formação. Ao
questionarmos a escravidão no Brasil Colonial, é
necessário procurar reconstruir a história olhando todos os aspectos daquela sociedade, daquele período, seja político, econômico, social,
religioso e cultural. Dentro do que foi pesquisado dividimos o trabalho em três capítulos sendo
o primeiro questionando sobre o cotidiano dos
paulistas, religiosos, indígenas no final do século XVI e início do XVII. Como acontece os relacionamentos entre estes agentes históricos, a
formação de entradas e armações que tinham a
finalidade de apresar indígenas e encontrar
minérios na região da serra de Sabaraboçu. O
segundo, percebemos na documentação analisada a preocupação com os caminhos em direção ao sertão, a reorganização do apresamento
modificando grandes expedições para pequenas
armações com apoio da igreja (principalmente a
ordem Carmelita e a Franciscana). E o terceiro a
reflexão sobre o processo de disputa de terras
entre os Monsanto e os Vimieiro, mas o que
mais enfatizamos foram a formação dos povoados e vilas, a forte influência carmelita e franciscana, o desenvolvimento econômico, social da
região e principalmente o trabalho compulsório
indígena que predominou naquele período.
Após longa análise e estudos concluímos que na
região do Vale do Paraíba Paulista do período
colonial, não houve uma ruptura entre o rural e
o urbano das vilas, mesmo após encontrar as
minas de ouro no final do século XVII, existiu
uma interligação, uma interdependência, uma
grande articulação e dinamismo destas áreas
seja no sentido social, econômico e político. O
processo de mercantilização se expande, aumenta o intercâmbio entre a Região Mineradora,
o Vale do Paraíba, São Paulo,Rio de Janeiro
(Florestan Fernandes,Mudanças sociais no
Brasil,p.206-209). Foi neste contexto que a
procura pela mão de obra indígena cresceu, não
que o negro africano não fosse utilizado, pelo
contrário, o estereótipo do índio incapaz convinha à Coroa e aos traficantes, que tinham no
comércio de africanos fabulosa fonte de lucros.
Do ponto de vista legal, os índios aldeados eram
homens livres, postos na condição de tutela. Já
os índios presos por “resgate ou guerra justa”
eram explorados como inimigos da Coroa Portuguesa, porém nos inventários e testamentos no
rol de peças os escravos indígenas são denominados como gentio da terra, peças do gentio,
peças de serviço, etc. Essa foi à forma que os
colonos encontraram para burlar a lei que proibia o cativeiro indígena (Beatriz Perrone-Moisés,
“Ìndios livres e índios escravos.”In:Manuela
Carneiro da Cunha,Historia dos índios no Brasil,p.12). Cresce a doação de sesmarias nesta
região mostrando a importância em preservar
os caminhos que favoreciam a expansão mercantil paulistana, os arrendamentos dos contratos e dos direitos de passagem favorece o monopólio nas mãos de uma elite local. Era a ordem do Império Português, que atendia tanto à
Coroa quanto às elites locais, o fortalecimento
do estado patrimonialista da elite senhorial
dentro de um quadro estamental-escravista.
Não haviam antagonismos estruturais, nem
rupturas, mas inúmeros interesses em comum
(Stuart B.Schwartz, Segredos internos,p.337338).
Sugestões Bibliográficas:
FERNANDES, Florestan. “Caracteres rurais e
urbanos na formação e desenvolvimento da
cidade de São Paulo.” In: Mudanças sociais no
Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro,
1974.
PERRONE-MOISÉS,Beatriz.”Índios livres e índios
escravos: os princípios da legislação indigenista.” In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.).
História dos índios no Brasil,São Paulo: Companhia das Letras, 1992
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos. Engenhos e escravos na sociedade colonial. São
Paulo, Companhia das Letras,1988.
Profa.Ms. Regina Kátia Rico Santos de Mendonça, membro do IEV (Instituto de Estudos
Valeparaibanos), Professora de História e Geografia e Pesquisadora da História Regional.
“...há muitas
lacunas sobre o
cotidiano dos
colonos
valeparaibanos,
religiosos e
indígenas, agentes
históricos que
deram início a
formação das vilas
no Vale do
Paraíba.”
Índios e Colonizadores - Imagem de Debret
INFORMATIVO-IEV
Página 4
Cousas e Lousas
1 - A Santa Casa de Misericórdia
de Pindamonhangaba mantém,
ao lado do hospital, o Museu
Histórico Provedor Dino Bueno,
fundado em 6 de agosto de 1863.
O Museu pode ser visitado de
segunda a sexta-feira, das 7.30 às
11 h e das 13 às 17 horas.
2 - “O Jambeirense”, jornal de
circulação mensal da cidade de
Jambeiro, no Vale do Paraíba
Paulista, conta com 107 anos de
circulação. É um dos mais antigos do país.
acervo de Rio Branco, que ficará
sob a guarda a AMAN, em Resende.
Centro de Estudos”,de Edson
Balieiro.Com o prestígio da Academia de História local.
9 - Causa muita preocupação em
Taubaté o prédio da Igreja do
Rosário, cujo teto ameaça ruir e
as paredes mostram-se inseguras. O imóvel é tombado.
17 - Em Cunha, no dia 2 de julho,
aconteceu a abertura das câmaras do Forno Noborigame dos
artesão Suenaga e Jardineiro.
10 - Pressão popular levou o
prefeito de Caçapava a vetar
projeto de lei que autorizava a
instalação no município de indústria que manipula chumbo. Estão
felizes os ambientalistas.
3 - Vinte e três deputados estaduais paulistas agregaram-se
numa Frente de Defesa do Rio
Paraíba do Sul. Coordena o
grupo o deputado Padre Afonso
Lobato, que é de Taubaté.
11 - Está havendo em Lorena e
outras cidades vizinhas muita
pressão para impedir a instalação, em Canas, de uma central
termo-elétrica movida a gás.
4 - A cidade mineira de Cataguases e seus distritos terão rede de
esgotos até uma ETE a ser construída pela COPASE, conforme
acordo entre a Prefeitura Municipal e o Governo de Minas Gerais.
Cataguases integra a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.
12 - Na cidade de Paraíba do Sul
(Vale do Paraíba Fluminense)
está sendo esperada a reabertura de uma ferrovia de 14 km que
liga a cidade aos distritos de
Werneck e Cavarú, trecho que
compunha a Estrada Real. Está
sendo restaurada uma locomotiva de 1910.
5 - Municípios valeparaibanos
paulistas
receberão
ETEs
(Estações de Tratamento de
Esgotos) que a SABESP construirá. Entre eles, Areias, cidade
onde Monteiro Lobato foi Promotor Público. Também Aparecida, cuja demanda é muito grande
pela freqüência de romarias. Até
hoje a cidade não tem tratamento dos esgotos.
6 - A Academia Barramansense
de História está muito ativa e
realizou uma sessão de estudos
no dia 29 de julho. Agradecemos
o convite.
7 - Nosso companheiro Antonio
Fernando Costela, pela Editora
Mantiqueira, mantém em Campos do Jordão, na av. Eduardo
Moreira da Cruz, 295, na Vila
Jaguaribe, o Museu da Casa da
Xilogravura. Vale a pena visitala. Só fecha às terças e quartas
feiras; nos outros dias está aberto das 9 às 12 e das 14 às 17
horas, No momento exibe preciosa coleção de xilogravuras
chinesas.
8 - Nosso companheiro Cel. Bento, de Itatiaia/Resende, recebeu,
por intermédio do Embaixador
Roberto Luís, para a Federação
das Academias de História Militar
Terrestre do Brasil, importante
13 - Pela JAC Editora, de S. José
dos Campos, nosso companheiro
Benedito Sérgio Lencioni, exprefeito de Jacareí e presidente
da Academia de Letras da cidade,
lança interessante obra com o
título “O Corneta da Morte –
Ensaio sobre a Verdade na História”, em que discute a figura de
um escravo que se tornou corneteiro na Guerra do Paraguai .
14 - Prossegue em Lorena o
curso de Educação Patrimonial e
Ambiental, ministrado pelas
companheiras arquiteta Sônia
Bueno Affonso e jornalista Federica Giovanna Fochesato, em
sequência ao Projeto NEPA,
declarado Ponto de Cultura.
Estão inscritos, neste ano, professores das redes municipais de
ensino de Piquete, Canas, Cachoeira Paulista, Areias, S. José do
Barreiro e Bananal.
15 - Cybelle M. de Ipanema,
nossa companheira do Rio de
Janeiro, é presidente do Instituto
Histórico e Geográfico daquele
estado; o IHGRJ tem sede na Av.
Augusto Severo, 8, 12. andar,
Glória, CEP 20021-040, Rio de
Janeiro, RJ. E-mail do Instituto:
[email protected]
16 - Dia 9 de junho, em Resende,
foi lançado o livro “Memórias do
18 - Filiaram-se ao IEV recentemente: Neusa Conceição Figueira
Vereschi, de Guaratinguetá,
Regina Kátia Rico Santos de Mendonça, de Taubaté, e Antonio
Tadeu de Miranda Alves, de
Lorena. Os últimos são mestres
em História.
19 - Ganhou destaque na imprensa regional recentemente, a
Cachoeira do Pimenta. Tal beleza
natural está em Cunha, em lugar
privilegiado, a 10 km do centro
da cidade.
20 - Pela Imprensa Oficial de S.
Paulo acaba de ser lançada a
obra “Impressões do Brasil”, do
prof. Roger Bastide, francês que
foi, na década dos 50, professor
da Faculdade de Filosofia da USP
21 - Em Guaratinguetá,a Câmara
Municipal aprovou a criação
doFundo Municipal do Meio
Ambiente. Entre os objetivos da
importante lei, o pagamento de
agricultores pela preservação das
nascentes no município.
22 - Com pesquisa de José Tavares Correa Lira, saiu pela EditoraCosac Naify, “Warchavchik”:
fraturas das vanguarda, homenagem ao arquiteto que se notabilizou pelas obras modernistas que
implantou em S. Paulo desde sua
chegado ao Brasil em 1923 .
Percival Tirapelli
Percival Tirapelli,
nosso
companheiro de
S. Paulo,
inaugurou no dia
22 de agosto,
como curador,
no Museu de
Arte Sacra da
Capítal, uma
exposição de
Oratórios
Barrocos.
23 - O Instituto Moreira Salles
editou “Desenhos e aquarelas de
Portugal e do Brasil”, de Charles
Landsar-1825-1826”. Tradução
de Cláudio Alves Marcondes
24 - A cidade de Paraibuna tem
mostrado cuidado com sua memória. Ainda há pouco foram
lançados dois volumes da coleção Parahybuna, História e Cidade e mais uma reprodução do
Código de Posturas da Câmara
Municipal e o Almanache de
Parahybuna, organização do
nosso companheiro Luís de Gonzaga Santos, ex-prefeito do município.
Um
volume
–
“Parahybuna” é de augtoria de
João Netto Caldeira.
Aula de Patrimônio Ambiental
realizada pelo projeto NEPA
no UNISAL. Foto: Arquivo IEV
Nº 221—JULHO/AGOSTO DE 2011
Página 5
Lista Parcial dos Livros Adquiridos pelo Projeto NEPA no ano de 2011
N
Livro
Autor
1
1932 - Imagens de uma Revolução
Villa, Marco Antonio
2
Anna de Assis - Histria de um Tragico Amor - Euclides da Cunha, Anna e Dilermando de Assis
Andrade, Judith Ribeiro de
3
Avaliação de Impacto Ambiental - Conceitos e Métodos
Sánchez, Luis Enrique
4
Barões do Café
Faria, Sheila de Castro
5
Debret e o Brasil - Obra Completa
Lago, Pedro Correa do; Bandeira, Julio
6
Do Nicho ao Lixo - Série Meio Ambiente
Scarlato, Francisco Capuano
7
Energia e Meio Ambiente - Tradução da 4ª Ed.
Hinrichs, Roger A
8
Escritos de Euclides da Cunha - Política, Ecopolítica, Etnopolítica
Rosso, Mauro
9
Euclidiana - Ensaios Sobre Euclides da Cunha
Galvao, Walnice Nogueira
10
Ferrovia, Sociedade e Cultura - 1850-1930
Lima, Pablo Luiz de Oliveira
11
Matar ou Morrer - O Caso Euclides da Cunha - 2ª Ed. 2009
Eluf, Luiza Nagib
12
Matar para Não Morrer
Del Priore, Mary
13
Mazzaropi - Uma Antologia de Risos
Duarte, Paulo
14
O Vale do Paraíba e a Arquitetura do Café
Telles, Augusto C Silva
15
Saneamento, Saúde e Ambiente - Fundamentos para um Desenvolvimento Sustentável
Philippi Jr., Arlindo
16
São Paulo Artes e Etnias
Tirapeli, Percival
17
TAUNAY E O BRASIL - Obra completa 1816-1821
Pedro Corrêa do Lago
18
Turismo, Sustentabilidade e Meio Ambiente
Arndt, Jorge Renato Lacerda
19
Vale do Paraíba - Velhas Fazendas
Holanda, Sérgio Buarque de
20
Tráfico, Cativeiro e Liberdade - Rio de Janeiro, Séculos XVII - XIX
Florentino, Manolo
22
Arte Brasileira no Século X I X
Pereira, Sonia Gomes
22
Turismo e Patrimônio Cultural - Interpretação e Qualificação
Costa, Flavia Roberta
23
Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural
Paes, Maria Tereza Duarte
24
A Tutela do Patrimônio Cultural Sob o Enfoque do Direito Ambienta
Marchesan, Ana Maria Moreira
25
As Cidades Brasileiras e o Patrimônio Cultural da Humanidade
Silva, Fernando Fernandes da
26
Paradigma Biocêntrico: Do Patrimônio Privado ao Patrimônio Ambiental
Silva, José Robson da
27
1822
Gomes, Laurentino
28
Era dos Extremos - O Breve século XX
Hobsbawm, Eric
INFORMATIVO-IEV
Página 6
Dom Pedro, Guaratinguetá e a Independência
Benedito Dubsky Coupé
Tendo partido do Rio de Janeiro a 14 de
agosto de 1822, o Príncipe Regente D. Pedro chegou à Vila de Lorena na tarde de 18
de agosto. Na vizinha Vila de Santo Antônio
de Guaratinguetá já havia grande agitação.
Desde 20 de julho, como se vê no Auto de
Vereança extraordinária ferviam as notícias.
O boato da viagem do Príncipe a São Paulo
agitou ainda mais os ânimos, tendo a Câmara de Guaratinguetá, a 17 de agosto, deliberado enviar o professor Francisco de Paula
Ferreira à Vila de Lorena, para saudar o
Príncipe e lhe entregar um ofício. Foi, ainda,
passado edital aos guaratinguetaenses,
ordenando que fossem arrumadas e caiadas
as frentes das casas, que fossem prontificadas as ruas e iluminadas as fachadas, na
noite em que aqui pernoitasse o ilustre
visitante.
Santo Antônio de Guaratinguetá era, nesse
ano de 1822, uma pequena Vila, com uns 7
mil habitantes, mas já teria alguma prosperidade, trazida pela exploração do açúcar e
da aguardente. Segundo Saint-Hilaire, era
uma vilazinha mais comprida do que larga.
Mas, que pela planta levantada por Arnaud
Julien Pallière, em 1821, na parecia assim
ser tão estreita...
No dia 19, a cavalo, bem à frente de sua
pequena comitiva, vindo de Lorena pela
Estrada Geral, o Príncipe chega a Guaratinguetá e atinge a Ponte da Estalagem. Daí,
rumando para a Rua da Cruz Grande, atualmente Marechal Deodoro, chega à casa do
Capitão-Mor Manoel José de Melo, logo
abaixo da ladeira, na esquina dessa rua com
um estreito beco, onde mais tarde se abriria
a Rua do Mercado (hoje 9 de Julho).
Era o Capitão-Mor um grande senhor de
engenho, e sua casa apresentava certo luxo
e algumas comodidades. Nela se preparou o
jantar e bem assim o pernoite de Sua Alteza
Real. Tendo os comestíveis sido apresentados em riquíssima baixela de ouro, acompa-
nhada de talheres dourados, o fato causou a
admiração de D. Pedro, a que o Capitão Mor
teria respondido simplesmente: “As posses
dão, Real Senhor” (tradição oral anotada pelo
Dr. J. B. Rangel de Camargo).
Baseado ainda em relato de Lucia de Melo,
bisneta de Manoel José de Melo, relata Carlos
Eugênio Marcondes de Moura que “o anfitrião
preparou para o Príncipe os melhores aposentos, e ele mesmo recolheu-se a outras dependências da casa”. Manoel José de Melo, porém, não se privou, ainda que nessa ocasião
tão especial, de dormir em seu grande leito
com baldaquim e cortinado de seda, talhado
em jacarandá, e que se conservou na família
até 1932, quando foi queimado pelos soldados
legalistas.
Nesse mesmo dia 19, D. Pedro recebeu do
Cônego Antônio Moreira da Costa uma mensagem enviada pelo clero de Taubaté, que foi
respondida e datada do Paço de Guaratinguetá, tendo assinado também outros papéis e
portarias.
No dia 20 de agosto teve prosseguimento a
viagem do Príncipe e sua comitiva, à qual se
incorporaram dois guaratinguetaenses, além
do Capitão-Mor Manoel José de Melo, os
jovens José Monteiro dos Santos e Custódio
Leme Barbosa.
O Alferes José Monteiro dos Santos era filho
do Sargento-Mor Máximo dos Santos Sousa e
de Ana Policena Angélica de Jesus. Nasceu em
Guaratinguetá em 1779,serviu em Cunha, foi
eleitor do Partido Liberal e Vereador. Alferes
da Guarda Nacional, foi proprietário da Fazenda Pau Grande, tendo sido casado com Anacleta Delminda de Jesus e, em segundas núpcias,
com Maria Madalena de Meireles Sousa. Faleceu em Guaratinguetá, em 1870.
O Alferes Custódio Leme Barbosa (1799-1833)
era filho do Sargento-Mor Lourenço Leme
Barbosa e Ana Francisca Romeiro. Casou-se
com Maria Ribeiro de Jesus, tendo o casal uma
única filha, Custódia Ribeiro de Jesus, casada
com seu primo Tenente Coronel José Leme Barbosa
seguiu a tradição da família, os “poderosos senhores Lourenço”, que mantinham tropas “a botar
carga para a Vila de Paraty.”
A comitiva seguiu o Príncipe D. Pedro, subindo a
ladeira da Cruz Grande, passando pelo Largo da
Matriz (que tinha então apenas a torre direita),
ganhando o rumo da Rua da Figueira. Essa figueira,
que se erguia no fim da Rua Visconde, foi derrubada há alguns anos e nela D. Pedro teria gravado
suas iniciais, fato depois relatado por Zaluar em
1860. Pela atual Rua Siqueira Campos, a comitiva
seguiu no rumo da Capela de N. Sra. Aparecida e
daí para Pindamonhangaba.
Nessa vila foi criada a Guarda de Honra do Príncipe
D. Pedro, na qual foram integrados José Monteiro
dos Santos e Custódio Leme Barbosa. Deste modo,
na tarde memorável de 7 de Setembro de 1822, às
margens do Ipiranga, esses dois guaratinguetaenses estiveram presentes aos fatos que marcaram
nossa emancipação política.
Prof. Benedito Dubsky Coupé, falecido em 19 de
julho de 2011, membro do IEV de Guaratinguetá.
Capa do Livro Vento Rio Acima, que conta a história
de Guaratinguetá. Uma importante obra do Prof.
Coupé.
Minha Terra Minha Gente: A Viagem Continua
Julia San Martin Boaventura
Domingo
Como era esperado e desejado o domingo!
As mulheres? Roupa especial, diferente da
dos outros dias.havia a bolsa e o sapato – de
salto alto- combinando na cores. A saia rodada com várias anáguas.Os homens? O terno
bem apresentável com um vinco na calca tão
bem passado que parecia quebrar, o sapato
engraxado com esmero,colarinho engomado, tudo dentro dos figurinos da moda. Tênis ?! imagine, quem saísse de tênis ou conga no domingo,esse tipo de calçado única a
exclusivamente era usado nas aulas de ginástica ou por pessoas da classe menos abastada.Sobre o tênis, lembro-me de que a sua
limpeza era executada em casa passando
uma escova envolvida em alvaiade misturada
com álcool. Em tecido grosso não eram sofisticados como agora.
Voltemos ao assunto
De manhã
O ponto de destaque era a missa das dez
Matriz, oficiada pelo pároco João José de
Azevedo e freqüentada pela elite pindense
principalmente pelos mais jovens. As senhoras e senhores mais idosos assistiam a missa
das seis da manhã. No coro, o som do órgão
dedilhado ora pelo maestro João Antonio
Romão ora pelo professor Alexandre Salgado.O término dessa cerimônia religiosa trazia
ao jardim da Cascata a beleza e a vivacidade
na presença de rapazes e mocas. Estas, no
verão,empunhavam elegantemente graciosas
sombrinhas,protetoras da luz solar.Em grupos,
aos pares,todos ocupam os bancos assombreados
por copadas arvores, estreitando amizades, combinando passeios esperando o momento de se
dirigirem à Estação da central do Brasil. Sim, a
Estação.Para que? para apreciar a chegada do
rápido das 11 horas.O Sr. Vicente Reis de Oliveira, Agente da Estação, esmerava-se para que esse
local tivesse jardins floridos e bem tratados além
da limpeza costumeira.O rápido era o meio de
locomoção mais sofisticado da época. Mais caro,mais bonito,muito mais confortável que o
expressinho. De maneira envernizada num tom
avermelhado. Oferecia cadeiras de couro, panos
brancos nos encostos e carro restaurante,
Nº 221—JULHO/AGOSTO DE 2011
saia de são Paulo e se dirigia ao Rio de Janeiro em aproximadamente doze horas.Trazia
gente importante, desconhecida, rapazes,
mocas bonitas, bem arrumados, e de chapéu ,cuja alegria se estampava quando,nas
janelas,davam,adeuses e sorriam aos curiosos agrupados nas plataformas das estações.
Também chegavam e partiam alguns pindenses, cuja viagem já saíra como noticias no
jornal Tribuna do Norte e por esse motivo
centralizaram os comentários nas tertúlias.’
“Viajará esta semana para São Paulo a negócios o Senhor João da Silva onde ficará alguns dias. É desejo deste colunista que tenha
muita sorte e regresse para o nosso convívio
o mais breve possível.”
Alias, ir a São Paulo era uma viagem preparada antecipadamente em que os trajes
exigiam roupas finas adequadas para a visita
à capital. Chapéus ,luvas, bolsas e sapatos
combinando eram indispensáveis para a boa
apresentação das senhoritas e senhoras.O
terno,gravata, chapéu , caneta no bolso ao
lado da lapela,denunciavam o bom gosto e
refinamento.
Ah! Não podemos esquecer o guardachuva.Este era um objeto versátil.Enrolado
com todo cuidado para deixá-lo bem fininho,
elegante mesmo,servia para umas piruetas
no ar, ensaiadas, atrativas, ou para o cavalheiro apoiar-se nele nas esquinas ou jardins
com ares sedutores. No inverno,um casaco
longo bem dobrado sobre o braço se constituía no maior “charme” masculino.Desta
forma, o movimento dos curiosos e carregadores de malas,na estação,era significati-
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vos,emoldurado pelas vozes típicas dos vendedores de frutas,balas,doces,saquinhos de
biscoito-de-vento,flores.
A passagem do Rápido, na memória de muitos
pindenses, está fixada como momentos de
aprendizes emoções em que quimeras, expectativas,flertes passageiros e acenos despretensiosos tomaram de assalto a imaginação
de uma juventude sadia e aceleraram a palpitação de corações sonhadores.
O almoço de domingo?
Enquanto a moçada se divertia, aproveitando
o sabor do domingo, as mães de família ou
empregadas preparavam o almoço. Não eram
costume desfrutar o comodismo das refeições
em restaurantes. Em Pinda só existiam bares
com lanches, frapês, sucos,com alguns servindo refeições simples a viajantes.Mesmo com a
inauguração , em 1942, do restaurante do
Hotel Brasil era muito difícil uma família
“comer fora”.Havia fortemente instalado o
aconchego familiar que fazia das refeições um
momento muito importante em que o chefe
da casa sentava-se à cabeceira e os demais,
em assentos definidos, só se serviam após o
pai.” Criança fica de boca fechada, só escuta.’’
A folga domingueira proporcionava mais tempo e a alimentação podia ser mais caprichada,
macarronada com frango.O preparo dessa ave
dava trabalho.O frango comprava-se vivo na
feira do mercado que ocupava grande área ao
lado da praça Xis passava alguns dias comendo milho para limpar seu interior das possíveis” ruindades’’ Rechonchuda vasilha com
água era colocada no fogão A lenha.Enquanto
isso,cortava-se o pescoço da ave e preparavase o sangue em uma vasilha para o molho
pardo seria então depositada na água fervente para a tiragem das penas.As mais macias
penas eram acondicionadas para posteriormente, serem usadas na confecção de almofadas e travesseiros. Só depois de bem limpa
e que a ave, frango ou galinha, seria cortada e
preparada. Não era fácil? E por esse motivo
que frango... só domingo.
A tarde
Passeios de bicicletas no bosque,no haras,no
campo de aviação, na Ponte do Paraíba. Matinês no Cine Éden as três horas. Jogos de futebol na casa paroquial, futebol no campo de
São Paulo e no das Palmeiras. A principal
atração no futebol eram os jogos do Comercial contra a Ferroviária que atraiam uma torcida ferrenha e disposta a quebrar tudo com
guarda-chuvas e o que mais tivesse as mãos
quando resultado da peleja desagradasse.A
matinê dançante no literário às 17 horas era
infalível,congregando os amantes da música,
da danças e ...dos românticos que, ambiente
propício, preparavam os encontros da noite.
Julia San Martin Boaventura é membro da
Academia Pindamonhangabense de Letras;
trecho extraído do livro “Minha Terra, Minha
Gente”, publicado na cidade de Pindamonhangaba no ano de 2001, livro apresenta
histórias do cotidiano da cidade.
Lorena no Século XIX: Esplendores de Lorena
José Geraldo
Além do Palacete do Conde Moreira Lima, a
cidade se orgulhava de outros: o do Doutor
Arnolfo de Azevedo, no
Largo da Matriz, inteiramente reformado em
1890, por Ramos de
Azevedo,
chamado
“Solar dos Azevedo”,
dispunha de vasto
“Salão de Visitas (onde
os retratos do Imperador e da Imperatriz
ladeavam velho espelho de cristal), escritório, Capela interna,
enorme sala de jantar,
8 quartos (dos quais
três eram alcovas),
despensa, quarto de
banho, copa, cozinha,
quarto de empregada,
lavanderia e três cômodos menores de rés-dochão. Germinado ao
Lado direito, tinha a
direita uma entrada
para carruagens, empedrada, que ia terminar na cocheira. No interior do prédio, existia
um terraço, para o qual abriam-se as
portas para a sala de jantar, e que, por uma
escada de pedra, tinha acesso a um jardim,
lateral e dava acesso ao interior do prédio por
uma pequena escadaria interna, destinada a
vencer a altura correspondente ao portão” (AZEVEDO,
Aroldo, 5 pág. 91). E ainda o
do Major Bráulio Moreira
Lima, na Rua Princesa Imperial, e muito mais.
Rua abauladas, apedregulhadas, limpas de mato, emplacadas e com casas numeradas
bondes circulando e dando
lucro, duas belas igrejas,
novas e grandes, sobradões
imponentes, uma atividade
grande no setor secundário.
Lorena não destoava das
outras cidades do Vale do
Paraíba(MÜLLER, Nice Lecocq,
pág. 47).
Prof. José Geraldo Evangelista foi membro do IEV—
Lorena. Trecho extraído de
seu livro “Lorena no Século
onde Se erguia uma fonte de água em repuxo. A porta principal abria-se para a entrada
XIX. Publicado em 1978
Foto: Jenyfer Ramos
O Santuário de São Benedito
Página 8
Francisco Sodero Toledo
No espaço do “quadrilátero
sagrado” da cidade de Lorena
destaca-se o edifício do Santuário Basílica Menor de São
Benedito. Um monumento
de estilo neogótico considerado uma jóia
arquitetônica da
cidade, a única
Basílica dedicada
ao santo em
todo o hemisfério Sul. Um espaço sagrado,
dirigido
pelos
sacerdotes salesianos, que congrega ricos e
pobres, negros e
brancos e os
devotos
em
geral de São
Benedito.
O edifício do
Santuário constitui um prédio
singular na arquitetura urbana
apresentando,
segundo Cláudia
Rangel, profissional responsável pelas obras
de restauração e
conservação do Santuário
São Benedito entre os anos
de 1997 e 2000, as seguintes
características:“...uma construção predominantemente
neo-gótica, definida principalmente pelos arcos ogivais
(conduzindo o olhar do observador para o alto, reforçando
a percepção da altura e leveza deste tipo de construção) e
os vitrais. Outros elementos
ainda se destacam, como:
uma grande cúpula abside,
pilares com capitéis em estilo
coríntio (estilizado), querubins, faixa decorativa com
elementos fitomorfos, pintura
parietal, nichos, marmorizado das colunas (original),
naves centrais e laterais (esta
ultima em dois níveis) conferindo à construção um gran-
de ecletismo no que tange
aos elementos decorativos.
Vê-se também, a forte influencia do rococó e do neoclássico, tanto nos aspectos das
imagem da Padroeira, Nossa
Senhora da Piedade, entre os
anos de 1886 e 1889, quando
a Catedral passava por reformas.
Desde o ano de
1917 está agregada ao Vaticano
como
Basílica,
podendo distribuir
aos fiéis que a ela
acorrem, os mesmos benefícios e
indulgências que a
Igreja
Romana
atribuí a determinadas datas comemorativas, concedendo àqueles que
recebem os sacramentos da confissão e da eucaristia,
a expiação de suas
culpas e o alcance
de graças nos dias
santos.
pinturas decorativas, como
também pela própria procedência das imagens sacras de
madeira policromada, que se
integram à decoração de
todo o conjunto”.
O prédio da Basílica foi projetado pelo arquiteto Charles
Peyronton sendo inaugurado
em 14 de fevereiro de 1884
com grandiosa festa, missa
solene, procissão, concursos
de bandas da região e muita
diversões para a população.
A partir de então tornou-se
centro de visitação, oração,
de grandes cerimônias religiosas e palco da celebração
das festas em louvor a São
Benedito. Serviu ainda como
matriz da cidade, abrigando a
Sob a coordenação
da Irmandade de
São Benedito celebra, por mais de
150 anos, a tradicional Festa em
Louvor ao Glorioso
São Benedito. A
festa, ao contrário
de outras cidades da região,
onde é celebrada na segunda
feira da Páscoa, ocorre em
outubro, em data próxima ao
aniversário natalício do santo
padroeiro.
O Santuário de São Benedito
constitui um dos mais expressivo “lugar de memória” da
cidade de Lorena. Ele exprime com lucidez e emoção, as
práticas sociais e culturais
dos devotos e de todos aqueles que freqüentam o belo
espaço em que está situado.
Faz parte da memória coletiva, guarda as mais ricas tradições e compõe a identidade
cultural da comunidade lorenense.
Fotos: Jenyfer Ramos
Prof. Francisco Sodero Toledo
“Desde o ano de
1917 está
agregada ao
Vaticano como
Basílica, podendo
distribuir aos fiéis
que a ela acorrem,
os mesmos
benefícios e
indulgências que a
Igreja Romana
atribuí a
determinadas
datas
comemorativas,
concedendo
àqueles que
recebem os
sacramentos da
confissão e da
eucaristia, a
expiação de suas
culpas e o alcance
de graças nos dias
santos.”
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