01_Capa_FINAL_198_soc:sumario 154_novo.qxd N.º 198 Novembro 2008 Mensal 2,00 € 08/10/28 0:20 Page 1 TempoLivre www.inatel.pt Entrevista Leonor Beleza da Política à Ciência João Silva A longa jornada de um fotógrafo 02_Pub_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 10:30 Page 1 03_Sumario_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 3:29 Page 3 Sumário Na capa Foto: Arquivo de José Silva 27 VIDAS João Silva: um andarilho da imagem Integrou as equipas de filmagem dos primeiros cineastas portugueses. Sofreu degredo, afoitou-se em terras de África, captou imagens atrás de imagens para o cinema e jornais. Deu descanso às máquinas aos 90 anos. Hoje, com 92, continua a viver numa lúcida dianteira dos tempos, sempre solidário e coerente e mais sábio. 5 6 EDITORIAL CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR 7 12 NOTÍCIAS CONCURSO DE FOTOGRAFIA 46 48 TEMPLO GLOBAL A CASA NA ÁRVORE VIAGENS NA HISTÓRIA CHEFE SUGERE INATEL Piódão Docinho da Estalagem 81 O TEMPO E AS PALAVRAS 82 CRÓNICA 55 72 20 ENTREVISTA 32 VIAGENS LUSOFONIA João Salgueiro analisa a crise financeira mundial e os seus efeitos em Portugal. 52 54 79 TERRA NOSSA De Santa Maria da Feira a Vinhais: fogaças na rua, fumeiro à lareira Em Janeiro, Santa Maria da Feira paga uma promessa centenária e em Fevereiro será a vez de Vinhais retomar a mais antiga feira de fumeiro do país. Dois destinos que o INATEL inclui nos seus programas de viagem. OLHO VIVO Inocência Mata fala-nos de recontros, heranças e elos da língua portuguesa. 50 14 Maria Alice Vila Fabião Mário Zambujal Leonor Beleza, da Política à Ciência Encerrado definitivamente o ciclo de governante, e com o raro tempo livre dedicado aos netos, Leonor Beleza quer fazer da Fundação Champalimaud um caso exemplar na investigação científica a nível mundial. Casamansa: um outro Senegal Casamansa fez parte, durante quatro séculos, da que foi a primeira colónia portuguesa, tendo sido integrada no Senegal no momento da independência. Com um património natural precioso para o ecoturismo, conserva ainda alguns sinais da herança portuguesa. 38 PAIXÕES CLUBE TEMPO LIVRE A arte do pão Passatempos, Novos Livros e Roteiro 42 PORTFÓLIO BOA VIDA Marrocos Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax: 210027027 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Guiomar Belo Marques, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, Joaquim Durão, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Maria Augusta Drago, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, João Aguiar, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Fundação INATEL, Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA Telef. 210027000; Fax: 210027027 Pré-impressão e impressão: Soctip, Membro da Sociedade Tipográfica, S.A. – Estrada Nacional 10, km 108,3 - Porto Alto 2135-114 Samora Correia Telef. 263009900 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 160. 812 exemplares 04_Pub_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 3:33 Page 1 05_Editorial_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 6:32 Page 5 Editorial V í t o r Ra m a l h o Responsabilidade e valores A administração da nossa Fundação, a que tenho a honra de presidir, tomou posse há cerca de escassos dois meses. Nesta fase preocupámo-nos em conhecer a casa, com os olhos postos nos beneficiários, conceito que tem um conteúdo amplo, e que é a razão de ser da nossa existência. Conhecer a casa significa ter em atenção o seu capital mais importante, o humano, para o mobilizar para a estratégia que nos propusemos, enquadrando-o de forma mais adequada aos objectivos a alcançar. É a fase que se terá de seguir. E terá de seguir com reforço claro de articulação entre os vários departamentos, sem excepção, onde todos conheçam e saibam a essência do que se passa com cada um. Não podemos ter departamentos estanques. Todos se destinam a servir o mesmo fim, com coordenação, ainda que descentralizadamente, o que implica que a sede, as delegações, as estruturas importantíssimas e as outras unidades terão de interpretar e saber interpretar a estratégia definida a uma só voz, cuidando do espírito de missão e de qualidade das respostas. É evidente que a administração irá promover a formação profissional dos trabalhadores, aos vários níveis, não descurando ainda a adopção de uma metodologia que introduza critérios objectivos de avaliação de desempenho. Há um desafio a prosseguir, pela nossa Fundação, que procurei deixar claro no primeiro editorial que escrevi no número anterior da nossa revista, e que qualifiquei de aliciante. Ele deve e tem de ser partilhado por todos, de forma responsabilizante. Esse desafio suporta-se na consciência de que para além da requalificação do património, do alargamento da oferta dos serviços e de novas oportunidades para os beneficiários, existe um vastíssimo campo de intervenção valorativa da nossa Fundação em novos domínios, de intervenção cívica e social, que não poderemos descurar e não descuraremos. Como se verá. Esses domínios acrescentarão ainda mais valor aos valores da nossa Fundação. É nossa obrigação cuidar cada vez mais deles. I NOV 2008 | TempoLivre 5 06_Cartas_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 3:39 Page 6 Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: [email protected] Ainda Porto Santo COM OS MEUS cumprimentos venho apoiar o assunto levantado pela associada de Lisboa, Srª Carmo Barrocas, na TL nº 197, de Outubro de 2008, cujo título é PORTO SANTO. O tema levantado é recorrente e deve ser seriamente analisado, podendo vir a beneficiar os sócios, a Inatel e o país, pois poder-se-á encontrar soluções que evitem que muitos portugueses, gozem férias no estrangeiro! Estou de acordo com a apreciação que a associada faz do Centro de Férias de Porto Santo e do seu pessoal. Conheci e gozei férias neste centro em Junho último (…) Deixo aqui algumas “dicas” relativamente ao centro de férias de Porto Santo e dos futuros centros de férias dos Açores: - Como se trata de um centro pequeno é muito importante criar condições para manter uma boa taxa de ocupação; - A Inatel fez em Junho de 2008, uma excursão com viagens incluídas com partida de Lisboa, que esgotou logo, beneficiando um pequeno número de associados; - A Inatel pode manter estadias todo o ano, com viagens incluídas, a preços sociais, desde que negoceie com uma companhia de aviação; - Se vier a existir um protocolo com este “desenho”, poderia começar por exemplo, com 8 passagens de ida e volta, com partida de Lisboa e 6 com partidas do Porto, durante as 52 semanas; - As partidas seriam no mesmo dia de semana, se possível às sextas-feiras depois das 21 h; - Os voos seriam directos a Porto Santo, para se obter os preços desejados; - Defendo que as estadias deveriam ser por 7 dias, com uma eventual opção por 14 dias; - Criar preços adequados para as semanas da época baixa, para se alcançar boa adesão a um programa deste tipo; - Negociar com o governo uma eventual comparticipação, parecida com a que existe para os programas Sénior e Termalismo Sénior, nas épocas médias e baixas, de modo a evitar a ida de muitos portugueses para o estrangeiro; - Publicitar o programa de forma adequada. Armando Peneda, Porto 50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel: José Luis Milhano Pessanha e Jaime Jacinto Silva, Lisboa; Carlos Octávio Mamede Alves, Caparica; Vitor Manuel Rodrigues Carvalho, Oeiras. Coluna do Provedor A INATEL mais do que uma marca de qualidade Há questões que necessitam de urgente resolução é um sentimento que brota naturalmente dos mais como o plano de obras, onde se inclui o respeito idosos, mas que se estende aos mais jovens ligados pelos deficientes motores. desde férias ao parapente, aos desportos radicais e à cultura. O Gabinete é onde o eco, o desabafo, de queixas, Kalidás Barreto TempoLivre | NOV 2008 muitas delas, justas. mas também de muitas palavras de estímulo, de elo- Trabalho incómodo, quantas vezes, mas pronta- gio à INATEL, de aproximação à Instituição que, a mente compreendido para bem do Beneficiário e da despeito dos seus 73 anos, e das transformações por INATEL. que passou, sentem, cada vez mais prestigiada. 6 Este ano, tivemos os atrasos na execução dos programas seniores o que originou várias reclamações, O Provedor não é, nem pode ser outra coisa do Nem sempre as coisas correm a 100%, o afluxo que a peça útil ao utente e à Instituição, devendo-se de utentes na época balnear e termal cria conflitos registar que as Direcções têm respeitado e exaltado a naturais que o Gabinete junto dos Administradores independência do Gabinete, o que, naturalmente, dos Centros de Férias, sempre que justos, resolveu, notamos com satisfação. com a prudente inquirição dos Serviços respectivos. Neste novo ciclo da vida da Fundação INATEL Os Parques de Campismo têm sido, também, poder-se-á dizer que o Gabinete irá manter a mesma espaço para alguma conflitualidade, esmagadora- postura de equilíbrio, bom senso e independência mente apresentada com grande sentido de responsa- que tem caracterizado a sua acção; esperamos con- bilidade e compreensão. segui-lo. 07a11_Noticias_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:36 Page 7 Notícias Gala Sénior 2008 Cerca de nove centenas de seniores marcaram presença em mais uma edição da Gala Sénior que decorreu no passado dia 16 de Outubro no Casino Estoril, uma iniciativa que assinala o encerramento dos programas Turismo Sénior e Saúde e Termalismo Sénior de 2008. Vitor Ramalho, Presidente da Fundação Inatel (FI), evocou, na sua intervenção, o importante contributo dos cidadãos seniores na sociedade portuguesa, afirmando que a Inatel está empenhada em “servir mais e melhor a causa da dignidade de quem trabalhou tanto para o nosso país”. “Não estamos – sublinhou Vítor Ramalho - a fazer nenhuma dádiva, estamos apenas a reconhecer aquilo que deram ao país no passado”, afirmando que esse contributo ainda permanece, uma vez que através da sua participação nas férias seniores “se reforça, na época baixa, a taxa de ocupação das unidades hoteleiras quer da fundação Inatel quer das entidades privadas que connosco trabalham, criando e preservando empregos nas diversas regiões do país”. Presente na gala em representação do Governo, Idália Moniz, Secretária de Estado-adjunta e da Reabilitação, lembrou que “o Estado Português de: Inatel Albufeira, Inatel Serra da Estrela e Hotel Miracorgo (Vila Real) na categoria de melhor unidade hoteleira; e nas restantes categorias, o restaurante Ruínas do Cerrado; os agrupamentos musicais: Grupo Sargaceiros da Casa do Povo de Apúria, Grupo “os Templários”, Grupo Folclore “O Arrais”, Cantorias – Associação Vila Chã Sá e Jaime Santos Show; os palestrantes Bruno Gato (Vida Saudável), Manuel Penteado Neiva e João Pedro Sousa (Conhecer a Região), Vicente Silva (Saúde e Termalismo Sénior); a professora da Oficina das Artes: Carla Padinha; a Guia Turísticocultural Anabela Melo e os Animadores Susana Barata e Joaquim José Duarte; o melhor atendimento dos seniores foi para a Delegação Coimbra e a Star – Viagens e Turismo S.A. Foram ainda entregues prémios aos melhores vencedores do concurso de texto e fotografia dos programas seniores, casos de Manuel Pereira, Celeste Botelho e Maria Nazaré Leitão (texto) e António Martins, Maria Arminda Vítor Ramalho ladeado pela Secretária de Estado-Adjunta e Santos e Maria Isabel da Reabilitação, Idália Moniz, e pelo presidente da AMI, Patrocínio (fotografia). Fernando Nobre reconhece, desta forma singela, o empenho de toda uma vida activa em prol do país” e adiantou que, com a esperança de vida a rondar os 78 anos nos homens e os 81 nas mulheres, “é preciso fazer com que os nossos dias sejam passados com o máximo de bem-estar”. Relativamente ainda ao sentido e conteúdo dos programas seniores, Idália Moniz salientou que eles representam “momentos de grande partilha e emoção e, fundamentalmente, de grande festa, pois cada grupo que viaja para um diferente destino é sinónimo de alegria e festa e é esse espírito que interessa preservar e dinamizar”. A anteceder o espectáculo “Visions: O Espírito dos Sonhos”, foram distinguidos os melhores prestadores de serviço dos programas Turismo e Saúde e Termalismo Sénior, casos NOV 2008 | TempoLivre 7 07a11_Noticias_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:37 Page 8 Notícias Madeira duplica receitas de turismo em dez anos A Museu do Oriente divulga cultura chinesa O Museu do Oriente promove um curso de introdução ao estudo da Língua e Cultura chinesa, entre 11 de Outubro de 2008 e 4 de Julho de 2009, coordenado por Maria Trigoso, docente e investigadora do Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa. O objectivo do curso é apresentar a cultura chinesa e suscitar o interesse pelas questões, tanto teóricas como metodológicas, que se colocam ao seu estudo, sobretudo as que advêm das abordagens feitas a partir de uma perspectiva ocidental. Ana Moura premiada nos EUA “A Cidade do Açúcar” O Museu “A Cidade do Açúcar” , do Funchal, reabriu ao público após alguns meses de encerramento devido a trabalhos de reorganização. O Museu lançou, entretanto, um desdobrável-roteiro de exposição e para as visitas guiadas à Cidade do Açúcar, em português e inglês, recuperando textos de Francisco Clode Sousa, Clara Silva, Alberto Vieira, João José Abreu de Sousa e José de Sainz Trueva. O Museu pretende ser um espaço de apresentação das relações e consequências económicas e culturais decorridas entre os séculos XVI e XVII na ilha da Madeira, e testemunhar essa realidade através de diversos elementos arqueológicos, cronológicos e de painéis 8 TempoLivre | NOV 2008 Região Autónoma da Madeira duplicou o número de hóspedes e os proveitos registados em estabelecimentos hoteleiros entre 1997 e 2007, de acordo com dados fornecidos pela Direcção Regional de Estatística do Governo Regional da Madeira. Em 1997 o número de hóspedes em estabelecimentos hoteleiros totalizava 584 mil e os proveitos 154 milhões de euros. Em 2007 estes números passam para 970 mil e 282 milhões de euros, respectivamente. informativos, com referências ao enquadramento do Funchal e da Madeira no contexto da expansão portuguesa. Depois do Prémio Amália para Melhor Intérprete, da nomeação para um Globo de Ouro na mesma categoria e do galardão de Dupla Platina, Ana Moura recebeu, no dia 1 de Novembro, em San José, Califórnia, o prémio Portuguese American Leadership Council Association (PALCUS), atribuído pela maior associação portuguesa nos Estados Unidos. 07a11_Noticias_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:37 Page 9 Depois do Trindade “Elixir d’Amor” em digressão Vítor Ramalho à conversa com José Fonseca e Costa Em cena no Trindade, no passado mês de Outubro, a ópera “O Elixir d’Amor”, de Donizetti, poderá ser apreciada em Novembro nas Caldas da Rainha (dia 22) e em Guimarães, dia 28. A 13 de Dezembro, será a apresentação em Faro da popular ópera italiana, cantada em português, numa encenação de Maria Emília Correia, com direcção musical de Cesário Costa. A estreia de “O Elixir d’Amor”, Teatro da Trindade, registou a presença de numerosas figuras da cultura e sociedade portuguesas, caso, entre outros, de Noronha Nascimento, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Mário Vieira de Carvalho, musicólogo e ex- Secretário de Estado da Cultura, Luis Mascarenhas, Rui Mendes, Mário Jacques, José Fonseca e Costa e Carlos Fragateiro. “Coerente, cheio de graça, fino humor e divertido, sempre com a Rui Sérgio, Luis Mascarenhas, Rui Mendes e Paulo Pires música a desabrochar em acção teatral”, assim comentou Mário Vieira de Carvalho o espectáculo, destacando o desempenho dos actores/cantores “numa perfeita unidade de canto e representação”, em português, e elogiando a encenação de Maria Emília Correia Ligue e receba Grátis O Guia Internet fácil para todos que – sublinhou - tem revelado uma predisposição verdadeiramente excepcional para a ópera.” Também Rui Mendes e Carlos Fragateiro se manifestaram agradados com o nível de interpretação e da encenação da popular ópera cómica de Gaetano Donizetti. chamada gratuita 800 207 397 indique o código: 3101 Horário de atendimento: Dias úteis das 9h às 18h Oferta sujeita a disponibilidade de stock. Em caso de ruptura a Deco Proteste reserva-se no direito de substituir o mini guia aqui promovido 07a11_Noticias_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:38 Page 10 Notícias Inatel apoia atletas paraolímpicos Os atletas paraolímpicos portugueses, integrados na Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes (FPDD), vão poder, a partir do corrente mês, utilizar as instalações desportivas e centros de férias da Fundação Inatel. O protocolo assinado pelas duas entidades, no decorrer da homenagem promovida pela Inatel, em Outubro, aos atletas medalhados em Pequim, prevê que as actividades desportivas dos atletas da FPDD decorram nas instalações que ofereçam as “condições necessárias para a prática desportiva por parte dos atletas deficientes, em horários a estabelecer com a estrutura distrital da Fundação, responsável pelas instalações.” Humberto dos Santos, presidente da FPDD, usou da palavra no final da cerimónia de entrega de medalhas comemorativas da homenagem, para assinalar que o acordo estabelecido com a Inatel representa “uma importante mais valia para o trabalho a desenvolver pelos atletas paraolímpicos tendo em vista, já, os Jogos de Londres em 2012.” Gratos e comovidos pela iniciativa da Inatel usaram também da palavra, em nome dos medalhados, os atletas João Paulo Fernandes (ouro) e Cristina Gonçalves (prata). Para Vítor Ramalho, presidente da Inatel, o protocolo e a homenagem significaram, apenas, o cumprimento de “uma obrigação da Fundação perante cidadãos portugueses que prestigiaram o País a nível mundial”. Acompanhado pelos restantes membros da administração, Vítor Ramalho enalteceu a “coragem e determinação” dos jovens atletas e sublinhou o facto de a “simples, sincera e simbólica” homenagem prestada pela Inatel no seu primeiro acto público na área do Desporto contar com a presença do Secretário de Estado, Laurentino Dias, que alterou a respectiva agenda para se associar ao acto. O responsável do Governo na área do Desporto saudou, por seu vez, a homenagem promovida pela Inatel e salientou, tendo em conta a dimensão do nosso país, a “boa participação” nacional nos Olímpicos e nos Paraolímpicos. “Apesar de algumas notas menos agradáveis, Portugal saiu prestigiado quer em Agosto quer em Setembro, e há que ter o maior respeito pelos atletas que foram a Pequim”, acrescentou Laurentino Dias. Dia da Música A Fundação Inatel assinalou o Dia Mundial da Música, no passado dia 1 de Outubro, com um original concerto pela Banda Ponterrolense e pela Orquestra Tocá Rufar, a partir das janelas do Palácio Foz, em Lisboa. Também Leiria comemorou este dia com o concerto da Big Band do Município da Nazaré, integrado no Festival de Jazz da Alta Estremadura, que decorreu no Teatro Miguel Franco. 10 TempoLivre | NOV 2008 11_segunda via.qxp:sumario 154_novo.qxd 08/10/28 15:42 Page 1 Humor Mundial na CGD O Museu Nacional da Imprensa apresenta, até dia 15, em Lisboa, na sede da Caixa Geral de Depósitos, na Av. João XXI, a exposição “PortoCartoon: Direitos Humanos”. A exposição reúne cerca de uma centena de cartoons sobre o tema, nomeadamente os trabalhos premiados no X PortoCartoon e os melhores desenhos seleccionados pelo júri internacional do festival. Os cartoons patentes correspondem a uma selecção da exposição original, com cerca de 400 obras, que continua a ser apresentada na Galeria Internacional do Cartoon (MNI). “Portugal no Coração” Vinte e um emigrantes portugueses, oriundos da África do Sul, Argentina, Brasil, Chile e Venezuela visitaram o país natal na segunda quinzena de Outubro, no âmbito do programa “Portugal no Coração”, uma iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com o apoio da TAP e da Fundação Inatel. O programa, circunscrito aos emigrantes, residentes em países fora da Europa, que há mais de 10 anos não visitam o nosso País e já tenham completado 65 anos, incluiu estadias nos centros de férias da Inatel e visitas turísticas e culturais em Lisboa, Cascais, Sintra, Albufeira, Óbidos, Nazaré, Fátima, Coimbra, Porto, Braga, Cerveira, Ponte de Lima e Valença do Minho. Num almoço de convívio com os nossos compatriotas, no centro de férias da Caparica, o presidente da Inatel, Vítor Ramalho, sublinhou o profundo significado desta visita ao país natal de portugueses que, sem a ajuda proporcionada por este programa, não poderiam, jamais, satisfazer o sonho das suas vidas. NOV 2008 | TempoLivre 11 12e13_ConcFotog_198_soc:sumario 154_novo.qxd Fotografia 08/10/27 11:23 Page 12 XIII Concurso “Tempo Livre” Fotos premiadas [1] [2] [ 1 ] José Barreiro, Albufeira Sócio n.º 36010 [ 2 ] Sérgio Guerra, S. João do Estoril Sócio n.º 204212 [ 3 ] Fausto Lima, Oeiras Sócio n.º 198088 12 TempoLivre | NOV 2008 12e13_ConcFotog_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 11:07 Page 13 Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. Menções honrosas [ a ] Carlos Santos, S. Domingos de Rana – Sócio n.º 368565 [ b ] Paulo Amado, S. João da Madeira – Sócio n.º 393614 [ c ] José Pereira, Lagos – Sócio n.º 391301 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos sócios do Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado do Inatel. [a] 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano [b] [3] 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio um fim de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL» 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2009, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio. [c] NOV 2008 | TempoLivre 13 14a19_TerraNossa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:51 Page 14 Terra Nossa De Santa Maria da Feira a Vinhais Fogaças na rua, fumeiro à lareira A seu tempo, o verão regressará com luz exuberante. Por ora, começa a tomar forma o calendário festivo do Inverno. Em Janeiro, Santa Maria da Feira paga uma promessa centenária e em Fevereiro será a vez de Vinhais retomar a mais antiga feira de fumeiro do país. Dois destinos que a INATEL inclui nos seus programas de viagem. VAI-SE A SANTA MARIA DA FEIRA por variadas razões. Fiquemo-nos, todavia, por duas: a antologia de antiguidades arquitectónicas, e o centenário desfile das fogaceiras, que é afinal o principal pretexto para a viagem aqui em proposta (ver caixa). Parece clara a origem do topónimo, se nos fiarmos na historiografia local, que esclarece duas razões mancomunadas. A Civitas Sanctae Mariae nasce no contexto de guerra civil que afectava Califado de Córdova, lá para o sul da península. Um tal D. Munio Viegas, secundado por seus filhos D. Egas e D. Garcia, achou por bem, em seu próprio interesse, tirar proveito dessa situação, atacando a moirama desconcertada e fragilizada pelos seus conflitos internos. Para a conquista das terras situadas entre o Douro e o Vouga, a fidalguia (que hoje os compêndios de história imaginam como patriótica) ergueu os seus estandartes sob o patrocínio de Nossa Senhora. Aí está a razão de ser do primeiro capítulo do topónimo. 14 TempoLivre | NOV 2008 Quanto ao segundo, escreveu-o a dinâmica da economia. Foi a privilegiada localização das Terras de Santa Maria, na confluência dos eixos Norte-Sul e Litoral-Beira Interior, que dela fez ponto de passagem quase obrigatório. Três importantes centros – ao nível religioso, político, económico e administrativo, firmaram-se como factores de desenvolvimento da região: os mosteiros de Cucujães e de Arouca, e o Castelo da Feira, exemplo de arquitectura militar medieval que é o ex-libris de Santa Maria da Feira. À volta do castelo ocorreu um surto de desenvolvimento mais intenso, surgindo aí um pólo económico por via das actividades agrícolas e do comércio. Santa Maria da Feira nasceu como consequência dessa dinâmica que reunia às portas da fortaleza mercadores de produtos agrícolas, de alfaias e de têxteis, numa grande feira frequentada pelos camponeses da região. Uma visita a Santa Maria da Feira não requer tempo ou distâncias labirínticas. Quase tudo o que há para ver está aos pés do velho castelo, como os espigueiros arrumados mesmo à vista do Largo do Rossio. A Igreja Matriz, cujas paredes laterais da nave estão revestidas de azulejos do séc. XVIII, fica a cinco minutos. Diante da frontaria, e do alto do escadório, não será perda de tempo deixar correr o olhar pelos telhados da parte mais antiga do burgo, mesmo se o horizonte se apresenta ferido pela guarda-avançada da civilização do cimento. Na antiga Rua Direita sobrevivem entre o casario de arquitectura variada algumas casas dos séculos XVIII e XIX, e na outrora chamada Praça Velha encontramos um vetusto chafariz oitocentista que trouxe para o novo milénio a sua 14a19_TerraNossa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:52 Page 15 NOV 2008 | TempoLivre 515 14a19_TerraNossa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:52 Page 16 Terra Nossa melodia aquática. Passeio imprescindível é o que nos leva pela rua serpentina que ascende até à beira do histórico castelo. Os arqueólogos decifraram nas pedras que a fortaleza foi erguida em local cujo valor estratégico já anteriores populações haviam validado. Porventura menos preocupados com guerras, aí teriam os adoradores de uma certa divindade erguido um templo, como provam as aras votivas descobertas. Esse templo foi integrado na fortificação, na Alta Idade Média, sendo claro que nos séculos XI e XII foram erguidas as muralhas exteriores. Em meados do séc. XV teve lugar uma profunda reestruturação da fortaleza; dela foram obreiros Fernão Pereira e Rui Vaz Pereira, que obtiveram de D. Afonso V 16 TempoLivre | NOV 2008 permissão para “à sua própria custa o correger e refazer as muralhas, paredes, casas e todas as outras cousas que fossem necessárias para a sua fortaleza e defensão”. Depois de um longo período de decadência, a fortificação foi objecto de restauro. Hoje em dia, acolhe “acontecimentos culturais” e é um dos palcos da grande feira medieval da cidade. Paisagem com castanheiros Vinhais já comemorou 750 anos de vida: não é dizer pouco num país que poucos mais tem. Foi fundada por D. Sancho I em meados do séc. XIII e chegou a ter um pequeno castelo, que resistiu às investidas castelhanas, mas não aos arrebata- 14a19_TerraNossa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:53 Page 17 A pagadora de promessas É boa opção visitar Santa Maria da Feira por altura da Festa das Fogaceiras, que se realiza em Janeiro, quando o calendário marca o dia 20. O acontecimento é de suma importância, uma questão de honra para os habitantes da cidade desde o tempo dos paradigmáticos terrores medievais. A Fogaça é um doce regional feito de farinha de trigo, com um formato que emula o perfil das quatro torres do castelo. A iguaria é citada pelos cronistas pelo menos desde o séc. XIII. No dia da festa, crianças de todo o concelho integram-se numa procissão que percorre as ruas da cidade levando cada uma delas uma fogaça enfeitada com uma bandeirinha. O que justifica, afinal, tal austera celebração? Um voto não cumprido, contam as crónicas. Estava-se no séc. XVI e S. Sebastião viu-se solicitado pelo povo da Feira para o acudir em momento de grande aflição, marcado por mortal surto de peste. A Festa das Fogaceiras, por meio da qual “raparigas honestas e pobres da vila transportariam as fogaças à cabeça para as pessoas necessitadas”, passou a fazer parte dos rituais religiosos dos habitantes. Mas não se sabe bem por que razão foi o cortejo de oferendas interrompido entre os anos de 1749 e 1753. Assolado novamente pela peste (crê o povo que por falta de cumprimento da promessa), o burgo pediu ao Infante D. Pedro novo alvará para a sua realização. Desde então e até ao presente, entre as centenas de fogaças que desfilam pela cidade nas mãos das crianças feirenses há três dedicadas a S. Sebastião para que a tranquilidade não deixe de ali reinar. Vale a pena mencionar o piedoso destino dessas três fogaças. As duas primeiras, uma delas fragmentada, são encaminhadas para o prelado da diocese e para algumas autoridades locais, em modo de ritual ratificador de hierarquias. A última, também partida em pedaços, vai para as mãos dos presos da cadeia, cumprindo-se assim, simbolicamente, o espírito primitivo que presidiu à promessa feita ao mártir S. Sebastião. I NOV 2008 | TempoLivre 717 14a19_TerraNossa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:53 Page 18 Terra Nossa mentos da fé: acabou demolido no séc. XVIII para dar lugar à Igreja Matriz. O Pelourinho e o Convento de São Francisco (séc. XVIII) são outro património a visitar. O burgo é modesto, encavalitado num outeiro e debruçado sobre um fértil vale. Avista-se lá em baixo a bonita capela românica de São Facundo. Uma estrada desce em ziguezague até ao vale e pelo caminho contornamos uma rotunda ornamentada com um assador gigante. A anotar: Viagens INATEL Na programação Outono/Inverno das Viagens Inatel, está prevista uma viagem, de 19 a 23 de Janeiro, à Festa das Fogaceiras, em Santa Maria da Feira, e que inclui, com estadia em Chaves, a Feira do Fumeiro de Montalegre. Seguese, de 12 a 14 de Fevereiro, a viagem à Feira do Fumeiro de Vinhais, com passagem também por Chaves e passeios e visitas no Tua e em Foz Côa. 18 TempoLivre | NOV 2008 Vinhais passa por ser a capital do fumeiro português, ou pelo menos sede da melhor produção, com direito a feira (ver caixa), mas também se orgulha das florestas de castanheiros que cobrem as colinas das redondezas – e que são uma constante na paisagem da região – e das castanhas que têm também a sua merecida fama. É no final do mês de Outubro que anualmente ali tem lugar uma grande festa dedicada a esse fruto outonal. Uma das entradas no Parque Natural de 14a19_TerraNossa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:54 Page 19 Montesinho está a dois passos. Mas a vila inaugurou em Maio passado outro atractivo para os amantes da natureza, o Parque Biológico de Vinhais, instalado mesmo à beira do povoado, no perímetro florestal da Serra da Coroa. O parque tem várias valências, entre as quais a interpretação da paisagem local, a educação ambiental, a conservação e promoção da biodiversidade e o desenvolvimento do ecoturismo. I Humberto Lopes (texto e fotos) Vinhais, capital do fumeiro A 28ª Feira do Fumeiro de Vinhais está agendada para Fevereiro de 2009, e o programa contará, como nos anos anteriores, com multifacetada animação: música popular, bandas filarmónicas, gaiteiros, desfiles de caretos, etc. E, evidentemente, com as grandes jornadas gastronómicas consagradas ao precioso fumeiro da região. Os visitantes poderão degustar as especialidades locais, baseadas na carne de porco da espécie bísara, alimentada abundantemente com castanhas, nas dezenas de tasquinhas da feira e adquirir as ditas aos cerca de oitenta produtores presentes. Entre elas constam o salpicão, a chouriça de carne, a alheira, o butelo, o chouriço azedo, a chouriça doce e o presunto, todos levando Vinhais no nome de baptismo. As ementas disponíveis nas habituais tasquinhas são elucidativas da riqueza gastronómica de Vinhais e assaz apelativas: Caldo de cascas, Cozido de cascas, Caldo à lavrador, Caldo de perdiz, Fumeiro com grelos, Javali com castanhas, Cozido à transmontana, Feijoada de lebre, etc. No epílogo doceiro, brilham o pudim de castanhas e o arroz doce. I NOV 2008 | TempoLivre 19 20a25_LeonorBeleza_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:58 Page 20 Entrevista Leonor Beleza Presidente da Fundação Champalimaud “A Ciência é o motor na procura de novas fronteiras ” 20 TempoLivre | NOV 2008 20a25_LeonorBeleza_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:58 Page 21 N o local, junto ao Tejo, donde partiram as caravelas em busca de novos mundos, erguerse-á, dentro de um ano, a sede da Fundação Champalimaud. Encerrado definitivamente o ciclo de governante, e com o raro tempo livre dedicado aos netos (“são o encanto da minha vida…”), Leonor Beleza quer fazer do legado do grande empresário e industrial português para a investigação científica um caso exemplar a nível mundial porque – sublinha – a ciência é hoje “o motor na procura de novas fronteiras e do desconhecido.” NOV 2008 | TempoLivre 21 20a25_LeonorBeleza_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:59 Page 22 Entrevista Tempo Livre – Há uma biografia sua que indica ter nascido e vivido até aos oitos anos em Coimbra… Leonor Beleza – Não, eu nasci no Porto. De facto os meus pais viviam em Coimbra e vivi lá até aos nove anos. A minha mãe era natural do Porto, estudou e casou em Coimbra, mas como muitas vezes as mulheres que gostam de ter os filhos junto das mães eu fui nascer ao Porto... TL- Boas recordações desse tempo… LB – …A de viver numa casa com um grande jardim onde eu e os meus irmãos podíamos fazer barulho e brincar à vontade. Custou-nos muito, mais tarde, a adaptação, quando viemos para um andar em Lisboa. Estávamos habituados a uma maior liberdade de movimentos e os nossos amigos viviam muito perto. TL – Nunca lá voltou? LB- Ainda hoje, quando me desloco ao Porto ou a Coimbra gosto de passar perto da casa onde vivi. O nosso grande Uma vez atrevi-me a bater à porta objectivo é pôr e a pedir às pessoas para entrar e de pé um centro aconteceu-me aquela coisa que de excelência acontece a toda a gente… as salas, de investigação portas e janelas estavam no científica… mesmo sítio mas a dimensão parecia diferente. A zona onde vivia foi muito alterada como muitas coisas em Coimbra, nomeadamente o hospital da Universidade que é muito perto da casa onde morava. A casa continua lá, mas o bairro mudou muito. TL – Avô, mãe e irmã juristas, licenciou-se em Direito, leccionou na Faculdade de Direito. Nunca foi tentada pela carreira universitária? LB- Quando me preparava, em 1982, para fazer o doutoramento, tive um convite para integrar o Governo. Aceitei na convicção de que era uma situação transitória e de que após essa experiência voltaria à Faculdade, mas as coisas aconteceram de outra maneira. Mas tenho muita pena. Gostava de ter prosseguido a carreira universitária. Paciência, não foi possível. TL- Foi dirigente destacada do PSD, Secretária de Estado, Ministra, Vice-Presidente da Assembleia da República. Três décadas de acção política e governativa com altos e baixos. É um ciclo encerrado na sua vida? LB- Não, a política não é uma coisa encerrada na “ ” 22 TempoLivre | NOV 2008 minha vida. Continuo a ser militante do partido, tenho uma posição política conhecida, embora com uma actividade menos intensa. TL – E no Governo? LB- Não, esse ciclo está encerrado. TL - Foi surpresa para si o convite de António Champalimaud para dirigir a Fundação? Conheceu-o pessoalmente? LB - Muito pouco, pessoalmente. Conheci-o quando passou a controlar o Banco Totta e Açores. Almocei uma vez em sua casa e conversamos outras vezes, pois eu era presidente do Conselho Fiscal do Banco. Este órgão deixou, mais tarde, de existir devido a alterações da lei. Foi um conhecimento, em termos pessoais, muito limitado. TL – Que imagem retém de António Champalimaud? LB – Tinha, em primeiro lugar, a imagem pública que era conhecida. Depois, e na sequência do convite para a Fundação, aprofundei muito o conhecimento da sua personalidade através de contactos com alguns familiares e com pessoas que trabalharam muito de perto com ele. Era muito importante para mim saber como ele era, o que é que ele pensava, como é que queria as coisas pois não deixou uma ideia muito explícita do que desejava para a Fundação. TL – A Fundação quer trazer para Portugal cientistas portugueses que trabalham lá fora e criar um centro de investigação capaz de atrair cientistas estrangeiros de nomeada. Há já sinais disso? LB – A Fundação já tem um programa de investi- 20a25_LeonorBeleza_198_soc:sumario 154_novo.qxd gação a funcionar. O nosso grande objectivo é pôr de pé um centro de excelência de investigação científica. Fisicamente esse centro está a começar a ser construído. Mas já temos um programa de neurociências, que está a funcionar no Instituto Gulbenkian de Ciência, no âmbito de um acordo entre as duas fundações, e constituído por equipas de investigação básica. São cientistas da Fundação Champalimaud. TL- Alguns vieram de outros países… LB – Sim, alguns vieram de fora. É o caso do coordenador do grupo de neurociências, Isaac Mainen, um importante cientista norte-americano. TL - Há já um importante prémio internacional relacionado com a visão, mas não será, segundo creio, a única ou principal área de investigação? LB – A visão é uma vertente importante da nossa investigação, sobretudo em relação ao prémio. É um prémio anual com uma dupla faceta: tanto pretende fazer destacar a importância da investigação em visão com a atribuição, em anos pares, de um prémio a equipas de investigação que tenham feito importantes avanços nesse domínio, como procura que a luta contra a cegueira sobretudo nos países onde esse problema tem uma expressão importante - se desenvolva utilizando a ciência conhecida. Nos anos ímpares o prémio é atribuído a instituições que fazem esse tipo de trabalho. No âmbito da investigação que fazemos e que viremos a fazer, a visão aparece no âmbito mais amplo como aspecto importante das neurociências. TL - Como interpreta o facto de dezenas de portugueses terem de recorrer a hospitais cubanos para resolver problemas de visão? LB – Acho que há aí alguns equívocos. Por um lado um equívoco que tem a ver com a noção de que não teremos os meios necessários e suficientes para que os portugueses não sofram de cataratas. E também me parece a escolha de Cuba um pouco estranha, pois há, certamente, lugares mais próximos para esse tratamento. Há qualquer coisa aqui que não funciona bem, ou as pessoas não sabem, pois nós temos seguramente capacidade instalada bastante para os portugueses não precisarem de sofrer dessas doenças. TL - Uma das primeiras conquistas da Fundação Champalimaud foi, como já nos disse, a con- 08/10/25 4:59 Page 23 tratação de Isacc Mainen, especialista em neurociências e que trabalhará, diz-se, no projecto de investigação mais caro alguma vez desenvolvido em Portugal... LB – A questão não se coloca assim. Estamos é a oferecer condições competitivas aos cientistas que aceitam vir trabalhar connosco. Estamos em competição com grande laboratórios de outros países que oferecem pacotes interessantes. Se queremos que as pessoas venham trabalhar para Portugal temos de lhes oferecer, também, pacotes competitivos. O pacote competitivo não significa simplesmente pagar muito, mas sobretudo oferecer meios para se fazer ciência, que é uma actividade cara. TL - Segundo a revista Nature, o Centro vai empregar pelo menos 300 cientistas… LB – Em pleno funcionamento, o Centro poderá ter, aproximadamente, esse número de investigadores. TL - Segundo ainda a “Nature”, Prefiro que a muitos cientistas em Portugal política seja feita por estarão desiludidos pois “ pessoas que têm uma estavam a torcer por uma melcarreira profissional hor distribuição da riqueza”. e vivências para além LB – A filosofia da Fundação não do mundo da assenta na distribuição de subsípolítica dios, mas antes na criação de um centro de investigação de excelência, com características diferentes do que acontece hoje em Portugal. E o que sinto da parte dos cientistas portugueses não é hostilidade, mas antes interesse e curiosidade e, em muitos casos, uma excelente colaboração em relação ao que estamos a fazer. TL – A localização do Centro junto ao Tejo tem suscitado algumas críticas… LB – Só conheço uma crítica... O que tenho visto é um enorme apreço pelo nível arquitectónico do que vai ser edificado no local. A ligação ao rio será extraordinariamente facilitada. Cinquenta por cento do terreno será ocupado por jardins bem cuidados, um anfiteatro ao ar livre e por outras estruturas de acesso público, incluindo um auditório destinado ao centro e aos cientistas mas disponível para outros fins, nomeadamente artísticos. TL- Essa localização tem, ainda, para si, um importante significado histórico… LB – É um local historicamente muito relevante “ ” NOV 2008 | TempoLivre 23 20a25_LeonorBeleza_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 4:59 Page 24 Entrevista “ Cinquenta por cento da área do Centro será ocupada por jardins bem cuidados, um anfiteatro ao ar livre e por outras estruturas de acesso público (…) a ligação da cidade ao rio será extraordinariamente facilitada ” para Portugal. Daí partiram os portugueses ousadamente, rasgando fronteiras à procura do desconhecido. Ora, a ciência é hoje o motor na procura de novas fronteiras e do desconhecido. TL – Tem, no Conselho de Curadores, cientistas e outras figuras importantes do nosso País, além de personalidades estrangeiras de relevo, como Simone Veil e o ex- Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso. Já houve alguma reunião deste Conselho? Como reagiram ao seu convite? LB – Reunimos duas vezes por ano. Aderiram todos com entusiasmo, desde logo, naturalmente, os que estão mais perto e integram o Conselho, constituído por António Champalimaud. As duas personalidades que referiu vivem connosco, a par e passo, os grandes momentos da Fundação, interessam-se muito por aquilo que se passa, dãonos uma ajuda extraordinária. Aliás, a próxima reunião do Conselho será em S. Paulo, no Instituto Fernando Henrique Cardoso. TL – E António Damásio? Não vai tentar trazêlo para Portugal? LB – Receio que seja difícil. Está, agora, a dirigir uma nova instituição na Universidade da Califórnia do Sul, em Los Angeles. É um projecto novo e é natural que o ocupe muito. Mas conto com o seu apoio e empenhamento no Conselho de Curadores. TL – A crise financeira mundial não afecta a Fundação? LB – A crise afecta tudo e todos, designadamente quem tem recursos de carácter financeiro e vive 24 TempoLivre | NOV 2008 deles, mas não tenho dúvidas de que os nossos recursos são geridos de uma maneira extremamente competente. Estamos, no essencial, relativamente calmos em relação ao que se passa. TL - Leccionou Direito da Família na Faculdade de Direito. Que opinião tem sobre a eventual legalização de casamento de homossexuais? LB- Por uma questão da dignidade das pessoas, não me oponho, mas entendo que os juristas devem participar neste debate. É uma questão que deve ser analisada com todo o cuidado. Não estamos a falar apenas de um tema política e socialmente relevante, mas também de um instituto jurídico que existe há muito, relativamente consolidado, com efeitos a vários níveis, e que não deve ser tratado de maneira simplista. TL - Como encara o facto de os políticos serem cada vez mais profissionais da política? LB - Tenho alguma dificuldade em assumir-me como crítica em relação a isso. Prefiro que a política seja feita por pessoas que têm uma carreira profissional e vivências para além do mundo da política. Ou seja, pessoas que singraram de maneira autónoma na sociedade, antes de assumirem cargos políticos de relevância. Pessoas que tendo este perfil, dediquem uma parte da sua vida ao bem comum. Prefiro esse tipo de pessoas, mas não ignoro que nos países mais desenvolvidos a política é exercida de uma maneira praticamente profissional. Eu própria, numa fase da minha existência, fui, na prática, isso mesmo. Mais do que ser ou não ser profissional, é uma 20a25_LeonorBeleza_198_soc:sumario 154_novo.qxd questão de real dedicação ao interesse colectivo, mas prefiro que sejam pessoas com outra experiência profissional e de vida. TL – Há mais vida para além da Fundação?... LB – O que mais gosto de fazer, hoje em dia, tendo em conta as circunstâncias pessoais e familiares, é de tomar conta dos meus netos. Ou melhor, não bem tomar conta, é de brincar com eles. Tenho dois, uma neta e um neto. Gosto muito que os pais me peçam para ficar com eles. São o encanto da minha vida. Ponho-os à frente de tudo quando estou livre do trabalho profissional. Gosto, evidentemente, de outras coisas. De ler, de ver filmes, mas confesso que o meu tempo está agora mais limitado. TL – Tem algum autor preferido? 08/10/25 5:00 Page 25 LB – Tenho vindo a ler, com grande interesse, um escritor de um país que me fascina, a Turquia. Orhan Pamuk retrata, de uma maneira muito sugestiva, e falando do seu próprio país, os problemas, as contradições e as dificuldades do mundo actual. É um país onde se debatem correntes muito diferentes e fortíssimamente antagónicas. Há um outro escritor de que gosto muito, o libanês Amin Malouf, não só pela qualidade dos seus romances históricos, mas também pela forma como aborda o relacionamento entre a tradição e a contemporaneidade, inspirado no complexo mosaico étnico e ideológico que é o seu país natal. É o caso, também, do indiano Amartya Sen na sua análise da identidade e violência. São autores que contribuem para esbater as diferenças e nos fazem compreender como se pode viver em mundos diferentes, acentuando os elementos de não-ruptura. TL – Como encarou a decisão da Casa de Imprensa de lhe outorgar o título de Associada Benemérita? LB- Foi uma honra para mim receber essa distinção, mas não fiz mais do que apoiar uma causa justa de uma instituição centenária com um papel muito importante na vida dos jornalistas portugueses.. Tl – Foi Secretária de Estado da Segurança Social e, mais tarde, Ministra da Saúde. Qual destas funções mais apreciou? LB – Se posso tomar opções desse tipo, pessoalmente foi mais gratificante a segurança social. Embora não totalmente pacífica, foi uma função bem menos conflituosa. TL – Que ideia faz da Fundação INATEL? LB – Tenho a percepção que ao longo das suas décadas de existência tem sido bastante importante pelos serviços que proporciona a muitos trabalhadores. Desempenha um papel muito positivo na sociedade portuguesa. TL – Nunca praticou desporto? LB – Pratiquei basquetebol quando era mais jovem e continuo a praticar natação, embora com menos intensidade. TL – Nunca foi à piscina da Inatel, considerada uma das melhores de Lisboa? LB – Vou às vezes ao Estádio 1º de Maio, a minha neta gosta muito de lá ir à zona das crianças, mas de facto ainda não experimentei a piscina. I Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos) NOV 2008 | TempoLivre 25 26a30_JoaoSilva_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:05 Page 26 Vidas João Silva A janela discreta Pioneiro dos meandros da Sétima Arte, integrou as equipas de filmagem de quase todos os lusos vanguardistas cineastas. Sofreu degredo, afoitou-se em terras de África, captou imagens atrás de imagens. Aos 92 anos continua a viver numa lúcida dianteira dos tempos, tão solidário e coerente quanto sempre. Apenas mais sabedor. 26a30_JoaoSilva_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:05 Page 27 JOSÉ FRADE NOV 2008 | TempoLivre 27 26a30_JoaoSilva_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:06 Page 28 Vidas João Silva transpôs recentemente para livro as aventuras da sua longa e apaixonante jornada 28 TempoLivre | NOV 2008 AOS 17 ANOS DE IDADE, João Silva descobre aquela que viria a ser a sua grande paixão profissional, quando vai aos estúdios da Tobis, com o objectivo de dar uma ajuda nas filmagens de “A Canção de Lisboa”. O seu domínio da língua francesa surge como uma verdadeira salvação para um operador francês contratado por Cottinelli Telmo, que não conseguia entender-se com a restante equipa. O jovem lisboeta de Alfama tornase assim 2º assistente do francófono operador, transformando-se mais tarde em claquette-boy e depois em operador. Escriturário é que nunca mais voltaria a ser, pondo ponto final a uma carreira iniciada aos 12 anos sem desejo. Mas nem só de fitas vivia este pioneiro do cinema sonoro. Em 1934 é preso e enviado para os Açores por dois anos, na sequência de acontecimentos relacionados com a greve geral de 18 de Janeiro. Membro da Juventude Comunista, foi incumbido, juntamente com um jovem camarada, de ir a Alcântara, a casa de um operário que lhes entregou uma lancheira contendo duas bombas e uma pistola, “com as quais fomos para uma das várias manifestações de apoio à greve que se realizaram em Lisboa. Fomos presos. Imagine-se o sofrimento da família do operário. Felizmente aguentei-me e não falei”. Ou seja, conseguiu não denunciar quem lhe fornecera a pistola com que fora apanhado. Quando regressa do “condomínio fechado” açoriano, como ironicamente lhe chama, parte do princípio de que na Tobis não querem vê-lo nem pintado e emprega-se numa oficina de encadernação, onde se aplica a fazer “dobra em branco”, o que significa: a fabricar livros de contabilidade. Mas o bichinho do cinema tinha ficado a corroêlo e quando, após o desterro, estreia o primeiro filme português no Tivoli, decide pedir para assistir à projecção. “Apareceu-me o Cunha e Silva, que tinha trabalhado com o Cottinelli Telmo, e convida-me para trabalhar no filme do Chianca de Garcia. Voltei para a Tobis trabalhando como 26a30_JoaoSilva_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 electricista, e depois fiz o “Trevo de Quatro Folhas” e o “Bocage”, do Leitão de Barros, como 2º operador e claquette-boy”. Com a política de apoio à indústria cinematográfica defendida por António Ferro, a produção vive, nesta altura, um período particularmente profícuo, originando a contratação de operadores estrangeiros, principalmente franceses, mais experientes em estúdio do que os portugueses. “Tudo começou com gente que não sabia nada mas que, depois, já ia sabendo. Muitos realizadores não sabiam, sequer, para que lado queriam a câmara e criavam muitos problemas aos operadores”, recorda João Silva. EM 1947, cria, no âmbito de uma orientação que lhe é dada pelo PCP, o Circulo de Cinema, um cineclube de cuja direcção faz parte, juntamente com José Ernesto de Sousa, Pousal Domingos, Eduardo Leite e Pinto de Carvalho. Alugam, então, uma casa para servir de sede, na Rua B às Amoreiras, com um salão adequado às pro- 5:06 Page 29 jecções, mas com uma renda tão elevada, que a solução arranjada foi a de se transformar, simultaneamente, em sua morada de família, sendo o aluguer pago a meias. Rapidamente o espaço se torna exíguo para os mais de dois mil sócios (entre os quais se encontravam Bento de Jesus Caraça, Mário Soares, Lopes Graça e Abel Manta) e duas projecções mensais passam a ser feitas no Capitólio, escolhendo, para o efeito, filmes passados no circuito comercial, como, por exemplo, “Roma, Cidade Aberta” ou “A Estrada conduz ao Céu”. Para fazer a divulgação dos filmes era necessário criar um Boletim que fornecesse todas as informações necessárias a um bom cineclubista. João Silva passa então a imprimi-lo no Laboratório de Fotografia a Cores, do seu amigo César de Sá, que lhe empresta a chave do mesmo para poder fazê-lo à noite. Mas a PIDE estranhou a actividade nocturna daquele duplicador e, além de assaltar o Laboratório levando a Gestetner, também invadiu a sede do clube, simultanea- NOV 2008 | TempoLivre 29 26a30_JoaoSilva_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:07 Page 30 Vidas mente residência. Novamente João Silva ficou preso, desta vez em Caxias, bem como outros sócios que lá se encontravam, embora um a um fossem sendo libertados, ao provarem que apenas possuíam documentos sobre cinema. Meses mais tarde, é detido por estar a filmar o funeral de Bento Jesus Caraça, mas desta vez tudo se resolve na Esquadra da PSP. “Queriam saber para quem estava eu a filmar e disse-lhes que era a minha profissão e tencionava tentar vender o filme ao MUD. Perguntaram-me se os conhecia e disse que não, mas que estava à espera que, dando nas vistas, eles fossem ter comigo. Como os senhores apareceram primeiro… Deixaramme ir embora, mas ficaram com o filme e nunca mais, até hoje, soube o que lhe aconteceu”. Um mistério por desvendar, tal como a sistemática interpelação da PIDE, em diferentes momentos da sua vida, para que dissesse porque tinha viajado num determinado navio para Nova Orleães, coisa jamais acontecida e cuja relação com a sua vida João Silva nunca entendeu, tornando-se, por isso, muitíssimo intrigante. Em 1950, é convidado por dois produtores a ir para Angola por seis meses, a fim de trabalhar para o documental “Jornal de Actualidades”. 30 TempoLivre | NOV 2008 Aceita o convite, mas na condição de ser apenas por dois meses, já que a sua paixão era o trabalho em estúdio. No entanto, findo o prazo regressa, mas para vir buscar a família. Ficou em Angola 29 anos, oito meses e dez dias e é talvez das pessoas que melhor conhece aquele país africano. Filmou-o de alto a baixo durante a bonança colonial, a guerra de libertação, o período conturbado da independência e ainda o início da guerra civil. Regressou no dia 26 de Agosto de 1979, por razões íntimas. “Tive sempre a casa cheia de miúdos porque além dos meus dois filhos ainda tinha duas sobrinhas a viver connosco. Depois casaram e nasceram os netos. Até que o meu filho veio para cá fazer um estágio e acabou por ficar. O que é que nós íamos ficar a fazer lá?”. Regressou sem um tostão no bolso, mas com morada onde chegar, já que a filha casara e deixara a sua residência desabitada, embora totalmente mobilada. O PCP deu-lhe a mão e ofereceu-lhe trabalho como funcionário. Trocou a câmara de filmar pela de fotografar e passado pouco tempo foi trabalhar para a CGTP. Reformou-se há dois anos, quando completou 90. No silêncio nocturno do seu lar, aquele mesmo que afeiçoou a si quando chegou a Lisboa há quase trinta anos, agarrou-se ao seu PC e criou um blog, o Roxa Xenaider, http://blogdarochet-schneider.blogspot.com, no qual foi escrevendo as muitas histórias que compõem a sua vida. Recentemente, transpôs para livro essas aventuras às quais deu o título de “Rocha Chenaider” e recebeu a justa homenagem dos seus amigos, familiares e admiradores, no dia em que foi lançado. “Viciei-me na Internet e às vezes adormecia a escrever. Cheguei a amarrar-me à cadeira para não cair. Agora só lá vou de vez em quando, porque já não tenho mais histórias vividas para contar e inventar não sei fazer. Infelizmente, já não tenho mais nada para contar. Pode ser que me ocorra alguma coisa…”. I Guiomar Belo Marques (texto) 31_Pub_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:12 Page 1 32a37_Casamansa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:19 Page 32 Viagens CASAMANSA O outro Senegal 32 TempoLivre | NOV 2008 32a37_Casamansa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:19 Page 33 Casamansa fez parte, durante quatrocentos anos, da que foi a primeira colónia portuguesa, tendo sido integrada no Senegal no momento da independência do país de Senghor. É uma região fértil, de grande potencial agrícola e com um património natural precioso para o ecoturismo. Conserva alguns sinais da herança portuguesa. NOV 2008 | TempoLivre 33 32a37_Casamansa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:20 Page 34 Viagens “QUEL GUIDE AVEZ-VOUS? LE ROUTARD?” A pergunta lançada à queima-roupa aos recém-chegados, na estação rodoviária de Zinguinchor, tem água no bico. O guia de viagens trai o viajante, dá uma pista sobre o volume da bolsa, o hotel que é suposto procurar, etc. Naquelas desoras, nove ou dez da noite, os viajantes desembarcados na estação talvez não sejam, afinal, desses que aspiram a confortos superlativos. “Le Routard?”. Na verdade, guia nenhum nos ilumina as andanças. “Avez-vous reservation?” Também não, nenhum hotel nos espera... mas bem toca a andar para o “Le Perroquet”. “Messieur, l’hotel c’est complet, mais je connais un autre lá-bas...”. São os truques habituais de quem luta por 34 TempoLivre | NOV 2008 sobreviver em países onde a economia informal dá mais pão do que os empregos domesticados. E os senegaleses que se demoraram na paragem à espera das últimas carripanas de Bissau percebem logo, na semi-escuridão, que os recém-chegados não devem ser dos mais fiéis de Cap Skirring, a estância balnear da costa de Casamansa, irmã gémea de tantas outras frequentadas por multidões de turistas europeus. Para o “Le Perroquet”, portanto. É uma pousada pequena, aconchegada à beira do rio Casamansa, mesmo a dois passos do porto de pesca e dos estaleiros, um dos recantos mais cativantes de Zinguinchor, a capital do território outrora disputado por Portugal e França (ver 32a37_Casamansa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 caixa). O rio corre mesmo ao lado e o terraço do Perroquet é um lugar de eleição para observar o vaivém das barcaças dos pescadores, a passarada a voar sobre as águas ou os veleiros que chegam ou partem para o Atlântico. A cidade e o rio Zinguinchor, fundada pelos portugueses em 1560, tem uma atmosfera relaxante, em contraste com o frenesi da estação rodoviária. Um salto ao Marché St. Maur, mercado de fruta e legumes, ou ao Centro de Artesanato, onde se encontra bom trabalho em madeira, são passeios sempre aconselhados aos visitantes. Outro ponto de interesse é a catedral, edificada pelos franceses e objecto de recente reabili- 5:21 Page 35 tação. O templo é consagrado a Santo António de Lisboa e acolhe liturgia católica em língua djola. Há em Casamansa, aliás, outros sinais da herança portuguesa, como nomes próprios e apelidos, além do uso frequente do crioulo lusófono. A grande atracção de Zinguinchor é o grande Rio Casamansa. Caminhar de manhã cedo ao longo da Rue du Commerce, bordejada por estaleiros povoados de barcos pintados com cores e símbolos senegaleses e cirandar, a seguir, pelo porto de pesca, é uma das “actividades” mais agradáveis que o viajante se pode reservar na capital de Casamansa. Longe estão os apelos consumistas, a desumana pressão urbana das grandes cidades, a premência de se ter de fazer alguma coisa de especial só porque se está de férias. A catedral, edificada pelos franceses e objecto de recente reabilitação, é consagrada a Santo António de Lisboa NOV 2008 | TempoLivre 35 32a37_Casamansa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:21 Page 36 Viagens Em Zinguinchor pode-se estar, apenas: estar sem agenda, como convém ao viajante que sabe encantar-se instantaneamente com os pequenos nadas dos grandes lugares. Ouvir as águas nocturnas do rio, as estridências dos pássaros à volta dos barcos regressados da pesca, trocar sorrisos e olhares com as mulheres que andam na faina do porto. Há, bem entendido, o grande palco de vida que é o rio Casamansa e a possibilidade de incursões a reservas naturais para observação de aves. Há gente que vem, justamente, pelo birdwatching. É um justificado complemento da passagem pelo litoral e pela rede de “acampamentos rurais” que oferecem uma “iniciação” à vida e às tradições das aldeias djolas. São estas, enfim, as duas faces do melhor que Casamansa tem para acolher o viajante: o turismo de natureza e o turismo cultural. A questão de Casamansa Desde a assinatura do último acordo entre o governo do Senegal e o movimento independentista MFDC (Movimento das Forças Democráticas de Casamansa) que a região tem estado calma. Mas a questão de fundo continua por resolver. O acordo não faz mais do que adiar uma solução definitiva. A fase actual do conflito dura desde 1982, quando se iniciou um ciclo de violência na sequência de um manifestação, em Zinguinchor, reprimida severamente pelo poder central. Até cerca de 1828, o comércio no rio permaneceu sob controlo português. Nessa data os franceses instalaram uma feitoria na foz, interessados Guia conclusão da nova ponte, ONDE DORMIR prevista para 2009. Outra COMO IR opção é voar para Dakar e Commerce, nos últimos anos a situação Casamansa fica situada junto tomar o ferry para tel. 221339912329 estar calma, continua a ser à fronteira norte da Guiné- Zinguinchor (duas vezes por fax 221339368183 desaconselhável viajar durante Bissau. Zinguinchor está a semana, 15 horas de viagem e-mail: [email protected] a noite. Convém obter cerca de 20 km da fronteira. para um trajecto de 324 km, A partir de Bissau, é um dos quais 50 pelo rio). Rue du Commerce, evitar pelos turistas. tel. 221339388000 Informação sobre alojamento fax 221339911675 rural pode ser obtida no trajecto que se faz sem Hotel Le Perroquet, Rue du Hotel Kadiandoumagne, no Senegal. É importante fazer profilaxia da malária. Apesar de informação sobre zonas a dificuldade. Apenas a QUANDO IR passagem de jangada do Rio Entre Dezembro e Maio, na Cacheu pode obrigar a uma época seca, quando as ÚTEIS 9911375). espera de duas ou mais temperaturas são, também Os portugueses não Informação na internet: horas, pelo menos até à menos rigorosas. necessitam de visto para entrar www.senegal-online.com. 36 TempoLivre | NOV 2008 Centro de Artesanato (tel. 32a37_Casamansa_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 em explorar o interesse estratégico e comercial do Casamansa. Por outro lado, a região era, e continua a ser, a mais fértil de todo o território senegalês, em contraste com as regiões centro e norte do país, ameaçadas de desertificação. A presença portuguesa em África limitava-se ao litoral e às margens dos rios, pelo que os interesses comerciais e políticos franceses pouca resistência encontraram. A disputa ficaria resolvida em 1886, depois de negociações que refizeram as fronteiras da Guiné, transitando Casamansa para o domínio francês por troca com a região de Cacine, no sul. A nova linha de fronteira, na sua lógica colonial, dividiu 5:22 Page 37 um território partilhado pelas mesmas etnias e culturas, mantendo Casamansa mais afinidades religiosas, culturais e linguísticas com o norte da Guiné do que com o resto do Senegal. Casamansa foi integrada provisoriamente no Senegal e os últimos 25 anos têm testemunhado a incapacidade de ambas as partes aproximarem as suas posições. O sentimento local, na expressão recente de um comentador senegalês, é o de que a situação que se vive não é nem de guerra nem de paz. No horizonte está, contudo, a possibilidade de serem retomadas em breve as negociações sobre o futuro de Casamansa. I Humberto Lopes (texto e fotos) Zinguinchor, fundada pelos portugueses em 1560, tem uma atmosfera relaxante NOV 2008 | TempoLivre 37 38a40_Arte do Pao_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:27 Page 38 Paixões A arte do pão São onze alunos, oito rapazes e três raparigas na casa dos vinte anos, chegados dos mais diversos cantos do país. Mirandela, não se sabe exactamente porquê, ganhava aos pontos. Dali vieram cinco mancebos, dispostos a lutar para conseguir um posto no mercado da gastronomia. Da comida, seja doce ou salgada. ENVERGANDO fardas, escrupulosamente brancas, aguardavam em amena cavaqueira o início da aula. Uma aula onde se ensinava a arte de confeccionar pão. O tempo de espera no terraço equivalia ao desfrute de uma vista fabulosa. Telhados, muralhas, pedaços de vinhas espraiando-se a curta distância. Aquele sol e aquele azul, a harmonia da paisagem, a calma apaziguante eram um foco de inspiração. Mas vamos por partes. Convém desde logo informar que nos encontramos em Óbidos. Nas instalações da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste que foi inaugurada há pouquíssimo tempo. “Estamos ligados ao Turismo de Portugal e em breve vamos abrir mais dois pólos, um nas Caldas da Rainha e outro em Portalegre. 38 TempoLivre | NOV 2008 Ministramos cursos de gestão turística e de pastelaria avançada que duram cerca de oito meses. Só aceitamos jovens com a escolaridade mínima do décimo segundo ano. Interessa salvaguardar as receitas antigas e ensinar as técnicas mais avançadas na área da pastelaria”, assinala. António Araújo, um minhoto que a capital acolheu ainda antes de se fazer homem, possui sólidas credenciais no campo da restauração. Fala com entusiasmo e algum orgulho do seu convincente currículo, já sem a característica pronúncia nortenha. “Entre 1970 e 1981 trabalhei no restaurante do Hotel Ritz, em Lisboa. Mais tarde frequentei a primeira escola nacional de hotelaria e acabei por ser contemplado com uma bolsa da Escola de Hotelaria de Marbelha. Antes de vir para aqui desempenhei as funções de formador na escola das Olaias”, adianta. Agora sente necessidade de valorizar o novo projecto em que se envolveu. “Estamos no começo, ainda numa fase de divulgação para angariar inscrições. Quando terminarem o curso, os alunos têm pela frente 14 semanas de estágio nos hotéis e padarias de renome. As noções adquiridas permitem-lhes seguir a carreira de chefes pasteleiros”. É um tipo simpático com facilidade de expressão, habituado a ambientes cosmopolitas, que subiu a pulso na escala social. Na asséptica cozinha, um modelo de modernismo, os jovens sob a orientação do professor Paulo Santos preparam um pão artístico alusivo à vila de Óbidos. Entre recipientes, espátulas, facas e farinhas, as mãos rodopiam num redemoinho mágico. As mãos, em primeiro lugar. Dedos, revestidos com luvas de látex como as dos cirurgiões, moldam as massas disformes que irão crescer dentro dos fornos. Em redor de uma mesa rectangular os alunos estão atentos ao afã gestual que decorre no cenário à base do inox, sem qualquer indício de bagunça. Concentrados, a pensar no seu futuro, desejam mesmo aprender. Hugo Martins, natural de Portimão, ainda não decidiu se quer ser pasteleiro. Já a Andreia,uma rapariga franzina oriun- 38a40_Arte do Pao_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 da de Cascais, mostra-se determinada. “Pastelaria fina, sem dúvida”, afirma. Walter Ribeiro, outro representante de Mirandela, revela estar indeciso entre a culinária e a pastelaria. Recentemente, participou num concurso no estrangeiro onde apresentou um bolo constituído por 12 peças de massapão com uma coroa de chocolate. Não ganhou nada. O próximo passo é um estágio em Paris, o sonho de qualquer aspirante ao cargo de chefe. João Patrício, que estagiou durante uma temporada na cozinha do Hotel Cristal, viajou de Leiria movido pela curiosidade de experimentar novas técnicas e novas matérias-primas. 5:28 Page 39 À chuva de perguntas sucedem-se respostas simples e sucintas. Enquanto o pão não está pronto, vamos fotografando a rapaziada que evidencia um certo retraimento. Finalmente, provamos o pão que nem parece pão mas mais uma espécie de bolo. É um regalo para os olhos. Lembra a flor do girassol e tem três cores: amarelo, castanho e beringela. Os segredos da coloração e as nuances do sabor ficaram por dizer. O mestre, não se descose. Fincado na máxima de que o segredo é a alma do negócio, recusa partilhar a sabedoria. Com 39 anos e um currículo impressionante, prepara-se para se estabelecer no Brasil onde NOV 2008 | TempoLivre 39 38a40_Arte do Pao_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:28 Page 40 Paixões António Araújo sente necessidade de valorizar o novo projecto em que se envolveu o sector da panificação atingiu um elevado nível. Acha que as pessoas em Portugal consomem menos pão do que há uns atrás. “O pão tradicional regista uma acentuada quebra. Consome-se sobretudo pão com aditivos, o que só prejudica a saúde”. Aborda a feitura do pão com uma veia inovadora, superando-se no apuro dos sabores. “Além do trigo e do centeio integral, em vez de corantes utilizo especiarias que ajudam a conservar. Tento diversificar as qualidades de pão de uma maneira criativa”, garante. A descoberta da vocação surgiu cedo na vida de Paulo Santos. Aos 12 anos, quando era preciso, já fazia deliciosos bolos na casa dos pais. Actualmente dá aulas no Centro de Formação Alimentar de Coimbra. “Apercebi-me da existência de uma falha no sector e resolvi dedicar-me a isto. Trata-se de uma técnica muito complexa. Nos últimos quatro anos evolui muito graças à pesquisa. Com o pão também se pode fazer arte”, salienta. E ele não esconde os dotes de artista. 40 TempoLivre | NOV 2008 Coloca a sensibilidade nas receitas que vai inventando. Basta atender às obras que levou aos concursos internacionais e aos prémios que entretanto alcançou. “Sim. Obtive um segundo lugar em Itália, um sexto em Nantes e o primeiro da categoria artística, por votação do júri e do público, no festival europeu do pão que decorreu em 2007, no Porto”, relata. É sócio honorário do clube italiano Arti e Mesteri do qual fazem parte os melhores profissionais europeus. Do naipe de obras que construiu pacientemente, algumas delas colocadas no seu site, destacam-se réplicas de emblemáticos monumentos. É o caso Da Torre de Belém, dos Clérigos ou do Mosteiro de Santa Clara a Velha. Quanto ao pão de homenagem à bela vilazinha do Oeste, num exercício de pitonisa, julgo que continha paprica, canela, cacau ou provavelmente açafrão. Ao nível plástico remetia para as naturezas mortas de Josefa de Óbidos.I Lourdes Féria 41_Pub_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:45 Page 1 42a45_Marrocos_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:48 Page 42 Portfólio Marrocos Proximidade 42 TempoLivre | NOV 2008 Muitos dos nossos genes vieram de lá; por lá deixamos prole, pedras e uma memória. Marrocos é, pois, paisagem não distante. Portugal a mirar-se ao espelho. Em termos geográficos, assiste-se a um prolongamento do Alentejo com sinais do Minho, em pleno Atlas, absorvidos pelo deserto das dunas alaranjadas mais a sul, anunciando a rota 42a45_Marrocos_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:49 das caravanas e dos kashbas. Sobre a costa atlântica, costuma-se dizer que “cada pedra fala português”. Tudo o que é antigo é-nos atribuído. Alcácer Ceguer, Tânger, Arzila, Larache, Salé, Casablanca Azamor, Mazagão – Património da Humanidade – e Safi, a mais hospitaleira de todas essas praças-fortes. Já em pleno Page 43 universo balnear, afirma-se Essaouira, a “nossa” Mogador, a partir da qual se quis abarcar Marraquexe, que no entanto se manteve fidelíssima a xerifes e sultões, e é ainda hoje, na sua essência, a capital medieval de um império que se estendia da Ibéria ao Senegal. Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotografias) NOV 2008 | TempoLivre 43 42a45_Marrocos_198_soc:sumario 154_novo.qxd Portfólio 44 TempoLivre | NOV 2008 08/10/25 5:50 Page 44 42a45_Marrocos_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 5:51 Page 45 NOV 2008 | TempoLivre 45 46a54_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 6:21 Page 46 Mp3 e iPod podem fazer mal Há quem os considere uma verdadeira doença social, mas a União Europeia está preocupada com as nefastas consequências físicas do uso exagerado dos Mp3 e iPod. É que, quando usados com um volume demasiado elevado (superior a 89 decibéis) durante mais de uma hora por dia, pelo menos durante cinco anos, pode conduzir à surdez, segundo a Comissão Científica de Riscos Sanitários Novos e Emergentes, da UE. Entre as medidas actualmente em estudo no sentido de reduzir os danos provocados por estes aparelhos, está a ser equacionada a possibilidade de os fabricantes reduzirem o volume máximo permitido, actualmente estabelecido em 100 decibéis. De acordo com o estudo efectuado, cinco a dez por cento dos consumidores regulares, que se calcula serem entre 50 a 100 milhões na EU, podem vir a ficar permanentemente surdos. Olho Vivo Calvície tem origem genética Tudo indica que a teoria de que a calvície tem origem num excesso de hormonas masculinas não é correcta, antes devendo-se a duas variações genéticas que multiplicam por sete a possibilidade de vir a ter falta de cabelo, um problema que afecta 40 por cento dos homens e das mulheres. Dois grupos de cientistas chefiados, respectivamente, por Axel Hillmer, da Universidade de Bona, e Tim Spector, do King’s College de Londres, concluíram que a alopecia androgenética tem origem numa predisposição determinada por variações cromossomáticas, segundo revela a revista científica Nature Genetics. Ambos os estudos, realizados com 1.125 homens, num caso, e 296, no outro, permitem demonstrar que estes indivíduos tinham em comum uma variação do gene codificador das hormonas masculinas mas, simultaneamente, variações do cromossoma 20. 46 TempoLivre | NOV 2008 Intelectuais estão a engordar A velha imagem do intelectual magro, além de circunspecto e com grandes olheiras pode estar com os dias contados. De acordo com um estudo realizado por investigadores canadianos, liderado por JeanPhilippe Chaput, da Universidade Laval, Quebec, e publicado no jornal Psychosomatic Medicine, depois de efectuarem trabalhos intelectuais as pessoas tendem a ingerir grandes quantidades de comida. Para chegarem a esta conclusão, os investigadores dividiram aleatoriamente 14 estudantes universitários em três grupos. Durante três quartos de hora, um dos grupos esteve sentado a descansar, outro leu e resumiu um texto e o terceiro grupo realizou testes de memória e atenção num computador. Terminadas as tarefas, os jovens voluntários puderam comer o que muito bem lhes apeteceu. Antes, os investigadores já tinham concluído que o grupo de maior actividade intelectual gastava mais três calorias do que o de inactividade, mas não deixou de ser surpreendente quando constataram que o grupo que estivera a trabalhar no computador ingerira uma média de mais 253 calorias do que os do grupo outro grupo, enquanto os jovens que tinham lido e resumido um texto consumiram mais 203 calorias. De acordo com os cientistas, o organismo necessita de repor a glucose que o esforço cerebral eliminou devido ao desgaste de energia. 46a54_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 6:21 Page 47 Telemóveis protegidos Tubarões podem ser úteis Os anticorpos particularmente resistentes do sangue dos tubarões podem vir a ser uma eficaz arma no combate ao cancro ao converterem-se em medicamentos de nova geração. Investigadores australianos da Universidade La Trobe, de Melbourne, chegaram a esta possibilidade depois de concluírem que os anticorpos dos tubarões resistem a temperaturas elevadas e a ambientes adversos, como os muito ácidos ou alcalinos, podendo, por isso, sobreviver no aparelho digestivo humano, um factor essencial para a assimilação de medicamentos. Segundo Mick Foley, daquela universidade, as moléculas do tubarão possuem ainda a capacidade de se associar às células cancerígenas, desacelerando a sua disseminação. Roubar telemóveis pode tornar-se, muito em breve, uma actividade escusada, já que foi criada uma aplicação que possibilita a protecção da informação introduzida no aparelho, localizálo e desactivá-lo à distância. Além disso, o proprietário do celular também pode accionar um apito de alarme de por os nervos em franja ao mais paciente meliante. A ideia desta invenção partiu de Sujit Jain, fundador da Maverick Solutions, depois de ter perdido três telemóveis de seguida e sofrido várias crises de nervos. O software é instalado no próprio aparelho sem que seja possível saber antecipadamente se um telemóvel o possui ou não. Quando é accionado, solicita o número de um outro telefone que passa a funcionar como um receptor através do qual o proprietário recebe os dados do telemóvel perdido ou roubado. Através deste sistema, é possível até saber para que números está o ladrão a ligar depois de substituído o cartão. G u i o m a r B e l o M a r q u e s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s ) Saber beber é uma virtude Olfactos naturais As mulheres que se abstêm de beber álcool nos dias úteis, mas se desforram nos fins-de-semana, bebendo o equivalente a duas garrafas de vinho, duplicam as suas possibilidades de virem a desenvolver cancro da mama, concluiu um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa do Álcool dinamarquês e publicado na European Journal of Public Health. Depois de analisarem cerca de 17 mil mulheres com mais de 44 anos de idade, os investigadores concluíram que o risco aumenta particularmente quando as bebidas são consumidas num curto espaço de tempo, pela densidade alcoólica no sangue a que tal conduz. O consumo exagerado de álcool pode aumentar os níveis de estrogénio, uma hormona associada ao cancro da mama. Ter nariz não significa necessariamente ter olfacto, o que pode ser uma vantagem, em caso de odores incómodos, mas também uma desvantagem e até um perigo se tivermos em conta que é graças a ele que detectamos, por exemplo, o cheiro a esturro. O problema da ausência de olfacto está, contudo, em vias de ser resolvido, já que cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts conseguiram produzir em massa as proteínas designadas por receptores olfactivos. Apesar de outros cientistas terem avançado na criação de narizes electrónicos, estes não têm origem biológica como acontece com os sensores que esta equipa está a tentar desenvolver. NOV 2008 | TempoLivre 47 46a54_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 6:22 Page 48 Lusofonia De recontros, heranças e elos: a e suas articulações literárias na r Inocência Mata* A península não parou (…) A viagem continua (…) Os homens e as mulheres, estes seguirão o seu caminho, que futuro, que tempo, que destino. José Saramago D Da esquerda para a direita: José Saramago, José Alencar, Mia Couto e Luandino Vieira 48 TempoLivre | NOV 2008 e entre os usos diferentes que uma língua pode ter, conta-se o uso estético como uma das práticas culturais mais diferenciadoras. Talvez mais em sociedades emergentes, como as dos países africanos, com um passado colonial recente, a literatura torna-se veículo muito importante na construção da identidade cultural de que a literária é uma vertente. Isto é: por razões que têm a ver com a especificidade do processo libertário dos Cinco países africanos de língua oficial portuguesa, a identidade literária tornou-se uma componente fundamental do cadinho da identidade que se pretende nacional. Ora, essa identidade, que tem que pensar-se sempre plural, mesmo em países menos heterogéneos (como Cabo Verde e São Tomé e Príncipe), não se realiza numa só língua – nunca é demais repeti-lo. Dir-me-ão – e talvez eu tenha que aceitar – que, dada a lógica da globalização, cuja dinâmica faz com que esta se torne sinónimo de dominação cultural –, as identidades nacionais fazem-se sob uma punção centrípeta, de forma a resistir à rasura de elementos matriciais e elaborar os módulos da diferença, até como forma de preservar as fronteiras políticas saídas do tempo colonial. À primeira vista, parece que a ideia anterior aponta para uma contradição entre termos: ao mesmo tempo que se afirma a incontornabilidade da língua portuguesa no projecto nacional dos Cinco países africanos (e mais ainda nos “países continentais”, a saber: Angola, Moçambique e a Guiné-Bissau), razões que mergulham as suas raízes na política cultural do colonialismo português, com a sua feição assimilacionista, fazem com que a intelligentzia desses os países (de novo mormente os “continentais”) sejam cúmplices na conspiração pela preservação do lugar hegemónico do Português, mesmo que a questão possa também ser vista como sendo de expansão identitária do processo de apropriação da língua portuguesa empreendida antes pelos escritores brasileiros e mais tarde pelos africanos. Pode dizer-se, neste contexto, que os escritores africanos cumpriram o desígnio poético de Manuel Bandeira ao transformarem a “sintaxe lusíada” em língua “da boca do povo”, “em língua errada do povo/Língua certa do povo” (Manuel Bandeira, “Evocação do Recife”) e corroboraram a máxima alencariana – em resposta a Pinheiro Chagas, que verberava contra as “incorrecções”, em Iracema (1865), do “velho português” –, de que a língua é a nacionalidade do pensamento como a pátria seria a nacionalidade do povo. O que, então, a afirmação de José de Alencar, tão actual, queria significar, e hoje o trabalho de artesania verbal e de reinvenção linguística tão bem ilustra, é a necessidade de uma nova geografia linguística, uma nova ideologia linguística para pensar e dizer o país e expressar o saber-sentir de “comunidades imaginadas” cuja cultura popular e social está muito distante do espaço 46a54_Varios_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/28 0:54 Page 49 língua portuguesa reinvenção da diferença ibérico. Nas literaturas africanas os exemplos mais emblemáticos desse processo de agenciamento identitário através da língua são a produção poética de Luandino Vieira, Uanhenga Xitu, Boaventura Cardoso (Angola), Ascêncio de Freitas e Mia Couto (Moçambique). Essa “nova” língua traz registos que comportam formas específicas de enunciação, melhor, de enunciados de saberes e sentires diferentes. Mas também outros mais novos: por exemplo, Ismael Mateus e Ondjaki têm vindo a afirmar-se como reinventores da língua literária em Angola, porventura não já com objectivos ideológicos de reivindicação ideológico-cultural, todavia com uma marcante filosofia do cosmopolitismo, ou cosmopolitanismo (no duplo sentido em que Appiah entende esta noção)1. Como lembra o próprio Luandino Vieira, “a dimensão linguística (…) continua a ser, evidentemente, um elemento literariamente válido de caracterização de muita coisa: do meio social, da idade, de não sei quê… Como é habitualmente utilizada em qualquer língua e por qualquer escritor”2. Foi isso que os escritores africanos de língua portuguesa, grande parte de língua materna portuguesa, entenderam desde o início. O que faz com que, hoje, uma marca importante da póscolonialidade da escrita africana de língua portuguesa seja o lugar e o modo como o escritor africano trabalha e se posiciona em/perante a língua portuguesa, que foi, paradoxalmente, um petardo – na expressão do senegalês Makhily Gassama3 – contra a língua do assimilacionismo cultural. De outra parte, e a um nível de reflexão diferente, embora convergente, as obras de alguns escritores muito celebrados pelo “desarranjo” que vêm acometendo à língua portuguesa actualizam, metaliterariamente, essa filosofia que tem a ver com uma nova ontologização da língua portuguesa. Por ela, a nova (pós-colonial) geografia linguística, se procede à exploração das especificidades de cada expressão nacional, que a literatura capta para chegar ao (re)conhecimento de realidades culturais locais ou apreendidas na sua especificidade, o que reforça, por seu turno, a familiarização com variedades de um mesmo veículo de expressão cultural de outros povos que nele se inscrevem como segmentos de um universo plural que se foi formando a partir da Ibéria em busca de outros portos da odisseia da expansão portuguesa, que não se pode exigir que seja universalmente celebrada – pois a descoberta, essa, foi certamente bilateral e no reconhecimento dessa história deve residir um dos locus do respeito harmonia convivial. I *Profª. da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 1) Kwame Anthony Appiah entende esta noção no seu duplo sentido: deveres para com os outros com os quais se está ligado de qualquer forma e aquele outro sentido que se reporta à aprendizagem com as diferenças dos outros. Ver: Cosmopolitanism: Ethics in a World of Strangers, New York – London: W.W. Norton & Company, 2006. 2) Vieira. In LABAN, Michel, Angola: Encontro com Escritores – Vol. I, Porto: Fundação Engenheiro António de Almeida, s/d [1991]. p. 420. 3) GASSAMA, Makhily, Kuma – Interrogation sur la Littérature Nègre de Langue Française (poésie-roman), Dakar-Abidjan: Les Nouvelles Éditions Africaines, 1978. NOV 2008 | TempoLivre 49 46a54_Varios_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 6:34 Page 50 Tempo Global Compreender e vencer os novos desafios João Salgueiro Em épocas de mudança e incerteza é ainda mais necessário manter atitude positiva perante os novos desafios. Os desafios ganham-se com realismo e determinação. N o último ano os portugueses defrontaram vários factores que contribuem para reduzir as suas expectativas: o aumento dos preços do petróleo e dos mercados agrícolas, e todos os efeitos da crise no sector financeiro americano. Mas não podemos esquecer os problemas estruturais resultantes das transformações da economia mundial. Com a queda do muro de Berlim, para além dos reflexos na geografia política, assistiu-se à desaparição dos sistemas de economia planificada e à adopção da economia de mercado, mesmo pelos países que mantêm regimes de governo comunista. Consolidou-se, assim, a globalização económica, a expansão do comércio internacional e a deslocalização de actividades produtivas. O acesso aos mercados internacionais de mais de três mil milhões de habitantes originou forte aumento da oferta de produtos industriais e, com a melhoria dos padrões de consumo, nova procura de alimentos, matérias-primas e energia. Os reflexos destas alterações – dificultando exportações e agravando preços de importações essenciais – representam fortes desafios para a Europa, em especial para os países como Portugal com estruturas produtivas e de comércio mais vulneráveis. É conhecido que a crise financeira nos EUA se traduziu em perda generalizada de confiança, bloqueando as relações económicas e o acesso ao crédito. Na sua origem encontram-se os efeitos das políticas monetária e de crédito que foram adoptadas para manter alto nível de produção e 50 TempoLivre | NOV 2008 de emprego e, ao mesmo tempo, facilitar o acesso à propriedade imobiliária pelas minorias mais desfavorecidas. Foi também uma forma de ultrapassar a crise associada ao esvaziar das ilusões da “Nova Economia”, com as dot.com. O FED manteve demasiado tempo uma política de dinheiro barato e flexibilizaram-se os critérios de financiamento à compra de habitação com o apoio de Agências Nacionais. Permitiu-se também o aumento de alavancagem financeira, mantendo diversos operadores financeiros fora da estrita regulação bancária e encorajando a criatividade quanto a práticas de titularização e distribuição. Não houve falta de informação. Sintomas claros de crescentes desequilíbrios foram desatendidos, nomeadamente quanto à anormal valorização do mercado imobiliário, alastramento do sub prime e desequilíbrios da balança de pagamentos. As autoridades também não avaliaram com prudência os efeitos da desintermediação bancária, da proliferação de produtos derivados e das más práticas de auditoria e de rating. A crise financeira tornou-se patente a partir de Julho de 2007. É difícil imaginar como foram necessários tantos meses para intervir. Políticas permissivas e correcções tardias resultaram em crise geral de confiança e bloqueio da liquidez. É, igualmente, difícil de imaginar que os responsáveis europeus tenham feito tão errada avaliação dos efeitos da crise americana. Só no passado mês de Outubro se assumiu o carácter sistémico das perturbações e se desencadearam intervenções simultâneas. Também fica de pé a necessidade de corrigir as causas dos problemas actuais. Não se trata tanto de falta de regulação, mas de má regulação e de más políticas. A multiplicidade de reportes informativos e de autorizações não provou ser muito eficaz. É importante corrigir recentes e indesejáveis orientações de regulação. Hoje – infelizmente tarde – há já concordância para muitas das críticas: a marginalização dos bancos 46a54_Varios_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 centrais face às actividades de supervisão, o carácter pró-cíclico de normas de contabilidade, o papel das agências de rating, e escasso escrutínio de produtos derivados, excluídos da regulação bancária. Não valerá a pena perder muito tempo a imaginar um sistema alternativo para a economia de mercado. Será mais útil fixar com clareza quais os objectivos que queremos para uma sociedade mais solidária e sustentável e adoptar estratégias consistentes, além dos imediatismos eleitoralistas que nos conduziram para soluções de facilidade a curto prazo, com custos adiados e agravados. Face às condições de concorrência mundial e também do alargamento da UE é hoje mais evidente a fragilidade competitiva portuguesa. Registamos oito anos de divergência face à média da UE e o pior conjunto de indicadores da zona Euro, quanto ao crescimento do PIB e do rendimento nacional e desequilíbrio da balança externa e o nível de endividamento. Nos últimos anos os objectivos da nossa política económica têm-se centrado na consolidação orçamental, objectivo indiscutível mas não se pode dispensar o reforço da competitividade, mesmo para a consolidação fiscal duradoura. Agora não é possível a desvalorização cambial mas beneficia-se de moeda segura, baixas taxas de juro, estabilidade política, melhores infraestruturas e acesso ilimitado a um mercado de 500 milhões de habitantes. O recurso mais escasso é a capacidade empresarial, da qual depende a criação de valor e novos empregos. A capacidade empresarial não melhorará sem condições para atrair e encorajar o investimento produtivo. O Ministério de Economia – com a experiência 6:35 Page 51 bem sucedida de negociação dos PIN’s – sabe quais as condições que devem ser estendidas às empresas nacionais e estrangeiras, incluindo a PME’s, base da nossa economia e emprego. Um ambiente amigável e encorajador, sem necessidade de burocracias, autorizações e negociações caso-a-caso como assegurado em diferentes países europeus – e também nos EUA, na Florida, Reprodução de quadro de George Grosz Geórgia ou Califórnia – permite criar pólos de atracção para competências e iniciativas de todo o mundo. Está certamente ao nosso alcance se valorizarmos as reconhecidas capacidades de adaptação multicultural e se formos exigentes na erradicação do imobilismo e da ineficácia, se travarmos o desperdício e criarmos uma cultura de exigência, qualidade e responsabilização. Esse é o caminho para uma estratégia positiva e ambiciosa à medida dos desafios que hoje defrontamos. I NOV 2008 | TempoLivre 51 46a54_Varios_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 6:36 Page 52 Casa na árvore Susana Neves A mãe púrpura de mil filhos Rainha da fertilidade, granada benfazeja, a romãzeira explode em sumo, sangue e poesia. E ra em Albernôa, concelho de Beja, Alentejo interior, nos anos 80. Albernôa, «campo de caroço» de oliveira, terra seca, quente e pedregosa. «Eu tinha três, quatro, cinco anos», lembra Inês Peceguina, olhos azuis, grandes, expressivos, rosto de beleza grega antiga. «No final do dia, sentávamo-nos cá fora, num banco da mercearia, e até ao anoitecer cantávamos várias canções alentejanas». A jovem, investigadora de psicologia, recorda esta: Fui colher uma romã, estava madura no ramo, / fui encontrar no jardim, fui encontrar no jardim, / aquela mulher que eu amo./ Àquela mulher que eu amo, / dei-lhe um aperto de mão/ Estava madura no ramo, estava madura no ramo, / e o ramo caiu ao chão.» O fim da canção evoca o amor consumado, e a fazer justiça à simbologia da romã, gerador de uma numerosa descendência. 52 TempoLivre | NOV 2008 «Mãe de mil filhos, nascida logo coroada», primeiros versos de uma adivinha francesa, a romãzeira ou Punica Granatum L. (Punica quer dizer maçã de Púnica ou Cartago e Granatum significa fruto de muitas sementes) tem sido associada desde a antiguidade greco-romana à fertilidade, a que não deve ser alheio o facto de um só fruto poder conter cerca de 800 sementes. Segundo a mitologia clássica, Perséfone ou Prosérpina, raptada por Hades, deus do mundo subterrâneo, seria obrigada a permanecer a seu lado durante um terço do ano por ter comido algumas sementes de romã. Mas ao fim desse tempo, para felicidade de Deméter, sua mãe, deusa da Agricultura, a jovem regressaria à superfície trazendo com ela a Primavera e o Fogo, ou seja, o cíclico renascimento da vida e a imortalidade até aí desconhecida do Homem. Esta associação da romã à vida e à fertilidade teria ainda um fundamento medicinal e alimentar. Trazida do Oriente, sobretudo da Pérsia, e não da China como durante algum tempo se pensou, para o Norte de África e Mediterrâneo (Granada, em Espanha, deve-lhe o nome pela quantidade de romãzeiras plantadas pelos árabes 46a54_Varios_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 desde o século VIII), esta árvore com porte de arbusto (da família das Punicaceae) era utilizada pelos romanos para produzir uma espécie de vinho e ainda no tratamento da disenteria, em caso de doença cardíaca, dermatológica e como veneno contra parasitas intestinais, só para citar alguns exemplos. A preocupação em não perder uma colheita era tal que, segundo Pierre Lieutaghi (Le Livre des Arbres, Arbustes&Arbrisseaux, Actes Sud, Paris, 2004), havia romanos que protegiam as romãs, na árvore, «colocando-as em pequenos vasos de barro, forrados de palha, tapando-as com feno e com uma camada de argamassa». O culto da romã, que remonta ao antigo Egipto e se prolonga até hoje no Oriente (no Cairo, por exemplo, o sumo favorito é o de romã; na Turquia, as recém-casadas atiram para o chão uma romã para saberem quantos filhos vão ter), perdeu no Ocidente o cunho da espiritualidade pagã primordial: a da celebração da Terra-mãe, feminina e procriadora. Se no século XIX, o pintor Pré-Rafaelita, Dante Gabriel Rossetti (1828-1882) recupera a figura de Prosérpina segurando uma romã, ele constitui uma excepção face a vários pintores que no passado substituíram a deusa pela Virgem Maria. Na pintura “Virgem com a Romã” (c.1487), de Botticelli, a Virgem e o menino Jesus tocam no fruto, o que altera toda a simbologia. Sob a égide do catolicismo, a romã torna-se um símbolo da religião, as sementes (os fiéis) devem reunir-se num Todo (Deus/Igreja). Na sociedade dessacralizada, e sem tempo, que é a nossa, a romãzeira tornou-se sobretudo ornamental (existem várias no Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian) mas em Albernôa ainda há quem descasque o fruto sem 6:36 Page 53 Fotos: Susana Neves temer o tanino, e em Foz Côa, no Douro, antecipando o Natal, empoleirada sobre os ancestrais muros de xisto, ela destaca-se graças à sua presença mágica e sanguínea. «Sabes tu, minha adorada que o púrpura já amadurou?/ Para as murmurantes abelhas arrebenta cada romã/ E de súbito apaixonado por quem o vai colher,/ O nosso sangue jorra para o eterno enxame dos desejos», escreveu Stéphane Mallarmé, num poema habitado por faunos e outros seres mágicos que costumam gostar de romãs.I NOV 2008 | TempoLivre 53 46a54_Varios_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/25 6:37 Page 54 Viagens na história João Aguiar O «justum imperium» Talvez eu tenha já abordado este tema, porém acho que nunca é demais. E, por conta dele, façamos três viagens. A primeira é ao século XII, reinado de D. Afonso Henriques. Trata-se de uma lenda bem conhecida, contida na terceira das Crónicas Breves de Santa Cruz de Coimbra: a lenda do bispo negro. Não vou relatá-la aqui, tão somente evocar o seu final, quando o nosso primeiro rei se despede do cardeal que o quis excomungar e lhe diz que lhe toma todo o ouro e prata que ele trazia, pois precisa deles para continuar a guerrear os inimigos de Cristo. Diz ele: «vos tomo este haver por que soom mui prove (pobre) e hei-o mester pera mim e pera meus fidalgos». Vista do Museu do Louvre e retrato de Hugo Grotius 54 TempoLivre | NOV 2008 Segunda viagem: século XVI. Conta-se do rei D. João III que, quando alguns servidores seus se lhe queixaram porque ele não dava despacho a mercês que lhe tinham pedido, ele respondeu: «Sabeis por que não dou despacho? Porque não tenho que dar». Interessa pouco se estas frases foram ou não ditas — provavelmente, não foram. Mas dão-nos o tom, o ambiente de duas épocas. Que digo eu? De todas as nossas épocas. D. Afonso Henriques era «mui prove», D. João III não tinha que dar. Os actuais Orçamentos Gerais do Estado não nos mostram maior desafogo, infelizmente. Uma constante nacional. Mas, objectar-se-á: e o auge do período imperial? Não se fizeram fortunas enormes com a pimenta e outros produtos semelhantes? Não houve cobiças, nem saques, nem fome do ouro? Pois, já se sabe que sim. Mas esperem aí. É tempo da terceira viagem, ao século XVII. Houve então um aceso debate entre o grande Hugo Grotius, a que chamam o pai do direito internacional, e o jurista Serafim de Freitas, a propósito da liberdade de navegação naquilo a que se chama as Índias Orientais. Acrescente-se que Grotius estava na arena a defender os interesses da Companhia Holandesa das ditas Índias, e Freitas a defender os interesses portugueses; não era, pois, uma questão de princípios. De qualquer modo, tem interesse considerar certo aspecto, restrito, do duelo. Que é este: Grotius defendia que a liberdade do comércio e da navegação se impunha a todos; nomeadamente, não podia ser recusada pelos príncipes orientais em nome da sua soberania: é o conceito do Mar Livre. Quanto a Freitas, no seu «De Justo Imperio Lusitanorum Asiatico» (1625), argumentava: não, a liberdade de comércio não dá o direito de entrar à força na área da soberania territorial de um governante estrangeiro. A única restrição é o direito de espalhar o Evangelho em terras estranhas… note-se que Freitas acha indiscutível que não podem os infiéis ser forçados a aceitar a fé cristã; somente que é justa a guerra movida contra os príncipes que proíbam a livre pregação do Evangelho. Claro está: também esta posição não era inocente, na medida em que defendia a tese portuguesa. Mas agora, no século XXI, façamos outra viagem: veremos museus ingleses e franceses a abarrotar de obras de arte oriental que foram muito simplesmente saqueadas. E sabemos como a prosperidade da Inglaterra, França, Holanda, etc., foi construída pela exploração colonial. Ao lado desta cena, o «Justum Imperium» português, ainda que não propriamente «justum» (nenhum império o é), faz figura de quase virtuoso. Os nossos museus são pobres em material roubado e os nossos bolsos, como de mais sabemos, não mostram vestígios de riqueza imperial. E eu, burro que sou, digo-vos: antes assim. I 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:26 Page 55 65 CONSUMO Há cada vez mais consumidores a fazer compras, ou contratar serviços, via Internet. É cómodo e aliciante, mas comporta riscos. Pág. 56 G LIVRO ABERTO Destaque para “A Minha Herança”, de Barak Obama, registo autobiográfico de um invulgar eactual fenómeno da política mundial. Pág. 58 G ARTES Caligrafias Uma Realidade Inquieta, no Museu das Comunicações, em Lisboa, é o acontecimento cultural deste início de época. Pág. 60 G PALCO A “Canção do Vale”, no Teatro Nacional D. Maria II, e “Boa Noite Mãe”, no Trindade, são os destaques TL para Novembro. Pág. 62 G CINEMA EM CASA Seleccionados quatro filmes com um denominador comum: a família, caso do surpreendente “O Segredo de um Cuscuz”. Pág. 64 G MÚSICAS “The Cosmos Rocks” é o título do novo álbum de originais dos “Queen”. O primeiro desde a “morte” de Freddy Mercury, em 1991. Pág. 65 G MESA A parte alimentar do relacionamento entre avós e netos pode ser muito importante para a protecção da saúde dos mais novos. Pág. 66 G SAÚDE A tuberculose existe, é uma doença curável e o seu tratamento é inteiramente suportado pelo Estado. Pág. 67 G INFORMÁTICA Na tecnologia informática nem tudo o que luz é ouro. É necessário distinguir, quando algo aparece, se vale a pena ou não adquirir e se é útil no dia-a-dia. Pág. 68 G VOLANTE Portugal é o primeiro país a estabelecer uma parceria directa com a Aliança RenaultNissan para um veículo eléctrico. Pág. 68 G PALAVRAS DA LEI Os alimentos a um menor abrangem tudo o que é indispensável ao sustento, habitação, vestuário, instrução e educação do menor. Pág. 70 G BOAVIDA NOV 2008 | TempoLivre 55 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:26 Page 56 Boavida|Consumo Compras na Internet: fácil, mas nem sempre seguro… Há cada vez mais consumidores a fazer compras, ou contratar serviços, através da Internet. A comodidade é aliciante, mas comporta variados riscos. A Comissão Europeia, atenta às questões suscitadas pelo comércio on line, que em muitos casos violam os direitos dos consumidores, pretende tomar medidas que garantam aos consumidores mais segurança. Carlos Barbosa de Oliveira E ntre elas, destaque para uma proposta de Directiva que visa assegurar, aos cidadãos dos 27 Estados-membros, os mesmos direitos, quer adquiram os produtos no seu país de origem, quer o façam através de um site sedeado num outro país da União Europeia. Já aqui referi que a compra de produtos e serviços através da Internet pode trazer vantagens, mas que os consumidores devem escolher criteriosamente os sites onde fazem as suas compras, para evitar dissabores. Há muitos sites de credibilidade duvidosa, recorrendo a práticas que violam os direitos dos consumidores e, conseguir a reparação dos direitos no espaço virtual significa, ainda, ter que enfrentar dificuldades bem maiores do que as do comércio “real”. Falta de transparência na informação prestada aos consumidores (nomeadamente indicação do preço sem incluir as taxas, desrespeito pelo prazo de entrega, ou recusa em aceitar o prazo de reflexão, são algumas das violações em que incorrem muitos sites. O problema é transversal a todas as áreas de actividade, incluindo as transportadoras aéreas e as agências de viagens, como se demonstrar num trabalho de pesquisa efectuado no âmbito da União Europeia. Em Setembro de 2007 um conjunto de 15 países da UE, incluindo Portugal, começou a monitorizar (em simultâneo) os sites de venda de bilhetes de avião, no intuito de detectar situações que violem a legislação comunitária de defesa dos consumidores. A acção foi coordenada pela Comissão Europeia, no âmbito da Rede de Cooperação no domínio da defesa do consumidor, destinada a detectar e corrigir situações que violem os direitos dos consumidores dos 27 Estados-Membros. A análise dos 447 sites monitorizados- utilizando os termos de busca “ bilhetes de avião”, “voos baratos”, “last minute”; “milhas aéreas” e “voe mais barato”- incidiu, essencialmente, sobre três aspectos: - Conformidade do preço anunciado, com o preço final a pagar pelo consumidor - Disponibilidade de lugares (os preços anunciados aplicam-se a todos os voos, ou apenas a alguns? Quantos lugares estão disponíveis ao preço anunciado? Existe informação que permita ao consumidor perceber claramente quais as situações em que pode beneficiar de preços mais vantajosos?). - Clareza dos contratos (as normas contratuais são claras e não violam os direitos dos consumidores?). EM JUNHO DESTE ANO foi divulgado um relatório pre- liminar, com base nos relatórios apresentados por 13 56 TempoLivre | NOV 2008 André Letria 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:27 Estados-membros, onde são enunciadas as irregularidades detectadas nos sites visitados, o que permite aos consumidores ter uma percepção aproximada dos cuidados que devem ter quando adquirem bilhetes de avião através da Internet. Assim, dos 447 sites visitados, 226 levantaram suspeitas de não estarem a actuar em conformidade com a legislação de protecção do consumidor, tendo sido informados que deveriam corrigir os erros detectados. - 79 sites revelaram desconformidade entre o preço anunciado e o preço final ( Não são indicadas no preço as taxas, as despesas de reserva ou suplementos a pagar quando o consumidor efectua o pagamento através de cartão de crédito) - 21 não indicam o número de lugares disponíveis ao preço anunciado, ou omitem que aquele preço só se aplica em determinados voos - 67 apresentam irregularidades ou falta de clareza nas cláusulas contratuais - Numa grande percentagem dos sites visitados, foi Page 57 detectada mais do que uma irregularidade. - Foram detectadas 80 empresas (companhias aéreas regulares, “low cost” e agências de viagens) responsáveis pelas irregularidades cometidas. METADE DOS SITES contactados corrigiram as suas irregu- laridades, mas em alguns países decorre ainda o período concedido para procederem às necessárias adaptações. Quando esse prazo terminar, os sites que persistam na infracção serão alvo de procedimento legal, que poderá terminar com multas pecuniárias aos infractores e encerramento dos sites. Em Portugal foram fiscalizados 16, tendo sido detectados 11 com irregularidades. Tal como aconteceu nos restantes países, o nome dos infractores não foi divulgado. Porque ainda decorrem processos judiciaiais, mas a Comissária Europeia para a defesa do consumidor, Magdelena Kuneva, anunciou que irá fazer a divulgação dos sites e companhias que persistam na sua prática enganosa e não corrijam as irregularidades detectadas. I 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:28 Page 58 Boavida|Livro Aberto De Obama a Mouzinho de Albuquerque, com muita ficção de permeio Barak Obama é um dos mais interessantes e inesperados fenómenos da política mundial das últimas décadas, desde logo por ser de origem africana e por se encontrar em condições de ser o primeiro Presidente negro da mais poderosa nação do mundo. José Jorge Letria G rande orador, comunicador de ideias poderosas e mobilizadoras, Barak Obama escreveu “A Minha Herança”(Casa das Letras), onde, em intenso registo autobiográfico, fala da sua vida, da sua família, do seu percurso e da forma como vê a América e o mundo. Capaz de mobilizar a juventude e todos os que alimentam um sonho de mudança, Obama, se chegar à Sala Oval da Casa Branca, pode transformar muita coisa no seu país e no mundo, incluindo ao nível das mentalidades. ASSASSINADA no campo de Auschwitz em 1942, Irene Némirovsky foi redescoberta pelo público francês e internacional, em 2004, graças à publicação, para a qual muito contribuiu a filha da escritora, de “Suite Francesa”. Muitos leitores descobriram assim uma escritora dos anos trinta caída num injusto esquecimento. E vale a pena perguntar quantos não terão caído no mesmo “buraco negro” que a guerra e os campos de concentração foram pródigos em criar. “O Senhor das Almas”, agora traduzido em Portugal com a chancela da Dom Quixote, revela-nos uma escritora de grandes recursos narrativos que, em folhetim, publicou, no ano de 1939, o retrato dos “imigrados” que se movimentaram, entre duas grandes guerras, em busca das suas identidades perdidas. Um livro para ler com gosto, também como forma de homenagem a uma grande escritora do século XX. PARA QUEM NÃO PASSA sem conviver com a grande ficção universal, contemporânea ou nem tanto, e com os títulos que fazem dela uma parcela incontornável da literatura, recomendam-se, com a chancela da Dom Quixote, agora também integrada no projecto editorial Leya, as reedições de “Os Nus e os Mortos”, de Norman Mailer, obra que o 58 TempoLivre | NOV 2008 universalizou e que se converteu, desde o momento da publicação, num título maior da sua produção ficcional, sendo também um dos mais marcantes romances que alguma vez se escreveram sobre a guerra, experiência que o próprio Mailer viveu durante o segundo conflito mundial; o outro destaque vai para “A Hora Má: o Veneno da Madrugada”, do Nobel Gabriel Garcia Marquez, colombiano há muito radicado no México e, sem dúvida, um dos maiores escritores do século XX, daqueles a quem a distinção de Estocolmo assentou como uma luva de ouro. Dois títulos a ler e a reler sempre. Em registos diferentes, mas ainda no domínio da ficção narrativa, outras sugestões de leitura, que se impõem pela diversidade e pela qualidade: o clássico “Os Caminhos do Amor”, de Charlotte Bronte, “Os Reis Vencidos”( livro terceiro do “Códice de Merlim), de Robert Holdstock, “O Casamenteiro de Périgord”, de Julia Stuart, todos com a chancela de Publicações Europa-América, e, por fim, já premiado e saudado pela crítica, agora que a China, a olímpica e a outra, estão definitivamente na moda, “Servir o Povo”(Teorema), de Yan Lianke, nascido em 1958, romance apreendido e banido pelo governo chinês , por ter posto a nu as contradições e as barbaridades da chamada Revolução Cultural de Mao e da sua clique. O autor, coloca no centro da trama narrativa o amor proibido entre um soldado e a mulher de um coronel do Exército Vermelho. Uma história que prende e emociona, até pela coragem com que foi escrita. Destaque ainda, com a chancela da Dom Quixote, para “No Quarto da Noite”, de Peter Straub, onde se misturam de forma engenhosa e eficaz os registos da realidade e da ficção, ou não fosse o autor um colaborador regular de Stephen King na adaptação dos seus livros ao cinema. Realce também para a reedição pela Europa-América do clássico de Júlio Verne “Viagem ao Centro da Terra” e, com a mesma chancela, para a edição do excelente “A 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:29 Page 59 Cabana dos Peixes que Voam”, da malaia radicada na GrãBretanha Chiew-Siha Tei. Estando na moda a literatura de viagens, recomendase, com a chancela da Livros d’Hoje-Dom Quixote “Na Onda de um Sonho”, registo de uma viagem náutica feita à volta do mundo por um português chamado Mário Ferreira. Uma interessante memória de deambulações e errâncias. Ainda no mesmo domínio, destaque para o delicioso e minucioso “Bíblia da Vida ao Ar Livre”(Europa-América), de Paul Jenner e Christine Smith, que nos põe ao corrente de praticamente tudo o que temos de saber sobre os seres, ciclos, segredos e perigos da vida ao ar livre. Mouzinho de Albuquerque, pelo seu percurso de excepção como militar, pela sua participação nas campanhas africanas do Portugal colonial e pelo mistério que nunca deixou de envolver o seu inesperado suicídio, é uma das figuras mais interessantes e controversas do final do século XIX português. Em boa hora assumiu António Mascarenhas Gaivão, um economista apaixonado pela História e um diplomata de carreira recentemente iniciada, a tarefa de o biografar, apoiado em sólida investigação e em documentação credível. A chancela é da Oficina do Livro e o livro lê-se com o prazer que a fluência e a tensão dramática do texto justificam. A Mouzinho não pouparam elogios figuras como Vitorino Nemésio ou Óscar Carmona, salientando sempre o seu intenso sentido patriótico e a sua visão de Portugal no mundo, num mundo que entretanto se transformou, pondo fim ao seu sonho de grandeza e de dimensão imperial. Um livro que nos faz crer que o gosto pela escrita e pela leitura de biografias chegou para ficar. Uma leitura que se recomenda. EURICO FIGUEIREDO é professor catedrático de Psiquiatria já aposentado da Universidade do Porto, mas foi uma figura destacada da política portuguesa, nas fileiras do PS, destacando-se como parlamentar, como homem de pensamento e acção e como cidadão livre que nunca recusou um vivo e intenso debate de ideias, mesmo quando o fez contra a corrente. “Guerrilheiro Sentimental-Estórias de Exílio”, da Campo das Letras, reúne a sua produção contística guardada na gaveta desde 1977 e que tem como ponto de partida a vivência do autor como exilado nos anos finais da ditadura, na Suíça. São textos que se lêem com prazer, porque revelam um apurado sentido de efabulação, um estilo depurado e, sobretudo, o prazer de contar e o desejo de evitar que o esquecimento engula o que aconteceu para ser lembrado. Um livro que, também por isso, convém ter presente. I NOV 2008 | TempoLivre 59 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:29 Page 60 Boavida|Artes A relação entre a Escrita e a Arte no Museu das Comunicações O acontecimento deste começo de temporada cultural foi, indiscutivelmente, a inauguração da mostra Caligrafias Uma Realidade Inquieta que a crítica Maria João Fernandes comissariou e pode ser vista até 15 de Janeiro próximo no Museu das Comunicações, em Lisboa. Rodrigues Vaz A Emerenciano foi um dos executantes do painel colectivo que marca a exposição actualmente patente no Museu das Comunicações. Em baixo, um trabalho de outro participante, Teresa Gonçalves Lobo relação entre a escrita e a arte é o tema principal da exposição, inspirada pela estética do Oriente, uma relação fundadora da arte do século XX. Denominada pela poeta Ana Hatherly de “escritalidade”, que a considera «como se fosse uma espécie de espinha dorsal da criatividade do século XX», a relação escrita/pintura não é um movimento ou uma moda, mas um modo de conhecimento e uma expressão artística privilegiada que tem acompanhado o homem desde os alvores da cultura, face visível da escrita, marca essencial do humano. Estruturada em 5 capítulos, desde os Movimentos e Expoentes desta Tendência – COBRA, El Paso, KWY e Tàpies – até às Caligrafias na Pintura e Escultura, passando pelos Caligramas e Poesia Visual – inéditos de Almada Negreiros, Ana Hatherly e Ernesto M. de Melo e Castro, pela Dança das Letras, com obras de Álvaro Lapa, António Sena, Emerenciano, González Bravo, João Vieira, Paulo Teixeira Pinto, Teresa Gonçalves Lobo e Inês Marcelo Curto, dedica também um capítulo ao Diálogo com o Oriente, com as presenças de Ambrósio, Gracinda Candeias, Eurico e Francisco Laranjo. Não pondo em causa a qualidade da exposição, quernos, no entanto, parecer que a ausência de dois nomes principais neste género de criação como António Sena e José-Alberto Marques, este o autor do primeiro poema concretista publicado em Portugal, que por acaso faz exactamente 50 anos neste mesmo mês, não é compensada de modo nenhum com a presença de um senhor chamado Paulo Teixeira Pinto, que nos recusamos a compreender. VÍTOR ALMEIDA NO CENTRO CULTURAL DE CASCAIS O Centro Cultural de Cascais, através da Fundação D. Luís I, em colaboração com a Galeria Fonseca Macedo, de Ponta Delgada, abre, por sua vez, as portas a um artista açoriano que, não obstante a sua ainda relativamente curta carreira, tem vindo a afirmar-se como presença 60 TempoLivre | NOV 2008 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:30 Trabalho de Vítor Almeida. O Centro Cultural de Cascais acolhe uma exposição do artista açoriano segura na pintura portuguesa contemporânea: Vítor Almeida. Intérprete de um neo-figurativismo coerente com uma visão determinista do mundo, com traços marcantes da insularidade original, Vítor Almeida deixa-nos o testemunho de alguém capaz de romper os limites dessa mesma insularidade com uma obra em trânsito para um reconhecimento do público e da crítica. RITA MÁXIMO E HELENA JUSTINO Por outro lado, a Galeria Artela, em Lisboa, apresenta até 15 do corrente a exposição “Célula”, a última série da novel artista plástica Rita Máximo, que nesta mostra desenvolve um aturado trabalho de cariz gestualista, amenizado por laivos poéticos entre o lirismo e a exaltação. Page 61 Óleo de Helena Justino. Uma miniretrospectiva da pintora para ver no Clube de Jornalistas Intitulada “Célula”, trata-se, segundo a artista, do manuseio de meios plásticos com vista a um estudo crescente em experiências matéricas e visuais, nas quais «O clima e as emoções presentes no dia são diferentes, possibilitam misturas surpreendentes na concepção.» O Clube de Jornalistas de Lisboa apresenta, por sua vez, durante este mês, uma mini-retrospectiva de Helena Justino, integrando obras das últimas séries que apresentou, desde as Paisagens Líricas aos Ninhos. Actualmente a trabalhar como docente de Educação Visual, Helena Justino estudou pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde teve uma plêiade de professores que muito a estimulou, nomeadamente Lagoa Henriques, que a influenciou no rigor do traço, e Júlio Resende, que lhe abriu as portas da liberdade formal. Toda a sua obra reflecte esta simbiose. I NOV 2008 | TempoLivre 61 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:31 Page 62 Boavida|No Palco Canções da terra O Teatro Nacional D. Maria II apresenta, até 14 de Dezembro, a peça “Canção do Vale”, de Athol Fugard, a história de um conflito de duas gerações com projectos de vida e sensibilidade diferentes, mas presas por mútuos afectos. Maria Mesquita A braam Jonkers, 70 anos, agricultor negro, vive com a sua neta Verónica de 17 anos na pequena aldeia de Nieu-Bethesda nas Montanhas Sneuberg da região do grande Karoo na África do Sul. Rendeiro de um pedaço de terra de uma herdade dos Landmans, uma família branca, vive a angústia da suspeita de lhe retirarem as terras onde sempre viveu e trabalhou. Abraam nunca saiu do vale, salvo durante a Segunda Guerra Mundial em que vai prestar serviço como guarda prisional na região do Transval. “Herdou” o arrendamento de seu pai Jaap Jonkers, a quem a família Landmans concedera sem contrato o usufruto da terra. Jaap revela a Abraam o milagre da criação através de transformação da semente em fruto e ensina-lhe que um homem bom trabalha a terra, ama a sua família e respeita os seus vizinhos e vai à igreja. Abraam é a tradição, o representante da vida patriarcal e tranquila da vastidão africana. Verónica nasceu em Joanesburgo, a grande cidade, para onde a mãe fugira abandonando a herdade, a família e os princípios dos Jonkers, e a vida tranquila do vale. A mãe morre quando ela tem poucos dias de vida e Verónica é criada na herdade pela avó Betty, que no tempo da peça já morrera também, e pelo avô a quem se sente fortemente ligada. Verónica tem um sonho – partir e ser cantora na grande cidade. FICHA TÉCNICA: Autor: Athol Fugard; Tradutor: Paulo Eduardo Carvalho; Encenador: Jorge Silva; Cenografia e Figurinos: Ana Paula Rocha; Música: Rui Rebelo; Desenho de Luz: Carlos Gonçalves; Produção: Gislaine Tadwald ; Fotografias: Margarida Dias; Interpretação: Carla Galvão e José Peixoto José Peixoto e Carla Galvão 62 TempoLivre | NOV 2008 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:32 Page 63 Manuela Maria e Sofia Alves “BOA NOITE MÃE” NO TRINDADE Thelma e Jess, (Manuela Maria e Sofia Alves), vivem juntas numa pequena cidade do Sul dos Estados Unidos. A sua relação nunca foi das melhores, distante, fria, solitária. Contudo, numa noite, tudo muda: Jess, abandonada pelo marido (Cecil), e não sabendo do paradeiro do filho, que desapareceu “voluntariamente”, vê-se confrontada com a decisão de um abismo e avisa a mãe que se vai suicidar. Numa transformação de sentimentos, Thelma terá que ajudar a filha a encontrar um caminho de volta à luz da razão, numa luta não só contra o tempo, como também contra si própria e na aceitação da sua filha, não por aquilo que a mãe queria que ela fosse, mas por aquilo que ela é. Só Thelma poderá mudar o curso dos acontecimentos. Escrita por Marsha Norman, vencedora do prémio Pulitzer, esta peça é um drama que foca um tema bastante sensível na nossa sociedade, de forma intemporal. “Boa Noite Mãe”, de Marsha Norman, está em cena até 21 de Dezembro na Sala Principal do Trindade. autor, Pessoa, como a referência central e principal da sua história. Nessa altura, quatro amigos encontram-se num recinto de jogos, no qual se vão provocando mutuamente, sempre na brincadeira, desafiando, jogando uns com os outros e contado histórias. Agora, em 2008, Paulo Ribeiro decidiu recriar esta mesma encenação, mas sob uma perspectiva feminina. Para tal, o coreografo anunciou uma audição na qual obteve uma resposta de 250 bailarinas dos quatro cantos do mundo. Para além de Leonor Keil, actual directora artística da Companhia Paulo Ribeiro, e esposa do próprio coreografo, também bailarina, juntam-se duas portuguesas (Margarida Gonçalves e São Castro), uma holandesa (Elisabeth Lambeck) e uma italiana (Erika Guastamacchia), que nunca se tinham visto antes, conhecido ou trabalhado juntas. O resultado final chamase Feminine, e é considerado o lado B do projecto do ano passado. Em vez de um recinto de jogos e futebol iremos ver saltos altos, sensualidade e sentido de humor, muito femininos, no Teatro Municipal da Guarda na noite de 8 de Novembro. FICHA TÉCNICA:Título original: Night Mother (1982); Autoria: Marsha Norman; Encenação: Celso Cleto; Elenco: Manuela Maria FICHA TÉCNICA: Direcção e coreografia - Paulo Ribeiro; Textos - e Sofia Alves; Tradução: José Luis Luna; Realização: Plástica Fernando Pessoa; Música - Nuno Rebelo; Figurinos - Ana Luena; Raquel Pinheiro; Produção: Dramax Oeiras e Cultura Angra, em Desenho de luz - Nuno Meira; Assistência de coreografia - Peter colaboração com o Teatro da Trindade. Michael Dietz; Interpretação - Elisabeth Lambeck, Erika Guastamacchia, Leonor Keil, Margarida Gonçalves, São Castro; “DESASOSSEGO” NO FEMININO Co-produção: Companhia Paulo Ribeiro, Fundação Caixa Geral de Em 2007, Paulo Ribeiro encenou a coreografia Masculine, na qual quatro bailarinos e um actor interpretavam a obra O Livro do Desassossego, tomando o Depósitos – Culturgest, IGAEM – Centro Coreográfico Galego; Parceiros/Apoio: Biarritz Culture, Festival Le Temps d’Aimer e Teatro Viriato Produção: Companhia Paulo Ribeiro NOV 2008 | TempoLivre 63 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/28 1:05 Page 64 Boavida|Cinema em casa Lugar à família Sérgio Alves s escolhas de Novembro vêm de diferentes países mas com um denominador comum: a família. De uma França de inspiração magrebina, temos o comovente e surpreendente “O Segredo de um Cuscuz”. De Itália, a evocação dos agitados anos 60 do século passado em “O Meu Irmão é Filho Único”, vigoroso retrato um país onde a ruptura política começa na família. Menos recente, mas não menos interessante, é o clássico de Emir Kusturica, “Gato Preto, Gato Branco”, história envolvente de uma comunidade cigana, premiado em Veneza. Finalmente, do outro lado do Atlântico, a amizade e compreensão familiares no insólito e sensível “Lars e o Verdadeiro Amor”, de Craig Gillespie. I O SEGREDO O MEU IRMÃO LARS E O GATO PRETO DE UM CUSCUZ É FILHO ÚNICO VERDADEIRO AMOR GATO BRANCO Na cidade costeira de Sète, no sul de França, Slimane Beiji, 60 anos, pai em duas famílias, é dispensado do emprego num estaleiro. Solitário, mas resistente, sonha instalar um restaurante de comida norteafricana, num barco desactivado, para ajudar e unir a(s) família(s). Galardoado com o “César” para o melhor filme francês de 2007 e premiado em Veneza, este notável filme do realizador franco-tunisino Abdellatif Kechiche dá-nos um retrato realista de uma outra França, onde a solidariedade familiar tem um peso raro e exemplar. Estamos em 1962. Na cidade de Latina, o jovem António (Accio) e o seu irmão Manrico, filhos dum operário, vivem em permanente confronto políticoideológico: Accio é fascista e Manrico é comunista e estão apaixonados pela mesma mulher. Tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais. Vivem, ambos, um período repleto de fugas, retornos, conflitos e grandes paixões. História sobre o crescimento de dois irmãos durante 15 agitados anos da Itália contemporânea, “Mio Fratello é Figlio Único” foi saudado pela crítica como exemplo do fulgor de uma renovada cinematografia italiana. Lars Lindstrom é um homem introvertido, vivendo num mundo criado por si, que o impede de abraçar plenamente a existência real e de corresponder ao amor de uma colega de trabalho. Depois de anos de solidão, ele convida Bianca, uma boneca insuflável, a visitar a sua casa. Toda a comunidade vai recebê-la de braços abertos excepto o seu irmão que pensa que ele não está bem. Numa inteligente realização, feita com humor e ternura e suportada numa soberba interpretação de Ryan Gosling, este filme de Craig Gillespie exalta os valores da compreensão, da amizade e da família. TÍTULO ORIGINAL: TÍTULO ORIGINAL: Passado numa comunidade cigana dos Balcãs, este filme conta-nos uma história de negócios duvidosos, laços familiares, amores de juventude e fenómenos mágicos. Zare está apaixonado por Ida, mas o seu pai tem para ele outros planos. Um mau negócio no mercado negro leva-o a aceitar o casamento de Zare com a irmã de um poderoso gangster…Vencedor do Leão de Prata no Festival de Veneza em 1998, “Gato Preto, Gato Branco”, de Emir Kusturica, é um misto prodigioso de farsa, romance e crime, onde sobressai o ritmo e qualidade de uma banda sonora que recorda o seu anterior e celebrado “Underground” A TÍTULO ORIGINAL: La Graine et le Mulet REALIZAÇÃO: Abdellatif Kechiche; COM: Habib Boufares, Hafsia Mio Fratello Lars and The Herzi, Farida Benkhetache, é Figlio Único; REALIZAÇÃO: Real Girl; REALIZAÇÃO: Craig Bouraouïa Marzouk; França, Daniele Luchetti; COM: Elio Gillespie; COM: Ryan Gosling, 151m, cor, 2007; Germano, Riccardo Emily Mortimer, Paul White Cat; REALIZAÇÃO: Emir EDIÇÃO: Scamarcio, Angela Schneider, R.D. Reid; EUA, Kusturica; COM: Bajram Finocchiaro, Massimo 106m, cor, 2007; Severdzan, S. Todorovic, Branka Popolizio; Itália/França, 100m, EDIÇÃO: Katic, Florijan Ajdini; Sérvia/ Atalanta cor, 2007; EDIÇÃO: Atalanta Lusomundo TÍTULO ORIGINAL: Black Cat, /França/Alemanha, 127m, cor, 1998; EDIÇÃO: Castello Lopes 64 TempoLivre | NOV 2008 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/28 1:10 Page 65 Boavida|Músicas Queen: um novo caminho “The Cosmos Rocks” é o título genérico do novo álbum de originais dos “Queen”. O primeiro desde a “morte” do imortal Freddy Mercury, falecido em 1991. Vítor Ribeiro P or muito tempo que sobrevivam (e oxalá que sim!), os “Queen” têm o privilégio de permanecer irremediavelmente associados a Freddy Mercury, um dos mais notáveis cantores rock de todos os tempos. A genialidade de Mercury pairará sempre sobre qualquer análise crítica que se faça de um trabalho discográfico, ou de um espectáculo do grupo. É pois há luz desta realidade, sem paternalismo, mas com merecida compreensão e boa vontade, que devemos ouvir o novo “The Cosmos Rocks”, primeiro álbum da banda, desde a publicação de “Made in Heaven”, em 1995, com temas ainda registados por Mercury, antes de falecer em 1991. Uma vez cortado o cordão umbilical que os ligava ao líder histórico, os “Queen” surgem-nos agora apoiados na voz de Paul Rodgers (ex-Free, Bad Company), também ele um cantor rock de excepção, capaz de marcar a diferença que reencaminha a banda para novos rumos. Subscrevem os 14 temas do novo CD os “Queen” e Paulo Rodgers, dando forma a um trabalho colectivo de inegável qualidade, onde o rock clássico, por vezes “pesado”, até, se entrecruza com um rock mais melódico, que nos remete, muitas vezes, para o que de melhor se fez, no género, nas décadas de 60 e 70 do século passado. Concluamos então que, sem renegar o passado de que apenas podem orgulhar-se, os ”Queen” encetam, com com- preensível cuidado, um novo caminho, que não deslustra a história de um dos mais emblemáticos grupos da História do Rock. DAVID GILMOUR EM GDANSK Lugar de destaque na História do rock tem também David Gilmour, guitarrista e compositor dos “Pink Floyd”, responsável pela esmagadora maioria dos sucessos de mais aquele grupo lendário. “David Gilmour – Live in Gdansk” é o título genérico do duplo-CD recentemente editado, que nos dá conta do concerto efectuado por Gilmour em Gdansk, na Polónia, acompanhado pela Polish Baltic Philharmonic Orchestra, sob a direcção do maestro Zbigniew Preisner. Em palco estiveram igualmente os veteranos (ex-Floyd) Richard Wrigth, Dick Parry, Jon Carine Guy Prat, aos quais se juntou Phil Manzanera, dos Roxy Music. Com a riqueza formal que uma orquestra sinfónica sempre possibilita, quando associada à música rock, Gilmour e os seus companheiros proporcionam-nos momentos de invulgar espectacularidade, designadamente ao interpretarem muitos dos temas “clássicos” dos “velhos” Pink Floyd. Este trabalho discográfico pode ainda ser adquirido juntamente com um DVD do concerto e (ou) também com um segundo DVD intitulado “Gdansk Diary – Documentary”. Conclusão: um álbum multimédia de grande folgo, que merece a melhor atenção dos melómanos mais afortunados, já que não estamos em presença de um produto acessível a todas as bolsas. I NOV 2008 | TempoLivre 65 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:34 Page 66 Boavida|À mesa À mesa com os avós Em muitas famílias portuguesas, a figura dos avós está ainda bastante presente e activa. Geralmente como uma ajuda importante para tomar conta dos mais pequenos, ir buscá-los à escola ou ainda para lhes preparar uma refeição. Pedro Soares A parte alimentar deste relacionamento entre avós e netos é particularmente interessante na medida em que os mais velhos transportam determinados conhecimentos e práticas alimentares que podem ser protectoras da saúde dos mais novos, para além da transmissão de valores culturais, na forma de aromas e sabores, que podem ser uma maisvalia educativa para as gerações mais novas. Se observarmos com cuidado, reparamos por exemplo na utilização frequente de hortícolas nos preparados 66 TempoLivre | NOV 2008 culinários das populações mais idosas. Nas sopas, nos cozidos e nos mais diversos estufados. Esta tradição criou-se pela disponibilidade e preço destes alimentos no passado… mas também pelo facto de serem produtos que demoravam algum tempo a ser preparados e confeccionados. E o tempo era a coisa que menos faltava em outros tempos. Associado à utilização de hortícolas estava a grande variedade no modo de confecção e o recurso frequente a produtos regionais e da época. Este é apenas um exemplo entre muitos, mas uma criança ao consumir e aprender a ter uma referência saborosa de um produto alimentar da sua região, cozinhado na época própria quando estes produtos estão disponíveis na natureza, é um conhecimento extraordinário nestes tempos em que se deixou de saber a origem dos alimentos, sua história e enquadramento nas estações do ano. A Organização Mundial de Saúde (OMS) que recomenda o consumo diário de pelo menos 400g de frutos e hortícolas por dia como garante de uma vida saudável reconhece também, e cada vez mais, que a qualidade da confecção dos alimentos é decisiva para se atingirem os objectivos desejados. Por outro lado, as preparações culinárias apuram-se e podem melhorar se forem treinadas e tiverem tempo para serem desenvolvidas, para além de representarem um traço de identidade numa família. A sopa da Avó, pode ser, não apenas um preparado culinário com elevado valor nutricional mas também uma marca de união entre gerações e algo que caracteriza os gostos alimentares de uma família. Para além de tudo isto, a valorização destes saberes no seio de uma família são importantes para a auto-estima deste grupo mais velho da população tantas vezes desdenhado nas suas aptidões. Conviria ainda dizer que estar à mesa com os avós pode ser uma aprendizagem importante em termos sociais. Estar à mesa com alguém que não tem pressa, que não olha para o relógio com regularidade, que sabe contar uma história, que come devagar pegando correctamente nos talheres e sem se irritar a todo o momento é um luxo que muitos pais não podem ensinar. I Ilustrações: André Letria 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:35 Page 67 Boavida|Saúde A tuberculose ainda é um estigma Numa época em que ainda não tinham sido descobertos os antibióticos e em que os doentes uma vez diagnosticados com tuberculose eram isolados, separados das suas famílias e internados em sanatórios, onde permaneciam durante anos, é compreensível que, nesse tempo, não se falasse da tuberculose como das outras doenças. M. Augusta Drago A medicofamí[email protected] lém do mais, a doença estava associada às classes mais desfavorecidas, grassava entre os pobres, os malnutridos e os que viviam em instituições. Foi também por essa a razão que sempre se falou dela com discrição. Curiosamente, e apesar da melhoria das condições de vida da maior parte da população no nosso país e dos avanços tecnológicos alcançados no campo terapêutico, as pessoas continuam a falar e a encarar esta doença com algum pudor. A tuberculose é uma infecção causada por uma bactéria chamada Mycobacterium Tuberculosis. Desde a década de quarenta que é tratada com sucesso por diversos medicamentos que vão sendo substituídos por outros mais modernos, progressivamente mais eficazes e com menos efeitos adversos. Qualquer pessoa pode ter a pouca sorte de ser contagiada. A vacina da BCG, embora seja uma ajuda preciosa, não dá protecção total. Razão pela qual a tuberculose continua a afectar um número exagerado de pessoas entre nós e é uma preocupação constante de todos os técnicos de saúde. Tive um professor na faculdade que dizia que em Portugal, e perante um quadro de infecção respiratória, “é preciso pensar tuberculosamente”. Isto para dizer que nós médicos não podemos falhar um diagnóstico num doente com tuberculose. A tuberculose propaga-se através das gotículas de saliva e do ar que sai da boca e do nariz dum doente quando este tosse ou espirra. Quando uma pessoa está por perto e inala estas bactérias, estas alojam-se nos pulmões e aí crescem e multiplicam-se. Esta pessoa que inalou as gotículas infectadas, também ela pode ficar infectada e ir infectar outras pessoas. É por isso muito importante identificar precocemente as pessoas infectadas e iniciar o tratamento o mais rapidamente possível para cortar a cadeia de transmissões. A forma mais comum de tuberculose é a tuberculose pulmonar, mas a bactéria pode, para além dos pulmões, invadir o sangue do doente e ir afectar outras partes do corpo, tais como os rins, a coluna vertebral ou o cérebro e desenvolver aí a doença. O que muita gente ignora é que na tuberculose existem duas situações distintas: uma, são os indivíduos infectados, e outra, são os doentes. Nem sempre os indivíduos infectados desenvolvem a doença. A bactéria pode ficar alojada no organismo, como que adormecida. O indivíduo infectado não tem sintomas, não se sente doente e pode infectar as pessoas que o rodeiam. Se não for tratada, esta pessoa pode vir a desenvolver a doença mais tarde, numa altura em que o seu organismo esteja debilitado. Estes indivíduos infectados só são identificados mediante um teste cutâneo. Aqueles que desenvolvem a doença referem febre, não muito alta, arrepios, suores nocturnos, fadiga, perda de peso e tosse, uma tosse produtiva com expectoração e por vezes sangue. Devem obrigatoriamente procurar o seu médico para esclarecer a situação todos os doente com uma tosse arrastada, perda de peso e febrícula; e aqueles que, embora sem sintomas, tenham estado em contacto com doentes tuberculosos, em casa, na escola ou no trabalho. A tuberculose é uma doença curável e o seu tratamento é inteiramente suportado pelo Estado. I NOV 2008 | TempoLivre 67 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/30 3:35 Page 68 Boavida|Tempo informático Esteja Atento! Nesta tecnologia nem tudo o que luz é ouro. É necessário distinguir, quando algo aparece, se vale a pena ou não adquirir e se é útil no dia-a-dia. E com a crise actual mais verdadeiro se torna. Apesar de, como sempre, melhorarem no futuro, escolhemos exemplos que não desiludem. na Net (único a fazê-lo) talvez justifique a pequena diferença de preço em relação à concorrência. Gil Montalverne C [email protected] hegaram os MEDIA PLAYERS, discos rígidos externos onde armazenamos tudo o que é Multimédia, filmes, fotografias e músicas e que ligados depois ao televisor sem a necessidade da presença de um PC, reproduzimos o que lá está com grande qualidade no chamado grande ecrã. A Verbatim apostou em dois discos Multimédia de 500 GB, o Media Station e o MediaStation Pro, espaço suficiente para mil horas de vídeo em MPEG ou 6.300 horas de áudio MP3 ou 250.000 fotos de 5 megapixeis, tudo isto a ser visionado independentemente do PC, como dissemos, num televisor ou ouvido num sistema de áudio de sala. Mais cómodos por exemplo para transportar para qualquer lado 150 filmes do que 150 DVDs, reproduzem quase todos os formatos mais comuns de vídeo (câmaras digitais, downloads da Net, etc.) e possuem as ligações necessárias para uma boa qualidade. O modelo PRO tem ligação HDMI para Full HD, o que com a capacidade de funcionar em rede com ou sem fios e sintonia de Rádios 68 TempoLivre | NOV 2008 AO DEPARAR com os auscultadores CLEAR CHAT PC WIRELESS da Logitech poderá interrogar-se se precisa deles pois não faltam lá por casa. Mas com estes vai comodamente movimentar-se em conversação Chat ou Voip, a ouvir música ou a jogar, sem o embaraço dos fios. Ligação ao PC através do pequeno transmissor colocado na porta USB e microfone, se não precisar, recolhe-o ajustando-se lateralmente. Mais vantagens: o volume de som é feito com pequenos toques num dos auscultadores que aliás são almofadados para grande conforto do utilizador. Ao óptimo design junta-se a alta qualidade áudio com som claro e puríssimo como o nome indica. Não pode estar mais atento. JÁ CHEGARAM as versões 2009 do software de Anti-Vírus e Internet Security. Os nossos leitores sabem já que um deles é absolutamente necessário, sendo que o IS possui o AV e mais aplicações de segurança. As licenças são anuais e as actualizações do software anual são também significativas. O único que até agora chegou às mãos dos jornalistas não é dos mais fortes em vendas no nosso mercado mas os KASPERSKY AV e IS apresentam-se este ano com a prova de líderes do mercado baseando-se em tecnologia muito avançada, aumentando a vigilância e a protecção mas minimizando o uso de recursos contra os 10 milhões de programas nocivos previstos para 2009. Com interface mais fácil e intuitivo são uma escolha acertada. Proteja-se! I 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:36 Page 69 Boavida|Ao volante Protecção do ambiente – veículos eléctricos Aliança Renault-Nissan assina acordo com governo português A Aliança Renault-Nissan está empenhada em ser o líder mundial em veículos de emissão zero… estando actualmente a criar parcerias estratégicas com vários países, cidades e empresas do mundo para desenvolver a infra-estrutura e a aceitação pública necessários para tornar os veículos eléctricos comercialmente bem-sucedidos. Carlos Blanco A través da Aliança, a Renault e a Nissan já assinaram acordos com Israel e a Dinamarca que irão permitir a comercialização em massa dos veículos eléctricos nesses países em 2011, e estando continuamente a negociar com outras entidades, na Europa, América do Norte e Ásia. Parcerias como estas criam o quadro de sucesso para a implementação em grande escala. Portugal é o primeiro país a estabelecer uma parceria directa com a Aliança para um veículo eléctrico, criando um novo modelo empresarial entre o sector público e o privado para desenvolver as condições necessárias para os veículos de emissão zero se tornarem numa solução viável, atraente e extremamente necessária no momento actual. Combinar mobilidade e protecção do ambiente não é uma prioridade vaga mas um verdadeiro compromisso assumido pela Aliança Renault-Nissan. No plano de actividades de cada empresa – no Renault Contracto 2009 e no NISSAN GT 2012 – existem objectivos claros no que respeita à redução das emissões de dióxido de carbono. Para esse efeito, ambas as empresas estão a desenvolver uma diversidade de tecnologias que podem ser adaptadas a diferentes condicionalismos dos mercados e às necessidades e às utilizações específicas dos seus clientes através de uma gama completa de tecnologias “verdes” – desde motores a gasolina de baixa cilindrada e motores diesel limpos… a transmissões de variação contínua… híbridos… pilhas de combustível… e veículos eléctricos. Do lado da Aliança, isso significa disponibilizar um produto credível, funcional e agradável, que os consumi- dores queiram conduzir. Também vai trabalhar com o Governo para aumentar a consciencialização sobre os veículos com emissões zero e cooperar num conjunto de projectos de infra-estruturas técnicas que beneficiem os seus futuros proprietários em Portugal. Entre os factores que permitirão um maior enfoque nos veículos eléctricos ressalta a maior consciencialização do aquecimento do planeta, resultante das emissões de dióxido de carbono a par de alterações regulamentares, com reduções fiscais para os veículos ecológicos. O aumento dos preços e a disponibilidade do petróleo bruto é outra preocupação. Outro factor que aumenta o poder de atracção dos veículos eléctricos é a crescente exigência de mobilidade urbana. Em 2007, a população urbana do mundo ultrapassou a sua população rural pela primeira vez. A procura de veículos está a aumentar rapidamente com o aumento dos mercados emergentes como a Rússia, o Brasil, o Médio Oriente, a Índia e a China. Por último, os avanços tecnológicos no desenvolvimento de baterias e na optimização do consumo energético dos automóveis estão a reforçar o potencial de atracção e de competitividade dos veículos eléctricos. Alimentados por um motor eléctrico e uma bateria, os EV são veículos limpos que não emitem nenhum CO2 ou outras emissões de escape durante o seu funcionamento. A Nissan está apostar na promoção da utilização alargada de EV. Isto inclui aumentar a autonomia aperfeiçoando a bateria e outras tecnologias do grupo propulsor eléctrico. Envolve também a colaboração com outras indústrias para implementar as infraestruturas necessárias como estações de carregamento. I NOV 2008 | TempoLivre 69 55a70_Boavida_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/30 3:36 Page 70 Boavida|As Palavras da lei Execução de acordo de alimentos a menor Pedro Baptista-Bastos Separei-me do meu marido há cerca de três anos, através de um divórcio por mútuo consentimento. Temos um filho, com seis anos de idade. Fixámos que o nosso filho teria direito a uma prestação de alimentos, no valor de cento e cinquenta euros, actualizável anualmente, pelos índices de inflação. Entretanto, ele refez a vida com outra mulher, e tiveram um filho bebé. Ele não pagava a prestação de alimentos ao nosso filho antes mesmo da sua nova mulher ter engravidado. Agora, ele pretende que o valor da prestação seja revisto para menos, porque disseme que não pode suportar esse encargo, que o salário dele não lhe chega, e que tem um novo filho, que tem que tomar conta. O que posso fazer? Sócia devidamente identificada – Porto. ? O s alimentos a um menor abrangem tudo o que é indispensável ao sustento, habitação, vestuário, instrução e educação do menor, de acordo com o artigo 2003º do Código Civil. Esses alimentos devem ser proporcionados aos meios do alimentante e às necessidades do alimentado, no momento da prestação, de acordo com o artigo 2004º, n.º 1 do C.Civil. Os alimentos podem ser reduzidos ou aumentados, se houver caso e circunstâncias a tal, nos termos dos artigos 186º a 189º da Organização Tutelar de Menores, que regula o procedimento dos alimentos a menores. Assim, vimos já que, após uma fixação de alimentos a 70 TempoLivre | NOV 2008 menores, estes podem ser reduzidos; no entanto, a carta desta leitora dá-nos um dado prévio: o incumprimento prévio de uma prestação de alimentos. Entendo que o companheiro tem que pagar as prestações em falta, por estar legalmente obrigado a tal. Os alimentos a menor têm carácter obrigacional, devendo ser integralmente pagos. Ao caso, não há nenhuma justificação plausível para que ele não pague o que deve ao seu filho, para que este tenha o seu sustento e se possa desenvolver e crescer com todos os meios possíveis. Ele não foi despedido, nem teve nenhum facto que obstasse ao pagamento do que tem em falta para com o seu filho. De acordo com o artigo 189º, n.º 1 da O.T.M., se não houver o pagamento da prestação, ou das prestações em falta, nos dez dias após o seu vencimento, esta sócia deve dirigir-se aos Serviços do Ministério Público do Tribunal de Família e Menores do Porto, e requerer a cobrança coerciva das prestações em falta. Por outro lado, ele teve um filho de outro matrimónio, e alega que não pode continuar a pagar a prestação de alimentos. Conforme escrevi, o acordo de alimentos pode ser revisto para menos. Mas isso só pode ser realizado, se se provar que o actual salário deste companheiro cobre todas as suas despesas e necessidades. Se ele tiver despesas voluptuárias, não há lugar à redução da prestação de alimentos. Havendo um filho, que tem direito a uma dada prestação de alimentos, seria injusto reduzi-la em detrimento de outro. Esse homem teve um filho, é seu dever mantê-lo e sustentá-lo. A isso o obriga o superior interesse do menor, bem como o seu dever moral de pai. André Letria 71_Pub_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:41 Page 1 72_Passatempos_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 8:46 Page 72 ClubeTempoLivre > Passatempos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES Palavras Cruzadas | por Tharuga Lattas Horizontais: 1-Expressão de pesar pelo infortúnio de alguém; Do cosmos. 2-Atmosfera; Desgasta; Lavrei; Mais. 3-Muitos; Canção. 4-Oculta; Portuguesa 5-Ermida fora do povoado; Jibóia; Agente. 6Curada; Enrubescera. 7-Empáfia (Brás.). 8-Sedimento; Vida tranquila. 9-Sequiosa; A primeira mulher, segundo a Bíblia; Raladores. 10-Parte da cabeça das aves, entre os olhos e o bico; Senhoras (Brás.). 11-Mulos; Emissão de voz. 12-Compaixão; Rente; Magnete natural; “Cádmio” (s.q.). 13-Descobrem; Chocava. Verticais: 1-Idiotas; Fogosa. 2-”Érbio” (s.q.); Época; Insignificância; Partícula afirmativa do dialecto provençal. 3-Agarrar-se com gavinhas; Espreita. 4-Para; Com jeitos de dama; O deus do Sol entre os Egípcios. 5-A minha pessoa; Ano do Senhor; Oferece; Abismo. 6-Governador de província, entre os Árabes; Lavra; Estro. 7Chiste; Santo. 8-Giba 9-Óxido de Cálcio; Textualmente. 10-Verbal; Coragem; Seio de mulher. 11-Tenho conhecimento; Pedra de moinho; Depois; Enfermidade, 12-Forma arcaica de “meu”; Saios de malha usados pelos antigos guerreiros; Nem. 13-Combate; Junta. 14-Aqui; Abrev. de “Senhor”; Discurso laudatório; Cento e um, em romanos. 15-Untara; Esqueleto. Soluções: 1-P SAMES; CÓSMICO. 2-AR; LIMA; AREI; AL. 3-R;E; MIL; LAI; L; E. 4-VELA; R; C; L; LUSA. 5-ORADA; BOA; MOTOR. 6-SARADA; R; GORARA. 7-M; RÓCIO; I. 8-CAMADA; O; REGALO. 9-ÁVIDA; EVA; RALOS. 10-LORO; M; A; P; SIAS. 11-1; A; MUS; SOM; A; A. 12DO; RASA; IMAN; CD. 13-ACLARAM; COLIDIA. 73_CUP_198_soc:cupoes.qxd 08/10/27 9:01 Page 73 ClubeTempoLivre > Cupões NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2008 DESCONTO DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2008 Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2008 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2008 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2008 Remeter para Clube Tempo Livre – Livros, Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado. 74e75_NovosLivros_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 9:29 Page 74 ClubeTempoLivre > Novos livros CAMPO DAS LETRAS LÍNGUA POSTA A SALVO a consequente romagem a HISTÓRIA DE UMA Guimarães, são alguns dos ATLAS DAS ESPÉCIES EM JUVENTUDE acontecimentos relatados PERIGO Elias Canetti 316 pg. |18 (PVP) neste livro que, inclui, ainda, Sally Morgan 96 pg. |17, 85 (PVP) episódios numa linha Desde a infância na Bulgária cronológica baseada na Actualmente, mais de 15.000 até às estadias com a família “Crónica de D. João I” de espécies de plantas e em Inglaterra e na Suíça, o Fernão Lopes, fonte animais enfrentam a possível livro oferece uma análise privilegiada para melhor extinção. Que podemos fazer detalhada das primeiras conhecer o rei de Boa para proteger essas décadas do século XX. Os Memória e este período da espécies? incidentes mais sensíveis do História de Portugal. Este atlas magnificamente quotidiano têm como pano ilustrado apresenta as mais de fundo acontecimentos recentes conclusões sobre mundiais, nomeadamente a disfarçado e paralisada por EUROPA – AMÉRICA este sentimento obsessivo? Primeira Guerra Mundial, O COMPLEXO DE CULPA DO O SEXO INVISÍVEL bem como as reflexões do OCIDENTE J. M. Adovasia, Olga Soffer & autor sobre as consequências daqueles Pascal Bruckner 208 pg. |17,90 (PVP) Jake Page 248 pg.|23,90 (PVP) acontecimentos na vida do As guerras, as perseguições Um novo olhar sobre a Pré- indivíduo. religiosas, a escravatura, o História, onde a visão do O autor recebeu o prémio fascismo, o comunismo e Paleolítico conotada à Nobel da Literatura em 1981. muitas abominações imagem de caçadores passadas desenvolveram na vestidos de peles a atacar D. JOÃO I E GUIMARÃES Europa um sentimento que destemidamente mamutes, Rosa Maria Saavedra 72 pg. |13 (PVP) face ao mundo oscila entre enquanto as mulheres se o masoquismo e a escondiam atrás de os motivos que levam à Foi durante a crise de 1383- libertação. rochedos, pouco tem em extinção de alguns animais, 1385 que D. João ficou Um ensaio polémico sobre o comum com a realidade. desde a perda de habitat à particularmente ligado a esta masoquismo dos povos Com tema central nas poluição. Vila, palco de vários ocidentais que desperta uma mulheres da Pré-História, a Inclui, ainda, mais de 200 episódios marcantes para a reflexão sobre a culpa obra defende que foram elas fotos sobre os diferentes História de Portugal. ocidental face ao resto do que inventaram quase tudo, habitats e animais em A tomada da Vila de Baixo, mundo, onde se questiona, desde os agasalhos para perigo, bem como seguida da conquista da Vila até que ponto a Europa se proteger do frio, as cordas informação pormenorizada de Cima e o voto do rei a encontra minada por esta para as jangadas e redes sobre as espécies. Santa Maria da Oliveira, com espécie de hedonismo para a caça ou pesca, ao 74e75_NovosLivros_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 9:30 Page 75 desenvolvimento da própria saúde humana e aprenderá a Iorque, cidade onde se exilou linguagem. equilibrar o seu estilo de vida para se afastar da ex- e a desfrutar do potencial namorada, da morte de um COMPREENDER FREUD ilimitado com que a natureza amigo e da mãe, com quem Jacques Sédat 272 pg. |20,89 (PVP) o dotou. tem um relacionamento A obra é um bilhete de NÃO SEJA REZINGÃO Ao chegar a Roma, entrada para o consultório de descobre que nada é como Freud, propondo segui-lo nas Richard Carlson 136 pg. |11 (PVP) suas descobertas, Por muito que tente estar mudaram... divagações e dúvidas, bem-disposto e sereno, às conflituoso. vezes é difícil não ser um reconstruindo a génese das recordava, as coisas ROMA EDITORA suas descobertas mais Fonda e Meryl Streep, a obra- rezingão! Neste livro importantes. Para tal, o autor prima de Eve Ensler é uma divertido e inspirador, o autor TEATRO, PRAZER E RISCO explora a correspondência viagem hilariante e tocante desafia-nos a ser o melhor. de Freud e outros escritos pelos indecifráveis confins Pois o nosso tempo na Terra Vera Borges 178 pg. |12 (PVP) que testemunham as da mente e do corpo é demasiado precioso para Uma obra que apresenta os interrogações e intuições femininos. Dá voz aos mais ser desperdiçado… a retratos sociológicos de que desencadearam o profundos temores e rezingar! nascimento da Psicanálise. fantasias de mulheres reais, Seguindo as etapas do à sua irreverência e CÓDIDO DA INTELIGÊNCIA portugueses, pensamento freudiano, espirituosidade. fruto de relembra-se, ainda, que a Considerada por muitos Augusto Cury 224 pg. |15 (PVP) empresa iniciada por Freud como a bíblia de uma nova A obra oferece uma nova observações não é rígida nem dogmática geração de mulheres, estes teoria sobre a inteligência, e que o analista não deve monólogos de intimidades e que permitirá ao leitor de palco para onde são ousar ter qualquer pretensão vulnerabilidades irão desenvolvê-la e realizar todo trasladadas as experiências de poder ou conhecimento comover e divertir o leitor. o seu potencial psicológico, individuais que aí se actores e encenadores entrevistas e do trabalho intelectual, emocional e misturam, no cadinho PERGAMINHO espiritual. fervente que é o grupo. VAGINA ENERGIA SEM LIMITES QUINTO SELO Eve Ensler 192 pg. |18,50 (PVP) Deepak Chopra 144 pg. |12 (PVP) Representada em palcos de Com esta obra o leitor todo o mundo por actrizes tão famosas como Jane sobre o outro. Percursos, paixões, sonhos e OS MONÓLOGOS DA realidades num invulgar trabalho de investigação a QUERO-TE MUITO todos os títulos digno de registo. poderá aceder a cinco mil Federico Moccia 344 pg.|19,50 (PVP) anos de sabedoria acerca da Step regressa de Nova Glória Lambelho 76e77_Roteiro_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 9:44 Page 76 ClubeTempoLivre > Cartaz Inatel BRAGA Cinema Guitarras de Manuel Lima na Teatro Taveiro - dia 9 às 21h30 na 8ª Grande Noite de fados, no 23º Ciclo de Teatro de Sociedade Instrução Teatro Circo, em Braga. Outono, apresenta as Tavaredense, em Tavarede. seguintes peças: Filme “Hora De Ponta 2” de Brett Ratner Magusto “A FARSA DE INÊS PEREIRA”, Com: Jackie Chan, Chris Dia 16 às 15h30 - Magusto de Gil Vicente, pelo Trai-la-ró Tucker, John Lone do rancho Folclórico de Vila Gr Teatro de Casal Cimeiro - Jornadas Etnofolclóricas 90 min./2001/E.U.A. – M/12 Nova das Infantas, em dias 7, 8, 9 às 21h30 na Destinadas a grupos Carter vai de férias para Guimarães. Assoc. Cimeirense, Casal Etnográficos e de Folclore, a Cimeiro; dia 22 às 21h30 no iniciativa tem como objectivo CCD Social de S. Frutuoso; sedimentar conhecimentos dia 30 às 21h30 na Casa do nas diferentes áreas de Hong Kong visitar o seu amigo Lee. Rumo à COIMBRA descoberta dos prazeres COVILHà mais exóticos que a cidade Concertos Povo Abrunheira intervenção dos grupos, de ostenta e após reencontro Dia 6 às 21h30 - ciclo “As “A FACE DO CAOS”, forma a ultrapassar as com o amigo, Carter tem de Quintas do Festival”, Trio adaptação de António Aleixo, dificuldades relacionadas enfrentar um grande desafio: Euterpe, na Casa Municipal pelo Curral da Mula - Gr. com a sua actividade. desmantelar uma rede de da Cultura, em Coimbra; dia Teatro de Abrunheira - dia 22 falsificação de dólares. 7 às 21h30 - “Coimbra, às 15h na Associação COLÓQUIO: LOCAIS: dia 9 às 16h na moro em ti”com Tenor Moradores do Bairro da Rosa Temas previstos – “Técnicas Associação Cult., Social e Mário Anacleto na em Coimbra; de Recolha e Instrumentos Recreativa de Felgueiras; dia Biblioteca Joanina, em “O LIXO”, de Francisco Musicais” por José Alberto 14 às 21h no Centro Coimbra; dia 8 às 21h30 – Nicholson pelo Grupo de Sardinha (Etnomusicólogo); Recreativo e Cult. de Ciclo “A Rota dos Órgãos” Teatro “A Fonte” - dia 15 às “Recuperação/ Trajes – Campelos; dia 15 às 21h na na Capela da Universidade; 21h30 na Associação Manuseamento/Tratamento Associação Recreativa e dia 8 às 21h30 – Encontro Cimeirense, Casal Cimeiro. e Restauro” por Madalena Cult. Valdozende; dia 21 às Nacional de Coros na “O DOMADOR DE SOGRAS”, Farrajota (Museu Nacional 21h no Grupo “Os Associação 1º de Maio de Félix Bermudes, João de Arqueologia); Camponeses de Arosa”; dia Alfarelense em Alfarelos e Bastos e Hermano Neves “Etnoliteratura: contos e 26 às 10h na Centro Social concertos pelo Grupo de pelo Gr.Teatro de Formoselha cantos” por Antonieta Juventude do Mar; dia 28 às Instrumentos de Sopro de - dia 18 às 21h30 na Garcia (UBI - Universidade 21h na Casa do Povo de Coimbra no Salão da ADFP Associação Cultural de Vinha da Beira Interior); “Medicina Lousado. de Miranda do Corvo e pelo da Rainha; Popular: a enfermidade e a Coro de Câmara “Cânticus “A VIZINHA DO LADO”, dimensão religiosa no Camerae”no Auditório de adaptação de André Brun, processo de cura” por Sobral de Ceira; dia 15 às pelo Grupo Cénico de Donizete Rodrigues 21h30 - Concerto pelo Ervedal da Beira - dias 15 na (Antropólogo). Grupo Sax Ensemble em Casa do Povo de Espariz e Cadima e Sarau da Tuna 22 na Casa Povo de Mira; EXPOSIÇÃO Recreativa Mouronhense; “O DOENTE IMAGINÁRIO”, de Artesanato e Artes dia 22 às 16h – Recital de Molière, pelo Gr.Teatro S. Tradicionais com Artesões ao Música Sacra Instrumental Frutuoso - dia 15 às 21h30 no Vivo; Inclui: Tear Manual, Sta Cecília na Igreja Casal de S. João em Vila Bastidor (Colchas e Paroquial da Pocariça, às Nova de Poiares Bordados de Castelo 21h30 Recital de Música VARIEDADES, pelo Grupo de Branco), Pintura, Cesteiro, Música Sacra Instrumental Sta Teatro de Ribeira de Frades – Trajes, Alfaias Agrícolas e Dia 16 às 15h - Grupo “As Cecília na Igreja Paroquial dia 15 no Centro Social de Utensílios Domésticos e Lavradeiras” de Sta Maria de do Bolho e concerto pelo Ribeira de Frades. amostras de Cozinha e Oliveira no “COMFOLCLORE” Coro de Câmara ““Cânticus CAMILA BAKER, de Emílio Quarto de Aldeia de finais do em Santa Comba Dão; dia 29 Camerae na Casa do Povo Boechat, pela século XIX. às 21h45 - Grupo de de Mira. Loucomotiva/Gr.Teatro de LOCAL: dia 15 às 9h30 no 76 TempoLivre | NOV 2008 76e77_Roteiro_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 9:46 Page 77 Auditório da Biblioteca Perrault, é uma pequena 6ª e Sáb às 23h. Grande Prémio da Arrábida, Municipal de Castelo Branco história de coragem onde a Um espectáculo interactivo pelo CCD Lebres do Sado, inteligência de um menino que aborda de forma Setúbal. triunfa sobre a força bruta do humorística crenças que Ogre. Contada por dois continuam a fazer parte de Atletismo actores através de uma um suposto “consciente Dia 8 às 15h - Corta Mato de linguagem divertida e colectivo”. Com uma Música S. Martinho, no Bairro do informal. abordagem céptica de temas CONCERTINAS E como a astrologia, DESGARRADAS: GUARDA Pinheiro; dia 18 às 10h - 9ª VIANA DO CASTELO Subida Vale de Sameiro em Sala Estúdio numerologia, superstição e XIII ENCONTRO NACIONAL Sameiro. ENCONTROS E profecias o resultado é Concertinas e Desgarradas, DESENCONTROS NO CAMPO surpreendente! integrado nas Btt COM TIO VÂNIA – até ao dia Dia 16 às 10h - 9ª Up-Hill, 16 | 4ª a Sáb. 22h e Dom. Subida Vale de Sameiro em 17h comemorações da Outorga SANTARÉM do Foral de D. Afonso III, de 1258, da formação do Sameiro; dia 30 às 9h - Folclore Município de Viana do Invernal de Btt “ Cidade da Dia 22 às 21h - Rancho Castelo, reúne várias Guarda”, no Clube de Folclórico da Alegria de centenas de tocadores de Montanhismo da Guarda. Alqueidão de Santo Amaro concertina, num agradável na sede da Casa do Povo de convívio onde o cantar ao Fátima, em Fátima. desafio marcam forte Marcha Dia 9 às 9h - Marcha presença. SETÚBAL Regional e Magusto, pelo Clube de Montanhismo da República, centro histórico Guarda; dia 16 às 9h - Subida Comemorações Vale de Sameiro em do S. Martinho Sameiro. LOCAL: dias 6,7, 8 - Praça da de Viana do Castelo. VISEU Nesta peça de Anton Fados com Jorge Costa, Tchekhov, cruzam-se Chouriço assado, Água Pé, LISBOA personagens onde Caldo Verde, Broa e Btt Teatro da Trindade sobressaem os medos, as Castanhas, nas Dia 9 às 8h - 9.ª Etapa do paixões, os ódios e a comemorações do S. Upand Down em Tonda, Sala Principal amizade que sentem umas Martinho, na Delegação Tondela. BOA NOITE MÃE - a partir do pelas outras. INATEL - dia 7 às 21h30. Dom. 16h TERRA DE FUGA – a partir do Atletismo Dia 16 às 15h - Magusto de Manuela Maria e Sofia Alves dia 26 | 4ª a Sáb. às 22h e Dia 9 às 10h – Corta-Mato na São Martinho em São integram o elenco da peça Dom. às 17h Moita; dia 15 às 10h – 3º Martinho de Orgens. “Boa Noite Mãe” de Marsha Dois criminosos um deles Norman. Um drama que acompanhado pela revela, sob a eminência de namorada, encontram-se na um suicídio anunciado, a Terra de Nod, no despontar relação familiar de duas de uma possível década de mulheres, mãe e filha, e a 50. Partilham o mesmo profunda crise que objectivo: esperam de um enfrentam. Padrinho a ordem de Magusto dia 1 // 5ª a Sáb 21h30 e Concertinas em Viana do Castelo execução para um crime. O PEQUENO POLEGAR – a Quem é a vítima? partir do dia 8 // Sab às 16h Inspirado no conto homónimo de Charles Teatro-Bar A FRAUDE – até ao dia 22 | NOV 2008 | TempoLivre 77 78_moradas_2008_198_soc:moradas.qxd 08/10/27 10:06 Page 78 Moradas SEDE Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 Lisboa Telf: 210 027 000 Fax: 210 027 027 e.mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt AGÊNCIA - LISBOA Arcadas do Palácio da Independência Rua das Portas de Stº Antão, nº 2/2ª 1150-268 LISBOA Tel. 213 431 150 DELEGAÇÕES E SUBDELEGAÇÕES ANGRA DO HEROISMO Beco do Pereira, 4 9701-868 ANGRA DO HEROISMO Tel. 295 213 407 /215 038 Fax. 295 212 233 [email protected] AVEIRO Av. Dr. Lourenço Peixinho,144/146 Edificio Oita - 4º E 3800-160 AVEIRO Tel. 234 405 200 / 207 Fax.234 405 208 [email protected] BEJA Casa Miguel Giacometti Rua Gomes Palma,11 7800 - 505 BEJA Tel. 284 318 070 Fax. 284 323 163 [email protected] BRAGA Av. Central, 77, 4710-228 BRAGA Tel. 253 613 320 Fax.253 214 202 [email protected] BRAGANÇA R. Alexandre Herculano, 111 - 1º, 5300-263 BRAGANÇA Tel. 273 331 653 Fax. 273 326 947 [email protected] CASTELO BRANCO Av. Nuno Álvares nº 4 6000-082 CASTELO BRANCO Tel. 272 001 090 Fax. 272 001 099 [email protected] COIMBRA R. Dr. António Granjo, 6 3000 - 034 COIMBRA Tel. 239 853 380 Fax.239 853 384 [email protected] COVILHà “Casa de Agostinho Roseta” Av. Frei Heitor Pinto, 16-B 6200-113 COVILHà Tel. 275 335 893 Fax.275 327 276 [email protected] SANTARÉM Prta. Pedro Escuro, 10-2º D 2000-183 SANTARÉM Tel. 243 309 010 Fax. 243 309 014 [email protected] ÉVORA “Palácio Barrocal” Rua Serpa Pinto, 6 7000-537 ÉVORA Tel. 266 730 520 Fax. 266 730 521 [email protected] SETÚBAL Praça da República 2900-587 SETÚBAL Tel. 265 543 800 Fax. 265 543 819 [email protected] FARO Casa Emílio Campos Coroa Rua do Bocage, 54 8004 - 020 FARO Tel. 289 898 940 Fax. 289 823 521 [email protected] VIANA DO CASTELO Rua de S. Pedro, 10 4900 - 538 VIANA DO CASTELO Tel. 258 823 357 Fax. 258 811 644 [email protected] FUNCHAL Rua Alferes Veiga Pestana, 1 L, sala 25 9050-079 FUNCHAL Tel. 291 221 614 Fax.291 228 147 [email protected] VILA REAL Av. 1º de Maio, 70-1º D 5000-651 VILA REAL Tel. 259 324 117 Fax. 259 372 592 [email protected] GUARDA R. Mouzinho da Silveira, 1 6300-735 GUARDA Tel. 271 212 730 Fax.271 215 779 [email protected] HORTA R. D. Pedro IV, 26 9900 - 111 Matriz-HORTA Tel. 292 292 812 Fax.292 293 147 [email protected] LEIRIA “Casa Miguel Franco” R. João XXI, 3-A r/c - Loja D 2410-114 LEIRIA Tel. 244 832 319/834 017 Fax. 244 834 735 [email protected] PONTA DELGADA Rua do Contador, 73-A 9500 - 050 PONTA DELGADA Tel. 296 284 684 Fax. 296 283 166 [email protected] PORTALEGRE Largo São Bartolomeu n.º 2 e 4 7300-101 PORTALEGRE Tel. 245 337 016/7/8 Fax. 245 207 569 [email protected] PORTO Casa “Jorge de Sena” Rua do Bonjardim, 495 4000-126 Porto Tel. 220 007 950 Fax. 220 007 999 [email protected] VISEU Rua do Inatel Urb. Quinta do Bosque 3510 - 018 VISEU Tel. 232 423 762/428 727 Fax. 232 423 781 [email protected] CENTROS DE FÉRIAS INATEL ALBUFEIRA Av Infante D. Henrique, 8200-862 ALBUFEIRA Tel. 289 599 300 Fax. 289 599 340 [email protected] INATEL CASTELO DE VIDE Rua Sequeira Sameiro, 6 7320 - 138 CASTELO DE VIDE Tel. 245 900 200 Fax. 245 900 240 [email protected] INATEL “UM LUGAR AO SOL” Av. Afonso Albuquerque S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 918 420 Fax. 212 900 051 [email protected] INATEL ENTRE-OS-RIOS Torre 4575-416 PORTELA PNF Tel. 255 616 059 Fax. 255 615 170 [email protected] INATEL FOZ DO ARELHO R Francisco Almeida Grandela, 17 2500-487 FOZ DO ARELHO Tel. 262 975 100 Fax. 262 975 140 [email protected] INATEL LUSO Rua Dr. Costa Simões 3050 - 226 LUSO Tel. 231 930 358 Fax. 231 930 038 [email protected] INATEL MADEIRA Madeira - Santo da Serra 9100-267 SANTA CRUZ Tel. 291 550 150 Fax. 291 552 227 [email protected] Tel. 271 776 016 Fax. 271 776 034 [email protected] INATEL MONTALEGRE Lugar de Penedones 5470-069 Chã/Penedones Reservas: 251 708 360/01 (Inatel Cerveira) [email protected] INATEL GAVIÃO 6040-999 Gavião Reservas: 245 900 243 (Inatel Castelo de Vide) [email protected] PARQUES DE CAMPISMO INATEL SERRA DA ESTRELA Manteigas, 6260-012 MANTEIGAS Tel. 275 980 300 Fax. 275 980 340 [email protected] INATEL CABEDELO Av. dos Trabalhadores Cabedelo 4900-056 Viana do Castelo Tel. 258 322 042 Fax. 258 331 502 [email protected] INATEL OEIRAS Alto da Barra - Estrada Marginal, 2780-267 OEIRAS Tel. 210 029 800 Fax. 210 029 840 [email protected] INATEL CAPARICA Av. Afonso Albuquerque S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 900 306 Fax. 212 911 553 [email protected] INATEL Stª. Mª. DA FEIRA Santa Maria da Feira 4520-306 SANTA MARIA DA FEIRA Tel. 256 372 048 Fax. 256 372 583 [email protected] INATEL PALACE Termas - São Pedro do Sul 3660-692 VÁRZEA SPS Tel. 232 720 200 Fax. 232 720 240 [email protected] INATEL CERVEIRA Lovelhe 4920-236 VILA NOVA DE CERVEIRA Tel. 251 708 360 a 62 Fax. 251 795 050 [email protected] INATEL PORTO SANTO Cabeço da Ponta 9400 PORTO SANTO Tel. 291 980 300 Fax. 291 980 340 [email protected] INATEL S. PEDRO DE MOEL Av. do Farol, 2430-502 MARINHA GRANDE Tel. 244 599 289 Fax. 244 599 550 [email protected] INATEL BRAGANÇA Estrada de Rabal, 5300-791 BRAGANÇA Tel. 273 329 399 Fax. 273 329 409 TEATRO DA TRINDADE R. Nova da Trindade 1200-301 LISBOA Tel. 213 423 200 Fax. 213 432 955 [email protected] PARQUE DE JOGOS 1º DE MAIO Av. Rio de Janeiro 1700-330 LISBOA Tel. 218 453 470 Fax. 218 473 193 [email protected] INATEL PIODÃO 6285-018 Piodão Tel. 235 730 100/1 Fax. 235 730 104 [email protected] PARQUE DE JOGOS DE RAMALDE Rua Dr. Aarão de Lacerda 4100-015 PORTO Tel. 226 184 684 Fax. 226 109 721 INATEL FORNOS DE ALGODRES 6370-401 VILA RUIVA ESCOLA DE PARAPENTE Linhares da Beira Tel. 271 776 590 79a82_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 10:16 Page 79 A chefe sugere | Inatel Piódão Docinho da Estalagem Isabel Moura N as encostas verdejantes da Serra do Açor, em que predominam as urzes, giestas, pinheiros, castanheiros e oliveiras encontramos, em plena harmonia com o espaço envolvente, a Estalagem do Piódão. A sugestão deste mês é a de um doce cremoso e de aroma intenso (fruto do café que lhe é adicionado), cuja receita foi criada na Estalagem. É uma sobremesa reconfortante que poderá ser o corolário perfeito de uma refeição feita com vista para a Serra e para a magnífica aldeia do Piódão. Mais uma vez, devido ao seu elevado valor energético e alto teor de gordura e açúcar, recomenda-se um consumo esporádico deste tipo de doçarias, reservando-as, preferencialmente, para ocasiões festivas. Prepara-se assim: Separam-se as gemas das claras. Batem-se as gemas com o leite condensado. Junta-se o leite, mexe-se e leva-se ao lume a engrossar. Coloca-se este creme num recipiente e cobre-se com bolacha Maria previamente molhada em café. À parte, batem-se as natas com o açúcar e juntam-se as claras em castelo. Coloca-se este preparado por cima da camada de bolachas. No final, coloca-se a refrigerar por algumas horas. Composição nutricional por pessoa (porção de 114 gramas): • 6,35 g de proteínas; • 15,11 g de gordura; • 27,87 g de hidratos de carbono; • 0,46 g de fibra; • 270,73 kcal Informações e reservas: Ingredientes para 15 pessoas: 6 ovos, 1 lata (395 g) de leite condensado, 4 dl de natas, 4 dl de leite meio gordo, 50 g de açúcar, 2 dl de café, 150 g de bolacha Maria. INATEL Piódão 6285-018 Piódão Tel: 235 730100/101 - Fax: 235 730104 Email: [email protected] NOV 2008 | TempoLivre 79 79a82_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 10:17 Page 80 79a82_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 10:18 Page 81 O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o Das palavras à hipnose e à morfina […] Nos dias serenos o espaço palpita, os sons são corpos transparentes, os ecos são visíveis, ouvem-se os silêncios. Manancial de presenças, o dia flui soberbo nas suas ficções. […] Otavio Paz, Rememoración (Segundo Tablero), in: Pasado en Claro, 1974 .Trad. M.A.V.F. N ão, hoje não vou escrever sobre a CRISE. Perdoe-me quem mo alvitrou, mas não vou escrever sobre a CRISE. Não sobre “esta” CRISE. Não hoje, que, carregando memórias, sulco a transparência do dia, ausente como sonâmbula divagando no negrume da noite, e que o vento aveludado de Outono espalha em redor um perfume antigo de violetas secas entre as páginas amareladas de um livro de encontros e perdas. Datas e sua ritualização. “O que é um ritual? – diz o Principezinho. – É uma coisa demasiado esquecida - diz a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente de todos os outros dias, que uma hora seja diferente de todas as outras horas. Se, por exemplo, vieres sempre às quatro horas da tarde, às três horas já começo a estar feliz. E quanto mais a hora avançar, mais feliz fico. Mas se vieres a qualquer hora, não sei quando preparar o coração. Temos necessidade de rituais.” Folheio o livro*, uma e outra vez. De tantas vezes lidas, ao longo de anos, as palavras adquirem uma força encantatória, quase hipnótica, e o espírito vai-se aquietando no entardecer de fogo. Na mitologia grega, Hypnos, deus do sono (Somnus, em latim) era irmão de Thanatos, a Morte, e filho de Nyx, a Noite, e de Erebo, deus das trevas infernais. Segundo a lenda, Hipno vivia num país de eterna escuridão e eterna neblina, numa caverna através da qual fluíam as águas do rio Lethes, o rio do esquecimento. Eternamente reclinado no seu leito, segundo uns, Hipno vivia rodeado pelos seus numerosos filhos – os Sonhos, o mais importante dos quais era Morfeu, ou, segundo outros, errava por sobre a terra, espalhando por sobre o homem inquieto um sono tranquilizador. Vez por outra, quando o pai dos deuses desejava intervir na vida dos mortais, Hipno induzia neles um sono profundo, aproveitado por Orfeu para, fazendo uso das sua faculdade de assumir formas humanas, lhes penetrar nos sonhos sob a forma da pessoa amada. A apetência da fuga à dor e à dureza da realidade não é própria apenas das sociedades modernas. De todos os tempos são as práticas mágicas, tendo por centro a palavra, e o consumo de substâncias analgésicas ou indutoras do sonho. O ópio, por exemplo, já era consumido oralmente por Sumérios, Gregos, Árabes e Egípcios, alguns milénios antes de Cristo. Como droga de elites, foi consumido entre nós, confessamente, entre outros, por Fernando Pessoa e Camilo Pessanha. Mário de Sá Carneiro interroga-se num dos seus poemas: “Que droga foi a que me inoculei?/ Ópio de inferno em vez de paraíso?” Em 1806, o farmacêutico alemão Friedrich Wilhelm Adam Sertürner (1783-1841) isolou o seu princípio activo, a que, pelos seus efeitos, deu o nome de morphium, morfina, em honra do deus dos sonhos. Por seu lado, em 1843, o cirurgião escocês James Braid, (1795-1860), em busca de um processo de indução nos doentes de um estado de transe semelhante ao sono, um processo de sugestão com que esperava poder viabilizar a cura de certas doenças, chama, no seu tratado Neuripnology, or the racionale of the nervous sleep, a essa técnica hipnotismo (mais conhecido no século XIX por Braidismo), de onde, mais tarde, surge o termo hipnose. Logo, se bem que, aparentemente, os termos hipnose (ou hipnotismo) e morfina não tenham qualquer relação, do ponto de vista linguístico, a verdade é que ambos têm, como raiz, o mesmo mito clássico e, como objectivo, o desejo gorado de regresso ao paraíso. Retomo o livro – um livro de encontros e de sobrevivência às perdas para todas as idades: palavras simples, com a força de um hipnótico. Eficazes e (quase) sem contra-indicações. Dentro de dias, os rituais de início de Novembro, rituais de rememoração, mesmo que o desejo seja de esquecimento. Como não creio na hipnose ou na morfina para regressar ao paraíso, também não creio em rituais (ainda que compreenda a sua necessidade, como explicada pela raposa). Creio, porém, nas palavras como “manancial de presenças”. E isso me basta, para que os dias fluam “soberbos nas suas ficções”. I Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho, 1943 – o livro francês mais vendido no mundo e a terceira obra literária mais traduzida no mundo, para 160 línguas. NOV 2008 | TempoLivre 81 79a82_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 10:18 Page 82 Crónica Tempestades Mário Zambujal A saraivada de granizo estoira de surpresa. “Raio de noite”, murmura Manuela, entre assustada e divertida com as pérolas de gelo que tamborilam no pára-brisas. “Ora, quem me mandou a mim?...”. Um impulso. Tudo programado para viajar ao nascer do dia, mas veio-lhe a súbita vontade de ganhar tempo. H á pouco tráfego na estrada serrana e estreita que tem fama de perigosa. E, com o temporal desabalado, a visibilidade é escassa. Resigna-se à marcha lenta e procura companhia na música do rádio. Irrompe a voz dilacerante de Linda Ronstadt: “Por uno amor”. Sorri. “O Filipe é louco por esta canção”. O Filipe. Ele vai admirar-se de a ver chegar a meio da noite, o combinado era o regresso pela hora de almoço. E se lhe telefonasse? Disparate, é uma da madrugada, já dorme. A quem vai ligar é à Noémia, mulher sonhadora e prática. Meio terra-a-terra, meio nas nuvens. Agora anda fascinada pelo tarot e insistiu em bisbilhotar o futuro amoroso da prima de Lisboa. “Não tarda, vai aparecer o homem da tua vida”, garantiu. “É alto, magro e joga xadrez”. Manuel riu com gosto. “Frio, frio, é baixote, gorduchinho e fotógrafo. Chama-se Filipe. E tem menos quatro anos do que eu”. Cessou o batuque do granizo mas a chuva persiste, violenta. “A quantos vou? Quarenta! Por este andar levo horas até encontrar a auto-estrada”. O toque musical do telemóvel. Quem, a esta hora? “Noémia! Eu prometo que te falo quando chegar a Lisboa. Nervosa? Mas porquê? Vou com todos os cuidados, tem juízo. Realmente está uma noite medonha mas hei-de chegar inteira. Dorme.” Pronto, não se deve usar o telemóvel enquanto se conduz, mas a uma velocidade de caracol e nesta solidão…”Não resisto. Acordo o Filipe, ele deve interessar-se pela aventura da namorada, 82 TempoLivre | NOV 2008 viajando sob um dilúvio numa estradeca de montanha.” Marca e aguarda um gemido ensonado. Nada. Desligado. Mas é natural e há-de estar em casa, apanha-o pela rede fixa. O quê? Errou na ligação, de certeza, o que ouve é uma voz feminina e alegre: “Estou!”. Vai dizer “desculpe, foi engano”, mas observa no visor que não se enganou. Hesita, balbucia, diz, por fim: “Suponho que liguei para casa do Filipe Renato.” Não pode jurar, mas pareceu-lhe notar ironia nas palavras da mulher: “O Filipe? Quer falar com o Filipe? Impossível, ele agora está no duche.” E desliga. Manuela sente a cara a escaldar como se a tivessem esbofeteado. Procura encostar o carro à berma sem resvalar para a valeta imprecisa. Ouve o motor de um automóvel, longe, perto, na curva, travões, e logo o embate terrível. Sacudida como uma marioneta, dobra-se por instinto para a direita, tentando evitar o impacto do volante, mas sente-o como se lhe esmagasse o ombro esquerdo. Acorda numa marquesa do hospital. Divisa silhuetas que se movimentam à sua volta. Vai retomando a consciência mas a lembrança das últimas palavras que ouviu também é dolorosa: “Quer falar com o Filipe? Impossível, ele agora está no duche”. Deixa escapar uma palavra – “garotelho!” – e soergue-se. Encontra o sorriso jovial de um homem de bata branca que tem boas notícias. “Nada de grave. Não há fractura”. Manuela respira fundo, solta um gemido mas tem agora uma preocupação maior: “E os outros? As pessoas do outro carro?” “Não há mais feridos”, sossega-a o médico. “Só há chapas amolgadas. E esse ombro, daqui a uns dias está como novo”. Ajeita, com os dedos abertos, o cabelo de Manuela, que sente o gesto como uma carícia. Observa-o. Terá os seus quarenta anos, é alto e magro. Manuela sorri e pergunta: “Desculpe, joga xadrez?” A surpresa desenha-se no rosto do homem, ao responder com outra pergunta: “Como adivinhou?”. I 83_Pub_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 10:25 Page 1 84_Pub_198_soc:sumario 154_novo.qxd 08/10/27 10:28 Page 1