UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESNVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ATUAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NA TERCEIRA IDADE CLÁUDIO LEVI DOS SANTOS PEREIRA Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho RIO DE JANEIRO 2003 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESNVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ATUAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NA TERCEIRA IDADE CLÁUDIO LEVI DOS SANTOS PEREIRA Monografia apresentada a Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Psicomotricidade. RIO DE JANEIRO 2003 DEDICATÓRIA Dedico esta monografia à todos da minha família, por estarem sempre do meu lado me dando forças para enfrentar qualquer jornada. AGRADECIMENTOS Agradeço aos professores da UCAM, com quem pude aprender não somente o conteúdo programático, mas também a paixão com que eles trabalham a sua profissão. E a todos os meus colegas de turma. “Como é que muitos indivíduos que possuem apenas habilidades limitadas conseguem atrair grande admiração pelos resultados extraordinários?” Kenneth Hildebrand RESUMO Psicomotricidade é uma ciência relativamente nova que, por ter o homem como objeto de seu estudo, engloba várias outras áreas: educacionais, pedagógicos e de saúde. Além disso, ela é uma terapia porque se dispõe a desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo. O objeto de estudo é o corpo e a sua expressão dinâmica, fundamentado por três conhecimentos básicos que o substanciam. A psicomotricidade para idosos, como parte do atendimento interdisciplinar à velhice, tem como objetivo maior à manutenção das suas capacidades funcionais. Envelhecer mantendo todas as funções não significa problema quer para o indivíduo ou para a sociedade. A presente monografia visou demonstrar a importância da psicomotricidade na 3ª idade: resgatando a imagem corporal . Foi observado que despertar o prazer em pessoas que por sua própria condição existencial apresentam situações de depressão e luto, não só pela perda de entes queridos, mas também pelas perdas provocadas pelo processo de envelhecimento e pelas relacionadas com o lugar social que ocupavam, é dar-lhes sentido de vida, quando pela lógica estão tão próximos da morte. Percebe-se assim a responsabilidade da sociedade, subjacente ao oferecimento de oportunidades de inserção da população idosa. Há necessidade de um movimento do próprio idoso no sentido de acolher as diferentes oportunidades oferecidas, mas cabe à sociedade desenvolvimento de programas que estimulem a população idosa o envolvimento que permita a busca da manutenção do seu nível satisfatório de funcionamento. 10 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................. ........1 CAPÍTULO I – A TERCEIRA IDADE AO LONGO DO TEMPO.......................................3 CAPÍTULO II – ALTERAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS NA TERCEIRA IDADE..............7 CAPÍTULO III – O IDOSO NA FAMÍLIA.........................................................................10 CAPÍTULO IV – O SISTEMA SOCIAL E O IDOSO.........................................................15 CAPÍTULO V – RECREAÇÃO NA TERCIRA IDADE.....................................................24 CAPÍTULO VI – A PSICOMOTRICIDADE.......................................................................27 6.1 - Desenvolvimento Motor...................................................................................30 6.1.1 – Imagem Corporal.....................................................................................31 6.2 - Desenvolvimento Psicomotor..........................................................................32 12 6.3 – A Psicomotricidade e sua Aplicabilidade.........................................................34 6.3.1 – Fatores e Subfatores Psicomotores..........................................................34 CAPÍTULO VII – ATIVIDADES PSICOMOTORAS........................................................38 7.1 – Aplicações........................................................................................................39 CAPÍTULO VIII - PSICOMOTRICIDADE E ENVELHECIMENTO...............................41 8.1 – Terapia Psicomotora.........................................................................................43 CONCLUSÃO................................................................................................................ ......45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................46 ANEXO........................................................................................................................... ......47 INTRODUÇÃO Envelhecer não é caducar. Não é julgar-se perto da cova, perto do fim, perto da morte. Nem é simplesmente perder a memória, esquecer as boas lembranças e as doces recordações. Nem as estripulias de criança, os passos da adolescência, as aventuras do passado. Pelo contrário, conservam-se essas reminiscências sem pranto e sem dor, sem tristeza e sem angústia; o percurso da idade não faz ficar velho. Mas 13 conservar-se intimamente moço, psicologicamente jovem, forte e feliz recordando os sonhos e as aventuras, as amizades e os amores, os problemas que enfrentou e as esperanças que lhe davam asas de beija-flor (ASSIS, 1998). E então pensava no futuro, na expectativa de ser um vencedor contra as dificuldades e nas perspectivas de garantir uma boa vida, uma vida tranqüila e vitoriosa, uma vida sem sustos e sem pesadelos, uma vida sem amarguras. Uma vida, enfim, mesmo difícil paradoxalmente, porém fácil de ser vencida, fácil de superada, fácil de ser resolvida nos problemas que se apresentassem. Recordando a mocidade perene que há dentro de cada figura humana, qualquer que seja a sua idade: "Tem cada idade a sua juventude". Envelhecer é uma forma de viver permanentemente jovem, mesmo que os anos e os fatos abram rugas na face e amor e apego à existência. Bueno (1998) relata que a psicomotricidade constitui o estudo relativo às questões motoras e psico-afetivas do ser humano. A mesma seria o ponto de encontro entre a expressão motora (o que a pessoa faz) e a característica pessoal-emocional de cada ser humano (o que a pessoa sente). Esta pesquisa vem mostrar através da psicomotricidade o resgate da imagem corporal de pessoas da 3ª idade, com objetivo maior de oferecer adequadas experiências corporais, para que ela chegue à percepção de si mesma e da relação que pode ter com o espaço físico e humano que a rodeia. Este estudo consiste na descrição da psicomotricidade que tem por objetivo desenvolver aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia, de pensar seus gestos a fim de aumentar a eficácia e a estética, de completar e aperfeiçoar seu equilíbrio. 14 Aborda também a descrição do idoso, na qual relata que à medida que as pessoas envelhecem, os comportamentos e as atividades que promovem a saúde requerem maior atenção, segundo Ferreira (2000). A população da terceira idade é um grupo mais diversificado do que qualquer outro grupo etário, fato que se deve às diferenças em relação às experiências ao longo da vida e a influência do meio ambiente. Essa população apresenta grande diferença no que diz respeito à saúde e o grau da atividade. A psicomotricidade dispõe de conhecimentos básicos necessários para trabalhar com essa população, melhorando seu comportamento, visando um envelhecimento mais saudável. 15 CAPÍTULO I A TERCEIRA IDADE AO LONGO DO TEMPO O envelhecimento é uma preocupação constante do homem em todos os tempos. Em nossa sociedade o homem rejeita o envelhecimento, não se conformando com a sua evidencia. A terceira idade desperta sentimentos negativos, como a piedade, o medo, e o constrangimento (VIEIRA, 1996). A imortalidade e a eterna juventude são sonhos míticos do homem. A eterna juventude está sempre relacionada com a felicidade plena. A procura da fonte da juventude é assunto nos mais antigos escritos. A mitologia está repleta de seres imortais e a Bíblia cita com freqüência seres de grande longevidade. O livro da gênese fala que após o Dilúvio as pessoas passaram a viver mais. Vários poetas gregos escreveram sobre a longevidade. Hesíodo (poeta grego que viveu no oitavo século A.C.) descreveu uma raça dourada, constituída por um povo que vivia centenas de anos sem envelhecer, e que morriam dormindo quando chegasse o seu dia. Os gregos acreditavam existir um povo que vivia em terras longínquas ao norte e que vivia milhares de anos.... Aristóteles (filósofo grego) e Galeno (médico grego, 129-199 AD) acreditavam que cada pessoa nascia com certa quantidade de calor interno que iria se dissipando com o passar dos anos considerando então a terceira idade o período final desta dissipação de calor. 16 Aristóteles (384-322 AC, o mais influente filósofo do pensamento do mundo ocidental) sugeria o desenvolvimento de métodos que evitem a perda de calor, o que prolongaria a vida, dando um certo cunho científico ao problema. A maioria dos povos sempre apelou para a fantasia quando procuravam a fonte da juventude. Alguns pensaram encontrar a juventude em longínquas ilhas, outros em rios caudalosos, alguns em extratos especiais de testículos de cães, e outros em ser a longevidade dependente de uma vida reta e disciplinada (VIEIRA, 1996). Na China o taoísmo preconiza o encontro do "verdadeiro caminho" que seria viver tanto até se tornar imortal. Para isto aprende-se a conservar as energias vitais, como por exemplo mantendo-se o controle da respiração, alimentando-se de frutas e raízes, evitando-se a carne e o álcool, e procurando mudança do comportamento sexual, preconizando-se trocar a ejaculação pela meditação. No século 16 começaram a aparecer os primeiros trabalhos científicos que estudam a terceira idade. A partir de então passaram a surgir inúmeros tipos de poções e dietas especiais que prolongariam a vida. Cientistas famosos como Descartes, Bacon e Benjamim Franklin, acreditavam que a terceira idade seria "vencida" pelo desenvolvimento científico. O primeiro trabalho científico sobre a terceira idade foi escrito por um médico francês no século 19 (Jean Marie Charcot, em 1867) com o nome de "Estudo Clínico sobre a Senilidade e Doenças Crônicas”. Este autor não se preocupou com a imortalidade e sim procurou destacar a importância de se estudar o processo de envelhecimento, suas causas e suas conseqüências sobre o organismo. Ilya Ilyich Metchnikov (1845-1916), cientista russo, prêmio Nobel de Medicina de 1908, acreditava que o processo de envelhecimento era resultado de venenos produzidos no intestino grosso pela deterioração dos alimentos. Preconizava a ingestão regular de leite ou iogurte e o hábito de se usar laxantes com freqüência, hábitos que deveriam esterilizar o intestino. 17 Inúmeras são as substâncias que se tornariam famosas por pretenderem ter o poder de diminuir o processo de envelhecimento. O "Gerovital" (à base de novocaína e ingredientes ditos “secretos”) ficou conhecido mundialmente graças ao trabalho desenvolvido pela medica romena Ana Aslan. Além do Gerovital outros métodos "científicos" foram desenvolvidos durante o século XX, como o transplante de testículo de macaco ou de carneiro para o homem, ou a injeção de células de embrião de carneiro. Técnicas de resfriamento do corpo também foram desenvolvidas com o objetivo de se estancar o processo de envelhecimento, ou ainda manter o corpo congelado até o dia da descoberta da "cura" para a terceira idade. Surgiu ainda o método da quelação, que através de determinadas reações químicas provocadas por medicação (denominada EDTA), que ao ser introduzida no organismo, retiraria substâncias que acelerariam o processo de envelhecimento, como os radicais livres. O recente aparecimento da denominada “Medicina Ortomolecular” nada mais é que um método terapêutico que vê na eliminação de radicais livres um meio de desacelerar o processo de envelhecimento, e para tal usa doses elevadas de substâncias químicas, principalmente vitaminas. O uso de doses elevadas de vitaminas, principalmente A, C e E associada à utilização de hormônios (do crescimento e da glândula suprarrenal) poderiam também levar ao rejuvenescimento. Infelizmente nenhum destes métodos terapêutico pôde ser cientificamente comprovado quanto à sua eficiência. Recentemente surgiram trabalhos científicos que sugerem que processos que diminuem a velocidade do metabolismo do organismo poderiam desacelerar o processo de envelhecimento. Os estudos específicos sobre o envelhecimento das 18 células e sobre os seus aspectos genéticos atualmente ocupam grande parte das pesquisas sobre o envelhecimento (VIEIRA, 1996). O desejo de controlar o envelhecimento é um anseio legítimo e sem dúvida faz parte da busca pela felicidade. A decadência de nosso corpo pode nos trazer a infelicidade, sendo que a consciência de sua finitude pode gerar a depressão. A rejeição à terceira idade é um mecanismo de defesa natural do homem. A aceitação da terceira idade como uma realidade e a compreensão de que se pode ser plenamente feliz em qualquer idade é o caminho correto para se evitar a infelicidade. 19 CAPÍTULO II ALTERAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS NA TERCEIRA IDADE Para Papaléo Neto (2000), no que tange às mudanças, biologicamente pode ser considerado um período de involução. Primeiramente as reservas orgânicas são diminuídas. A relação com o meio torna-se muito sensível, o corpo fica suscetível às intempéries climáticas, infecciosas, físicas e químicas, o esforço é mais difícil, as necessidades alimentares mudam (a quantidade de ingestão diminui), o ritmo do sono é alterado, a sexualidade é alterada e a prática diminuída também. Ao nível do sistema nervoso ocorre uma diminuição em peso e volume do cérebro e conseqüente deterioração intelectual, interferindo na performance e coordenação sensório-motora. O indivíduo passa a ter dificuldade de adaptação a situações novas e tanto a visão como a audição é afetada com o envelhecimento. Em relação às qualidades motoras básicas, essa deteriorização não é a mesma quando o indivíduo executou atividade física anterior e periódica. Ocorre, é claro, uma redução da capacidade de aprendizagem, tornando-se mais lenta. No aspecto motor há um agravamento de suas qualidades motoras básicas como agilidade, destreza, velocidade e força. Há menos massa muscular e diminuição do tônus, podendo emergir a atrofia muscular. A postura corporal é modificada, com o curvamento gradativo do corpo para frente e o achatamento das cartilagens intervertebrais, ocasionando a redução da estatura do indivíduo. O número e o tamanho das fibras musculares vão diminuindo, embora os músculos propriamente ditos permaneçam basicamente em boas 20 condições até uma idade bastante avançada. A flacidez aumenta, devido ao acúmulo de gordura na região subcutânea e os ossos tendem a perder cálcio e a se tornarem quebradiços. As capacidades cardiovascular e respiratória ficam agravadas com o aumento do sedentarismo. Durante a expiração, as pessoas idosas retêm mais ar nos pulmões e a troca gasosa fica deficitária, incidindo nessas capacidades. Os vasos sangüíneos estão menos elásticos e mais estreitos, aumentando a resistência ao fluxo sangüíneo, podendo ocasionar a hipertensão. Percebe-se que o sistema renal não funciona com a mesma eficiência, podendo essa dificuldade ser reduzida com a atividade física. Contudo, dando ou não a forma e as condições para que o envelhecimento seja normal, ainda que o tempo de vida se prolongue, ainda que as pessoas idosas encontrem proteção e segurança, o ser humano fatalmente morrerá. A morte é o fecho de um ciclo que começa com a separação do indivíduo do mundo intra-uterino pelo nascimento e que termina com o retorno simbólico a um estado de paz e silêncio. Assis (1998) afirma que a velhice não precisa necessariamente ser um período de declínio e decadência e, quando saudável, é uma fase natural da existência, com possibilidade de renovações, mudanças e realizações. Com o advento de inúmeros medicamentos que permitiram maior controle e tratamento mais eficaz das doenças infecto-contagiosas e crônico-degenerativas, aliadas aos avançados métodos diagnósticos e ao desenvolvimento de técnicas cirúrgicas cada vez mais sofisticadas e eficientes, houve aumento significativo da expectativa de vida do homem moderno. Há necessidade de se buscar a visão da educação permanente para a terceira idade. Entende-se como educação permanente, a capacidade ininterrupta de aperfeiçoamento educacional em direção a alguma meta atingível enquanto busca constante de uma situação melhor, divorciado da noção de resultados definitivos e voltada sempre para o alcance de uma situação ideal, que sabemos, é inatingível. 21 Pautados nessa filosofia e nas condições que possam contribuir para uma boa caminhada na terceira idade, a reeducação corporal é fator fundamental para o bem-estar desse idoso, a fim de que o indivíduo envelheça de maneira que suas articulações estejam suficientemente, sua sensibilidade aflorada, para que este possa aproveitar esse momento de vida tão especial, em que o ser humano deveria sempre ser premiado com o lazer e a sabedoria, já que trabalhou sua vida inteira para a conquista de um espaço melhor no final de sua vida. Agora, não é mais reconhecido pela beleza, elegância e profissão. Agora a identidade nascerá de dentro para fora, a beleza será reflexo da harmonia consigo mesmo. Pessoas bonitas na terceira idade e demonstram. Têm rugas, trazem as marcas do tempo no corpo e no ritmo em que se movimentam: sua beleza nasce do impulso vital que transparece e lhes garante seu lugar no mundo (VIEIRA, 1996). As evidências demonstram que o melhor modo de otimizar e promover a saúde no idoso é prevenindo seus problemas médicos mais freqüentes, para isso vários estudos tem documentado que um estilo de vida, considerado saudável, deve incluir exercícios regulares, uma nutrição sadia, ingestão moderada ou abstenção de álcool, participação em atividades significativas, tempo adequado de sono e abstenção do fumo. 22 CAPÍTULO III O IDOSO NA FAMÍLIA No ano de 1987, em Conferência realizada em Roma , por ocasião do Congresso Internacional da Família, o professor Pedro Juan Villadrich se manifestou a respeito do tema da seguinte forma: "a família era imprescindível em sociedades do passado porque cumpria nelas importantes funções políticas, econômicas, religiosas, educativas, sendo a única unidade reprodutora da espécie com caráter estável e institucional. Os laços familiares foram suporte para alianças políticas, econômicas e culturais; a maioria dos serviços sanitários, de segurança social e assistenciais que hoje assume o Estado foram em alguma época executados pela família" (VILLADRICH apud VIEIRA, 1996: 19). A família, como vimos, representava no passado um significativo papel. Era uma instituição fundamental na vida das diferentes sociedades, sendo ela a transmissora de uma ideologia dominante, como centro de abertura do ser humano para o mundo, desempenhando portanto o importante papel de agente socializador. Este diagnóstico tem um verdadeiro sentido, se considerarmos que o ser humano tem a família como sendo o seu primeiro habitat natural e, portanto, é nesta que se processam seus primeiros contatos; é conhecido integralmente e adquiri os seus primeiros conhecimentos a respeito de si mesmo, da vida e, em conseqüência, se 23 conscientiza sobre os papéis e funções familiares e sociais que tem a desempenhar ao longo de sua existência. Embora reconheçamos a importância da família na formação, desenvolvimento e equilíbrio biopsicossocial do ser humano, devemos igualmente admitir, que o somatório vivencial, representado pela história de vida, assim como as possibilidades de viabilização do intelecto cultural e espiritual em família vêm ao longo do tempo perdendo o seu significado para a maioria das sociedades, especialmente para aquelas que orientam-se pelo regime capitalista. Sem dúvida a perda de significados dos papéis e funções concernentes à família tem desencadeado alterações biopsicossociais significativas nos indivíduos, sobretudo nos idosos, porque ao se afastarem da vida produtiva, além de perderem seu poder econômico, político e social, os idosos sofrem, em conseqüência, o desprestígio no seio da própria família. Diante de sucessivas perdas, o idoso pode chegar ao isolamento, quer por vontade própria ou por imposição familiar, pois, o fato de ter menos ocupações para com a sociedade, ou ser menos solicitado pela família, o faz sentir-se um indivíduo improdutivo, induzindo-o, por conseguinte à perda do seu próprio poder de decisão. Partindo desta análise, verificamos que a família exerce grande influência na perda de autonomia do idoso, levando-o a sentir-se dependente. Além disso a própria família se acha no direito de lhe ditar ordens e de fazer exigências como: deixar de sair sozinho, deixar de trabalhar e de praticar diversas atividades. No texto Envelhecimento Social, Motta analisa que: "a infância e a juventude são períodos de aprendizagem de diferentes papéis, quando estes papéis começam a diminuir ou a perder importância, o status alcançado é diretamente atingido, o indivíduo que desempenha tarefas progressivamente começa a ser valorizado pelo que foi. Os jovens dizem "meu avô foi...", os adultos também se utilizam dos verbos no passado, e os idosos começam a lembrar "eu era...", "eu fazia..." ( ASSIS, 1998: 62). 24 Esses dizeres traduzem a tristeza que sentem alguns idosos de não mais serem alguém, não mais realizarem alguma atividade, não mais poderem contar com a companhia de antigos parceiros. Para alguns estudiosos o viver no passado pode significar tentativas feitas pelos idosos no sentido de amenizarem angústias que a realidade do presente lhes provocam, pois ao se sentirem excluídos do meio social, começam a se afastar das atividades grupais, sendo este um dos fatores que levam a família assumirem tarefas dos seus cuidados. Segundo Ferreira (2000), ao refletir sobre as condições dos idosos que residem com suas famílias, muitas vezes verificamos que esses geralmente não encontram espaço para a sua acomodação, requerendo dos seus familiares esforço de compreensão e um desejo de colaboração nem sempre compatíveis com as suas reais possibilidades, porque os que vivem sob o mesmo teto quase sempre se vêem constantemente pressionados a renunciar a legítimos anseios de conforto e privacidade. O contínuo mal estar entre idosos e familiares, pode levar a revolta e a outras reações inadequadas, porque na maioria dos casos o idoso que reside com a família, divide o quarto com neto (s), sem desfrutar de um ambiente onde consiga relaxar, assistir TV, ler, etc., tendo sempre que se adaptar aos horários dos companheiros de quarto. Em geral esse fator ocasiona profundos conflitos familiares, pois a privacidade embora não seja ou não possa ser respeitada, na realidade trata-se de uma necessidade natural dos indivíduos, especialmente da maioria dos idosos que almejam tranqüilidade. Por outro lado, quando os idosos moram sozinhos, com freqüência emergem atitudes negativas frente à velhice atribuídas aos sentimentos de solidão e abandono em que vivem levando-os ao processo de morte social, pelo total afastamento da vida em sociedade. Assim sendo, podemos verificar que na maioria dos casos a velhice acarreta uma diminuição da capacidade de adaptação e aceitação dos indivíduos e isto crialhes dificuldades para que possam administrar novas situações, como a viuvez, a presença de problemas financeiros, etc. até a total incapacidade adaptativa, mesmo a situações simples como o sair de casa para um passeio. Essa diminuição progressiva 25 da capacidade adaptativa do idoso à novas situações ou às variações sociais aumentam sua dependência do ambiente familiar, caracterizado pelo idoso, como um local seguro, que proporciona-lhe estabilidade e proteção. Apesar do ambiente familiar representar um porto seguro para os idosos constatamos que, pelo fato de atualmente as famílias tenderem a ser nucleares, constituída apenas por pais e filhos, já não há mais espaço para os avós idosos ou colaterais. É evidente que nestas condições, a assistência ao idoso pode se tornar difícil, podendo chegar à sua institucionalização, gerando portanto o desequilíbrio biopsicossocial deste indivíduo, pois como diz Ferreira: "O tipo de acolhimento, de atenção, de segurança oferecida, de participação nas decisões familiares, resultam em equilíbrio (...) a convivência intergeracional, as relações de amizade, de vizinhança de grupos sociais, são fontes energizantes para o longevo" (FERREIRA, 2000:158). A inadequação do acolhimento a idosos em instituições asilares pode ser melhor compreendida se atentarmos para a colocação feita pelo articulista Marc Lesson, que em uma matéria publicada no jornal Le Monde (1986), descreveu os asilos não somente como um local de amontoamento dos velhos, como também, um campo de tortura regulamentada, limpa e silenciosa. A denominação "tortura", diz o autor, deve chocar a muita gente, porém é necessário que se saiba que a vida de muitos idosos asilados é um estado completo de solidão. Instalados numa enfermaria, cujos leitos são separados por cortinas, ou num boxe de alguns metros quadrados, com uma pequena vasile e um armário, tem aí fechado a cadeado todo o seu passado. Não recebem ninguém e não têm personalidade, exceto os apelidos de "vovó" ou "vovô". No que tange à realidade brasileira, o asilamento pode ser um instrumento aceitável para casos de total dependência do idoso, principalmente para aqueles que não possuem familiares e apresentam poucas chances de recuperação. Deve ser um serviço restrito a uma população especial, cuja carência biopsicossocial determine-o 26 como último ou único recurso de assistência. Porém, por falta de recursos financeiros no meio em que vivemos, muitos idosos independentes têm recorrido aos asilos, em busca de assistência ou visando combater o isolamento (BALLONE, 2002). Conclue-se então, defendendo a permanência do idoso na família e, ainda, que este não deve ser tratado como um ser diferente dos demais, porque apesar das suas limitações, é um ser como outro qualquer, devendo portanto ter plenos direitos para o exercício de sua humanidade de acordo com as suas potencialidades. Se considerarmos que o futuro do mundo depende de todos os grupos humanos, devemos portanto admitir que através do contato intergeracional todos aprendem, produzem e somam realizações. Além disso, também acreditamos que os que são idosos podem continuar o processo, apoiando as realizações de todos os grupos em muitos setores da sociedade, pois como afirma Lesson: "Se a sociedade inventou a velhice, devem os idosos reinventar a sociedade" (LESSON apud ASSIS, 1998:58) . Acredita-se portanto que o apoio familiar é imprescindível ao equilíbrio biopsicossocial do idoso, porque favorece um envelhecimento útil e participativo, cabendo à sociedade a responsabilidade de redefinir, sócio e culturalmente o significado da velhice, possibilitando a restauração da dignidade para que esse grupo etário se sinta apoiado no sentido de lutar pelos seus direitos. 27 CAPÍTULO IV O SISTEMA SOCIAL E O IDOSO Como fenômeno universal, o envelhecimento populacional levou a Organização das Nações Unidas – ONU, promover em Viena no ano de 1982 uma Assembléia Mundial para discutir a cerca de questões voltadas para o envelhecimento, analisando o indivíduo inserido no contexto social e abordando aspectos fisiológicos do seu desenvolvimento. Nesse encontro reuniram-se especialistas de diversas áreas científicas e de vários países, entre os quais o Brasil, reconhecendo, então, a importância de um estudo direcionado à população idosa, que durante muito tempo ficou relegada ao esquecimento (SOUZA e PIMENTEL, 1997). Segundo a ONU, os estudos epidemiológicos, realizados por Luiz Roberto Ramos do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina; por Renato Veras, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Rio de Janeiro e por Alexandre Kalache da London School of Hygiene end Tropical Medicine, publicado na Revista de saúde pública, USP (1987, 1988 e 1989) mostram que o mundo está em profunda transição demográfica. Esses estudos indicam que os países do Terceiro Mundo serão aqueles que sentirão mais drasticamente estas transformações de ordem sócio-econômica, política e cultural, pois os idosos deixarão de ser uma minoria e passarão a representar um número bastante expressivo na população mundial, com o conseqüente aumento da população inativa, que ultrapassará em número a população economicamente ativa. Dados projetados pela World Helath Statistics Annvals no ano de 1982 indicam que o Brasil que era considerado em 1950, o 16º país do mundo em 28 população de idosos, no ano de 2025 será a 6ª nação com maior número de idosos em todo mundo, pois terá aproximadamente 32 milhões de pessoas com 60 ou mais anos de idade (SOUZA e PIMENTEL, 1997). Um dos fatores para que o crescimento populacional atinja idade mais avançada é decorrente das conquistas tecnológicas e da medicina moderna, que conduziram ao longo dos últimos 50 anos, meios que tornaram possível diagnosticar, prevenir e curar muitas doenças fatais do passado, aumentando assim a expectativa de vida e, conseqüentemente, reduziram a taxa de mortalidade verificada na maioria dos países, principalmente daqueles considerados subdesenvolvidos. Aliado a esse fator temos a redução das taxas de natalidade e a queda da mortalidade infantil, fazendo com que a proporção de adultos aumente. No intuito de buscar melhoria das condições de saúde e de vida dos idosos e de se conhecer os diversos aspectos biopsicossociais que envolvem o processo de envelhecimento, algumas ciências vêm se desenvolvendo, a exemplo da Gerontologia e Geriatria. Assim, como diz Vieira (1996), enquanto a gerontologia estuda o envelhecimento, do ponto de vista médico social; a geriatria é a ciência que cuida das pessoas idosas com uma noção unicamente médica e se aplica ao domínio da patologia. Consideramos importante ressaltar que estudos da velhice encontram-se divididos entre a Geriatria e Gerontologia desde as suas origens. Embora estivessem inicialmente vinculados à biologia do envelhecimento, mais precisamente à medicina, foi na década de 1940 que começou-se a fazer distinção entre a área médica e a área não médica, tendo como fundamento de estudo e de prática clínica a faixa etária. Vemos, portanto, que profissionais de todas as especialidades ligados ao estudo da velhice começaram a se organizar em sociedades científicas. No Brasil, por exemplo, temos a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (S.B.G.G.), fundada em maio de 1961 no Rio de Janeiro. A S.B.G.G. é um organismo científico, vinculado à Associação Médica Brasileira, que opera em nível nacional. Sua 29 contribuição tem sido apreciável na capacitação de profissionais para ambas as áreas, levando a questão da velhice para debate aberto, em diferentes oportunidades, a partir de cursos, seminários, jornadas e congressos (SOUZA e PIMENTEL, 1997). Para a S.B.G.G., a saúde dos idosos merece a mesma atenção que recebem as crianças, consideradas como um público especial e prioritário. A S.B.G.G. também concorda que a atenção dedicada à velhice deve ir além do enfoque puramente patológico e deve abarcar a totalidade do bem-estar do idoso levando em conta a interdependência dos fatores físicos, mentais, sociais e ambientais, porque considera que a evolução biológica do ser humano é afetada decisivamente por estes fatores que podem encurtar ou promover o prolongando a vida. Sabemos que biologicamente os seres vivos percorrem o ciclo de vida do nascimento até a morte; quando somos crianças ou jovens tendemos a considerar velhos nossos pais de 30 ou 40 anos; entretanto, o conceito que tínhamos de um indivíduo de 50 anos mudou, pois, hoje, tendemos a considerar adultos e velhos, indivíduos de 60, 70 ou mais anos de idade. Portanto, devemos diferenciar idade biológica, da idade cronológica e da idade social, para que possamos compreender o significado de ser idoso nos dias atuais. Sendo assim, com base em diversos autores que retratam os estudos do envelhecimento, ressaltamos a opinião de Assis (1998), que afirma que o envelhecimento inicia-se após a fecundação, pois no organismo de um indivíduo inúmeras células envelhecem, morrem e são substituídas antes dele nascer. Apesar de toda essa discussão, a Organização Mundial de Saúde considera a idade de sessenta e cinco anos, como limite inicial, caracterizador da velhice, enquanto a ONU a considera a partir dos 60 anos de idade. Mediante estas considerações da OMS e ONU surgem apreciações e imagens negativas para esta etapa do ciclo da vida. Na antigüidade, por exemplo, o ciclo da vida humana já esteve comparado com as estações do ano, e a velhice era descrita como inverno sombrio, frio e improdutivo, insinuando incapacidade para esse tempo de vida. 30 A velhice deve ser entendida por um conceito abstrato, muito embora assuma características comuns originadas das condições físicas e dos próprios limites impostos pela sociedade. De qualquer forma, entendemos que: "Envelhecer é uma propriedade particular, com vivências e expectativas específicas que não reduzem a responsabilidade de vida e participação ativa no processo social, pois, mesmo velho o indivíduo continua membro da humanidade" (PAPALÉO NETO, 2000:4) Neste século, envelhecer tem sido para o homem um processo extremamente desagradável, porque o indivíduo começa a sentir que em muitos aspectos biológicos e sociais não é mais o que costumava ser; por conta disso, muitos chegam a pensar que a velhice é sinônimo de doença, fraqueza e inutilidade. Logo, a velhice é considerada má pela maioria das pessoas idosas, porque pensam não poder mais ser criativas e, em conseqüência, se privam de muitas atividades normais, por medo de fracasso ou censura. É esse medo que faz com que algumas pessoas procurem negar o seu envelhecimento, gerando "o envelhecimento social que é o resultado de uma série de ocorrências por vezes alheias à vontade dos que nelas estão envolvidos, acarretando freqüentes e desfavoráveis mudanças" (PAPALÉO NETO, 2000:26). Toda essa ideologia, que é internalizada pelas pessoas idosas, é fruto da política de desenvolvimento das sociedades capitalistas industrializadas e urbanizadas, que sempre tiveram mais interesse pela população jovem, economicamente produtiva, do que pela população idosa, a quem consideram incapaz e economicamente inativa. Se por um lado o crescimento proporcional de idosos numa população é um elemento de alto significado para elaboração de políticas sociais, por outro, a idade mais avançada, tem um custo social elevado, na medida em que determina por mais tempo a manutenção do salário-aposentadoria e a necessidade de equipamentos institucionais específicos. Além disso, o investimento numa criança tem um retorno potencial de 60 anos ou mais de vida útil, produtiva, enquanto que os amplos 31 cuidados médico-sociais na tentativa de manutenção do idoso com uma vida saudável não podem ser encarados como um investimento. Sabendo que a Organização Internacional do Trabalho - OIT acusa para o ano 2020, nos países industrializados, a existência de cerca de 270 milhões de pessoas inativas, com mais de 55 anos, significando portanto 38 idosos aposentados para cada 100 cidadãos ativos, nasce a necessidade de profundas transformações sócio-econômicas, visando possibilitar melhor qualidade de vida aos idosos e àqueles que se encontram em processo de envelhecimento. Porém, devemos salientar que os países do Terceiro Mundo estão longe de alcançar esse objetivo, pois, além de serem política e economicamente dependentes de outras nações, possuem uma política protecionista que privilegia os indivíduos economicamente favorecidos em detrimento da maioria (SOUZA e PIMENTEL, 1997). A inatividade profissional dos indivíduos considerados idosos acarreta uma profunda mudança em relação a um estilo e ritmo de vida, exigindo grande esforço de adaptação, visto que parar de trabalhar significa a perda do papel profissional, a perda de papéis junto à família e à sociedade. A interiorização emocional dessas perdas, socialmente significativas para todos os homens, na maioria das vezes determina um certo afastamento destes da sociedade. Por outro lado, o distanciamento do aposentado da convivência com diversos grupos, concomitantemente, faz com que a sociedade também se distancie do aposentado, não o convocando para participar, e não reconhecendo a sua existência social. Em decorrência desses fatores e das exigências do mundo moderno, vem, quase sempre, como conseqüência natural, o isolamento social do velho. Sem dúvida este processo provocará o impacto da sociedade que terá que enfrentar este desafio com muita agilidade (SOUZA e PIMENTEL, 1997). Sabemos que ao longo de nossa existência somos submetidos a um processo educativo, que nos induz a um engajamento contínuo, seja pela atividade profissional ou pelos grupos sociais aos quais pertencemos. Nos responsabilizamos com a sociedade, adquirindo papéis voltados para o trabalho e para a família; entretanto, com o decorrer do tempo, aos poucos perderemos essa autonomia social, 32 principalmente com o advento da aposentadoria. A partir desse momento geralmente nos sentimos limitados em formular novos projetos de vida, porque não nos preocupamos ou não fomos estimulados a descobrir ou investir em novos papéis. Como diz Guillermard: "Para se encontrar novos papéis e se desenvolver atividades durante a aposentadoria é preciso estar ativo e poder mobilizar recursos (...) Quem não acumula recursos encontra a morte social na aposentadoria, sendo uma espécie de marginalizado, não descobrindo fórmulas de transformar o tempo livre em projetos sociais" (GUILLERMARD apud ASSIS, 1998:58). Sem dúvida acreditamos que a interrupção da vida do trabalho pela aposentadoria resulta na desorganização individual e pessoal, porque o excesso de tempo livre, aliado à pobreza das tarefas e ocupações cotidianas, sem a presença das funções da atividade profissional, levam o indivíduo a sentir-se em desigualdade perante aqueles que ainda trabalham, sem falar das dificuldades para a manutenção de relacionamentos sociais construídos naquele ambiente. Com isto o aposentado se sente isolado, favorecendo a perda de suas capacidades intelectuais e conseqüente desatualização em relação ao próprio mundo. Estas observações nos levam a concluir que a aposentadoria representa um perigo para todos aqueles que não encontram-se preparados para o afastamento das atividades produtivas, ameaçando o equilíbrio emocional e a continuidade harmônica da própria existência desses indivíduos. Sem que percebam ao tornarem-se inúteis esses indivíduos acabam reforçando a consciência negativa que a sociedade tem a respeito da aposentadoria e do próprio envelhecimento. Isto nos obriga a considerar a necessidade de ações educativas ou de propostas que ajudem os indivíduos a se preparem, para que possam valorizar o tempo livre decorrente da aposentadoria, pois, como diz Ferrari: "Para se descobrir a capacidade de enfrentamento desta dimensão de tempo é preciso inicialmente redistribuí-lo e reorganizá-lo, continuando os 33 projetos de vida com criatividade, energia, iniciativa, com projetos que dêem ritmos e significado à vida para não cair no vazio, no rotineiro" (FERRARI apud ASSIS, 1998: 62). Esse processo de redefinição da vida a partir do próprio envelhecimento ou da aposentadoria resulta no despertar das pessoas idosas para os valores do lazer, com dimensões socialmente produtivas, capazes de reagrupar as diversas funções sociais que ao longo da vida ativa se distribuíam entre o trabalho, a sociedade e a família. Por outro lado, preparar-se para o envelhecimento significa conhecer o processo natural da velhice, seus limites reais, rompendo os preconceitos, no sentido de se reduzir o processo de perda da auto-estima que acomete a todos aqueles que vêem no envelhecimento um tempo exclusivo de perdas e improdutividade, que vêem a velhice apenas como última etapa da vida. Diante das questões analisadas frente à problemática social, econômica, política e cultural da população idosa em nossa sociedade, vimos a necessidade de também analisarmos a posição real do Estado brasileiro e das políticas sociais que visam garantir os direitos sociais dos idosos, as medidas até então adotadas e as alternativas propostas. Para tanto, iniciaremos esta questão com uma afirmação de Simone de Beauvoir (1990), que em seu ensaio sobre a velhice conclui: "embora a velhice tenha sido sempre evitada, a situação dos idosos em alguns momentos da história em determinadas culturas foi mais favorável. Todavia prevalece em nossos dias uma visão profundamente negativa em relação à velhice. Desprovidos de suas funções sociais, como conseqüência da aposentadoria, os velhos são considerados inúteis, improdutivos e um peso para a sociedade" (SOUZA e PIMENTEL, 1997). Diante disto podemos verificar as contradições existentes nas sociedades atuais, porque se por um lado constatamos o acelerado crescimento da população de idosos, por outro observamos que essa mesma sociedade se omite ou adota atitudes preconceituosas sobre a velhice, protelando portanto a implementação de medidas que visem atenuar a problemática daqueles que ingressam na Terceira idade. 34 Os estudos direcionados a terceira idade, têm apontado uma gama de benefícios à saúde a sociedade promovidos com a prática de atividades físicas cotidianas. Fator preocupante, pois está comprovado que a cada ano a população que pertence ao grupo da terceira idade, cresce de forma acelerada e sem os devidos esclarecimentos a respeito desses tais benefícios. Uma rotina ativa com simples tarefas, incluindo atividades leves individuais ou coletivas como: caminhadas de baixa intensidade, a utilização de escadas ao invés de elevadores, cuidar do jardim, atividades aquáticas, viagens turísticas a lazer em geral, proporcionam uma melhoria na condição física e psicológica, auxiliando na realização de movimentos do dia-adia, tornando esses indivíduos prestativos em seu meio social e conscientes enquanto cidadãos (VIEIRA, 1996). A realidade é muito diferente, afastada da ideal. Os idosos não contam com atividades que visam uma melhoria na qualidade de vida e bem estar físico, convivem com uma deficiência total de atividades recreativas e a ausência de programas que estimulem o lazer, contribuindo diretamente para que a vida destes idosos se torne cada vez mais ociosa. Em decorrência da idade avançada e das perdas biológicas e sociais, o idoso passa a sofrer preconceitos, dentre eles a exclusão do meio produtivo e como também das perdas afetivas. Esta rejeição na maioria das vezes parte da própria família que o considera um estorvo dentro do lar. A solução mais prática vista pelos seus familiares é a "internação" numa casa de repouso - asilos. Os asilos locais são que não oferecem atividades suficientes para suprir suas necessidades. Tendo sempre uma vida monótona. Com o intuito de viabilizar momentos de descontração, promovemos atividades recreativas estimulando o organismo a produzir substâncias como, endorfinas e andrógenos, que são responsáveis pela sensação de bem estar fazendo com que seja recuperado a auto estima. Estas sensações são inibidas pelo sedentarismo que somado ao stress provoca patologias fisiológicas e psicológicas. 35 Para Ferreira (2000), o envelhecimento é um processo fisiológico e não está necessariamente ligado à idade cronológica. É nessa perspectiva que encaminhamos nosso trabalho, no sentido de compreender a fim de amenizar os problemas inerentes à Terceira Idade, promovendo momentos de prazer e descontração para que essa realidade seja plena, saudável e com melhores condições de vida. Antigamente, nas sociedades tradicionais, os velhos eram muito considerados, por serem sinônimo de lembranças e sabedoria. Atualmente o descaso e o desprezo os excluem da sociedade, que os julgam improdutivos. É comum encontrar idosos abandonados e ignorados dentro da própria família. A velhice sempre é vista, como um período de decadência física e mental. É um conceito equivocado, pois muitos cidadãos que chegam aos 65 anos, já que esta é a idade oficializada pela Organização das Nações Unidas, ainda são completamente independentes e produtivos. Acreditamos na decadência sim, mas da sociedade que perde, não dando valor ou criando espaços adequados para as necessidades de nossos velhos. A população idosa, em nosso país, cresce a cada dia e com ela as dificuldades e as necessidades de adequar soluções eficientes, junto aos órgãos públicos, com o objetivo de tornar digna a vida dos nossos idosos. Essa população que vem aumentando acentuadamente, não é, na maioria das vezes, reconhecida pela sociedade - até mesmo pela sua família - sendo vítimas de um relacionamento social impregnado de preconceitos. Geralmente, a velhice está ligada às modificações do corpo, com o aparecimento das rugas e dos cabelos brancos, com o andar mais lento, diminuição das capacidades auditiva e visual, é o corpo frágil. Essa é a velhice biologicamente normal, que evolui progressivamente e prevalece sobre o envelhecimento cronológico. Cientistas e geriatras preferem separar a idade cronológica (idade numérica) da idade biológica (idade vivida). Para eles, tanto o homem quanto à mulher se encontra na terceira idade por parâmetros físicos, orgânicos e biológicos. 36 CAPÍTULO V RECREAÇÃO NA TERCEIRA IDADE Segundo Pires (2001), uma velhice tranqüila é o somatório de tudo quanto beneficie o organismo, como por exemplo, exercícios físicos, alimentação saudável, espaço para lazer, bom relacionamento familiar, enfim, é preciso investir numa melhor qualidade de vida. Ao contrário do que se pensa os idosos podem e devem manter uma vida ativa. Essa vitalidade se estende à vida sexual e suas transformações hormonais, com isso a idade avançada não deve impedir que um casal tenha uma vida sexual ativa. A busca de uma vida com qualidade e o não aniquilamento da capacidade de amar, compreendendo-se aqui não só o relacionamento sexual, mas também o preenchimento das carências no que tange à afetividade e às expectativas de cada um: esta é a grande alavanca do bem-estar, da felicidade e, conseqüentemente, da longevidade. A elaboração de um programa de atividade física para a terceira idade deve levar basicamente em consideração o preparo para que o idoso possa cumprir suas necessidades básicas diárias (necessidades impostas pelo cotidiano), ou seja, tentar impedir que o idoso perca a sua auto-suficiência, através da manutenção de sua saúde física e mental. Antes de se iniciar a prática de exercícios com idosos é necessário que o mesmo faça uma avaliação médica. Sabe-se que o tipo de atividade física ideal (envolve variáveis tais como: atividade mais adequada, freqüência, intensidade de 37 trabalho), é determinada por variáveis que vão desde os hábitos de vida (fumante, tipo de alimentação, presença ou não de atividade física atual) até os fatores geneticamente herdados. Tendo como objetivo final à melhora ou manutenção da qualidade de vida relacionada à saúde, deve-se, então, escolher as capacidades físicas que sejam pré-requisitos básicos para a conquista de uma vida saudável. As mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais que ocorrem com o processo de envelhecimento, vão influenciar de maneira decisiva no comportamento da pessoa idosa. Com o declínio gradual das aptidões físicas, o impacto do envelhecimento e das doenças, o idoso tende a ir alterando seus hábitos de vida e rotinas diárias por atividades e formas de ocupação pouco ativas. Os efeitos associados à inatividade e a má adaptabilidade são muito sérios. Podem acarretar numa redução no desempenho físico, na habilidade motora, na capacidade de concentração, de reação e de coordenação, gerando processos de autodesvalorização, apatia, insegurança, perda da motivação, isolamento social e a solidão (PIRES, 2001). Os efeitos da diminuição natural do desempenho físico podem ser atenuados se forem desenvolvidos com os idosos, programas de atividades físicas e recreativas que visem a melhoria das capacidades motoras que apóiam a realização de sua vida cotidiana, dando ênfase na manutenção das aptidões físicas de principal importância no seu bem estar. É fundamental que o idoso aprenda a lidar com as transformações de seu corpo e tire proveito de sua condição, prevenindo e mantendo em bom nível sua plena autonomia. Para isso é necessário que se procure estilos de vida ativos, integrando atividades físicas a sua vida cotidiana. Particularmente as atividades recreativas devem ser: atraentes, diversificadas, com intensidade moderada, de baixo impacto, realizadas de forma gradual, promovendo a aproximação social, sendo desenvolvidos de preferência 38 coletivamente, respeitando as individualidades de cada um, sem estimular atividades competitivas, pois tanto a ansiedade como o esforço aumenta os fatores de risco. Com isso é possível se alcançar níveis bastante satisfatórios de desempenho físico, gerando autoconfiança, satisfação, bem-estar psicológico e interação social. Deve-se levar em conta que o equilíbrio entre as limitações e as potencialidades da pessoa idosa ajudam a lidar com as inevitáveis perdas decorrentes do envelhecimento. 39 CAPÍTULO VI A PSICOMOTRICIDADE De acordo com Ferreira (2000), a Psicomotricidade é uma nova abordagem do corpo humano. Ela estuda o indivíduo e suas relações com o corpo. É uma ciência-encruzilhada, uma técnica em que se cruzam e se encontram múltiplos pontos de vista e que utiliza os conhecimentos de várias ciências como a Biologia, a Psicologia, a Psicanálise, a Sociologia e a Lingüística. É uma terapia que se dispõe a desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo. Toda ciência é relativa a um objeto de estudo que dele tira sua unidade e especificação. No caso da psicomotricidade, o objeto de estudo é o corpo e a sua expressão dinâmica (COSTE, 1992). A Psicomotricidade, como toda ciência, corresponde a um objetivo de estudo próprio, do qual retira sua unidade e especificação, isto é, o corpo e sua expressão dinâmica, fundamentado em três conhecimentos básicos a saber: - o movimento, que segundo os conhecimentos atuais, ultrapassa o ato mecânico e o próprio indivíduo, sendo a base das posturas e posicionamentos diante da vida; - o intelectivo, que encerra a gênese e todas as qualidades da inteligência do pensamento humano, seu desenvolvimento depende do movimento para se estabelecer, desenvolver e operar; 40 - o afeto, que é a própria pulsão interna do indivíduo, que matiza a motivação e envolve todas as relações do sujeito com os outros, com o meio e consigo mesmo (BUENO, 1998). O psicomotricista deve estar habilitado a atuar na promoção, preservação e recuperação da movimentação corporal, como instrumento de desenvolvimento humano. O campo de ação do psicomotricista abrange duas correntes de intervenção: a pedagógica e a terapêutica. De acordo com estes pontos de vista, o psicomotricista poderá atuar em creches, centro de estimulação precoce, escolas maternais, jardins de infância e estabelecimentos de 1º, 2º e 3º graus, clínicas de reabilitação, hospitais e centros geriátricos. Envolve-se com o desenvolvimento global e harmônico do indivíduo desde o nascimento. Portanto, é a ligação entre o psiquismo e a motricidade. Há várias definições acerca do que seja a psicomotricidade e seu estudo é bastante recente. O termo evoluiu seguindo uma trajetória primeiramente teórica depois prática, até chegar a um meio-termo entre essas duas. Dentro da evolução da psicomotricidade, no início deste século a sua noção fixou-se sobretudo no desenvolvimento motor da criança. Depois foi estudada a relação entre o atraso do desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança. Seguiram-se estudos sobre o desenvolvimento da habilidade manual e de aptidões motoras em função da idade até se chegar à posição atual da psicomotricidade: ultrapassar os problemas motores e trabalhar também a relação entre o gesto e a afetividade e a qualidade de comunicação por intermédio dos mesmos. Essa abordagem globalizante vem atingido cada vez mais os profissionais de diversas áreas. Contudo, existe uma dificuldade muito grande desse profissional assumir totalmente essa abordagem, visto que implica eterno estudo das áreas psicológica, neurológica, social, emocional e motora (BUENO, 1998). Hoje existe a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, a qual vem lutando para que os profissionais atuantes caminhem de forma séria e estruturada. Ela define 41 a psicomotricidade como “uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem por meio do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”. A psicomotricidade considera o ser físico e social em transformação permanente e em constante interação com o meio, modificando-o e modificando-se. Na psicomotricidade é trabalhada a globalidade do indivíduo; é uma disciplina que estuda a implicação do corpo, a vivência corporal, o campo semiótico das palavras e a interação entre os objetos e o meio para realizar uma atividade. O desenvolvimento psicomotor acontece num processo conjunto de todos os aspectos (motor, intelectual, emocional e expressivo), dividindo-se em duas fases: primeira infância (0 a 3 anos) e segunda infância (3 a 7 anos), completando-se maturacionalmente por volta dos 8 anos de idade. Coste (1992) afirma que a psicomotricidade tem por objetivo maior fazer do indivíduo: - Um ser de comunicação. - Um ser de criação. - Um ser de pensamento operativo, ou seja, a psicomotricidade leva em conta o aspecto comunicativo do ser humano, do corpo e da gestualidade. Em sua prática, a psicomotricidade nos revela, o homem é o seu corpo, dando-nos a visão de que precisamos atuar nesse corpo: Para que uma pessoa se exprima enquanto corpo que realiza mais livremente seus próprios desejos, é necessário que ela cresça não em sua individualidade absoluta, mas em suas relações com os outros e o mundo. A partir das primeiras experiências psicomotoras que a criança vai constituindo pouco a pouco o seu modo pessoal de ser, de sentir, de agir e reagir diante dos outros, dos objetos e do mundo que a rodeia, e a qualidade da relação que a criança estabelece com o meio é que condicionará a saúde mental da mesma. 42 Mediante a relação com as pessoas e com os objetos, a criança se comunica e expressa suas dificuldades, sejam elas de ordem motora, emocional ou cognitiva. Nesse ano e em futuros, acreditamos que a psicomotricidade caminha para sua própria identidade, e a clareza de atuação dos profissionais atualmente nela envolvidos determinará o seu percurso e concreticidade. 6.1 - Desenvolvimento Motor Segundo Costallat (1998), o desenvolvimento motor é o resultado da maturação de certos tecidos nervosos, aumento em tamanho e complexidade do sistema nervoso central, crescimento dos ossos e músculos. São portanto comportamentos não aprendidos que surgem espontaneamente desde que a criança tenha condições adequadas para exercitar-se. Esses comportamentos não se desenvolverão caso haja algum tipo de distúrbio ou doença. Podemos notar que crianças que vivem em creches e que ficam presas em seus berços sem qualquer estimulação não desenvolverão o comportamento de sentar, andar na época adequada que futuramente apresentarão problemas de coordenação e motricidade. As principais funções psicomotoras são um bom desenvolvimento da estruturação do esquema corporal que mostre a evolução da apresentação da imagem do corpo e o reconhecimento do próprio corpo, evolução de preensão e da coordenação óculo-manual que nos proporciona a fixação ocular e preensão e olhar e desenvolvimento da função tônico e da postura em pé e reflexos arcaicos da estruturação espaço-temporal (tempo, espaço, distância e retina) (COSTALLAT, 1998). 43 6.1.1 – Imagem Corporal A imagem corporal diz respeito aos sentimentos do indivíduo em relação à estrutura de seu corpo como a bilateralidade, lateralidade, dinâmica e equilíbrio corporal. As relações entre o corpo e os objetos situados no espaço ao seu redor referem-se aos conceitos direcionais do indivíduo e à consciência de si próprio e do desempenho do que ele cria no espaço. Após a percepção global do corpo, vem a etapa de consciência de cada segmento corporal. Esta se realiza de forma interna (sentindo uma parte do corpo) e externa (vendo cada segmento em um espelho, em uma outra criança ou em uma figura). Ajuriaguerra (1972) entende que a imagem de si mesmo se constrói igual à forma que as demais estruturas mentais (pela associação dos elementos cada vez mais coordenados e complexos). O nosso corpo não é (para nós) um somatório de órgãos justapostos, mas sim uma autoposse indivisível da nossa existência completa; quer dizer, a autodescoberta não é mais que um sentir-se (e sentir) corporalmente no espaço e no tempo. O sujeito no mundo expressa-se e concretiza-se através da atividade corporal. É esta atividade que virá a ser transformada em linguagem propriamente dita. A partir daí a comunicação não verbal surge com uma importância fundamental para a compreensão da problemática da comunicação humana. A linguagem verbal apóia-se numa linguagem corporal que facilmente se pode (e deve) observar não só na criança (que se comunica por gestos e gritos com a mão e os outros antes de possuir e dominar o vocabulário), mas também nos povos primitivos. As emoções se expressam fundamentalmente no campo mímico corporal, e o corpo, nesta perspectiva, é um emissor de sinais de (e com) significado sociocultural. 44 De acordo com Alves (2003): “Em suma, a comunicação corporal assume, pois, uma importância muito especial nas mais variadas situações sociais, desde o mais elementar cumprimento entre as pessoas, passando pelas atitudes que expressam amizades, hostilidade, liderança ou submissão, até as atitudes e movimentos que se encontram e fazem parte de toda uma dinâmica psicossexual.” (p. 54) A evolução do eu corporal na criança é a evolução do conhecimento corporal, é sinônimo de caminho para uma autoconsciência, caminho expresso por uma maturação integral do indivíduo. Desde o nascimento, o corpo , como estrutura dinâmica e concreta (atuante), se insere num quadro de automatismo que evolui dos movimentos reflexos para os movimentos conscientes (praxias). A sua imagem corporal tem que passar por várias fases ou períodos de maturação para que a criança possa vir a construir-se como um ser que atua sozinha. A criança descobre a manipulação do seu próprio corpo, corpo que é então boca e ânus, superfície cutânea de contatos, atividade interoceptiva e alguns movimentos, após libertar-se da manipulação dos outros, na alimentação, no banho e na higiene. A evolução da imagem corporal e a aprendizagem da autencidade dependem de um equilíbrio que abre (vivo) entre a quantidade e a qualidade das relações e correlações (objetos e corpo) integrados. A absoluta imagem do corpo é função da organização das emoções, o que naturalmente implica e exige a relação com o outro, isto é, implica um determinado tempo e momento (ALVES, 2003) 6.2 - Desenvolvimento Psicomotor Entende-se aqui por desenvolvimento humano, de acordo com Fonseca (1992), o desenvolvimento integrado do crescimento, da maturação, das experiências pelas quais o indivíduo passa e a adaptação desse corpo no ambiente, respeitando-se 45 as individualidades de cada pessoa, sua herança única, bem como as condições ambientais nas quais esse indivíduo está inserido. Esse desenvolvimento humano inclui o aspecto físico ou motor, afetivo-social ou relacional e cognitivo. O desenvolvimento psicomotor caracteriza-se pela maturação que integra o movimento, o ritmo, a construção espacial, o reconhecimento dos objetos, das posições, a imagem do nosso corpo e a palavra. Ele pode ser considerado não apenas por classificações cronológicas mas por etapas ou estágios que apresentam características de um processo reacional e relacional, não fixos segundo a maturação do indivíduo. Esse desenvolvimento humano ainda segue alguns princípios básicos que vale a pena ressaltar, pois referem-se a qualquer indivíduo em todas as faixas econômicas e culturais: Desenvolvimento céfalo-caudal – o desenvolvimento é ordenado e previsível, onde as primeiras aquisições se iniciam na região da cabeça e evoluem em direção aos pés. O sistema nervoso também se desenvolve dessa forma. Desenvolvimento próximo-distal – segue a direção da região central para as extremidades. O controle processa-se do tronco para os braços, mãos e dedos. Desenvolvimento geral paraespecífico – tanto em relação aos comportamentos como no controle motor, em que haverá controle da musculatura grossa antes dos movimentos da musculatura fina. Em outros termos, os movimentos vão ser simples e generalizados no início e específicos e refinados futuramente. O desenvolvimento humano vem sofrendo variados estudos e classificações, com tendências distintas entre as escolas (européia, americana, soviética etc.). contudo, ela tem algo em comum: a divisão geralmente é direcionada entre os aspectos motor (psicomotor), cognitivo (intelectual) e sócio-afetivo (sócioemocional) (FONSECA, 1992). 46 6.3 - A Psicomotricidade e sua Aplicabilidade 6.3.1 - Fatores e Subfatores Psicomotores De acordo com Costallat (1998), compreendem os elementos que concorrem para a produção ou não de resultados motores. São eles: a) Fatores Psicomotores · Estruturação espaço-temporal · Praxia global b) Subfatores Psicomotores · Organização · Representação topográfica · Coordenação óculo-manual · Coordenação óculo-pedal · Dissociação Estruturação Espaço-Temporal Resulta da integração de uma estrutura temporal e de outra espacial e que estão relacionadas às percepções auditivas, visuais e proprioceptivas. A estruturação espaço-temporal surge durante os movimentos e quando da relação com os objetos e pessoas distribuídos (as) pelo espaço, onde ocorrem as experiências com a lateralidade, com a equilibração e da percepção que o goleiro tem de seu corpo. O corpo é provido de um sofisticado sistema neurofisiológico que permite interpretar as informações do espaço em que está ‘’mergulhado’’ o indivíduo. Este localiza-se a si próprio para depois se localizar no espaço e localizar os objetos e pessoas (COSTALLAT, 1992). 47 Praxia Global A praxia global tem como função principal a organização da atividade consciente e a sua regulação, programação e verificação. Compreende tarefas motoras seguidas e simultâneas que se desenrolam num determinado período de tempo e que exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares. A praxia evoca quatro condições básicas: um projeto, vários engramas, ligações projeto-engramas e instrumentos neuromusculares de expressão e comandos em função do projeto. Observa-se uma intenção por trás do movimento que será mantida ou modificada por uma programação (que faz uma consulta à linguagem interior), uma análise dos efeitos (receptores das ações) e uma auto-regulação (estabelecida por um controle da atenção voluntária) (COSTALLAT, 1992). Organização Compreende a habilidade em calcular as distâncias e promover os ajustes necessários dos planos motores para percorrer um determinado espaço, baseando-se nas capacidades de análise espacial, processamento e julgamento das distâncias e das direções, planificação motora e verbalização simbólica da experiência. A tarefa requer a fusão de dados direcionais e espaciais ao mesmo tempo que intervém uma programação do comprimento dos passos. A estrutura espacial é guiada pela área de integração visual que contribui no fornecimento de informações para os centros motores a fim de ajustamento das passadas (COSTALLAT, 1992). 48 Representação Topográfica Retrata a noção espacial e a capacidade de interiorização de uma trajetória espacial apresentada num levantamento topográfico (planta do campo) e das coordenações espaciais que são os vários pontos e linhas distribuídos (as) pelo campo de futebol, seus setores e áreas (COSTALLAT, 1992). Coordenação Óculo-Manual Compreende a capacidade de coordenar movimentos com os membros superiores de acordo com as referências perceptivo-visuais presentes no espaço. Envolve a percepção de distâncias, alturas e características dos alvos ou objetos tais como forma, altura, comprimento, largura, textura, etc.; e a consciência cinestésica do segmento corporal que irá executar o movimento. Durante o ato motor do goleiro entra em ação a capacidade de reprogramação de seqüências motoras em face de uma análise de todos os efeitos decorrentes desde o ato motor até a seleção dos engramas (experiência motora memorizada) (COSTALLAT, 1992). Coordenação Óculo-Pedal Compreende a capacidade de coordenar movimentos com os membros inferiores de acordo com as referências perceptivo-visuais presentes no espaço. Observação: Acompanha o mesmo raciocínio da coordenação óculo-manual (COSTALLAT, 1992). 49 Dissociação Compreende a capacidade de individualizar a utilização dos segmentos corporais durante a execução de um ou mais atos motores intencionais. A dissociação precede a um planejamento motor e um certo grau de automatismo da seqüência de padrões espaciais e temporais relacionados, onde entram em atividades inúmeras e rápidas interações entre os dados aferentes e eferentes e entre dados perceptivos e motores (COSTALLAT, 1992). 50 CAPÍTULO VII ATIVIDADES PSICOMOTORAS Segundo Ferreira (2000), diversas concepções e práticas das atividades físicas voltadas para o bem-estar físico e psíquico podem interagir, em busca da melhoria da qualidade de vida, em todo o transcurso do desenvolvimento do ser humano. Com base em experimentos vivenciados com idosos que, continuamente, por deficiência do equilíbrio no ato de deambular estão sujeitos a quedas em casa ou na rua, têm-se aplicado técnicas de educação e reeducação neurológica fundamentais, adaptadas a cada idoso. O resultado é a total recuperação da perda de equilíbrio, ajustamento postural e tonicidade dos grupos musculares antigravitacionais dessas pessoas implicadas. A aplicação de exercícios psicomotores a pessoas idosas, ou reeducação psicomotora, constitui uma ciência artesanal. Trabalha-se com a pessoa. É uma nova dimensão particular, individual, em que está em jogo o aspecto qualitativo da relação humana vinculada aos estímulos externos que determinam os comportamentos surgidos ao longo da vida do ser humano. A estimulação e a orientação às práticas de atividades de reeducação psicomotora propiciam a criação de uma atmosfera saudável, atuante e existencial, de elevado valor psicológico, sob forma de tarefas e movimentos lúdicos. 51 Os movimentos são realizados de forma lenta, integrados aos exercícios respiratórios, aplicados de maneira contingencial e adequados às necessidades e capacidades funcionais da cada idoso. Controlados pelo ritmo individual, sem esforço, os exercícios devem obedecer à execução máxima de cinco vezes cada, com intervalo de um para outro, aumentando gradativamente, de acordo com as possibilidades individuais (FERREIRA, 2000). Efetuados diariamente ou no mínimo três vezes por semana, as consignes não possuem caráter de obrigatoriedade, mas devem ser encaradas como organicamente necessárias, por minimizar as tensões. Estimulam a circulação e aumentam o interesse em realizar movimentos conscientes, intencionais e sensíveis. Propiciam, num clima de cordialidade, o alcance de objetivos imediatos de preservação da saúde, bem estar alegria de viver. Nos programas e Planejamentos de Saúde para o próximo milênio, a OMS considerou como uma das metas mínimas o aumento de tempo de vida dos humanos. O principal enfoque dessa meta, em sua amplitude, é considerar a saúde como um dos componentes do bem estar de cada comunidade (FERREIRA, 2000) 7.1 – Aplicações A reeducação neurológica consiste na repetição sistemática dos movimentos, sob a forma de recapitulação de algumas fases do desenvolvimento natural da criança. Esses movimentos, sob forma de exercícios repetitivos e sistemáticos, são significativamente importantes na definição da organização neurológica (COSTE, 1992). No caso de pessoas idosas, portadoras de problemas neurológicos ou mesmo com dificuldades posturais e de locomoção, deve-se realizar os movimentos de forma sistemática; porém, como condutas psicomotoras, esses movimentos são suscessões de movimentos especificamente humanos, cuja característica essencial é sua realização de forma consciente, intencional e sensível. 52 A grande maioria das pessoas tem capacidade de absorver as condutas psicomotoras, em gradientes progressivos de dificuldade. São habilidades essenciais, praticadas e aperfeiçoadas por meio da aprendizagem de movimentos, em sessões individuais ou coletivas de reeducação psicomotora. Estimulam o raciocínio criativo e possibilitam recursos ilimitados de ações. Esses movimentos, considerados movimentos naturais e espontâneos da criança, são apresentados em seguida, sob forma de exercícios ou de praxias andrológicas. São uma sucessão de movimentos especificamente humanos, cuja característica essencial é a finalidade e a intencionalidade. Podem, entretanto, ser transformados em jogos de movimentos ou psicomotores, dependendo da forma de aplicação. A fim de tornar os jogos mais interessantes e estimular maior envolvimento dos idosos, esses movimentos devem ser planejados em forma de ações em grupos, na solução de terminados problemas. Os idosos compartilham idéias e colaboram na criação de estratégias, estimulando, assim, o desenvolvimento das habilidades mentais essenciais à memorização e ao pensamento criativo (COSTE, 1992). 53 CAPÍTULO VIII PSICOMOTRICIDADE E ENVELHECIMENTO A abordagem globalizada como é a da Psicomotricidade pode atender satisfatoriamente às necessidades do idoso (FERREIRA, 2000). Existe a necessidade de um atendimento mais especializado que vise a saúde funcional, o bem-estar psicológico social e familiar para garantir a sua qualidade de vida no que diz respeito principalmente a autonomia e independência. A psicomotricidade para idosos, como parte do atendimento interdisciplinar à velhice, tem como objetivo maior à manutenção das suas capacidades funcionais. Envelhecer mantendo todas as funções não significa problema quer para o indivíduo ou para a sociedade (PAPALÉO NETTO, 2000). A manutenção das capacidades funcionais está intimamente ligada à manutenção da independência e da autonomia que interferem diretamente na qualidade de vida de qualquer pessoa e em especial na do idoso. Poder fazer tudo aquilo que deseja dentro do seu contexto-sócio-economico-cultural, dá a pessoa idosa potência e vitalidade além de tirar um peso da sociedade. A psicomotricidade para o idoso, visa criar uma consciência de seu poder de sabedoria, valorizar suas capacidades e dar realce às suas forças, incentivar o enfrentamento de certas limitações físicas e perdas e estimular o auto-cuidado com o desenvolvimento de hábitos pessoais de saúde. A prática psicomotora vai colocá-los diante de um espaço de vida, de um espaço de atividade. Essa intervenção certamente 54 levará o idoso a questionar suas atitudes e conseqüentemente ter mais possibilidades em adaptar-se às mudanças que o envelhecer acarreta (COSTE, 1992). Trabalhar com um corpo relacionando-o com pensamentos e sentimentos dá à pessoa uma sensação de integridade que atende à natureza do homem que é a unidade psico-fisica. Os estímulos sensoriais e perceptivos e a própria atividade física promovem um estado de prazer. Despertar o prazer em pessoas que por sua própria condição existencial apresentam situações de depressão e luto não só pela perda de entes querido mas também pelas perdas relacionadas com o lugar social que ocupavam e com as perdas do processo de envelhecimento, é dar-lhes sentido de vida, é ativar a energia existente nessas pessoas. A psicomotricidade, atuando como uma terapia corporal, trabalha basicamente com o prazer; o prazer de sentir o próprio corpo, tão esquecido e adormecido; o prazer de perceber possibilidades; o prazer de lidar de alguma maneira com as suas limitações; o prazer de brincar; o prazer de se reconhecer; o prazer de viver (COSTALLAT, 1998). As atividades psicomotoras estimulam acima de tudo a consciência de um corpo que é expressão de um ser que pensa, que sente, e que age em relação com os outros, com os objetos e consigo mesmo. A exploração do corpo é proposta com o objetivo de uma tomada de consciência para que haja melhor uso e conseqüentemente maior possibilidade de expressão. O idoso vivencia um corpo cheio de dores, e tem neste corpo a prova viva das perdas que ocorrerem tanto no físico como também nos aspectos psicossociais. As tensões musculares crônicas que se acumularam no passar dos anos impedem a percepção das sensações de partes do corpo. Tomar consciência dessas tensões já é o primeiro passo para encontrar meios de adaptação. Sentir as pernas e os pés no chão trazem a sensação de que as pernas a sustentarão, promovendo segurança e confiança em si. O desenvolvimento da autoconfiança reflete-se diretamente em conseqüentemente no aumento da auto-estima. mudanças na auto-imagem e 55 O alicerce de uma vida alegre é o prazer que sentimos em nossos corpos, a psicomotricidade para idosos resgata esse corpo de sensações, trazendo o prazer. Biologicamente o prazer encontra-se intimamente ligado ao fenômeno do crescimento, importante expressão do processo contínuo da vida. 8.1 - Terapia Psicomotora Dirigida a indivíduos com conflitos mais profundos na sua estruturação, associados aos funcionais ou com desorganização total de sua harmonia corporal e pessoal. Está baseada nas relações e na análise das relações por meio do jogo de movimentos corporais. O essencial na terapia psicomotora é a qualidade do relacionamento corporal e da comunicação afetiva, de acordo com o ritmo do paciente e não terapeuta; a tentativa de acelerar o ritmo de evolução pelo terapeuta bloquearia o processo. Geralmente funciona com pacientes individuais, mas pode evoluir para grupos e também evoluir da terapia para a reeducação e depois para a educação psicomotora. A diferença entre o reeducador e o terapeuta está no foco do problema. O terapeuta da psicomotricidade exerce sua prática numa estrutura em que o contrato terapêutico com o paciente está claro. Na terapia, é de fundamental importância o vivido corporal (as experiências vivenciadas) com relação à realidade e à fantasia, com a respectiva carga afetiva, emocional, sensual, sexual etc. Aspectos desse vivido corporal são passados durante a terapia psicomotora, através da relação do indivíduo com seu próprio corpo, com o terapeuta e com outras pessoas que a cercam. Ao terapeuta cabe entender o que está sendo expressado e responder, às vezes através do seu corpo, num plano também simbólico. Désobeau (1982), citado por Mello (1998), ressalta a importância do brincar em terapia psicomotora. Valorizando tal tipo de atividade, ela assim se posiciona: “O 56 brincar é certamente o modo de expressão e de comunicação privilegiado da criança”. No brincar, no jogar, Désobeau vê elementos de exploração, expressão e prazer. Neste caso, o terapeuta deve engajar-se no brincar, através do diálogo corporal e de uma vivência emocional e afetiva. 57 CONCLUSÃO Ao falarmos na terceira idade, conclue-se que os seres humanos estão em constante processo de aprimoramento; vivem em sociedade e assim interatuam entre si, com capacidade crítica sobre sua existência. Através de oportunidades educativas, na terceira idade, acredita-se que será possível efetivamente, lutar pela qualidade de vida na velhice; enfrentar dificuldades resultante das carências educativa, culturais; estimular a participação ativa. Objetivo deste trabalho foi saber de que maneira a psicomotricidade interfere positivamente no processo de envelhecimento, promovendo bem-estar, além de identificar e definir quais são os fatores que levam à boa aceitação dessa prática pela terceira idade. Pode-se notar que muitas foram às mudanças percebidas, não havendo, em nenhum caso, ausência de mudanças, evidenciando assim que este trabalho tem ressonância nessa etapa do desenvolvimento humano. O trabalho corporal em grupo cada vez mais aparece como instrumento facilitador para as grandes e principalmente para as pequenas mudanças de todos os dias. Para uma população idosa que sofre mais de um problema psicossociogênico do que físico, a psicomotricidade é um caminho que abre possibilidades de encontrar outras formas de fazer o que já sabem, proporcionando a esses indivíduos tão discriminados, viver o envelhecimento como um momento pleno de vida, de ação e não de limitações e perdas. A conquista da auto-confiança, e o resgate da auto-estima estimula-os ao autocuidado e motiva-os a preservar sua independência e autonomia que são preditores de bem-estar. 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, F. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de Janeiro: Wak, 2003, p. 53-56. ASSIS, M. O Envelhecimento e suas Conseqüências Sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998, p. 54-78. BALLONE, G. J. A Terceira Idade. Disponível em www.psiqweb.com.br. 2002. Retirado em 03/09/03. BUENO, J. M. Psicomotricidade: Teoria e Prática. São Paulo: Lovise, 1998, p. 1740, 51-94. COSTALLAT, D. M. Psicomotricidade. Porto Alegre: Globo, 1998, p. 13-31. COSTE, J.C. A Psicomotricidade. São Paulo: Guanabara Koogan, 1992, p. 10-14. FERREIRA, C. A. M. Psicomotricidade da Educação Infantil à Gerontologia – Teoria e Prática. São Paulo: Lovise, 2000, p. 153-166. FONSECA, V. Manual de Observação Psicomotora. Lisboa: Editorial Notícias, 1992, p. 42-63. MELLO, A. M. Psicomotricidade - Educação Física – Jogos Infantis. 4 ed. São Paulo: Ibrasa, 1998, p. 33-35. 59 PIRES, T. S. A Recreação na Terceira Idade. Disponível em www.cdof.com.br. 2001. Retirado em 03/09/03. PAPALÉO NETTO, M. Gerontologia – A Velhice e o Envelhecimento em Visão Globalizada. São Paulo: Atheneu, 2000, p. 3-7, 26-27. SOUZA, A. L. L., PIMENTEL, B. S. O Sistema Social e o Idoso. Disponível em www.prateada.webbr.net/idoso.htm.1997. Retirado em 03/09/03. VIEIRA, E. B. Manual de Gerontologia. Rio de Janeiro: Revinter, 1996, p. 06-23. ANEXO