Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
MEMÓRIAS SOBRE PRÁTICAS DE LETRAMENTO EM CENÁRIO DE
IMIGRAÇÃO ALEMÃ1
Luana EWALD2
Maristela Pereira FRITZEN 3
RESUMO: A colonização do Médio Vale do Itajaí, SC, formou-se principalmente por
imigrantes alemães, constituindo-se um cenário multicultural e plurilinguístico. Na história
desse contexto sociolinguístico complexo estão presentes apagamentos, deslocamentos
linguísticos impostos por políticas monolíngues, determinando a língua portuguesa como a
única língua legítima. Neste artigo, abordamos o período da segunda campanha de
nacionalização do ensino (1937-1945), quando o governo impôs o fechamento de instituições
ligadas à língua alemã e o silenciamento dos seus falantes. Para ampliar nossa visão desse
cenário, pretendemos com essa pesquisa compreender que sentidos a proibição trouxe ao
letramento em língua alemã e em língua portuguesa para os teuto-brasileiros que viveram
durante a segunda campanha de nacionalização do ensino no Médio Vale do Itajaí. Para este
artigo, objetivamos discutir as memórias da segunda campanha de nacionalização do ensino
e de práticas de letramentos presentes nos enunciados de dois sujeitos entrevistados. Para
tanto, utilizamos como principal instrumento de pesquisa a entrevista narrativa, por meio da
qual os sujeitos participantes do estudo, todos acima de 77 anos, puderam reconstruir sua
trajetória de vida relacionada às práticas sociais de leitura e escrita em sua língua de
herança. As reflexões teóricas propostas neste estudo estão amparadas, principalmente, na
Linguística Aplicada, nos Novos Estudos do Letramento e na perspectiva enunciativa de
Bakhtin. Ainda que parciais, os resultados da pesquisa trazem implicações para pensarmos
os letramentos ao tratarmos de eventos que têm lugar na escola e outras agências, os
conflitos linguísticos e identitários, as representações sobre os teuto-brasileiros e as políticas
linguísticas locais.
PALAVRAS-CHAVE: Letramento; Imigração alemã; Identidade; Memórias.
ABSTRACT: The colonization of Médio Vale do Itajaí, SC, was formed mainly by German
immigrants, becoming a multicultural and multilingual scenery. In the history of this complex
sociolinguistic context are present deletions, linguistics displacements imposed by
monolingual policy, determining Portuguese language as the only legitimate language. In
this paper, we approach the period of the second nationalization campaign of education
(1937-1945), when the government imposed the closure of institutions linked to the German
language and the silencing of its speakers. To increase our view of this scenery, we intend
with this research to understand the meanings the prohibition brought to literacy in German
and Portuguese to the Teutonic-Brazilian who lived during the second nationalization
campaign of education in Médio Vale do Itajaí. For this paper, we goal to discuss the
memories of the second nationalization campaign of education and literacy practices in the
enunciations of the two interviewed subjects. To describe what the Teutonic-Brazilian bring
to mind, we used as the main research instrument the narrative interview, through which the
participants in the study, all above 77 years old, were able to rebuild their life story related to
1
Com este artigo, pretendemos socializar e discutir dados parciais de uma pesquisa financiada pelo CNPq.
Mestranda, Universidade Regional de Blumenau (FURB), [email protected]
3
Doutora, Universidade Regional de Blumenau (FURB), [email protected]
2
1
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the social practices of reading and writing in their heritage language. The theoretical
reflections proposed in this study are supported mainly in Applied Linguistics, the Literacy
Studies and the enunciative perspective of Bakhtin’s Circle. Even if partial, the survey results
have implications for thinking about literacies when we deal with events that take place in
schools and other agencies, the linguistic conflicts and identitary, representations of the
Teutonic-Brazilian and local linguistics policies.
KEYWORDS: Literacy; German Immigration; Identity; Memory.
1 Introdução
O estado de Santa Catarina foi colonizado predominantemente por imigrantes alemães,
mas, como aponta Seyferth (1999), a exclusividade dessa etnia restringiu-se às duas primeiras
décadas de ocupação. Há registros em documentos da época da Colônia Blumenau da chegada
de imigrantes italianos, em maior número, russos, húngaros, austríacos, irlandeses e franceses
em menor quantidade4, assim como também chegaram, mais tarde, migrantes de outras
regiões do país.
O campo de pesquisa do trabalho relatado neste artigo é o Médio Vale do Itajaí, parte
do território do Vale do Itajaí, localizado em Santa Catarina. A Colônia Blumenau, fundada
em 1850 por imigrantes alemães, compreendia quase toda a região do Médio Vale. Com os
desmembramentos dessa colônia, hoje há vários municípios circunvizinhos, dentre eles estão:
Apiúna, Ascurra, Benedito Novo, Blumenau, Botuverá, Brusque, Doutor Pedrinho, Gaspar,
Guabiruba, Indaial, Pomerode, Rio dos Cedros, Rodeio e Timbó.
Com a coexistência de diferentes línguas de imigração e diferentes etnias, o Médio
Vale do Itajaí tornou-se um “cenário sociolinguístico complexo” (CAVALCANTI, 1999;
2011), embora sua história tenha sido marcada por apagamentos, deslocamentos linguísticos
impostos por políticas monolíngues, determinando a língua portuguesa como a única língua
legítima. Esses apagamentos estão relacionados com o mito do monolinguismo, que
desconsideram contextos de bidialetalismo e também de bi/multilinguismo (CAVALCANTI,
1999). Dessa forma, os imigrantes que inicialmente foram acolhidos pelo país para
colonizarem as terras do Sul do Brasil sofreram perseguições, especialmente durante a
segunda5 campanha de nacionalização do ensino implantada durante o governo de Getúlio
Vargas (1937-1945), que proibia as línguas de imigração, consideradas línguas estrangeiras
dentro das fronteiras nacionais.
Diante desse cenário bi/multilíngue brevemente exposto acima, foi desenvolvida uma
pesquisa a fim de compreender que sentidos essa proibição trouxe aos letramentos em língua
alemã e em língua portuguesa para os teuto-brasileiros que viveram durante a segunda
campanha de nacionalização do ensino no Médio Vale do Itajaí, SC. Para este artigo,
objetivamos discutir as memórias da segunda campanha de nacionalização do ensino e de
letramentos presentes nos enunciados de dois sujeitos entrevistados. A temática da pesquisa
situa-se na confluência entre duas grandes áreas, a Educação e a Linguística Aplicada, em
diálogo com os Novos Estudos do Letramento em contexto de língua minoritária.
O principal instrumento de pesquisa utilizado foi a entrevista narrativa (BAUER e
GASKEL, 2002). Para tanto, selecionamos sujeitos para a pesquisa de acordo com sua idade
4
Essa diversidade de imigrantes está relacionada, em partes, “às preocupações das autoridades brasileiras com
possíveis enquistamentos étnicos, o que recomendava “colônias mistas”” (SEYFERTH, 1999, sp).
5
A primeira campanha de nacionalização do ensino ocorreu a partir de 1911, cujo objetivo era resolver a
questão da assimilação dos grupos de imigração de Santa Catarina (LUNA, 2000).
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(a partir de 77 anos), e descendência (teuto-brasileiros), uma vez que o objetivo da pesquisa
era abranger o período histórico que inicia com a campanha de nacionalização (1937-1945).
Foram realizadas dez entrevistas; no entanto, levando em consideração o espaço de
discussão deste artigo, selecionamos duas delas, uma gravada em 2010 com o Sr. Bernardo,
de 96 anos, nascido em Gaspar, SC, e outra gravada em 2012 com a Sra. Bertha, de 78 anos,
nascida em Blumenau, SC 6.
As entrevistas, gravadas em áudio, catalogadas e depois transcritas conforme as
convenções de Marcuschi (1986), foram realizadas nas casas dos sujeitos, o que nos deu
acesso a materiais escritos em língua alemã ou portuguesa que eles possuem (como jornais,
revistas, cadernos e outros materiais usados na esfera religiosa).
Todos os sujeitos entrevistados têm como religião a Evangélica Luterana. Mailer
(2003) aponta que 98% dos imigrantes alemães que chegaram a Blumenau eram membros da
Igreja Evangélica Luterana. Quanto aos dois sujeitos foco deste artigo, ambos frequentaram
escolas religiosas. A Sra. Bertha estudou em uma escola religiosa Católica de Blumenau,
ensino fornecido em português e, mais tarde, estudou em Porto Alegre em um internato
vinculado à Igreja Evangélica Luterana, também com ensino monilíngue em português. O Sr.
Bernardo estudou na escola em que seu pai lecionava, em Gaspar, que tinha o apoio da Igreja
Evangélica Luterana. O ensino era dado em português e alemão.
A partir dessa introdução, iniciamos a discussão com as vozes dos sujeitos envolvidos
neste estudo em relação à campanha de nacionalização do ensino no Médio Vale do Itajaí. Em
seguida, trazemos suas memórias de práticas e eventos de letramentos vivenciados nesse
período. Por fim, apresentamos nossas considerações finais com o intuito de contribuir para a
reflexão sobre a educação em contexto intercultural.
2 Campanha de Nacionalização do Ensino no Médio Vale do Itajaí
A campanha de nacionalização do ensino foi introduzida durante o Estado Novo
(1937-1945), estendendo-se ao período da Segunda Guerra Mundial. Essa campanha,
amparada na busca pela homogeneidade nacional, impôs o fechamento de todas as instituições
ligadas à língua alemã e o silenciamento dos seus falantes 7. O governo brasileiro, nesse
período, considerou desnacionalizado todo e qualquer indivíduo que desconhecesse a língua
oficial do país, sendo suposto “suspeito” ou “antipatriota” (SEYFERTH, 1999). Dessa forma,
as áreas coloniais, onde se falavam línguas de imigração, foram as mais atingidas, pois eram
pensadas como afastadas da sociedade brasileira.
Até 1940, a língua alemã, no Médio Vale do Itajaí, era utilizada em instituições sociais
de prestígio, como escola, imprensa, tipografia, livraria e igreja, divulgando e reproduzindo os
valores culturais do grupo teuto-brasileiro. Dentro do cenário nacional, contudo, o idioma
alemão sempre foi língua minoritária8, nunca desfrutou de status de língua nacional.
Blumenau, “a mais notória das “colônias alemãs”” (SEYFERTH, 2004, p. 152) de
Santa Catarina, divulgou escritos de autores teuto-brasileiros, colocando em evidência a
6
A fim de preservarmos a identidade dos sujeitos entrevistados, atribuímos pseudônimos para identificá-los.
Apesar ter afetado outros grupos além do teuto-brasileiro, pelo contexto de imigração alemã em estudo,
discutimos os efeitos da campanha de nacionalização para esse grupo.
8
Ao discutir conceitos de minoria e maioria, Cavalcanti (1999) aborda que as relações de poder e prestígio são
mais significativas que a quantidade (números) propriamente dita, ou seja, uma maioria de excluídos significa
menos poder e prestígio e, uma minoria de elite tem mais poder e mais prestígio. “No caso do alemão, apesar de
ter sido a língua mais falada, até 1940, em termos numéricos, no Vale do Itajaí (Blumenau e outras cidades que
faziam parte do município de Blumenau), pode-se dizer que, em relação ao Brasil, sempre foi língua minoritária,
por não desfrutar do status de língua oficial do país”. (FRITZEN, 2007, p. 72).
7
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preservação dos valores culturais germânicos junto à inserção dos imigrantes e seus
descendentes na sociedade nacional, valorizando também a cidadania brasileira. O vínculo do
teuto-brasileiro com a língua alemã está relacionado com a nacionalidade e cidadania do
grupo étnico. Mailer (2003) explica que a cidadania baseava-se no território onde os
descendentes de imigrantes viviam e criavam seus filhos: sua “pátria - Vaterland -, agora,
era o Brasil, embora cultivassem valores da nação alemã - Heimat - (RAMBO, 1994 apud
MAILER, 2003, p. 20).
Em relação à nacionalidade, Berenblum (2003) aborda a questão de as línguas
vernáculas terem exercido papel fundamental para o surgimento da nação e da consciência
nacional. Assim, compreendemos que língua está ligada à construção da identidade nacional.
A noção de nacionalidade se constrói a partir de uma comunidade imaginada, a “comunidade
nação”, onde o Estado “é a pátria de todos os cidadãos.” (BERENBLUM, 2003, p. 34). Ter
uma nacionalidade é ter a sensação de partilhar os mesmos traços culturais através de uma
“forma comum de pensar e de viver” (BERENBLUM, 2003, p. 32). A língua passa, então, a
representar a nação e, a nação brasileira, não é representada pelo alemão, mas pela língua
portuguesa.
Bertha, senhora teuto-brasileira, inicia sua fala relembrando os momentos de sua vida
em que se falava a língua alemã em qualquer esfera, e o período em que a língua passou a ser
proibida nas fronteiras nacionais com a campanha de nacionalização do ensino:
Excerto 1 – Sra. Bertha, nascida em 1934 em Blumenau, SC. 9
Bertha: meu nome é bertha’ eu nasci em blumenau na maternidade johannesstift no dia sete
de abril de mil novecentos e trinta e quatro, portanto completei setenta e oito anos (+) tenho
uma vivência dentro da minha cidade com muitas lembranças’ lembranças de períodos
lindos’ de períodos tristes (+) e entre os tristes é:: justamente quando eu era criança quando
foi proibido o falar alemão (+) nós em casa’ nós falávamos o alemão e na época era tão
comum que nós íamos falar o português somente na escola’ ou no jardim de infância, ESSE
se não fosse ALEMÃO’ porque nós tínhamos jardim de infância alemão também que foi
fechado em mil novecentos e trinta e nove (+) minha irmã mais velha chegou a frequentá-lo,
eu não (+) e::’ então com essa proibição de falar o alemão’ isso complicou nossa vida’ a vida
de todos’ de todos os blumenauenses e de todo o pessoal da região aqui’ os descendentes dos
imigrantes (...)
Ao reconstruir suas memórias, a Sra. Bertha relaciona um período triste de sua vida
com a época da proibição da língua do seu grupo étnico. As línguas de imigração, a partir de
decretos elaborados durante a campanha de nacionalização do ensino passaram a ser tratadas
como línguas estrangeiras. Em 1939 foram proibidas as publicações em idioma
“estrangeiro”10. Em 31 de março de 1938, o Decreto nº 88 estabeleceu as normas relativas ao
ensino primário em escolas comunitárias no Estado e o Decreto-Lei Federal 1.545, de 25 de
9
Convenções de transcrição adaptadas de Marcuschi (1986) : (+) (++) indica marcação de micropausa e de
pausa estimada entre 2 e 3 segundos, (...) indica que parte da fala foi omitida, :: indica prolongamento de som
precedente, , indica elevação média de entonação, ” corresponde à uma subida rápida (como um ponto de
interrogação), ’ para elevação, MAIÚSCULA indica ênfase. Todos os nomes presentes nas transcrições das
entrevistas são pseudônimos, dos sujeitos entrevistados, das pessoas que citam e das intuições mencionadas,
assim pudemos preservar a identidade das pessoas citadas, inclusive nomes de instituições.
10
Utilizamos a denominação línguas estrangeiras por assim serem descritas nos decretos da época, mas
compreendemos que essas línguas são línguas de imigração.
4
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agosto de 193911, determinou a proibição do uso de línguas “estrangeiras”, o que justifica o
fechamento de escolas teuto-brasileiras da época (nós tínhamos jardim de infância alemão
também que foi fechado em mil novecentos e trinta e nove).
A proibição para a senhora entrevistada não foi somente triste, mas também
complicada, complicou a vida de todos’ de todos os blumenauenses e de todo o pessoal da
região aqui’ os descendentes dos imigrantes. Ao remeter a todas as pessoas que vivenciaram
esse mesmo período, a Sra. Bertha traz à sua memória a história de outros. Suas palavras estão
carregadas de valores socialmente constituídos por meio de discursos seus e de outros. A
alteridade (cf. BAKHTIN, 2006) presente no depoimento, nos dizeres dela, nos leva a
compreender que suas memórias individuais são também histórias coletivas. Assim como na
memória da Sra. Bertha está a vivência do silenciamento, também está na história coletiva dos
descendentes dos imigrantes que vivenciaram esse período de nacionalização na região.
É importante abordar que, quando a Sra. Bertha fala sobre a escola, cita que havia,
antes de 1939, a escola teuto-brasileira na região. O Brasil, no período mais intenso da
imigração (a partir de 1890), “tinha um sistema escolar altamente deficitário, com uma
população de mais de 80% de analfabetos.” (KREUTZ, 2000, p. 161). Devido à falta de
instituições de ensino, os imigrantes fundaram escolas particulares e escolas comunitárias
mantidas com o apoio “das respectivas lideranças religiosas”, reproduzindo valores culturais
do país de origem (KREUTZ, 2000, p. 159). O Sr. Bernardo também cita a existência da
escola teuto-brasileira na região. No próximo excerto, ele fala como era a escola de Gaspar,
onde ele estudava e seu pai era professor:
Excerto 2 – Sr. Bernardo, nascido em 1916 em Gaspar, SC.
Bernardo: (...) gaspar de repente mudou tudo pro português (+) veio a proibição de noite pra
dia, governo do estado proibiu falar alemão’ pronto (+) lá se foi o alemão (+) tentávamos só
o português (+) e falava só em alemão (+) e também’ na escola também’ quando veio na
escola também’ só português (+) aí o meu pai disse assim’ eu estou até aqui’ eu não vou ser
mais professor (+) deixou só por causa disso, porque ele era agarrado no alemão, gostava do
alemão (+) eu também
“A identidade de um indivíduo se constrói na língua e através dela”
(RAJAGOPALAN, 1998, p. 41), logo, ao dizer que o pai era agarrado no alemão, gostava do
alemão e, eu também, o Sr. Bernardo evidencia o significado da língua para si e sua família. O
alemão é sua língua de herança, a primeira língua de convívio social e familiar, nela estão
aspectos de sua cultura, de sua identidade. Falar alemão, para o entrevistado, evoca sua
identidade étnico-linguística, isto é, falar alemão significa ser descendente de alemães, ser um
teuto-brasileiro.
Na fala do Sr. Bernardo, também percebemos que seu pai discordava do ensino
monolíngue em português. Talvez ele não concordasse por esse ensino monolíngue
desconsiderar a língua do grupo, da comunidade. Como já mencionado, houve a criação de
muitas escolas comunitárias ou particulares em Santa Catarina devido à falta de ensino formal
público no Estado. Essas escolas pertenciam a grupos de descendentes de imigrantes, assim,
muitas delas eram escolas bilíngues (língua portuguesa e língua alemã) ou, em alguns casos,
monolíngues (língua alemã). Luna (2000) aponta que quando o ensino era fornecido em duas
línguas, era comum que a alfabetização do aluno ocorresse primeiro na língua de herança para
depois haver o ensino formal da língua portuguesa. No caso do pai do Sr. Bernardo, quando a
11
Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-1545-25-agosto-1939411654-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 07 de março de 2012.
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língua alemã deixou de ter espaço na esfera educacional, a escola monolíngue passou a
excluir os aspectos culturais da comunidade.
Uma das ações da campanha de nacionalização foi fechar as escolas que ainda
ensinassem línguas consideradas pelos decretos “estrangeiras”. De acordo com Luna (2000),
em relatos de muitos teuto-brasileiros que frequentavam as escolas nesse período da
campanha de nacionalização, é possível identificar a existência de uma fiscalização para que
não se falasse alemão em sala de aula. Assim, o autor aponta para a criação da inspetoria e da
Liga Pró-Língua Nacional, cujo objetivo era despertar, por meio de atividades que exaltavam
a cultura nacional e especialmente a língua portuguesa, o interesse de alunos pelos valores
nacionais (LUNA, 2000). A língua portuguesa passou a ser vista como uma língua pura e é
através dela que se pensava ser possível chegar a uma identidade nacional única. As línguas
de imigração, logo, eram uma ameaça a essa identidade nacional única, pois poderiam
difundir o poder atribuído à língua oficial.
Quando, em 1942, o país iniciou sua participação na guerra, as ações de
nacionalização se intensificaram, “transformando” imigrantes e descendentes em potenciais
"inimigos da pátria”. A partir da campanha de nacionalização, o Exército Brasileiro “impôs
normas de civismo, o uso da língua portuguesa e o recrutamento dos jovens para o serviço
militar num contexto genuinamente brasileiro.” (SEYFERTH, 1997, p. 96).
Através dos relatos dos sujeitos entrevistados, percebemos como o teuto-brasileiro
sofreu por falar alemão, ser de origem alemã. Nas histórias contadas por pessoas que viveram
esse período no Médio Vale do Itajaí, estão presentes prisões ou atos de torturas contra os
descendentes de imigrantes. Contudo, assim como defende Mailer (2003), o silenciamento do
grupo teuto-brasileiro com a proibição da língua foi o mais significativo para essas pessoas.
“A língua, como também no nacionalismo da Alemanha, era o instrumento mais importante
para a unificação da comunidade e expressão de suas manifestações culturais e como um dos
valores de etnicidade tinha que ser preservado.” (MAILER, 2003, p. 27). O Sr. Bernardo, ao
falar da empresa onde trabalhava, aponta para as medidas tomadas durante a campanha de
nacionalização para silenciar os que falassem outra língua que não fosse a portuguesa,
atingindo todo o convívio social do grupo minoritário:
Excerto 3 – Sr. Bernardo
Bernardo: (...) eu era empregado do gehard ainda’ e entrou uma senhora quis comprar uma
lâmpada elétrica né’ aí eu fui mostrando pra ela em alemão né’ o secreta me pegou por trás’
o senhor está preso (+) e tem que obedecer né’ então eu digo’ o senhor me dá licença eu
quero me despedir do meu patrão’ pro meu patrão saber onde é que eu estou (+) aí ele disse’
não senhor, você daqui vai direto pra cadeia’ você não tem que dar satisfação a ninguém (+)
mas eu digo’ eu quero’ eu não vou’ eu quero primeiro dizer auf wiedersehen para o senhor
gehard ((risos)) era o meu chefe (+) aí eu insisti’ entrei’ e chegando lá eu disse’ patrão’ auf
wiedersehen’ eu vou’ fui preso porque eu falei alemão (+) eu disse pra vocês não falarem
alemão’ porque vocês fazem” o senhor sabe como é né’ eu disse pra ele’ o senhor sabe como
é’ a gente está habituado a falar’ e veio uma pessoa pra comprar uma lâmpada (+) aí eu
fiquei preso uma noite’ depois me soltaram, só porque eu disse uma palavra, mas isso são
secretas ã’ que faziam’ porque eles ganhavam por cada pessoa, que a gente ia lá e tinha que
pagar né’
O Sr. Bernardo reconstrói o momento em que foi preso por um secreta ao falar sua
língua de herança. Por meio de Luna (2000), citamos a existência de uma fiscalização nas
escolas para garantir que os valores da cultura nacional seriam ensinados. É possível verificar,
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a partir dos relatos dos sujeitos entrevistados, que essa fiscalização ocorria em outras esferas
também, onde havia secretas, como chama o Sr. Bernardo, responsáveis pela garantia de que
ninguém falaria a língua que não correspondesse à oficial. Essas ações, amparadas pela
campanha de nacionalização do ensino, eram severas com o grupo teuto-brasileiro justamente
para evitar os “quistos étnicos”. Através da proibição das línguas de imigração, uma única
identidade era imposta como sendo a nacional.
Nessa passagem da entrevista, o Sr. Bernardo reconstrói o momento quando teve de
dizer para seu patrão auf wiedersehen’ eu vou’ fui preso porque eu falei alemão. Para este
sujeito, a história citada lhe marcou, trazendo-a novamente à sua memória. Bakhtin (2006, p.
140) discute que guardar algo na memória é como guardar algo por seu valor. Ser preso, para
o Sr. Bernardo, tem um valor para ser recontado, esse acontecimento lhe deixou marcas que
são revividas em sua memória. Assim como a maioria dos teuto-brasileiros, o Sr. Bernardo
teria de deixar de falar sua língua, ocultar sua cultura teuto-brasileira para tornar-se um
“brasileiro”.
De acordo com Fáveri (2004), durante esse período, na educação, bem como em todos
os setores da sociedade, o governo projetava uma determinada cultura nacional. Percebemos,
com os relatos dos sujeitos teuto-brasileiros, que essa cultura nacional era imposta ao grupo
através da língua. Como retoma o Sr. Bernardo ao contar sobre o episódio em que foi preso, é
possível perceber que alguns descendentes de imigrantes, que fugissem desse ideal
monolíngue, monocultural, acabavam sofrendo com punições. O Brasil, para essa fase, só
tinha espaço para “brasileiros” e, deveriam ser todos “iguais”, cultivando a ideia de um país
homogêneo.
É interessante verificar na fala do Sr. Bernardo, ainda, que embora a voz de prisão
tenha sido realizada por falar uma língua proibida, sua contrapalavra (cf Bakhtin, 2006) é
dada na mesma língua, na língua alemã. Essa atitude responsiva não é apenas o dito (vou’ eu
quero primeiro dizer auf wiedersehen para o senhor gehard), mas o significado do que ele
disse, o movimento de resistência em ainda utilizar sua língua de herança ao ser preso. O ato
do Sr. Bernardo de falar auf wiedersehen naquele contexto, naquela situação, quando o
secreta estava lhe prendendo, demonstra o quanto o grupo teuto-brasileiro resistiu à campanha
de nacionalização do ensino para falar sua língua de imigração. Percebemos que ainda hoje a
língua alemã, para essas pessoas, é utilizada como língua de interação social. No caso do Sr.
Bernardo, além de utilizar a língua de imigração de forma oral, também a utiliza de forma
escrita através da leitura de jornais e revistas que recebe da Alemanha ou da própria igreja da
região.
3 Memórias sobre práticas de letramentos
A memória é ativa, é propícia a alterações no momento em que é expressa,
dependendo dos interlocutores, das preocupações do momento. Podemos compreender que a
memória é mutável, embora nela “[...] existam marcos ou pontos relativamente invariantes,
imutáveis.” (POLLAK, 1992, p. 202). De acordo com Pollak (1992), quando o entrevistado
retorna a determinados períodos da vida (sendo esta a parte da memória considerada
invariante), há uma importância para essa pessoa que impossibilitou a ocorrência de
mudanças. Esses elementos imutáveis que Pollak teoriza são como as memórias do passado
de Bakhtin (2011), que passam a fazer “parte da própria essência da pessoa” (POLLAK, 1992,
p. 202). Os elementos mutáveis, podemos considerar como as memórias do futuro, que
dependem de uma projeção e podem se modificar em “função dos interlocutores, ou em
função do movimento da fala” (POLLAK, 1992, p. 202).
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Para Bakhtin (2011), a memória é sempre memória do passado e do futuro. A
memória do passado é a história coletiva, as lembranças construídas socialmente por um
grupo e por isso relacionadas com a constituição dos sujeitos. Já a memória do futuro, volta à
concepção de sujeito como ser incompleto, pois é ele quem está construindo sua história de
acordo com a projeção que faz de si e do outro, portanto, se relaciona com questões
ideológicas.
Assim como linguagem é lugar de interação humana, atividade dialógica, construção
histórica e ideológica, a memória também o é. Quando o indivíduo olha para o passado ele
lança uma visão exotópica (cf. BAKHTIN, 2011), ele sempre traz o olhar do outro para si.
Como o ser é inacabado, ele olha para seu passado com um novo olhar, ele está sempre se
reconstituindo e construindo sua memória.
É dentro desse processo social, ideológico e dialógico, que o Sr. Bernardo e a Sra.
Bertha sentem pertencerem a um grupo, o teuto-brasileiro. Através do fenômeno social que é
a memória, os sujeitos pertencem a uma história coletiva, cada um reconstituindo
individualmente fatos ou períodos vividos pelo grupo.
Entendemos, portanto, que os sujeitos entrevistados puderam reconstituir sua trajetória
de vida relacionada às práticas sociais de leitura e escrita, construindo novos sentidos ao
período da campanha de nacionalização, bem como às práticas de letramentos das quais
participaram. Para compreender como se davam essas práticas, empregamos letramentos com
base nos Novos Estudos do Letramento (STREET, 1995, 2003; HEATH, 1983; BARTON e
HAMILTON, 2000; KLEIMAN, 2008). Adotamos, assim, uma concepção de letramento
como um conjunto de práticas sociais que têm como base a leitura e a escrita, desenvolvidas
em grupos sociais específicos. Cada grupo social desenvolve diferentes práticas de
letramentos que emergem das relações sócio-históricas, culturais e ideológicas desse grupo
(KLEIMAN, 2008). Enquanto as práticas de letramentos compreendem questões de
identidade, relações de poder, valores, os modos culturais de utilizar a linguagem escrita, os
eventos de letramentos compreendem atividades onde o letramento tem uma função, são as
ocasiões em que a linguagem escrita faz parte das interações (BARTON; HAMILTON, 2000,
p. 8).
Ao reconstruírem as práticas sociais de leitura e escrita, os sujeitos atribuem sentidos
ligados à identidade que os constituem. De acordo com Seyferth (1981), a identidade étnica se
constrói pelo diferente. Ser um brasileiro descendente de imigrantes e falar uma língua de
herança evoca uma identidade étnico-linguística que se difere de outras. Os processos de
identificação “vão determinar a emergência da identidade étnica a partir das oposições entre
indivíduos ou entre grupos de diferentes etnias” (SEYFERTH 1981, p. 6).
Esta identidade étnica está ligada aos valores que os descendentes cultivam em relação
à nação alemã, o que já vem sendo discutido neste artigo. Para Mailer (2003, p. 19), os teutobrasileiros definem sua nacionalidade pelo jus sanguinis, isto é, pela “herança de pertencer a
uma mesma raça, história, cultura e tradição marcadas principalmente pela língua”. Apesar de
os descentes de imigrantes não estarem mais ligados ao Estado alemão e sua pátria ser o
Brasil, no “imaginário teuto-brasileiro era perfeitamente possível ser cidadão brasileiro e ao
mesmo tempo pertencer à nação alemã” (MAILER, 2003, p. 20).
A história educacional presente em Santa Catarina está ligada a essas questões de
identificação, justamente em virtude de todos os aspectos culturais, étnicos presentes no
estado a partir da colonização. O Sr. Bernardo, no próximo excerto, descreve como era a
escola que frequentou, onde o próprio pai lecionava:
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Excerto 4 – Sr. Bernardo
Bernardo: (...) oficialmente era um dia português’ um dia alemão, isso ele levava a capricho
(+) papai tocava muito bem o violino’ nós cantávamos muito’ o canto o papai ensinava
bastante, tanto é que aí vocês vê uma foto da escola dele do ano mil novecentos e doze’ (++)
mil novecentos e doze mais ou menos’ quarenta e cinco alunos (+) gaspar era um lugarzinho
pequeno (+) ele era professor’ mas o governo, e nunca se aposentou’ não queria::’ não tenho
a necessidade de deixar me sustentar pelo governo’ ele dizia (+) ele orgulhava-se disso’ ele
ganhava’ aluno pagava por mês’ POR MÊS’ um mil reis’ e a metade não pagava (+) mas
então veio a ajuda da queijaria e do moinho’ e assim ele foi criando os seus quatro filhos’ nós
éramos em quatro, (...) era escola alemã’ isso depois o governo do estado comprou ((faz sinal
com as mãos como se fosse pegar algo e esconder no bolso, no sentido de que o governo
tivesse tomado a escola do pai))
A escola onde o Sr. Bernardo estudou fornecia ensino bilíngue na língua alemã e
portuguesa. Como já discutido, em zonas coloniais havia problemas relacionados ao ensino
formal da língua portuguesa para os imigrantes. Nessas regiões, não havia material didático
pedagógico para o ensino em bases bilíngues. “A concepção adotada na época era a de
alfabetizar o aluno inicialmente na sua língua materna (alemão, italiano ou outra), e só após
introduzir o ensino do português.” (LUNA, 2000, p. 61). No caso do Sr. Bernardo, no entanto,
percebemos que o ensino, até a campanha de nacionalização, ocorria na alternância das duas
línguas (era um dia português’ um dia alemão).
Com a primeira campanha de nacionalização em Santa Catarina, houve também a
primeira tentativa de assimilação nas regiões de origem colonial. Essa campanha ocorreu
“antes do período mais conflitante causado pela guerra” (LUNA, 2000, p. 63), quando
implantada a segunda campanha de nacionalização do ensino, já mencionada neste artigo.
Foram criados decretos que estabeleceram que o ensino particular (em escolas comunitárias
ou religiosas) poderia continuar a ser exercido livremente, desde que não fosse subsidiado
pelos cofres públicos (estaduais ou municipais). Caso fossem, teriam de fornecer
obrigatoriamente o ensino da língua portuguesa. (LUNA, 2000, p. 63). Dessa forma, as
escolas públicas eram escolas monolíngues em português e as escolas particulares, entre elas,
as comunitárias e religiosas, acabavam, por vezes, resistindo aos ideais nacionalistas e
ensinando a língua de imigração do grupo.
Se por um lado a escola exerceu a função de manutenção e desenvolvimento da língua
de imigração de muitos teuto-brasileiros, por outro, em função das campanhas de nacionalização,
também rompeu com as práticas ou enventos de letramentos nessa língua, impondo a língua
portuguesa no espaço escolar como única língua de interação, seja escrita ou oral.
Ao olharmos para o passado, por meio das memórias do Sr. Bernardo, vemos a forte
presença da música alemã em escolas e a relação dos cantos escolares com a religião. Em
algumas regiões, a igreja servia de escola e nela as crianças aprendiam cantos para o culto
(BISPO, 1999). No excerto citado acima, vemos a relação entre música, escola e religião: nós
cantávamos muito’ o canto o papai ensinava bastante. O Sr. Bernardo estudou em uma escola
religiosa luterana. Percebemos que tanto a escola quanto a igreja, para o Sr. Bernardo,
possibilitaram o acesso a práticas e eventos de letramento em alemão, fosse através do canto
ou do próprio ensino realizado no idioma.
No excerto 4, é relevante discutirmos também o não dito pelo Sr. Bernardo em: isso
depois o governo do estado comprou ((faz sinal com as mãos como se fosse pegar algo e
esconder no bolso, no sentido de que o governo tivesse tomado a escola do pai)). Nos
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pensamentos do círculo de Bakhtin, na enunciação, estão presentes signos, ideologias12. O
silêncio está marcado por esses signos, assim, o silêncio, o que não foi dito pelo senhor teutobrasileiro, faz parte de sua enunciação, de seu ato de fala. Para ele, parece que o governo do
Estado se apropriou da escola onde o pai trabalhava, e não a comprou. Se o Sr. Bernardo
prefere não falar diretamente isso, pode estar influenciado por toda uma história de vida,
quando deveria manter-se em silêncio sob pena de ser punido. Esse silenciamento era imposto
em função das políticas centralizadoras, que tentavam homogeneizar o contexto onde o Sr.
Bernardo vivia, quando sua voz não nacionalizada tinha de “se calar”.
Quando o Sr. Bernardo afirma que o governo do estado comprou a escola, é provável
que ele se refira ao período em que Nereu Ramos assumiu o governo de Santa Catarina,
tomando como medida política a nacionalização do ensino. Nereu Ramos foi o interventor,
em Santa Catarina durante o Estado Novo. Ele cumpriu “à risca as determinações da
campanha [de nacionalização do ensino], baixando decretos que normatizaram a intervenção
nas escolas, associações e outras instituições demarcadoras de pertencimento étnico”
(SEYFERTH, 1997, p. 97). Como a atitude se estendia a todas as línguas consideradas
“estrangeiras”, provocou conflitos com as populações de origem principalmente alemã e
italiana. O Sr. Bernardo não poderia mais ter acesso ao ensino em alemão e seu pai
abandonou a profissão de professor.
Tanto para o Sr. Bernardo quanto para a Sra. Bertha, vemos eventos de letramentos
por meio da música. Diferentemente do Sr. Bernardo, a Sra. Bertha, ao ingressar na escola,
não teve acesso ao ensino formal na língua de seu grupo étnico. Por isso, percebemos em seus
relatos que o letramento familiar foi significativo.
Excerto 5 – Sra. Bertha
Bertha: não’ isso era particular’ particular, e:: o professor walter que foi diretor do colégio
paulo duarte foi nosso professor de alemão’ nosso primeiro professor de alemão e naquela
época ainda praticamente não se podia falar’ dizer que tem aula de alemão porque ainda era
muito fiscalizado e:: nós tínhamos aula de alemão nos fundos de uma camisaria’ éramos
cinco alunos e foram uns dois anos’ (...) foram três anos (+) foi uma época maravilhosa
porque nós aprendemos os cantos em alemão’ seu walter tocava na orquestra do teatro carlos
gomes e ele tocava a viola e nós cantávamos (+) então foi assim’ sabe é:: um polimento
especial da cultura alemã que nós ganhamos (...)
Neste excerto há os movimentos de resistência da família da Sra. Bertha para que ela
pudesse ter acesso ao ensino formal da língua alemã, pois, mesmo que proibida a língua por
um período muito fiscalizado, ela tinha aulas de alemão “clandestinamente”. A ação militar
teve papel importante para a efetivação prática da campanha de nacionalização e, como citado
anteriormente, “impôs normas de civismo, o uso da língua portuguesa [...]” (SEYFERTH,
1997, p. 96). Foi através dessa ação militar que o ensino se tornou muito fiscalizado. Assim, a
família da Sra. Bertha e de outros teuto-brasileiros tomou como atitude responsiva ativa (cf.
BAKHTIN, 2006) a esta ação a resistência através de práticas envolvendo a língua alemã em
ambientes que dificilmente seriam vistos por espiões ou, por secretas, como o Sr. Bernardo os
denomina. Nas imposições do governo e nas resistências do grupo teuto-brasileiro estavam se
estabelecendo relações de poder. O governo tentava movimentar suas forças para centralizar o
poder, proibindo o alemão, mas o grupo resistia para manter suas práticas de letramentos
envolvendo a língua de imigração.
12
A ideologia se materializa a partir do universo de signos sociais. Para Bakhtin (2006), tudo o que é
ideológico, também é signo, existindo dentro da interação social para atribuir sentidos na linguagem.
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Assim como o Sr. Bernardo, a Sra. Bertha também fala sobre o canto para o ensino do
alemão e da sua importância para os descendentes de imigrantes alemães. Durante o período
de colonização, o imigrante alemão, ao vir para o Brasil, trazia uma imagem do que iria
encontrar em novas terras, idealizando a vida que desejava levar no novo país. Bispo (1999,
sp) aponta que essa imagem era mantida pelos imigrantes, mas trazendo à tona a “saudade” e
o “anelo”, fazendo com que desaparecessem aspectos negativos do passado. Nesse momento,
segundo o autor, entra o papel exercido pela música, em particular, pelo canto alemão, pois,
através dele, criava-se e mantinha-se uma imagem idealizada do passado, da origem desses
imigrantes.
O canto passou a marcar todas as fases da vida do imigrante, do nascimento até a
morte. Os cantos foram os principais traços culturais que sobreviveram entre os descendentes
das primeiras levas imigratórias (BISPO, 1999), fato visível não somente no relato do Sr.
Bernardo e da Sra. Bertha, mas sim de todos os sujeitos entrevistados que, ao contarem suas
histórias, citaram a música presente nelas.
No fim do excerto 5, a Sra. Bertha, ao se referir ao polimento que recebeu em relação à
cultura alemã, utiliza a adjetivação especial. Há em todo o enunciado dessa senhora de
Blumenau a valorização das manifestações culturais na língua alemã. Os sentidos que essa
senhora atribui a esses eventos de letramentos presentes nas aulas de alemão estão
relacionados com a construção social de cultura alemã, dos valores étnicos - a língua alemã é
a forma de expressar esses valores.
Além da escola, de acordo com Kleiman (2008), existem outras agências13 de
letramento que mostram orientações de letramento muito diferentes da própria escola. A casa
foi a agência responsável pela manutenção da língua de imigração para a Sra. Bertha. Na
família, essa senhora teve suas primeiras práticas de letramentos na língua alemã, as quais
tiveram continuidade nas aulas de alemão.
Excerto 6 – Sra. Bertha
Bertha: no tempo quando nós não tínhamos aula de alemão ainda’ em casa’ de noite’ não
tinha televisão (+) nós recebemos uma cultura de casa completamente diferente de hoje, tinha
rádio’ mas rádio era tocado em casa durante o dia, de noite’ era toca disco’ era eletrola (+)
com música clássica’ papai lia pra nós o:: o::’ a biografia dos dos é:: dos clássicos’ dos
compositores’ nós tínhamos que saber’ ele tocava uma música’ nós tínhamos que saber de
quem é essa música’ quem compôs a dita música’ e assim também na literatura’ papai lia pra
nós’ mamãe lia pra nós TODA NOITE’ toda noite passagens de livros’ as vezes livros
grossos (+) aí era lido até que a gente adormecia’ (...) se eu te conto que hoje ainda’ na minha
oração que eu faço’ eu ainda faço a oração de criança’ que eu aprendi de criança (...) lieber
gott‘ mach mich fromm‘ dass ich in himmel komm, (...) ou’ ich bin klein’ mein herz ist rein’
soll niemand drin wohnen’ als Jesus allein,14
A família, como já apontado, pode ser uma importante instituição na promoção de
práticas de letramentos. Na família da Sra. Bertha, as crianças foram introduzidas no mundo
da escrita por meio de práticas coletivas, como cita ao contar que seu pai e sua mãe liam
histórias para ela e suas irmãs, ou que liam biografias juntos. Através dessas práticas
13
Agências de letramento não são espaços necessariamente físicos, mas são áreas da vida, onde há discursos
construídos socialmente, como familiar, política, religiosa, educacional, profissional, entre outras. (BARTON,
HAMILTON, 2000).
14
Querido Deus, me faça devota, que eu chegue ao céu (...) ou Eu sou pequena, meu coração é puro! Ninguém
deve viver nele, somente Jesus (tradução nossa).
11
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coletivas, a Sra. Bertha, além de identificar diferentes gêneros textuais que circulavam em sua
casa, vai construindo sentidos e valores para a escrita.
Conforme Kleiman (2008, p. 30), “as práticas letradas em instituições como a família
[...] são práticas coletivas, em que o conhecimento sobre a escrita é construído pela
colaboração, numa relação quase que tutorial (a díade), ou pela participação em pequenos
grupos [...]”. É interessante observar que nas lembranças da Sra. Bertha de momentos em que
atribuía sentidos sociais para a linguagem escrita, estão sempre presentes os pais e as irmãs,
caracterizando a coletividade e a tutorialidade. De acordo com Kleiman (2008, p. 30) “o
suporte do adulto nesses eventos de letramento é essencial, tanto como no processo de
aquisição na oralidade, como também é essencial que o livro, a escrita seja elemento
significativo nessas interações”.
O alemão foi a primeira língua de interação para a Sra. Bertha na oralidade, a primeira
língua na qual participou de práticas de letramentos mediadas pelos pais. No ensino formal,
contudo, a primeira língua que aprendeu a ler e escrever foi a língua portuguesa. Logo,
mesmo tendo estudado alemão em aulas particulares, as lembranças que envolvem sua língua
de imigração estão relacionadas com a família, e, as lembranças que envolvem a língua
portuguesa estão mais presentes na escola. A Sra. Bertha já publicou três livros que contém
parte de sua história e muitos poemas escritos ao decorrer de sua vida, todos escritos em
português. Devido à proibição das línguas de imigração, todos os gêneros que aprendeu na
escola, ela produz em português, todo material escrito que tinha na escola, mesmo sendo de
uso pessoal, era em português.
Excerto 7 – Sra. Bertha
Entrevistadora: mas a senhora sempre escreveu”
Bertha: não’ não, aliás’ no internato eu fazia meu diário e:: pontilhado de lágrimas e de
saudade de casa::
Entrevistadora: o internato era no colégio católico”
Bertha: não’ o internato era no rio grande do sul, era um colégio é:: luterano’ mantido pela
igreja luterana’ e:::’ inclusive a::’ a diretora era uma irmã luterana’ ela era alemã’ schwester
karin’ e o professor johannes era o diretor geral’ então’ mas era tudo baseado em moldes
alemães (+) a cópia fiel dos internatos da alemanha como eles existiam na época em todo o
lugar que também formavam donas de casa (+) e::’ a’ enfim, depois a gente casou (...)
No excerto acima, a Sra. Bertha menciona o internato que frequentou com o objetivo
de se preparar para se tornar dona de casa. No internato, a Sra. Bertha conta que escrevia seu
diário pontilhado de lágrimas e de saudade de casa. Durante a entrevista, ela mostrou esse
diário, em que escrevia muitos poemas em português.
Há diferentes letramentos para diferentes domínios da vida. No caso da Sra. Bertha, o
gênero poético é reconhecido na esfera educacional e também caracterizado por ela como um
gênero pessoal, íntimo. Muitos gêneros discursivos com os quais a Sra. Bertha teve contato na
esfera educacional, ela preferia escrever em português. Isso se deve ao contato inicial que teve
com a linguagem para cada prática ou evento de letramento – para a poesia (texto que
circulava, nessa situação, na escola), a Sra. Bertha escreve em português, para orações (texto
familiar), as realiza em alemão.
Outra questão importante para observarmos está relacionada às esferas dessas práticas
de letramentos. As práticas de letramentos que os sujeitos entrevistados, em sua maioria,
lembram, não envolvem necessariamente a escola. Podem, como no caso do diário da Sra.
Bertha, estar presentes na escola, mas seus sentidos são construídos socialmente em diálogo
12
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com outras esferas. Além da escola, como já vínhamos apontando, há outras agências capazes
de promover práticas de letramentos, seja por meio de diferentes suportes, gêneros ou
modalidades (através de músicas, jornais, livros ou revistas).
Excerto 8 – Sra. Bertha
Bertha: sim’ acontece o seguinte (+) meu avô bertold veio pra blumenau’ ele veio com a
intenção de ir pra pomerode’ mas aqui em blumenau ele conheceu o seu arthur koehler’ logo
na chegada’ arthur koehler era dono do jornal der urwaldsbote, der urwaldsbote depois’
quando foi a nacionalização’ ele passou a se chamar a nação’ e debaixo e a nação dizia o
mensageiro da selva’ a tradução exata de urwaldsbote, urwald selva’ bote mensageiro (+)
então meu avô também era intelectual e:: o:: seu arthur koehler convidou-o pra ser o redator
e durante muitos anos meu avô foi redator desse jornal (+) então a minha queda pra escrita
pra literatura’ talvez isso esteja no meu sangue a partir do meu avô’ o meu pai escrevia muito
bem’ se bem que nunca pensou em publicar um livro’ mas papai tinha uma redação ótima, o
irmão mais velho do papai era escritor’ foi professor formado na alemanha e escreveu vários
livros também (+) e::: então eu acho que eu tenho essa influência por parte deles que eu gosto
de escrever’ sempre gostei de escrever, como eu falei’ eu fazia diário no internato’ e:: sempre
gostei’ (...)
Na região circulavam vários jornais em língua alemã. Dentre eles, se destacavam os
locais: Blumenauer Zeitung, Der Urwaldsbote, Rundschau, Kolonie Zeitung; bem como de
outros estados, mas com circulação mais restrita e urbana: “Der Kompass (editado em
Curitiba), do Deutsche Zeitung (editado em São Paulo) e do Kozeritz Deutsche
Zeitung (editado em Porto Alegre).” (SEYFERTH, 2004, p. 156).
A família da Sra. Bertha, como percebemos, tinha acesso a materiais escritos na língua
alemã que circulavam no Vale do Itajaí. As práticas sociais de leitura e escrita em alemão
envolviam, além da família da Sra. Bertha, muitas outras famílias de origem alemã da região.
Através dos materiais escritos na língua de imigração, divulgavam-se e reproduziam-se os
valores culturais do grupo teuto-brasileiro. No entanto, a partir da campanha de
nacionalização, esses materiais deixaram de circular, interrompendo o contato dos grupos
descendentes de imigrantes com a leitura em alemão.
A Sra. Bertha descreva a passagem de um jornal que reproduzia os valores culturais
teuto-brasileiros na língua do grupo, para a língua nacional: der urwaldsbote depois’ quando
foi a nacionalização’ ele passou a se chamar a nação’ e debaixo e a nação dizia o
mensageiro da selva’ a tradução exata de urwaldsbote, urwald selva’ bote mensageiro.
Quando jornais não eram mais escritos na língua alemã, perderam muito do valor cultural que
tinham, deixando de ter o mesmo sentido para seus leitores.
No excerto anterior, como em toda a entrevista, vemos que para a Sra. Bertha há
também um sentido valorativo em tornar públicas as experiências, especialmente de escrita,
como fala de seu avô, redator de um conhecido jornal da região, ou de seu pai que escrevia
muito bem, mas nunca pensou em publicar um livro e do irmão mais velho de seu pai, que era
escritor. Tudo isso a leva a falar da leitura e escrita presentes na família, dos gêneros
discursivos que aparecem, desde os íntimos como o diário, o poema, aos que circulavam
socialmente como ocorre no próprio jornal. Para ela, essas práticas de leitura e escrita são uma
herança familiar que a tornaram leitora e produtora de textos. A Sra. Bertha, durante toda a
entrevista, atribui sempre uma função social para a leitura e escrita em alemão e português,
ela reconhece diferentes gêneros discursivos e seus contextos de circulação. Tudo isso faz
dela uma pessoa que compreende a linguagem como forma de ser e estar no mundo.
13
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4 Considerações Finais
Para ampliar nossa visão do cenário sociolinguístico complexo encontrado no Médio
Vale do Itajaí, procuramos, neste artigo, discutir as memórias da segunda campanha de
nacionalização do ensino, bem como as memórias de letramentos presentes nos enunciados de
dois sujeitos entrevistados. As práticas de letramentos em língua alemã foram interrompidas
em todas as esferas públicas em função da campanha de nacionalização do ensino do Estado
Novo. Apesar da proibição, os sujeitos entrevistados demonstraram movimentos de
resistência, seja por meio de aulas de alemão “clandestinas”, ou da interação familiar ou na
esfera do trabalho. Essa resistência, contudo, acarretou algumas consequências negativas,
como quando um dos sujeitos conta sobre a experiência traumática ao ser preso.
O letramento de um indivíduo, como inferimos tanto com as entrevistas quanto pela
busca de teóricos como Kleiman (2008), não depende unicamente da escola, especialmente
quando se trata de indivíduos que falam línguas de imigração não reconhecidas na educação
formal. Identificamos outras agências que contribuíram para dar continuidade ao letramento
principalmente em alemão, como a igreja, o trabalho e a família. Um traço cultural muito
importante que apareceu na pesquisa se relaciona com a música, pois os sujeitos
demonstraram o quanto o canto, a música alemã significa para eles. Essas manifestações
também possibilitam o contato com a escrita dentro de uma prática social valorizada por
esses grupos.
Através dos subsídios teóricos e dos depoimentos dos sujeitos entrevistados,
discutidos neste estudo, é possível compreender a complexidade sociolinguística do cenário
da presente pesquisa. Compreender esse cenário é valioso para quem atua na educação em
regiões interculturais, pois, quando tratamos desse contexto, a cultura e as condições de
letramento dos indivíduos são determinantes para compreendermos os sentidos da escrita e da
leitura, principalmente por serem práticas sociais. A partir das memórias dos entrevistados,
vimos que para a história do grupo teuto-brasileiro, os letramentos apresentavam sempre uma
função social, a leitura e a escrita em alemão ou em português sempre constituíam uma
prática social.
Esperamos que esse estudo possa contribuir para a reconstrução e a reescrita da
história local e das políticas linguísticas do país que tentaram apagar as línguas de imigração
em busca da assimilação dos “quistos étnicos”. Os dados discutidos neste artigo podem ajudar
na compreensão das práticas de letramentos desses grupos, isto é, na percepção de como se
deu o acesso à leitura e à escrita por parte desse grupo étnico minoritário. Conhecer um pouco
da história pode contribuir para compreendê-la atualmente e dar outro rumo às políticas
linguísticas locais.
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xcelsul_artigo (127) - Círculo de Estudos Linguísticos do Sul