UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO ESPECIALIZAÇÃO latu sensu PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO EM BOVINOS PRINCIPAIS PATOLOGIAS DO SISTEMA REPRODUTIVO DE FÊMEAS BOVINAS Maria Carolina Villani Miguel Rio de Janeiro, dez. 2007. MARIA CAROLINA VILLANI MIGUEL Aluna do Curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos PRINCIPAIS PATOLOGIAS DO SISTEMA REPRODUTIVO DE FÊMEAS BOVINAS Trabalho monográfico de conclusão do curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos (TCC), apresentado à UCB como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Produção e Reprodução em Bovinos, sob a orientação do Prof. Msc. Athos de Assumpção Pastore. Rio de Janeiro, dez. 2007 PRINCIPAIS PATOLOGIAS DO SISTEMA REPRODUTIVO DE FÊMEAS BOVINAS Elaborado por Maria Carolina Villani Miguel Aluna do Curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos Foi analisado e aprovado com grau: ................................... Rio de Janeiro, ____ de _______________ de ______. ___________________________ Membro ___________________________ Membro ___________________________ Professor Orientador Presidente Rio de Janeiro, dez. 2007 DEDICO Aos meus pais Cristina e Jorge por estarem sempre ao meu lado, por acreditarem em mim e pelo amor incondicional. Mais uma vez essa nova conquista é nossa e se não fosse vocês nada disso seria possível. Obrigada por tudo!!! Amo muito vocês. AGRADECIMENTOS A Deus pela vida e aos animais que me ajudam e ensinam a viver. A Isabella, minha irmã de todas as horas, por todas as coisas que vivemos, pela nossa amizade e cumplicidade. Por todas as noites de quinta-feira que passei em Piracicaba e ao Raul, “meu cunhado favorito”, obrigada por tudo, amo vocês! Ao Rê pela força no início, pelo carinho, por acreditar em mim como poucos e por estar sempre por perto. Ao tio Paulo, tia Milka e João Pedro pelo apoio e incentivo no começo dessa conquista e por estar sempre ao meu lado. Aos amigos que fiz na turma de Reprodução de Piracicaba 2007. Todos os momentos, aulas práticas, grupos de estudo, amigos secretos, idas a Pira, jogo da mãozinha e as nossas baladas naquela vendinha que só a nossa turma conseguia ver a graça. As “Bixeirinhas Queridas”!!! Nosso quinteto será inesquecível! Todas as nossas conversas intermináveis, risadas, listas de chamada diárias, aulas práticas, presentes de aniversário e uma amizade maravilhosa. A Veruska que desde o primeiro dia de aula “conversamos só de olhar” e pela cumplicidade que conquistamos, a Beta uma pessoa tão querida que sabe falar as coisas certas quando mais precisamos, sem ela nosso congresso em Curitiba não seria o mesmo, a Nanda que me convenceu que o mestrado é tranqüilo e que sem ela Jaboticabal teria sido péssimo e a Nina por ser tão especial. Meninas vocês moram no meu coração, amo vocês!!! Ao Alexandre pelo nosso “trio-tcc”. Aos grandes amigos que fiz nesse período, em especial ao Sthéfano, João Viel, Thiago, Athos, André, Emanuel, Alexandre, João Silveira, Ricardo e Everton. A todos os professores que fizeram parte dessa história em especial ao professor Márcio S. Segui por tudo que nos foi ensinado, principalmente a paixão pela veterinária. Ao professor Athos A. Pastore pela dedicação e carinho pela nossa turma, pela orientação do tcc e pela amizade que construímos. Aos funcionários da fazenda da Qualittas de Piracicaba, sem vocês não teríamos feito muita coisa! A toda a turma da pós de Piracicaba 2007 por todos os momentos que vivemos nesse período. Valeu!!! LISTA DE TABELAS Tabela 1. Anormalidades dos ovários.................................................................. Tabela 2. Diagnóstico clínico diferencial entre cisto folicular e cisto folicular 2 luteínico do ovário nos bovinos............................................................ 6 Tabela 3. Anormalidades da vulva, vestíbulo e vagina........................................ 9 Tabela 4. Anormalidades do útero....................................................................... 12 Tabela 5. Distúrbios da gestação, do parto e do puerpério.................................. 16 Tabela 6. Distocias maternas............................................................................... 25 RESUMO A pecuária de corte brasileira que vinha almejando desde o início da década de 1990 aumento da eficiência produtiva passou nos últimos anos, a ter essa demanda exacerbada, especialmente, como resultado das impressões impostas pela globalização da economia. As modificações que a mesma vem sofrendo vão desde o conceito de produção até aquelas relacionadas com a caracterização do produto final. O Médico Veterinário especialista em reprodução animal é o responsável pelo aprimoramento e funcionamento desta cadeia produtiva. O objetivo desse trabalho foi relacionar as principais patologias do sistema reprodutivo das fêmeas bovinas, o efeito dessas sobre a fertilidade e o respectivo tratamento. ABSTRACT The cattle one of Brazilian cut that came longing for, since beginning of the decade of 1990, increase of the productive efficiency passed in recent years to have this demand, especially, as resulted of the pressures imposed for the globalization of the economy. The modifications that the same one comes suffering go since the production concept until those related with the characterization of the end item. The Medical Veterinarian specialist in animal reproduction is responsible for the improvement and the functioning of this productive chain. The objective of this study was to relate the main important pathology of reproductive system in caws, the effect of these on caw fertility and the treatment. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………... 1 2. REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... 1 2.1. OVÁRIOS........................................................................................... 2 2.1.1. Cistos ovarianos................................................................... 2 2.1.1.1. Cistos foliculares............................................................... 3 2.1.1.2. Cistos foliculares luteínicos............................................... 5 2.1.2. Hipoplasia ovariana.............................................................. 6 2.2. VULVA, VESTÍBULO E VAGINA ...................................................... 8 2.2.1. Vaginite................................................................................. 9 2.2.2. Prolapso vaginal................................................................... 10 2.3. ÚTERO.............................................................................................. 12 2.3.1. Problemas de desenvolvimento........................................... 13 2.3.1.1. Doença da novilha branca – White Heifer Disease.......... 13 2.3.1.2. Duplicidade cervical.......................................................... 14 2.3.2. Piometra............................................................................... 15 2.3.3. Distúrbios da gestação, do parto e do puerpério................. 15 2.3.3.1. Retenção de placenta....................................................... 16 2.3.3.2. Catarros genitas inespecíficos 1º, 2º, 3º e 4º grau............ 20 2.3.3.2.1. Catarro genital de 1º grau (CGI) – (Cervicite e endometrite pós-puerperal crônica)..................................................................... 20 2.3.3.2.2. Catarro genital de 2º grau (CGII) – (Cervicite e endometrite pós-puerperal muco-purulenta crônica)........................................... 21 2.3.3.2.3. Catarro genital de 3º grau (CGIII) – (Cervicite e endometrite pós-puerperal purulenta crônica)..................................................... 21 2.3.3.2.4. Catarro genital de 4º grau (CGIV) – (piometra)............. 22 2.3.3.3. Endometrite puerperal aguda............................................ 23 2.4. DISTOCIA MATERNA........................................................................ 25 2.4.1. Inércia uterina ou hipotonia uterina (distocia funcional – anomalia da contração).................................................................................... 26 2.4.2. Ruptura uterina (distocia da via fetal mole – anomalia uterina).................................................................................................................. 26 3. CONCLUSÃO................................................................................................... 27 4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 28 1. INTRODUÇÃO A pecuária de corte brasileira que vinha almejando, desde o início da década de 1990, aumento da eficiência produtiva, passou, nos últimos anos, a ter essa demanda exacerbada, especialmente, como resultado das impressões impostas pela globalização da economia. As modificações que a mesma vem sofrendo vão desde o conceito de produção até aquelas relacionadas com a caracterização do produto final (SEGUI, 2007). O Médico Veterinário especialista em reprodução animal é o responsável pelo aprimoramento e funcionamento desta cadeia produtiva (SEGUI, 2007). Um fato reconhecido é que a taxa de reprodução é uma característica importante para os sistemas de produção de bovinos, pois pode promover a melhoria da rentabilidade na atividade, podendo, ainda, viabilizar o emprego de programas de seleção animal, em função da maior taxa anual de reposição (MORAES et al., 2007). Segundo Escrivão et al. (2005), o conhecimento sobre as patologias que acometem o sistema reprodutor das fêmeas bovinas é essencial em um manejo focado em resultados. O processo reprodutivo é composto de uma série complexa de eventos que ocorrem de uma forma ordenada e no tempo exato. Diversos fatores podem interromper este ciclo reprodutivo causando infertilidade ou esterilidade (SANTANA, 2007), e alguns deles serão discutidos neste trabalho. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. OVÁRIOS O ovário dos mamíferos desempenha duas funções principais: a produção de óvulos e a secreção de hormônios ovarianos. As patologias que ocorrem nos ovários afetam a fertilidade do animal, pois interferem na produção de gametas da fêmea e na produção dos hormônios esteróides femininos e, portanto interfere com a fecundação, implantação, gestação, parto e com os ciclos estrais normais (JAINUDEEN e HAFEZ, 2004). Nesta parte do trabalho serão mencionadas anormalidades dos ovários (Tabela 1) e a discussão irá enfocar as principais patologias destes. Tabela 1. Anormalidades dos ovários. • • • • • • • Anormalidades dos ovários Anestro pós-parto prolongado • Aderências ovarianas Distrofia/Atrofia ovariana • Ooforites Hipoplasia ovariana • Ovulação retardada Atresia folicular • Tumores das células da teca Cistos ovarianos • Disgerminomas Cistos para-ovarianos • Degeneração microcística Hematomas • Tumores 2.1.1. Cistos ovarianos O ovário é tido como uma glândula do aparelho reprodutivo capaz de produzir hormônios que, nele estão contidos os folículos, estruturas primordiais da formação do zigoto. Existem dois hormônios que são de fundamental importância para a evolução desses folículos e posterior ovulação do mesmo, que são o FSH (hormônio folículo estimulante) e o LH (hormônio luteinizante). Falhas na ação desses hormônios nas células alvo do ovário podem desencadear uma alteração e subseqüente surgimento de patologias como cistos ovarianos, responsáveis de grandes perdas econômicas na pecuária, principalmente a de leite (BUENO et al., 2007). Cistos ovarianos, em termos gerais, respeitando os conceitos emanados da clínica veterinária são formações circunscritas, de tamanho variável, repletas de líquido de aspecto seroso com localização intra, peri ou para-ovariana, podendo ser grandes ou pequenos e uni ou pluriloculados. A seguir serão considerados os cistos que ocasionam condições patológicas bem definidas e determinadas: cistos foliculares e cistos foliculares luteínicos (GRUNERT et al., 2005b). 2.1.1.1. Cistos foliculares O cisto folicular caracteriza-se pela persistência de uma estrutura anovulatória por período superior a 10 dias (BUENO et al., 2007) e na aparência podem ser únicos com 2,5 cm de diâmetro ou aparecem com várias vesículas pequenas, podendo afetar um ou ambos ovários (BARRET et al., 2004), com interrupção da atividade ovariana normal (BUENO et al., 2007) e se instalam devido à deficiência da onda pré-ovulatória de LH em promover a ovulação ou devido à administração de progestágenos no proestro (BARRET et al., 2004). Há vários fatores predisponentes para o aparecimento de cistos foliculares, como excesso de concentrados, carências quantitativas e qualitativas de minerais e vitaminas e componentes daninhos em determinados alimentos (JAINUDEEN e HAFEZ, 2004). Muitos casos de cistos ovarianos estão associados à endometrites. Vacas com alta produção de leite são mais afetadas. No entanto ao comparar a produção de vacas com e sem cistos observa-se que apenas no ano da constatação do problema existe uma elevação da lactação. Assim, surge a dúvida se os cistos são causados pela alta produção láctea ou se esta é conseqüência de presença dos cistos, devido à constante produção de pequena quantidade de estrógenos poder estimular a secreção láctea (GRUNERT e BIRGEL, 1989b). A maior ocorrência se dá em vacas em torno da terceira lactação e nos primeiros 60 dias após o parto (BARRET et al., 2004). No início o animal apresenta hiperestrogenismo (ninfomania), com o passar do tempo sofre virilização e no final apresenta anestro (JAINUDEEN e HAFEZ, 2004). Vacas com cistos foliculares exibem manifestação sexual intensa (ninfomania) a intervalos irregulares, relaxamento dos ligamentos sacrociáticos e cauda elevada, acentuado corrimento de muco pela vulva e podem desenvolver características secundárias masculinas. Como é uma condição de caráter hereditário, os animais portadores devem ser eliminados (SANTANA, 2007). O diagnóstico é feito através de palpações retais repetidas a intervalos de 10 a 41 dias em que se observa ambos os ovários com as mesmas pequenas vesículas ou um dos ovários com a mesma vesícula de 2,5 cm de diâmetro; ou por dosagem hormonal sendo ideal a dosagem de estrógeno (E2 ). O diagnóstico diferencial deve ser feito com o cisto luteinizado (Tabela 2) (GRUNERT et al., 2005b). O tratamento dos cistos foliculares pode ser feito pela ruptura manual com 6 a 10 dias de intervalo, podendo ocorrer recidivas; administrar 500 a 10.000 UI de LH ou 500 a 2000 UI de hCG; administrar P4 exógena com implantes por 7 dias e na retirada fazer prostaglandina F2 α; administrar 0,5 mg de GnRH, por via intra-muscular (BARRET et al., 2004). 2.1.1.2. Cistos foliculares luteínicos O cisto folicular luteínico resulta de um folículo de Graaf anovulatório, com mais de 2 cm de diâmetro, que persiste no mesmo local, por longo período com luteinização das células da camada da teca interna (BARRET et al., 2004). As causas e origem dos cistos luteínicos são similares às descritas para os cistos foliculares do ovário, ou seja, por deficiência na liberação de GnRH ou LH, mantendo, entretanto, níveis suficientes de LH para determinar a luteinização de células da teca interna do folículo. Ressalte-se que essa quantidade de hormônio ou o equilíbrio de suas liberações são insuficientes para determinar a ovulação (GRUNERT et al., 2005b). A infertilidade associada à presença de cistos foliculares luteínicos não se caracteriza por anestro, mas pela não-ocorrência da ovulação do folículo dominante (ciclos anovulatórios) (GRUNERT et al., 2005b). O diagnóstico é feito através de palpações retais repetidas no intervalo de 10 a 41 dias em que se observará a persistência da vesícula de 2,5 cm de diâmetro, ou por dosagem hormonal, sendo o ideal a dosagem de progesterona (P4) (BARRET et al., 2004). O diagnóstico diferencial deve ser feito com o cisto folicular (Tabela 2) (GRUNERT et al., 2005b). O tratamento de eleição é a aplicação de prostaglandina F2α por via intramuscular (BARRET et al., 2004). Tabela 2. Diagnóstico clínico diferencial entre cisto folicular e cisto folicular luteínico do ovário nos bovinos (GRUNERT et al., 2005b). Parâmetros Etiologia Cisto folicular do ovário Deficiência de LH; não ocorre ovulação Cisto folicular luteínico Deficiência de LH; não ocorre ovulação, mas há LH em quantidade suficiente para promover a luteinização da teca Sintomas 1: Quadro geral Cios irregulares, freqüentes, contínuos; alternância com anestro. Ninfomania. Fatores predisponentes e suscetibilidade hereditária Ciclos estrais anovulatórios; virilismo Sintomas 2: Podem ser: simples ou múltiplo, uni ou Geralmente simples e Avaliação por palpação retal/ Sintomas bilateral; parede delgada, tensa e flutuante; superfície convexa e lisa; tamanho variável; conteúdo fluído de cor amarelo cristalina unilateral; parede mais espessa e com maior tensão e menor flutuação; superfície convexa e lisa; tamanho variável – maior do que 2,5 cm; fluido de cor âmbar Sintomas 3: Avaliação por ultrasonografia Paredes delgadas Paredes mais espessas Sistomas 4: Perfil hormonal/ Tratamento Predomínio do estrógeno GnRH; hCG Predomínio da progesterona PGF2α; hCG 2.1.2. Hipoplasia ovariana A hipoplasia ovariana hereditária ocorre em várias espécies e constitui-se em importante causa de falha reprodutiva em vacas taurinas e zebuínas (MENDONÇA et al., 2007). É uma patologia hereditária, devido a um gene autossômico recessivo de penetrância incompleta, pode ser bilateral total ou parcial ou unilateral total ou parcial (BARRET et al., 2004). Tanto em vacas taurinas quanto em vacas zebuínas, a hipoplasia gonadal hereditária é geralmente bilateral, mas varia consideravelmente em severidade e simetria. Em associação com a hipoplasia ovariana, geralmente há um infantilismo relacionado ao restante do trato genital. O infantilismo genital ocorre mais frequentemente em fêmeas jovens associadas à má nutrição, tornando os ovários monofuncionais (MENDONÇA et al., 2007). Vários estudos em vacas têm detectado que o ovário esquerdo está mais frequentemente e severamente acometido por este distúrbio do desenvolvimento do que o ovário direito. Mesmo com hipoplasia unilateral, isto é, com um ovário competente, esse órgão morfologicamente normal contem poucos folículos primordiais. A deficiência parece também inibir os folículos de Graff (MENDONÇA et al., 2007). Fêmeas bovinas com hipoplasia ovariana parcial ou total, atingindo um ou dois ovários, apresentam sinais de sub-fertilidade ou infertilidade (SANTANA, 2007). A hipoplasia ovariana hereditária bilateral ou unilateral constitui-se em importante causa das falhas reprodutivas em fêmeas domésticas, principalmente em vacas taurinas (MENDONÇA et al., 2007). Clinicamente, os ovários são pequenos, consistentes e lisos. Os cios são irregulares e muito espaçados quando a hipoplasia é parcial. No caso de hipoplasia total e bilateral os animais apresentam trato reprodutivo infantil e nunca manifestam cio (BARRET et al., 2004). O diagnóstico é realizado através da palpação retal onde se observa ovários de tamanha diminuído, semelhantes a grão de ervilha, de consistência firme e superfície achatada. Nas formas unilaterais o ovário contralateral e funcional é de tamanho normal. Não há tratamento por ser uma patologia genética, sendo o mais indicado o descarte do animal para evitar a transmissão aos descendentes (BARRET et al., 2004). 2.2. VULVA, VESTÍBULO E VAGINA Segundo (GRUNERT et al., 2005a), a vagina em todas as espécies animais domésticas tem forma cônica com paredes flácidas, de composição músculo membranosa, comunicando-se com o exterior posteriormente através da vulva, da qual está separada pelas pregas himenais, rudimentares, mas visíveis na égua e rudimentar e inaparente na vaca e na búfala. Também apresenta uma função imunológica, com secreções de imunoglobulinas, apresentando microflora bacteriana própria. A vulva é a porção final do trato genital tubular. É importante salientar que o diagnóstico das alterações da vagina e vulva requer exame clínico minucioso, tanto da parte externa da vulva e da parte posterior do vestíbulo vaginal, como também da vagina por vaginoscopia. A inspeção indireta da vagina e da projeção da cérvix na vagina deve ser considerada fundamental à complementação do exame ginecológico por palpação retal nos grandes animais: bovino, bubalino e eqüino. Nesta parte do trabalho serão mencionadas anormalidades da vulva, vestíbulo e vagina (Tabela 3) e a discussão irá enfocar as principais patologias destas. Tabela 3. Anormalidades da vulva, vestíbulo e vagina. • • • • • • Anormalidades da vulva, vestíbulo e vagina Mal formação congênita • Cervicovaginite bovina infecciosa Hipoplasia da vulva e vagina • Pneumovagina Hematoma de vulva • Fibropapiloma de vulva Vestibulite • Carcinoma epidermóide da vulva Urovagina • Prolapso vaginal Vaginite • Cistos de retenção na vagina e vestíbulo 2.2.1. Vaginite Vaginites são os processos inflamatórios da mucosa da vagina, sendo frequentemente de origem infecciosa e acometem as fêmeas de todas as espécies de animais domésticos. O fator etiológico determinante nas vaginites são agentes microbianos que com maior freqüência atingem a cavidade vaginal por via ascendente, penetrando através da vulva ou, menos frequentemente, por via descendente, oriunda de infecções bacterianas do útero ou da cérvix (MARQUES, 2003). As vaginites também foram consideradas complicações secundárias e comuns na pneumovagina, uro-vagina, abortamento e traumas obstétricos (GRUNERT et al., 2005a). A sintomatologia clínica evidente é observada por inspeção que permite a verificação de congestão, edema e fluxo vaginal muco-purulento (MARQUES, 2003). Quando o processo inflamatório da vagina for muito doloroso o animal apresenta elevação da cauda, tenesmo e rejeita a monta (GRUNERT et al., 2005a). Nos casos severos de vaginite o tratamento recomendado é a lavagem da vagina com soluções anti-sépticas, seguida de aplicação local de substâncias analgésicas e anti-inflamatórias, associadas ao uso de antibiótico tópico e repouso sexual até a recuperação do animal (MARQUES, 2003). 2.2.2. Prolapso vaginal O prolapso vaginal é à saída da membrana mucosa, inicialmente do assoalho da vagina anterior podendo se agravar até haver um prolapso com inversão (saída da vagina e cervix pela vulva). Pode ser acompanhado de prolapso de útero, cervical, retal e de bexiga urinária. Pode ser de dois graus: prolapso parcial da vagina quando somente uma porção da vagina é projetada para o exterior pela abertura vulvar, visualizado somente quando o animal está em decúbito devido ao aumento da pressão intra-abdominal e possui aparência de um corpo arredondado ou cilíndrico através da abertura da vulva e a mucosa vaginal está mais avermelhada com pequenas erosões devido ao contato com corpos estranhos (capim, fezes) (GRUNERTe BIRGEL,1989a). Ou prolapso total da vagina quando ocorre a projeção total da vagina pela vulva, sendo a porção vaginal da cérvix visível. A mucosa vaginal é permanentemente observada através da rima vulvar mesmo com o animal em estação. A vagina projeta-se através da vulva totalmente notando-se até a porção vaginal da cérvix. Pode ser observado em ruminantes em prenhez adiantada ou no pós- parto (GRUNERT e BIRGEL, 1989a). O prolapso vaginal pode ocorrer devido ao relaxamento do sistema de fixação do genital em animais idosos; alimentação rica em estrógenos; aumento da pressão intraabdominal (prenhez adiantada, tenesmo, outras patologias); tratamentos hormonais ou que causem excessiva irritação da vagina; deposição excessiva de gordura no tecido peri-vaginal relaxando seus ligamentos e aumentando a sua mobilidade; predisposição hereditária; confinamento e cistos ovarianos (GUIDO, 2007). Os sinais clínicos evidenciam a exposição de uma formação avermelhada e cilíndrica ao nível dos lábios vulvares. A fêmea apresenta tenesmo, inquietação e com isso provoca lesões que podem chegar até a necrose das regiões expostas. Ocorre a dissolução parcial ou total do tampão mucoso antes do momento ideal, comprometendo a gestação, retenção urinária devido ao deslocamento da bexiga com dobramento da uretra, vulvite, vaginite, cervicite, miíase, morte fetal e aborto (STAINKI, 2007). Recidiva em prenhez futura é possível e há transmissão da predisposição aos descendentes. O principal perigo do prolapso vaginal grave nos ruminantes durante a prenhez é evoluir para prolapso uterino do tipo pós-parto ou de se instalar uma infecção na mucosa lesada que pode evoluir para a cérvix e útero levando ao abortamento, enfisema fetal, infecções puerperais ou septicemias (GRUNERT e BIRGEL, 1989a). O tratamento sugerido é reduzir e manter o órgão em sua posição. A redução do prolapso através de suturas, se possível, pode ser feita por diferentes métodos: Processo de Flessa: trilhos laterais na vulva, processo de Caslik: fitilho umbilical em sutura em U invertido (Secção de parte da vulva diminuindo a abertura vaginal), processo de Bühner: sutura em bolsa de fumo visando diminuir o óstio vaginal. Aguardar o momento do parto em local limpo. Aplicar Progesterona (100mg) ou 20 mg por 100 kg/PV (GUIDO, 2007). 2.3. ÚTERO O útero é composto de dois cornos uterinos, um corpo e uma cérvix. A proporção relativa de cada parte, assim como o formato e a disposição dos cornos, varia entre as espécies. Na vaca um útero bipartido é típico e o epitélio uterino apresenta diversas carúnculas (HAFEZ e HAFEZ, 2004). O útero apresenta uma série de funções. O endométrio e seus fluidos têm grande relevância no processo reprodutivo: transporte dos espermatozóides do ponto de ejaculação até o local da fertilização no oviduto, regulação da função do corpo lúteo e início da implantação, gestação e parto (HAFEZ e HAFEZ, 2004). Nesta parte do trabalho serão mencionadas anormalidades do útero (Tabela 4), distúrbios da gestação, do parto e do puerpério (Tabela 5), e a discussão irá enfocar as principais patologias destes. Tabela 4. Anormalidades do útero. • • • • • Duplicidade cervical Cervicite Placentites Salpingites Piossalpingite Anormalidades uterinas • Mucometra • Endometrites • Metrites • Perimetrites • Parametrites • • Linfossarcoma Piometra • • Atonia uterina Hipertonia uterina Problemas reprodutivos têm adversamente afetado o desempenho reprodutivo de vacas em regime extensivo de criação (MORAES et al., 2007). Segundo Martins et al. (2002), baixos índices de natalidade são ocasionados pelo comprometimento da fertilidade da fêmea bovina, sendo as inflamações uterinas um importante agente deste acontecimento. Esta condição induz condições indesejáveis no lúmen uterino inviabilizando o desenvolvimento embrionário, além de promover sérios reflexos na fertilidade potencial das fêmeas bovinas (MARTINS et al., 2002). 2.3.1. Problemas de desenvolvimento Segundo Barret et al. (2004), a maioria dos problemas de desenvolvimento em bovinos, como em outras espécies, resulta de anormalidades genéticas, que podem ser tanto hereditárias de um ou ambos os pais ou vir de lesão cromossômica durante o desenvolvimento do oócito, fertilização e desenvolvimento embrionário precoce. É provável que um percentual muito elevado de anormalidades hereditárias resulte na falha da fertilização ou morte dentro de curto período da concepção. Não há tratamento curativo que possa ser recomendado para a cura das anomalias do desenvolvimento dos segmentos tubulares do trato genital feminino. Todavia, devem ser recomendados tratamentos profiláticos que podem controlar a disseminação dessa anomalia congênita no rebanho (GRUNERT et al., 2005c). 2.3.1.1. Doença da novilha branca – White Heifer Disease Um exemplo clássico de condição herdada que afeta a reprodução é a aplasia segmentar dos ductos de Müller ou doença da novilha branca (GRUNERT et al., 2005c). O nome deriva do fato de que o gene responsável pela condição está associado com a cobertura de pêlos branca (BALL e PETERS, 2006). A anomalia interfere com o desenvolvimento normal dos ductos de Müller, de forma que o trato reprodutivo fica obstruído. O grau, no qual os vários componentes do trato reprodutivo são afetados, varia e depende do momento em que o desenvolvimento foi inibido (BALL e PETERS, 2006 e GRUNERT et al., 2005c). Os ovários da fêmea bovina são funcionais e por isso o estro e a ovulação podem ocorrer normalmente (BARRET et al., 2004). Dependendo do local de obstrução, a fertilização, a concepção e o parto podem ou não ser possíveis, pois um corno uterino apenas pode ser afetado (BALL e PETERS, 2006). O tratamento recomendado no caso da Doença da Novilha Branca é afastar os animais afetados da reprodução, pois são portadores de genes associados com a ocorrência dessa anomalia congênita (GRUNERT et al., 2005c). 2.3.1.2. Duplicidade cervical De acordo com Ball e Peters (2006), os ovidutos, o útero, a cérvix e a vagina anterior se desenvolvem dos ductos de Müller embrionários. Em geral, os ductos se fundem para formar uma única cérvix e vagina, mas às vezes uma dupla cérvix é formada. Segundo Grunert et al. (2005c), as endometrites são os processos inflamatórios do endométrio e por atingirem uma mucosa devem ser considerados processos inflamatórios do tipo catarral. Assim, as metrites são processos inflamatórios mais profundos, na estrutura do órgão, acometendo suas camadas musculares – o miométrio. As piometras são processos inflamatórios crônicos do tipo purulento, havendo exagerado acúmulo de exsudato purulento no interior da cavidade uterina. 2.3.2. Piometra A piometra pode ocorrer como seqüela da endometrite crônica e o herpesvírus tipo 4 já foi identificado como um dos microrganismos causadores (SHELDON et al., 2004). O processo se desenvolve com o canal cervical fechado; entretanto, em alguns momentos, pode ocorrer a abertura da cérvix, com fluxo vaginal purulento, sendo grande o volume escoado através da vulva (GRUNERT et al., 2005c). Segundo Ball e Peters (2006), piometra também pode resultar na morte do embrião ou feto com infecção subseqüente pelo C. pyogenes. O útero está sob a influência da progesterona do corpo lúteo e a cérvix está distendida. A liberação da prostaglandina F2α é evitada por causa da lesão endometrial. Os cornos uterinos ficam invariavelmente distendidos, apesar de ser em grau variado. No entanto a condição é raramente acompanhada por doença sistêmica. A situação pode persistir não detectada por um período considerável, pois se acredita que o animal esteja gestante. Os estrógenos seguidos pela ocitocina têm sido usados para tratar a condição, mas a prostaglandina F2α é provavelmente mais eficiente. 2.3.3. Distúrbios da gestação, do parto e do puerpério O período do puerpério é um processo fisiológico e global de modificações que ocorrem na genitália da fêmea, depois do parto, levando o órgão à recuperação das transformações ocorridas durante o período da prenhez, para finalmente atingir volume, tamanho, posição e adquirir novamente a capacidade reprodutiva para futura gestação (KOZICKI, 1998). Segundo González Sánchez et al. (1999), após o parto, ocorre uma série de modificações mediante as quais há uma recuperação das condições anatomofisiológicas originais do trato genital, provisoriamente alteradas para levar a termo da prenhez. Essas modificações, mais evidentes no útero, podem apresentar anormalidades que, mais tarde comprometem a fertilidade ou mesmo podem provocar esterilidade da vaca. Existem vários problemas que interferem neste período e que prejudicam o retorno da vaca à reprodução, acarretando uma perda na eficiência reprodutiva do rebanho e prejuízo econômico, pois além de aumentar o intervalo médio de entre partos, aumenta também os custos com o restabelecimento das fêmeas, diminuindo a produção (NUNES, 2005). Várias são as causas (Tabela 5) e serão discutidas as mais importantes destas. Tabela 5. Distúrbios da gestação, do parto e do puerpério. • • • • Anormalidades da gestação, do parto e do puerpério Metrite séptica puerperal aguda • Endometrite puerperal aguda Gestação prolongada • Endometrite pós-puerperal crônica Inversão e prolapso uterino • Catarros genitais inespecíficos Retenção de placenta 2.3.3.1. Retenção de placenta Segundo Kozicki (1998), para que haja o restabelecimento do endométrio, é necessário acontecer o deslocamento fisiológico da placenta onde a musculatura uterina promoverá contrações. Durante o puerpério há uma interação entre o útero e os ovários. A involução uterina experimenta complexa série de eventos que incluem contrações miometriais, perda de tecido e epitelização tecidual (KOZICKI, 1998). De acordo com Vasconcelos et al. (2000), embora a placentação da vaca seja do tipo adeciduado, isto é a placenta só é expulsa algumas horas após o nascimento, sabe-se que durante os primeiros 7 a 10 dias pós-parto, há notável descarga de líquidos chamados lóquios. Esses lóquios são formados por substâncias remanescentes do fluido fetal, sangue dos vasos rupturados, grânulos de enzimas proteolíticas formados no endométrio durante a gestação, células binucleadas e fagocitárias que já nas primeiras 48 horas pós-parto, são acionadas e irão iniciar as mudanças necróticas pelas camadas celulares da superfície endometrial (carúnculas) destruídas pela degeneração gordurosa dando origem à secreção serosa na cavidade uterina. Clinicamente, quanto mais viscosa e inodora for a descarga loquial, melhor é o prognóstico reprodutivo. A condição do útero no pós-parto constitui um dos principais fatores que influenciam a fertilidade das vacas. A retenção placentária é problema bastante comum no puerpério precoce de bovinos e aumenta o risco de infecções uterinas (KOZICKI,1998). Fisiologicamente a placenta é expulsa em média até cerca de 5 a 8 horas após o parto. A condição é considerada patológica quando parte, ou a totalidade dos anexos fetais permanece no lúmen uterino por um período de tempo superior a 12 horas após o parto (HORTA, 1994) e está associada a processos infecciosos, parto distócico, inércia uterina, indução do parto com dexametasona, partos gemelares, intervenção no parto sem assepsia, intervenção antecipada no parto, certas doenças como brucelose, leptospirose, listeriose, vibriose e principalmente deficiências nutricionais de vitamina A, selênio, na relação entre o cálcio e o fósforo e outros elementos (GUIDO, 2007; e HORTA, 1994). As infecções genitais causadas por agentes inespecíficos (E. coli, Corinebacterium pyogenes entre outros) instaladas durante o período de dilatação préparto, podem provocar surtos enzoóticos de retenção placentária e estas condições aparecem associadas a um aumento da freqüência de partos e má higiene das maternidades (HORTA, 1994). Em bovinos é normalmente causada por distúrbios no mecanismo de descolamento dos placentomas: placentomas imaturos, edema de vilosidades, necrose epitelial do córion e da cripta, involução progressiva e hiperemia dos placentomas (GRUNERT e BIRGEL, 1989b). Sua incidência é mais comum em gado leiteiro e a fertilidade é prejudicada devido ao atraso na involução do útero (SANTANA, 2007). A sintomatologia clínica nos casos de retenção placentária pode evoluir com a ausência de expulsão das membranas fetais no seu todo ou em parte; cólicas ligeiras e depois recorrentes; esforços repulsivos recorrentes; putrefação das membranas intrauterina a partir do 3º ou 5º dia pós-parto, com fluxo vulvar cinzento amarelado e fétido; segue-se metrite séptica, inicialmente sem sofrimento do animal e depois anorexia, abatimento, hipogalaxia, agalaxia, hipertermia e perturbações das funções fisiológicas nas duas semanas seguintes; se a retenção exceder os 10 dias, acompanha-se habitualmente por atonia uterina, eventualmente complicada com a emissão de lóquios abundantes e pútridos; finalmente pode haver septicemia acompanhada ou não por tetania podendo ocorrer à morte; nos casos de sobrevivência, as metrites evoluem para a cronicidade apresentando ou não a piometra, instalam-se cistos ovarianos evoluindo por vezes para ninfomania, agravando-se sempre a fertilidade subseqüente (HORTA, 1994 e STAINKI, 2007). O tratamento desses animais deve ser imediatamente iniciado em vacas com as membranas fetais retidas há mais de 12 horas pós-parto e deve ser continuado diariamente até que as membranas fetais sejam expulsas (KOZICKI,1998). O tratamento preconizado inclui massagens uterinas por via retal ou vaginal para facilitar a expulsão, aplicação de ocitócicos se ainda em tempo ou agentes luteolíticos, com vantagem para a prostaglandina F2α (auxiliam a contração e favorecem a chegada de macrófagos) (SANTOS et al., 2002). Como o animal entra em septicemia (febre, anorexia, etc.) tratar com penicilina parenteral e oxitetraciclina intra-uterina (GUIDO, 2007). A administração de ocitocina é recomendada no momento do parto e até quatro horas após o mesmo. Após este tempo, não oferece nenhum benefício. Em curto espaço de tempo as infecções bacterianas estão associadas à retenção de placenta. Sabendo-se dessa associação, recomenda-se o tratamento com antiinflamatórios e antibióticos. Antiinflamatório ácido acetil salisílico na dose de 100 mg por kg/peso vivo de 12 em 12 horas, durante três dias. Antibiótico pela via parenteral: Oxitetraciclina LA, dose de 20 mg/kg de peso vivo, de 48 em 48 horas, pela via intramuscular, durante 6 a 8 dias ou Ampicilina, dose 10-20 mg/kg de peso vivo, pela via intramuscular de 8 em 8 horas durante 3 dias ou Amoxilina (LA), dose de 20 mg/kg de peso vivo, pela via intramuscular de 48 em 48 horas, durante 6 dias. As cefalosporinas, sulfas e enrofloxacina também são recomendadas (MARQUES, 2003). Do ponto de vista clínico as retenções placentárias podem apresentar seqüelas como metrite, endometrite crônica, piometra. Salpingite, ooforite, metrite séptica aguda, peritonite e septicemia. Do ponto de vista reprodutivo, realçam-se os atrasos da involução uterina e do reinício da atividade ovariana pós-parto, aumento do intervalo parto-concepção, aumento do número de inseminações por gestação e diminuição da taxa de concepção (HORTA, 1994). 2.3.3.2. Catarros genitas inespecíficos 1º, 2º, 3º e 4º grau A classificação é baseada na presença de exudação associada ao comprometimento cervical, sendo dividida em 4 graus. Catarro Genital de 1º Grau (CGI); Catarro Genital de 2º Grau (CGII); Catarro Genital de 3º Grau (CGIII) e Catarro Genital de 4º Grau (CGIV) (GRUNERT et al., 2005c). 2.3.3.2.1. Catarro genital de 1º grau (CGI) – (Cervicite e endometrite pós-puerperal crônica) O CGI caracteriza um processo inflamatório que atinge a mucosa do trato genital da fêmea, cuja manifestação clínica essencial é a produção de secreção sero-mucosa (GRUNERT et al., 2005c). Ao exame vaginoscópico encontra-se prolapso e hiperemia do 1º anel cervical com hipersecreção mucosa de aspecto turvo. O prognóstico é bom e em alguns casos há cura espontânea com o cio normal (70% de cura) (GUIDO, 2007). O tratamento pode ser realizado através de infusão intra-uterina com preparados desinfetantes e/ou irritantes e fazer massagem uterina via palpação retal (GUIDO, 2007). 2.3.3.2.2. Catarro genital de 2º grau (CGII) – (Cervicite e endometrite pós-puerperal muco-purulenta crônica) A presença de secreção muco-purulenta (estrias de pus)e maior severidade dos processos inflamatórias de cérvix e vagina (GRUNERT et al.,2005c). O prognóstico é reservado, com 35-50% de cura com os tratamentos de rotina. A atividade cíclica é normal, mas são repetidoras de cio em um intervalo de tempo maior que 21 dias, porque ocorreu a fecundação, mas não ocorreu a implantação devido ao comprometimento do endométrio. O tratamento pode ser realizado com a utilização de prostaglandinas 11 dias após o cio, com isso ela faz com que haja migração de macrófagos para o útero, diminuindo o intervalo entre os cios. Se necessário, utilizar antibióticos como a oxitetraciclina, e mucolíticos (GUIDO, 2007). 2.3.3.2.3. Catarro genital de 3º grau (CGIII) – (Cervicite e endometrite pós-puerperal purulenta crônica) O CGIII é um processo inflamatório generalizado do endométrio e da cérvix, as manifestações clínicas são mais severas, comprometendo a regularidade dos ciclos estrais, ocorrendo período de aciclias, com fluxo genital purulento (GRUNERT et al., 2005c). O prognóstico é de reservado a mau, com 25% de cura utilizando os tratamentos de rotina. O tratamento pode ser realizado com a utilização de prostaglandina F2α para a luteólise do corpo lúteo, assim, o animal entrará em cio e eliminará o conteúdo purulento. A cada estro é necessário a realização de infusões uterinas (geralmente por dois dias) O tratamento deve ser repetido a cada 11 dias (PGF2α + infusão), até que o muco perca a característica patológica (GUIDO, 2007 e FERNANDES e FIGUEIREDO, 2007). 2.3.3.2.4. Catarro genital de 4º grau (CGIV) – (piometra) O CGIV se caracteriza como um processo inflamatório da mucosa uterina com exuberante produção de pus, que se acumula na cavidade uterina comprometendo a regularidade dos ciclos estrais. Por palpação retal verifica-se aumento de volume dos cornos uterinos, com flutuação e, no ovário há a presença de corpo lúteo. Nesses casos a cérvix pode-se apresentar fechada, acumulando o pus no útero, ou apresentar momentos com relaxamento do canal cervical e abertura da cérvix, ocorrendo então, o fluxo vaginal purulento, com eliminação de vários litros de pus (GRUNERT et al., 2005c). O prognóstico é mau e o animal não está mais apto para a reprodução, sendo feita à indicação para o abate (GUIDO, 2007). 2.3.3.3. Endometrite puerperal aguda O útero normal é um ambiente estéril, ao contrário da vagina que abriga inúmeros microorganismos. Ás vezes, patógenos oportunistas da flora vaginal normal ou do ambiente podem invadi-lo. Tais oportunidades ocorrem, sobretudo, mas não exclusivamente, durante o parto e a inseminação. O útero sadio é capaz de eliminar essas infecções passageiras de forma bastante eficaz. É comum que vacas no período pós-parto imediato apresentem contaminação uterina por uma variedade de microorganismos. Na maioria dos animais, o ambiente uterino é estéril é restabelecido dentro de dias ou semanas pós-parto. Naqueles em que a infecção persiste, desenvolve-se endometrite crônica ou subaguda, afetando negativamente a fertilidade (GILBERT, 2006). A endometrite é a infecção da camada mais superficial do útero, o endométrio e pode estar ou não associado com retenção de placenta (MARQUES, 2003). A falta da motilidade da musculatura uterina, dificuldade de eliminação dos restos fetais e à infecção uterina com flora bacteriana mista resulta em endometrite aguda e toxemia grave. Há necrose difusa e edema da mucosa e da parede do útero. Observa-se acúmulo acentuado de líquido fétido no útero, além de dilatação do órgão (BLOOD e RADOSTITIS, 1991). A absorção de toxinas resulta em toxemia grave, em particular em vacas obesas, que podem desenvolver degeneração hepática gordurosa irreversível (MARQUES, 2003). O animal apresenta-se apático, com anorexia, hipertermia, diarréia, taquicardia, taquipnéia e apresenta corrimento vaginal de conteúdo fétido, achocolatado e pouco viscoso (GUIDO, 2007). A cronificação das endometrites agudas é uma das principais causas de infertilidade ou sub-infertilidade nas vacas, pois normalmente não é feito um bom controle no puerpério, devido à má avaliação de muco vaginal e de utilização de especulo para verificação das mucosas internas (BLOOD e RADOSTITIS, 1991). As endometrites têm como fatores determinantes a invasão de bactérias oportunistas como o Staphylococcus; Streptococcus, Corinebacterium pyogenes, que tem como fatores predisponentes a atonia uterina; retenção de placenta; falta de higiene no local do parto; intervenção humana durante o parto, às vezes necessárias, às vezes indevidas, causando problemas internos; problemas de manejo e problemas nutricionais (NUNES, 2005). É provável que o diagnóstico de endometrite através da palpação retal e a observação de descarga vaginal seja a base para o tratamento da maioria das vacas (GILBERT, 2006). Como tratamento recomenda-se a administração de antibióticos pela via parenteral durante 6 a 8 dias. Oxitetraciclina LA na dose de 20 mg/kg de peso vivo, de 48 em 48 horas, via intramuscular, ou Enrofloxacina a 10% na dose de 2,5 mg/kg de peso vivo de 24 em 24 horas, durante 6 dias pela via intramuscular. Outros antibióticos e quimioterápicos: penicilinas naturais, amoxilina, cefalosporinas, sulfas, norfloxacina. Antiinflamatório aspirina na dose de 100 mg/kg de peso vivo de 12 em 12 horas, pela via oral, durante 3 dias. A infusão de antibiótico pela via intra-uterina depende da decisão profissional (MARQUES, 2003). 2.4. DISTOCIA MATERNA Distocia é definida como um parto difícil, caracterizando-se pelas dificuldades ou impedimentos que o feto encontra para ser expulso do útero, em decorrência de problemas de origem materna, fetal ou de ambos (JACKSON, 2004a). Pode variar desde um atraso, até a incapacidade de parir (STAINKI, 2007). As conseqüências do parto distócico podem ser morte do feto; diminuição da produção em geral; redução na fertilidade; esterilidade e morte da fêmea (JACKSON, 2004a). A incidência de distocias nas grandes fêmeas domésticas é variável com espécie e raça. Na espécie bovina, é mais comum nas raças leiteiras. As distocias de origem fetal também são as mais comuns. Deve-se lembrar que todos os casos de distocias devem ser atendidos com a devida brevidade, pois o fator tempo atua desfavoravelmente para os três: feto, fêmea e profissional (STAINKI, 2007). São várias as origens da distocia materna, sendo: as distocias pélvicas, distocias da via fetal mole e distocias funcionais. Nesta parte do trabalho serão mencionadas as distocias maternas (Tabela 6) e a discussão irá enfocar as principais patologias destas. Tabela 6. Distocias maternas. • • Distocias maternas Inércia uterina: primária e secundária • Espasmo cervical Ruptura uterina • Dilatação incompleta 2.4.1. Inércia uterina ou hipotonia uterina (distocia funcional – anomalia da contração) Esta distocia ocorre devido à deficiência nas contrações uterinas. Suas causas podem ser primárias: obesidade, distúrbio da relação Ca/Mg, sobrecarga excessiva do útero com feto grande ou hidropsia de anexos fetais, hérnias abdominais, reticulopericardite traumática, afecções hepáticas como a fasciolose, afecções pulmonares e renais e distúrbios hormonais; ou secundárias: macrossomia do feto, torção uterina, estresse da musculatura e ruptura uterina (JACKSON, 2004b). A sintomatologia clínica característica é a debilidade ou ausência de contrações uterinas, com clara evidência de pródomo do parto. O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos e palpação vaginal com dilatação suficiente. O tratamento utilizado é eliminar os possíveis fatores de impedimento, indução medicamentosa (administração de cálcio e ocitina), fetotomia e cesariana (STAINKI, 2007). 2.4.2. Ruptura uterina (distocia da via fetal mole – anomalia uterina) Esta distocia ocorre esporadicamente nas fêmeas domésticas. Geralmente ligada a histórico de distocia no parto, torção de útero, manobras obstétricas inadequadas, aderências (seqüelas de cirurgias), hidropsias, sobrecarga de útero e traumatismo (STAINKI, 2007). A fêmea bovina apresenta-se com desconforto abdominal, anorexia, parada ruminal, hemorragia interna, evisceração via vaginal, peritonite, choque hipovolêmico e morte (JACKSON, 2004b). O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, anamnese, palpação trans-retal ou vaginal. O prognóstico é desfavorável e o tratamento consiste em laparotomia, sutura do útero (GUIDO, 2007), fluidoterapia, transfusão sangüínea, antibioticoterapia, cesariana e ovariohisterectomia (STAINKI, 2007). 3. CONCLUSÃO O Médico Veterinário é parte fundamental no processo de produção de leite e carne bovina, participando do início ao fim do processo produtivo (SEGUI, 2007), iniciando com a reprodução. Com isso, pode-se concluir que as principais patologias reprodutivas das fêmeas bovinas estudadas podem prejudicar a fertilidade e a eficiência reprodutiva do rebanho. Assim, sabendo fazer um exame clínico correto, o diagnóstico preciso e quando necessário o tratamento coerente, as deficiências reprodutivas serão eliminadas, contribuindo com a melhoria da rentabilidade e viabilizando economicamente os setores de produção e reprodução de bovinos de corte e leite. 4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BALL, P.J.H.; PETERS, A.R. Problemas reprodutivos. In: ____. Reprodução em Bovinos, 3. ed. São Paulo, SP, 2006. p. 148-182. BARRET, D.C.; BOYD, H.; MIHM, M. Failure to conceive and embryonic loss. In: BLOWEY, R.W.; BOYD, H.; EDDY, R.G. Bovine Medicine – Diseases and husbandry of cattle, 2.ed. Oxford, UK: Blackwell Publishing, 2004. p. 552-576. BLOOD, D.C.; RADOSTITS, O.M. Estados sistêmicos gerais. In: ____. Clínica Veterinária, 7.ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 1991. p. 31-80. 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