INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA MARIA ÂNGELA DRUMOND ARAÚJO DESGASTE INTERPROXIMAL EM CASOS DE APINHAMENTO DENTÁRIO ÂNTERO-INFERIOR Ipatinga - MG 2010 MARIA ÂNGELA DRUMOND ARAÚJO DESGASTE INTERPROXIMAL EM CASOS DE APINHAMENTO DENTÁRIO ÂNTERO-INFERIOR Monografia apresentada ao programa de Especialização em Ortodontia do ICS-FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO IPATINGA, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista. Orientador: Prof. Me. Paulo Cézar de Oliveira Ipatinga - MG 2010 MARIA ÂNGELA DRUMOND ARAÚJO DESGASTE INTERPROXIMAL EM CASOS DE APINHAMENTO DENTÁRIO ÂNTERO-INFERIOR Monografia apresentada ao programa de Especialização em Ortodontia do ICS-FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO IPATINGA, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista. Aprovada em _____de _____________ de 2010. ___________________________________________ Prof. Me. Paulo Cézar de Oliveira Orientador ICS-FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO IPATINGA ___________________________________________ Prof. Examinador ICS-FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO IPATINGA ___________________________________________ Prof. Examinador ICS-FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO IPATINGA Dedico este trabalho a meus filhos, Elisa e Maurício, motivação e razão de tudo o que faço. Quando pensamos que sabemos todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas. Os filhos são a maior fonte de mudanças na vida dos pais: é por vocês, meus filhos, que cada segundo dessa vida vale a pena. Amo vocês. A Deus, por possibilitar a mim a oportunidade de estar viva e por ser a Luz de minha caminhada. “A ciência sem a religião é paralítica – a religião sem a ciência é cega.” (Albert Einstein). Aos meus pais, José de Lana Araújo e Iris Drumond Araújo, pelo impecável exemplo de vida e de amor e por serem responsáveis por minha educação em todos os sentidos, transformando-me na pessoa que hoje sou. Aos meus filhos, Elisa Araújo Caldeira e Maurício Lacerda Caldeira Filho, pelo amor incondicional, por serem meus maiores incentivadores e pela compreensão em me terem ausente em diversas ocasiões de suas vidas para alcançar o objetivo de me especializar em Ortodontia. Aos meus três irmãos, Hércules, Marcelo e Márcio Drumond Araújo, por estarem sempre ao meu lado, serem o ombro e o apoio nos momentos em que precisei. Sem eles, minha vida não seria tão rica e feliz. À minha sócia e cunhada, Eliana Madna Russo Rodrigues Araújo, por ser minha parceira nesse curso, onde reinou a amizade, a cumplicidade e a responsabilidade em executar com excelência o trabalho a quatro mãos em nossos indivíduos da FUNORTE. À minha secretária, Dilma Geralda Silva de Oliveira, por cuidar de minha vida profissional na minha presença e ausência, dando aos indivíduos o amparo e atenção necessários para compreenderem a minha vida e agenda tumultuadas. Sou grata à sua competência, responsabilidade e amizade. A toda a equipe da FUNORTE – NÚCLEO IPATINGA, sem exceção, em especial aos professores Bruno, Dênis, Marcionílio e Paulo, e aos outros grandes mestres convidados, pela generosidade em nos conceder acesso aos seus conhecimentos, sabedoria e experiência. Ao meu orientador, Paulo Cézar de Oliveira, por ser meu amigo, um exemplo e por me direcionar e exigir de meu trabalho de monografia a maior qualidade em todos os sentidos. Paulo, eu o admiro muito. Aos meus colegas de turma por fazerem com que os dias de aula e clínica fossem mais fáceis, felizes, doces e especiais. A cada um de vocês o meu abraço, carinho, respeito, amizade e, principalmente, a minha saudade. Aos meus indivíduos particulares que concordaram, sem nenhuma restrição, no uso de suas imagens para enriquecimento do conteúdo desta monografia. À vocês, Fernanda Cristina Rodrigues Ribeiro e Gisley Alves Ferreira, o meu muito obrigado pela generosidade e confiança. Enfim, aos meus indivíduos do curso que confiaram integralmente em meu trabalho de restabelecer à eles uma oclusão saudável e funcional com um lindo sorriso. RESUMO O apinhamento dentário na região ântero-inferior é uma queixa bastante comum na prática ortodôntica. Nos casos borderline, o tratamento pode ser realizado com ou sem extrações. A escolha do stripping como conduta, se apóia na quantidade de discrepância dento-alveolar, na redução do tempo de tratamento, e no perfil mole do indivíduo que não exija ou suporte uma redução. Dessa forma, é apresentada uma discussão sobre os prós e contras do uso do desgaste interproximal para resolução dos problemas de apinhamentos dentários na região ântero-inferior (casos limítrofes), uma vez que este trabalho se refere à essa técnica como opção de tratamento. Palavras-chave: 1. Apinhamento Dentário – 2. Stripping – 3. Desgaste Interproximal ABSTRACT Tooth crowding on the anteroinferior region is a frequent demand in the orthodontic practice. The treatment may be done with or without extractions in borderline cases. The choice of stripping as a procedure is based on the amount of dentoaveolar discrepancies, treatment time reduction, and soft tissue profile of the patient who does not need or does not stand a reduction. Thus, the pros and cons related to the use of interdental stripping as a solution to tooth crowding on the anteroinferior region (borderline cases) are presented through a bibliographical review as this work focuses on the interdental stripping as treatment option. Keywords: 1. Crowding Dental – 2. Stripping – 3. Interproximal Wear LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Gf - Granulação Fina GM - Granulação Média GuF - Granulação Ultrafina LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Técnica do uso do fio 0,020 preconizada por Sheridan ................................ 20 Figura 2 - Grupo controle sem nenhum tipo de polimento ........................................... 23 Figura 3 - Aspecto do esmalte após desgaste de três formas ........................................ 24 Figura 4 - Apenas com o uso de broca diamantada ...................................................... 24 Figura 5 - Broca diamantada e sequencia de discos de lixa .......................................... 24 Figura 6 - Broca diamantada + sequencia de discos de lixa + lixa para resina .............. 25 Figura 7 - Broca diamantada + sequencia de discos de lixa + pontas e taças de borracha e lixas para resina com branco de Espanha = melhor resultado .................................... 25 Figura 8 - Fotografia extrabucal, norma lateral ............................................................ 27 Figura 9 - Foto intrabucal lateral direita ...................................................................... 27 Figura 10 - Foto intrabucal frontal ............................................................................... 27 Figura 11 - Foto intrabucal lateral esquerda ................................................................. 27 Figura 12 - Foto intrabucal oclusal inferior.................................................................. 27 Figura 13. Caneta de retroprojetor ............................................................................... 28 Figura 14 - Demarcações nas proximais ...................................................................... 28 Figura 15 - Desgastes iniciais ...................................................................................... 28 Figura 16 - Continuação dos desgastes (esquerda) e desgastes com proteção do dente vizinho ........................................................................................................................ 28 Figura 17 - (A) Separador de Ivory, JON. (B) Colocação do mesmo ........................... 29 Figura 18 - (A) e (B) Vistas dos dois lados da face diamantada ................................... 29 Figura 19 - (A) Disco diamantado monoface. (B) Face lisa do mesmo......................... 29 Figura 20 - Uso do disco para desgaste........................................................................ 29 Figura 21 - (A) Tira de lixa de aço convencional. (B) Dispositivo para adaptar a tira de aço visando rompimento do ponto de contato .............................................................. 30 Figura 22 - Desgaste efetuado com tira de lixa de aço ................................................. 30 Figura 23 - Reanatomização com pontas diamantadas ................................................. 30 Figura 24 - Reanatomização concluída ........................................................................ 30 Figura 25 - Tiras de lixa para resina ............................................................................ 30 Figura 26 - Utilização da lixa com pasta polidora ........................................................ 31 Figura 27 - Espaços conseguidos ................................................................................. 31 Figura 28 - Aplicação tópica de flúor .......................................................................... 31 Figura 29 - Vista oclusal inferior da colagem dos braquetes ........................................ 31 Figura 30 - Vista frontal da colagem dos braquetes ..................................................... 31 Figura 31 - Foto de perfil ............................................................................................ 33 Figura 32 - Foto intrabucal da oclusão lateral direita ................................................... 33 Figura 33 - Foto intrabucal da oclusão frontal ............................................................. 33 Figura 34 - Foto intrabucal da oclusão lateral esquerda ............................................... 33 Figura 35 - Foto oclusal inferior .................................................................................. 33 Figura 36 - Desgaste interproximal ............................................................................. 33 Figura 37 - Acabamento e polimento ........................................................................... 33 Figura 38 - Disco de granulação mais fina ................................................................... 33 Figura 39 - Desgaste concluído (não usou pontas, taças e/ou lixa com branco de Espanha) ..................................................................................................................... 34 Figura 40 - Aplicação tópica de flúor .......................................................................... 34 Figura 41 - Foto final de perfil .................................................................................... 34 Figura 42 - Oclusão final lateral direita ....................................................................... 34 Figura 43- Oclusão final frontal .................................................................................. 34 Figura 44 - Oclusão final lateral esquerda ................................................................... 34 Figura 45 - Oclusão final inferior ................................................................................ 34 Figura 46 - Brocas de alta-rotação de granulação ultra-fina de diversas formas, que podem ser utilizadas no desgaste interproximal ........................................................... 39 Figura 47 - Sequência de discos Sof-Lex de quatro granulações, utilizadas no acabamento e polimento, em peça de mão e/ou contra-ângulo ..................................... 39 Figura 48 - Foto inicial de perfil .................................................................................. 49 Figura 49 - Vista lateral direita da oclusão (CI I) ......................................................... 49 Figura 50 - Vista frontal da oclusão, mostrando o apinhamento ântero-inferior ........... 49 Figura 51 - Vista lateral esquerda da oclusão (CI I) ..................................................... 50 Figura 52 - Arcada superior......................................................................................... 50 Figura 53 - Arcada infeiror – vista oclusal do apinhamento ânterio-inferior................. 50 Figura 54 - Separadores de borracha da distal do 33 à distal do 43 .............................. 50 Figura 55 - Uso do separador de Ivory (técnica utilizada). Broca Carbide 699L usada horizontalmente .......................................................................................................... 50 Figura 56 - Broca Carbide 699L usada verticalmente .................................................. 51 Figura 57 - Espaço obtido respeitando os limites de cerca da metade do esmalte presente em cada superfície interproximal ................................................................................. 51 Figura 58 - Vista aproximada do desgaste sendo efetuado ........................................... 51 Figura 59 - Posicionamento (caráter ilustrativo) de um fio 0,020 polegadas................. 51 Figura 60 - Desgaste usando o fio como proteção (caráter ilustrativo) ......................... 52 Figura 61 - Uso de disco diamantado dupla face no lugar da broca .............................. 52 Figura 62 - Acabamento com discos Sof-Lex .............................................................. 52 Figura 63 - Ponta de borracha com branco de Espanha ................................................ 52 Figura 64 - Tira de lixa para resina com branco de Espanha ........................................ 53 Figura 65 - Desgaste, acabamento e polimento concluídos .......................................... 53 Figura 66 - Aplicação tópica de flúor tixotrópico durante um minuto .......................... 53 Figura 67 - Permissão para uso de imagem dada pelo indivíduo .................................. 54 Figura 68 - Foto facial de perfil ................................................................................... 55 Figura 69 - Foto da oclusão lateral direita.................................................................... 55 Figura 70 - Foto da oclusão frontal .............................................................................. 55 Figura 71 - Foto da oclusão lateral esquerda ................................................................ 56 Figura 72 - Foto oclusal superior ................................................................................. 56 Figura 73 - Foto oclusal inferior .................................................................................. 56 Figura 74 - Afastador de Ivory posicionado ................................................................. 57 Figura 75 - Vista aproximada da broca Carbide 699L .................................................. 57 Figura 76 - Posicionamento da broca para início do desgaste interproximal ................. 58 Figura 77 - Posicionamento da broca para continuação do desgaste e remodelação ..... 58 Figura 78 - Acabamento e polimento com discos Sof-Lex ........................................... 58 Figura 79 - Com pontas e taças de borracha + branco de Espanha ............................... 59 Figura 80 - Com lixa para resina + branco de Espanha ................................................ 59 Figura 81 - Aplicação tópica de flúor tixotrópico ........................................................ 59 Figura 82 - Permissão para uso de imagem dada pelo indivíduo .................................. 60 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 15 2. OBJETIVO............................................................................................................ 17 3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 18 4. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 35 4.1 POR QUE O DESGASTE INTERPROXIMAL? ................................................... 35 4.2 DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA DE DESGASTE ..................................... 37 4.3 REMODELAMENTO, SEQUELAS, POLIMENTO E FINALIZAÇAO ............... 40 5. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 43 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 45 ANEXOS ................................................................................................................... 49 15 1. INTRODUÇÃO O excesso de massa dentária na porção ântero-inferior da mandíbula provoca o apinhamento dos dentes nessa região, apresentando-se como uma anomalia de posição dentária muito comum. O grau de severidade desse apinhamento resultará em várias possibilidades de tratamento, dependendo do caso. Podem ser citadas as exodontias, a distalização de molares, as expansões dos arcos e os desgastes interproximais, sendo esse último o motivo de nosso estudo. Muitas vezes, a falta de espaço não é muito acentuada e o perfil do indivíduo se apresenta agradável. Para esses casos na Ortodontia, considerados limítrofes ou borderline, ou seja, em que a exodontia de elementos dentários não seria uma boa opção para o alinhamento correto dos dentes e sua estabilidade pós movimentação, que é um dos objetivos principais numa movimentação ortodôntica, o desgaste interproximal (slice ou stripping), vem se mostrando através da história da Ortodontia um valioso instrumento. Os desgastes interproximais nada mais são que uma redução das dimensões mésio-distais dos dentes, com o objetivo de conseguir espaço para correção dos apinhamentos suaves ou moderados, bem como solucionar a desproporção natural de tamanho dos dentes entre os arcos. Em indivíduos adultos, que cada vez mais procuram tratamento ortodôntico para corrigir esse tipo de apinhamento, o desgaste interproximal tem sido um excelente recurso, focando um tratamento parcial e bem direcionado, com um mínimo de movimentação, evitando danos aos dentes e estruturas de suporte, uma vez que esses indivíduos na maioria das vezes, já apresentam seqüelas de outros problemas como os periodontais, por exemplo. O grau de higienização do indivíduo deve ser avaliado, pois os desgastes podem promover sulcos e arranhões mais profundos, não removidos pelo polimento, que favorecem o acúmulo de placa nessa região. 16 Existem diversos questionamentos entre diversos autores quanto à indicação do uso do desgaste, as melhores técnicas a serem empregadas e as condições de saúde dentária antes e depois do tratamento. Seu estudo se justifica por ser, quando bem indicado, um excelente recurso no tratamento ortodôntico. 17 2. OBJETIVO Esse estudo tem por objetivo, através de revisão bibliográfica, uma discussão sobre os prós e contras do uso do desgaste interproximal para justificar o seu uso na resolução dos problemas de apinhamentos dentários na região ântero-inferior borderline (casos limítrofes). 18 3. REVISÃO DE LITERATURA Lusterman (1954) preconizou o uso do desgaste interproximal como método para se ganhar espaço no arco e o realizava através do uso de tiras de lixa. Foi o primeiro pesquisador a lançar mão dessa técnica, dando início a uma série de estudos de outros grandes nomes da Ortodontia mundial que acreditaram na possibilidade de sua aplicação como recurso valioso, quando bem indicado. Hudson (1956) notou que ao se usar instrumentos rotatórios abrasivos, a superfície do esmalte ficava muito arranhada podendo predispor os dentes desgastados tanto à cárie como à doença periodontal. Riedel (1960) afirmou que, além de promover um aumento de espaço no arco, o desgaste propicia maior estabilidade no posicionamento dental após o tratamento corretivo. Kapur et al. (1961) utilizaram discos diamantados e obtiveram superfícies de esmalte acentuadamente rugosas. Van Der Fehr e Steiness (1966) demonstraram que o esmalte desgastado quando exposto ao meio bucal, adquire características semelhantes às do esmalte normal. Desde que a superfície desgastada seja bem polida, o procedimento não é prejudicial ao dente. Áreas retentivas, no entanto, ficam susceptíveis às cáries e às alterações na polpa e dentina. Rogers e Wagner (1969) consideraram o desgaste interproximal indicado quando a deficiência de comprimento do arco dentário não justificava a exodontia. Preconizaram a aplicação tópica regular de flúor como fator importante na proteção da superfície reduzida pelo desgaste por notarem a presença de ranhuras nessa superfície. Paskow (1970) relatou que as maiores vantagens do desgaste eram um ganho significativo de espaço para pequenas movimentações e um ganho de estabilidade após o tratamento ortodôntico, evitando recidivas. Dipaolo e Boruchov (1971) concordaram que a principal indicação do desgaste é a discrepância de tamanho dentário dos dentes anteriores e que o mesmo deveria ser feito em várias sessões. Não deveria ultrapassar a metade do esmalte interproximal e a 19 coroa não deveria ser desgastada até a largura da raiz, pois impediria o fechamento do espaço trazendo conseqüências periodontais futuras. Saxton (1973) afirmou que havia a possibilidade do surgimento de cáries e doenças periodontais após o desgaste com instrumentos rotatórios abrasivos. Peck e Peck (1975) consideraram que os dentes eleitos para remoção mesial ou distal de esmalte para a terapia ortodôntica seriam os incisivos inferiores que apresentassem índices de dimensões mésio-distais e vestíbulo-linguais acima dos desejados. Preconizou a necessidade do recontorno anatômico das superfícies pósdesgaste. Barrer (1975) preconizou transformar pontos em superfícies de contato não polidas para se evitar deslizamentos e recidivas após o alinhamento dos incisivos. Zachrisson e Mjör (1975) notaram que, apesar do abrandamento da erosão provocada pela broca, permaneciam orifícios profundos provenientes do “arrancamento” do esmalte com a utilização de instrumento rotatório abrasivo com granulação ultrafina, mesmo seguido de polimento com disco de lixa de granulação média, fina e ultrafina. Porém, afirmaram que o desgaste limitado ao esmalte não provoca alterações histológicas na polpa ou na dentina. Tuverson (1980) afirmou que o desgaste interproximal era uma boa alternativa para se conseguir pequenos ganhos de espaço suficiente para se solucionar casos em que havia pouco apinhamento. Estudou qual a quantidade ideal de esmalte a desgastar e técnicas de polimento pós-desgaste. Sheridan (1985) concluiu que o slice é indicado para resolver discrepâncias no comprimento do arco dentário de 4 a 8 mm, podendo ser aplicado em indivíduos jovens ou adultos, já que a espessura de esmalte proximal é constante ao longo da vida. Devese estar atento à técnica e indicações, pois o procedimento é irreversível. Usava durante o desgaste, um fio separador de 0,020 polegadas colocado abaixo do ponto de contato. Esse fio protegeria os tecidos gengivais e serviria como guia para a broca. 20 Figura 1 - Técnica do uso do fio 0,020 preconizada por Sheridan Fonte: SHERIDAN (1985) Arends e Christoffersen (1986) relataram que a presença de ranhuras de profundidades variáveis causadas por instrumentos rotatórios abrasivos pode causar cáries e doenças periodontais futuras. Sheridan (1987) em suas pesquisas, além de tentar o desgaste com tiras de lixa para amálgama, introduziu o uso de instrumentos rotatórios abrasivos (broca de alta rotação diamantada, disco de lixa unifacetado e a broca de tungstênio multilaminada, que foi a que resultou numa superfície mais lisa, sendo, portanto, a mais indicada). Artun et al. (1987) refutaram a afirmação de Dipaolo e Boruchov com estudos da condição periodontal de áreas com grandes proximidades de raiz, concluindo que os dentes anteriores não estão mais predispostos aos problemas periodontais quando suas raízes estão muito próximas. Thylstrup e Fejerskov (1988) descreveram que as superfícies dentárias desgastadas, quando expostas a concentrações maiores, tais como soluções para bochecho, e a agentes para aplicação tópica, apresentavam uma deposição temporária de flúor e um aumento de sua concentração produzia mais fluoreto de cálcio, levando a um aumento na remineralização do esmalte. Radlansky et al. (1988) citaram que o stripping serviria para alcançar um melhor arranjo dos dentes no arco dentário, para ganhar espaço, eliminar a discrepância de tamanho dos dentes inclusive por causas genéticas.e prevenir a recidiva do 21 apinhamento. Afirmaram também que a injúria provocada pelo desgaste resultaria em estrias e ranhuras que poderiam ser fatores predisponentes à cárie e doença periodontal; mas que com um polimento cuidadoso e adequado, o desgaste não levaria ao desenvolvimento da doença periodontal. Sheridan e Ledoux (1989) foram os maiores divulgadores da técnica do desgaste interproximal na década de 80, quando a exodontia ou a expansão não eram indicadas. Concluíram que o procedimento deveria ser seguido de polimento da superfície de esmalte com discos ou tiras de acabamento manuais, aplicação tópica de flúor e solicitação de bochechos diários com solução de fluoreto de sódio a 0,05%. O maior desgaste se concentrava na região distal dos caninos, onde se encontra a maior quantidade de esmalte. O desgaste seria de aproximadamente 0,5 mm na região anterior da arcada. Propuseram também, a aplicação de selantes nas áreas desgastadas. A avaliação de 10 indivíduos utilizando a técnica de desgaste mostrou intercuspidação adequada, tempo de tratamento médio de 9,4 meses e pequenas alterações nas dimensões verticais e transversais dos arcos dentários. Radlansky et al. (1989) trouxeram um grande avanço à técnica do desgaste ao serem os primeiros a observar o aspecto da superfície do esmalte com a utilização do microscópio eletrônico de varredura. Afirmaram que um ano após a remoção do aparelho ortodôntico, os sulcos ainda eram visíveis e que nas áreas de contato interproximal, a abrasão natural provocou um alisamento. O mesmo não foi observado nas áreas gengivais. Logo, o desgaste deveria se restringir às áreas de contato proximal, não se estendendo para a cervical. Radlansky et al. (1990) realizaram inúmeras pesquisas relativas a quantidade de esmalte que poderia ser desgastado, bem como a técnica de polimento a ser empregada. Logo, concluíram que uma relação entre uma maior susceptibilidade das superfícies desgastadas e polidas à cárie e à doença periodontal não é evidente. Mesmo com um acúmulo de placa, não houve um aumento na incidência de cáries nas regiões desgastadas. Hein et al. (1990) conseguiram resultados mais favoráveis com o uso de discos de diamante ou tiras de diamante no lugar de instrumento rotatório abrasivo diamantado com granulação ultrafina. 22 Jarvis (1990) desenvolveu uma broca específica para o desgaste interproximal, obtendo bons resultados e preconizando o desgaste inicial com broca diamantada de granulação ultrafina. Philippe (1991) afirmou que o desgaste deveria ser utilizado apenas para dentes anteriores, porque se os molares fossem desgastados, resultaria numa perda de controle da ancoragem. EL-Mangoury et al. (1991) relataram que a redução do tempo de tratamento é a principal vantagem do desgaste. Demonstraram que a aspereza produzida pelo mesmo não predispõe à cárie e que o uso de selantes retardaria o processo natural de remineralização dos dentes, que se completa 9 meses após o desgaste. Preconizam, entretanto, a fluoretação tópica. Joseph et al. (1992) consideravam que, mesmo após o polimento, o desgaste interproximal com brocas de granulações ultrafinas deixava sulcos residuais que resultariam no futuro em cáries e doenças periodontais. Twesme et al. (1994) afirmou que outros procedimentos deveriam ser utilizados para obter uma superfície pós-desgaste mais lisa e polida possível, pois acreditava na formação de sulcos de profundidades variáveis e arrancamento dos prismas de esmalte apenas com o uso de instrumentos rotatórios abrasivos. Piacentini e Sfondrini (1996) concluíram, após estudos comparativos, que o desgaste que promoveu uma superfície mais lisa foi o realizado com broca carbide de tungstênio com 8 lâminas retas e afirmaram que a aspereza do esmalte após desgaste é facilmente removível com discos Sof-Lex finos. Xu et al. (1997) notaram a permanência de estrias profundas no esmalte após uso de brocas diamantadas, brocas carbide e tiras de lixa grossa, mesmo depois de rigoroso polimento. Capelli Júnior et al. (1999) consideraram casos limítrofes como sendo aqueles que podem ser tratados com ou sem extrações e relatam que quando o perfil do indivíduo é agradável e a discrepância do tamanho do arco não é muito acentuada, o desgaste interproximal dos dentes ântero-inferiores é uma boa alternativa, além de mais conservadora. Ressaltaram a necessidade de o indivíduo possuir uma boa higiene oral para evitar o acúmulo de placa bacteriana nos sulcos formados pelos desgastes e o fato 23 de que, com o envelhecimento, o perfil facial vai se tornando mais côncavo. Logo, extrações devem ser evitadas em indivíduos jovens que apresentem perfil reto ou tendendo a côncavo. Ferreira-Tormin et al. (2001), após rigoroso estudo de grupos de controle, concluíram que a técnica que mais aproximou o esmalte pós-desgaste do esmalte normal – que também apresenta ranhuras e depressões de pouca profundidade – foi a que utilizou brocas diamantadas de granulação ultrafina, seguida de polimento com discos de lixa de granulação média, fina e ultrafina, branco de Espanha com tiras de lixa, taça de borracha e cone de borracha. Realizaram a pesquisa utilizando um microscópio de varredura, mostrando o aspecto do esmalte de um grupo controle sem nenhum tipo de desgaste ou polimento; e após o uso de diferentes materiais para desgaste interproximal, até chegar na técnica considerada a mais eficiente que resultaria num desgaste com a superfície o mais próximo possível do esmalte do grupo controle. Figura 2 - Grupo controle sem nenhum tipo de polimento Fonte: FERREIRA-TORMIN et al. (2001) 24 Figura 3 - Aspecto do esmalte após desgaste de três formas Fonte: FERREIRA-TORMIN et al. (2001) Figura 4 - Apenas com o uso de broca diamantada Fonte: FERREIRA-TORMIN et al. (2001) Figura 5 - Broca diamantada e sequencia de discos de lixa Fonte: FERREIRA-TORMIN et al. (2001) 25 Figura 6 - Broca diamantada + sequencia de discos de lixa + lixa para resina Fonte: FERREIRA-TORMIN et al. (2001) Figura 7 - Broca diamantada + sequencia de discos de lixa + pontas e taças de borracha e lixas para resina com branco de Espanha = melhor resultado Fonte: FERREIRA-TORMIN et al. (2001) Tormin Júnior et al. (2001) descreveram, após seccionamento de 60 incisivos inferiores no sentido mésio-distal de jovens até 20 anos de idade em lâminas centrais dos dentes com 1 mm de espessura e com a ajuda de um perfilômetro, que os incisivos laterais inferiores apresentam uma dimensão mésio-distal máxima maior que os incisivos centrais inferiores, com valores estatisticamente significantes; as espessuras do esmalte são em média de 0,7 mm para a face mesial e de 0,8 mm para a face distal; a espessura distal média é significativamente maior que a mesial em cerca de 0,17 mm. Capelozza Filho et al. (2001) relataram que um dos recursos utilizados no tratamento parcial de adultos para a obtenção de espaço é o desgaste de dentes 26 anteriores. Esse procedimento substitui em casos limítrofes a exodontia de dentes permanentes, permitindo a eliminação do apinhamento por meio de um tratamento rápido e localizado à área que necessita de correção e perpetuando o equilíbrio de áreas onde a estética e a oclusão (função) sejam satisfatórias. Rody e Araújo (2002) descreveram que indivíduos limítrofes têm algumas características como ausência de anomalias dentárias e craniofaciais, dentadura permanente, periodonto saudável e relação ântero-posterior normal entre maxila e mandíbula, sendo portadores de uma Classe I esquelética. Mondelli et al. (2002) relataram, através da exemplificação de um caso clínico, que o desgaste interproximal é indicado em casos com discrepância de modelo negativa suave ou moderada em que a expansão ou extração são contra-indicadas. Afirmaram que o desgaste pode ser realizado de diversas maneiras e com diferentes materiais: lixa para amálgama, broca de alta rotação diamantada, broca de tungstênio multilaminada, discos de lixa mono ou dupla face, e que, independente do material escolhido, é fundamental estar atento aos limites do desgaste que não deve ultrapassar 0,5 mm por face dos dentes anteriores. Os procedimentos de acabamento (remodelação) e polimento dental são importantes porque promovem uma superfície lisa e com brilho, evitando acúmulo de matéria orgânica e pigmentações indevidas. A colagem dos acessórios é o último passo, podendo se restringir apenas às áreas afetadas, quando o indivíduo apresenta uma excelente relação oclusal posterior. Avaliaram e trataram ainda um indivíduo do gênero masculino (Figuras 08 a 30), 25 anos, bruxista, dentes superiores desgastados e discrepâncias de modelo negativa, que são eliminados através de desgaste interproximal (0,25 mm em cada face), seguido de tratamento ortodôntico. O separador de Ivory exerce a mesma função do fio 0,020 polegadas preconizado anteriormente por Sheridan, afastando e protegendo os tecidos moles, mantendo o afastamento dentário, protegendo a superfície do dente vizinho e facilitando a remodelação do dente em questão. 27 Figura 9 - Foto intrabucal lateral direita Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 8 - Fotografia extrabucal, norma lateral Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 10 - Foto intrabucal frontal Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 11 - Foto intrabucal lateral esquerda Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 12 - Foto intrabucal oclusal inferior Fonte: MONDELLI et al. (2002) 28 Figura 13. Caneta de retroprojetor Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 14 - Demarcações nas proximais Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 15 - Desgastes iniciais Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 16 - Continuação dos desgastes (esquerda) e desgastes com proteção do dente vizinho Fonte: MONDELLI et al. (2002) 29 Figura 17 - (A) Separador de Ivory, JON. (B) Colocação do mesmo Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 18 - (A) e (B) Vistas dos dois lados da face diamantada Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 19 - (A) Disco diamantado monoface. (B) Face lisa do mesmo Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 20 - Uso do disco para desgaste Fonte: MONDELLI et al. (2002) 30 Figura 21 - (A) Tira de lixa de aço convencional. (B) Dispositivo para adaptar a tira de aço visando rompimento do ponto de contato Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 22 - Desgaste efetuado com tira de lixa de aço Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 23 - Reanatomização com pontas diamantadas Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 24 - Reanatomização concluída Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 25 - Tiras de lixa para resina Fonte: MONDELLI et al. (2002) 31 Figura 26 - Utilização da lixa com pasta polidora Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 27 - Espaços conseguidos Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 28 - Aplicação tópica de flúor Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 29 - Vista oclusal inferior da colagem dos braquetes Fonte: MONDELLI et al. (2002) Figura 30 - Vista frontal da colagem dos braquetes Fonte: MONDELLI et al. (2002) 32 Cuoghi et al. (2007) afirmaram que os desgastes interproximais podem ser realizados em casos que apresentam discrepância de Bolton como alternativa para apinhamentos moderados de até 2 mm para dentes anteriores. Afirmaram também que, independente da técnica a ser utilizada (tiras de lixa de aço, discos, pontas diamantadas ou brocas carbide), o diferencial para o sucesso está na indicação correta e num excelente polimento com discos finos e ultrafinos. Deve-se observar a susceptibilidade à cárie e o grau de higienização do indivíduo. Os desgastes não devem ultrapassar 0,25 mm, o que preservaria a saúde dentária e periodontal. Rossi Júnior et al. (2009) concluíram que, em casos limítrofes, o desgaste interproximal é indicado em discrepâncias de até 8,5 mm do arco dentário, a fim de evitar extrações em indivíduos com um bom perfil facial. Os dentes a serem desgastados devem ser largos, com forma triangular e esmalte espesso. Utilizam a seqüência de brocas Carbide 699L em alta rotação para remoção precisa do esmalte; discos Sof-Lex de granulação grossa, fina e ultrafina para acabamento e polimento das superfícies desgastadas; e a aplicação tópica de fluoretos para aumentar a proteção do esmalte. Apresentaram caso clínico (Figuras 31 a 45), do indivíduo P. C. S., 34 anos, gênero masculino, raça negra, cuja queixa principal era a estética dentária deficiente. Apresentava discrepância dentária negativa de 2 mm no arco inferior, discrepância dentária negativa de 4,9 mm no superior, perfil facial harmonioso com a raça, relação de molares e caninos de Cl I e padrão esquelético Cl I. 33 Figura 31 - Foto de perfil Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 33 - Foto intrabucal da oclusão frontal Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 32 - Foto intrabucal da oclusão lateral direita Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 34 - Foto intrabucal da oclusão lateral esquerda Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 35 - Foto oclusal inferior Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 36 - Desgaste interproximal Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 37 - Acabamento e polimento Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 38 - Disco de granulação mais fina Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009). 34 Figura 39 - Desgaste concluído (não usou pontas, taças e/ou lixa com branco de Espanha) Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 40 - Aplicação tópica de flúor Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 42 - Oclusão final lateral direita Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 41 - Foto final de perfil Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 43- Oclusão final frontal Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 44 - Oclusão final lateral esquerda Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) Figura 45 - Oclusão final inferior Fonte: ROSSI JÚNIOR et al. (2009) 35 4. DISCUSSÃO O desgaste interproximal, quando bem indicado, é hoje uma técnica difundida e aplicada pelos ortodontistas de todo o mundo para resolução dos pequenos apinhamentos dos dentes ântero-inferiores. Isso significa a solução dos casos limítrofes, onde as extrações não são indicadas por não trazerem benefícios ao indivíduo, (MONDELLI et al., 2002); onde o perfil do indivíduo, reto ou côncavo, seria prejudicado pelas mesmas, (CAPELLI JÚNIOR et al., 1999); e para dar maior estabilidade pós-tratamento ao segmento anterior, melhorando a forma dos dentes (ROSSI JÚNIOR et al., 2009) e auxiliando na obtenção de um ponto de contato adequado com redução da necessidade de contenção e diminuição das chances de recidivas, (RADLANSKY et al., 1988). Logo, o desgaste elimina apinhamentos leves e moderados, soluciona discrepâncias alvéolo-dentárias, melhora a função e protege a oclusão (CAPELOZZA FILHO et al., 2001). 4.1 POR QUE O DESGASTE INTERPROXIMAL? Pode-se descrever como vantagens e justificativas para se fazer uso do desgaste interproximal: o ganho de espaço no arco; obtenção de maior estabilidade no posicionamento dental pós-correção, evitando recidivas, (PASKOW, 1970); e ser a melhor opção quando a deficiência de comprimento do arco não justifica a exodontia para pequenas movimentações (casos limítrofes) (ROGERS e WAGNER, 1969). Indivíduos limítrofes foram descritos como portadores das seguintes características: ausência de anomalias dentárias e crâniofaciais, dentadura permanente, periodonto saudável e relação ântero-posterior normal entre maxila e mandíbula (Classe I esquelética). (RODY e ARAÚJO, 2002). 36 Afirmou-se como principal indicação do desgaste a discrepância de tamanho dos dentes anteriores (DIPAOLO e BORUCHOV, 1971). Os dentes eleitos para remoção distal ou mesial seriam os incisivos inferiores que apresentassem índices de dimensões mésio-distais e vestíbulo-linguais acima dos desejados (PECK e PECK, 1975). O desgaste é considerado uma boa alternativa para se conseguir pequenos ganhos de espaço suficiente para se solucionar casos em que há pouco apinhamento (TUVERSON, 1980). Os maiores divulgadores da técnica (SHERIDAN e LEDOUX, 1989), nos anos 80, indicavam o desgaste quando a exodontia ou expansão eram contra-indicadas. O slice resolveria discrepâncias na região ântero-inferior na ordem de 4 mm, sendo indicado para jovens e adultos por ser a espessura do esmalte proximal, constante ao longo da vida (SHERIDAN, 1985). O desgaste seria de aproximadamente 0,5 mm por superfície (SHERIDAN e LEDOUX, 1989; MONDELLI et al., 2002) ou 0,25 mm, segundo outros autores (CUOGHI et al., 2007). Avaliando-se 10 indivíduos tratados com slices, observou-se intercuspidação adequada, diminuição do tempo de tratamento para cerca de 9,4 meses e pequenas alterações não significativas nas dimensões verticais e transversais do arco dentário (SHERIDAN e LEDOUX, 1989). Foi citado também que o stripping obtém espaço através de um melhor arranjo dos dentes no arco, elimina a discrepância de tamanho dos dentes, inclusive por problemas genéticos, e previne a recidiva do apinhamento (RADLANSKY et al., 1988). Afirmação importante é a de se evitar o desgaste em molares, o que levaria a uma perda no controle da ancoragem (PHILIPPE, 1991). Foi definido também como caso limítrofe aquele que pode ser tratado com ou sem extração e considerado o desgaste como uma melhor e mais conservadora alternativa quando a discrepância do arco não é muito acentuada e o indivíduo apresenta um perfil agradável. Principalmente os jovens de perfil reto ou tendendo a côncavo; pois o perfil facial com o envelhecimento vai se tornando naturalmente mais côncavo (CAPELLI JÚNIOR et al., 1999). Importante citar que os incisivos laterais inferiores apresentam uma dimensão máxima maior que os incisivos centrais e que a espessura da face mesial dos mesmos é de 0,7 mm contra 0,8 mm da face distal, sendo a variável das faces distais para as 37 mesiais, de 0,17mm, o que é bastante significativo (TORMIN JÚNIOR et al., 2001). Porém, os dentes ântero-inferiores com um maior volume de esmalte na face distal são os caninos (SHERIDAN e LEDOUX, 1989). Outra vantagem do slice ocorre no tratamento de adultos que possuem equilíbrio das áreas posteriores em estética e função (oclusão). Nos casos limítrofes, o slice permite a eliminação do apinhamento dos dentes ântero-inferiores por meio de um tratamento rápido e localizado (CAPELOZZA FILHO et al., 2001). Contrariando Sheridan e Ledoux (1989); Cuoghi et al. (2007) aconselharam o uso de slice para apinhamentos de até 2 mm para dentes anteriores e preconizaram desgastes de no máximo 0,25 mm por superfície, o que preservaria a saúde dentária e periodontal. Finalmente, conclui-se que casos limítrofes indicadores de desgaste interproximal são os que apresentam discrepâncias de até 8,5 mm de todo o arco dentário inferior, a fim de se evitar extrações em indivíduos com um bom perfil facial; e os dentes preferidos para o desgaste devem ser largos, com forma triangular e esmalte espesso (ROSSI JÚNIOR et al., 2009). 4.2 DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA DE DESGASTE O primeiro pesquisador a lançar mão do desgaste interproximal como técnica para se ganhar espaço no arco e aliviar apinhamentos foi Lusterman (1954), que o fazia de maneira grosseira, lançando mão apenas de tiras de lixa de aço. Logo após, deu-se início ao uso de instrumentos rotatórios abrasivos (RIEDEL, 1960). Alguns pesquisadores utilizaram discos diamantados (KAPUR et al., 1961). Dipaolo e Boruchov (1971) acreditavam que o slice deveria ser feito em várias sessões, não deveria ultrapassar a metade do esmalte interproximal e a coroa não deveria ser desgastada até a largura da raiz porque isso impediria o fechamento do espaço trazendo problemas periodontais futuros. Barrer (1975) preconizava que deveriam se transformar pontos em superfícies de contato não polidas visando evitar deslizamentos e recidivas pós-alinhamento. A partir de 1975, Zachrisson e Mjör deram início ao uso de 38 instrumentos rotatórios com granulação ultrafina. Sheridan (1985) tentou o desgaste com tiras de lixa de aço, broca de alta rotação diamantada, disco de lixa unifacetado e broca de tungstênio multilaminada (que resultou na superfície mais lisa, sendo, portanto, a de eleição para executar o desgaste). Além disso, preconizava a proteção da papila gengival com um fio 0,020 polegadas inserido abaixo do ponto de contato, que também serviria de guia para a broca. Informação relevante de Sheridan (1989), é quanto ao cuidado ao se executar a técnica, seja ela qual for, uma vez que o procedimento é irreversível. Artun, Kokich e Osterberg (1987) refutaram a ideia de Dipaolo e Boruchov (1971), concluindo após várias pesquisas que dentes anteriores não são mais predisponentes à doença periodontal quando suas raízes estão muito próximas. Resultados mais favoráveis foram obtidos por Hein et al. (1990), através do uso de discos de diamante ou tiras de diamante no lugar de instrumentos rotatórios abrasivos diamantados de granulação ultrafina. Jarvis (1990) desenvolveu uma broca específica para o slice alcançando bons resultados. Porém, também iniciava o desgaste com broca diamantada de granulação ultrafina. Foi preconizado por Piacentini e Sfondrini (1996) o uso de broca de tungstênio com 8 lâminas retas. O uso por Rossi Júnior et al. (2009) da sequência de brocas Carbide 699L em alta rotação resultou num resultado satisfatório. Concluindo, Mondelli et al. (2002) afirmam que, independente do material de escolha para o desgaste, é fundamental estar atento ao limite do mesmo (não ultrapassar 0,5 mm por face), dar atenção especial aos procedimentos de acabamento (remodelação), e ao polimento que deverá promover uma superfície lisa e com brilho evitando acúmulo de matéria orgânica e pigmentação indevidas. Muito importante conhecer o indivíduo e seu grau de higienização, que poderá contra-indicar a técnica (CUOGHI et al., 2007). 39 Figura 46 - Brocas de alta-rotação de granulação ultra-fina de diversas formas, que podem ser utilizadas no desgaste interproximal Fonte: Prof. Paulo Cézar de Oliveira Figura 47 - Sequência de discos Sof-Lex de quatro granulações, utilizadas no acabamento e polimento, em peça de mão e/ou contra-ângulo Fonte: Prof. Paulo Cézar de Oliveira 40 4.3 REMODELAMENTO, SEQUELAS, POLIMENTO E FINALIZAÇAO Logo após o início das pesquisas da técnica de desgaste interproximal (LUSTERMAN, 1954), Hudson (1956) notou que as superfícies desgastadas por instrumentos rotatórios abrasivos ficavam arranhadas predispondo os dentes à cárie e doença periodontal. Com o uso de discos diamantados, o resultado foram superfícies de esmalte extremamente rugosas (KAPUR et al., 1961). Segundo Van Der Fehr e Steness (1966), áreas retentivas se tornam susceptíveis a cáries, alterações na polpa e na dentina. Porém, se a superfície pós-desgaste for bem polida, o procedimento não é prejudicial aos dentes que apresentam, quando expostos ao meio bucal, características semelhantes às do esmalte não desgastado. Por notarem a presença de ranhuras nas superfícies reduzidas pelo desgaste, foi preconizada a aplicação tópica regular de flúor como importante fator de proteção (ROGERS e WAGNER, 1969). Após estudos, preconizaram a necessidade do recontorno anatômico das superfícies desgastadas dos dentes (PECK e PECK, 1975). Um estudo importante observou que o desgaste limitado ao esmalte não traria alterações histológicas na polpa ou dentina (ZACHRISSON e MJÖR, 1975). Outro estudo também relevante estipulou qual a quantidade ideal de esmalte a ser desgastado e quais as técnicas ideais de polimento pós-desgaste (TUVERSON, 1980). Sheridan e Ledoux (1989) preconizaram o polimento das superfícies desgastadas com discos ou tiras de acabamento manuais, aplicação tópica de flúor e indicação de bochechos diários com solução de Fluoreto de Sódio a 0,05%. Preconizaram também a aplicação de selantes nas áreas desgastadas. A idéia da aplicação de selantes foi refutada corretamente por EL-Mangoury et al. (1991), que demonstraram que a aspereza após o correto desgaste e polimento não predispõe à cárie. Demonstraram ainda que o uso de selantes retardaria o processo natural de remineralização dos dentes, que se dá 9 meses após o desgaste. Foram coniventes, porém, ao uso da fluoretação tópica. 41 O uso do flúor continuou sendo indicado em outros estudos, como o que afirmava que superfícies de esmalte desgastadas, quando expostas à aplicação tópica e soluções para bochecho diários, produziam mais fluoreto de cálcio, levando a uma aceleração no processo de remineralização do esmalte (THYLSTRUP e FEJERSKOV, 1988). Radlansky et al. (1988, 1989 e 1990) merecem destaque devido ao pioneirismo no uso do microscópio eletrônico de varredura para observar as superfícies de esmalte desgastadas. São afirmações de seus estudos: A) Os sulcos provocados pelo desgaste ainda eram visíveis um ano após a remoção do aparelho ortodôntico. B) A abrasão natural pelo atrito nas áreas de contato interproximal provocou um alisamento. C) O mesmo não ocorreu nas áreas gengivais, devendo o desgaste se restringir às áreas de contato proximal, não se estendendo para a cervical. D) O desgaste resultaria em ranhuras e estrias que, com um polimento adequado e cuidadoso, não levariam ao desenvolvimento de doença periodontal. E) Concluíram que superfícies desgastadas e bem polidas não são mais susceptíveis à cárie e doença periodontal e, mesmo com acúmulo de placa, não houve um aumento na incidência dessas doenças em relação aos dentes não desgastados. Joseph et al. (1992) acreditavam que o desgaste com brocas de granulações ultrafinas, mesmo após polimento, deixava sulcos que predisporiam às cáries e doenças periodontais no futuro. Twesme et al. (1994) concordavam com a formação de sulcos de várias profundidades, além do arrancamento dos prismas de esmalte, mas não acreditavam na formação de doenças se houvesse a obtenção de uma superfície o mais lisa e polida possível pós-desgaste. Piacentini e Sfondrini (1996) provaram que a aspereza do esmalte pós-desgaste é facilmente removível com discos Sof-Lex finos, concordando com Twesme et al. (1994) na não formação de doenças. Capelli Júnior et al. (1999) ressaltaram a importância do indivíduo eleito para desgaste possuir uma boa higiene oral visando 42 evitar o acúmulo de placa bacteriana nos sulcos resultantes do desgaste. Logo, não seriam os sulcos os causadores das doenças, mas sim a má higienização do indivíduo. Ferreira-Tormin et al. (2001) afirmaram a existência de sulcos ranhuras e depressões de pouca profundidade também em dentes de esmalte não desgastado e concluíram que a técnica que mais aproximava o esmalte desgastado do não desgastado era a que utilizava brocas de granulação ultrafina, polimento com discos de lixa de granulação média, fina e ultrafina e branco de Espanha aplicado com tiras de lixa, taças e cones de borracha. Porém, Mondelli et al. (2002) afirmaram que independente do tipo de material usado para desgaste (lixa para amálgama, broca de alta rotação diamantada, broca de tungstênio multilaminada, discos de lixa mono ou dupla face), o fundamental era não permitir que o desgaste ultrapasse 0,5 mm por face dos dentes anteriores e que os processos de remodelação e polimento obtivessem uma superfície harmônica, lisa e brilhante que não retenha placa ou pigmentações. Cuoghi et al. (2007) reforçaram a afirmação anterior, dizendo que o diferencial para o sucesso não está na escolha do material para o desgaste, mas sim na indicação correta e num excelente polimento, onde usam discos finos e ultrafinos. Chamam a atenção, assim como Capelli Júnior et al. (1999), para observar a susceptibildade do indivíduo à cárie e o seu grau de higienização. Porém diferem de Sheridan e Ledoux (1989) que preconizaram um desgaste de 0,5 mm por superfície, ao afirmarem que os desgastes não devem ultrapassar 0,25 mm para não colocar em risco a saúde dentária e periodontal do indivíduo. Rossi Júnior et al. (2009) fizeram uso de brocas carbide 699L em alta rotação para um desgaste preciso, discos Sof-Lex de granulação grossa, fina e ultrafina para acabamento e polimento e aplicação tópica de Flúor, aumentando a proteção do esmalte desgastado. O desgaste seria de 0,25 mm por superfície proximal dos dentes ânteroinferiores. Com muito bom senso aproveitaram o resultado das pesquisas dos outros autores, para chegarem na técnica que conderavam a mais eficiente e segura para o indivíduo. 43 5. CONCLUSÃO O desgaste interproximal dos dentes ântero-inferiores é uma boa alternativa, bastante conservadora nos casos limítrofes, quando o perfil do indivíduo é agradável e a discrepância do arco não é muito acentuada, contra-indicando as extrações. É, portanto, um tratamento eficaz para solucionar problemas de apinhamentos leves e moderados (até 2 mm na região anterior). Alguns autores caracterizam como caso limítrofe aquele em que o indivíduo apresenta ausência de anomalias dentárias e craniofaciais, dentadura permanente, periodonto saudável e relação ântero-posterior normal entre maxila e mandíbula, sendo portadores de uma Classe I esquelética. Mesmo que em pesquisas na literatura o desgaste não seja um fator de aumento de propensão à cárie e doença periodontal, é aconselhável que o indivíduo possua uma boa higienização, evitando o acúmulo de placa nos sulcos residuais que possam permanecer na superfície dentária, mesmo após toda a seqüência correta de polimento. Portanto, indivíduos com péssima higienização, alto índice de cáries e doenças periodontais pré-estabelecidas não são candidatos ao uso da técnica. Uma das grandes vantagens do desgaste como opção é a diminuição do tempo de tratamento e a estabilidade mantida no posicionamento dental após o tratamento corretivo. A técnica de melhores resultados é a que utiliza Broca Carbide 699L em alta rotação para remoção do esmalte (cerca de 0,25 mm por superfície), seguida de polimento das superfícies desgastadas com discos Sof-Lex de granulação grossa, fina e ultrafina (pode-se ainda lançar mão do uso do branco de Espanha com lixas de polimento de resina e taças e cones de borracha) e de aplicação de fluoretos (com a recomendação de bochechos caseiros diários com Solução de Flúor a 0,05%). Como o perfil do indivíduo se torna mais côncavo com o envelhecimento, quando bem indicado, o desgaste interproximal será mais benéfico ao indivíduo de perfil reto ou tendendo a côncavo na juventude. 44 Trata-se, portanto, de um excelente recurso quando bem indicado, no tratamento ortodôntico envolvendo apinhamentos leves a moderados na região ântero-inferior. 45 REFERÊNCIAS ARENDS, J; CHRISTOFFERSEN, J. The Nature of Early Carious Lesions in Enamel. J Dent Res, v. 65, p. 2-11. 1986. 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Figura 48 - Foto inicial de perfil Figura 49 - Vista lateral direita da oclusão (CI I) Figura 50 - Vista frontal da oclusão, mostrando o apinhamento ântero-inferior 50 Figura 51 - Vista lateral esquerda da oclusão (CI I) Figura 52 - Arcada superior Figura 53 - Arcada infeiror – vista oclusal do apinhamento ânterio-inferior Figura 54 - Separadores de borracha da distal do 33 à distal do 43 Figura 55 - Uso do separador de Ivory (técnica utilizada). Broca Carbide 699L usada horizontalmente 51 Figura 56 - Broca Carbide 699L usada verticalmente Figura 57 - Espaço obtido respeitando os limites de cerca da metade do esmalte presente em cada superfície interproximal Figura 58 - Vista aproximada do desgaste sendo efetuado Figura 59 - Posicionamento (caráter ilustrativo) de um fio 0,020 polegadas 52 Figura 60 - Desgaste usando o fio como proteção (caráter ilustrativo) Figura 61 - Uso de disco diamantado dupla face no lugar da broca Figura 62 - Acabamento com discos Sof-Lex Figura 63 - Ponta de borracha com branco de Espanha 53 Figura 64 - Tira de lixa para resina com branco de Espanha Figura 65 - Desgaste, acabamento e polimento concluídos Figura 66 - Aplicação tópica de flúor tixotrópico durante um minuto 54 Figura 67 - Permissão para uso de imagem dada pelo indivíduo 55 ANEXO II - CASO CLÍNICO 2 Caso clínico realizado pela C.D. Maria Ângela Drumond Araújo, referente ao indivíduo G. A. F., 32 anos, perfil suavemente convexo (perfil agradável), Cl I dentária, Braqui Severo (dificulta o fechamento de espaços em caso de exodontias), apresentando um apinhamento moderado na região ântero-inferior. Indicação de desgaste interproximal para dissolver o apinhamento ântero-inferior, seguido de tratamento ortodôntico. As fotos de rosto foram exibidas com o consentimento do indivíduo. Figura 68 - Foto facial de perfil Figura 69 - Foto da oclusão lateral direita Figura 70 - Foto da oclusão frontal 56 Figura 71 - Foto da oclusão lateral esquerda Figura 72 - Foto oclusal superior Figura 73 - Foto oclusal inferior 57 Figura 74 - Afastador de Ivory posicionado Figura 75 - Vista aproximada da broca Carbide 699L 58 Figura 76 - Posicionamento da broca para início do desgaste interproximal Figura 77 - Posicionamento da broca para continuação do desgaste e remodelação Figura 78 - Acabamento e polimento com discos Sof-Lex 59 Figura 79 - Com pontas e taças de borracha + branco de Espanha Figura 80 - Com lixa para resina + branco de Espanha Figura 81 - Aplicação tópica de flúor tixotrópico 60 Figura 82 - Permissão para uso de imagem dada pelo indivíduo