Pets
Comportamento e
adestramento de cães
Andréa de Paula
C A P Í T U L O
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Natureza canina
Muitos comportamentos “indesejáveis” refletem as reais necessidades da espécie e devem ser respeitados, como por exemplo, latir, cavar, destruir, roer, caçar.
Claro que todos esses comportamentos em excesso não é bom, mas temos que
dar oportunidades para que ocorram naturalmente. No entanto, outros comportamentos precisam ser modificados, sendo eles naturais ou não, principalmente
aqueles em que se pode colocar em risco a vida do animal, como por exemplo
briga entre cães.
Inúmeros informativos resumem a domesticação do cão no Oriente Médio e dão
detalhes do desenvolvimento do relacionamento entre seres humanos neolíticos
e o Canis sp selvagem daquela região. A maioria destes cenários de domesticação
sugere uma ou mais subespécies do lobo no sudoeste asiático (C. lupuspallipes,
C. lupusarabs) como os canídeos que provavelmente se envolveram neste processo, e sua posição é geralmente mantida por material arqueológico disponível.
Entretanto, este contato inicial foi seguido pela rápida dispersão destes seres
humanos primitivos e seus “cães-lobos” para fora do Oriente Médio, se movendo
para o sul em direção a África, e para o leste, atravessando a Índia em direção
ao sudoeste asiático, e existem poucos materiais arqueológicos úteis disponíveis
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nestas regiões.Deste modo, existe uma notável carência de informações sobre
as características destes cães-lobos precocemente domesticados e sobre seu relacionamento durante o desenvolvimento do vínculo homem-cão.
As raças caninas como são conhecidas por nós só vieram a se estabelecer de
maneira organizada há aproximadamente 200 anos. Mas antes disso o homem
já selecionava cães para funções específicas.
Cães de luta foram selecionados para atacarem rápida e inesperadamente sem
aviso, terem um baixo limiar a estímulos que desencadeassem o ataque, alto
limiar para dor (menor sensibilidade à dor), perderem o reconhecimento de
sinais de submissão que interromperiam o ataque e finalmente foram muitas
vezes selecionados para lutar até a morte. Assim é muito comum que pessoas
atacadas por cães digam não ter visto nenhum aviso por parte do cão.
A base genética da agressão pode ser demonstrada se compararmos a agressividade dos animais domésticos e dos selvagens os quais descendem. Como
exemplo, podemos citar a domesticação do lobo transformando-o em cão. Neste
caso, foi o interesse pela facilidade de manejo que levou o homem primitivo,
geração após geração, a escolher como reprodutores os animais mais dóceis.
Em outros casos, a seleção humana se dirigiu no sentido de produzir animais mais
ferozes, demonstrando aí também a base hereditária da agressividade. 9 Uma
vez que na matilha, é o cão dominante que tem, entre outras funções, o papel
de guarda do território e defesa dos membros da matilha. Para que o cão cumpra
esta função, ele deverá impedir que estranhos à família (matilha) se aproximem
ou invadam seu território.
Para entender melhor o comportamento natural dos cães em seu sistema social, devemos conhecer como funciona a organização social dentro da matilha,
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Capítulo 3
Natureza canina
bem como a liderança de grupo, a qual compreendem os comportamentos de
dominância e de submissão, pois a incompreensão que a maioria dos donos de
cães possuem em relação à natureza canina é o que provoca, muitas vezes, o
comportamento agressivo do animal.
Os cães são animais predadores que vivem em grupos familiares extensos, possuindo uma complexa organização social. Eles, mesmo após muitos anos de
domesticação, ainda possuem todos os instintos que seus antepassados precisaram para sobreviver até hoje, como a sobrevivência na natureza, a proteção
e o afeto com os companheiros. Estudos de comportamento dos lobos e cães
selvagens indicam que a agressão e a violência são exceções; brigas acontecem
somente em último caso. Isto porque quando os cães brigam realmente, eles
se machucam, e qualquer membro da matilha debilitado diminui as chances de
sobrevivência do grupo.
Cães e pessoas podem viver juntos porque possuem sistemas sociais parecidos.
Neste sistema, existe um grande cuidado dos pais para com a prole, é usada a
comunicação vocal e não-vocal, e é baseado em consideração, não violência
física e controle.
Pelo fato de cães e pessoas terem estruturas sociais parecidas, nós nos familiarizamos com muitos sinais caninos. Isto se torna um problema, pois as pessoas
assumem que os sinais caninos são exatamente como os nossos.
Sem a consciência de que somos diferentes, entramos em disputa com os cães
e acabamos ficando nervosos ou frustrados com suas reações. Esperamos que os
cães queiram o que queremos, que sintam como nos sentimos e, ainda pior, que
pensem como nós pensamos.
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Na matilha existe uma hierarquia relativa de estruturas de regras sociais e a
posição do animal no grupo pode ser afetada pela idade, composição sexual do
grupo social e por uma habilidade individual.
Por causa destas regras sociais existe um líder entre os cães da matilha, um
cão que por suas habilidades ou força, irá conduzir ao demais. O líder impõe
respeito através de sinais e atitudes. O tempo todo os animais recebem e passam
informações uns aos outros a respeito de quem é o dominante e de quem é o
subordinado.
Para os cães a hierarquia é obrigatória, e isto é muito importante para eles, portanto, cada cão sabe exatamente qual é o seu lugar dentro do grupo e se testam
constantemente para saber quem é o líder, pois ser o líder da matilha significa
proteger os demais membros e impor as regras para que o grupo prospere.
3.1 O dono perfeito
É evidente que existem diferenças entre os cães. Alguns deles adotam posturas
mais incisivas, intolerantes e insistentes, enquanto outros se mostram conformados e aceitam com facilidade as regras e restrições.
Entender os instintos dos animais é muito importante. Dessa forma conseguimos
canalizar o instinto de caça, aumentar o drive de comida, contra-condicionar o
drive de fuga e a reatividade agressiva, explicar diversos comportamentos que
acontecem todos os dias e que as pessoas podem nem perceber ou identificar
de onde vem.
Para os cães o discurso de igualdade é sinônimo de ruína na matilha. A liderança é
importante para que a matilha consiga caçar, encontrar água, demarcar território,
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Natureza canina
procriar.
Com nossos cães domésticos, é necessário que adotemos um manejo que visa
facilitar nossa convivência, evitando conflitos e ensinando as regras da casa ao
mesmo tempo. A violência não é necessária, a liderança sim.
As características que compõe um bom líder são:
1) Guiar: Um líder deve, necessariamente guiar os demais. Precisa
mostrar o caminho, como as coisas devem ser feitas. Ninguém
tem a obrigação de nascer sabendo os seus deveres e o que faz
parte da educação. Cabe ao líder mostrar.
2) Dar suporte: Todas as vezes que um cão passa por uma situação
difícil, o ponto de apoio é o líder. O líder deve ser o porto seguro,
a pessoa em quem o cão deve confiar.
3) Conseqüente: As regras devem ser bem estabelecidas e seguidas, claras e transparentes.
Este tipo de liderança é bom para ambos os lados.
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