O MITO BOLIVARIANO. A MEMÓRIA AFETIVA ENTRE SIMON BOLÍVAR
E MANUELA SAENZ
Layer Phelipe Mendes Oliveira
Orientadora: Profª. Drª. Edméia Aparecida Ribeiro
RESUMO
A história de como Bolívar salvou a America e se tornou o “Libertador” é a
construção de figura onde o afeto e o vivenciado do homem comum não tem
espaço. Bolívar tem um lugar em destaque na historiografia, onde sua biografia
esta vinculada ao processo de independência da America hispânica, o que não
ao acaso deste trabalho, mas é de importância introdutória que se entenda o
cruzamento da memória individual com a coletiva. A desconstrução da imagem
do herói e o espaço do afeto na vida deste personagem da historia não tento a
pretensão de humaniza-lo, mas sim lançar com um outro olhar,agora sim, como
homem, diferente do herói – como tornou-se conhecida a figura de Simon
Bolívar. O espaço do afeto na trajetória de Simon Bolívar, um missivista que
em seu nome possui um grande acervo, terei como base as cartas trocadas
com a Manuela Saenz, amante e defensora de seus ideais.
Palavras chave: herói, afeto, Simon Bolívar
797
APRESENTAÇÃO
Escrever sobre um personagem tão famoso quanto Simon
Bolívar exige um conhecimento do universo interior que nem sempre são
ligadas somente a uma esfera publica de participação direta do ator histórico, a
historia de como Bolívar salvou a America e se tornou o “Libertador” se trata de
uma construção de figura santificada onde o afeto e o vivenciado do homem
comum não tem espaço.
Bolívar foi um missivista que em seu nome possui um grande
acervo, o epistolário conta com cerca de 2.815 cartas dividida em 7 tomos,
sendo uma importante forma de se compreender o processo da construção
desse herói, as cartas possuem como característica principal o objetivo de
informar, esta informação que para os historiadores resalta muito mais do que
explicitamente diz as palavra pois aquele que escreve relata suas angustias e
projetos, a carta sobretudo é um dialogo com um ausente.
Bolívar tem seu lugar em destaque na historiografia, onde sua
biografia esta vinculada inexoravelmente ao processo de independência da
America hispânica, o que não ao acaso deste trabalho, mas é te importância
introdutória que se entenda o cruzamento da memória individual com a
coletiva, Jacquez Le Goff diz:
A evolução das sociedades na segunda
metade do século XX clarifica a importância do
papel que a memória coletiva desempenha.
Exorbitando a historia como ciência e como
culto publico, ao mesmo tempo a montante
enquanto reservatório(móvel) da historia, rico
em arquivos e em documentos/monumentos, e
a aval, eco sonoro (e vivo) do trabalho
histórico, a memória coletiva faz parte das
grandes
questões
das
sociedades
desenvolvidas e das sociedades em vias de
desenvolvimento, das classes dominantes e
das classes dominadas, lutando todas pelo
798
poder ou pela vida, pela sobrevivência e pela
promoção1.
Uso cartas entre Simon Bolívar e Manuela Saenz como fonte.
Tais cartas são acompanhadas de dois diários - de Saenz escrito em Quito - e
outro escrito em Paita. As cartas entre Simon e Manuela são de autoria de
ambos, em uma troca de correspondências que se segue cronologicamente.
A construção heroica, segue neste trabalho como base para
discussão envolvendo Simon Bolívar mas não o objeto estudado nas cartas
trocadas com Manuela Saenz em meio ao processo de emancipação das
colônias espanholas no começo do século XIX. As cartas trocadas pelos
personagens são de conteúdo particular. A escolha de se trabalhar com Simon
Bolívar em uma perspectiva “humana”, ou seja, não heroica, se estende ao
conflito com uma apresentação da identidade de uma America ligada as
escolhas do herói bolivariano. A heroicização de um personagem, está ligada a
necessidade da construção de uma crença ou valor no objetivo onde o herói é
posto.
Não me adentro ao questionamento sobre as forças que movem
o processo de heroicização e seus porquês ideológicos e/ou políticos; a
participação humana na vida é descartada para aqueles que o veem um
exemplo, um líder, os defeitos e afetos não tem espaço na memória coletiva.
A desconstrução da imagem do herói Simon Bolívar e os
espaço do afeto na vida deste personagem da historia, não tento a pretensão
de humaniza-lo, mas sim lançar com um outro olhar, antes, como homem,
diferente do herói – como tornou-se conhecida a figura de Simon Bolívar.
O herói para Paulo Miceli “destaca-se da imensa multidão de
medíocres- anônimos- acomodados para conduzir o destino coletivo” (...)2,
temos uma figura diferente das demais onde o “único” se destaca, ou por seu
1
2
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
MICELI, Paulo. O mito do Herói Nacional,1988
799
sacrifícios por algum valor, que lhe pertença ou é que lhe é atribuído por
memória futuras. “Deste modo, o herói aparece como responsável pela
indicação dos caminhos das humanidade e dos papéis que são destinados aos
demais (...)3 .
Fabiana Fredrigo em seu recente trabalho com as cartas de
Simon Bolívar terá relevância nesse trabalho pois Fredrigo trabalha com a
imagem heroicizada de Bolívar ligada a guerra e a formação de uma
comunidade afetiva seletiva de iguais que fizeram parte contribuíram para essa
construção, como também se pode atribuir muito ao próprio Bolívar:
Importante é destacar que, quando se compara
o epistolário bolivariano as escritas históricas a
respeito de Simon Bolívar e da independência,
percebe-se que, ao contrario do que se pode
deduzir
inicial
e
superficialmente,
a
historiografia nem construiu o mito sozinha e
nem conseguiu encarcera-lo. Fundamental é
ter em vista que o missivista Simon Bolivar fez
de sua pena, entre outras, a sua arma e foi
participante ativo de sua construção heroica. O
epistolário ora expõe os conflitos do homem,
ora explicita seus desejos de sobreviver a
historia, de um modo especial; de um modo
que o fizesse ser lembrado como o maior entre
os outros generais por ter abdicado de sua vida
privada pela liberdade da América. A
historiografia, no momento em que legitimou o
culto, o fez também porque tinha de conviver e
dialogar com os esforços do ator histórico que
deixa um testamento em cada uma de suas
missivas.4
O objeto neste trabalho será o espaço do afeto na trajetória de
Simon Bolívar, analisando o contexto afetivo presente nas cartas trocadas com
Manuela Saenz. Saenz e sua relação com a emancipação hispânica tem total
relevância quando falamos em personagens hispânicos ou mitos, sua
participação nos conflitos do inicio do século XIX junto com sua relação intima
com Bolívar mostrada em suas grande correspondência, auxiliara neste novo
3
MICELI(1988)
FREDRIGO,Fabiana de Souza. As guerras de independência, as praticas sociais e o código de elite na
America do século XIX
4
800
olhar para o monumento bolivariano. Para Le Goff vemos o monumento tem 2
sentidos : a recordação e comemoração :
O monumento tem como características o ligarse ao poder de perpetuação, voluntaria ou
involuntária, das sociedades históricas (é uma
legado à memória coletiva) [...]5
O termo monumento e de interesse para a discussão do
assunto heroicização, mas não relevaremos o conflito de valores entre
documento e monumento ou suas importâncias.
A justificativa de pesquisa tem sua importância pelo seu grande
numero de implicações em que estão ligados o nome Simon Bolívar na
historiografia, como não poderia ser diferente, pois se trata de uma figura
heroica que em seu nome carrega o nome de “ O Libertador” , nome que traduz
os valores nacionais que condiz a favor de sua imagem como herói. O trabalho
com o epistolário de Manuela Saenz traz a valorização do intimo ou seja o
afetivo por traz das de suas cartas, numa época de conflito.
Sendo o objetivo geral:
A um novo olhar sobre o herói Simon Bolívar.
Por isso temos como objetivos específicos dialogar com a historiografia sobre construção
da memória heroica bolivariana . Analisar o
contexto afetivo presente nas cartas de Simon
Bolívar e Manuela Saenz.
METODOLOGIA
Neste trabalho usaremos da teoria de Jacques Le Goff como
auxilio ao entendimento da construção da memória. E a autora Fabiana de
Souza Fredrigo que em seu recente trabalho6, dialoga com uma pré construção
de uma imagem heroica bolivariana, destacando em suas cartas o desejos de
5
6
LE GOFF (1990 p.476)
FEDRIGO, Fabiana de Souza. Guerras e Escritas: A correspondência de Simon Bolivar(1799- 1830)
801
lembrança em um futuro onde seu nome é lembrado heroicamente. As cartas
de Simon Bolívar e Manuela Saenz serão abordadas em seu caráter afetivo,
onde o intimo, ou seja, a relação amorosa em todo seu desenrolar e com suas
consequências serão observadas em suas epistolas, tanto onde o destinatário
é o amante, ou mesmo quando destinatário não é o amante e sim a terceiros
envolvido. Portanto, um novo ponto de vista para a história de Bolívar, traçada
em conjunto com sua relação tempestuosa com Saenz. No entanto, não
deixarei de discutir os termos apropriados para esta pesquisa como:
construção da imagem, memória coletiva e monumento, como também a
relação a discussão do que é mito abordada por Everardo Rocha7, dentre
outras não menos importante que no decorrer do trabalho serão levantados
quando relevantes. Como Paulo Miceli nos mostra:
“Não se pode esquecer que a vida do herói,
como a de todas as pessoas, além de ser
repleta de imprevistos, obedece a instintos,
paixões, sentimentos, pensamentos; enfim, a
um estado interior em constante tensão com o
meio social, que nem sempre (quase nunca?)
guarda relação com atos e condutas, ou, o que
parece trágico, com os próprios resultados
destes atos e condutas.”8
Não será descartada a historiografia e suas divergências sobre
a construção ou desconstrução do herói, mas com ressalvas de não se tratar
de um trabalho critico a historiografia bolivariana, mas sim de um novo olhar
onde a citação acima de Miceli será a base do pensamento para a sua
conclusão.
FONTE
A fonte utilizada é um publicação via imprensa oficial, onde
podemos já associar a própria imagem de uma heroína a Manuela Saenz, ou
uma tentativa de sua valorização como uma imagem. A “Libertadora Del
7
8
ROCHA, Everardo P. G. O que é mito., Ed. Brasiliense 1985.
MICELI, (1988 p.11)
802
Libertador” como é conhecida, diretamente ligada a Bolívar como sua amante,
hoje é vista como uma heroína. Sendo lançado um caderno contendo um
epistolário entre Saenz e Bolívar, com dois diários de Manuela sendo um de
Quito e outro de Paita, encabeçado por não menos que Hugo Rafael Chávez
Frías, “Presidente de la República Bolivariana de Venezuela” entitulado, “Las
mas hermosas cartas de Amor entre Manuela Y Simón acompñadas de lós
Diarios de Quito Y Paita así como de otros documentos” . Esta publicação nos
retrata o universo heroico em que Saenz juntamente com Bolívar se
enquadram na historia .
CONCLUSÃO E RESULTADOS PARCIAIS :
Escrever sobre um grande missivista como Bolívar, sugere uma
investigação daquele que escreve em seu próprio habitat, o universo que o
cerca e seu intimo, interligados entre as linhas do escritor. O redigir cartas é um
modo se compreender a si mesmo, pois aquele que escreve pode censurar ou
ocultar a medida que lhe permite expor suas angustias e vontades juntamente
com o real assunto e finalidade. Quando aquele que escreve o faz sobre si e
os acontecimentos que o rodeiam esta dialogando enquanto autor com seu
próprio texto, antes de tudo o ato de escrever uma carta é uma coversa com
um ausente, em que a imagem do autor pode esconder-se entre as palavras, a
fim de edificar uma imagem a outrem. (...) O general não era dado a confissões
nem se permitia deliberadamente sobre sua doença ou suas angustia e
ressentimentos. (...)9, um homem que não pode temer ou ser pessimista, onde
o caráter oficial predomina, onde não a espaço para o intimo e afetivo.
Em sua correspondência com sua irmã Maria Antonia10,
normalmente tratava-se de assuntos ligados aos negócios da família sendo
esta carta logo abaixo uma exceção.
Cuartel General Pasto, a enero 9 de 1823
9
Fedrigo,(2010p.111).
Nasceu em Caracas no dia 1 de Novembro de 1777, Maria Antonia Bolivar y Palacios, irmã maior de Simon
Bolivar, faleceu em 7 de Outubro de 1842.
10
803
Mi querida Antonia:
(Confidencial)
(...)
La pregunta que me haces la contesto así: esta señora no dará más un
motivo para habladurías, pues no se lo merece. Su mayor pecado ha sido el
fervor que, como patriota, se ha desbordado en atenciones para conmigo. Bien
sé que me obligo a mí mismo al intentar separar mis sentimientos de mis actos;
pero ¿qué hago con esta loca emoción que me incita a verla de nuevo?
Aceptarla en mi destino parece ser la respuesta ineludible; pues ella en su
afán de servicio, se muestra como una noble amiga de alma muy superior:
culta, desprovista de toda intención de ambición, de un temperamento viril,
además de femenina.
Ella abandonó su hogar para brindarnos a la causa, y a ti, querida hermana,
todo lo que su genio tiene en aras del bien común. Enérgica cuando se lo
requiere, se desdobla en infantil ternura cuando su noble corazón se lo pide;
orgullosa, porque le viene de sangre, yo la he aceptado por la comprensión
nuestra y su hábil descaro de imponerme su amor. Tú dirás que me he
excedido en este retrato; pero, en honor a la verdad, no cabe más que apreciar.
Para calmar tu preocupación te diré que esta señora no empaña mis
virtudes; pues lejos de toda pretensión mis Generales la respetan como si fuera
mi esposa, y en los círculos sociales su presencia hace son su señorío el
respeto que merecemos.
Las miserables habladurías que te han llegado como noticia, me han
lastimado profundamente por la delicadeza y finura de tu espíritu, y porque sé
de tu celo con que quieres a tu hermano y deseas mi bien.Yo diría que nunca
antes me he sentido tan seguro de mí mismo como ahora, que
confidencialmente hago esta declaración. ¡Simón se encuentra enamorado!
¿Qué te parece? No es un jolgorio; ¡Es Manuela, «La Bella»!Dispensa mi
efusividad. Pronto tendrás más noticias mías, sé que deseas mi felicidad. La
tengo ahora.
Tu afectísimo hermano,
11
11
Ministerio Del Poder Popular Del Despacho de la Presidencia, Las más hermosas cartas de Amor entre Manuela y
Simón. Ediciones de la Presidencia de la Republica. Caracas, 2010 (paginas 133-134).
804
Ao observar a preocupação com os comentários alheios, temos
um Simon Bolívar em uma carta “confidencial” na qual o conteúdo não
estereotipa o herói, este homem que teme pela má aprovação de sua
companheira perante sua irmã é o mesmo homem público que não coexiste
com o afeto, as cartas de “conteúdos oficiais” a palavra patriota é
demasiadamente usada, neste caso é empregada não para exorbitar a nação,
mas sim para explicar os motivos de uma ação e/ou postura. Simon coloca
Manuela juntos de si no mesmo pedestal - patriótico e heroico. A
superestimação dos valores como “temperamento viril” é acompanhada por
“además feminina”, Bolívar sabiamente, usa das palavras e do sentimento
providos pela guerra para elevar características de sua companheira muitas
vezes vista como pejorativas, para sua imagem junto à elite criolla.
“Na fonte, a guerra é a força motriz (...). A guerra lhe dá motivo,
a guerra lhes estabelece honrarias, a guerra lhes forma a consciência, a guerra
lhes estabelece dificuldades, ganhos e perdas. (...)12”. Simon Bolívar se utiliza
de termos como “Heroísmo, gloria, honra, alcançados por meio da morte no
campo de batalha ou pela invencibilidade nesse mesmo local (...) é nas cartas
de Bolívar um meio para construir sua memória e para proteger a si e a seus
homens (...)13”, o mesmo é feito a Manuela, Bolívar recebeu uma educação de
inspiração liberal e se utilizava de um espírito heroico de sua época, do
romantismo do revolucionário a segurança do conservador, e não era a
qualquer soldado que para Bolívar merecia as honrarias, somente a elite
militar, manifesta-se em suas missivas uma defesa de si e de seu grupo afetivo
de iguais, no qual Manuela é inserida.
A inserção de uma mulher ao circulo “heroico” de Bolívar não é
de grande agrado a todos, a ascensão de Manuela é constantemente
defendida por ele. Argumentos como os descritos na carta apresentada
anteriormente para sua irmã Antonia ressalta a valorização de seus feitos
heroicos, que para Bolívar tais feitos distinguem a elite militar vanguardasita, do
homem comum. “Com o objetivo de edificar uma pedagogia cívica por meio da
12
13
Fredrigo(2010 p.98)
Fredrigo(2010p.130)
805
memória, Bolívar acompanha de perto a oferenda das recompensas
honoríficas- era esse um assunto muito sério para o general.”14.
Chancayo, 9 de noviembre de 1824
Al señor General en Jefe del Ejército de Colombia
Antonio José de Sucre15
(Personal)
Mi querido general:
Sabiéndome que en sus decisiones de usted, está autorizado en impartir las
órdenes de la movilización pertinentes; ruego como superior de usted, de
cuidar absolutamente a Manuelita de cualquier peligro. Sin que esto desmedre
en las actividades militares que surjan en el trayecto, o desoriente los cuidados
de la guerra.
(...)16
Com o engajamento de Manuela nas frentes de batalhas, agora
distinta, pois se tratava da mulher do Libertador, teremos um Simon
preocupado com o bem estar de Manuelita (físico e moral) que na sequencia
da analise iremos nos deparar. Prontamente ele se apressa a pedir cuidados a
um amigo pessoal, o General Sucre, a quem ele podia confiar tamanha
responsabilidade - um herói que ama e se preocupa com amada - sendo
seguido de ressalvas onde novamente recoloca a importância da guerra e sem
dar o valor pessoal ao pedido, como podemos observar na continuação da
carta.
(...)
Estudie usted todo sin descuidar los detalles del terreno, los avances del
enemigo, y envíe vigías de camino, a fin de tener toda la información para, en
14
Fredrigo(2010,p.103)
Antonio José Sucre y Alcalá nasceu em Cunamá. Apoiava os ideiais de unificação da Grã- Colômbia, era
considera-lo por Bolívar seu sucessor.
16
Ministerio Del Poder Popular Del Despacho de la Presidencia(2010. p136)
15
806
caso de dividir los ejércitos, juntarles nuevamente a la hora y lugares
oportunos. Esto imagino por los accesos difíciles a su paso.
(...)17
Bolívar se apropria e usa de termos próprios daquele que busca
a imortalidade como herói, para se defender e também aqueles que o cerca,
usa dos resultados do conflito como um argumento absoluto e inquestionável.
Mas não me adentrarei a esta questão, no entanto considero de importância
entender o sentido do herói na memória. Como observa Jacques Le Goff18,
foram os gregos antigos quem fizeram da Memória uma deusa, de nome
Mnemosine recordava os homens dos antigos heróis e seus grandes feitos, um
homem detentor da memória inspira a atitudes heroicas.
Segundo Peter Burke19, na visão tradicional das relações entre
a história e a memória a função do historiador é ser o retentor da memória dos
acontecimentos públicos quando escritos para proveitos dos autores, para lhes
proporcionar fama, e também em proveito da posteridade, para aprender com o
exemplo deles. Assim, como para Cícero (106 a.C. -43a.C.)- “a história era a
vida da memória”.
Bolívar, um herói em vida e posteriormente aclamado por
aqueles que invocam seu nome. Traz em suas cartas uma busca da
valorização de Manuela com as mesmas “armas” que usa em proveito próprio.
Podemos então dialogar com a possibilidade de uma amarra histórica onde o
Libertador, tem como busca uma companheira de igual imagem, alguém que
compartilha de suas qualificações como herói.
17
Idem
LE GOFF, Jacques, 1924 História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão... [et al.] -- Campinas,
SP Editora da UNICAMP, 1990.
18
19
BURKE, Peter. “História como memória social”.In: Variedades de história cultural.Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 2000, p. 67-89.
807
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ROCHA, Everaldo P. Guimarães . O que é mito. São Paulo: Ed.
Brasiliense,1985.
MICELI, Paulo. O mito do herói nacional. São Paulo: Contexto,1994.
LE GOFF, Jacques, 1924 História e memória / Jacques Le Goff; tradução
Bernardo Leitão... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990.
FREDRIGO, Fabiana de Souza. Guerras e escritas: a correspondência de
Simon Bolivar (1799-1930). São Paulo: Ed. UNESP,2010.
____________________________ As guerras de independência, as
praticas sociais e o código de elite na America do século XIX. VARIAS
HISTORIAS, Belo horizonte,vol.23, nº 38: p.293-314, Jul/Dez 2007
BURKE, Peter. “História como memória social”.In: Variedades de história
cultural.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2000
808
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O MITO BOLIVARIANO. A MEMÓRIA AFETIVA ENTRE SIMON