XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 GESTÃO DO CONHECIMENTO: UMA ABORDAGEM SISTÊMICA BASEADA EM PROCESSOS E ONTOLOGIAS Samuel Fernandes Ribeiro (UFSC) [email protected] As mudanças na economia mundial vêm acontecendo em velocidades crescentes, demandando cada vez mais flexibilidade e capacidade de adaptação das organizações. O uso do conhecimento, por sua vez, pode torná-las capazes de acompanhar esses movvimentos. Os processos empresariais, além de vistos como estados de um sistema chamado organização, podem ser utilizados como espinha dorsal da utilização do conhecimento. A gestão do conhecimento orientada aos processos objetiva trabalhar o conhecimento no contexto da cadeia de valor, contribuindo para a criação de valor ou melhoria de eficiência. De maneira complementar, as ontologias e a mineração de textos são auxiliares importantes na construção da base de conhecimento corporativa. Dessa forma, neste trabalho é apresentado um conjunto de conceitos e ferramentas que cobrem boa parte das etapas necessárias a um projeto de gestão do conhecimento. Palavras-chaves: gestão do conhecimento, processos, ontologias, mineração de textos XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 1. Introdução O conhecimento organizacional tem ganhado grande importância tanto no mundo acadêmico quando no mundo empresarial. As mudanças na economia mundial vêm acontecendo em velocidades crescentes, demandando cada vez mais flexibilidade e capacidade de adaptação das organizações. O uso do conhecimento, por sua vez, pode torná-las capazes de acompanhar esses movimentos. A demanda por gestão do conhecimento pode ocorrer em partes específicas da cadeia de valor, fazendo com que o uso e compartilhamento do conhecimento deva ser rápido, focado e confiável. Para tanto, faz-se necessário o domínio dos processos empresariais, bem como a utilização de sua estrutura para os projetos de gestão do conhecimento. Os processos empresariais são a plataforma de conhecimento da organização (ABECKER et al, 2002). Os processos empresariais também podem ser vistos como estados de um sistema. Uma organização pode ser definida como um sistema composto por subsistemas: pessoas, atividades, estrutura, tecnologia, etc, que interagem entre eles (relações internas) e com o ambiente (relações externas) com o propósito de cumprir certos objetivos (MALDONADO, 2008). Com base nos atributos dos processos e atividades, bem como no relacionamento entre estes, é possível fazer a gestão do conhecimento organizacional orientando-a ao longo dos processos empresariais e, conseqüentemente, da cadeia de valor. A gestão do conhecimento é feita com o uso de diversos métodos e técnicas. Dentre estas, a construção das bases de conhecimento pode ser viabilizada por meio de ontologias. As ontologias são utilizadas na Inteligência Artificial como mecanismo de explicitação do conhecimento sobre o mundo ou alguma parte deste (FENZEL, DAVIS e HARMELEN, 2002). Nesta abordagem, a base de conhecimento é formada pela união das ontologias elaboradas a partir do conhecimento das diversas áreas abrangidas pelos processos da organização. Em se falando de base de conhecimento organizacional, além da utilização de ontologias para sua constituição, outras tecnologias podem ser agregadas com o intuito de ampliar sua abrangência e dinamicidade. A mineração de textos (text mining) é capaz de realizar um mapeamento numa coleção de documentos, verificando termos, suas ocorrências no documento, seus sinônimos e variações, construindo assim uma base estruturada de conhecimento (FELDMAN e SANGER, 2006). Fazer com que o corpo funcional documente o conhecimento existente pode ser uma tarefa árdua. Entretanto, os vários tipos de informações e documentos produzidos diariamente pelos diversos setores que executam as atividades e processos de uma organização constituem base potencial de conhecimento. A partir desses conceitos, os tópicos seguintes deste trabalho visam apresentar as organizações enquanto sistemas, bem como seus processos como espinha dorsal para a implantação de projetos de gestão do conhecimento. De maneira complementar, as ontologias e a mineração de textos são auxiliares importantes na construção da base de conhecimento corporativa. Dessa forma, neste trabalho é apresentado um conjunto de conceitos e ferramentas que cobrem boa parte das etapas necessárias a um projeto de gestão do conhecimento. 2 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 2. Processos Empresariais Enquanto Sistemas Conforme Bustard, Kawalek e Norris (2000), o uso da abordagem sistêmica como meio de compreensão e gestão das situações organizacionais é uma tendência crescente. Uma organização é sistemicamente complexa, ou seja, é formada por uma rede com as mais diversas ramificações. Uma atividade, como o desenvolvimento de um banco de dados, pode ser facilmente associada a práticas de trabalho, níveis de treinamento, programas de reconhecimento, por exemplo. Um sistema é uma coleção de objetos unidos por alguma forma de interação ou interdependência. Em princípio, um sistema pode possuir diversas camadas, o número de camadas pode crescer tanto para cima quanto para baixo, permitindo um número infinito delas. Considerando-se apenas três camadas poderíamos dizer que a camada superior, denominada de super sistema, está imediatamente superior à camada do meio chamado de nível hierárquico de sistemas. Cada peça nesse nível hierárquico é um sistema, que foi construído da organização (ou auto-organização) de seus componentes (subsistemas) situados na camada imediatamente inferior, ou seja, na camada representativa do nível hierárquico de subsistemas (ALVES, 2006). Ainda de acordo com Alves (2006), a seqüência de estados trilhados pelo sistema dá-se o nome de processo. Note que a transição de estados em um processo pode ser feita de forma contínua ou discreta. Porém, há processos que só ocorrem uma única vez. São os chamados processos históricos, e são irreversíveis. Há processos que são repetitivos, isto é, ocorrem de forma cíclica. São os chamados processos periódicos. Há processos com características de aleatoriedade. São os conhecidos processos estocásticos, ou processos estatísticos. São processos que quase nunca se repetem, onde a probabilidade de uma realização do processo se repetir é quase nula ou nula. Portanto, um processo é uma seqüência de estados que pode estar interagindo ou não entre as camadas de um sistema. Maldonado (2008) afirma que considerando este contexto, as organizações poderiam ser definidas como um sistema composto por subsistemas: pessoas, atividades, estrutura, tecnologia, etc, que interagem entre eles (relações internas) e com o ambiente (relações externas) com o propósito de cumprir certos objetivos. A confecção de processos, na ótica dos sistemas, segue um determinado padrão de onde pequenas variações podem ser feitas, sem que o principal seja comprometido. Segundo Gonçalves (2000), os processos, por sua vez, estão presentes em qualquer organização, seja ela uma pequena banca de jornal ou uma empresa multinacional com filiais espalhadas ao redor do mundo. Pode-se dizer que tudo de importante que é realizado, construído e desenvolvido em uma empresa, é parte de um processo de negócio. As empresas são, na verdade, “grandes coleções de processos”, sendo que esse foco é resultado da tentativa de reprodução das técnicas de aperfeiçoamento das atividades industriais nas atividades de escritório. Keen afirma que os processos são a “fonte das competências específicas da empresa que fazem diferença em relação à concorrência”. Para Kanter “a rápida inovação dos processos pode resultar em capacitações organizacionais melhoradas”. Além disso, a importância da abordagem dos processos cresce à medida que o conteúdo intelectual necessário aumenta. Dessa forma, a orientação das ações de gestão do conhecimento ao longo dos processos empresariais tende a direcioná-las para atividades críticas na cadeia de geração de valor da organização. 3 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 3. Gestão do Conhecimento Orientada a Processos A gestão do conhecimento orientada a processos é “uma tarefa de gestão, responsável pela seleção, conversão e avaliação regular de estratégias da gestão do conhecimento orientada a processos com o objetivo de trabalhar o conhecimento de forma a suportar, melhorar e permitir a evolução dos processos intensivos em conhecimento e conseqüentemente contribuir para a cadeia de criação de valor da empresa” (REMUS, 2002). O processo de negócio fornece o contexto em que as atividades de conhecimento são realizadas, além de permear o conhecimento necessário para a sua execução. As atividades de geração, armazenamento, distribuição e aplicação do conhecimento variam conforme o tipo de processo. A GC orientada a processos, por sua vez, integra essas atividades como processos específicos de conhecimento. Além disso, verifica-se uma forte relação entre as competências e os processos fundamentais das organizações. Existem alguns métodos propostos na literatura para a implantação da GC orientada a processos. Um deles (BKM), proposto por Thiesse (2001), é composto de sete fases: analise do potencial, planejamento estratégico, desenvolvimento do conhecimento, analise dos processos, organização do conhecimento, desenvolvimento organizacional e planejamento de sistemas (Figura 1). A fase de análise dos processos é uma das mais importantes, principalmente por ser responsável pela identificação dos processos intensivos em conhecimento. Esses processos são o foco principal das ações de gestão do conhecimento, e caracterizam-se pela variação e incerteza nas entradas e saídas, regras e andamento do trabalho desestruturados, autonomia dos responsáveis pelo processo, grandes variações de performance conforme o funcionário e suporte tecnológico deficiente. Figura 1 - Etapas da implantação do modelo BKM de gestão do conhecimento orientada a processos (adaptado de Thiesse, 2001 ) É importante lembrar que não somente os processos de negócio envolvem conhecimento. Existem processos de suporte, responsáveis pelo ciclo de vida do conhecimento, que distribuem, constroem, mantém e excluem conhecimento, conforme figura 2: 4 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Figura 2 - Conhecimento em Processos de Negócio e de Suporte (adaptado de Thiesse, 2001) Os métodos de GC orientada a processo possuem um conjunto de características comuns. A estratégia corporativa e a estratégia mercadológica são as bases para a definição de uma estratégia de GC, que molda o ambiente operacional para as ações nesse sentido. O ponto central dos métodos é o estudo dos processos de negócio e de conhecimento, sendo responsável também pela interligação entre ambos. O “circuito de conhecimento” descreve o ciclo de vida do conhecimento bem como as trocas existentes internamente e entre os processos. O conhecimento existente sobre o processo e necessário para o seu andamento é integrado em uma base de conhecimento interligada a instrumentos e sistemas que permitem a distribuição e o armazenamento do conhecimento de forma sistemática (REMUS, 2002). O esquema dos métodos é apresentado na figura 3. Figura 3 - Esquema de Funcionamento da Gestão do Conhecimento Orientada a Processos (adaptado de Remus, 2002) A base de conhecimento, por sua vez, pode ser construída com o auxílio de diversas técnicas e ferramentas atualmente disponíveis. As ontologias, modos de representação formal do conhecimento, vêm sendo utilizadas na construção dessas bases. 5 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Dentre as tecnologias utilizadas para extração do conhecimento organizacional, a mineração de textos vem ganhando importância crescente, uma vez que tem como grande mérito facilitar a aquisição do conhecimento a partir dos diversos documentos que são produzidos desde o planejamento até a execução diária de um processo. 4. Ontologias na Formalização do Conhecimento A palavra ontologia origina-se do grego e é formada pela junção das palavras ontos (ser) e logos (palavra). Este termo, introduzido por Aristóteles, fora utilizado inicialmente como uma área da filosofia que estuda a natureza e a organização do ser e suas propriedades. Da filosofia tem-se a definição dada por Corazzon (2008), onde “Ontologia é a teoria dos objetos e seus vínculos. Provê critérios para distinguir os vários tipos de objetos (concretos e abstratos; existentes e não existentes; real e ideal; independente e dependente) e seus vínculos (relações, dependências e predicados)”. Atualmente, o termo ontologia também está inserido na área da Inteligência Artificial como meio de representação formal do conhecimento, com o propósito de facilitar o compartilhamento deste entre pessoas e sistemas (FENZEL, DAVIS e HARMELEN, 2002). Para Neches (2004), “Uma ontologia define os termos básicos e relações compreendendo o vocabulário de uma área específica, bem como as regras para combinação entre termos e relações para definir extensões do vocabulário”. Por sua vez, Gruber (2003), apresenta outra definição complementar que “Uma ontologia é uma especificação formal e explícita para um conceito compartilhado”. Da definição de Gruber, Fenzel, Davis e Harmelen (2002) ressaltam os termos formal, explícita e compartilhada. Formal, pelo fato de que uma ontologia deve ser compreendida e processada por sistemas. Explícita significa que os conceitos utilizados, bem como as restrições sobre seu uso, são explicitamente definidos. Compartilhado no sentido que uma ontologia reflete o conhecimento consensual sobre um determinado assunto por uma comunidade. A ontologia pode ser compreendida de forma análoga ao conceito de mapa conceitual, oriundo das ciências cognitivas, que representa graficamente um conjunto de termos de uma determinada área e as relações existentes entre eles. Esta forma de explicitar o conhecimento permite a criação de uma taxonomia dos termos, estabelecendo relações entre conceitos gerais e abstratos até conceitos concretos e específicos. Com o intuito de publicar e compartilhar ontologias na Web, a W3C recomendou a Web Ontology Language (OWL) como linguagem padrão (W3C, 2008). Além disso, a padronização permitiu o compartilhamento de dados entre diversas ferramentas desenvolvidas para auxiliar a formalização do conhecimento por meio da criação de ontologias. A figura 4 apresenta uma definição ilustrativa de uma ontologia organizacional. Além de apresentar os conceitos gerais e específicos, é possível visualizar os diferentes tipos de relacionamentos entre eles. Por exemplo, o conceito “Recurso Humano” tem um relacionamento com o conceito “Cargo” do tipo “ocupa”, assim pode-se concluir: “Cada recurso humano ocupa um cargo”; já, entre os conceitos “Planejamento” e “Atividade”, existe um relacionamento do tipo é composto por, desta relação tem-se: “um planejamento é composto por atividades”. Além da representação dos conceitos e suas relações, uma ontologia também é constituída de axiomas, ou seja, regras que possibilitam inferências sobre os conceitos. Por meio dos 6 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 axiomas é possível elaborar sentenças verdadeiras entre conceitos que não possuam uma ligação direta. Um exemplo de inferência baseada em axioma pode ser observado na ontologia ilustrativa da figura 4. Das relações existentes conclui-se: que um recurso humano precisa possuir competência; e que uma atividade é executada por um cargo. Desta forma, mesmo não existindo uma relação direta entre os conceitos “Atividade” e “Competência” é possível para um agente computacional, por inferências, concluir quais competências são necessárias para que uma atividade seja executada. Figura 4 - Ontologia ilustrativa de uma organização A aplicação de ontologias dentro das organizações viabiliza a construção da base de conhecimento descrita na figura 3, que descreve o funcionamento da Gestão do Conhecimento orientada a Processos. Nesta abordagem, a base de conhecimento é formada pela união das ontologias elaboradas a partir do conhecimento das diversas áreas abrangidas pelos processos da organização. As ferramentas disponíveis para concepção de ontologias apresentam diversos mecanismos que facilitam nas etapas de criação, uso e atualização do conhecimento ali formalizado. Na etapa de criação, a utilização de assistentes e interfaces gráficas agiliza a formalização conjunta de diversos conceitos estabelecendo regras de hierarquias e relações entre estes (HORRIDGE, BECHHOFER, e NOPPENS, 2007). A segunda etapa abordada, o uso do conhecimento, é onde ocorre a integração da base de conhecimento com os sistemas e instrumentos utilizados nos processos organizacionais. Esta integração é viabilizada por meio dos mecanismos de inferência e busca do conhecimento, disponíveis pela linguagem OWL. A OWL propõe protocolos de comunicação para que sistemas diversos possam acessar o conhecimento descrito em uma ontologia. Estas inferências e buscas levam em consideração os conceitos, suas relações, mas principalmente os axiomas pré-estabelecidos na definição da ontologia. Estes servem como regras de 7 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 validação para o conhecimento formalizado. Sendo o conhecimento de natureza dinâmica e não estática, faz-se necessário que este seja constantemente atualizado de maneira que este acompanhe as constantes evoluções nos processos da organização e não se torne obsoleto. Desta forma, o uso de ferramentas além de facilitar a atualização das alterações ocorridas, ela permite validar se as atualizações estão de acordo com as regras previamente estabelecidas. 5. Mineração de Texto (Text Mining) A atividade de documentação do conhecimento organizacional é de fundamental importância para as organizações que estão inseridas na sociedade do conhecimento. Entretanto, a execução desta atividade não é algo fácil de se implementar devido à natureza dinâmica dos processos que exigem constantes atualizações na base do conhecimento organizacional. Em contrapartida, nas atividades quotidianas das organizações são produzidas informações de vários tipos e nos mais variados formatos, tais como: documentos, e-mails, chats, intranet, dentre outros. Tais informações geralmente ficam distribuídas entre os diversos setores responsáveis pela execução dos processos de uma organização. Estas informações, por sua vez, caracterizam parte, ou uma boa parte do conhecimento utilizado durante a execução dos processos. Neste cenário, a tecnologia de Mineração de Textos (Text Mining) pode ser inserida como ferramenta de apoio para construção e atualização constante das ontologias que constituem a base do conhecimento da organização. A descoberta do conhecimento ocorre por meio de complexas interações realizadas entre o homem e uma base de dados, geralmente por meio de uma série heterogênea de ferramentas (FAYYAD, 1996). Feldman e Sanger (2006) definem Text Mining “como um processo intensivo de conhecimento onde o usuário interage com uma coleção de documentos a todo tempo, através da utilização de um conjunto de ferramentas de análises”. Além disso, procura extrair informações úteis de fontes de dados através da identificação e exploração de padrões interessantes. Na visão de Thuraisingham (1999), a mineração de textos “tem como objetivo extrair padrões e associações desconhecidas de um grande banco de dados textual”. A tecnologia de Text Mining serve para “identificar os conceitos presentes nos textos”. Conceitos representam “entes” do mundo real (entidades, eventos, objetos, sentimentos) e permitem entender que temas estão presentes nos textos ou do que tratam os textos (SILVA, 2005).Em seguida, a exploração é feita através de um processo automático de mineração. Nesta etapa, são aplicadas técnicas estatísticas sobre os conceitos extraídos dos textos livres, na etapa anterior. Esta mineração é feita analisando-se a distribuição dos conceitos em coleções (a freqüência ou probabilidade com que aparecem) e a relação dos conceitos entre si, para descobrir associações e dependências”. Para analisar e descobrir ocorrências de determinados eventos em uma coleção de documentos são utilizados três tipos comuns de funções: distribuições (e proporções), freqüências e próximas séries de freqüências, e associações. Feldman e Sanger (2006) explicam que essas funções oferecem a capacidade de descobrir mais de um tipo de padrões, sendo que o sistema dispõe também aos usuários a habilidade de permutar as exibições de diferentes tipos de padrões para um determinado conceito ou conjunto de conceitos. 5.1 Níveis de Processamento de Texto O Text Mining realiza um importante processo de pré-processamento (preparação dos dados, 8 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 processamento de linguagem natural), indexação (recuperação da informação) e mineração (cálculos, inferências e extração do conhecimento, mineração de dados) numa coleção de documentos. Estes textos não estruturados são armazenados em uma base de dados estruturados. Um texto é considerado difícil quando contiver conceitos abstratos e de difícil representação, apresentar muitas maneiras de representar conceitos semelhantes e inúmeras características diferentes. É considerado fácil quando os dados forem altamente redundantes. Grobelnick considera que o processo de Text Mining requer vários níveis de processamento de texto que ocorrem simultaneamente, conforme a figura 5, para uma análise de dados mais precisa (GROBELNICK e MLADENIC, 2003). Figura 5 - Níveis de processamento de texto (adaptado de Grobelnick e Mladenic, 2003) Contextualizando os passos referenciados acima de maneira sucinta, a tecnologia Text Mining é capaz de realizar um mapeamento numa coleção de documentos, verificando termos, suas ocorrências no documento, seus sinônimos e variações. Durante o processo de Text Mining é possível selecionar os termos mais freqüentes e suas características. Neste processo também são eliminadas expressões de ligação, adjetivos. Agrupa fatos e relações como um vocabulário construído de forma que seja compreensível para usuários e legível para as máquinas. Durante estes processos são aplicadas técnicas estatísticas sobre os conceitos extraídos, tal como a LSI (Latent Semantic Indexing) que calcula as estruturas ocultas contidas dentro do documento. 6. Considerações Finais A abordagem dos processos na perspectiva dos sistemas cresce à medida que o conteúdo intelectual necessário aumenta devido à pressão por maiores ganhos de competitividade. Dessa forma, a orientação das ações de gestão do conhecimento ao longo dos processos empresariais tende a direcioná-las para atividades críticas na cadeia de geração de valor da organização. 9 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 A base de conhecimento organizacional, por sua vez, pode ser construída com o auxílio de diversas técnicas e ferramentas, atualmente disponíveis, que contribuem para a sua captura. Verificou-se que o uso sinérgico de ontologias (modos de representação formal do conhecimento) e text mining (extração do conhecimento organizacional por meio de documentos) contribuem tanto para a representação formal do conhecimento, como para a formação das bases da gestão do conhecimento organizacional. Portanto o uso das ferramentas de gestão do conhecimento, tais como as estudas aqui, para a representação do conhecimento são estratégias operacionais importantes para estabelecer uma compreensão plena dos conceitos envolvidos e para facilitar a difusão dos mesmos. Elas também apóiam a estruturação do conhecimento para permitir seu reuso, possibilitando assim a otimização do consumo de recursos de conhecimento envolvidos num determinado processo ou na interação destes pelos diversos estados e camadas de um sistema organizacional. Referências ABECKER, A.; HINKELMANN, K.; MAUS, H.; MÜLLER, H. J. (Org.). Geschäftsprozessorientiertes Wissensmanagement. Berlin : Springer, 2002. ALVES, J. B. M. Teoria Geral de Sistemas. Florianópolis, 2006. BATRES, E.J.Q. Uso de Ontologias para a Extração de Informações em Atos Jurídicos em uma Instituição Pública. 2005. Disponível em: http://www.encontros-bibli.ufsc.br/Edicao_19/5_Batres.pdf; Acesso: 10/09/2008. BUSTARD, D.; KAWALEK, P. e NORRIS, M. 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