Infertilidade masculina em análise A idade do homem pode afectar a qualidade do material genético? (muito velhos ou muito novos) Qual é a faixa etária mais segura (em termos de saúde do bebé) para ser pai? Sim, a idade é um dos factores que pode condicionar a qualidade do material genético dos espermatozóides e está associada a um aumento da incidência de algumas doenças genéticas. Também se verifica uma maior incidência de abortamentos nas situações em que o Pai tem idade avançada. Por outro lado, a combinação de idade avançada do Pai e da Mãe influencia significativamente o risco de Sindroma de Down (trissomia 21). A idade muito jovem do Pai também parece estar associada a um ligeiro acréscimo do risco de anomalias congénitas. Vários estudos indicam que há um aumento de danos no material genético dos espermatozóides com o aumento da idade do homem. Apesar de haver ligeiras variações entre os estudos, devido a não haver uma uniformização no modo como os resultados são apresentados, os estudos apontam para um aumento moderado de danos no material genético dos espermatozóides (para valores que indicam uma diminuição de fertilidade) entre os 30 e os 45 anos, verificando-se um grande aumento (para valores que apontam para um potencial de fertilidade muito baixo) nos indivíduos com idade superior a 45 anos. Pode falar-se em envelhecimento do material genético ou dos processos de restauro das células que afectem directamente a produção do esperma e sua qualidade? Sim, o facto de na espermatogénese se verificarem divisões celulares ao longo de toda a vida explica o consequente risco de aparecimento de novas mutações. Pensa-se que o efeito da idade paterna será resultante de uma frequência cada vez maior de espermatozóides portadores de mutações com o avançar da idade e sabe-se hoje que a mobilidade, a vitalidade e mesmo a concentração de espermatozóides morfologicamente normais sofrem uma redução com a idade do homem. E que factores ambientais podem também influenciar positiva (medicamentos, alimentação, estilos de vida associados à idade, etc…) e negativamente? Os factores que influenciam negativamente a fecundidade masculina são o tabaco e a exposição a tóxicos ambientais ou industriais que produzem anomalias ao nível do DNA dos espermatozóides inibindo os mecanismos de auto-reparação. Sabe-se hoje que várias substâncias, incluindo o tabaco, herbicidas, fungicidas e poluentes diversos nos quais se incluem as dioxinas, têm um efeito deletério na fertilidade humana. Esse efeito é visível, por exemplo numa diminuição do número e qualidade dos espermatozóides, incluindo danos irreversíveis do material genético (fragmentação de ADN). Mas, mais preocupante ainda, é que se demonstrou recentemente que algumas dessas alterações reprodutivas são transmissíveis a gerações seguintes, muito depois da eventual resolução do problema. Ou seja: mesmo que eles próprios nunca tenham estado expostos a substâncias tóxicas, os filhos e netos de indivíduos afectados poderão sofrer de problemas de fertilidade. Pensa-se que as diminuições de fertilidade registadas no mundo industrializado estejam relacionadas, pelo menos em parte, com este tipo de fenómenos. Trata-se pois de defender, não só as actuais gerações, mas as seguintes. Qual é a idade mais segura para um homem gerar filhos? Porquê? Não se pode afirmar que exista uma idade mais segura para um homem gerar filhos mas naturalmente que os riscos serão menores na faixa etária entre a 3ª e a 5ª década de vida, apesar de o homem se poder manter fértil até uma idade bastante avançada. Que doenças/deficiências do filho podem derivar da idade avançada do pai? (acondroplasia, síndrome de Down, Turner, Klinefelter e anomalias cromossómicas, etc). A idade avançada do Pai pode estar associada a algumas doenças hereditárias de transmissão autossómica dominante, nomeadamente a acondroplasia e a doença de Apert. Não é ainda clara a existência de uma associação entre a idade do homem e a existência de alterações cromossómicas dos espermatozóides, mas parece existir um risco acrescido de anomalias do desenvolvimento nos filhos de homens com idade avançada, nomeadamente uma maior incidência de cancros da idade pediátrica. No que concerne ao síndroma de Down, 21% dos casos tem origem paterna, sendo o Pai responsável pela maioria dos casos de síndroma de Turner (cerca de 65%). A frequência do síndroma de Klinefelter parece também estar associada com a idade paterna. No entanto, apesar de algumas doeças genéticas terem uma incidência ligeiramente aumentada na descendência dos homens mais velhos, o risco individual de ocorrência destas situações é muito reduzido, já que são situações muito raras. Que medidas preventivas pode o pai mais velho tomar para prevenir a incidência destes problemas? vitaminas, anti-oxidantes, alimentação, …) Uma alimentação saudável, a prática regular de exercício físico, a utilização de roupa interior que evite o sobreaquecimento testicular bem como de calças largas são medidas que podem evitar a deterioração da espermatogénese. Naturalmente que o tabaco e a ingestão de alimentos contendo substâncias tóxicas com actividade estrogénica como é o caso dos pesticidas, dos ftalatos e das dioxinas que podem ser emanados dos plásticos, nomeadamente quando se utilizam recipientes de plástico ou para aquecer alimentos no micro-ondas ou se aquecem os alimentos envolvidos em películas deste material. Também a exposição ambiental a produtos de combustão libertados das indústrias ou das incineradoras são claramente nocivos para a espermatogénese. Sabendo que um indivíduo possui uma baixa qualidade do material genético espermático, existem várias abordagens possíveis para tentar diminuir esses danos. Desde logo o aconselhamento de uma mudança do estilo de vida, como por exemplo, deixar de fumar ou evitar o sobreaquecimento testicular (muito frequente em indivíduos que conduzem durante períodos de tempo prolongados ou em indivíduos que trabalham junto a fontes de calor), entre outros. Por outro lado, diversos estudos indicam que a administração oral de antioxidantes também constitui uma possível abordagem, sendo já utilizada com sucesso por diversos grupos. Podem realizar-se exames para avaliar a qualidade do material genético do pai? Onde, quanto custam, o que implicam? Existem vários métodos para detectar os danos no material genético dos espermatozóides. No entanto, os métodos mais conhecidos e mais usados, como o SCSA (sperm chromatin structure assay) e o TUNEL (Terminal deoxynucleotidyl transferase-mediated dUDP nick-end labeling), são métodos morosos, dispendiosos e requerem o uso de equipamento sofisticado, que raramente se encontra disponível num laboratório de andrologia. Torna-se, portanto, impraticável a introdução destes métodos como rotina nos laboratórios, impossibilitando a avaliação sistemática deste parâmetro, crucial na determinação da fertilidade do indivíduo, em particular, e do casal. No nosso laboratório, desenvolvemos recentemente um método para avaliar a qualidade do material genético dos espermatozóides, tendo sido divulgado no passado dia três de Julho em Lyon-França no congresso anual da Sociedade Europeia da Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). Este método é simples e rápido, apenas requer o uso de reagentes já usados na avaliação da qualidade espermática e de um microscópio óptico normal, equipamento que qualquer laboratório básico possui, sendo portanto pouco dispendioso. Este método que vem permitir aos laboratórios a possibilidade de facilmente avaliarem este parâmetro extremamente importante está actualmente a ser introduzido como rotina no nosso laboratório e será brevemente oferecido como serviço para os laboratórios que o solicitarem. Qual a precisão destes exames? A literatura indica que existe uma correlação entre a deterioração do material genético dos espermatozóides e a diminuição das taxas de fertilidade. Assim, uma quantidade elevada de danos no material genético dos espermatozóides de um indivíduo pode ser a causa de uma diminuição na fertilidade. No entanto, este é apenas mais um parâmetro na avaliação do casal. Em muitos casos de esterilidade sem causa aparente (designada por idiopática) esta avaliação poderá ser útil ao contribuir para o diagnóstico e mesmo para a implementação de medidas terapêuticas. Teresa Almeida Santos Directora do Serviço de Genética Médica e Reprodução Humana dos Hospitais da Universidade de Coimbra Professora Auxiliar de Genética Clínica da Faculdade de Medicina de Coimbra Directora científica do ESPAÇO FERTILIDADE e-mail: [email protected]