Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado de Santa Catarina • Filiado à CUT e à Condsef
Junho - 2009 • Ano 10 • Edição 104 - ENCARTE
Encarte Especial
Sintrafesc responde as ofensas de
Luiz Carlos Prates aos servidores
O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal
no Estado de Santa Catarina Sintrafesc - publicou no dia 10
de junho no jornal Notícias do
Dia, com circulação na Grande
Florianópolis, uma resposta, em
meia página, ao comentarista
Luiz Carlos Prates, da RBS TV.
No Jornal do Almoço de 27 de
maio, Prates classificou os cidadãos que fazem concurso para
ingressar no serviço público
como uma “legião de pífios, de
gente sem iniciativa, sem coragem pessoal, gente que não se
garante, que não tem personalidade, paixão, qualificação em
nada”. Outras acusações ofensivas foram emitidas no telejornal
de maior audiência em Santa
Catarina. O Sintrafesc, além da
resposta no jornal, encaminhou
carta ao presidente do Grupo
RBS, Nelson Pacheco Sirotsky
(com cópia para outros dirigentes e para o próprio Prates),
solicitando o mesmo espaço
para que o Sindicato responda,
na mesma emissora, as ofensas
contra os servidores.
Veja, nas páginas a seguir, a
íntegra da resposta do Sindicato.
O que ele falou dos servidores
“O mercado privado de empregos exige do candidato
competência, personalidade e paixão. O mercado dos concursos públicos não exige nada, apenas memória. Eu
costumo dizer para os guris em sala de aula, e vou continuar a dizer, que vocês, guris, e eu estou falando para os
jovens, vão entrar no mercado de trabalho, vão passar as
melhores horas do dia dos melhores anos da vida num
ambiente de trabalho. Não o façam por dinheiro. Isto é
muito pequeno para uma potencialidade tão imensa
quanto a que vocês têm dentro do peito. Vão passar essas
melhores horas dos melhores anos em troco de uma garantia gerada por um serviço público que só exige memória,
nada mais. Personalidade, não é exigida. Paixão, não é
exigida. Isto é, uma legião de pífios, de gente sem iniciativa, sem coragem pessoal, que estão buscando nos
concursos públicos a detestável estabilidade. É isso. Agora
o pai tem que dizer isso. Você quer ser feliz, você quer se
realizar, você quer achar dentro do peito o seu talento e
casar com este talento por amor, ou você quer amarrar o
seu conforto na sinecura de um empreguinho público, e é
empreguinho público sim, mas com o dinheiro garantido
no fim do mês. Isso é muito pequeno para um jovem.
Todavia como há muita gente que não se garante, que
não tem personalidade, paixão, qualificação em nada,
façam um concurso público e passem gemendo o resto da
vida. Mas com o dinheiro garantido.”
Fonte: RBS/TV Jornal do Almoço, Coluna de Luiz
Carlos Prates,27/05/09.
2 • Estampa • Encarte • Junho/ 2009
O que a “grande” mídia não diz
O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público
Federal no Estado de Santa
Catarina – Sintrafesc – em
nome de todos os servidores
públicos federais que representa, em mais de 40 órgãos, quer
manifestar o seu mais veemente repúdio ao comentarista
Luiz Carlos Prates, da RBS
TV, pela maneira desrespeitosa de seu comentário no Jornal
do Almoço do dia 27 de maio
de 2009.
Dizer que concurso público, a forma mais democrática
de acesso a um emprego, exige
“apenas memória”, é de uma
grosseria poucas vezes tornada
pública. É desconhecer que,
pela enorme relação candidato-vaga, são justamente
cidadãos brasileiros altamente
qualificados aqueles que obtêm
acesso à profissão.
O que leva um profissional
da comunicação a destilar tanto ódio, rancor e ignorância ao
qualificar uma categoria profissional e os cidadãos que a
ela desejam ter acesso, pela via
do mérito, pela via do concurso
público? Para o comentarista
da RBS, no entanto, trata-se
de uma “legião de pífios, de
gente sem iniciativa, sem coragem pessoal (...) gente que
não se garante, que não tem
personalidade, paixão, qualificação em nada.”
Isto não é uma crítica. É
um amontoado de preconcei-
tos, destituído de fatos, sem
qualquer lógica. É uma ofensa
desferida contra a dignidade de
milhares de trabalhadores.
O Sintrafesc considera salutar e bem-vinda toda crítica
que leve ao aperfeiçoamento da
sociedade. Portanto, ela também pode e deve ser feita aos
servidores ou ao serviço público quando não cumprem com
a sua missão. Mas o Sindicato
não pode aceitar a falta de respeito.
É pelo interesse
dos poderosos,
ancorados
na mídia, que
mentiras repetidas
à exaustão
tentam ganhar
foro de verdade
Seria de esperar que a RBS
– que tanto apregoa valores e
virtudes não só como empresa, mas também como
empregadora – treinasse e orientasse seus profissionais para
o uso legítimo do direito de
opinião. Lamentavelmente,
não é isso que costuma acontecer, com frequência, com o
Sr. Luiz Carlos Prates, profissional que confunde contundência com agressão, polêmica com discriminação e opinião
com desrespeito.
A maior vítima de Luiz
Carlos Prates, no entanto, não
é o servidor público ou aquele
que deseja exercer esta profissão. É a verdade.
É pelo interesse dos poderosos, ancorados na mídia, que
mentiras repetidas à exaustão
tentam ganhar foro de verdade. E são mitos como o de que
o serviço público no Brasil não
tem qualidade: tem e não tem,
como também ocorre na iniciativa privada. Generalizar é
faltar com a verdade, é manipular a opinião pública.
Há milhares de exemplos
de competência profissional e
dedicação à causa pública, levando serviços essenciais a
milhões de brasileiros. A seguir, alguns deles, que foram
divulgados na imprensa e que,
mesmo assim, alguns comunicadores teimam em desconhecer:
1) A maior parte das pesquisas mais avançadas que se
realizam no Brasil são feitas em
universidades, laboratórios e
fundações de caráter público.
Nove das 10 melhores universidades brasileiras são públicas.
O que há de melhor, inclusive
quando é utilizado na iniciativa privada, em ciência e
tecnologia, foi gestado na área
pública.
2) Se a iniciativa privada é
tão eficiente quanto Prates e
outros apregoam, por que a
3) É graças ao trabalho de
vigilância do funcionalismo público que há menos riscos à
saúde da população, em todos
os espaços, da indústria aos supermercados. Do creme hidratante ao leite que você consome, tudo passa pela vigilância
sanitária e pelo Ministério da
Agricultura, por servidores
públicos que zelam por sua saúde.
4) O Brasil possui o maior
e mais moderno sistema eleitoral do mundo. O Tribunal
Superior Eleitoral e seus tribunais regionais processam
com segurança e rapidez 100%
dos votos eletronicamente. Sistema que é reconhecido internacionalmente e já vem sendo
exportado. É serviço público
de qualidade, sim!
saúde pública do mundo – o
SUS – se está longe de ser o
ideal, também precisa ser exaltado por qualidades nem
sempre lembradas pela população e muito menos pela
mídia. Em hospitais e postos
de saúde são atendidas, diariamente, 100 mil pessoas gratuitamente. São mais de 30 milhões de atendimentos num
ano. Onde essa população, a
maioria sem recursos, iria ser
atendida se não houvesse uma
Pesquisa da OMS
revelou que os
brasileiros que têm
plano de saúde
privado estão mais
insatisfeitos com o
atendimento que
recebem do que
aqueles que são
atendidos pelo SUS
5) O Brasil possui um dos
sistemas de declaração de Imposto de Renda mais modernos do planeta. Quase 100%
das declarações são feitas pela
internet.
rede pública de saúde? Há reclamações? Sim! Como há,
também, em relação aos serviços prestados por planos
privados de saúde, que cobram
caro e nem sempre prestam
atendimento de qualidade. Aliás, não raro, quando você mais
precisa, descobre que determinados procedimentos não
estão cobertos pelo plano.
6) O maior programa de
7) Em 2003, pesquisa fi-
nanciada pela Organização
Mundial da Saúde revelou que
os brasileiros que têm plano de
saúde privado estão mais insatisfeitos com o atendimento
que recebem do que aqueles que
são atendidos pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). Dos
clientes de planos de saúde privados, 72% se disseram insatisfeitos contra 53,3% de insatisfação entre os pacientes do
SUS. Claro, a mídia só mantém o foco nos problemas,
raramente fala dos benefícios
que a rede pública de saúde
oferece à população.
8) O Brasil é o país que
mais realiza transplantes gratuitos. Foram mais de 19 mil
em 2008. Se dependesse da
rede privada, milhares de brasileiros, das camadas mais
pobres ou até mesmo da classe
média, já estariam mortos, pois
os custos de um transplante são
altíssimos. A propósito, alguns
dos melhores hospitais do país
são públicos.
9) O Brasil tem a maior rede
de leite materno no mundo.
Coordenados pela Fundação
Oswaldo Cruz, vinculada ao
Ministério da Saúde, os 187
bancos de leite produziram 115
mil litros em 2007, que alimentaram 115.862 bebês
gratuitamente. A Fundação
Oswaldo Cruz foi escolhida
como a melhor instituição de
3 • Estampa • Encarte • JUnho/ 2009
maioria do eleitorado brasileiro (62%), é contra a privatização dos serviços públicos?
Por que há tantos brasileiros
que procuram os Procons e
outras instâncias para reclamar
de produtos e serviços que não
funcionam?
saúde pública do mundo.
10) O Brasil foi um dos 10
países escolhidos pela Organização Mundial de Saúde para
pesquisar uma vacina para a
gripe H1N1 (que ficou conhecida como “gripe suína”). O
Instituto Butantan é referência mundial na produção de
vacinas.
4 • Estampa • Encarte • Junho/ 2009
11) Por trás do discurso da
eficiência privada se “esconde”,
na maioria das vezes, o financiamento público, seja na
atividade direta, seja na infraestrutura necessária ao funcionamento das empresas. Quando as empresas privadas se
veem em apuros, a quem pedem ajuda? Aos governos,
como está acontecendo, neste
momento, com a crise econômica mundial. O sucesso de
muitos empreendimentos privados também se faz às custas
de vantagens como doação de
terrenos públicos e implantação de infraestrutura com recursos governamentais, subvenções, reduções tributárias e
outros tipos de garantias.
12) O Brasil é hoje uma potência agrícola internacional
graças às pesquisas desenvolvidas por organismos públicos.
Antes da criação da Embrapa,
por exemplo, o Brasil importava até mesmo feijão e arroz.
Hoje, com o apoio também
de centros estaduais de pesquisa – públicos! – e do Ministério
da Agricultura, a produção de
grãos cresceu mais de 100 mi-
lhões de toneladas em 32 anos.
Tudo isso obtido com investimentos públicos e a participação do setor privado. Mas a
mídia só destaca os méritos da
iniciativa privada.
13) É o serviço público que
defende o trabalhador brasileiro da superexploração. São os
fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego que libertaram, até hoje, mais de 30 mil
brasileiros submetidos a trabalho escravo em fazendas de
latifundiários. Foram os servidores públicos que retiraram,
de 2003 a 2007, mais de 44
mil crianças do trabalho em
todo o Brasil, garantindo a elas
o direito constitucional à educação e a uma infância com
dignidade.
14) A crítica da corrupção
no serviço público quase nunca é contextualizada. Afinal,
quem é o corruptor? Segundo
a Transparência Internacional,
empresas e grandes conglomerados financeiros transnacionais são os principais responsáveis por altos índices de
corrupção nos países pobres do
mundo.
15) Outra acusação falsa é a
de que a máquina pública está
“inchada”, que há excesso de
servidores públicos. O Brasil
tem um dos menores índices
de servidores públicos por habitante. A relação no Brasil é
de 5,6 servidores por 100 mil
habitantes, enquanto na Alemanha é de 6,1. Nos Estados
Unidos é de 9,8 e na Espanha
19,1. No Brasil, apenas 8% da
mão-de-obra ocupada pertence ao Estado. Nos Estados
Unidos são 18%, na Europa
25%, na Escandinávia 40%.
Espanha e Portugal têm cerca
de 20%. Como se explica tantos servidores públicos em
países notadamente capitalistas? Porque os capitalistas
desses países sabem que há uma
relação entre qualidade de vida
e servidores públicos para efetuar serviços essenciais à população. Mas a elite brasileira,
infelizmente, nunca teve um
projeto para incluir os milhões
de brasileiros sem acesso a uma
vida digna.
Todos esses trabalhadores
do serviço público, responsáveis por esses e outros
exemplos que orgulham o Brasil e os brasileiros, trabalham
com a mesma competência, a
mesma paixão, a mesma coragem, a mesma vontade de
outros trabalhadores da iniciativa privada, para que os
brasileiros possam ter direito
a uma vida mais digna. Porque trabalhadores com essas
qualidades – ou sem – existem
em todos os lugares, públicos
ou privados.
Incompetência, Sr. Luiz
Carlos Prates, é não saber disso.
Sindicato dos Trabalhadores no SSer
er
viço Público F
eder
al
erviço
Feder
ederal
no Estado de Santa Catarina
– SSintr
intr
afesc.
intrafesc.
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